- Sabes, hoje, de manhã, fui à missa e houve uma bronca de todo o tamanho! – afirmou o meu colega e amigo Rodrigues, ao telefone, logo após me ter inteirado do estado de saúde da sua filha mais nova.
- Bronca? Como assim? – perguntei-lhe eu.
- O Padre deu cá uma descasca no pessoal, que nem imaginas! Foi na homilia! – respondeu-me e acrescentou o Rodrigues.
O Rodrigues, aveirense de nascimento, vive e trabalha, por conta própria, há anos a esta parte, perto de Braga.
Também lá, a vida é difícil e o encerramento de empresas de têxteis, calçado, confecções ou produtos electrónicos, tem colocado muita gente no desemprego, havendo situações dramáticas, a nível da sobrevivência diária de muitas famílias.
A Cáritas Diocesana, pelo que ele me disse, tem sido uma das instituições que mais anda no terreno, na busca das melhores soluções e ajudas para estes dramas humanos.
Mas, como tudo na vida, um pólo tem sempre o seu oposto, ou seja, há miséria, de um lado, não admirando que surja a riqueza no outro.
De há três anos para cá, o responsável paroquial tem procurado sensibilizar, sobretudo na Quaresma, aqueles a quem a fortuna sorriu, para terem em conta as dificuldades dos outros irmãos, serem solidários com eles e evitarem todo o tipo de ostentação, que acaba por ferir a dignidade de quem já está fragilizado na sua vida diária.
Esta ostentação surge, ainda com mais vigor, durante a Visita Pascal, e, parte dela, passa-se no interior de umas duas dezenas de moradias (“mais que luxuosas” no dizer do Rodrigues), que abrindo as portas ao anúncio do Ressuscitado, não dispensam, ano após ano, o requinte e os luxos exuberantes – que passam pelos carros, roupas e não só, durante o resto do ano.
Pelo que me disse o Rodrigues, as mesas são autênticas montras de tudo o que há de bom e do melhor, com as mais variadas e caras iguarias que se possam imaginar, em quantidades muito para além do bom senso e das necessidades dos seus proprietários. Fazem-se festas com convidados vindos de fora da freguesia.
Já na Páscoa passada, o pároco fez “ameaças” de que deixava de fazer a Visita Pascal nas casas que não soubessem receber, com respeito, dignidade e humildade, Aquele que deu a vida para nos salvar.
Como se costuma dizer, em bom português, parece que os avisos e os apelos paroquiais entraram por um ouvido e saíram logo pelo outro!
Haverá, aqui, uma provocação gratuita? Será que querem uma Igreja à sua medida e ao seu gosto? Será que desejam algum confronto? Será que desconhecem que Cristo se fez pobre por nós? (cf. 2 Cor 8,9).
Ainda que não seja um caso isolado, infelizmente, é uma das excepções à regra, mas que exige, a meu ver, medidas pastorais serenas, rápidas e firmes, capazes de fazer da paróquia – qualquer paróquia – aquilo que ela é em si mesmo: uma comunidade de fiéis, baptizados, que se reúnem e celebram a doutrina salvífica de Cristo, e praticam a caridade do Senhor em obras boas e fraternas (cf. CIC 2179).
Quanto à questão da “bronca”, na Eucaristia, tive que dizer ao Rodrigues que me parecia que o pároco não teria dado “bronca” nenhuma, durante a homilia.
- Se houve “bronca” – no sentido de censura ou repreensão evangélica (cf. Mc 16,14; 1,25; 8,33 ou Lc 9,55) – ela foi dada pelo próprio Cristo. – afirmei eu ao Rodrigues – que logo retorquiu: - Mas foi o Padre que falou! Percebendo que o meu Amigo estava confuso, e para ser o mais preciso e conciso, fui à estante buscar o livro “Missa”, do Cardeal Jean-Marie Lustiger, que se tornou participante no nosso diálogo telefónico.
Afinal, o Rodrigues, até aí, ainda não tinha entendido que, quando o celebrante entra na Assembleia de fiéis, Cristo se torna presente na sua pessoa (cf. pag. 48).
Agora, do que ele mais gostou de ouvir foi que a homilia “é verdadeiramente uma acção de Cristo que, pela boca do Padre, torna presente a sua Palavra” (cf. pag 95 e 96).
Decerto que vou ter novas oportunidades de falar com o Rodrigues e, quem sabe, se, até lá, numa outra Assembleia Eucarística, presidida por um qualquer sacerdote, não pode surgir uma outra “bronca evangélica”.
Como em tudo, também na vida da Igreja, o importante é que “aquele que tiver ouvidos, oiça” (cf. Mt 13,9).
Vítor Amorim
- Bronca? Como assim? – perguntei-lhe eu.
- O Padre deu cá uma descasca no pessoal, que nem imaginas! Foi na homilia! – respondeu-me e acrescentou o Rodrigues.
O Rodrigues, aveirense de nascimento, vive e trabalha, por conta própria, há anos a esta parte, perto de Braga.
Também lá, a vida é difícil e o encerramento de empresas de têxteis, calçado, confecções ou produtos electrónicos, tem colocado muita gente no desemprego, havendo situações dramáticas, a nível da sobrevivência diária de muitas famílias.
A Cáritas Diocesana, pelo que ele me disse, tem sido uma das instituições que mais anda no terreno, na busca das melhores soluções e ajudas para estes dramas humanos.
Mas, como tudo na vida, um pólo tem sempre o seu oposto, ou seja, há miséria, de um lado, não admirando que surja a riqueza no outro.
De há três anos para cá, o responsável paroquial tem procurado sensibilizar, sobretudo na Quaresma, aqueles a quem a fortuna sorriu, para terem em conta as dificuldades dos outros irmãos, serem solidários com eles e evitarem todo o tipo de ostentação, que acaba por ferir a dignidade de quem já está fragilizado na sua vida diária.
Esta ostentação surge, ainda com mais vigor, durante a Visita Pascal, e, parte dela, passa-se no interior de umas duas dezenas de moradias (“mais que luxuosas” no dizer do Rodrigues), que abrindo as portas ao anúncio do Ressuscitado, não dispensam, ano após ano, o requinte e os luxos exuberantes – que passam pelos carros, roupas e não só, durante o resto do ano.
Pelo que me disse o Rodrigues, as mesas são autênticas montras de tudo o que há de bom e do melhor, com as mais variadas e caras iguarias que se possam imaginar, em quantidades muito para além do bom senso e das necessidades dos seus proprietários. Fazem-se festas com convidados vindos de fora da freguesia.
Já na Páscoa passada, o pároco fez “ameaças” de que deixava de fazer a Visita Pascal nas casas que não soubessem receber, com respeito, dignidade e humildade, Aquele que deu a vida para nos salvar.
Como se costuma dizer, em bom português, parece que os avisos e os apelos paroquiais entraram por um ouvido e saíram logo pelo outro!
Haverá, aqui, uma provocação gratuita? Será que querem uma Igreja à sua medida e ao seu gosto? Será que desejam algum confronto? Será que desconhecem que Cristo se fez pobre por nós? (cf. 2 Cor 8,9).
Ainda que não seja um caso isolado, infelizmente, é uma das excepções à regra, mas que exige, a meu ver, medidas pastorais serenas, rápidas e firmes, capazes de fazer da paróquia – qualquer paróquia – aquilo que ela é em si mesmo: uma comunidade de fiéis, baptizados, que se reúnem e celebram a doutrina salvífica de Cristo, e praticam a caridade do Senhor em obras boas e fraternas (cf. CIC 2179).
Quanto à questão da “bronca”, na Eucaristia, tive que dizer ao Rodrigues que me parecia que o pároco não teria dado “bronca” nenhuma, durante a homilia.
- Se houve “bronca” – no sentido de censura ou repreensão evangélica (cf. Mc 16,14; 1,25; 8,33 ou Lc 9,55) – ela foi dada pelo próprio Cristo. – afirmei eu ao Rodrigues – que logo retorquiu: - Mas foi o Padre que falou! Percebendo que o meu Amigo estava confuso, e para ser o mais preciso e conciso, fui à estante buscar o livro “Missa”, do Cardeal Jean-Marie Lustiger, que se tornou participante no nosso diálogo telefónico.
Afinal, o Rodrigues, até aí, ainda não tinha entendido que, quando o celebrante entra na Assembleia de fiéis, Cristo se torna presente na sua pessoa (cf. pag. 48).
Agora, do que ele mais gostou de ouvir foi que a homilia “é verdadeiramente uma acção de Cristo que, pela boca do Padre, torna presente a sua Palavra” (cf. pag 95 e 96).
Decerto que vou ter novas oportunidades de falar com o Rodrigues e, quem sabe, se, até lá, numa outra Assembleia Eucarística, presidida por um qualquer sacerdote, não pode surgir uma outra “bronca evangélica”.
Como em tudo, também na vida da Igreja, o importante é que “aquele que tiver ouvidos, oiça” (cf. Mt 13,9).
Vítor Amorim