sábado, 20 de junho de 2009

QUE NOS ESPERA?

João Bénard da Costa
Mesmo os mais distraídos colocar-se-ão, nas situações-limite, as velhas perguntas: donde vimos?, para onde vamos?, quem somos? Porque a realidade nos aparece por vezes exultante e, outras, horrorosa, e morreremos, perguntamos: o que é verdadeiramente?, qual o sentido da existência?, que andamos cá a fazer?, que nos espera?
.
Cada um de nós vivencia-se a si mesmo como presença de si a si mesmo: sou eu e não outro. Coincidimos, portanto, connosco mesmos. Mas, por outro lado, experienciamo-nos como não plena e totalmente idênticos. Somos nós mesmos e chamados a sermos nós mesmos, pois estamos ainda a caminho de nos tornarmos nós mesmos.
Precisamente deste paradoxo de sermos e ainda não sermos adequada e plenamente surge a nossa inquietação radical e a pergunta que nos constitui: afinal, o que somos?, quem somos?
Eu sou eu, mas ainda não sou o que serei. Cá está, portanto, a pergunta ineliminável: então, o que sou e quem sou? E que devo fazer para ser finalmente eu?
É assim que a pergunta pelo sentido não é uma questão adjacente, que pode colocar-se ou não. Ela é constitutiva do ser humano enquanto tal, questão fundamental da Filosofia, como viu A. Camus.
Sentido tem a ver com caminho, viagem e direcção - nas estradas, por exemplo, encontramos placas em seta a indicar o caminho e a direcção para alcançar uma meta, um objectivo, um destino. Qual é então o caminho e o sentido da existência humana? O que move a minha vida?
O Homem vem ao mundo por fazer e quer queira quer não tem essa tarefa constitutiva: fazer-se a si mesmo. E tanto podemos fazer de nós uma obra de arte como fracassar.
Einstein constatou que quem sente a vida vazia de sentido não é feliz e sobrevive mal. O Homem não pode viver sem sentido. Aliás, a existência humana está baseada na convicção do sentido. A sua própria negação ainda o afirma. No limite, não é possível o "suicídio lógico", pois quem pegasse numa arma para suicidar-se, porque tudo é absurdo, negaria o absurdo e afirmaria o sentido.
O famoso psiquiatra Viktor Frankl, fundador da logoterapia, mostrou, a partir dos estudos que realizou com base na sua terrível experiência nos campos de concentração nazis, que a exigência mais radical do ser humano é o sentido, razões para viver. Contra Freud e Adler, no mais fundo de nós, mais do que a exigência de prazer e de poder está a vontade de sentido.
Nos campos de concentração, verificou que sobreviviam mais aqueles que ainda tinham um sentido para a existência: reencontrar a família, realizar uma obra, lutar para que nunca mais acontecesse o intolerável. O que significa que o sentido não está em nós, mas fora. Se estivesse em nós, não se colocaria a questão, pois estaria sempre presente. O sentido está no encontro com o mundo e com os outros: é saindo de si que o Homem vem a si. Dá um exemplo: quando se começa a ver pequenas manchas à frente do olho, é bom ir ao médico, pois está doente: o olho é intencional, isto é, não foi feito para se ver a si mesmo, mas o que não é ele. Paradoxalmente, só saindo de si é que o Homem encontra sentido. É o amor que dá sentido. Por isso, sente a vida como tendo sentido quem vê a sua existência reconhecida. A nossa vida não tem sentido, quando não vale para ninguém.
A existência caminha de sentido em sentido - o que vamos realizando. Mas, um dia, somos confrontados com a pergunta: qual é o sentido de todos os sentidos? Este é o núcleo da questão religiosa: o quê ou quem dá sentido último à existência, para que não fique na situação da ponte que não encontra o outro lado, a outra margem? Porque, sem o Sentido último, os caminhos de sentido não vão dar a lado nenhum.
"Conhecer Deus" era a maior esperança para João Bénard da Costa, que, por isso, podia dizer: "Acredito que esta vida não pode acabar aqui: nada faria sentido, para mim, se assim fosse."
Anselmo Borges

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Figueira da Foz: Um Bar no Sítio Certo

O novo Bar
UM OÁSIS PARA RECUPERAR
Hoje foi dia de passear descontraído pela Figueira da Foz, à procura de paisagens conhecidas há muito. Deixei que os pés e a mente andassem ao sabor da maré, durante umas duas horas. Como é inevitável, nestas circunstâncias, fui atraído para o rio Mondego que aqui desagua e para o mar, com praias de tanta fama, de areais a perder de vista. Há sempre um momento que me encanta e me faz viajar por paragens de sonho. Quando dou de caras com a marina, com seus barcos e barquinhos, aí vou eu de abalada, mar fora, qual navegador sem rumo certo. É que, tenho a certeza, nas minhas veias, baloiçam navios desde a hora em que nasci, com o som do oceano a entrar-me na alma. No fim da jornada, junto à marina, exausto mas feliz, encontrei um novo bar. De traço simples, moderno e convidativo, foi oásis para recuperar da caminhada. Entrei, uma água refrescou-me o corpo e um café, saboroso, animou o meu espírito. Olhei então, mais serenamente, os barcos e barquinhos da marina, que ali repousavam com os seus aventureiros. Tempinho de descanso para repetir quando voltar à Figueira da Foz. Antes de sair, dei os parabéns à jovem que, solícita, me atendeu, pelo espaço fresco e acolhedor que ali está à nossa espera. Fernando Martins

Faleceu Carlos Candal

UM POLÍTICO DE CAUSAS
Tomei ontem conhecimento da morte de Carlos Candal, um aveirense carismático a vários títulos. Embora saiba que não vou acrescentar nada ao muito que já foi dito sobre ele, penso que é justo sublinhar aqui, neste meu espaço aberto ao mundo, a importância do seu contributo para o reconhecimento da identidade de Aveiro. Dotado duma força anímica pouco comum, sempre defendeu, desde muito novo, causas de justiça, de liberdade, de democracia e de civismo. E fê-lo, é bom recordar, com garra, com determinação e até com graça, já que era possuidor de dotes oratórios capazes de empolgar quem o ouvisse. Carlos Candal foi acometido de doença grave no ambiente onde se sentia à vontade, como peixe na água, em plena campanha eleitoral para o Parlamento Europeu. Seria, pensei então, mais uma batalha que teria de travar. Assim não aconteceu, para tristeza dos muitos amigos que o admiravam. Porém, não se julgue que só os amigos e correligionários o apreciavam. Também os seus adversários, que não inimigos, o admiravam, pela força da sua reconhecida personalidade. Tudo isto por se saber que Carlos Candal nunca deixou, que me lembre, de apoiar muitas causas, nem sempre saídas das propostas que apresentava. FM

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Reconhecer para crescer

A verdade das coisas
não é ou branca ou preta,
também há o cinzento
1. Sabe-se que o poder do criticismo cego, quando aplicado em todo o seu esplendor, não deixa espaço para o reconhecimento de que os outros também sabem pensar e fazer coisas boas. Também se compreende bem que, se o unanimismo de todos concordar com tudo, sendo uma inverdade, não abre espaço à dialéctica, à procura, à nossa e nova síntese que faz crescer. Mas, nem ao mar, nem à serra! Será tão importante o reconhecimento do bem realizado pelos outros, como o sentirmos e despertarmo-nos mutuamente para uma superação sempre mais aperfeiçoada, pois que tudo pode ser sempre melhor, mais amplo, mais envolvente. Talvez a prova da maturidade completa esteja, sem a anulação de identidade própria, o reconhecer-se (aperfeiçoando-se) dos valores e das virtudes do outro.
2. Há dias realizou-se no parlamento português o debate da avaliação da liderança política. Qual pêndulo do relógio, que ora vai para um lado ora para o outro, as oposições da nossa jovem democracia dão ainda pouco espaço para o reconhecimento de que do outro lado também há coisas boas, que nem tudo foi mau. Continua a tornar-se claro que (tal como a verdade das coisas não é ou branca ou preta, também há o cinzento!), enquanto a maturidade destes reconhecimentos das apostas certeiras do outro não fizerem parte do caminho de maturidade política, temos a sensação de que estamos e/ou estaremos sempre a recomeçar, e, neste ponto, estaremos na “estaca zero”. O bem da comunidade, não só nos tempos de crise mas estes mais despertam a urgência, carece da dose “quanto baste” de consensos que abra caminhos e crie pontes.
3. O progresso humano é inimigo do ponto zero da crispação social, das incapacidades estruturantes de gerar consensos básicos em ordem ao bem comum. O querer crescer, sem a ilusão de todos concordarem com tudo e no assumir do debate como abertura a horizontes sempre maiores, obriga ao reconhecer-se de que todos continuamos da obra comum. Reconhecer para crescer!
:
Alexandre Cruz

Crónica de um Professor: Fim à vista

“Prima non datur, ultima non recipitur”! Soa como uma melodia, este binómio que agora se vai concretizando. Na verdade, nos alunos que frequentavam o ensino liceal, no século passado, era uma expressão recorrente e que muito lhes agradava. A primeira aula ficava-se pelas apresentações, de mestres e discípulos, a última pela despedida. E... o Latim tinha força de lei! Caminha a passos largos para o fim mais um ano lectivo e multiplicam-se as tarefas, os esforços, de ambas as partes deste processo, ensino/aprendizagem. Sendo verdade que até ao lavar dos cestos é vindima, como se ouvia aos mestres doutras épocas, também hoje, nas escolas, por todo o país, se esfalfam os professores para dar, aos seus alunos, a possibilidade de alcançar os seus objectivos pedagógicos, isto é, o tão almejado sucesso. Sim, a classe docente, a mesma que é tão maltratada pela opinião pública, é aquela que dá o corpo ao manifesto e a alma ao diabo, para conseguir que os seus alunos ultrapassem as dificuldades. Ainda há dias, num contexto de comércio local, a teacher travou um duelo verbal, em que o opositor desbaratava a torto e a direito sobre os professores. Foi proferida toda uma série de impropérios, numa generalização redutora e perigosa, que ia sendo rebatida pela argumentação lógica e fundamentada duma profissional do ramo!!! Aquele género de pessoa, já bem tipificada na sociedade hodierna, que tudo destrói, tudo condena, tudo amesquinha, sem contudo ter soluções para nada, era o interlocutor da teacher! Esta ouviu, ouviu e por fim deixou que o diálogo descambasse para monólogo, pejado de agressividade! E frustração, já que o que este tipo de pessoas denota é, na realidade, um enorme sentimento de frustração perante a vida, que não lhes deixa enxergar nada à frente do nariz. Quem tem este tipo de atitudes, sobretudo para com uma classe tão sacrificada, incompreendida e injuriada, revela, numa interpretação freudiana, um complexo de inferioridade, associado a uma muito baixa auto-estima. Os professores vão estar aí, novamente no centro das atenções, pois vão proceder a uma das mais delicadas tarefas do seu mister – a avaliação. Processo que incorpora uma grande dose de subjectividade, é grandemente questionado, debatido e exercido. Parafraseando Jean Foucambert, a Escola seria preciosa se ajudasse todos os alunos nas suas aprendizagens, já que existe precisamente para isso. Muito do que os alunos aprendem é por sua conta e risco, isto é, existem aprendizagens sem ensino, na conhecida escola paralela, mas a Escola tem por função estimular, desabrochar o gosto pela aprendizagem. Ao avaliar um aluno, o professor está a avaliar-se implicitamente, pois dependeu do seu papel interventivo, o desempenho do aluno. Agora, retirando todo o caudal de água benta aspergida pelos docentes, resta a recompensa para os que se esforçaram e... a libertação para aqueles que consideram a Escola como o inimigo n.º 1 do aluno. Assim se referiu o Caramelo à instituição que frequenta e ao enorme desinteresse que nutre por ela! M.ª Donzília Almeida 14.06.09

Um poema de Domingos Cardoso

Estrada
Olhando as minhas mãos, assim despidas, Tão vazias de anéis e compromissos, Tão desnudas de feitos e feitiços Penso que as intenções foram perdidas. Descubro em minhas rugas esculpidas As marcas dos propósitos postiços E, nos meus olhos, de brilhos já mortiços, A dor de renovadas despedidas. Tive amor no meu peito e não o quis, Senti m sonho à mão e nada fiz Por julgar que este mundo era ilusão. Tendo de meu tão pouco ou quase nada Vejo, no fim da estreita e erma estrada, Sorrindo, à minha espera, a solidão. Domingos Freire Cardoso

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Uma leitura livre em clima democrático

OS PARTIDOS PASSAM, O POVO PERMANECE
Deixei o país na manhã do dia seguinte às eleições. Já levava comigo os jornais cheios de números e comentários, euforias e pesadelos, justificações e profecias. A meio do dia, em espaço alemão, pude folhear outros jornais da Europa, que comentavam o mesmo tema, no mesmo tom. Lá como cá, uns, sem olharem às contradições em que caíam, outros, justificam os resultados com a crise social geral, outros ainda, com opiniões fixadas no modo de agir dos partidos, que os eleitores acabavam de castigar. As leituras políticas são, por vezes, monocórdicas e superficiais, ditadas pelo imediato que exprime gosto ou desgosto. O exame das causas, porque exige ponderação, tempo e saber, raramente ultrapassa o trivial. Mesmo quando, de modo crítico, se tenta opinar sobre a crescente abstenção, o leque vai apenas da indiferença pelo acto eleitoral à opção mais agradável pela praia ou pelo passeio, do pouco conhecimento do que está em causa, à falta de confiança nos políticos profissionais. Porque tudo dito, nada muda. Quem vota é o cidadão do povo. Gente de diferente sensibilidade e cultura, com experiências e projectos diversos, com histórias e intuições não coincidentes. Alguns fazem das coisas políticas uma paixão, carregada de interesses e por isso não faltam. Outros, vão por seu pé, mantendo vivas as dificuldades e agressões que levam consigo e a que nem sempre estão alheios os que se sentam nas cadeiras do poder se acaso esquecem o bem comum e o povo concreto. Se muitas coisas, no dia-a-dia, já se vêem a olho nu, por altura das campanhas eleitorais e depois da contagem dos votos, o quadro torna-se mais ilustrativo, e emoldurado pelo muito que se diz ou se cala. A gente que decide votar ou anda alienada e ao sabor das opiniões dos seus, ou calada a aguardar atenta a hora de poder dizer, com o voto, a sua opinião determinante, sobre o que se passa no país e atinge a sua vida e a de muitos. As eleições não se ganham nem se perdem com comícios e cartazes, mas nas urnas. O que se grita nas campanhas, o que se diz e as pessoas que o dizem, apenas confirmam o que já se pensa e se sabe. Alguns eleitores, armadilhados contra os da outra cor, fecham os olhos e ouvidos e só dão razão aos seus. Então, as opiniões viram dogmas e as verdades do outro lado não passam de mentiras do seu. O povo sensato observa isto tudo e vai formando o seu juízo. Mas, já não falta quem, relativizando o alcance das decisões políticas, sabe bem o caminho por onde não se pode ir porque não leva sequer a um bem possível para todos. Como percebe também a linguagem que não respeita ninguém e menos ainda os que pensam de outro modo, a agressão programada a sentimentos comuns e a valores indiscutíveis, a teimosia em impor decisões alheias à verdade e à realidade, o malabarismo das palavras ardilosas que não convencem, a desonestidade política que põe os interesses dos partidos acima do interesse nacional, a pouca seriedade de quem faz da democracia uma palavra que enche a boca, mas que, na prática, frequentemente a denega. O povo tem intuições de horizontes largos que escapam aos políticos de vistas curtas e depressa esqueceram que “o povo é quem mais ordena”. Pelo menos nas urnas de voto não deixa que se mande nele, com a impunidade de décadas passadas e mesmo de tempos mais recentes. Ainda que abafado pelo poder que o não respeita, o povo já aprendeu a saborear a liberdade que ninguém lhe pode tirar. Assim, não lhe escapa a contra cultura que se lhe quer impor, o desrespeito pela família, seu maior bem, os ultrajes dos corruptos à sua honestidade, as mentiras com que o pretendem iludir, o orgulho de quem não o ouve, os problemas vitais sem solução, as portas do futuro fechadas aos jovens… Este povo também vota. Sabe pouco da Europa, mas sabe muito da vida. Conhece os políticos que ficam e aos que querem entrar. Sabe esperar e sabe dizer “basta!”. Os partidos passam, o povo permanece. Ele é riqueza sem dono. Quem não o escutar, nem respeitar, acaba sempre por ser julgado por ele. António Marcelino

PESQUISAR

DESTAQUE

Animais das nossas vidas

O Toti e a Tita foram animais das nossas vidas. Aqui estão no relvado com a Lita. Descontraídos e excelentes companheiros, cada um com o seu...

https://galafanha.blogspot.com/

Pesquisar neste blogue

Arquivo do blogue