
1. Recentemente esteve em Portugal um autor que tem merecido uma redobrada atenção, Amin Maalouf. Pensador libanês de 60 anos, reside em França há longa data. Na condição de ocidental e de árabe escreveu o livro: «Um mundo sem regras». Maloouf destaca que estamos no final de um tempo de modos de vida anteriormente padronizados pelas culturas fechadas sobre si próprias. E que algo de novo está a chegar, já sentido no mundo on-line, num tempo global único, numa consciência universal que se vai expandido. Diante deste novo cenário abrem-se diversas encruzilhadas a que ninguém pode escapar, quer se esteja em Portugal quer do outro lado do mundo. Os problemas da humanidade (como a grande questão ambiental) revelam-se “comuns”, sendo as soluções obrigação de todos…
2. O autor defende claramente uma reinvenção do mundo, tarefa não fácil nem linear. No seu olhar, existe hoje apenas “uma civilização e ou morremos juntos ou nos salvamos juntos”. Podendo ser de questionar, como em todas as opiniões, a elaboração do pensamento e mesmo da opção literária de unidade global, a verdade e que salta à vista de todos é que estamos diante de um encontro de civilizações, sendo o maior desafio da humanidade actual a harmonização das diversidades de pensamento e de cultura; «preservar as culturas, mas unificar os valores», defende Maloouf. A mudança de cenários no mundo que se vive dia-a-dia não poderá, assim, ser algo comandado pelas tecnologias; elas simplesmente colocam-nos em comunicação. O desafio é humano.
3. Talvez por essa costela errante e intercultural (Maloouf compara a Líbia a Portugal no sentido universalista), o autor ergue «o primado da cultura e uma relação com as comunidades imigrantes» como algumas das suas chaves de leitura do mundo. Pensar global e agir local, o desafio provindo das águas ecológicas hoje conduz-nos a uma capacidade inevitável de interagirmos para, de facto, nos compreendermos e nos salvarmos.
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Alexandre Cruz