segunda-feira, 9 de junho de 2008

A nossa gente: Mestre Rocha

Quando procurava um livro de interesse imediato, veio-me à mão um outro do meu amigo de saudosa memória, Joaquim Duarte, “Hidro-Aviões nos céus de Aveiro”. Foi uma boa ocasião para reler uma ou outra passagem e para ver fotos que fazem parte da Escola da Aviação Naval de S. Jacinto.
De página em página, cheguei a uma que recorda um gafanhão que deixou a sua marca na Gafanha da Nazaré, pela maneira como lutou pelos seus interesses, enquanto presidente da Junta de Freguesia e para além dela. Trata-se do Mestre Rocha, com quem conversei inúmeras vezes sobre o que seria melhor para a nossa terra. Recordo, bem, o que ele me dizia, quando vinha em defesa das suas ideias: “Eu fui testemunha ocular e auricular!” Perante isto, eu tinha mesmo de acreditar nas suas convicções.
Contudo, hoje não quero falar das conversas que tive com Mestre Rocha, mas, sim, do que dele disse Joaquim Duarte, no seu livro “Hidro-Aviões nos céus de Aveiro”.
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Homenagens aos nossos maiores

Amanhã, 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o Presidente da República, Cavaco Silva, vai homenagear os nossos maiores. Sobretudo aqueles que, de forma significativa, se distinguiram nas suas actividades profissionais, sociais, culturais, artísticas ou científicas. Normalmente todos estamos de acordo com as escolhas feitas. Contudo, temos de convir que há muitos outros portugueses, gente menos conhecida pela maneira humilde como vive e age em prol dos que mais sofrem, que ficam de fora. Há, por isso, sempre injustiças. Mas, no fundo, esses que se dão aos outros, desinteressadamente, no silêncio das suas comunidades e longe dos holofotes dos grandes media, também nem reparam nas honrarias que atribuem a outros e nem precisam que os tirem dos seus cantos para pisar as passadeiras vermelhas que conduzem à mesa da presidência. Que ao menos as suas comunidades se lembrem desses servidores que, no dia-a-dia, espalham o bem e a alegria.

PONTES DE ENCONTRO


A crise da família na Europa

A FIDES, órgão da Congregação Para a Evangelização dos Povos, publicou, com data de 29 de Março de 2008, um dossier intitulado «A crise da família na Europa», no qual se reúnem dados sobre a diminuição da população no continente europeu e os graves problemas que ameaçam a instituição familiar, a começar pelo aborto, em referência à Rede Europeia do Instituto de Política Familiar, que, por sua vez, apresentou, no passado dia 7 de Maio de 2008, no Parlamento Europeu, um Relatório sobre a “Evolução da Família na Europa – 2008”.
De acordo com o dossier da FIDES, entre 1994 e 2006 a população europeia cresceu 19 milhões de pessoas, sendo 80% deste crescimento devido à entrada de quinze milhões de imigrantes, pelo que, não resultou de um aumento da taxa de natalidade, que permaneceu estável, ou seja à volta de 310.000 crianças por ano.
Segundo os cálculos apontados pela Agência FIDES, crê-se que, a partir de 2025, a Europa começará, lentamente, a despovoar-se, ainda que a mobilidade migratória possa alterar estes dados, não se conhecendo, contudo, os seus resultados, se tal suceder.
Em relação ao envelhecimento, o dossier da Agência FIDES afirma que, a Europa, tem mais pessoas idosas do que crianças. A população com menos de 14 anos representa apenas 16,2% do total da sua população, o que corresponde a 80 milhões de crianças, nos 27 países da União Europeia.
Sobre a taxa de natalidade, o dossier adverte que, na Europa, nascem cada vez menos crianças. Em 2006, apenas se registaram 5,1 milhões de nascimentos. A situação foi estável de 1995 a 2006, com um aumento entre 2005 e 2006 de apenas de 1,1%, o que está longe dos valores necessários para a renovação de gerações.
Quanto ao aborto, o mesmo dossier afirma que, a cada 25 segundos, se realiza um aborto na União Europeia, a 27 países, e onde, em cada dia, se fecham três escolas, por falta de crianças.
A Espanha é o país onde mais aumentou o número de abortos, nos últimos dez anos, com um aumento de 75%, seguida pela Bélgica, com 50% e da Holanda, com 45%.
Deste modo, o aborto é a primeira causa de mortalidade na União Europeia, a 27 países, onde fez mais vítimas que as enfermidades cardiovasculares, os acidentes de trânsito, a droga, o álcool e os suicídios.
Em relação aos gastos destinados às políticas sociais, o dossier refere que 27% do PIB da UE é destinado a esta rubrica, enquanto que só 2,1% deste orçamento global é destinado a políticas de apoio familiar, o que é um sinal claro da falta de prioridade que as políticas de apoio à família têm perante as autoridades comunitárias. Isto significa que a UE destina menos de um euro a cada família, em relação aos treze euros destinados aos restantes gastos sociais, o que até pode ser insuficiente para estes.
Sobre a pobreza infantil e da adolescência, há 97,5 milhões de pessoas na União Europeia entre 0 e 17 anos, e, destes, 19 milhões estão em risco de pobreza. Mesmo assim, já, hoje, a média de pobreza europeia está na casa dos 19%.
Sobre os matrimónios na UE, o dossier refere que, em 25 anos (1980-2005), o número de matrimónios diminuiu 692.000, o que corresponde a uma queda de 22,3%.
Por cada dois matrimónios que se celebram na Europa, um acaba em separação, lê-se no dossier.
Pena é que estas questões não sejam mais divulgadas e debatidas, mesmo no seio das Comunidades cristãs. Ao menos, sempre poderíamos ficar a saber se anda por aí alguém com vontade de despovoar a terra e repovoá-la com seres de outras galáxias ou, então, se andamos, todos, a ser enganados por aqueles responsáveis políticos que se dizem a favor de uma renovação de gerações.

Vítor Amorim

domingo, 8 de junho de 2008

NA LINHA DA UTOPIA

Ateísmo, Fé e Liberdade

1. Esta é uma das fundamentais fronteiras do entendimento humano e da tolerância. Toca uma respeitabilidade que quererá ser iluminada pela ordem da racionalidade. Por sua vez, a noção de liberdade (da pessoal à social) assume-se como o terreno garantido pelos estados para a ocorrência partilhada da diversidade de propostas; mas estas também não poderão ser estanques, haverão de procurar, de forma ascendente e dinâmica, responder ao sentido de vida do ser humano e à saudável convivência da humanidade.
2. Vem esta reflexão a propósito da recentemente criada Associação Ateísta Portuguesa (AAP). A liberdade dos estados, chamados de modernos, nem pode fermentar a sua criação nem impedir a sua realização. O mesmo sucede aos terrenos da religião, como expressão da fé: o estado, nem pode orientar nem impedir. Mas o que não significa que os estados devam ser indiferentes; muito diferentemente disso, os estados deverão estar vigilantes… Esta vigilância só pode estar em conformidade com a matriz da convivência democrática que assenta na dignidade da pessoa humana que brota da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assim, a bitola de referência transversal terão de ser «as acções que», no sábio dizer de Vieira, «dão o ser».
3. Há dias, sobre esta criação da AAP, D. José Policarpo foi interpelado. A resposta, única certeira, foi o claro princípio da comum respeitabilidade. Afirmou D, José que «cá estaremos para respeitar e dialogar, esperando também ser respeitados». É bom acolhermos este horizonte, também porque ele coloca as pessoas como o verdadeiro centro das opções de consciência, facto que não significa o absoluto privatismo das convicções, mas sim o assumir da relacionalidade (racionalidade tolerante) como princípio fundamental de uma sociedade adulta.
4. Não é pela negativa que se deve ver esta problemática de fundo que toca o sentido da vida, da história e da misteriosa esperança que bota da dignidade única da pessoa humana. No princípio da autêntica liberdade religiosa dos estados – o que é diferente de serem confessionais (felizmente que esses tempos já passaram) ou de serem laicistas (como que querendo apagar com os sentidos profundos da vida das pessoas) –, neste patamar da liberdade e da cooperação em ordem ao bem comum, brota como desafio decisivo a formação: dos que são ateus, a atitude filosófica e existencial da procura incansável de algo mais; dos que professam alguma fé confessional, a premência de uma formação contínua (que supere os vazios pragmáticos e) que dê o sentido da beleza fascinante que é a VIDA… esta que, da profundidade do ser, faz brotar a poesia, a esperança, o sentido inapagável do absoluto de Deus.
5. O enquadramento autêntico da liberdade proporcionará não o silêncio que fecha, mas a abertura dos melhores diálogos sobre a vida, sobre o que somos e a que esperança nos sentimos chamados. É mais esta grandeza, como possibilidade crescente, que brota deste facto; terá de ser a racionalidade razoável a presidir às opções conscientes de cada pessoa no referente às suas âncoras mais profundas. Seja esta frescura dialogal o terreno futuro! Há sempre tanto a aprender uns com os outros!

MANIFESTO DE CAFARNAÚM


A todos quantos este Manifesto virem, saúde e paz!
Eu, Mateus, e meus companheiros cobradores de impostos na região de Cafarnaúm no tempo de Herodes Antipas, estivemos sentados à mesa com Jesus de Nazaré numa refeição de amigos, após ele me ter chamado para seu discípulo.
O meu chamamento aconteceu de forma simples: vi um homem decidido a avançar para mim e aproximar-se do meu posto de cobrança. Senti a profundidade e sedução do seu olhar. Escutei o convite/apelo que me dirigiu: “Segue-me”.
Imediatamente, me levantei e deixei o trabalho. Uma força interior se apoderou de mim, me atraiu e encantou. Fiquei de tal modo “apanhado” que nem sequer fiz perguntas. Nada me preocupava: nem família, nem profissão, nem obediência ao meu chefe nem ao delegado do Imperador. Confiei simplesmente e aventurei-me sem calculismos. A inteligência não entendia, mas o coração dizia-me que aquele convite era uma “caixa” de surpresas para mim. E foi! Posso comprová-lo com abundantes provas que vivi mais tarde.
Atesto, por minha honra, que à mesa todos eram tratados por igual. Na conversa não se perguntava o que fazia cada um nem donde procedia, embora todos soubéssemos que partilhávamos a mesma condição. Constava que este era o modo de proceder de Jesus de Nazaré: mais do que as profissões e as condições de vida, interessava-lhe a pessoa e a sua dignidade, por vezes esquecida e espezinhada. Do seu olhar surgia uma serenidade e compreensão que nos dava alegria e paz. No seu convívio todos nos sentíamos bem, sem medos nem discriminações. Éramos verdadeiramente uma família!
Estar à mesa com Ele foi para nós uma maravilha surpreendente. Pelo que sentimos, pois nunca ninguém nos tinha tratado de modo semelhante: ser considerado digno de ouvir os segredos mais íntimos, alimentar as mesmas aspirações em relação ao futuro, reforçar os laços de união no presente. Pelo que augurava aquele gesto. De facto, era o núcleo mais expressivo do sonho de Deus: sentar todos os humanos à mesa da fraternidade em que Ele possa mostrar o seu amor de Pai na dignidade de cada um. Era o princípio da sociedade nova em que as pessoas têm prioridade absoluta sobre as tradições e as coisas, em que os bens pertencem a todos, antes de serem de cada um, e o bem comum constitui o dinamismo e a meta que dão sentido a tudo quanto se faz e se pretende.
Eu e os meus companheiros ouvimos críticas que nos parecem completamente injustas ou, então, temos de negar a nossa comum humanidade e de considerar ridícula a mensagem que Jesus de Nazaré – o Filho Deus – nos transmitiu como Palavra de Salvação para todos os tempos.
Negar a mensagem, é para nós de todo impossível. Estamos absolutamente convencidos do seu valor a ponto de, sendo preciso, dar a vida em sua defesa. Aceitamos com humildade a crítica que nos é feita e que nos ajuda a viver de modo mais pleno o exemplo de Jesus, o Mestre que nos abre horizontes mais plenos da fraternidade de todos os humanos chamados a reconhecer a sua filiação divina. Protestamos contra os que falseiam os nossos ideais, desvirtuam e ridicularizam as nossas razões e, presos ao passado, não mostram capacidade de entender as “coisas novas” que vão surgindo em relação a Jesus Cristo e à sua mensagem. Anunciamos com alegria criativa e esforço confiante que um dia virá em que a mesa posta para todos não será recusada por ninguém.
Em Cafarnaúm, com Mateus

Georgino Rocha

SCHOENSTATT







(Clicar nas fotos para ampliar)

Um jardim de silêncio, de paz e de encontro...
Passei por Schoentatt, na Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré, esta semana. Conheço, há muitos anos, este Movimento Apostólico, fundado em 1914 pelo padre alemão José Kentenich, com o objectivo de criar um homem novo para uma sociedade nova. Confirmei, in loco, mais uma vez, que este recanto, em boa hora vindo para a Diocese de Aveiro, é mesmo um jardim de silêncio, de paz e de encontro. Ali, junto ou dentro do Santuário, onde é bom estar, como desde a primeira hora sonhou o fundador, sentimo-nos libertos das inquietações do dia-a-dia, do que nos bloqueia interiormente, do que nos perturba nas caminhadas da vida.
Olhei o Santuário. À sua volta, como que a abraçá-lo com ternura, há flores e cheiros, objectos e geometrias, símbolos e caminhos que convergem para um altar onde está e espera, por quem chega, o bom Deus. Quem entra, fica, e reza, e conversa sem perturbar quem está, e escuta, e ouve a paz, e aceita a harmonia que tudo invade, e recebe a força que almeja. Cá fora, à saída, os nossos olhos sentem-se atraídos pelo amor e pela sensibilidade dos que cuidam de tudo para que todos se sintam bem, consigo próprios, com Deus e com o mundo.
Um dia destes, se puder, passe por lá. Verá que vale a pena.
FM

Lusodescendentes

"Hoje 12 portugueses ou lusodescendentes vão ser homenageados por Portugal numa cerimónia em Lisboa, transmitida pela televisão. É uma excepção, num país que se esquece vezes demais da enorme comunidade portuguesa que está espalhada pelo mundo. E não devia.
Só uma sociedade que vive de costas para a sua comunidade emigrante pode desconhecer o facto de termos uma portuguesa à frente da Orquestra Sinfónica de Toronto, como é contado na página 18 deste jornal. Mesmo os jornais e restantes órgãos de comunicação social esquecem muitas vezes esta realidade.
Segundo os dados estatísticos, haverá 5,5 milhões de emigrantes portugueses. Isto sem contar com os lusodescendentes. Mesmo sem contar com sentimentalismos, estes são números impressionantes. Já é bom ouvir falar a nossa língua em todo o lado, ou contar com os estratégicos apoios que, por exemplo, os 180 mil portugueses na Suíça dão à selecção nacional, fazendo-a sentir em casa. Mas é mais importante pensar que estes portugueses e lusodescendentes estão em áreas e lugares-chave.
Os portugueses devem começar a pensar na comunidade emigrante como uma grande rede onde se podem agarrar. E isto funciona, por exemplo, no meio universitário e científico, mas também, e sobretudo, nos negócios. Os chineses sabem isso há muito e é assim que se espalham pelo mundo. Já tarda a hora de Portugal o compreender e pôr em prática."
In Editorial do DN

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 81


OS ALUNOS

Caríssima/o:

Com toda a razão alguns perguntarão quando chegam os alunos à sala de aula. Creio ser a hora de os sentarmos, tudo está preparado para os receber.
Aliás, lá para trás ficou um ligeiro apontamento sobre as matrículas; vimos também que o número de escolas foi aumentando, sinal de que o número de alunos subia constantemente. Mais uma vez recorremos à Monografia do Padre Resende que nos apresenta valores supostamente de toda a Gafanha; contudo, lemos que na Nazaré, em 1936, há 411 crianças recenseadas; em 1941, 509, sendo 261 do sexo masculino e 248 do feminino; e em 1942, 515, sendo que a diferença é de mais 9 crianças do sexo masculino.
Aproveitando ainda os números fornecidos pelo Padre Resende, em 1942, os lugares dão-nos o seguinte : Cale da Vila=> 83 M, 80 F, total 163; Cambeia=> 68 M, 69 F, total 137; Chave=> 75 M, 65 F, total 140; Marinha Velha=>41 M, 34 F, total 75.
Podemos agora imaginar a «ginástica» de pais e professores para «arrumar» estes alunos se pensarmos na exiguidade dos espaços postos à sua disposição. Assim, cada um/uma frequentava a escola da sua área, conforme o «canto» onde morasse. Claro que isto, por vezes, não era linear. Os professores conheciam muito bem a população e todas as suas características prevendo, dentro da normalidade, o aproveitamento de determinados alunos. Por outro lado, também os pais e as crianças sabiam com o que contar se lhes calhasse tal ou tal professor/a. No início do ano escolar, desenrolavam-se conversações mais complicadas do que nos actuais hemiciclos ... Envolviam-se mães e professores, e as concessões só eram recebidas com trocas de alunos que compensassem as perdas ou os ganhos. Caso vivi, que me revelou a fibra de uma Mãe: fez várias viagens (claro, todas a pé!...) entre as escolas da Cambeia e da Marinha Velha, falando, argumentando até convencer ambos os professores ...
Os alunos podiam ser divididos em dois grandes grupos: os de pés calçados e os descalços. Do primeiro saíam os que receberiam as distinções e que prosseguiriam os estudos, fazendo exame de admissão. Nem sempre era assim: algumas vezes, as cabeças pregavam partidas à norma; e quando tal se verificava, estava instalado o “estado de sítio” e o professor confrontava-se com um sério quebra-cabeças...

Manuel

sábado, 7 de junho de 2008

Portugal no topo; Portugal em crise



Faz hoje anos que Portugal e Castela assinaram o Tratado de Tordesilhas. Para os que não sabem o que isso foi, eu adianto que, em 1494, precisamente no dia 7 de Junho, o mundo descoberto ou por descobrir foi entregue a duas potências da época. O apoio para esse acordo veio da Santa Sé, que era, na altura, quem aprovava estas decisões políticas.
O Tratado de Tordesilhas dizia que uma linha traçada, de pólo a pólo, 370 léguas a poente das ilhas de Cabo Verde, definia que, tudo o que ficasse a nascente dessa mesma linha, seria do rei de Portugal e de todos os seus sucessores, para todo o sempre. A outra parte do mundo ficaria para Castela.
Este tratado diz bem da grandeza e do prestígio das duas potências. Portugal deixou há muito o topo do mundo e caiu numa crise que os portugueses saberão ultrapassar. Sem nunca mais, no entanto, poderem aspirar à posição hegemónica que há mais de meio milénio protagonizaram no mundo conhecido ou por conhecer. Pese, embora, muitos ainda sonharem com o 5.º Império.

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré


"Porque um projecto destes não pode apoiar-se no improviso, quantas vezes deturpador da realidade, alguém propôs que se contactassem pessoas mais velhas, sempre fundamentais a qualquer trabalho do género. Manuel Retinto Ribau (o tio Retinto), Maria do Carmo Ferreira (tia Maria Ruça) e Maria dos Anjos Sarabando (a tia Sarabanda), entre outros, que antes haviam participado num rancho sem grandes preocupações de rigor, foram os primeiros a ensinar o que se cantava e dançava no seu tempo de jovens.No salão paroquial, os encarregados de pôr de pé e no palco as danças dos nossos avós, aqueles convidados foram ouvidos, tendo mesmo exemplificado como se cantava e dançava a “Farrapeira”. Depois avançaram com o “Vira de quatro” e foram essas as duas primeiras peças que hoje, e desde então, começaram a fazer parte do repertório do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, como ex-libris da nossa terra, sobretudo a primeira."
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APONTAMENTOS SOBRE RELAÇÕES IGREJA(S)-ESTADO (3)


Uma loja maçónica promoveu, em Lisboa, num "jantar branco", portanto, também com a presença de "profanos", um debate sobre "O futuro da laicidade". Convidados: o grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, António Reis, e eu próprio.
Procurei, antes de mais, esclarecer conceitos: secularização, secularismo, laicidade e laicismo. Neste sentido, permita-se-me chamar a atenção para a melhor obra escrita em língua portuguesa sobre o tema: Entre Deuses e Césares, de Fernando Catroga.
1.Secularização tem múltiplos sentidos. No domínio das ciências sociais, é possível apresentar, pelo menos, cinco significados fundamentais: eclipse do sagrado, autonomia do profano, privatização da religião, retrocesso das crenças e práticas religiosas, mundanização das próprias Igrejas.
Mas é essencial o sentido de autonomia das realidades terrestres, mundanas ou temporais, como reconheceu o Concílio Vaticano II. Como é sublinhado hoje pelos estudiosos, é inegável que a Bíblia e o cristianismo foram determinantes na problemática da secularização e, portanto, no reconhecimento desta autonomia. A Bíblia é essencialmente desdivinizadora da natureza, da história e da política. A ciência, a política, a economia, a própria moral têm uma racionalidade própria e não vão buscar a suas leis e legitimação à religião.
2. Mas é preciso distinguir secularização de secularismo, termo criado pela Londoner Secular Society, fundada por G. J. Holyoake, em Londres, em 1846, cujo programa resumido nesse termo consistia em "interpretar e regular a vida prescindindo tanto de Deus como da religião". De facto, a secularização não elimina o Mistério, pois a finitude não é secularizável, e o crente maior de idade pressupõe e quer uma razão e um mundo adultos.
3. Apesar da constantinização e suas consequências -- sobretudo o reconhecimento do cristianismo como religião oficial do Império e o regime de Cristandade - a fé cristã requer a separação da religião e da política, da Igreja e do Estado. O Estado deve ser laico, portanto, não religioso, neutro confessionalmente, e isso é exigido não apenas para que haja paz civil e se impeça a menoridade em cidadania daqueles que não seguissem a religião oficial do Estado, mas também porque a religião entendida na sua verdade não pode aceitar que se confunda Deus com a política. Um Estado confessional seria idólatra, pois poria em causa a transcendência divina.
4. A laicidade não deve confundir-se com laicismo. Este não se contenta com um Estado neutro do ponto de vista confessional e garantindo a liberdade religiosa de todos. Vai mais longe, exigindo um programa positivo, de tal modo que o Estado reivindica para si uma vocação de transmissão de uma mundividência total do mundo, da vida e da própria morte. O combate pela imposição deste programa a executar pelo Estado-pedagogo foi travado sobretudo em países católicos por causa de um catolicismo intransigente e, por vezes, em lutas duras, ao clericalismo contrapôs-se o anticlericalismo e a laicidade desembocou em laicismo.
5. A exigência de laicidade não significa que as religiões devam ser remetidas exclusivamente para o foro íntimo. Deve ser-lhes garantido o direito de expressão no espaço público e entre o Estado e as Igrejas deveria estabelecer-se um clima de respeito e mesmo de colaboração.
Aliás, há múltiplas possibilidades no arranjo jurídico das relações entre a(s) Igreja(s) e o Estado, como disse, em 2004, o antigo Presidente da República Federal da Alemanha Johannes Rau, referindo-se à união Europeia: "As relações Igreja-Estado são reguladas de modo muito diverso na Europa, indo das Igrejas de Estado na Escandinávia ao laicismo francês. Nós, na Alemanha, escolhemos um outro caminho impregnado pelo conceito de 'secularidade esclarecida' do bispo Wolfgang Huber. Se o Estado e as Igrejas estão claramente separadas na Alemanha, trabalham, no entanto, em conjunto em muitos domínios e no interesse de toda a sociedade. Feitas bem as contas, considero esta a via justa e não vejo qualquer razão para nos associarmos ao laicismo dos nossos vizinhos e amigos franceses."

Anselmo Borges

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Animais das nossas vidas

O Toti e a Tita foram animais das nossas vidas. Aqui estão no relvado com a Lita. Descontraídos e excelentes companheiros, cada um com o seu...

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