Manifestação em Lisboa
A perplexidade apoderou-se dos portugueses, sobretudo dos
que costumam pagar impostos e da chamada classe média. Estamos, pelo que posso prever, num futuro sem
saída a curto e médio prazo. Esperam-nos, por consequência, dificuldades
enormes, com dramas garantidos pelo desemprego em crescendo. A Troika, a
defensora intransigente do poder económico que manda no mundo, atirando a
política para o tapete, ainda não resolveu, com todas as suas exigências,
qualquer problema de qualquer Estado. A Grécia, como está à vista de todos,
anda pelas ruas da amargura, como barata tonta, à procura de uma saída digna
para o equilíbrio das finanças e da economia. Portugal, por este andar, estará
na calha para lhe seguir os mesmos passos.
Há anos, Jorge Sampaio lembrou e bem que «há vida para além
do défice». Também julgo que sim, porque há milhões de pessoas no nosso país
que têm vivido de magríssimos salários, de empregos irregulares e incertos, da
esmola recebida com vergonha de familiares e amigos. O caminho para que esta
situação se multiplique está a aumentar a olhos vistos.
Não tenho na manga a solução para os problemas que nos estão
a afetar. Nem vejo, infelizmente, na classe política, económica e financeira
quem tenha ideias inovadores capazes de nos livrar do buraco em que estamos
metidos. Houve, é certo, décadas de esbanjamento, de obras inúteis, de
derrapagens monstruosas nas empreitadas públicas, tudo pela incompetência dos
nossos políticos, dos nossos técnicos, dos nossos empresários e dos corruptos
da nossa velha nação.
O retrato do Conselho de Ministros que decretou o terramoto
para pagar dívidas à custa de quem trabalha é exemplo da incapacidade de quem
nos governa, para não falar, hoje e aqui, de quem nos tem governado. Vejam
então: o EXPRESSO diz que, para se chegar à votação final, foram derrotadas
outras propostas, sem que antes, com tempo, tivessem sido estudadas as muitas
alternativas, analisando as consequências, com rigor, do impacto das medidas na
vida das pessoas. Acrescenta aquele semanário que houve necessidade de refazer
contas, interrompendo os trabalhos do Conselho de Ministros, numa evidente
demonstração de puro amadorismo político. Muito menos houve, que se saiba, a
hipótese de renegociar com a Troika o alargamento dos prazos. Optou-se por
fechar os olhos e aplicar a receita, mesmo sabendo que haveria muitos doentes
que acabariam por morrer da cura.
Sem salários, sem subsídios de férias e Natal e sem emprego
certo não haverá consumo. A indústria e o comércio paralisarão, os impostos
diminuirão, a fome multiplicar-se-á, o desespero provocará revoltas e o futuro
risonho que sonhámos para os nossos filhos e netos não passará, para já, de uma
avassaladora miragem.
Estamos na UE, onde não há políticos com carisma, com capacidade de liderança e saber à
altura das circunstâncias. Somos uma UE desunida, fragmentada, sem objetivos
solidários, num salve-se quem puder próprio de egoísmos exacerbados. E afinal,
por onde andará uma saída digna?
Fernando Martins