domingo, 11 de dezembro de 2005

GAFANHA DA NAZARÉ: Novas placas toponímicas

A Gafanha da Nazaré tem novas placas toponímicas, que vêm substituir as que haviam sido aplicadas há muito, com os mesmos nomes. Pequenas e sóbrias, de fundo azul e com o brasão da cidade, lêem-se com facilidade. A ideia foi boa. Apenas uns curtos reparos: 

1 – Podiam ter evitado erros, vendo bem o que se escreve, tanto mais que vão ficar à vista de todos. Assim, logo na minha rua (Rua Almeida Garrett), lá aparece Garret só com um tê. E o mais curioso é que a velha placa ainda pode ser vista, no outro extremo da rua, com o nome do célebre e multifacetado escritor e político escrito como deve ser. Aliás, conta-se que ele um dia terá dito que o seu apelido se escrevia com dois tês, embora só se lesse um. 
Um outro erro está também na placa alusiva ao famoso parlamentar José Estêvão. Estevão, sem acento circunflexo, é erro notório, porque a palavra é grave e sem acento soa mesmo muito mal. Experimentem dizer Estevão, acentuando a sílaba "vão", como se fosse palavra aguda. 

2 – Outra coisa: Se na placa de José Estêvão acrescentaram um atributo, “Tribuno”, e muito bem, por que motivo não fizeram o mesmo, por exemplo, na placa de Almeida Garrett, que foi um dos maiores escritores portugueses, com honras de ter sido sepultado nos Jerónimos? 

3 – Por hoje fico-me por aqui, com desejos de que corrijam o que está mal. 

Fernando Martins

NATAL: Um texto de Cecília Sacramento

Eram os convidados de honra
 

A noite de Natal. A ceia. 

A aproximação do acontecimento, a repetição sempre apetecida, igual e nova, o diferente que pairava e nos invadia e ficava a agitar-nos como um vento bom. A grande sala de jantar repensada desde os primeiros dias de Dezembro, limpa do tecto às frinchas do soalho, sob a fiscalização da Avó, que já sabia de cor os sítios mais vulneráveis, entre as frinchas que iam de lado a lado, ao comprido das tábuas, na juntura, muito penetradas pela piaçava, rija, a escovar o mais fundo possível, metia-se a vassoura no balde, esfregava-se-lhe o sabão, “é preciso que a água com o sabão entre abundante na frincha e seja arrastada com o rasar da piaçava, para com ela vir todo o lixo”, dizia ao ensinar, depois o pano apanhava-o, depois passava-se por água limpa, constantemente renovada, o pano limpava, por fim, muito espremido, e a madeira ficava repousada, amarelinha e seca, quase. Esta, a última fase da limpeza, todo o resto fora metodicamente executado de cima para baixo e, por fim, podia-se respirar o ar cheiroso a lavado fresco. 
Os potes cheios de verdes ficavam junto à parede do fundo, rente à janela, à esquerda da lareira o grande pinheiro erguido, coberto de coisas brilhantes como se o céu tivesse baixado até ali. A tarde do dia de Ceia era destinado à mesa e aos cozinhados. A Mãe, na sala, enquanto a Avó, na cozinha, supervisionava a doçaria, o grande fogão de ferro em ebulição como se fosse uma caldeira a todo o vapor, a lenha a estalar em baixo, na lareira, à volta das panelas altas e bojudas, de pés esguios e asas ajustadas. Sobre a trempe, o enorme tacho de cobre, nele as maravilhas que a Rosa mexia, a espaços, com uma comprida colher de pau. 
Na sala, a mesa, ao meio, esticada para um e outro lado e, na contingência, acrescentada com uma outra que se ajustava numa das extremidades, a somar mais lugares, sei lá, vinte as cadeiras, alinhadas, em volta, pareciam ameias a cercar o castelo, a mesa, uma toalha a cair generosamente, bordada a cores com motivos alusivos ao Natal, sinos, ramos de azevinho espalhados por toda ela; candelabros nos topos, cada um com cinco velas, parecia um altar cada extremidade da mesa, quando elas estavam acesas, irreais; ao meio, em sentido longitudinal, um grande centro de camélias, entremeadas de bolas de várias cores, os talheres das festas a luzir como prata, os copos lindos, esguios, eles também a cintilar como espelhos iluminados — a mesa era um painel estendido e, sobre ele, os objectos a comunicarem-nos a alegria que está no interior das coisas nos dias de festa. Nos dias de sermos pessoas.
Os mais pequenos, como os maiores, o lugar da Rosa ali, ao lado da Avó, ela esquiva, sem ter corpo para o ocupar, o lugar do ti Né Velho, de mãos muito escuras e grandes, com o garfo agarrado como quem pega na foicinha. 
No fim de todos os preparos para a grande refeição, era o acender da lareira, o Toninho e eu a trazer as achas e os cepos em cestos, cuidadosos, nem uma talisca a cair, a Mãe punha caruma num montículo, sobre ela duas ou três pinhas, uns cavacos, riscava o fósforo, o fogo nascia, depressa subia, enrubescendo a cara dela, mais rosada naquela tarde de fadiga amorosa. E finalmente, os dois, mais tarde os três, depois... então, sentados no chão, em frente ao lume, e a Mãe no último ritual: abria uma caixa de papelão e dela tirava cuidadosamente as três figuras mágicas a que se reduzia o presépio, que punha na base do pinheiro e que aí ficavam, a contemplarem-se mutuamente, quedas, na disponibilidade, para estarem na nossa festa. Eram os convidados de honra. Outros viriam.

Cecília Sacramento
In “Apenas uma luz inclinada”

NB: Com a publicação deste texto de Natal da escritora Cecília Sacramento, quero lembrar e homenagear, desta forma singela mas muito sincera, a minha querida professora de português, falecida há meses. Aqui fica uma curta expressão da sua riquíssima sensibilidade.

F.M.

A revista “XIS” anuncia um projecto interessante

“A Música da Bíblia” A revista “XIS”, que se publica aos sábados com o “PÚBLICO”, anunciou, no seu último número, um projecto interessante, que é, nem mais nem menos, “uma Bíblia falada e musicada, um conjunto de CD com sete meses de horas de gravações. Para ir ouvindo como uma história, musicada para tranquilizar o ambiente”. A ideia e o projecto nasceram com Jorge Quintela, 41 anos, e Paulo Coelho, 54 anos, que contaram com a “revisão minuciosa” do biblista Isaías Araújo e com o apoio da Igreja. No fundo, são 22 CD que estão a ser comercializados e que não deixarão de ser apreciados por todos quantos têm a Bíblia como referência para a vida e como um dos muitos pontos de partida para encontrar Deus. Paulo Coelho diz, a propósito deste trabalho, que “ler a Bíblia da forma como se leu gera uma reacção interessante, porque chega-se à conclusão de que a Bíblia tem ali respostas para praticamente tudo o que se passa na nossa vida do dia-a-dia. É só saber ir procurá-las no sítio certo”. E acrescenta: “Eu encontrei muitas coisas para poder meditar e para poder ajudar a resolver os nossos problemas do quotidiano. Era como se tivesse ali um manual da própria vida.” Por sua vez, Jorge Quintela refere que “o mais impressionante é, de facto, a actualidade do texto. Não só é uma obra fabulosa como há alturas em que mexe connosco. O que está lá escrito faz todo o sentido perante o que se passa hoje em dia”. Este é um projecto que tem o objectivo de levar a Bíblia a todos: às crianças, aos cegos, a quem já a conhece e a quem nunca a leu. É, afinal. Uma história contada em CD. F.M.

sábado, 10 de dezembro de 2005

NATAL: Um poema de David Mourão-Ferreira

Posted by Picasa NATAL, E NÃO DEZEMBRO Entremos, apressados, friorentos, numa gruta, no bojo de um navio, num presépio, num prédio, num presídio, no prédio que amanhã for demolido… Entremos, inseguros, mas entremos. Entremos, e depressa, em qualquer sítio, porque esta noite chama-se Dezembro, porque sofremos, porque temos frio. Entremos, dois a dois: somos duzentos, duzentos mil, doze milhões de nada. Procuremos o rastro de uma casa, a cave, a gruta, o sulco de uma nave… Entremos, despojados, mas entremos. De mãos dadas talvez o fogo nasça, talvez seja Natal e não Dezembro, Talvez universal a consoada.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

MUSEU DE AVEIRO: "NATAL DO LIVRO"

Posted by Picasa Museu de Aveiro OBRAS DIVERSAS A PREÇOS EM CONTA
Até 31 de Dezembro, os amigos do livro podem visitar, no Museu de Aveiro, mais uma edição do “Natal do Livro”, onde poderão apreciar e comprar obras a preços em conta, com reduções que atingem os 75 por cento.
Esta exposição/venda apresenta livros editados pelos museus ligados ao Instituto Português dos Museus, tanto nacionais como outros que fazem parte da Rede de Museus, nomeadamente roteiros, catálogos de exposições e de acervos, obras específicas sobre museologia, bem como livros temáticos.
No Museu de Aveiro, podemos, então, encontrar obras como “A utopia e os pés no terreno”, do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, “De Picasso a Dali”, “Estudo da pintura portuguesa, origem da oficina Gregório Lopes”, “Guarda – História e cultura judaica”, “Amália Rodrigues – Retratos fotográficos Silva Nogueira”, “Surrealismo em Portugal 1934 – 1952”, “A casa das porcelanas”, “Livro antigo do Museu de Aveiro”, entre muitos outros, sobre arqueologia, urbanismo, pintura,música, escultura, joalharia, porcelanas, faianças e biografias. Uma mostra a não perder, sobretudo nesta quadra natalícia, em que se oferecem tantas prendas que não servem para nada.
Fonte: Correio do Vouga

Um artigo de Laurinda Alves, no Correio do Vouga

Posted by Picasa Laurinda Alves, directora da revista XIS Dezanove sorrisos e meio
É impossível ficar indiferente quando alguém nos faz um sorriso aberto e sincero. Ninguém é imune àquela que foi considerada a mais subtil das expressões humanas e, mesmo sem termos consciência, todos reagimos a um sorriso. São muito raros os que permanecem gelados e, quando acontece, revelam uma insensibilidade quase chocante.
Em matéria de reacções bizarras, aliás, abro aqui um parêntesis para referir as inúmeras vezes que nos cruzamos em elevadores com pessoas impassíveis e incapazes de cumprimentar à entrada ou à saída. Confesso que esta casta de gente olimpicamente alheia à presença física dos outros me incomoda e perturba sempre. Ou seja, não consigo nunca deixar de reparar na falta de educação daqueles que entram e saem de um cubículo, que sobe e desce carregado de pessoas, como se não as vissem nem ouvissem. E fecho o parêntesis.
Pode acontecer não devolvermos um sorriso por excesso de distracção ou por uma preocupação súbita mas, na realidade, reparamos sempre que alguém nos sorri.O sorriso é uma linguagem silenciosa, que diz tanto ou mais do que as próprias palavras e traduz muito daquilo que em nós permanece mudo ou, de alguma forma, secreto.
As pessoas também se revelam pela naturalidade e facilidade com que sorriem. Mais ou menos frequentes, na realidade existem sorrisos polidos, elegantes, irónicos, francos, acolhedores, sedutores, felizes, tímidos, cúmplices, generosos, defensivos, corajosos, comovidos, desarmantes, e por aí adiante. Dizem os especialistas que há 19 tipos de sorriso e que cada um convoca músculos diferentes e transmite ao cérebro mensagens distintas. Ou seja, antes de ser um sinal afectivo, é um mecanismo cerebral, pois tudo começa por um estímulo da parte anterior do hipotálamo, uma glândula situada na base do cérebro. Os cientistas citados pela revista Psychologies esclarecem que, tal como uma onda, esta excitação inicial transmite um fluxo nervoso ao sistema límbico, que é, por definição, o lugar das emoções. Assim sendo, o tónus muscular relaxa e desenham-se as expressões faciais de simpatia, prazer ou contentamento.
Curisosamente, se o estímulo começar na parte posterior do hipotálamo, as reacções faciais são de zanga, ira ou desprazer. Há sorrisos famosos e eternos, como o de Mona Lisa; e há outros completamente anónimos, mas que nos tocam e são capazes de transformar uma situação banal num momento especial. Olhando para esta casta de sorrisos possíveis e imaginários, até posso concordar que existam 19 tipos de sorrisos, mas atrevo-me a juntar mais um: o meio sorriso, sempre tão misterioso e atraente.

NATAL: Mensagem do Bispo de Aveiro

 


O NATAL EM QUE ACREDITO


O NATAL QUE EU DESEJO O teu Natal, Senhor Jesus, vem aí no final de um ano doloroso, no qual pudemos ver larga sementeira de morte, devastação, desespero, indiferença, guerra. Decerto, não foi só a natureza criada, descontente com aqueles que a não respeitam e não se esforçam por penetrar o seu segredo e perscrutar as suas leis. Foram, também, os que não deixam o mundo rasteiro dos seus interesses e ficam alheios ao sofrimento de quem não entra nos seus projectos. Foram, ainda, os que, na actividade política, por esse mundo fora, se esqueceram que só a procura denodada do bem de todos justifica a sua vida. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

NATAL: UM POEMA DO CARDEAL ALEXANDRE DO NASCIMENTO

Posted by Picasa Tela do pintor renascentista italiano Rafael (1483 - 1520) O MENINO E SUA MÃE Vi há tempos um quadro feito por mão inspirada: Os traços eram perfeitos do Menino Jesus e sua Mãe. Causava enlevo, fazia ternura, e o olhar que se desprendia de Nossa Senhora, Que tinha seguro nos braços o seu Menino. Este deixava ver bem Seu grande afecto, Sua divina paixão por Aquela que tão estreito o trazia ao peito: A cabecita de encontro, bem encostada, entre a face e o ombro de Sua Mãe e a carita de criança voltada para nós… Mais que tudo, porém, impressionou-me o ar, o ar de desafio, cheio de divina meiguice um ar (Deus me perdoe!) quase gaiato que parecia dizer a quantos o quisessem entender: “É minha, só minha a Virgem Maria!” De tão estreito e apertado que cingia com os bracitos Nossa Senhora… Confesso que estranhei, por me ver quase defraudado por esta divina avareza. Mas no olhar sorridente da Virgem bondosa li logo a resposta, a bonança que me vinha: “Deixa-O, meu filho, são primeiros tempos que goza a novidade de ter… Mãe: Eterno que é, só isto Lhe faltava, no céu… Não tarda que no Calvário te dê a Sua vida (pouca coisa para Ele!) e o que é mais ainda: que te dê Sua Mãe, tua Santa Maria”. In “Livro de Ritmos”

IMACULADA CONCEIÇÃO

Posted by Picasa Imaculada Conceição O dogma da Imaculada Conceição foi proclamado em 8 de Dezembro de 1854 por Pio IX
1. O dogma da Imaculada Conceição, proclamado a 8.12.1854 por Pio IX (Bula “Ineffabilis Deus”), declara a santidade da Virgem Santa Maria desde o primeiro momento da sua existência, desde a sua Conceição, ou seja, que ela foi preservada desde sempre da mácula do pecado original, no qual nascem todos os filhos de Adão. Enquanto estes estão privados da graça divina, a Virgem Maria foi toda pura, santa e imaculada desde o início da sua vida. Esta foi desde sempre a convicção profunda da Igreja, que viu na Virgem Maria a ‘Nova Eva’ (Sto.Ireneu).
2. Apesar da sua reconhecida devoção a Nossa Senhora, homens como S. Bernardo, Sto. Alberto Magno, S. Boaventura e S. Tomás tiveram dificuldade em admitir a Imaculada Conceição, porque difícil de conciliar com o dogma da universalidade da Redenção. Proclamar a Imaculada Conceição parecia implicar retirar a Virgem Maria da órbita da Redenção em Jesus Cristo, a qual, por ser necessária e absoluta, era tão universal como o pecado original. Se a Virgem Maria não estivesse incluída no número dos que contraíam o pecado de Adão, ficava então igualmente excluída da redenção, e esta não seria universal, pois não abrangeria todos os descendentes de Adão. Perante esta alternativa, foram como que obrigados a negar o privilégio de Maria até ser possível conciliá-lo com o dogma da universalidade da redenção em Cristo.
(Para ler mais, clique Ecclesia)

UNIVERSIDADE DE COIMBRA: "DEZ LIVROS QUE ABALARAM O MUNDO"

Posted by Picasa
EXPOSIÇÃO ABERTA ATÉ 15 DE FEVEREIRO Edições muito antigas e valiosas da Bíblia e da "Origem das Espécies", de Darwin, estão expostas a partir de hoje na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (UC), na mostra "Dez livros que abalaram o mundo". Patente até 15 de Fevereiro na Sala de S. Pedro, a exposição resulta de uma votação entre dez docentes de todas as faculdades da UC, instados a escolher os dez livros que mais influenciaram a Humanidade.
A "Origem das Espécies", de Charles Darwin, foi o livro mais votado, seguindo-se a Bíblia, num conjunto de obras em que também figuram a "Odisseia", de Homero, e "Dom Quixote de La Mancha", de Miguel de Cervantes.
Segundo o director da Biblioteca Geral, Carlos Fiolhais, nesta lista dos dez livros mais decisivos na história da Humanidade constam ainda "O Capital", de Karl Marx, "A Riqueza das Nações", de Adam Smith, "A Interpretação dos Sonhos", de Sigmund Freud, e um conjunto de obras e artigos de Albert Einstein sobre a teoria da relatividade.
"Diálogo sobre Duas Novas Ciências", de Galileu, e "Princípios Matemáticos de Filosofia Natural", de Isaac Newton, integram também o rol.
A exposição inclui cerca de 120 edições das obras, entre as quais figuram exemplares da Bíblia datados da Idade Média, em pergaminho, com iluminuras desenhadas à mão, e o único exemplar original existente em Portugal dos "Annalen der Physic", no qual Einstein publicou artigos sobre a teoria da relatividade.
O catálogo da mostra integra cerca de três centenas de edições destas obras, existentes na Biblioteca Geral e nas restantes bibliotecas da UC. "É uma mostra representativa da riqueza do património das bibliotecas da Universidade de Coimbra", frisou o professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia.
Num ciclo de debates que se prolonga até 8 de Junho de 2006, os docentes que participaram na votação justificam as suas escolhas. "Dez livros que abalaram o mundo" é uma iniciativa conjunta da Biblioteca Geral e da Reitoria da Universidade de Coimbra.
FONTE: PÚBLICO

Um artigo de D. António Marcelino

Posted by Picasa D. António Marcelino HOMENAGEM À MULHER, OBREIRA SILENCIOSA DE BEM
A revista Sal Terrae dedica o seu último número a um tema curioso que titula assim: “Quem cuida dos cuidadores?” Logo na apresentação dos conteúdos se recorda que “as mulheres são as principais responsáveis dos cuidados, mas, ao mesmo tempo, são as mais esquecidas, ou seja, aquelas de quem menos se cuida.” Então se recorda que, frequentemente, exercem a tarefa de cuidar de quem delas precisa, por vezes em verdadeira solidão, carregando em si desgaste e dor, por exemplo, perante o doente incurável que amam e vão perdendo a pouco e pouco.
Diz-se ainda que nos esquecemos que a pessoa que cuida, também necessita de cuidados. Necessita de desabafar e de alguém que a escute, do oxigénio do descanso e do rosto amável que lhe sorria, da carícia de quem se mostra agradecido e de um ombro sobre o qual tem direito a se recostar. Habituei-me a ver, reconhecer e admirar muitas destas mulheres conhecidas ou anónimas, heróicas e persistentes num heroísmo que se vai traduzindo, cada dia que passa, em dedicação sem limites e silêncios mais eloquentes que as palavras. São multidão de mães, esposas, tias e avós, vizinhas e voluntárias, gente que orientou por aí a sua vida a tempo inteiro, que passa despercebida e não remói ingratidões porque tem um coração que não se nega, porque o seu saber é, sobretudo, amar e cuidar. Estamos numa semana em que Maria, a “Mulher Eterna”, tem, para os cristãos, que de modo filial a veneram num dia de especial de memória de uma prerrogativa excepcional que Deus lhe fez, a favor de todos. Uma outra mulher, Teresa do Menino Jesus, que nos seus restos veneráveis peregrina pelo mundo, vai chegar até nós com o seu fascínio de jovem, viva e contagiante, que é, para este tempo de vazio, um modelo eloquente. Ela nos dará conta da excepcional sabedoria que pode levar à entrega, sem reservas, ao que é essencial para uma vida feliz e realizada. Estes dois modelos de mulher, estimular à contemplação, em silêncio agradecido, da mulher ou das mulheres das nossas vidas que sempre aqueceram o mundo gélido do egoísmo e das quais seremos eternos devedores de amor, ternura e reconhecida gratidão. A sociedade do consumo e do prazer, incapaz de ver além dos sentidos, vem empobrecendo a mulher. Por vezes, também esta, num mundo de novas e justificadas possibilidades, sob as muitas luzes que deslumbram, foi perdendo o sentido da sua singular dignidade, do seu valor e missão, indispensáveis à humanização das relações pessoais, num mundo cada vez mais frio, calculista, superficial, comodista, onde vão deixam de contar os valores morais fundamentais, deixando tudo mais pobre. A mulher é sempre vocacionada para a maternidade, no sentido mais amplo desta misteriosa missão: mãe biológica, espiritual ou social. Por isso a mulher mãe, é inseparável de cada um de nós, e mal vai quando deixa de ser referência indispensável na nossa vida. Feliz daquele que é capaz de olhar e respeitar qualquer mulher, conhecida ou não, com a luz interior mais pura que recebeu do amor único da sua mãe, essa “mulher eterna” que a memória do coração nunca deixará morrer! O estrago social de mais graves consequências nos dias de hoje e que mais afecta o presente e o futuro das pessoas e da sociedade é o da destruição da mulher, da sua dignidade, missão singular. Isto não quer dizer que ela tem de regressar a casa e voltar a ser apenas doméstica, mas sim que ela mesma tem de ser a casa do acolhimento, do aconchego, da alegria e da paz, a escola diária do amor, que mesmo quando paciente e sofrido nunca deixa de ser criador e renovador de esperança. Cuidar de quem cuida sem horários nem descontos. A mulher ao centro e a sociedade terá futuro.

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