domingo, 28 de setembro de 2008

O Fio do Tempo

A política da agenda diária
1. Nestes dias vieram à ribalta algumas das contas do negócio dos combustíveis. Quando muitos questionam o modelo do capitalismo (até lhe chamam de “selvagem”!), o certo é que das ditas contas lucrativas o Estado vai buscar fatia significativa. Relata o estudo da Visão (25-09-2008) que «cada cêntimo a mais, do gasóleo e da gasolina, representam 230 mil euros nos cofres» de lucro por dia, este conseguido às custas da dependência energética que, no fim de contas, convém grandemente aos poderes. As inverdades, omissões e estratégias dos dois sistemas de poderes, sejam os capitalistas sejam os estatais, servem-se fortemente das conjunturas mais que servem… 2. Como eco da recente apresentação pública de livro de Marques Mendes, que não deseja o regresso antes pelo contrário, vem uma certa renegação da condição política, ele que esteve anos a fio nessa linhagem das lideranças. Denunciar-se que se sente surpreendido tantas vezes com a pequenez de horizontes da «agenda» política dos partidos no parlamento é constatação que os cidadãos fazem e pedem que seja diferente. Na reflectida desilusão de um dirigente político (seja de que quadrante partidário for…) em relação à «classe política» está a tristeza de um povo que olha para cima e tem dificuldades em sentir-se efectivamente representado. 3. Vive-se o clima propício para o crescer da indiferença em relação ao bem comum. No difícil comum ganha-pão da agenda diária, a preferência dos silêncios abre espaço desmedido ao fracturante. Hoje eleva-se o pormenor, o acessório, a minoria, a bandeira da inclusão de cada um mas, tantas vezes, em detrimento da visão de conjunto de uma sociedade como comunidade. As malhas do tecido social e cultural correm o risco de se quebrarem e, pior ainda, de não se sentir a sua falta. É democrático o querer da minoria…; mas não será urgente o pensar-agir comunitário?

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 96

AS CIÊNCIAS NATURAIS
Caríssima/o: Ora aqui está um assunto que sempre ... (o que eu ia a escrever, Santo Deus!... o que vale é que o computador tão depressa escreve como apaga,... safa, agora ia a sair delita!...) ..., mas vou completar: um assunto que sempre me interessou, bem como aos meus companheiros. Também aqui se ia para o tal quarto (que não tinha nada de escuro!...) decorar a teoria, mas com uma diferença: o que se lia e estudava reflectia-se na nossa cabeça em imagens bem reais. Reinos da Natureza: animal, vegetal e mineral; exemplos: a porca lá de casa, a couve do quintal e a pedra com que o Amílcar rachou a cabeça do... Mesmo quando o estudo incidia sobre o corpo humano não havia dificuldade que ainda a semana passada se tinha matado o porco e o Ti João André o desmanchou e nos mostrou o coração, os pulmões... e por aí fora, à medida que ia pondo para o alguidar e separando a fressura das tripas, até que chegou à bexiga que nos mandou bater e secar para depois jogarmos à bola... Com o tipo das raízes, ou o dos caules, mesmo até o recorte das folhas e as corolas das flores ou as características dos frutos, aquilo era uma 'saladinha de frutas' bem preparada, não havia sabor, cor ou trincadela em falso para a identificação que nos era exigida... Já na mineralogia não era tão linear: pedras e barro, bom, até bonecos fazíamos e pequenos púcaros, mas se o livro falava em minérios havia alguma hesitação. Mas isto para quem morava à beira da oficina do Ti Zé do Lino logo se rasgava o horizonte: ferro, cobre, chumbo... Era de facto uma aprendizagem baseada numa experiência de vida que, muitas vezes, nos levava a pedir mais que aquilo já nós sabíamos, só que a dificuldade estava em distinguir a Zoologia, da Botânica e da Mineralogia, nomes tão complicados para coisas que, desculpai-me, eram tratadas por nós... aos pontapés! Manuel

sábado, 27 de setembro de 2008

Declaração de Conimbriga

Jovens da Terceira Idade, em passeio
1. Envelhecer é o maior atributo da vida, expressão completa da existência.
2. Todo o ser humano tem o direito a envelhecer com saúde, segurança e dignidade.
3. A sociedade deverá proporcionar a todos os que atingirem a fase superior da vida meios para uma existência condigna em termos sociais, familiares, económicos, médicos e culturais.
4. Os seniores têm a obrigação de transmitir à família e à sociedade a cultura e sabedoria acumuladas ao longo da vida.
5. Os seniores têm direito ao convívio com os seus netos naturais e adoptivos, ajudando-os e acompanhando-os e transmitindo, pelo exemplo, valores, princípios e ensinamentos.
6. Os seniores têm direito a que sejam respeitadas as suas disposições e vontades, no estrito respeito pela ética e pela lei.
7. A sociedade tem a obrigação de adaptar e construir as estruturas, de valorizar e modificar a organização social e ensinar os cidadãos em função da nova realidade social, fruto do envelhecimento.
8. Os seniores devem associar-se, formal ou informalmente, na defesa dos seus interesses e na promoção dos seus valores.
9. Os seres humanos têm o direito e o dever a envelhecer com arte e a estimular a arte do envelhecimento.
Conimbriga, 27 de Setembro de 2008.
NOTA: Transcrita, com devida vénia, do blogue Quarta República
Foto da Revista "Maior Idade", da CMI

UM NÃO CONVERTIDO EM SIM

A cena parece um enigma com aspectos de armadilha. Mas é antes uma historieta com grandes ensinamentos de vida. Passa-se com Jesus e os chefes do povo na esplanada do Templo em Jerusalém. Um homem tem dois filhos e diz a um: vai trabalhar na vinha e ele, solícito, diz que sim, mas não foi; e diz a outro: vai trabalhar também para a vinha e ele, contundente, não vou, mas depois reconsiderou e foi. Qual fez a vontade do Pai?! Ambos, em algum momento, dizem fazer-lhe a vontade. Mas basta dizer?! O trabalho da vinha fica feito com palavras de assentimento?! Este momento fugidio não constituirá um símbolo emblemático de tantas fases da vida que têm o mesmo sentido e alcance? Sinceramente acho que sim. Estou convencido que, se as “coisas” se resolvessem com palavras, muitas coisas correriam melhor e funcionariam mais certo. Tudo, não, porque diz-se cada uma que nem a honra escapa, quanto mais a ética de povos civilizados! Ambos, em algum momento, negam corresponder ao pedido feito. Afirmam-se pela oposição, manifestam o impulso da sua vontade pela negação. A afirmação na vida, sendo importante, não é tudo e pode fazer-se de várias maneiras. A reacção impulsiva, tendo a sua riqueza fugaz, não constitui o modo normal de viver do ser humano, nem se mantém pujante durante muito tempo ou garante qualquer solidez para a estabilidade do futuro. A vontade do Pai é clara e benevolente: fazê-los partilhar do trabalho da vinha, deixarem a estéril ociosidade, serem prestáveis e sentirem-se úteis, desenvolverem capacidades, adquirirem competências. Esta relação constitui o núcleo principal da historieta. O homem da vinha é Deus Pai. Os filhos são todos os humanos. A vinha é o mundo ou a sociedade organizada em qualquer das suas modalidades, a Igreja e as comunidades e os movimentos que a configuram e realizam a sua missão. Trabalhar na vida é assumir um serviço socialmente útil, sentir-se responsável pelo que faz ou omite, partilhar o que se tem e manifestar o que se é, reconhecer os outros e as suas capacidades ou limitações, dar as mãos na prática da solidariedade, organizar-se funcionalmente para alcançar os objectivos pretendidos, viver em constante comunhão com a benevolência do Pai, cultivar a paciência confiante, saber intervir a tempo e em conjunto, saborear o descanso merecido, apreciando o fruto alcançado. Felizmente, há trabalhadores exemplares na vinha do Senhor. A história vai-se fazendo com o seu esforço, por vezes, heróico e martirial. A humanidade vai-se dignificando com a sua entrega generosa permanente. A Igreja vai-se “ramificando” e infiltrando com os seus gestos de amizade e atitudes de proximidade. O mundo, qual vinha do Senhor, vai-se desenvolvendo com as negas de uns, logo transformadas em afirmações de coerência generosa, e os sins de outros que rapidamente se tornam inconsequentes, desistindo de tão nobre propósito, sem qualquer explicação aparente. Muitos destes trabalhadores nem sequer chegam a ser conhecidos na voracidade do tempo. Resta-lhes o “livro de Deus”, onde a vida humana tem um registo de qualidade. Georgino Rocha

FESTA NA COSTA NOVA

Costa Nova antiga. Seria dia normal ou de romaria?
ROMARIA DA SENHORA DA SAÚDE MANTÉM A TRADIÇÃO
Este fim-de-semana vamos ter festa rija na Costa Nova, em honra de Nossa Senhora da Saúde. Amanhã há missa, procissão e as tradicionais devoções particulares a Nossa Senhora. Para além disso, que é o substrato religioso das festividades em honra dos padroeiros, neste caso da padroeira da paróquia da Costa Nova, vem a romaria do povo das redondezas, ao jeito de quem encerra a época balnear. Diz o padre Rezende, na sua Monografia da Gafanha, que “Frei João Pachão, no século Jerónimo Pachão, das Aradas, naquele tempo já frequentador da Praia, fundou em 1822 ou em 1824, com o auxílio das companhas e com esmolas do povo, uma capela de madeira, que dedicou a Nossa Senhora da Saúde”. A história continua e a dado passo, com mais banhistas a procurarem a praia, José da Graça, de Ílhavo, gerente de uma das companhas, avançou com a ideia de construir outro templo, porque o primeiro não oferecia as condições mínimas para o culto. Continua o padre Rezende: “Com o concurso das outras companhas pôs mãos à obra, e em 1890 tinha erguido a linda capela, que a brisa do mar beija a toda a hora, numa saudação fagueira.” “Todos os anos – garante o autor da Monografia – desde a sua fundação, é celebrada a festa à sua excelsa Padroeira, no último domingo de Setembro, atraindo à praia multidões de devotos e forasteiros.” Mais adiante, sublinha que a devoção é tanta que não faltam ofertas valiosas, tais como “Cordões, libras, ligas, anéis, crucifixos, medalhas, (tudo de oiro), velas, ex-votos de cera, outros ex-votos, azeite, novenas, orações, tudo ali era levado pelos verdadeiros devotos em agradecimento à SS. Virgem, pelas graças recebidas”. E depois acrescenta: “Pena é que os pseudo-festeiros, ou devotos-arrecadadores, dessem aplicação desconhecida às esmolas que anualmente subiam a alguns contos.” (permitam-me um à parte: nestas coisas, de vez em quando, não falta quem se aproveite da devoção dos fiéis) Diz ainda o padre Rezende que, “Nesse tempo de esbanjamentos, foi a família do Dr. Luís de Magalhães, quem manteve com esplendor o culto da capela. Está bem paramentada pela generosidade das famílias Magalhães e Maia Alcoforado”. Fernando Martins

FÁTIMA

Um terço dos visitantes do santuário são católicos não praticantes
Um terço dos visitantes do santuário de Fátima são católicos não praticantes, revela um estudo a apresentar hoje, em Fátima, por ocasião das comemorações do Dia Mundial do Turismo. A autora do trabalho, Graça Poças Santos, disse à agência Lusa que “existe hoje uma religiosidade menos enquadrada institucionalmente e mais assumida individualmente”. “Uma boa parte da população portuguesa que nos Censos Populacionais do Instituto Nacional de Estatística se afirma como católica, tem uma prática religiosa muito intermitente ou mesmo nula”, adiantou a docente. Graça Santos traçou o perfil de quem se desloca a Fátima, recorrendo ao trabalho de investigação da sua tese de doutoramento, a que acresceram os resultados de 384 inquéritos e também entrevistas a autarcas e pessoas ligadas à hotelaria, religião e turismo. Segundo o estudo, o visitante de Fátima é maioritariamente do sexo feminino, tem uma idade média de 50 anos, é casado e apresenta formação igual ou inferior ao 2º ciclo. A maioria dos visitantes de Fátima reside em Portugal (71,1 por cento dos inquiridos) e trabalha sobretudo nos sectores secundário e terciário. Leia mais em Ecclesia

MINHA PÁTRIA É A LÍNGUA PORTUGUESA

Dois leitores assíduos do meu blogue recordaram a célebre frase de Fernando Pessoa. Aqui a deixo para melhor a sentirmos.
FM
«Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente. Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse. Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.»
Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, ed. de Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Ática, 1982 vol. I, págs. 16-17 In Ciberdúvidas

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