
Hoje, pelo menos, em definição mais realista e verdadeira, pode ir-se mais longe.
O homem é um ser-com-os outros, um ser aberto ao transcendente, um ser que leva consigo apelos de liberdade interior, de modo a que, se ele quiser, nada o pode limitar interiormente. É cidadão de um mundo globalizado e sem fronteiras, protagonista da história, não da historieta, tão rico por sua natureza, que é um ser irrepetível e único.
Acompanha-o um mistério em que nem ele próprio penetra por completo, mas se vai desvendando, a pouco e pouco, ao longo dos caminhos, direitos ou tortuosos, da sua existência. Um mistério que o ultrapassa, para além da sua vontade e da qualidade e abundância dos seus sonhos e projectos. Capaz do melhor e do pior, de defender a sua liberdade até à morte ou de se deixar agrilhoar por coisas passageiras e efémeras. Capaz de ser águia altaneira que rompe os céus, ou vulgar ave de capoeira, de voos curtos e sem história, mesmo que dele se faça um ídolo ou o transformem em super-homem.
Sempre que a pessoa, homem ou mulher, se esquece da sua verdadeira grandeza, escraviza-se a si mesmo, ou outros o fazem escravo, em proveito próprio. A grandeza está na normalidade do que se é, se assume e se vive, não num alarido alienante.
A proposta educativa de modelos normais, tão normais que emergem da mediocridade, ajudou muita gente a ser gente. Hoje, o sonho de ser um cristiano ronaldo, para ganhar muito dinheiro, ou um michael jackson, para enlouquecer multidões, começa na escola e, por isso mesmo, a escola, para muitos os interessa cada vez menos, os enfastia e a vomitam. O dom de cada um cultiva-se. Não se vive de sonhos, de fantasias ou invejas.
Ganhar muito e ser famoso, sem esforço e depressa, é ideal de muita gente nova. Mas não é este o projecto que lateja no mais íntimo de cada pessoa. E esse é o que conta.
Estamos ante um problema cultural grave. Só a educação a sério o poderá ir resolvendo. Criticou-se António Guterres quando falou da “paixão pela educação”. Os profetas incomodam. Mas a vida dá-lhes sempre razão. Às vezes, tarde demais.
António Marcelino