Em 2001, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 21 de maio como o Dia Mundial para a Diversidade Cultural e para o Diálogo e o Desenvolvimento, para destacar a importância dos valores da paz e da solidariedade. Este dia destina-se a enviar a todos aqueles que buscam semear a divisão entre os seres humanos um sinal e dizer-lhes que as suas tentativas encontram resistência por parte daqueles que têm fé nas forças, da tolerância e da compreensão. De muitas maneiras, a causa da harmonia global é precária. A atividade económica global e os avanços nas comunicações ilustram o aumento da interconectividade da humanidade, ainda que barreiras, desconfiança e hostilidade persistam entre pessoas e culturas. O aumento do contacto também gera medos – imaginários e reais – de perder costumes, idiomas e identidades, que nos são caros.
No âmbito social e educacional, a diversidade cultural diz respeito a uma coexistência de várias etnias e culturas, dentro de uma mesma comunidade, sociedade ou país.
As sociedades multiculturais ocidentais foram constituídas, a partir do fim da Idade Média, com o tráfico da escravatura, mas também com as trocas comerciais que levavam à deslocação de bens e pessoas. Mais tarde, a procura de riqueza provocou os fenómenos de colonização, o que levou a que muitas pessoas procurassem, sobretudo no chamado Novo Mundo, do continente americano, novas oportunidades de trabalho. Mais tarde, a industrialização criou a necessidade e a oportunidade da migração de muitos povos da África e da Ásia que procuravam trabalho e melhores condições de vida tanto no Novo Mundo como na Europa. A concentração urbana de diferentes etnias nem sempre é pacífica, levando, muitas vezes, à intolerância, racismo, violência e exclusão, enfim, à xenofobia.
Nos países do Terceiro Mundo, as sociedades multiculturais são resultado, sobretudo, da formação "artificial" de novos países que correspondem ao território das antigas colónias europeias e que foram obrigados a uma convivência forçada de etnias e culturas muito diferentes.
O tema da diversidade cultural é pertinente não só no âmbito das políticas sociais, mas também nas filosofias de educação. Uma educação multicultural, multirracial ou multiétnica tem vindo a ser defendida, sobretudo nas sociedades ocidentais, para implementar uma evolução positiva da convivência entre as diferentes culturas. Não se trata da assimilação ou subjugação por parte das culturas minoritárias da cultura numérica e economicamente dominante, mas de respeito mútuo pela diferença e defesa da diversidade. Nesse sentido, quando se fala de educação multicultural pretende-se abranger não só a educação no seio das minorias étnicas como também a educação de todas as crianças ou indivíduos, quer estejam inseridos em sociedades multiculturais ou uniculturais. Esta educação, no respeito pela diversidade cultural, pretende tornar legítima a pluralidade social e étnica, eliminando os preconceitos e os ideais racistas.
No que se refere ao meu ambiente de trabalho, a escola, lembraria
Jaques Delors, (1996). Para ele, a educação é veículo transportador de cultura e valores que têm por objetivo, estabelecer vínculos sociais, assumindo-se como um verdadeiro espaço de sociabilização que faz da diversidade fator positivo.
Na verdade, diversidade, deve ser um factor determinante na construção dos projectos curriculares. A escola deve entender a diversidade cultural: diferentes origens, classes sociais, valores, não como algo que deve ser atenuado, fazendo com que todos pareçam iguais quando não são, mas como algo enriquecedor para um currículo autónomo. Por isso, deve ter objetivos específicos, mostrando as diferenças, valorizando-as, fazendo do espaço escola um lugar para o exercício da cidadania. Propõe uma educação mais feliz para todos, onde valores e culturas coabitem, respeitando-se e entendendo-se.
A escola deve ser um espaço de inclusão, onde, a direção da escola, professores e alunos estabeleçam um compromisso com base na coesão social, em que estes princípios devam ser transversais aos conteúdos de cada disciplina. Aqueles devem ter o conhecimento e respeito pelas culturas, só assim se conseguindo encontrar um equilíbrio entre alunos de diferentes origens.
No que concerne à minha experiência pessoal, de contacto com a multiculturalidade, devo referir que tem sido uma experiência multifacetada. Não tem a minha escola, pela sua situação geográfica, uma grade expressão nesse teor, tal como acontece nas escolas das grandes metrópoles. Conheço casos de turmas, em escolas londrinas, em que cada aluno que integra a turma tem uma nacionalidade diferente. Um excelente desafio para qualquer professor que se preze e um enriquecimento recíproco extraordinário. Quem me dera! Na minha relação com os “indígenas”, (dito com carinho), sempre estabeleci relações pedagógicas profícuas, sempre me deslumbrei com a rapidez da sua aculturação e logo, da aprendizagem da língua de Camões. Como é minha tendência visceral para as línguas estrangeiras, manifestava logo interesse em aprender a língua deles, o que concorria como fator de cumplicidade pedagógica. Haverá algo que dê mais gozo a um aluno, do que ensinar um s’ôr? É assim que se conquista a arraia-miúda, o que para mim não era nada penoso, já que a vocação poliglota me é genuína!
Dos vários alunos estrangeiros que por mim passaram e foram muitos, ao longo dos anos, lembro um, que pelo exotismo da sua origem persa, ainda está gravado – Aslam Sadrudine Jamal, aquele garoto morenão, franzino, com uma grande perspicácia. Foi na Invicta, no ano da graça de 1984. A memória seletiva ainda não o considerou spam! Neste momento, cruzo-me com o Vlad......, um miúdo vivaço que integra uma das minhas turmas atuais. Ucraniano de nascença, fala português como um papagaio............melhor que um gago!
A Unesco está aorganizar uma campanha, no sentido de pedir a todas as pessoas, que se manifestem pela riqueza espiritual, social e económica que derivam da nossa diversidade cultural. Neste dia, e durante toda nossa vida, tomemos medidas – em grande e pequena escala, com as nossas famílias e amigos, velhos ou novos – que fortaleçam os laços, o entendimento do valor da diversidade cultural e nos ajudem a viver melhor.
Não é já, um lugar comum, dizer-se que é na diversidade que está a riqueza? Não a aferrolhemos! Punhamo-la a render!
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