quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Georgino Rocha - ALEGRA-TE COM MARIA, A MÃE DE JESUS

Nossa Senhora da Conceição - Gafanha da Nazaré
Na festa da Imaculada Conceição

Maria, a cheia de graça, é apresentada pela Igreja como a mulher escolhida para ser a Mãe de Jesus e dar rosto humano a quem se prepara para o Natal do Senhor. Olhando para ela, sentimos a esperança como motor do caminho a percorrer, a alegria como energia espiritual a elevar o coração, o sonho da comunhão a fazer-se realidade no dia-a-dia.
Maria de Nazaré, a Senhora da Conceição, vê reconhecida pelo Anjo de Deus a sua singularidade: Desde os primeiros instantes da existência no seio de Ana, sua Mãe, é abençoada com a graça da integridade, isenta do inumano que há na nossa natureza pessoal, liberta da tendência para a autoafirmação eivada de presunção e orgulho, típicos dos protagonistas dos alvores da criação, Eva e Adão. Conserva intacta esta graça durante a sua vida e corresponde-lhe generosamente. Por isso, a Igreja a celebra como a Imaculada, a Virgem-Mãe, a Senhora do sim total. E Portugal a consagra como sua Padroeira, após a restauração da independência, confirmando uma tradição antiga do nosso povo.
“Tendo entrado onde ela estava”, refere Lucas no relato do encontro do Anjo Gabriel com Maria. (Lc 1, 26-38). Em estilo solene e diáfano, demarca assim onde se faz o diálogo da anunciação. É uma afirmação lapidar que pode servir-nos de “ponto de partida” para uma reflexão encorajante. Onde está Maria? O programa pastoral 2017/2018 da nossa Diocese faz outra parecida: “Onde está o teu Irmão?” E o Evangelho induz-nos a outra ainda mais pertinente: “Onde estou eu”? As respostas têm de ser dadas no santuário da nossa consciência como faz Maria, após diálogo de clarificação confiante. 
Em casa dos Pais, pode responder-se, reportando-nos ao espaço físico. Mas há outros não menos importantes. Está no desempenho das tarefas domésticas, em reflexão sobre notícias preocupantes da vizinhança, em oração reconfortante que alimenta a esperança na vinda do Messias prometido a Israel, seu povo, em divagação mental com os sonhos de noivado com José, em visão antecipada da sua vida familiar em Nazaré. Em tudo, estava em si mesma, com a educação recebida de seus Pais e avós, com o fervor religioso alimentado na assembleia da sinagoga, onde se fazia o culto semanal, aos sábados e participado pelos vizinhos piedosos. E o Anjo vem encontrar-se com ela, desvendando a grandeza do seu estado: “Alegra-te, ó cheia de graça, o Senhor está contigo”.
Que novidade reconfortante para os Pais que, como Ana e Joaquim, cuidam da educação dos filhos com esmero e dedicação. Abertos à presença de Deus que quer o melhor para todos, especialmente para as crianças como Jesus mostrará ao abraçá-las e ao recomendar aos discípulos: “Deixai-as vir a Mim; não as impeçais”. Como será encorajante sentir que este desvelo de Deus é vivido pelos pais de hoje no seio das nossas famílias. Que Ana e Joaquim nos inspirem e estimulem na realização desta delicada missão. Não deixemos defraudar a confiança que Deus tem em nós e nos familiares mais chegados aos pais e avós.
“O que aconteceu em Maria, afirma uma mulher teóloga ao comentar o Evangelho de hoje, não é uma excepção, mas a verdadeira «regra» que Deus pensou para todos nós quando nos criou. Pois saímos das suas mãos e, portanto, somos bons por natureza. Ao contrário do que podemos pensar a conceição imaculada converte Maria numa criatura ainda mais humana, já que o pecado não é de Deus, nem está inscrito na nossa natureza”[i]. A autora tem em conta a dignidade original de Eva e Adão e vê Maria no seu prolongamento. A tradição bíblica refere que o sonho de Deus é perturbado com a atitude de Eva que contagia Adão de quererem ser donos da sabedoria moral, por meio da liberdade do desejo. Ao não aceitarem os seus imites, introduzem o que veio a ser chamado pecado, desfigurando o humano que, de novo, se configura em Maria, a Mãe de Jesus. E o pecado manifesta-se na alteração de valores e na confusão de verdades. Dai, o cortejo de atropelamentos à dignidade humana onde Deus se revê com a transparência original.
A festa de Maria representa a nova oportunidade que Deus oferece à humanidade, não apenas porque a faz voltar às origens, mas porque lhe abre as dimensões do futuro que Jesus vem inaugurar. Vale a pena recentrar a mensagem que a festa da Imaculada Conceição nos traz e viver a alegria do Evangelho, dando testemunho da esperança que nos anima.

Georgino Rocha

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

EDUCAÇÃO — ARMA PODEROSA



"A educação é a arma mais poderosa 
que pode ser usada para mudar o mundo."

Nelson Mandela (1918 - 2013)

Nota: Gosto muito deste pensamento de um homem bom e sábio. E no meio de tanta barafunda com provocações de toda a ordem, no meio de tanta generosidade que salva o mundo, ouso pensar que todos devíamos lutar por uma educação forte e sadia, no dia a dia, na certeza de que a sociedade seria bem diferente.

Fernando Pessoa - Avé Maria



AVÉ MARIA

Avé Maria, tão pura
Virgem nunca maculada
Ouvi a prece tirada
No meu peito da amargura.

Vós que sois cheia de graça
Escutai minha oração,
Conduzi-me pela mão
Por esta vida que passa.

O Senhor, que é vosso Filho,
Que esteja sempre connosco,
Assim como é convosco
Eternamente o seu brilho.

Bendita sois vós, Maria,
Entre as mulheres da Terra
E voss'alma só encerra
Doce imagem d'alegria.

Mais radiante do que a luz
E bendito, oh Santa Mãe
É o fruto que provém
Do vosso ventre, Jesus!

Ditosa Santa Maria,
Vós que sois a Mãe de Deus
E que morais lá nos céus,
Orai por nós cada dia.

Rogai por nós, pecadores,
Ao vosso Filho, Jesus,
Que por nós morreu na cruz
E que sofreu tantas dores.

Rogai, agora, oh Mãe qu’rida
E (quando quiser a sorte)
Na hora da nossa morte
Quando nos fugir a vida.

Avé Maria, tão pura
Virgem nunca maculada,
Ouvi a prece tirada
No meu peito da amargura.


12-4-1902

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

“Olha a Arte de Natal!” vai animar esta quadra natalícia

(Foto de arquivo)

Nas próximas quartas-feiras, dias 6, 13 e 20 de dezembro, as manhãs vão ser mais alegres nesta quadra de Natal, com a Câmara Municipal de Ílhavo (CMI) a associar-se ao comércio  local, no sentido de revitalizar a identidade histórica e as suas memórias, através de intervenções artísticas dinamizadas pelos nossos maiores, estruturas residenciais para pessoas idosas e clubes seniores.
Assim,  a CMI lança a iniciativa “Olha a Arte de Natal!”, com  abertura marcada para o dia 6 de dezembro, pelas 10 horas, nas galerias comerciais, situadas atrás da Câmara, contando com a presença da vereadora do Pelouro da Maior Idade.
Segue-se um périplo por espaços comerciais da cidade, onde se serão desenvolvidas ações muito variadas, tais como representações teatrais, declamação de poesia, cantares de natal, artes plásticas, histórias, teatro musical e contos de natal,  entre outras. Estas intervenções terão lugar na freguesia de S. Salvador na primeira e última quarta-feira e na freguesia da Gafanha da Nazaré no dia 13 de dezembro.

Fonte: CMI

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Miguel Torga - HOSSANA!





HOSSANA!

Junquem de flores o chão do velho mundo:
Vem o futuro aí!
Desejado por todos os poetas
E profetas
Da vida,
Deixou a sua ermida
E meteu-se a caminho.
Ninguém o viu ainda, mas é belo.
É o futuro...
Ponham pois rosmaninho
Em cada rua,
Em cada porta,
Em cada muro,
E tenham confiança nos milagres
Desse Messias que renova o tempo.
O passado passou.
O presente agoniza.
Cubram de flores a única verdade
Que se eterniza!

Miguel Torga

domingo, 3 de dezembro de 2017

Bento Domingues - Entre o fim e o começo



1. Foi há 60 anos que li, pela primeira vez, na Summa Theologiae, de S. Tomás de Aquino, uma advertência que não se destinava apenas a principiantes: em teologia, é preciso evitar argumentações pretensiosas, sem fundamento rigoroso. Quem as usa oferece aos infiéis matéria para se rirem da fé, pois ficarão com a ideia de que as afirmações dos crentes são todas igualmente estúpidas [1].
Existem instituições eclesiásticas que se tornaram um obstáculo evidente ao desenvolvimento da vida cristã da Igreja e à realização da sua missão essencial na sociedade. Seria normal que fossem submetidas a uma avaliação rigorosa e se procedesse à sua reorientação e reconfiguração. Não é assim que acontece. Não é pelos frutos que se conhece a árvore? Insiste-se, pelo contrário, na sua sacralização para não se poder mexer nelas e arranjam-se razões que servem apenas para afastar os crentes e fazer rir os agnósticos e ateus.
O regime actual dos ministérios ordenados está a secar as comunidades católicas e a privá-las da Eucaristia a que todos os baptizados têm direito. E. Schillebeeckx mostrou que era possível encontrar respostas criativas que não precisavam de passar pelos seminários. O Cardeal Ratzinger bem se esforçou, mas não encontrou razões para invalidar as propostas finais do teólogo dominicano. Yves Congar, a figura maior da eclesiologia católica no séc. XX, declarou que as assinava, sem reticências. Nada feito. A situação continua a agravar-se. O caso tão badalado do “padre da Madeira” encontrou na hierarquia declarações que não deixam ninguém indiferente: uns sofrem com elas e outros riem-se. A retórica eclesiástica, mal argumentada, acaba por deixar mal as crianças, a família, os padres e o celibato. S. Tomás de Aquino tinha razão [2]. 

2. O Papa, neste caso e semelhantes, não pode fazer nada? Não se esqueça que o Papa é bispo de Roma, não é bispo da Madeira ou de Lisboa. Terá um dia de alterar o modelo de escolha e nomeação dos bispos. Mas a nível central, não lhe tem faltado trabalho com a reforma da Cúria. Foi João XXIII, nos tempos modernos, o primeiro a defender que seria um bem geral “sacudir a poeira imperial, que foi caindo, desde Constantino, sobre o trono de Pedro”. O Papa Francisco continua às voltas com essa herança pesada e paralisante [3].
Bergoglio tem um programa envolvente de que não abdica, apesar de todas as resistências. Propõe: “Em vez de ser apenas uma Igreja que acolhe e recebe, tendo as portas abertas, procuramos mesmo ser uma Igreja que encontra novos caminhos, que é capaz de sair de si mesma e ir ao encontro de quem a não frequenta, de quem a abandonou ou lhe é indiferente. Quem a abandonou fê-lo, por vezes, por razões que, se forem bem compreendidas e avaliadas, podem levar a um regresso. Mas é necessário audácia, coragem.” [4]
As dificuldades de Jesus Cristo, ao propor uma mudança de mentalidade aos seus contemporâneos e aos membros do povo a que pertencia, encontrou uma grande adesão no mundo dos excluídos, mulheres e homens, e uma resistência implacável entre os privilegiados e, sobretudo, entre os fariseus, os que não entravam no novo projecto de vida nem deixavam entrar. O Papa Francisco não hesita em lembrar estas passagens dos Evangelhos para comparar com o que está a acontecer com as reformas que propõe. Certos cardeais, bispos, padres, seminaristas — e outros grupos organizados — são os que mais resistem às reformas que ele propôs e que são inadiáveis. As resistências, activas e passivas, são cada vez mais declaradas e ridículas. Assim como aconteceu com Cristo, nenhuma ameaça o tem paralisado.

3. Muito se discutiu se a História tem ou não sentido. Não vou reabrir esse dossier [5], mas fiquei, mais uma vez, fascinado com o desenlace do Capítulo 25 do Evangelho de S. Mateus. É uma parábola. É a coroa de duas anteriores. Parece ser o julgamento final.
Como parábola está sujeita a várias interpretações. É muito estranha. A divindade não está separada do devir do mundo. Mais ainda, está identificada com todas as pessoas, que não têm todas o mesmo comportamento. O que as divide? O modo como olham para o vizinho, para o socorrer ou para o ignorar. É um golpe fatal na religião que está apenas preocupada com Deus. Quem se preocupa só com Deus, nem com Deus se preocupa.
Cristo não surgiu com uma nova organização religiosa concorrente no mundo das religiões. O seu embate constante foi com as instituições do Povo de Deus, que esqueciam e maltratavam quem mais precisava de acolhimento e ajuda. O culto religioso tornara-se o adversário da alegria humana. Isto era absolutamente inaceitável para Jesus. O aforismo “o sábado é para o ser humano e não o ser humano para o sábado” é o símbolo da alteração mais radical no campo religioso, seja qual for a época.
O que, de facto, festejámos no Domingo passado foi, por um lado, a vitória contra a indiferença. Não podemos andar no mundo e dizer não vi, não sei, não é comigo. Por outro, o que faz a diferença e julga a vida de cada um é o estilo da sua própria vida. Quando o Senhor da história se identifica com os socorridos ou abandonados, não deixa nada para o fim. É hoje que cada um diz a última palavra.
Celebramos, neste Domingo, o começo do Advento. Que não estamos no melhor dos mundos possíveis, é evidente. Se julgamos que é impossível alterá-lo, somos suicidas, niilistas. Não seríamos verdadeiramente humanos e muito menos cristãos. Que fazer?


Frei Bento Domingues no PÚBLICO


[1] I q.46.a.2.
[2] Cf. Ricardo Araújo Pereira, Discriminar como Jesus discriminou, Visão, 23.11.2017; Teresa Martinho Toldy, A Igreja fechada no seu Olimpo, PÚBLICO, 25.11.2017
[3] Yves Congar, Igreja serva e pobre, Ed. Logos, Lisboa 1964, p152
[4] Entrevista do Papa Francisco, Sonho com uma Igreja Mãe e Pastora, Paulus, 2013, pp 36-37
[5] Francisco J. Ayala, Darwin Y el Diseño Inteligente. Creacionismo, Cristianismo Y Evolución, Aliança Editorial, Madrid, 2008

Para todas as idades — “24 coisas a fazer antes do Natal”



Um dia para recuperar alguma coisa que já não se usa (porque passou de idade ou existe em demasia) e oferecê-la a quem poderá ter necessidade. Outro para entrar na igreja, acender uma vela, fechar os olhos e pensar no Natal.
Ainda outro dia para se ocupar de quem está próximo, pedir ajuda para si ou para um amigo. Vinte e quatro dias para partilhar, presentear em silêncio, oferecer olhares, boas ações e gentilezas ao próximo.
Da experiência quase centenária do “Mensageiro dos Rapazes”, revista mensal editada pelos frades menores conventuais da basílica de Santo António de Pádua desde 1922, nasceu a ideia de uma espécie de calendário do Advento dirigido a pré-adolescentes de ambos os sexos.
Trata-se de um percurso de aproximação ao Natal feito de 24 etapas, uma por dia, desde o primeiro até 24 de dezembro. Escritos em italiano, os textos, ilustrados, não contêm chocolates mas desafiam os leitores a colocarem-se em jogo com reflexões e ações que envolvam o próximo.
Basta uma ação por dia: desligar o computador, o telemóvel, a televisão, a plataforma de jogos e marcar no calendário por quantas horas se resistiu; presentear jogos ou vestuário em bom estado que já não se usam a quem precisa.
Mais sugestões? Saudar as pessoas que se encontram no caminho; partilhar a merenda com o companheiro que habitualmente se evita; enviar uma mensagem anónima de felicidades a uma pessoa só, a uma família de imigrantes, a alguém com quem se está de costas voltadas.
Perguntar a quem está próximo, a começar pelos pais, como estão e como foi o seu dia… Nada de difícil, tudo a tentar, dia após dia. Será depois natural estender o Advento a todo o ano…
Concebido para leitores dos 11 aos 14 anos, “24 cose da fare prima di Natale” «não renuncia aos objetivos catequéticos e espirituais deste tempo litúrgico que prepara o Natal (espera, caminho, maravilha, vida, oração, encontro), mas procura decliná-los educativamente à medida de rapazes e raparigas», refere a sinopse.
E certamente as suas propostas, redigidas pelo diretor da revista, poderão muito bem ser adaptadas – ou até aplicadas diretamente – aos católicos com mais idade.

Rossana Sisti
In "Avvenire"
Trad. / edição: SNPC
Publicado em 27.11.2017

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