sábado, 15 de fevereiro de 2025

A Igreja católica e o protocolo de Estado

Crónica semanal
de Anselmo Borges

Nos Estados, há cerimónias oficiais, sendo natural que se estabeleça um protocolo de Estado. Em Portugal, já houve um debate à volta disso, e a Igreja católica e as outras confissões religiosas deixaram de ter lugar no protocolo.
É assim que deve ser. De facto, a que título é que as autoridades religiosas haveriam de surgir na lista de precedências no protocolo, concretamente num Estado regido pelo princípio da não confessionalidade, portanto, da separação da(s) Igreja(s) e do Estado? “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, foi programaticamente declarado por Jesus Cristo. Esta separação do político e do religioso não tinha sentido na Grécia, que não separava o cívico e o cultual, nem para o judaísmo, que unificava nação e religião. Como escreveu Régis Debray, em Jerusalém, Atenas e Roma, “o ritual cívico é religioso, e o ritual religioso é cívico”. Para as três culturas que estão na base da nossa, alguém que estivesse fora da religião estava fora da Cidade.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Valdemar Aveiro faleceu

Valdemar Aveiro, o Capitão Valdemar como era conhecido entre os homens do mar, simples marinheiros, oficiais e empresários, foi um cultor da literatura, com o mar, imensas vezes, como pano de fundo.
Visitou-me algumas vezes, sobretudo para me falar dos livros que foi publicando ao sabor da maré, com o amor humano sempre presente.
Toda a obra de Valdemar Aveiro, um ilhavense que se tornou também gafanhão, mostra à saciedade, pelo que escreveu, a vida dura dos nossos homens do mar, mas o autor não se ficou por aí. A sua obra está cheia de estórias quantas vezes fora da história, umas tristes e melancólicas e outras com chiste que baste para alegrar quotidianos difíceis. Tudo isso cabe nos escritos do capitão Valdemar, um homem que nunca fugiu da luta, apesar de horas amargas sentidas tantas vezes na pele e na alma. Emigrou mas regressou, que o mar e as saudades eram imensas.
Tive o prazer de conversar com o Capitão Valdemar, um ilhavense que assumiu, como sua, a nossa Gafanha da Nazaré. Por aqui andou desde menino, brincando com miúdos da sua idade nas ruas da nossa terra, enquanto sua mãe fazia os seus negócios de porta em porta, caiando casas, também, o que fazia com mestria, pois, como me garantiu, não deixava "santos" nas paredes por onde passavam a broxa e os pinceis.
Quem conheceu o capitão Valdemar, como é mais conhecido na região, sabe que a sua vida, de sonhos realizados e por realizar, de lutas insanas, de canseiras teimosamente enfrentadas e de desafios constantes, daria um romance. De qualquer forma, os seus escritos, memorialistas na sua pureza literária, são romances que podem ser apreciados pelo leitor comum. São, indubitavelmente, retratos da sua vida de marinheiro desde jovem, subindo a pulso as escadas íngremes dos navios como na vida.

Fernando Martins

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Dia dos Namorados

Celebra-se hoje, 14 de Fevereiro, o Dia dos Namorados, que nos leva a uma reflexão sobre o amor dos casais. Todos e de qualquer condição social e idade. Por experiência própria, garanto que sempre sentimos que o amor verdadeiro se cultiva no dia a dia, quer chova quer faça sol, em momentos de alegria e de tristeza.
Os que se amam sabem, decerto por experiência partilhada, por educação e formação, que o amor necessita de comunhão de sentimentos e partilhas de emoções.
Nós, Eu e a Lita, casados quase há 60 anos, depois de um namoro de dois, saudamos, com muita ternura, os nossos filhos, netos e bisneta, genro e nora e demais familiares e amigos.


Lita e Fernando

O nosso Farol


Hoje foi dia de arrumar fotos antigas. Náo há dúvidas que se trata do nosso Farol, com toda a sua imponência. Não sei o ano, mas que é antigo, lá isso é.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Um conto de vez em quando - Maria do Céu

Com os anos a pesarem, a varredora arrasta-se no seu labor mecanizado na busca das folhas caídas do arvoredo. Empregada da empresa encarregada do asseio citadino, vejo-a com frequência da esplanada do bar onde matinalmente costumo saborear o café de mistura com o ar puro que o parque me oferece. A mulher deambula de um lado para o outro indiferente aos olhares de quem está ou passa. Baixa-se com dificuldade, puxa com as poucas forças que lhe restam o saco preto de plástico semicheio de lixo, ergue-o a custo para o despejar no carro de mão e volta à cata de mais folhas, mas também de papéis atirados para o chão por gente graúda e miúda que corre apressada, sem cuidar de saber das recomendações que periodicamente se badalam para haver respeito pela limpeza do ambiente, que é casa de todos.
De quando em vez, o capataz lá aparece para dar as suas ordens: — Olhe ali; quero isto limpinho como um brinco; não quero queixas de quem paga!
Maria do Céu, assim se chama a mulher que me prende a atenção e os sentimentos nascidos à sombra de quem sofre e luta, obedece apressada sem mostrar enfado, num gesto mecânico de quem está habituada a cumprir ordens.

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Monos e humanos origem e originalidades


O que é o Homem?
Ao longo dos séculos, foram-se sucedendo, numa lista quase interminável, as tentativas de resposta: animal que fala, animal político (Aristóteles); animal racional (os estóicos e a Escolástica); realidade sagrada (Séneca); um ser que pensa (Descartes); uma cana pensante (Pascal); um ser que trabalha (Marx); um animal capaz de prometer (Nietzsche); um ser que cria (Bergson); um animal que ri, um animal que chora, um animal que sepulta os mortos... Saído da gigantesca aventura cósmica com uns 13.700 milhões de anos, o Homem tem, segundo Edgar Morin, “a singularidade de ser cerebralmente sapiens-demens” (sapiente-demente), ter, portanto, com ele “ao mesmo tempo a racionalidade, o delírio, a hybris (a desmesura), a destrutividade”.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Um poema de Miguel Torga - A Largada



A largada

Foram então as ânsias e os pinhais
Transformados em frágeis caravelas
Que partiam guiadas por sinais
Duma agulha inquieta como elas...

Foram então abraços repetidos
À Pátria-Mãe-Viúva que ficava
Na areia fria aos gritos e aos gemidos
Pela morte dos filhos que beijava.

Foram então as velas enfunadas
Por um sopro viril de reacção
Às palavras cansadas
Que se ouviam no cais dessa ilusão.

Foram então as horas no convés
Do grande sonho que mandava ser
Cada homem tão firme nos seus pés
Que a nau tremesse sem ninguém tremer.

Miguel Torga

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