Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias
1 Na sua base, está Jesus de Nazaré, que nasceu uns quatro ou seis anos antes da nossa era - isto deve-se a um engano do monge Dionísio, o Exíguo, encarregado de estabelecer no século VI o novo calendário. Filho de Maria e de José, teve uma juventude despercebida, trabalhou duramente em vários lugares como artesão. Foi discípulo de João Baptista, por quem foi baptizado, mas fez uma experiência avassaladora de Deus como Abbá (querido Papá), que o chamava a anunciar e a testemunhar o seu Reino, o Reino de Deus, Reino da verdade, da justiça, do amor, da alegria para todos. Uma notícia boa e feliz. A vida pública foi curta.
Em Jesus, o Reino de Deus estava actuante. Preocupou-se com a saúde das pessoas, com que não passassem fome. Curou doentes, física e psiquicamente doentes. Comia com prostitutas e pecadores públicos. A causa de Deus é a causa dos seres humanos e, por isso, proclamava com os profetas estas palavras postas na boca de Deus: "Ide aprender: eu não quero sacrifícios, mas justiça e misericórdia." Ousava declarar: "O Sábado é para o Homem e não o Homem para o Sábado": a saúde, a justiça, a misericórdia, estão acima do culto. Por isso, entrou em conflito com o Templo, os sacerdotes, os escribas, os doutores da Lei... Assim, Jerusalém e Roma uniram-se, numa coligação de interesses religiosos e imperiais, para o crucificar. Ele podia ter negociado, mas não: foi até ao fim, para dar testemunho da Verdade e do Amor.