domingo, 9 de março de 2008

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 68


AGENTES DE EDUCAÇÃO: CAPELÃES E MESTRAS

Caríssima/o:

Talvez por estarmos na Quaresma ocorreu-me este tema, embora à partida haja muito nariz torcido. A ver com a Escola instituição não tem; contudo, muitos de nós seremos escorreitos pela acção educativa quer de um quer de outra, senão de ambos! Se não estais de acordo comigo, tende paciência e lede mais um pouco do Padre Resende:

«Não devemos esquecer que a pronunciada polidez, que já se nota sobremaneira, nestes povos, se deve atribuir em grande parte ao concurso e ao trabalho persistente e eficaz do sacerdote, que, como condutor e mestre, lhes tem infiltrado na alma, paulatinamente, avultadas parcelas de cultura moral e intelectual. Foi o primeiro mestre que com eles esteve eficazmente em contacto, As máximas vividas do Evangelho, que no mundo e em todos os séculos têm sido o código e a regra por onde se regem os povos que querem viver; a Igreja que o mundo intelectual tem reconhecido como aferidora infalível das civilizações que se redimem e salvam, também na Gafanha deviam fazer sentir os seus salutares e benéficos efeitos. Em todos os séculos, repito, o sacerdote católico, embora aleivosamente caluniado e acusado injustamente como retrógrado pelos mumificados cientistas do século passado, tem sido mais que um educador; tem sido um mestre, que educando também ensina, que instrui quando educa. Não falando nos Institutos em que ele brilhou através dos séculos por todo o mundo, vemo-lo, ainda agora, na escola do seu ministério em que pontifica, acarinhando sempre, como amigas aliadas e inseparáveis, as duas irmãs gêmeas: educação e instrução. [...]
Antes que chegassem, porém, os pioneiros da instrução, ou fosse o professor primário, ou fosse o capelão permanente, depois pároco da Gafanha, como viviam estes povos, isolados do convívio social, entregues à crítica situação de primários, aos seus instintos semi-bárbaros? Viviam no seu deserto, na mais completa rudez.[...]» [MG 207]



Isto quanto aos Capelães e Párocos; quanto às nossas mestras já se escreveu:

«Nos primórdios da Gafanha, a Catequese de crianças era ministrada pelo Capelão com a indispensável ajuda das Senhoras Mestras. Assim continuou depois, com o Prior Sardo e com os que se lhe seguiram [na Gafanha da Nazaré], até à década de 50, sendo já Prior o P.e Domingos.
Embora seja impossível, por falta de registos, fazer referência a todas as que se dedicaram a essa nobre missão, não podemos, no entanto, deixar de citar algumas delas, sobretudo as que mais ficaram na memória do nosso povo.
São elas: Rosa Margaça, do Bebedouro; Joana Rosa Bola, da Cambeia; Rosa Cirino, da Marinha Velha; Maria Gertrudes, da Cale da Vila; Emília do Guarda, da Chave; e, ainda, Celeste Ribau e Esperança Merendeiro.»
[Monografia da Paróquia da Gafanha da Nazaré, 262]

Também na Gafanha da Encarnação, «Esta habilitação era feita em casa das "senhoras mestras", o habitual em toda a região. Porém, aqui tinha a particularidade de ser tratada, por todos, com muito carinho, por "Madrinha", madrinha da doutrina. Ainda hoje se recorda com muita saudade a "madrinha" Maria do Céu de Jesus Roque, que exercia a sua acção no Centro e Sul; também Isaura do Ti Amigo (enteada do Ti Frade) é lembrada como "madrinha".
Em 1973, ainda encontramos activas três Mestras: Felicidade Pinto, a Norte, Nazaré Magueta, a Sul, e Carmelinda Cardoso, no Centro da freguesia.»
[Monografia da Paróquia da Gafanha da Encarnação, 172/173]

Para mim, nesta caminhada, é gratificante ter encontrado verdadeiros educadores e educadoras nas pessoas amigas dos Priores (os meus Priores: Guerra, Bastos, Saraiva, Domingos, ...) e das Mestras (a minha Mestra Joana Rosa); fica, pois, a minha saudade e a minha profunda gratidão.

Manuel

sábado, 8 de março de 2008

A ESPERANÇA MODERNA: O REINO DO HOMEM

É bem possível que Bento XVI tenha conhecido pessoalmente o filósofo Ernst Bloch em Tubinga. De qualquer modo, ao redigir a sua segunda encíclica, sobre a esperança (Spe salvi - Salvos em esperança), de certeza lembrou o grande filósofo, autor da obra filosófica mais consistente de sempre sobre esta temática - O Princípio Esperança - a enciclopédia de todas as esperanças, que, em alemão, tem 1654 páginas. E começa assim: "Quem somos? Donde vimos? O que esperamos? O que nos espera?"
De facto, a ideia de Bento XVI de que a modernidade viveu da ânsia de realizar na História o Reino de Deus sem Deus foi aprofundada por Ernst Bloch. A sua filosofia, no limite, quereria herdar esse Reino de Deus, o Sumo Bem, a Nova Jerusalém de que fala a Bíblia. Se, sendo marxista, acabou por criticar os horrores do estalinismo, foi porque esperava "o Totalmente Outro", como reserva escatológica, ainda que por força da própria Natureza. Bloch é um belo exemplo do homem simultaneamente religioso e ateu. Religioso, porque "onde há esperança, há religião". Ateu, porque não esperava a salvação vinda do Deus pessoal que cria por amor e que vem ao encontro do Homem.
Pergunta o Papa, com razão: como foi possível pensar que a mensagem de Jesus diz respeito apenas ao indivíduo e ao Além, como se a salvação definitiva implicasse o desprezo deste mundo e a esperança se reduzisse à "salvação da alma"?
Em reacção, a modernidade trouxe o Além para o aquém. Mediante a revolução científica, proclamou-se a fé no progresso, que garantiria um mundo totalmente novo, "o reino do Homem".
Na modernidade, "há duas categorias que ocupam cada vez mais o centro da ideia de progresso: razão e liberdade". Pela razão e liberdade e confiando na sua bondade intrínseca, esperou-se a realização de uma comunidade humana perfeita.
A concretização política desta esperança tinha duas etapas fundamentais.
A Revolução Francesa surgiu como projecto de instaurar este reino da razão e da liberdade de modo politicamente real. Depois da revolução burguesa de 1789, outra revolução se pôs em marcha: a proletária. Não bastavam as reformas dos pequenos passos; era precisa a revolução para se realizar o que já Kant tinha chamado o "Reino de Deus" racional. A verdade do Além desapareceu, para ser herdada no aquém. Como disse Marx, a crítica do céu deve transformar-se em crítica da terra e a crítica da teologia em crítica da política e da economia. O progresso para um mundo definitivamente bom não provém exclusivamente da ciência, mas da política, uma política com bases científicas.
Bento XVI reconhece que a promessa de Marx, graças à "agudeza" das análises e à "clara indicação dos instrumentos para a mudança radical fascinou e continua a fascinar".
Que falhou então para que a promessa marxista deixasse atrás de si, na sua concretização histórica, "uma destruição desoladora"? O seu erro consistiu em não ver que não basta solucionar a economia e em esquecer que "a liberdade é sempre liberdade, também liberdade para o mal". O seu erro foi o materialismo. O progresso científico e técnico pode desembocar, como já preveniu Kant, num "final perverso". É ambíguo e tem de ser acompanhado pelo "crescimento moral da Humanidade".
A modernidade precisa, pois, de autocrítica em diálogo com o cristianismo, mas acompanhada de uma autocrítica do próprio cristianismo e do que ele fez da esperança.
Numa obra recente, ágil, sobre O Cristo Filósofo, reflectindo sobre a revolução operada por Cristo e a sua influência ainda actual na Europa, F. Lenoir conclui: "Se, através da sua história, a religião cristã tivesse sido totalmente evangélica, se tivesse conseguido encarnar na sociedade os preceitos de Cristo, os homens não teriam certamente sentido a necessidade de retirá-los do seu contexto religioso para poder torná-los operativos. Constata-se, com efeito, ao observar o percurso do Ocidente, que o recurso à razão e ao direito se tornou necessário pelo facto da opressão exercida em primeiro lugar pelas instituições religiosas."

Professores protestam na rua

Hoje realizou-se, provavelmente, a maior manifestação de sempre de professores. Diz-se que cerca de 100 mil marcaram presença no desfile, em Lisboa. Quiseram mostrar o seu descontentamento pelas políticas do Governo, na área do ministério da Educação. Há dias, registei aqui a convicção de que já não há capacidade para dialogar. E disse que subscrevia a proposta do neurocirurgião Lobo Antunes, por sinal Conselheiro de Estado, no sentido de se criar uma comissão mediadora, credível e independente, que analisasse o problema e apresentasse soluções. O Governo tem-se mostrado inflexível, pois aceitar a renúncia às reformas seria aceitar a derrota do próprio executivo. Cavaco Silva, ausente no Brasil, estará a acompanhar o assunto. E pode ser que, no regresso, consiga levar o Governo a aceitar a tal mediação. Entretanto, constato que, até agora, ainda não sei, concretamente, por que razão não é possível o diálogo. Mais: gostaria que sindicatos e ministério da Educação publicassem as suas propostas de reforma do Ensino, com tudo o que diz respeito a professores, funcionários, alunos e programas. Acho que o povo português tem obrigação de conhecer todas as verdades, para depois concluir de que lado está a razão. Se calhar todos terão alguma razão, mas sempre se verá para que lado se inclina o ponteiro da balança. Que o Governo e os sindicatos apresentem, pois, as suas razões, na perspectiva de que as mudanças fazem parte intrínseca das reformas. Ficar tudo como está, sem adaptações adequadas e justas, é impossível. Penso que entre os professores (como em qualquer outra classe profissional) há gente honesta, trabalhadora e competente, mas também há o seu contrário. Mais: há muitos que apostam na formação e outros tantos instalados na vida e alérgicos a mudanças; há os que aceitam subir na carreira por mérito e os que querem subir sem qualquer esforço nem trabalho. A reforma do Ensino é coisa séria e urgente e todos têm de dar o seu melhor para que os alunos, razão de ser das comunidades educativas, possam ser mais tarde pessoas responsáveis, competentes e educadas, numa sociedade mais justa. FM
:
NB: Para além do que disse acima, gostaria que os protestos incidissem sobre a instabilidade profissional, que obriga os professores a andarem de terra em terra, como saltimbancos, sobre as condições de trabalho e falta de apoios técnicos e sociais, sobre a falta de formação contínua para cada área, sobre a escassez de especialistas para os alunos com dificuldades específicas, sobre a ajuda às famílias mais carentes e sobre a adaptação de programas às necessidades da sociedade dos nossos dias. Só ouvi falar hoje da avaliação dos professores e da progressão nas carreiras. É pena.
FM

Mensagem do Papa para a Quaresma



Hoje de manhã foi dia de reflectir um pouco sobre a Mensagem do Papa para a Quaresma. Trata-se de uma mensagem simples, mas muito concreta, em que Bento XVI, um teólogo e intelectual, com fama de pessoa muito virada para a cultura, sublinha a necessidade de olharmos mais para os pobres, numa dádiva total de nós mesmos. Dele, por isso, talvez muitos esperassem uma mensagem mais direccionada para os homens e mulheres da cultura. Mas não, embora também. A mensagem é extremamente simples, com conselhos e propostas que toda a gente está à altura de compreender, a meu ver. Difícil, para muitos, será pôr em prática o que o Papa recomenda, porque é bastante complicado ultrapassarmos as nossas tradicionais comodidades e a crença de que os problemas são para os outros resolverem. Frequentemente gritamos que é preciso acabar com a fome no mundo, mas que fazemos nós para que isso aconteça?
Fala, direi que essencialmente, de oração, jejum e esmola, a que muitos não dão a devida importância. Para o crente já não será assim. São propostas não só válidas, mas fundamentais. Afinal, oração, jejum e esmola estão, naturalmente, associados.
Diz o Santo Padre que “não somos proprietários mas administradores dos bens que possuímos”, e que, face às multidões que vivem na indigência, “socorrê-las é um dever de justiça, ainda antes de ser um gesto de caridade”.
O Papa, citando as Escrituras, diz que “há mais alegria em dar do que em receber”, sendo garantido que “a esmola, aproximando-nos dos outros, aproxima-nos de Deus e pode tornar-se instrumento de autêntica conversão e reconciliação com Ele e com os irmãos”.
Bento XVI reafirma que “a esmola educa para a generosidade do amor” e recorda um velho, mas ainda actual, conceito bíblico: ao dar esmola, a mão esquerda não deve saber o que faz a direita.


FM

Dia Internacional da Mulher


Poderá o imperativo da igualdade entre os géneros masculino e feminino conduzir a um empobrecimento grande da condição da mulher? É uma questão pertinente, numa altura em que se fala tanto disso. Nada melhor do que ouvir várias opiniões sobre o assunto, neste Dia Internacional da Mulher.

sexta-feira, 7 de março de 2008

PARTIDOS NÃO MERECEM SER GOVERNO


Um dia destes, o líder do PSD, Luís Filipe Menezes, disse que o PS “já não merece ser Governo”, mas logo a seguir garantiu que o seu partido “ainda não merece ser Governo”. Isto significa que o nosso País está ingovernável. A não ser que, excluindo os partidos da alternância governamental, tenhamos de ir para um dos outros do nosso espectro político, qual deles o mais pequeno. Claro que surgiu, entretanto, o MEP (Movimento Esperança Portugal), mas dele ainda se sabe muitíssimo pouco.
O que impressiona nisto tudo é verificarmos que os mais representativos partidos políticos, com tantos anos de vivência democrática e de experiência no Governo, se tenham afundado tanto, ficando entregues a gente que, afinal, não sabe ser Governo nem esteja, ainda, preparada para o ser.
O que se pode constatar é que hoje os partidos estão cheios de pessoas (estarão?) sem carisma e sem o autêntico sentido das nossas realidades. Daí o desânimo e o pessimismo de muitos portugueses.

FM

Fátima, Cidade da Paz



Conforme li na Ecclesia, a Câmara de Ourém vai incumbir a SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana de Cova da Iria, Fátima, de integrar nos seus projectos de requalificação da cidade o conceito de “Fátima, cidade da Paz”.
A ideia é avançada pelo presidente da autarquia, que pretende ver incluída nos arranjos referências à ideia de Paz com que transversalmente se identifica a cidade altar do mundo.
Referencias ao papa João Paulo II, crucial na divulgação da imagem e mensagem de Fátima, e ao diálogo ecuménico são dois dos aspectos pensados e a serem aprofundados pela SRU, no documento estratégico de planeamento dos trabalhos da Sociedade, Fátima 2017, revela o site oficial da Câmara Municipal.
A minha experiência diz-me que o epíteto de “Fátima, cidade da Paz”, fica muito bem àquele local sagrado. Pelo que tenho visto, e conversado, crentes e não crentes sentem-se bem por ali. Como já um dia disse, respira-se paz e até as pessoas se mostram afectuosas para quem chega.
Por vezes há a ideia de que o comércio a descaracteriza, a torna banal. Quem chega e se fica por aí, talvez. Mas quem avança no sentido do encontro com o divino não pode deixar de experimentar uma tranquilidade que nos transcende.
Oxalá “Fátima, cidade da Paz”, possa manter, no essencial, essa transcendência.

FM

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