quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mais um livro de Armor Pires Mota


“Igreja de Oiã
no altar da memória”

“Igreja de Oiã no altar da memória”, a mais recente obra de Armor Pires Mota, irá ser apresentada, quarta-feira, 28 de Outubro, dia de São Simão, Padroeiro da Freguesia de Oiã, por D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro.
É um completo e rigoroso registo documental sobre a Igreja Matriz, Igreja-Mãe da Freguesia de Oiã. O esforço de recolha documental foi ao ponto de o autor ter conseguido reconstituir a listagem dos párocos de Oiã durante três séculos, acompanhada de pequenas biografias.
Esta é uma obra para nos lembrar o importantíssimo papel que a Igreja, nas terras de Oiã, tem desempenhado na salvaguarda do seu património que, no fundo, também o é de todos nós.
Esta obra literária é apenas mais uma contribuição a juntar a uma vastíssima bibliografia que faz de Armor Pires Mota o autor desta terra (e da Bairrada) mais produtivo das últimas décadas e dos seus escritos matéria incontornável para quem queira saber algo da história, da cultura ou do património oianense e concelhio.
“Igreja de Oiã no altar da memória” foi oferecido na sua totalidade à Fábrica da Igreja Paroquial de Oiã pelo autor e a receita das vendas reverterá a favor do Museu Paroquial.
Depois da celebração da eucaristia, pelas 20 horas, presidida pelo Bispo de Aveiro, seguir-se-á a apresentação do livro por D. António Francisco, que prefaciou a obra, no Centro Paroquial.

 

O FIO DO TEMPO: A inquietude de Saramago(s)

1. Logo que no ano 2005 saiu a obra As Intermitências da Morte do escritor José Saramago, veio a claro a inquietude de não deixar indiferente a questão do sentido da vida e do destino humano para além do visível. A frase inicial dessa obra é lapidar: «No dia seguinte ninguém morreu…». Abre, assim, uma ampla reflexão sobre a vida e a morte, o vazio ou o sentido da existência. Haverá que ter olhos para ler e compreender Saramago, particularmente nestes últimos anos. Todos os autores têm tantas fases literárias como etapas humanas de sua reflexão e mesmo filosofia de vida. Ninguém duvida que na fase da inteira autonomia humana, na época de todas as forças físicas pessoais e da lucidez mais apurada um certo “super-homem” se pode apoderar de si mesmo gerando ideias de dar valor absoluto ao que é só humano…

Um Livro de Teresa Reigota


“Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo”

“Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo” é um livro de Teresa Filipe Reigota, natural da Gafanha da Nazaré e residente na Gafanha da Boavista, S. Salvador. Gafanhoa de gema, como gosta de afirmar, esta professora aposentada tem uma indesmentível paixão pela etnografia.
Com seu marido, o também professor aposentado João Fernando Reigota, funda o Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo, em 1984. O envolvimento nas tarefas de recolhas, pesquisas e estudos levou-a a sentir a necessidade de preservar e divulgar os usos e costumes das gentes que a viram nascer e das quais guarda gratas recordações. Assim nasceu o livro “Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo”, que vai ser lançado no dia 24 de Outubro, sábado, pelas 21 horas, no Centro Cultural de Ílhavo, em cerimónia que encerra as celebrações das Bodas de Prata do Rancho Regional.
Sobre este livro pronunciar-me-ei numa outra altura, pois considero importante não só manifestar a agradável impressão que a sua leitura me suscitou, mas também estimular a nossa juventude para que se embrenhe nestes estudos, fundamentais à cultura da identidade do povo que somos e que queremos continuar a ser, sobretudo no que diz respeito à manutenção dos valores que enformam a nossa sociedade.
Garanto, aos meus amigos, que a leitura deste trabalho da Teresa Reigota, inacabado como todas as obras do género, suscitará em cada um a revivência de estórias iguais ou semelhantes às que a autora agora nos oferece. E como recordar é viver, estou em crer que todos aceitarão a minha proposta.

Fernando Martins

Comunhão e pluralismo na igreja



Concílio para limpar
o rosto da Igreja


Os meios de comunicação social falaram largamente da intervenção do Cardeal José Policarpo, no Simpósio do Clero. Alguns viram nas palavras proferidas uma clara advertência a bispos e padres quando, na Igreja, expendem opiniões que põem ou podem bulir com a unidade, a comunhão e a aceitação do magistério do Papa.

Não está em causa que a unidade da fé, a comunhão na caridade e a adesão fraterna ao Sucessor de Pedro são elementos fundamentais para a vida da Igreja de Cristo. Também não está em causa que defendê-las e estimulá-las é missão diária do bispo e, logicamente, dos seus mais imediatos colaboradores, os presbíteros. No entanto, é necessário que, ao mesmo tempo, se tenha presente que, na Igreja, não há só verdades intocáveis, mas há, também, um espaço de liberdade de opinião, aceite e recomendado, para saber interpretar e estimular a vivência, à luz da realidade, pessoal e social, das verdades de sempre. A leitura dos sinais dos tempos, recomendada pelo Vaticano II, não é privilégio, direito ou dever da hierarquia, mesmo entendendo esta, como deve ser, um serviço permanente, em nome de Deus, à Igreja e ao mundo das pessoas.

Na Igreja, sem que se tenham apagado ou esquecido as verdades essenciais, foram-se multiplicando, ao longo da história, costumes e hábitos, que geraram normas e orientações, encostados à doutrina. Em muitos casos não eram mais que fruta de uma pobreza espiritual em que o essencial da fé andava arredado das preocupações de muita gente. Muitos responsáveis da Igreja deixaram-se invadir pela tentação de esta ser uma sociedade vazada à maneira de senhores, fidalgos e poderosos, e modelada por critérios meramente temporais e profanos. Assim se foram introduzindo situações espúrias, marcadas pelos ventos do tempo, que recolhiam o proveito de quem na Igreja, as desejava, admitia e por elas lutava. Criou-se, então, uma sociedade semelhante àquela que Jesus Cristo, por via de uma revolução activa, mas pacífica, denunciou e alterou, por ser contrária aos seus valores. Foi neste contexto que pregou o Reino de Deus, chamou e formou os que livremente aceitaram segui-lo e se tornaram Seus discípulos. O Seu projecto não podia ser alterado e deviam estar atentos a quanto o podia desvirtuar. Um trabalho que se foi fazendo ao longo do tempo, por cristãos fieis e corajosos, profetas e santos, sempre com não poucas dificuldades.

Porém, os séculos que identificaram a Igreja com o mundo, no propósito de que todo o mundo fosse Igreja, levaram esta a obedecer a critérios e a seguir caminhos que não eram os seus, carregando-a de excrescências inúteis onde não cabiam os valores evangélicos. Muitas delas ainda aí estão, visíveis e luzidias, a ilustrar tempos que passaram e não são de recordar, mas que parecem agradar a quem prefere mais os ornatos e as aparências passageiras, que a verdade permanente e consistente.

O Espírito que dá a vida e renova todas as coisas, foi dando luz e fortaleza a membros da Igreja - bispos, padres, religiosos e leigos - para denunciarem caminhos de uma uniformidade que não nascia da fé e limparem inutilidades, que pesavam sobre os cristãos e suas comunidades, e denunciavam, à maneira profana, uma grandeza que não vem da fidelidade a Deus, nem ao Evangelho. Os profetas escolhidos foram fieis à sua fé, mas desprezados e perseguidos por gente que defendia interesses instalados. Francisco de Assis encarnou a denúncia de um Evangelho que não era o de Cristo. Chamaram-lhe louco. Rosmini ousou, corajosamente, apontar as “chagas” da Igreja. Foi condenado e só muito mas mais tarde recuperado como profeta. A lista podia continuar.

João XXIII surgiu inesperado. Convocou um Concílio, dizia ele, para limpar o rosto da Igreja, em muitos aspectos confuso e conspurcado. Também para ele e para aqueles que apoiaram a sua intuição, como sinal do Espírito, a vida não foi fácil.

António Marcelino

José Estêvão

15 de Outubro de 1984

Nesta data, "voltou a ser colocada junto do Edifício da Assembleia da República a estátua do insigne parlamentar aveirense José Estêvão Coelho de Magalhães, que fora inaugurada em 1878 em Lisboa, no Largo das Cortes, e daí retirada em 1935. No mesmo dia, o Parlamento prestou ao grande tribuno uma significativa homenagem, falando os representantes dos principais partidos políticos."

In Calendário Histórico de Aveiro

Novo CD de Jacinta estará à venda no dia 26


Jacinta

Temas de Bob Marley, Stevie Wonder, Beatles,Nina Simone, Bee Gees, Beach Boys, entre outros, fazem parte do novo CD de Jacinta, denominado  "Songs of Freedom-Hits from the 60s,70s,and the 80s".
Esta podução discográfica representa a apresentação de Jacinta no seu último espectáculo,  no Centro Cultural de Ilhavo, que voltou a encher com um público participativo e entusiasta, não só da música de Jazz, mas também da voz da artista da Gafanha da Nazaré.

Uma pergunta: Para quando um espectáculo na Gafanha da Nazaré?! Será por não haver sala condigna? Penso que sim. Aliás, o Centro Cultural da Gafanha da Nazaré está em obras de ampliação e reestruturação. Depois, penso que a Jacinta já terá espaço à altura da sua arte e dos seus muitos fãs.
Já agora, permitam-me mais uma achega. Quando eu era jovem, a Gafanha da Nazaré tinha sala de cinema e teatro, na Cale da Vila, de iniciativa privada. Era, então, uma simples aldeia. Depois, talvez pela concorrência de Aveiro, morreu. E presentemente, cidade, a Gafanha da Nazaré não tem uma sala de cinema. Apenas o Centro Cultural, da responsabilidade da Câmara Municipal, está aberto a espectáculos. Penso que já era tempo de os privados apostarem nas artes. É que, os que gostam de cinema, em sala própria, que dá outro encanto aos filmes, têm de ir a Aveiro, como eu o faço de quando em vez.

Conto maravilhoso


Zé da Rosa

15 de Outubro de 2009

Foi num canteiro deste belo jardim, à beira ria, nos primórdios do século passado, que aquela rosa desabrochou. Não foi numa Primavera florida, tampouco num Verão escaldante, mas num Outono incipiente, que a flor deu o seu fruto. Um bebé redondinho de feições, com uma boquinha bem desenhada e que seria portador do genes dos grandes homens! Foi a alegria de sua mãe, que assim deu mais um irmão à família.
De tão amado e acarinhado pela sua mãe, passou a ser conhecido pelo Zé da Rosa! Todos o conheciam assim, mesmo quando as suas feições de menino deram lugar àquele rapagão, alto, bem parecido que fazia andar à roda, a cabeça das moçoilas do seu tempo.
Sim, o Zé, como todos os mancebos da sua idade, andava na mira duma moça que lhe enchesse as medidas! Um dia, apareceu aquela rapariga trigueira de olhos azuis... ah... essa ... foi a Luz dos seus olhos, que nunca mais a perderam de vista. Com a ajuda do Cupido, os dois se enamoraram e até casaram! Coisa inusitada nas sociedades modernas, em que os juramentos de amor têm a duração da época estival! É curta e efémera!
Naqueles tempos antigos, ainda era uma realidade concreta, o compromisso entre pessoas e a dedicação era exclusiva e ad aeternum!
Dessa Luzinha, resultaram clarões luminosos, que haveriam de iluminar a vida de ambos. Cinco, pelo menos, ficaram para a história e também se multiplicaram noutros feixes de luz... que passaram a alumiar o mundo.
Com ascendência da Rosa e numa forte envolvência da Luz... só poderiam ter resultado uns belos rebentos que haveriam de fazer as alegrias dos pais.
A autora destas linhas.... nasceu no apogeu da vida de ambos os progenitores.... 30 anos! Daí...
Este pai esfalfou-se durante toda uma vida, aquém e além fronteiras, para que nada faltasse aos seus descendentes. Fez os possíveis, e hoje tem... quem lhe perpetue a memória e a robustez do carácter. Do carácter e do corpo, pois é um vivo exemplo do princípio “Mens sana in corpore sanu”.
Devo referir que é o responsável pelas “proezas” que esta criatura tem feito ao longo da vida.... não arcando, contudo,... com a responsabilidade das “avarias”(!?) .... que a mesma tenha praticado! Estas, se as houve, são da exclusiva autoria da mesma!
Esta personagem, quase de conto de fadas é a pessoa que hoje completa nove décadas de existência!
E... augúrios de uma ainda gratificante jornada é o que lhe manifesta esta descendente... orgulhosa da sua herança genética!

M.ª Donzília Almeida

17.09.09

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Para pensar... Muito!




E24: a grande solução para a educação


Às vezes, até me apetece bater em mim mesmo. Vejo e leio notícias de que discordo, plenamente, e fico calado, comodista, indiferente, como se não houvesse nada para dizer. Depois  decido-me a escrever. O tempo passa e nada digo. Vêm outros assuntos, outras tarefas, outras sestas e o que é importante ficou na gaveta dos esquecidos.
Vem isto a propósito de uma achega que me enviou o Ângelo, com a recomendação de que lesse. Li e aqui fica, para pensar... Muito!

FM

Crónica de um Professor: A romã




N’ aula d’ Área de Projecto,
Desenhámos uma romã!
Foi um trabalho bem concreto,
P’ra começar uma manhã!

Iniciar a manhã, com um pequeno-almoço substancial, prepara-nos para enfrentar os desafios de um novo dia, com coragem e energia. Assim preconizam os Britânicos que se abastecem com as salsichas, ovos estrelados com bacon, cereais, sumos etc.
Para alimentar esta filosofia, os hotéis apresentam, no seu cardápio, as duas variedades de pequeno-almoço, numa panóplia de acepipes, que satisfazem o apetite do hóspede mais exótico.
Foi nessa perspectiva de um início de dia, revigorante que decidiu tomar a 1ª refeição do dia, em pleno pomar! Agora no Outono, com novas roupagens e os frutos da estação a brilhar nas árvores, é uma iguaria para os sentidos! Não a quantidade calórica do English breakfast na sua diversidade de alimentos, mas na outra componente mais nutritiva para o espírito e menos para o corpo!
O orvalho da manhã, no passeio pelo pomar, conduzido por essa vereda estreita, foi a lufada de ar fresco, energético que lhe encheu os pulmões e a alma! A quietude das coisas fazia sentir o aroma da terra, que rescendia a frutos maduros. As luzes da aurora iam abrindo caminho, acordando as espécies de vida, do torpor da noite.
Foi nessa paz doce e aromática que os seus olhos se fixaram naquela romãzeira que mais parecia uma árvore de Natal cheia de luzinhas vermelhas. Belo espectáculo a motivar a teacher para a aula que iria iniciar a sua manhã, nesse Outono estival.
A sua mente, sempre aberta a novas ideias, novos desafios, concebeu ali mesmo a pedra de toque para a aula de Área de Projecto. Nesta altura do ano, em que se definem objectivos, estratégias e actividades, surgiu como bênção do céu aquele elemento da natureza.
Sem mais delongas, ali mesmo, ficou decidido o elemento motivador para a aula. A romã, retirada, cuidadosamente da mãe, daí a pouco estava “sentada” num palanque improvisado na sala de aula. Todos os alunos iriam observar minuciosamente o objecto e tentar reproduzi-lo, o mais fielmente possível.
A Professora aproveitou o ensejo para despertar nos discípulos, o sentido estético e o amor à natureza. A interdisciplinaridade foi posta em prática e todas aquelas cabecinhas ficaram a pairar em volta do modelo observado. Era tão vermelhinha aquela romã, com os bagos rubros a extravasar da fenda que eclodira, que o mais apático aluno não ficava indiferente!
Fizeram um registo de observação e verificaram, que afinal, não era nada transcendente, reproduzir no papel, a forma cilíndrica do fruto, tal qual aquilo que viam. Pior foi para aqueles, cujo ângulo de observação lhes impunha registarem a abertura sinuosa do pericarpo, vulgo racha da romã!
Claro que apareceram as formas e tamanhos mais díspares, segundo aqueles olhares pueris, mas a romã, vedeta desta exibição tomou forma em cada uma daquelas cabecinhas.
No fim dos trabalhos e da aula prolongada, de 90 minutos, cada aluno recebeu na concha das suas mãozinhas, a fracção de bagos vermelhos que a divisão do fruto lhes proporcionou. E......diga-se, à guisa de conclusão que aquela romã tinha um coração muito generoso....um grande coração!

M.ª Donzília Almeida

12.10.09

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O FIO DO TEMPO: Colonialismo espiritual





1. Decorre em Roma o II Sínodo para África. Este encontro com o Papa procura repensar a comunidade africana na sua renovação contínua e na relação com a comunidade universal. De 4 a 25 de Outubro a organização local africana encontra-se com a organização universal em reflexão sobre os caminhos andados e os percursos a trilhar. Na mensagem de abertura Bento XVI confirma o reconhecimento da grandeza e originalidade do continente africano, exaltando o seu «imenso pulmão espiritual para toda a humanidade». Simultaneamente, o Papa alerta para os perigos das “patologias” do materialismo e do fundamentalismo religioso. Num continente pródigo de beleza natural mas ao longo dos séculos muito sofrido na exploração pelo ocidente apressado e interesseiro (é um facto histórico), é hora de nova consciência autonómica sobre o continente africano.

2. A referência ao «colonialismo espiritual» apresentar-se-á como um dado preocupante, numa transferência do plano político ao espiritual; diz Bento XVI que «neste sentido, o colonialismo, terminado no plano político, nunca se concluiu completamente.» Não é fácil, com toda a carga história secular, abordar o assunto do colonialismo espiritual. À liberdade de propor deve presidir a liberdade de aceitar e a face humana de instituições como a Igreja mostra factualmente também elos menos positivos; quantos caminhos desandados nas questões delicadas da imposição da fé?! Continua a ser de grandeza eminente aquele persistente e lúcido «pedido de perdão» do peregrino da paz, o Papa João Paulo II. A “purificação da memória” em terrenos tão delicados como o da inculturação da fé transborda para todos os quadrantes numa responsabilidade de nunca impor mas de propor.

3. Na verdade de que nunca se pode ajuizar com os olhos de hoje os séculos passados (seriam juízos anacrónicos, fora do tempo), o certo é que só na chave de leitura de um pluralismo ecuménico é que se poderá ver a luz ao fundo do túnel. Não é missão fácil; mas possível no enobrecer do essencial.


O que é um cristão cultural?



Os «não-praticantes» têm também
as suas expressões que é preciso reconhecer


A categoria “católico ou cristão não praticante” faz pele de galinha a muita gente que assim reage contra o conformismo dos que receberam uma herança cristã sem nunca verdadeiramente a ter assumido. Engrossam as estatísticas mais genéricas, reconhecem-se num determinado conjunto de referências e partilham até uma esporádica ou difusa atmosfera religiosa, mas afastaram-se de uma integração prática e plena na dinâmica eclesial. Por isso, são olhados, tantas vezes, como um peso-morto que a Igreja tem de carregar e em relação ao qual pouco ou nada pode fazer.


Ora, sem simplificar aquilo que é complexo, deve-se dizer, porém, que eles representam também um imenso desafio. Hoje alguns autores da sociologia da religião preferem mesmo utilizar a designação “cristão cultural” para descrever este povo que, talvez de modo apressado, se chamava de “não-praticantes”. Verdadeiramente, os “não-praticantes” têm também as suas expressões que é preciso reconhecer: no seu modo de viver há práticas que persistem e outras que vão sendo transformadas; há um confronto com o Absoluto e um sentido do Transcendente, talvez soletrados com outra dicção, mas não necessariamente despojado de intensidade; há a procura dos valores evangélicos, mesmo quando explicitamente já não tomam o Evangelho como referência… Claro que nem tudo é igual, e há uma explícita maturidade cristã que tem de ser anunciada com desassombro. Mas isso não é incompatível com uma arte do encontro (e do re-encontro) que precisamos todos, praticantes e não-praticantes, de descobrir.

Da passagem recente de Enzo Bianchi entre nós, anotei, por exemplo, estas palavras, que nos obrigam certamente a pensar: «Creio que também há lugar para uma espiritualidade dos agnósticos e dos não-crentes, daqueles que se colocam à procura da verdade porque não se satisfazem com respostas pré-fabricadas e definidas de uma vez para sempre. É uma espiritualidade que se alimenta da experiência da interioridade, da procura de sentido e do sentido dos sentidos, do confronto com a realidade da morte como palavra originária e da experiência do limite; uma espiritualidade que conhece também a importância da solidão, do silêncio e do meditar».

José Tolentino Mendonça

In Ecclesia

PESQUISAR

DESTAQUE

Animais das nossas vidas

O Toti e a Tita foram animais das nossas vidas. Aqui estão no relvado com a Lita. Descontraídos e excelentes companheiros, cada um com o seu...

https://galafanha.blogspot.com/

Pesquisar neste blogue

Arquivo do blogue