domingo, 30 de agosto de 2015

Prazeres de férias

Impressões de férias 
Bar onde costumava tomar café

É óbvio que os prazeres de férias são diversos. Tenho para mim que não haverá duas pessoas com prazeres rigorosamente iguais. Também temos dias para nos sentirmos mais felizes que outros em tempo de férias. Eu gosto sobremaneira de silêncio, de paz interior, de estar com quem amo e por quem sou amado. Sinto-me bem a divagar por ruas tortuosas e a apreciar amplos horizontes. Gosto de identificar paisagens urbanas de tempos idos e de registar factos com história. Ler muito e variado, poesia, romance, ensaio e história. De tudo um pouco, afinal.
Em férias, tenho apetência por me encontrar comigo mesmo e com Deus. E mais ainda: com minha mulher, a Lita, com filhos e netos e demais familiares. Também aprecio uns petiscos e comida típica das terras por onde passo. Pena é que os restaurantes, salvo raras exceções, se fiquem pelos pratos triviais de sabores iguais em qualquer canto. E assim cheguei ao fim destas curtas férias na Figueira da Foz, neste verão de 2015. Até para o ano, se Deus quiser.

Um poema de João de Barros

Na romagem ao poeta figueirense





AQUELE MAR

Aquele mar da minha infância,
bom camarada e meu irmão
a sua voz, o seu olor, sua fragrância
tanto os ouvi e respirei
que trago em mim o seu largo ritmo,
seu ritmo forte,
como se as praias onde espuma
quase me fossem
praias sem fim dentro de mim
ocultas praias, largas praias
do tumultuoso coração…

Aquele mar
meu confidente de horas idas
tudo escutava e adivinhava
do meu pueril e ingénuo anseio.
Nada sonhei que o não dissesse
– frémito de alma, grito ou prece –,
às madrugadas e aos poentes,
ao sol, às nuvens, ao luar,
ora nascendo, ora morrendo
nos longos, longos horizontes
em que se perdia o meu olhar…

Aquele mar
na calma azul, no temporal,
nunca mentia: era um só beijo,
hálito puro, largo harpejo
que me entendia e respondia
no seu inquieto marulhar…
Moço e menino, solitário,
rochas, falésias, areais
eu coroava-os de alegria
nos meus passeios matinais.
Ou nalgum barco pescador,
velas abrindo a todo o pano,
do oceano então era senhor,
largava a escota, navegava,
no vão desejo de aventuras,
que não chegava a realizar…
Mas era meu, e eu pertencia-lhe,
àquele mar,
era seu filho, escravo e dono,
sorria à sua Primavera,
amava a luz do seu Outono,
o vivo lume dos estios
a violência dos Invernos
longos clamores de temporais.
Aflito voo das gaivotas
junto das negras penedias,
também como ele me perdias,
nas tardes tristes e sombrias,
na bruma gélida das noites…
E a eternidade então ouvia
humano sonho sempre esquecido
na eterna voz que fala o mar.






NOTA: Edição de “Mar Alto” –  Figueira da Foz,
1 de Junho de 1969, no dia da Festa da Cidade ao poeta.



sábado, 29 de agosto de 2015

Dever de quem pensa

«É dever de quem pensa não ficar do lado dos carrascos»

Albert Camus (1913-1960), escritor

Li no PÚBLICO de hoje

Sobre as eleições

Crónica de Anselmo Borges no DN




Não costumo meter-me por estas bandas.
Faço-o hoje, pouco sistemático,
talvez um pouco desconexo. 
São desabafos.

1. Vivemos num mundo conturbado e perigoso. A globalização surge num quadro caótico, sem parâmetros de orientação básica. Por isso, grandes sociólogos, como U. Beck, Z. Bauman, E. Morin, apresentam como características próprias deste tempo a insegurança, a incerteza, o risco, a vulnerabilidade, a inquietação.
Participando da situação, a Europa também não está bem. Espiritualmente esvaziada, não acredita nela própria, nas suas raízes e valores. Quando num mundo globalizado se impunha uma Europa cada vez mais unida politicamente, o que se vê são fracturas crescentes. Veja-se a incapacidade de lidar juntamente com os fluxos migratórios imparáveis.
Neste quadro, a política não está para entretenimento de medíocres nem comentários sofistas.

A Palavra que iIumina o Coração

Reflexão de Georgino Rocha

«É de dentro do coração da pessoa 
que sai o que degrada ou enobrece
 a dignidade humana»



Jesus continua a dar-nos boas notícias nos seus ensinamentos. Aproveita oportunidades que as situações da vida lhe proporcionam ou cria factos que realizam o que, depois, anuncia em narrativas estimulantes. Mc 7, 1-8. 14-15. 21-23. Hoje surge no seu caminho um grupo de fariseus e de doutores da Lei. Os primeiros, muito zelosos em manter as tradições e em as observar escrupulosamente. Os segundos, conhecedores da Lei e das suas centenas de normas que examinam até ao pormenor. Reúnem-se à volta de Jesus, num espaço fora da sinagoga. Ao verem a atitude dos discípulos – comer sem lavar as mãos, atitude que contagia os alimentos, tornando-os impuros e, por isso, contrariando a tradição -, pedem-lhe explicações com a pergunta inquisitorial: Porque procedem assim, não respeitando os antigos nem as suas tradições sagradas?

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Castelo de Pombal — Se puder, não deixe de visitar

O meu fascínio pelos Castelos 

À chegada
O meu fascínio pelos castelos vem desde a meninice.  Talvez por influência do meu professor primário, Manuel Joaquim Ribau, que recordo com muito afeto.  A história sempre me levou a sonhar e a refletir sobre o nosso passado como povo que soube criar o sentido de nação, embora tardiamente, e de estado. Que fique claro: nos idos de D. Afonso Henriques não havia uma coisa nem outra. Ele era o Senhor e isso bastava para fazer brotar raízes que germinassem. Deixemos isso para os historiadores, que esses é que sabem disto. E fui então nestas férias até Pombal. 
A história, com lendas à mistura, pode ser lida na Net. Abençoada Net que nos abre tantas portas para o conhecimento. Contudo, não nos podemos fiar numa só fonte. 

No interior, com duas cisternas atrás de nós
O Castelo de Pombal vem do século XII, por iniciativa de Gualdim Pais, o Mestre da Ordem do Templo, que chegou a integrar as Cruzadas organizadas pelos Papas para a libertação e defesa da Terra Santa. Foi ampliado por D. Sancho I e muito depois por D, Manuel I, com a construção de melhorias significativas. 
Na hora da saída
Uns minutos para ganhar forças
Naqueles tempos, como hoje, as beneficiações ou alterações surgiam com as necessidades. E assim se foi aguentando. Com a 3.ª invasão francesa, em 1811, foi devastado pelas tropas napoleónicas, sendo recuperado e construído em 1940, em pleno Estado Novo, numa campanha pela qual Salazar quereria enaltecer o sentido pátrio. Não sei se apenas por isso se por razões culturais. De qualquer forma, os nossos castelos, tanto quanto vou percebendo fazem parte hoje dos itinerários turísticos de portugueses e estrangeiros. 

Outro ângulo do Castelo
E mais um ângulo
Na visita que registei em imagens, pude assistir a um filme de uns 13 minutos, em 3D, que conta a história atribulada do castelo, um pouco de cada época, está bem de ver. Quem lá for não deixe de ver o filme, que gentilmente é lembrado pela simpática funcionária do turismo local.

Sala de repouso no bar
Há um bar muito acolhedor onde saboreei o café da manhã. A sala do bar dá para uma esplanada donde se avista um panorama da região circundante. No piso superior há uma outra sala para descanso, com cómodos que permitem um retemperar de energias, já que a subida, pelo lado do cemitério é um pouco custosa. Difícil mesmo é a subida a partir da zona antiga da cidade. Dei umas  passadas, mas logo uma senhora jovem me alertou: «Não tente, que eu só subi isso uma vez e jurei para nunca mais.» Foi o que fiz. 

O Bosque

"O bosque seria muito triste se só cantassem 
os pássaros que cantam melhor".

Rabindranath Tagore (1861-1941)


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