segunda-feira, 28 de agosto de 2006

Editorial de Eduardo Dâmaso, no DN

Discriminações
A idade é um factor que pesa cada vez mais no mercado de trabalho. Quem fica desempregado depois dos 40 tem grandes dificuldades no regresso à vida activa. As empresas preferem empregar jovens com remunerações mais baixas e uma enorme disponibilidade que lhes é dada por habitualmente não terem começado ainda a constituir família. São estas as regras implacáveis do mercado de trabalho que começou a desenhar-se sobretudo na recta final do século XX por força do avanço tecnológico. É um mercado que exige elevados níveis de produtividade, grande competitividade, muitas horas de trabalho, múltiplas capacidades, salários controlados em tectos rígidos e uma valorização da carreira que já não depende em exclusivo de factores clássicos como a progressão por tempo de trabalho ou negociações salariais de matriz sindical.
A Comissão Europeia quer travar essa tendência discriminatória com base na idade e vai dedicar o ano de 2007 a uma grande campanha a favor da igualdade de oportunidades. Aprovou já uma directiva no sentido de impedir a discriminação, mas que não é cumprida pela generalidade dos países. Acrescente-se: não é e muito dificilmente será. A dinâmica do mercado imposta pela concorrência global chega a ser cruel na forma como valoriza a trilogia juventude-qualificação-salários baixos e não a sabedoria e a experiência associadas a trabalhadores mais velhos. Por isso se banalizou a ideia de que há uma geração a que se chamou "dos mil euros", ou seja, de jovens com bons níveis de qualificação, na esmagadora maioria universitários, que ficam anos a ganhar este salário. Por isso está cada vez mais posta em causa a ideia do emprego para a vida ou a de que os direitos e regalias sociais são intocáveis.
A discriminação deve ser combatida, mas é muito difícil fazê-lo apenas com regulamentação. O melhor que cada um pode fazer por si está mais na determinação que tiver em enfrentar o problema do desemprego do que em ficar à espera de uma asa protectora. A formação permanente, a procura de novos saberes, a capacidade de adaptação a novos desafios, a procura de novas formas de ganhar a vida mais ligadas ao empreendedorismo são inevitáveis. Até porque se a concorrência entre trabalhadores já hoje é grande ela tenderá a agravar-se de forma implacável com os níveis de desemprego galopantes entre jovens licenciados que se constata um pouco por todo o lado. É mau, mas é assim que está o nosso mundo.

domingo, 27 de agosto de 2006

Um poema de Aida Viegas

PARTILHA

Precisava de alguém p' ra partilhar A alegria que trago no meu peito. Precisava de alguém a quem contar Que tudo agora corre do meu jeito. Precisava de abrir meu coração; Ver brilhar outros olhos de alegria, Ver sorrir outro rosto de emoção, Ter mil amigos a fazer-me companhia. Mas... estou quase só. Todos estão ocupados. Ocupados por virtude ou por defeito. Bebo sozinha, estou quase embriagada. Tanta emoção já não cabe no meu peito; Tanta ventura já transborda em minha taça. Assim não vale. Assim não sabe a nada Beber sozinha a alegria, não tem graça.

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In LETRAS & OUTROS OFÍCIOS

Citação: Praxes académicas

“Completando o curioso cenário, o tribunal alegou que as actividades concretas da praxe não ultrapassaram a ‘normalidade’. Ficou, assim, a saber-se que, para a instância judicial em causa, de que resta a esperança de que esteja isolada no seus critérios de análise, forçar uma estudante a simular orgasmos com os mais diversos objectos e para gáudio de uma plateia de cidadãos cujo direito a boçalidade deve ser protegido é algo que não esbarra no mais elementar conceito do senso comum. Pior do que a impunidade que cava o silêncio de quem preferiria não se ver obrigado a resignar-se a uma prática primata que se disfarça sobre as nobres vestes da tradição, é perceber que quem teria o dever de fazer julgamentos sérios e ponderados também alinha no jogo. É mais um sinal de que, nos meandros do sistema judicial, prolifera a normalidade.”
João Cândido da Silva,
no PÚBLICO de ontem

Ideia interessante

A palavra do Senhor
acompanhada por uma bica
e uma tosta mista
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Quando acaba a adoração, depois dos cânticos e dos momentos de reflexão e do pai-nosso e de todos terem louvado ao Senhor, os fiéis não se vão logo embora. Aproveitam para beber um café, para comer uma fatia de bolo caseiro ou um croquete que sabe mesmo a carne, para discutir os últimos desaires do Benfica, para contar as diabruras dos miúdos. Atrás do balcão, Lina e António estão atarefados. A aparelhagem toca, baixinho, uma música que fala de fé enquanto, na pequena capela ali ao lado, há quem continue de mãos postas a rezar.
São assim as tardes de sábado no Café Cristão, na Amora, Seixal. Inaugurado a 24 de Junho, com a presença e a bênção do bispo de Setúbal, o primeiro Café Cristão da Península Ibérica está ainda em fase de arranque: o calor levou a maior parte dos fiéis para a praia e as acções de divulgação só agora estão a começar. "Lá para Outubro esperamos já estar a funcionar em pleno", garante António Andrade, que, com a sua mulher Lina, gere o espaço.
Por agora, o café é ainda uma curiosidade. Os miúdos do bairro aparecem para comprar guloseimas e para brincar um pouco no espaço infantil. Há quem entre, veja tudo, comente que está muito bonito e vá embora. Há quem nunca tenha ido à missa mas venha aqui tomar café depois do almoço. Na segunda semana de funcionamento um grupo de peregrinos espanhóis entrou por ali dentro num alvoroço: vieram a Fátima mas, como encontraram a indicação do café no site do Vaticano, decidiram ver do que se tratava. "São todos bem-vindos", garante Lina. "Temos aqui pessoas muito diversas, ateus, católicos e de outros credos. É muito bonito."
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Foto do DN
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Um artigo de Anselmo Borges, no DN

A Palestina:
um problema
teológico?
Em 1977, em Jerusalém, tendo-lhe observado que mais cedo ou mais tarde os judeus teriam de partilhar Jerusalém com os palestinianos, um funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita atirou-me: "Nunca! Não esqueça que esta terra nos foi dada por Deus há três mil anos!" Já antes me tinha confessado que era ateu, mas formara os filhos no conhecimento da Bíblia e celebrava a Páscoa como está determinado. E eu percebi melhor como tantas vezes a religião não passa de cimento ideológico político. De facto, sobretudo desde a fundação do Estado judaico, há dois povos com a consciência de que a Palestina lhes pertence, respectivamente, há três mil e quase 1400 anos: os judeus reportam-se ao reino de David e Salomão - ano 1000 a. C. - e os palestinianos à conquista pelos árabes em 636 d. C.
Desde o século XIX, o movimento político sionista lutou por um Estado para o povo judeu - pensou-se na Palestina e também noutras regiões. Assim, embora a tenha apressado, o Holocausto não foi a causa da criação do Estado judaico. Em 29 de Novembro de 1947, por maioria sólida e com o beneplácito dos Estados Unidos e da antiga União Soviética, as Nações Unidas aprovaram a divisão da Palestina em dois Estados: um Estado árabe e um Estado judaico, com fronteiras claras, a união económica entre os dois e a internacionalização de Jerusalém sob a administração das Nações Unidas. Note-se que, apesar de a população árabe ser quase o dobro e os judeus estarem então na posse de 10% do território, ficariam com 55% da Palestina.
O mundo árabe rejeitou a divisão. Mas, à distância, mesmo admitindo a injustiça da partilha e suas consequências - é preciso pensar na fuga e expulsão dos palestinianos -, considera-se que a recusa árabe foi "um erro fatal" (Hans Küng). Isso é reconhecido hoje também pelos palestinianos, pois acabaram por perder a criação de um Estado próprio soberano pelo qual lutam. Em 15 de Maio de 1948, terminava o mandato britânico sobre a Palestina e Ben Gurion proclamou o Estado de Israel. A resposta árabe (palestinianos e Estados árabes vizinhos) não se fez esperar, e deflagrou a primeira de seis guerras. Entretanto, o Estado de Israel continua a não ser aceite por muitos árabes e há judeus que acalentam a tentação do sonho de um Estado que abrangesse toda a Palestina. E aí está um dos focos principais de instabilidade mundial.
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sábado, 26 de agosto de 2006

Uma oferta de Laurinda Alves

Não posso deixar de mostrar, hoje e aqui, a oferta de Laurinda Alves a todos os seus leitores. É uma oferta simples, como todas as que semana a semana apresenta na revista XIS, que acompanha o PÚBLICO aos sábados. Trata-se, neste caso, de um conhecido e bonito texto do Eclesiastes, do Antigo Testamento. Texto conhecido e bonito, mas também poético e oportuno, que nos é dado para reflexão. Aqui fica: ::::
O tempo de guerra é sempre um tempo inquietante, de dor e sobressaltos mas, também, de esperança. Para tudo há um tempo,
para cada coisa há um momento debaixo dos céus
UM TEMPO PARA CADA COISA Tempo para nascer, e tempo para morrer; Tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado; Tempo para matar, e tempo para sarar; Tempo para demolir, e tempo para construir; Tempo para chorar, e tempo para rir; Tempo para gemer, e tempo para dançar; Tempo para atirar pedras, e tempo para juntá-las; Tempo para dar abraços, e tempo para apartar-se; Tempo para adquirir, e tempo para perder; Tempo para guardar, e tempo para deitar fora; Tempo para rasgar, e tempo para costurar; Tempo para calar, e tempo para falar; Tempo para amar, e tempo para odiar; Tempo para a guerra, e tempo para a paz. :: (Ecl 3. 1-13)

Imagens da Gafanha da Nazaré

:: IGREJA DE NOSSA
SENHORA DA NAZARÉ ::
Se vier à Gafanha da Nazaré ou por aqui passar, em dia de festa ou noutra altura qualquer, aconselho-o a visitar a igreja matriz. Foi restaurada há tempos, como dei nota neste meu espaço, com muito bom gosto e com muita dignidade, num esforço conseguido de recuperar os traços mais marcantes do passado, ligados a um estilo muito próprio desta região, dos finais do século XIX e princípios do século XX. O arranjo interior apresenta-se ao visitante com sobriedade e com arte, mas também com preocupações de longevidade. Facilmente se vê que o trabalho feito com recurso a bons materiais se destina a algumas gerações. Para além da antiga imagem da Padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, todo o seu enquadramento, em talha dourada, merece uma atenção especial. Mas se o visitante se der ao cuidado de olhar com olhos de ver todo o interior, e mesmo o exterior, confirmará que vale a pena passar por lá, sem pressas. F.M.

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