domingo, 11 de novembro de 2012

Dia de S. Martinho

Maria Donzília Almeida



Um S. Martinho em terras de José Régio

Começou chuvoso este dia 11 de Novembro, dia de S. Martinho. Fazendo jus à tradição, espera-se que com o desenrolar do dia, o bom tempo se faça anunciar: o sol brilhe e o cinzento do céu se dissipe.  De todos os dias, desta efeméride, ocorre-me à memória, um que passei em terras de José Régio. “ 

Vila do Conde espraiada, 
Entre pinhais rio e mar....” 
Lembras-me Vila do Conde, 
Já me ponho a suspirar!” 

Numa pequena localidade piscatória, muito semelhante à nossa Costa Nova, lidei de perto com a gente miúda, das Caxinas. Tinham a força do mar a correr-lhe nas veias, o que lhes dava uma vivacidade e energia, muito características. Buliçosos, impulsivos, mas... afáveis, calorosos e que sabiam interpretar as palavras da teacher


Um dia, até apareceram, na sala de aula, com um punhado de “beijinhos”, para a presentear... Sabiam da sua paixão por conchas e queriam aumentar a sua coleção! 
Foi, há 25 anos, quando a escola ainda era risonha e franca, apesar de já estarmos no pós, revolução de Abril. A democracia era ainda, uma menina adolescente e caminhava a passos curtos mas seguros para a democratização do ensino. 
Quando chegou o S. Martinho, foi feita a sua comemoração com as tradicionais castanhas assadas e toda a comunidade educativa foi chamada a participar. Todas as disciplinas deram o seu contributo e lembro que a disciplina de Língua Materna elaborou um concurso de quadras populares, alusivas ao dia, despertando a imaginação e criatividade de todos. 

S. Martinho, dou-te beijos, 
Pois nos deste uma folguinha! 
Não haverá mais festejos, 
P’r àcabar a semaninha? 

Foi esta a quadra vencedora, a nível dos docentes. De referir, que nessa época, a escola podia dar-se ao luxo de interromper as atividades letivas, fazendo uma pausa, para comemorar, a tempo inteiro, o S. Martinho com o tradicional magusto e uma série de atividades pedagógicas, com ele relacionadas. Para quem exerce o magistério, é um dado adquirido que não se aprende só, no contexto da sala de aula. Há muitas aprendizagens e competências que se desenvolvem, talvez, até mais eficazmente, noutros espaços e noutros tempos, que não os rígidos tempos letivos. Nessa época, não se aprendia menos que agora, mesmo sem a exagerada carga curricular, que os nossos alunos hoje enfrentam 
Já que a nossa memória é seletiva, recordo a quadra que por esses tempos, acompanhava o texto alusivo ao S. Martinho, no manual de Português: 

É do bom, do genuíno, 
É do tal que faz suar. 
Alegra-me e põe-me fino, 
Só me proíbe o andar! 

Esta quadra era anualmente lembrada e cantada, neste dia, pelo grupo de docentes que compunham a equipa pedagógica do curso noturno do Ensino Recorrente. Belos tempos em que a convivialidade era a tónica predominante entre docentes e discentes, numa altura, que os governos se preocupavam com a alfabetização dos adultos. Infelizmente, hoje em dia, até esses propósitos se perderam! 
Será mesmo, como o povo diz, que ... “De boas intenções, está o inferno cheio?” 

11.11.2012 

2:02 (noite cerrada)

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