Um poema de Fernando Pinto do Amaral
SEVER DO VOUGA Era sempre de noite que chegávamos como num sonho antigo, erva crescendo entre faróis acesos e a lua Todos sorriem nesse calendário de páginas iguais umas às outras e a solidão dos anos trás ainda a este pátio as vozes esquecidas: primos que nunca soube de onde vinham, almoços e jantares e um fumo alegre subindo na penumbra da cozinha. Hoje o outono desce lento e frio sobre ruínas de alma e alguns prédios construídos agora na encosta. Que silêncio é este? Que palavras resistem ao murmúrio desta morte? Um cão que ladra sob um céu de infância, as sombras de ninguém longe de mim. Nota: Do livro FOLHAS, LETRAS & OUTROS OFÍCIOS 21, do Grupo Poético de Aveiro