domingo, 20 de novembro de 2016

Cabazes / berços

Crónica de Maria Donzília Almeida



No tempo em que as terras das Gafanhas eram amanhadas, vivia-se numa sociedade quase matriarcal. Com efeito, com os maridos embarcados para a pesca do bacalhau, a mulher ficava encarregada de quase todas as tarefas: domésticas e agrícolas. Até, quando nasciam os filhos, havia apenas uma “curiosa” que dava uma ajudinha aos bebés, para entrarem neste mundo cruel.
Quando as jovens mães iam para “a terra” trabalhar, eram obrigadas a levar consigo os seus rebentos. Na altura, não havia as babysitters, os infantários, as creches. Nem tampouco as amas particulares, já que todas as mulheres tinham a mesma ocupação. A esse tempo, não havia diferenciação profissional, nem sindicatos para defender (?) os direitos dos trabalhadores! Nada iria reduzir para 8 horas de trabalho, a jorna diária, àqueles que trabalhavam de sol a sol. No Inverno, o astro-rei, compadecia-se destas mulheres heroínas, retirando-se um pouco mais cedo.

Não havendo, na altura, estruturas sociais de apoio às jovens mães e à criança, deparava-se-lhes um problema: onde deixar os bebés? Usando dum pragmatismo, tão peculiar nestas mulheres do campo, a solução brotava tão límpida como água que jorra da fonte. Os cabazes, cestas grandes comprados às ciganas, utilizados para os mais diversos fins, passavam a ter uma utilidade acrescida. Uma alcofinha redonda, de verga, revestida dos mais finos lençóis de cambraia (!?) nascia da imaginação destas corajosas mães. Enquanto trabalhavam, na freima, do campo, os seus rebentos, na extrema da terra, à sombra do milho alto, eram embalados pela sinfonia dos passarinhos. Que felizes eram essas crianças! O seu soninho angelical não era perturbado pelo ruído, às vezes ensurdecedor, das nossas cidades e vilas. Ali, só se ouviam acordes musicais, no chilreio das avezinhas. Quem não dorme ao som da música? Poder-se-á dizer, com toda a propriedade, que bebés e às vezes adultos, numa sesta roubada ao horário de trabalho,…dormiam o sono dos justos! 

Foi assim, embalada desta maneira, que a autora destas linhas ganhou amor à natureza e à vida bucólica!

03.10.08

José Tolentino Mendonça vence Prémio Teixeira de Pascoaes

Júri atribuiu o prémio, no valor de 12.500 euros, 
a A Noite Abre Meus Olhos, 
volume que reúne a obra poética do autor

Tolentino Mendonça (Foto do meu arquivo)


«O Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes, promovido pela Associação Portuguesa de Escritores (APE) com o patrocínio da Câmara Municipal de Amarante, foi atribuído ao livro A Noite Abre Meus Olhos (Assírio & Alvim, 2014), de José Tolentino Mendonça, uma reedição da poesia reunida do autor, ampliada com os seus títulos mais recentes: O Viajante Sem Sono(2009), Estação Central (2012) e A Papoila e o Monge (2013).
O júri, constituído por Isabel Cristina Mateus, José Carlos Seabra Pereira e José Manuel Mendes, decidiu por unanimidade atribuir este prémio, no valor de 12.500 euros, à obra de Tolentino Mendonça, elogiando a sua “coerência interna” e a “construção de linguagem fortemente visual que se sente respirar rente ao coração do mundo".»

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Da verdade do amor

Da verdade do amor se meditam
relatos de viagens confissões
e sempre excede a vida
esse segredo que tanto desdém
guarda de ser dito

pouco importa em quantas derrotas
te lançou
as dores os naufrágios escondidos
com eles aprendeste a navegação
dos oceanos gelados

não se deve explicar demasiado cedo
atrás das coisas
o seu brilho cresce
sem rumor

José Tolentino Mendonça

NOTA: Congratulo-me com a atribuição do Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes a um dos maiores poetas do nosso tempo, José Tolentino Mendonça, cuja obra conheço desde há muito. Da justeza do prémio, o júri, que lho atribuiu por unanimidade, fala por si e torna indiscutível a decisão. Os meus parabéns ao poeta Tolentino Mendonça, mas também ao padre, cronista, ensaísta, biblista, docente universitário, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, diretor do Centro de Estudos de Religiões e Culturas e consultor do Pontifício Conselho para a Cultura, na Santa Sé.

Não invocar o nome de Deus em vão

Crónica de Frei Bento Domingues 

Deus é inexprimível

1. Apesar do Papa Francisco e das suas intervenções carregadas de humanidade divina, o fundamentalismo religioso, mesmo no seio da Igreja católica, não desarma. Panfletos como o da folha dominical de uma paróquia da Califórnia - votar no Partido Democrata é pecado mortal; declarações como a do padre italiano à emissora católica Rádio Maria- os sismos, em Itália, são um castigo divino pelas uniões civis dos homossexuais, ou as expressas à revista Família Cristã pela responsável da Associação de Psicólogos Católicos - um filho homossexual é como ter um filho toxicodependente, são afirmações que não pecam por muito inteligentes. Infelizmente há outras mais tóxicas. Cresce um mal-estar muito vasto não só em relação ao tom e ao conteúdo fundamentalista das homilias dominicais, como acerca das desastradas atitudes no acolhimento aos pedidos de baptismo e de casamento. Em certos casos, em vez de constituírem uma oportunidade de evangelização, resultam em afastamento e azedume contra a Igreja.
Talvez mais perigoso ainda, sob todos os pontos de vista, é o populismo político que tomou proporções alarmantes com a eleição do pobre Trump. Geralmente, há sempre queixas por os eleitos não cumprirem as promessas eleitorais. Neste caso, até os republicanos gostariam que ele não as cumprisse todas. O homem é um susto e a aliança com o Putin faz aquecer a guerra fria. A Europa, que teve momentos de lucidez, já não tem certezas de nada. Tudo pode acontecer.
Com perspectivas diferentes, existe uma curiosa coincidência de desassossego entre os textos de encerramento do ano litúrgico e os textos políticos do PÚBLICO[1] desta segunda-feira, em que escrevo.

Concurso de fotografia da Sony

Primeiro lugar: " Ponte da válvula Torre " por  da Irlanda
Ver mais aqui

Com votos de bom domingo... apesar da chuva.

sábado, 19 de novembro de 2016

Últimas Conversas. Testamento de Bento XVI. 1

Crónica de Anselmo Borges 



Falei com ele uma vez, era ainda o cardeal Josef Ratzinger. A impressão que me ficou foi a de alguém muito afável, tímido e com um objectivo fundamental: conciliar a fé e a razão. Ao ler agora Letzte Gespräche (Últimas Conversas), e são mesmo as últimas, pois não pensa publicar mais nada e quer destruir notas dispersas, confirmei essa primeira impressão. Estas conversas do Papa emérito com Peter Seewald constituem uma espécie de balanço de uma vida e de um pontificado, sendo esta a primeira vez que um papa o faz. Impressiona a sua dignidade na humildade, reconhecendo os seus limites e fragilidades, procurando ser fiel à verdade, inevitavelmente na perspectiva dele, e sabendo que a última palavra pertence a Deus, de quem espera um juízo misericordioso e para o qual se prepara com serena confiança. Diz: "Crer não é senão, na noite do mundo, tocar a mão de Deus e assim - no silêncio - ouvir a Palavra, ver o Amor." Qual é "o verdadeiro problema deste nosso momento da história? Deus desaparece do horizonte dos homens e, com a extinção da luz que vem de Deus", a humanidade é apanhada pela falta de orientação, "cujos efeitos se manifestam cada vez mais".

Nasceu de uma família modesta, profundamente enraizada na fé da Igreja Católica. O pai era polícia, mas crítico e capaz de pensar pela sua própria cabeça, a mãe era muito cordial. Teve uma infância feliz, com muito afecto. "Para nós era claro que uma pessoa religiosa devia ser antinazi." Foi um miúdo vivaço e algo irrequieto e até "rebelde". O nazismo e a guerra complicaram tudo. Com o tempo, tornou-se "mais reflexivo e menos alegre". Manifestou desde sempre interesse pelas questões religiosas.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Ladrão reconhece Jesus como Senhor

Reflexão de Georgino Rocha



A narração da morte de Jesus está recheada de elementos convergentes no diálogo do bom ladrão, nos sentimentos que expressa e na garantia que recebe. Alguns desses elementos, como bem descreve Lucas, o médico evangelista, dizem respeito a atitude do povo, dos chefes, dos soldados e do malfeitor injurioso. O povo observa, sente e cala. É quase sempre assim, infelizmente.
As autoridades zombam e provocam. Os soldados troçam e, fingindo piedade, têm gestos de compaixão. O malfeitor exasperado lança insultos e faz interpelações. Todos em coro, cada um com o seu tom, invocam a mesma razão: descer da cruz, ser o rei dos judeus, o messias salvador. E, então sim, acreditamos na sua palavra, reconhecemos a sua realeza, constatamos que é o eleito de Deus.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

GUINÉ — Uma investigação de Armando Tavares da Silva

“A Presença Portuguesa na Guiné 
— História Política e Militar 
— 1878-1926”






“A Presença Portuguesa na Guiné — História Política e Militar — 1878-1926” é um livro de Armando Tavares da Silva, que contou com apoios da Comissão Portuguesa de História Militar, Fundação Lusíada e Direcção de História e Cultura Militar. A edição é da responsabilidade de Caminhos Romanos e do próprio autor. Trata-se de uma obra de 970 páginas, acrescidas de muitos mapas elucidativos, com indispensáveis índices e anexos preciosos e esclarecedores. Edição de muito nível, com ilustrações e gravuras a condizer, página a página com notas de rodapé, o que traduz o empenho e o trabalho que o autor dedicou a este tema que interessa a todos os apaixonados pela nossa história, especialmente, neste caso concreto, pela Guiné, que foi colónia portuguesa.
Quem pega num livro com este peso percebe facilmente que não é um livro vulgar. De peso pelo elevado número de páginas, mas também pelo volume perfeitamente extraordinário dos elementos que o autor nos oferece, com bastantes anos de pesquisas, concatenando imensos acontecimentos que a grande maioria dos portugueses ignora em absoluto.
Confesso que ao debruçar-me sobre a obra fiquei impressionado com o que tinha e ainda tenho para ler, não como quem lê um romance, já que, capítulo a capítulo, num total de trinta e dois, há, inevitavelmente, muito que refletir, que estabelecer ligações, que apreciar fotografias, mapas e demais ilustrações, minuciosamente legendadas e com indicação das origens. 
Armando Tavares da Silva, Professor Catedrático aposentado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, neto de oficial da Armada e de administrador colonial, encontrou decerto nestes seus antepassados motivações para abraçar, com paixão e entusiasmo, apesar da serenidade da sua voz e postura, este enormíssimo desafio. Aposentado desde 2002, não se quedou comodamente a ver passar o tempo. Desde essa altura, tem-se dedicado à investigação história, sendo sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, do Instituto Português de Heráldica e da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. 
Em Agradecimentos, o autor manifesta o seu reconhecimento ao Arquivo Histórico Ultramarino e ao Instituto Geográfico do Exército, referindo o apoio recebido de diversas entidades oficiais e demais pessoas que, de uma forma ou outra, contribuíram para a edição desta obra que eu considero monumental, pela riqueza de pormenores e rigor histórico, tanto quanto me é dado ajuizar.
Em Palavras Prévias, Armando Tavares da Silva afirma que «São ainda desconhecidos no nosso País muitos aspectos do que foi a presença de Portugal nas terras da Guiné», realçando a «escassez de estudos sobre essa presença, dando a conhecer a acção governativa portuguesa e a história militar que lhe está associada». 
Adianta que «O presente trabalho tem por fim mostrar de forma objectiva, rigorosa e imparcial, um conjunto de acontecimentos ilustrando o que foi a governação da Guiné pelos portugueses, no decorrer do importante período em que foi sentida maior pressão para a ocupação efectiva do território, em que decorreram as negociações com a França para a sua delimitação e em que se concentraram, na quase totalidade, as chamadas operações de “pacificação”».
Ao garantir que não é objectivo desta obra «fazer a história da Guiné na multiplicidade de aspectos de que se reveste», Armando Tavares da Silva frisa o contributo da administração portuguesa, em especial nas áreas da justiça, educação, fomento e acção missionária e religiosa, «essenciais para o seu progresso». 
No Prefácio, assinado pelo Presidente da Academia de Marinha, Nuno Vieira Matias, lê-se: «A riqueza da extensa investigação dá-nos conta de muitos conflitos verificados, quer entre as etnias locais, quer entre estas e os portugueses, mas também refere inúmeros episódios de bom relacionamento que tivemos com os nativos. Daí se extrapola que a dificuldade de convívio tem sido uma constante, que chega até aos nossos dias.»
Nuno Vieira Matias adianta ainda que «estamos perante um livro que constitui, na verdade, uma notável obra de investigação histórica, produzida com grande rigor científico e que exemplifica bem o gigantesco esforço que um povo pouco numeroso, saído do extremo oeste da Europa, desenvolveu, pioneiramente, pelo mundo fora».
Fernando Martins

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O Toti e a Tita foram animais das nossas vidas. Aqui estão no relvado com a Lita. Descontraídos e excelentes companheiros, cada um com o seu...

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