quinta-feira, 18 de junho de 2009

Reconhecer para crescer

A verdade das coisas
não é ou branca ou preta,
também há o cinzento
1. Sabe-se que o poder do criticismo cego, quando aplicado em todo o seu esplendor, não deixa espaço para o reconhecimento de que os outros também sabem pensar e fazer coisas boas. Também se compreende bem que, se o unanimismo de todos concordar com tudo, sendo uma inverdade, não abre espaço à dialéctica, à procura, à nossa e nova síntese que faz crescer. Mas, nem ao mar, nem à serra! Será tão importante o reconhecimento do bem realizado pelos outros, como o sentirmos e despertarmo-nos mutuamente para uma superação sempre mais aperfeiçoada, pois que tudo pode ser sempre melhor, mais amplo, mais envolvente. Talvez a prova da maturidade completa esteja, sem a anulação de identidade própria, o reconhecer-se (aperfeiçoando-se) dos valores e das virtudes do outro.
2. Há dias realizou-se no parlamento português o debate da avaliação da liderança política. Qual pêndulo do relógio, que ora vai para um lado ora para o outro, as oposições da nossa jovem democracia dão ainda pouco espaço para o reconhecimento de que do outro lado também há coisas boas, que nem tudo foi mau. Continua a tornar-se claro que (tal como a verdade das coisas não é ou branca ou preta, também há o cinzento!), enquanto a maturidade destes reconhecimentos das apostas certeiras do outro não fizerem parte do caminho de maturidade política, temos a sensação de que estamos e/ou estaremos sempre a recomeçar, e, neste ponto, estaremos na “estaca zero”. O bem da comunidade, não só nos tempos de crise mas estes mais despertam a urgência, carece da dose “quanto baste” de consensos que abra caminhos e crie pontes.
3. O progresso humano é inimigo do ponto zero da crispação social, das incapacidades estruturantes de gerar consensos básicos em ordem ao bem comum. O querer crescer, sem a ilusão de todos concordarem com tudo e no assumir do debate como abertura a horizontes sempre maiores, obriga ao reconhecer-se de que todos continuamos da obra comum. Reconhecer para crescer!
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Alexandre Cruz

Crónica de um Professor: Fim à vista

“Prima non datur, ultima non recipitur”! Soa como uma melodia, este binómio que agora se vai concretizando. Na verdade, nos alunos que frequentavam o ensino liceal, no século passado, era uma expressão recorrente e que muito lhes agradava. A primeira aula ficava-se pelas apresentações, de mestres e discípulos, a última pela despedida. E... o Latim tinha força de lei! Caminha a passos largos para o fim mais um ano lectivo e multiplicam-se as tarefas, os esforços, de ambas as partes deste processo, ensino/aprendizagem. Sendo verdade que até ao lavar dos cestos é vindima, como se ouvia aos mestres doutras épocas, também hoje, nas escolas, por todo o país, se esfalfam os professores para dar, aos seus alunos, a possibilidade de alcançar os seus objectivos pedagógicos, isto é, o tão almejado sucesso. Sim, a classe docente, a mesma que é tão maltratada pela opinião pública, é aquela que dá o corpo ao manifesto e a alma ao diabo, para conseguir que os seus alunos ultrapassem as dificuldades. Ainda há dias, num contexto de comércio local, a teacher travou um duelo verbal, em que o opositor desbaratava a torto e a direito sobre os professores. Foi proferida toda uma série de impropérios, numa generalização redutora e perigosa, que ia sendo rebatida pela argumentação lógica e fundamentada duma profissional do ramo!!! Aquele género de pessoa, já bem tipificada na sociedade hodierna, que tudo destrói, tudo condena, tudo amesquinha, sem contudo ter soluções para nada, era o interlocutor da teacher! Esta ouviu, ouviu e por fim deixou que o diálogo descambasse para monólogo, pejado de agressividade! E frustração, já que o que este tipo de pessoas denota é, na realidade, um enorme sentimento de frustração perante a vida, que não lhes deixa enxergar nada à frente do nariz. Quem tem este tipo de atitudes, sobretudo para com uma classe tão sacrificada, incompreendida e injuriada, revela, numa interpretação freudiana, um complexo de inferioridade, associado a uma muito baixa auto-estima. Os professores vão estar aí, novamente no centro das atenções, pois vão proceder a uma das mais delicadas tarefas do seu mister – a avaliação. Processo que incorpora uma grande dose de subjectividade, é grandemente questionado, debatido e exercido. Parafraseando Jean Foucambert, a Escola seria preciosa se ajudasse todos os alunos nas suas aprendizagens, já que existe precisamente para isso. Muito do que os alunos aprendem é por sua conta e risco, isto é, existem aprendizagens sem ensino, na conhecida escola paralela, mas a Escola tem por função estimular, desabrochar o gosto pela aprendizagem. Ao avaliar um aluno, o professor está a avaliar-se implicitamente, pois dependeu do seu papel interventivo, o desempenho do aluno. Agora, retirando todo o caudal de água benta aspergida pelos docentes, resta a recompensa para os que se esforçaram e... a libertação para aqueles que consideram a Escola como o inimigo n.º 1 do aluno. Assim se referiu o Caramelo à instituição que frequenta e ao enorme desinteresse que nutre por ela! M.ª Donzília Almeida 14.06.09

Um poema de Domingos Cardoso

Estrada
Olhando as minhas mãos, assim despidas, Tão vazias de anéis e compromissos, Tão desnudas de feitos e feitiços Penso que as intenções foram perdidas. Descubro em minhas rugas esculpidas As marcas dos propósitos postiços E, nos meus olhos, de brilhos já mortiços, A dor de renovadas despedidas. Tive amor no meu peito e não o quis, Senti m sonho à mão e nada fiz Por julgar que este mundo era ilusão. Tendo de meu tão pouco ou quase nada Vejo, no fim da estreita e erma estrada, Sorrindo, à minha espera, a solidão. Domingos Freire Cardoso

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Uma leitura livre em clima democrático

OS PARTIDOS PASSAM, O POVO PERMANECE
Deixei o país na manhã do dia seguinte às eleições. Já levava comigo os jornais cheios de números e comentários, euforias e pesadelos, justificações e profecias. A meio do dia, em espaço alemão, pude folhear outros jornais da Europa, que comentavam o mesmo tema, no mesmo tom. Lá como cá, uns, sem olharem às contradições em que caíam, outros, justificam os resultados com a crise social geral, outros ainda, com opiniões fixadas no modo de agir dos partidos, que os eleitores acabavam de castigar. As leituras políticas são, por vezes, monocórdicas e superficiais, ditadas pelo imediato que exprime gosto ou desgosto. O exame das causas, porque exige ponderação, tempo e saber, raramente ultrapassa o trivial. Mesmo quando, de modo crítico, se tenta opinar sobre a crescente abstenção, o leque vai apenas da indiferença pelo acto eleitoral à opção mais agradável pela praia ou pelo passeio, do pouco conhecimento do que está em causa, à falta de confiança nos políticos profissionais. Porque tudo dito, nada muda. Quem vota é o cidadão do povo. Gente de diferente sensibilidade e cultura, com experiências e projectos diversos, com histórias e intuições não coincidentes. Alguns fazem das coisas políticas uma paixão, carregada de interesses e por isso não faltam. Outros, vão por seu pé, mantendo vivas as dificuldades e agressões que levam consigo e a que nem sempre estão alheios os que se sentam nas cadeiras do poder se acaso esquecem o bem comum e o povo concreto. Se muitas coisas, no dia-a-dia, já se vêem a olho nu, por altura das campanhas eleitorais e depois da contagem dos votos, o quadro torna-se mais ilustrativo, e emoldurado pelo muito que se diz ou se cala. A gente que decide votar ou anda alienada e ao sabor das opiniões dos seus, ou calada a aguardar atenta a hora de poder dizer, com o voto, a sua opinião determinante, sobre o que se passa no país e atinge a sua vida e a de muitos. As eleições não se ganham nem se perdem com comícios e cartazes, mas nas urnas. O que se grita nas campanhas, o que se diz e as pessoas que o dizem, apenas confirmam o que já se pensa e se sabe. Alguns eleitores, armadilhados contra os da outra cor, fecham os olhos e ouvidos e só dão razão aos seus. Então, as opiniões viram dogmas e as verdades do outro lado não passam de mentiras do seu. O povo sensato observa isto tudo e vai formando o seu juízo. Mas, já não falta quem, relativizando o alcance das decisões políticas, sabe bem o caminho por onde não se pode ir porque não leva sequer a um bem possível para todos. Como percebe também a linguagem que não respeita ninguém e menos ainda os que pensam de outro modo, a agressão programada a sentimentos comuns e a valores indiscutíveis, a teimosia em impor decisões alheias à verdade e à realidade, o malabarismo das palavras ardilosas que não convencem, a desonestidade política que põe os interesses dos partidos acima do interesse nacional, a pouca seriedade de quem faz da democracia uma palavra que enche a boca, mas que, na prática, frequentemente a denega. O povo tem intuições de horizontes largos que escapam aos políticos de vistas curtas e depressa esqueceram que “o povo é quem mais ordena”. Pelo menos nas urnas de voto não deixa que se mande nele, com a impunidade de décadas passadas e mesmo de tempos mais recentes. Ainda que abafado pelo poder que o não respeita, o povo já aprendeu a saborear a liberdade que ninguém lhe pode tirar. Assim, não lhe escapa a contra cultura que se lhe quer impor, o desrespeito pela família, seu maior bem, os ultrajes dos corruptos à sua honestidade, as mentiras com que o pretendem iludir, o orgulho de quem não o ouve, os problemas vitais sem solução, as portas do futuro fechadas aos jovens… Este povo também vota. Sabe pouco da Europa, mas sabe muito da vida. Conhece os políticos que ficam e aos que querem entrar. Sabe esperar e sabe dizer “basta!”. Os partidos passam, o povo permanece. Ele é riqueza sem dono. Quem não o escutar, nem respeitar, acaba sempre por ser julgado por ele. António Marcelino

A Liberdade na EMRC

1. Não é fácil o assunto, também porque os sucessivos sistemas que reflectem visões de educação o foram e vão complicando. A palavra de ordem é sempre a liberdade; educar na e para a liberdade. Educar na liberdade, significará o aceitar que ao projecto social e educativo pertencem um conjunto de valores plurais mas construtivos, e não um habitar na neutralidade do vazio que ao nada conduz. Sejamos objectivos, pensamos: é impossível a neutralidade na educação, tal a força imensa das subjectividades presentes. Pode parecer que a questão pouco importa, mas o esbatimento diluidor da Lei da Liberdade Religiosa numa neutralidade de exclusão do fenómeno sociorreligioso da comunidade social é o reflexo claro do fechamento intencional.
2. Na democracia das liberdades amadurecidas, por isso sempre inclusivas e autenticamente co-responsáveis, tudo deveria ser claro e transparente. Nada de obscuro tornearia e negociação. Atender-se-ia ao princípio de que as pessoas estão mesmo primeiro. Defender-se-ia a existência de programas com valores formativos de personalidades assertivas. Numa abertura de expressão de quem quer ser cidadão do mundo, convidar-se-iam todos os agentes cooperantes e colaboradores com a Escola e desta com as famílias e a comunidade social envolvente. Atender-se-ia ao essencial e às compensações a fim de dar às gerações da tecnologia muito mais lugar às sabedorias, filosofias, religiões. Despertar-se-iam os pais e as comunidades para intervirem mais, pois só participativos virão.
3. O transvazar da opção que quer ir torneando a lei da liberdade religiosa em passo de exclusão das sabedorias e religiões do espaço social, reflectindo a falta efectiva de liberdade inclusiva para com as pessoas, oferecer-nos-á um futuro mais sombrio, fechado, seco, com menores capacidades culturais, humanas e sociais. Lembramo-nos, infelizmente, da vida curta da disciplina DPS (Desenvolvimento Pessoal e Social)… Sim à EMRC!
Alexandre Cruz

Ideias Pela Positiva: É preciso Valorizar os Recursos Naturais

“Com esta crise, a tecnologia vai sair a perder e vão ser valorizados os recursos naturais. Portugal tem tudo a ganhar investindo nos recursos que tem, fruto da nossa excelente localização geográfica. O sol, através do qual podemos reduzir a nossa factura energética; o mar, desenvolvendo ideias concretas para tirar partido dele; e a floresta, que com uma boa gestão pode multiplicar por dois ou três a sua capacidade…” Carlos Martins, Presidente da Martifer Citado pelo jornal i

Escrever bem e com graça: Miguel Esteves Cardoso

Faz-nos falta quem escreva bem e com graça. Também com sentido de oportunidade. Um exemplo que vale a pena sublinhar está no jornal PÚBLICO e chama-se Miguel Esteves Cardoso. Leio-o regularmente. Aqui fica uma passagem digna de registo: “Falta fazer o elogio do sedentarismo. É o indesporto radical do nosso tempo. Define-nos. Delicia-nos. Sentamo-nos e sentimo-nos bem. Sentemo-nos pois.”
Miguel Esteves Cardoso

FIGUEIRA DA FOZ: Praia deserta, por enquanto!

PRAIA DA FIGUEIRA
Quem passa pela marginal da Figueira da Foz, com mar e areal à vista, não pode deixar de reconhecer que as pessoas fazem falta. O tempo ainda não se convenceu de que tem de se pôr a jeito, oferecendo cor, calor e alegria ao pessoal que gosta de banhos. Mas estou em crer que, mais dia menos dia, ele há-de surgir em força, para prazer de todos nós.

Arquivos da Igreja: entre memória e serviço

Em Braga, nos dias 17 e 18 de Junho, o II Conselho Nacional dos Bens Culturais da Igreja reflecte e debate a problemática dos "Arquivos da Igreja: memória das comunidades ao serviço da sociedade". O assunto é importante e diz respeito a todos. Expliquem-se os termos: Arquivo - centro dinamizador do respeito pelos nossos maiores, materializado na adequada atenção à preservação dos documentos, ao seu estudo e à sua divulgação (não mero depósito de papel envelhecido) / Igreja - comunidade de baptizados, comprometidos com a vida (não uma associação, um clube, ou um nicho de protagonismos ou de sossegos) / Memória - veículo de comunhão que projecta o futuro na firmeza da experiência (não um atá-vico impedimento da ousadia) / Comunidades - único lugar onde ser cristão é possível / Serviço - a dura realidade do amor (mesmo para quem não queira) / Sociedade - campo muito vasto do testemunho de vida cristã, feito de mulheres e de homens com valores porventura muito diferentes dos da Ecclesia. Depois de toda a sensibilização para a importância do património documental da Igreja Católica, feita ao longo de anos, as comunidades eclesiais têm pela frente o enorme desafio de encontrarem as respostas mais adequadas - e justas - para que a salvaguarda e a fruição desse património aconteça com inteligência e entrega. Essas respostas passam pela institucionalização e dinamização de Arquivos, também eles geradores de cultura e marcadamente comprometidos com a evangelização e a pastoral. Afectar recursos, humanos, técnicos e financeiros, aos Arquivos da Igreja será sempre uma epifania de respeito pelos que nos legaram a fé, mas também de respeito pelo que somos - como o somos e como nos verão - no seio de uma sociedade cada vez mais plural. Afinal, que testemunho de Igreja dão os nossos compromissos colectivos a respeito dos Arquivos?

terça-feira, 16 de junho de 2009

Um poema de Donzília Almeida

Amor é... Numa esquina da vida se encontraram; D ‘amizade brotou o sentimento. Que passo a passo, foi ganhando alento E em juras de amor, os dois falaram. Um dia, no altar, ambos selaram Fidelidade nesse juramento E com o olhar fixo no firmamento, D’ mãos dadas estrada fora, caminharam. E quando a doença os tocou, Amnésia da mulher se apoderou. Ao lado dela, digno de se ver, O homem devotado, sempre ficou E com todo o carinho demonstrou Que “Amor é” a força de viver! Mª Donzília Almeida 22.04.09

Observar para não derrapar

É certo que até um carro,
se não se olha bem para o caminho,
poder derrapar.
Mas o nosso hábito derrapador
é o pior dos travões e dos sinais
1. Também as épocas de menos abundância económica, mesmo para quem tem carta livre, são oportunidades obrigatórias de parar para pensar. Pensando, observa-se uma nuvem cinzenta sobre más práticas económicas e fiscalizadoras que, ao longo de anos a fio, tem quase considerado normal a existência de grandes derrapagens em grandes obras públicas. Para quem ainda tivesse dúvidas, a notícia da agência LUSA é clara e não recebeu, que nos tenhamos apercebido, ruídos de reprimenda ou contraditório: «Face à derrapagem de mais de 241 milhões de euros em cinco obras públicas e dos seus prazos de execução, o Tribunal de Contas recomendou ao Governo a criação de um Observatório de Empreendimentos de Obras Públicas.» Dá para repensar.
2. Se cada cêntimo desse valor público vem dos impostos dos contribuintes, fará sentido o perguntar-se sobre o porquê da indiferença na mentalidade portuguesa que, em vez de exigir o rigor cuidadoso e absoluto, foi lavando as mãos, deixando correr o tempo e a derrapagem(?). Talvez já seja muito tarde este despertar, mas em vésperas de novas eleições e possíveis grandes concursos, decisões e construções, um Observatório independente que passe do papel à obra seria uma das grandes fontes para uma maior justiça social. É possível? Valeria a pena conhecer dados sobre como são as derrapagens financeiras e os atrasos nas obras dos países mais desenvolvidos e com democracias mais maduras. É certo que até um carro, se não se olha bem para o caminho, poder derrapar. Mas o nosso hábito derrapador é o pior dos travões e dos sinais.
3. Para uma visão com maturidade, nestas questões, nunca pode estar em causa qualquer facção sociopolítica, mas todas(os). E as denúncias do Tribunal de Contas em nada poderão esfriar a auto-estima das comunidades. Muito pelo contrário: mais observar, quando a ética da liberdade não consegue vencer, será preparar um melhor futuro. Sem derrapar!
Alexandre Cruz

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Animais das nossas vidas

O Toti e a Tita foram animais das nossas vidas. Aqui estão no relvado com a Lita. Descontraídos e excelentes companheiros, cada um com o seu...

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