segunda-feira, 24 de março de 2008

Segunda-Feira de Páscoa


Na segunda-feira de Páscoa, o povo da Gafanha sempre a dedicou à Feira de Março. Quando eu era miúdo, os autocarros da Auto Viação Aveirense não paravam, sobretudo depois do almoço. O pessoal não tinha carro, como hoje. O meio de transporte mais usual era a "camioneta da carreira", como então se dizia. Nas paragens, os amigos da Feira apareciam em massa. Depois, era a compra de pequenas coisas que faziam falta ao dia-a-dia: a colher de pau, o tacho de barro, os brinquedos para a criançada, as farturas que sempre ali tiveram espaço, o saca-rolhas, os sapatos e a roupa feita, etc. Compras feitas, uma voltinha nos carrocéis, uma visita ao Poço da Morte, onde o Dias, do Stand Dias, mostrou como um jovem normal também lá sabia andar de mota, era o regresso com a tralha às costas. E as camionetas, com o tejadilho cheio, lá faziam o transporte de regresso a casa. Era um dia de alegria.
FM

ÍLHAVO: Homenagens no Dia do Município

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré na Polónia

A Câmara de Ílhavo homenageou, hoje, em sessão solene, comemorativa do dia do município, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré e três munícipes considerados “embaixadores de Ílhavo no mundo”, todos com medalhas de vermeil. Ainda foram distinguidos, com medalhas de dedicação, os antigos funcionários Fernando Conde e Hélder Viana. Em minha opinião, os galardoados mereceram o reconhecimento da autarquia, pelo muito que fizeram em prol do Concelho de Ílhavo e da suas gentes.
Os meus parabéns a todos.

ÍLHAVO: Feriado Municipal


E os ílhavos saíram vencedores...
(...)
«Ora os homens do Norte estavam disputando com os homens do Sul: a questão fora interrompida com a nossa chegada à proa do barco. Mas um dos ílhavos – bela e poética figura de homem –, voltando-se para nós, disse naquele seu tom acentuado: “Pois aqui está quem há-de decidir: vejam nos senhores. Eles, por agarrar um toiro, cuidam que são mais que ninguém, que não há quem lhes chegue. E os senhores, a serem cá de Lisboa, hão-de dizer que sim. Mas nós...”
– “Nenhum de nós é de Lisboa: só este senhor que aqui vem agora.”
Era o C. da T. que chegava.
– “Este conheço eu; este é dos nossos!” bradou um homem de forcado, assim que o viu: “Isto é um fidalgo como se quer. Nunca o vi numa ferra, isso é verdade; mas aqui de Valada a Almeirim ninguém corre mais do que ele por sol e chuva, e há-de saber o que é um boi de lei, e o que é lidar com gado.”
– “Pois oiçamos lá a questão.”
–“Não é questão”, tornou o Ílhavo: “mas, se este senhor fidalgo anda por Almeirim, para Almeirim vamos nós, que era uma charneca outro dia, e hoje é um jardim, benza-o Deus! – mas não foram os campinos que o fizeram, foi a nossa gente que o sachou e plantou, e o fez o que é, e fez terra das areias da charneca.”
– “Lá isso é verdade.”
– “Não, não é! Que está forte habilidade fazer dar trigo aqui aos nateiros do Tejo, que é como quem semeia em manteiga. É uma lavoura que a faz Deus por Sua mão, regar e adubar e tudo: e o que Deus não faz, não fazem eles, que nem sabem ter mão nesses mouchões co plantio das árvores: só lá por cima é que algumas têm metido, e é bem pouco para o rio que é, e as ricas terras que lhes levam as enchentes.”
– “Mas nós, pé no barco pé na terra, tão depressa estamos a sachar o milho na charneca, como vimos por aí abaixo com a vara no peito, e o saveiro a pegar na areia por não haver água... mas sempre labutando pela vida.”
– “A força é que se fala” tornou o campino, para estabelecer a questão em terreno que lhe convinha: “A força é que se fala: um homem do campo que se deita ali à cernelha de um toiro que uma companhia inteira de varinos lhe não pegava, com perdão dos senhores, pelo rabo!...”
E reforçou o argumento com uma gargalhada triunfante, que achou eco nos interessados circunstantes que já se tinham apinhado a ouvir os debates.
Os ílhavos ficaram um tanto abatidos; sem perderem a consciência de sua superioridade, mas acanhados pela algazarra.
Parecia a esquerda de um parlamento quando vê sumir-se, no burburinho acintoso das turbas ministeriais, as melhores frases e as mais fortes razões dos seus oradores.
Mas o orador ílhavo não era homem de se dar assim por derrotado. Olhou para os seus, como quem os consultava e animava, com um gesto expressivo, e voltando-se a nós, com a direita estendida aos seus antagonistas:
– “Então agora como é de força, quero eu saber, e estes senhores que digam, qual é que tem mais força, se é um toiro ou se é o mar.”
– “Essa agora!...”
– “Queríamos saber.”
– “É o mar.”
– “Pois nós que brigamos com o mar, oito e dez dias a fio numa tormenta, de Aveiro a Lisboa, e estes que brigam uma tarde com um toiro, qual é que tem mais força?”
Os campinos ficaram cabisbaixos; o público imparcial aplaudiu por esta vez a oposição, e o Vouga triunfou do Tejo.»


Almeida Garrett
In "Viagens na minha terra"
Nota: O fidalgo "C da T" era o Conde da Taipa

Bento XVI lembra dramas da humanidade


Papa recordou Darfur e Somália,
Terra Santa, Iraque, Líbano e Tibete
antes da Bênção "Urbi et Orbi"


"Na solene vigília de Páscoa, as trevas tornam-se luz, a noite cede o passo ao dia que não conhece ocaso. A morte e ressurreição do Verbo de Deus encarnado é um acontecimento de amor insuperável, é a vitória do Amor que nos libertou da escravidão do pecado e da morte. Mudou o curso da história, infundindo um indelével e renovado sentido e valor à vida do homem."

Bento XVI, na sua Mensagem Pascal

FOLAR DA PÁSCOA


Sinal de tradição ou de compromisso de fé?

Chegado o Domingo de Páscoa, é tradição o Padrinho ou a Madrinha oferecerem o chamado folar da Páscoa ao afilhado ou à afilhada.
Sendo um gesto de carinho e de ternura, pode ser um presente inócuo e sem consequências, onde tudo pode ficar na tradição pela tradição.
Por isso, acredito que o folar da Páscoa pode e deve ir para além da dimensão do mero tradicionalismo, quando é o caso, devendo tornar-se um dos símbolos da renovação e do compromisso baptismal que se festeja em cada Páscoa.
Só uma fé amadurecida pelo itinerário quaresmal pode permitir que, chegado o Dia Pascal, esta se transforme em anúncio, em alegria e em esperança, onde padrinhos e afilhados, madrinhas e afilhadas sintam que são testemunhas do mesmo Cristo Ressuscitado e no qual foram baptizados. Basta isto para o folar ter outro sabor!
Não sei porquê, mas já na sua idade de jovenzinho, um dos meus afilhados começou a oferecer-me o seu folar da Páscoa! Da surpresa inicial, passei à aceitação e, só mais tarde, é que acabei por compreender o sentido daquela oferta.
Inicialmente, comecei por pensar tratar-se de um gesto de cortesia do meu afilhado. Porém, as suas dedicatórias foram-se encarregando de me falarem de uma realidade bem mais profunda e que se traduzia num compromisso de fé deste com o seu padrinho e o reconhecimento da necessidade de partilhar este dom de ser baptizado, através da alegria e da amizade fraterna.
Se as notas escolares, as doenças, as dúvidas, os projectos, as tristezas, as “malandrices” da idade, entre outras vivências já eram, de há muito, partilhadas, porque não o folar?
Este ano, fui presenteado, como sempre, com um novo livro, este de autoria do Arcebispo Bruno Forte, com o título: “Porquê Confessar-se? – A reconciliação e a beleza de Deus”, das edições Paulus, atrevendo-me, desde já, a sugerir a sua aquisição aos leitores.
É um livro com apenas 54 páginas. Lê-se num ápice e a sua mensagem, não sendo nova, soa a frescura e a um prazer pacificador, mesmo abordando um tema nem sempre foi bem compreendido e aceite, mesmo por parte de alguns cristãos.
Naquele livro reafirma-se que somos seres frágeis e em permanente construção: Uma construção inacabada, até ao dia da nossa Páscoa definitiva.
No final, dei comigo a pensar: - Porque é que o meu afilhado não me ofereceu este livrinho mais cedo?
Talvez alguns episódios de sofrimento e de dor, em que estive envolvido, se tivessem evitado ou atenuado, para além das novas janelas que se poderiam ter aberto para melhor compreensão da infinita e compassiva misericórdia de Deus.
Quanto a mim, continuarei esta partilha de folares com o meu afilhado, procurando, em cada um deles, (r)encontrar a Boa Nova que o Deus Ressuscitado nos dirige, em cada Páscoa que se vive e celebra, ano após ano.

Vítor Amorim

domingo, 23 de março de 2008

DOMINGO DE PÁSCOA


Hoje até me levantei mais cedo, porque é Domingo de Páscoa. Quis, e quero, aproveitar bem o dia, para contemplar a Ressurreição de Cristo, na certeza de que a vejo em tudo o que me envolve. Tanto nas coisas boas que sinto e pressinto, como nas coisas menos boas que possam acontecer. A alegria de crer num Deus, num Deus que se fez homem, para um dia e sempre se dar ao Pai pela nossa redenção, inunda-me a alma. Mas também creio que os que não crêem talvez vejam, na Páscoa dos folares com ovos, das amêndoas e do cabrito ou borrego assados no velho forno a lenha, uma festa de ressurreição que lhes alimente a esperança de um dia poderem experimentar a presença do Senhor da vida nos sinais da natureza que se renova, ano após ano.
Boa Páscoa para todos na alegria de Cristo Ressuscitado.

Fernando Martins

PÁSCOA FELIZ PARA TODOS


HOSSANA

Junquem de flores o chão do velho mundo:
Vem o futuro aí!
Desejado por todos os poetas
E profetas
Da vida,
Deixou a sua ermida
E meteu-se a caminho.
Ninguém o viu ainda, mas é belo.
É o futuro...

Ponham pois rosmaninho
Em cada rua,
Em cada porta,
Em cada muro,
E tenham confiança nos milagres
Desse Messias que renova o tempo.
O passado passou.
O presente agoniza.
Cubram de flores a única verdade
Que se eterniza!

Miguel Torga

In POESIA COMPLETA
Foto: Flor de Carlos Duarte

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