Maria Donzília Almeida
Um S. Martinho em terras de José Régio
Começou chuvoso este dia 11 de Novembro, dia de S. Martinho. Fazendo jus à tradição, espera-se que com o desenrolar do dia, o bom tempo se faça anunciar: o sol brilhe e o cinzento do céu se dissipe. De todos os dias, desta efeméride, ocorre-me à memória, um que passei em terras de José Régio. “
Vila do Conde espraiada,
Entre pinhais rio e mar....”
Lembras-me Vila do Conde,
Já me ponho a suspirar!”
Numa pequena localidade piscatória, muito semelhante à nossa Costa Nova, lidei de perto com a gente miúda, das Caxinas. Tinham a força do mar a correr-lhe nas veias, o que lhes dava uma vivacidade e energia, muito características. Buliçosos, impulsivos, mas... afáveis, calorosos e que sabiam interpretar as palavras da teacher!
Um dia, até apareceram, na sala de aula, com um punhado de “beijinhos”, para a presentear... Sabiam da sua paixão por conchas e queriam aumentar a sua coleção!
Foi, há 25 anos, quando a escola ainda era risonha e franca, apesar de já estarmos no pós, revolução de Abril. A democracia era ainda, uma menina adolescente e caminhava a passos curtos mas seguros para a democratização do ensino.
Quando chegou o S. Martinho, foi feita a sua comemoração com as tradicionais castanhas assadas e toda a comunidade educativa foi chamada a participar. Todas as disciplinas deram o seu contributo e lembro que a disciplina de Língua Materna elaborou um concurso de quadras populares, alusivas ao dia, despertando a imaginação e criatividade de todos.
S. Martinho, dou-te beijos,
Pois nos deste uma folguinha!
Não haverá mais festejos,
P’r àcabar a semaninha?
Foi esta a quadra vencedora, a nível dos docentes. De referir, que nessa época, a escola podia dar-se ao luxo de interromper as atividades letivas, fazendo uma pausa, para comemorar, a tempo inteiro, o S. Martinho com o tradicional magusto e uma série de atividades pedagógicas, com ele relacionadas. Para quem exerce o magistério, é um dado adquirido que não se aprende só, no contexto da sala de aula. Há muitas aprendizagens e competências que se desenvolvem, talvez, até mais eficazmente, noutros espaços e noutros tempos, que não os rígidos tempos letivos. Nessa época, não se aprendia menos que agora, mesmo sem a exagerada carga curricular, que os nossos alunos hoje enfrentam
Já que a nossa memória é seletiva, recordo a quadra que por esses tempos, acompanhava o texto alusivo ao S. Martinho, no manual de Português:
É do bom, do genuíno,
É do tal que faz suar.
Alegra-me e põe-me fino,
Só me proíbe o andar!
Esta quadra era anualmente lembrada e cantada, neste dia, pelo grupo de docentes que compunham a equipa pedagógica do curso noturno do Ensino Recorrente. Belos tempos em que a convivialidade era a tónica predominante entre docentes e discentes, numa altura, que os governos se preocupavam com a alfabetização dos adultos. Infelizmente, hoje em dia, até esses propósitos se perderam!
Será mesmo, como o povo diz, que ... “De boas intenções, está o inferno cheio?”
11.11.2012
2:02 (noite cerrada)