domingo, 5 de julho de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 138

BACALHAU EM DATAS - 28

Pescadores de bacalhau

O DIA-A-DIA DOS PESCADORES DE BACALHAU
Caríssimo/a: Manuel Óscar da Rocha Fernandes, “capitão pescador”, publicou, em 1992, uma brochura intitulada “A Ria de Aveiro – Os barcos lagunares e a costa adjacente – A pesca do Bacalhau” e, entre as páginas 23 e 27, escreveu: «O Dia a dia na Pesca
O dia começava com os "louvados", normalmente às quatro horas da manhã. Eram assim chamados, porque o homem que estava de vigia e encarregado de ir chamar os companheiros para iniciar o dia de trabalho, antigamente, fazia-o cantando com versos, na maioria das vezes de sua autoria, como por exemplo: "Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo Filho da Virgem Maria, Venha um homem para o leme e dois para a vigia! São quatro horas, Padre nosso, Avé Maria! "
Ou ainda estes outros
"Louvado e adorado seja o Santo Nome de Jesus que por causa de nós irmãos, morreu na Cruz! E morreu para nos salvar! Ó de baixo, salta para cima que o de cima está a acabar! Levantai-vos irmãos meus, filhos da Virgem Maria olha quem rende o leme e os dois para a vigia! São quatro horas, vamos ao café!"
De seguida tomavam o pequeno almoço, constituído por peixe frito, café e pão. Era também essa a composição do lanche que levavam para fora para o resto do dia. Iam depois receber o isco - lula ou cavala - para iscar as centenas de anzóis que constituem os seus aparelhos de pesca. Antes da existência de frigoríficos, a isca era apanhada pelos próprios pescadores: peixes que apanhavam à zagaia e dos quais aproveitavam as vísceras ou aves marinhas que abundam nas zonas de pesca. Seguia-se o arriar dos dóris, precedido da tradicional ordem do Capitão, que, de boné na mão, dava início à faina:" Vamos lá à vida com Deus!". Toda a tripulação se descobria e dava-se início ao trabalho. E lá iam a remos ou à vela para o lado que mais lhes palpitava e experimentando aqui e além com a zagaia até encontrarem indícios de peixe, aí começavam a largar os seus trolleys que se estendiam por algumas centenas de metros. Após uma permanência na água de uma ou duas horas, começavam a recolha das linhas. Se a pesca era abundante e dava para carregar o bote, vinham a bordo descarregavam e voltavam para acabar de alar o aparelho e novamente lançar as linhas para novo lanço. Pelas cinco ou seis horas, se o tempo estava claro, era içado a bordo do navio, um sinal convencionado com os tripulantes para que regressassem. Se estivesse nevoeiro, a chamada era feita por tiro de canhão e posteriormente por morteiro (foguete) seguido por toques de sereia, que, periodicamente, se sucediam, até que o último homem estivesse à vista do navio. Uma vez a bordo, e após uma refeição quente, que às quintas e domingos era de carne acompanhada de uma caneca de vinho, dava-se início à escala e salga do pescado (esvisceração e conservação pelo sal). Ao terminar a escala, que se chegava a prolongar até às primeiras horas da manhã, o moço encarregado de lançar o peixe já escalado e lavado para o porão, tirava o barrete e anunciava o fim do trabalho: "Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo! Para hoje não há mais e para amanhã Deus dará". Quase sempre tomavam uma sopa quente antes de se deitarem, normalmente constituída por um caldo de peixe a que chamavam "chora". Acontecia por vezes, que, devido aos fundos pedregosos ou correntes de água, o pescador perdia o aparelho ou o ensarilhava. Acabado o serviço de peixe, em vez de se ir deitar, ia tratar de repor as linhas perdidas ou clarificar o aparelho ensarilhado, para na maré seguinte estar apto para poder voltar ao trabalho. Perdia o descanso, que por via de regra não ia além de quatro ou cinco horas, ou excepcionalmente seis, quando o número de dias de pesca consecutivos abundante era considerável. Só nos dia de "brisa" (mau tempo que não permiti a pesca) é que se aproveitava para pôr o descanso em dia.» Traçado o plano geral, busquemos alguns pormenores, para isso lendo, um que outro parágrafo, das páginas 32 a 34, do livro várias vezes citado “Histórias Desconhecidas dos Grandes Trabalhadores do Mar”:
«...A bordo, a água, elemento essencial da vida, depressa ficava choca, turva ou da cor acastanhada, com sabor e cheiro nauseabundo, após várias semanas em contacto com a madeira dos barris. Mas, mesmo nestas condições degradantes, não se pense que era gasta à discrição. O seu racionamento era rigorosamente controlado - uma caneca por dia a cada homem - e no final do dia de trabalho, depois de se lavarem com água do mar, essa sim, em abundância, havia então uma pequena tina com água e creolina, onde todos passavam as mãos e os pulsos, como protecção contra a furunculose e desinfecção de úlceras e ferimentos. A doença era um luxo que não se podia permitir, o que levava estes homens a trabalharem até à exaustão, até ao limite supremo das suas forças; só quando caíam esvaídos se dava algum crédito aos seus queixumes, por norma sempre encarados como possível manha, invariavelmente seguidos de reprimenda áspera do chefe. ... Mas não ficavam por aqui as agruras destes homens! Eles viam-se ainda confrontados com infecções resultantes de ferimentos acidentais, cortes feitos nas cascas dos búzios que aproveitavam para isca, espetadelas em anzóis infectados ou espinhas. E vinham os terríveis penaríssios, que na melhor das hipóteses, após longos dias de atroz sofrimento, lhes deixavam os dedos aleijados. Para as espetadelas a solução era a cauterização da ferida com um arame em brasa, metido bruscamente pela carne dentro, tratamento que nem todos suportavam, ou quando a ele acabavam por se sujeitar, era demasiado tarde. Então, a morte vinha numa agonia lenta e horrorosa, de sofrimento indescritível, reclamar o seu quinhão de vidas. Era esta a situação trágica de todos os pescadores, ...durante tantos meses separados do mundo dos vivos, sem notícias da família, esta também sem saber se o marido ou pai estava ainda vivo. E para o luto, que todos os anos visitava várias famílias, a data era sempre a da chegada ao porto de armamento, quando ao fazer-se a contagem dos tripulantes, à medida que iam saindo do navio, alguns não apareciam. » Do poço sem fundo que é a vida de cada um dos nossos pescadores do bacalhau quase nada se disse ... e o espaço vai já longo. Espreitemos por entre névoas, nevoeiros, gelos e temporais. Ajoelhemos diante dos seus dramas. Caia sentida a nossa lágrima ao folhear as páginas dilaceradas e sangrentas desta tragédia ainda por escrever. Manuel

sábado, 4 de julho de 2009

JAZZ: JACINTA DESLUMBRA EM AVEIRO E VOLTA A ÍLHAVO

Em 12 de Agosto,
no Centro Cultural de Ílhavo,
com Songs of Freedom
Integrado nas comemorações dos 250 anos da cidade de Aveiro, Jacinta esteve presente no Rossio para um concerto acompanhada pela orquestra Caravan. Mais uma vez o público presente, e eram muitas centenas, delirou com a voz “quente, redonda e possante” daquela que é considerada, por muitos, a verdadeira voz do jazz em Portugal. Jacinta voltou a dialogar com o público, facto que não é inédito nesta artista de jazz, que transforma os seus espectáculos em autênticas maratonas. E quando chegam ao fim apetece repetir tudo de novo, como se no jazz a música se repetisse. Desde 2006, com a gravação de Day Dream em Nova Iorque, na companhia de um dos maiores saxofonistas do jazz contemporâneo, Greg Osby, Jacinta não tem parado, seja com novas experiências musicais, Convexo (Homenagem a Zeca Afonso,), o tributo a Bessie Smith, seja com o novo espectáculo que foi êxito no S. Luís, em Lisboa, denominado, Songs of Freedom. E é com este espectáculo que, no próximo dia 12 de Agosto, estará no Centro Cultural de Ílhavo, onde apresenta uma viagem revivalista dos anos 60,70 e 80, com nomes como, Beach Boys, Bob Marley, Stevie Wonder, James Brown, Prince, Beatles e U2, entre outros. Um boa noite, com muitos improvisos, muita alegria e muito swing e com muito “Jazzinta” Carlos Duarte

Crise ética na economia e na política

Comissão Nacional
Justiça e Paz
promove seminário
A crise ética na economia e na política vai estar este Sábado em debate. A Comissão Nacional Justiça e Paz quer, através do seminário, reflectir sobre os comportamentos éticos de decisores, mas "aprofundar a arquitectura institucional que provocou a actual situação", centrou Alfredo Bruto da Costa, Presidente da CNJP, na abertura do seminário. Ler mais aqui NOTA: Actualização logo que possível

O NÃO CRENTE E O CARDEAL

Cardeal Carlo Martini
O bem conhecido jornalista, político e escritor italiano Eugenio Scalfari, fundador do influente La Repubblica, foi ao encontro do cardeal Carlo Martini, antigo arcebispo de Milão e uma das figuras católicas mais escutadas dentro e fora da Igreja, para uma entrevista, acabada de publicar no seu jornal. Scalfari, cujo último livro é L'uomo che non credeva in Dio (O homem que não acreditava em Deus), disse ao cardeal que não crê em Deus e que o diz "com plena tranquilidade de espírito". E o cardeal: "Eu sei, mas não estou preocupado por causa de si. Por vezes, os não crentes estão mais próximos de nós do que muitos devotos fingidos". Então, o que é que o preocupa verdadeiramente, quais são, na Igreja, os problemas mais importantes? Resposta: "Antes de mais, a atitude da Igreja para com os divorciados, depois, a nomeação ou a eleição dos bispos, o celibato dos padres, o papel do laicado católico, as relações entre a hierarquia eclesiástica e a política. Parecem-lhe problemas de solução fácil?" A nossa sociedade está cada vez mais invadida pela indiferença e são o individualismo e a procura exacerbada dos próprios interesses que cavam fundo o abismo entre a fé e a caridade. Talvez ainda se vá uma ou outra vez à missa e se ponha os filhos em contacto com os sacramentos. Mas esquece-se o essencial: a caridade. Ora, "sem caridade, a fé é cega. Sem a caridade, não há esperança nem justiça". Entenda-se: a caridade não é esmola, é atenção ao outro, compreensão e reconhecimento do outro, presença ao outro na sua solidão, "comunhão de espíritos, luta contra a injustiça". O verdadeiro pecado do mundo é a injustiça e a desigualdade, que bradam aos céus. Jesus disse que "o reino de Deus será dos pobres, dos débeis, dos excluídos". Para Martini, a questão fundamental não está na escassa frequência dos sacramentos, da missa, das vocações, que são "aspectos externos". "A substância é a caridade, a visão do bem comum e da felicidade comum", incluindo a das gerações futuras. Assim, quando Scalfari cita um escrito recente de Vittorio Messori, no qual o influente intelectual católico distingue entre o clero que se ocupa da salvação das almas e a Igreja institucional, o cardeal faz notar que o Vaticano com a sua Secretaria de Estado e os seus Núncios são o resíduo de "uma fase em que ainda existia o poder temporal e o Papa era sobretudo um soberano; mas, graças a Deus, esse poder acabou e não pode ser restaurado". Quanto à estrutura diplomática vaticana, nem sempre existiu e "poderia no futuro ser fortemente reduzida ou mesmo desmantelada. A tarefa da Igreja é testemunhar a palavra de Deus, o Verbo Encarnado, o mundo dos justos que virá. Tudo o resto é secundário". É neste contexto que é preciso rever o papel dos fiéis na Igreja. "Demasiado frequentemente é um papel passivo. Houve épocas na Igreja nas quais a participação activa das comunidades cristãs era muito mais intensa". Martini tem insistido na desolação do carreirismo na Igreja. Assim, na sequência desta denúncia, há quem se pergunte se os bispos escolhidos são sempre os melhores. Aliás, uma vez que é o Papa que nomeia os bispos e, entre eles, os cardeais, que, por sua vez, escolherão o seu sucessor, há igualmente quem se interrogue, não sem razão, se não se corre o perigo de certa endogamia. Martini concorda com Scalfari, quando lhe pergunta se o impulso do Vaticano II não está debilitado. O Concílio "queria que a Igreja se confrontasse com a sociedade moderna e a ciência, mas este confronto foi marginal. Estamos ainda longe de ter enfrentado este problema e quase parece que voltámos o olhar mais para trás do que para a frente". Mostra-se, pois, favorável a outro Concílio, que considera mesmo "necessário", mas para tratar de "temas específicos e concretos". Seria necessário concretizar o que foi sugerido e até decretado pelo Concílio de Constança: "convocar um Concílio cada vinte ou trinta anos, mas só com um tema ou dois no máximo". Os temas do próximo seriam "a relação da Igreja com os divorciados" e a confissão, "sacramento extraordinariamente importante, mas hoje exangue". Anselmo Borges

sexta-feira, 3 de julho de 2009

MÚSICA SACRA NA DIOCESE DE AVEIRO

O trabalho previsto para 2009-10 é uma proposta dirigida, tanto às paróquias interessadas em apoiar a formação dos seus músicos, como aos próprios músicos interessados em melhorar a qualidade do serviço que prestam às suas comunidades. Tem, como destinatários, os principais intervenientes na celebração litúrgica: organistas, directores de coro, salmistas e coralistas. Assim, a formação oferecida pela Escola Diocesana de Música Sacra de Aveiro (EDMUSA), geralmente ao sábado de tarde, procura ir ao encontro de todas as pessoas que asseguram música litúrgica nas celebrações e tem diferentes níveis de exigência, de acordo com as possibilidades e disponibilidade de tempo de cada um. Inscrições nas paróquias, durante o mês de Julho. Informações: P. Paulo Cruz: Residência paroquial de N.ª Senhora da Glória; Tel. 962 842 982; p.paulocruz@gmail.com Prof.ª Celina Martins: Tel. 938 339 654; celinatm@hotmail.com

REGATA DE CRUZEIROS DO PORTO DE AVEIRO

Realizou-se, no passado fim-de-semana, a segunda edição da REGATA DE CRUZEIROS DO PORTO DE AVEIRO, uma organização conjunta da Administração do Porto de Aveiro e do Clube de Vela Costa Nova. Contou com a participação de 110 velejadores de 10 clubes náuticos de Aveiro, Porto, Coimbra e Figueira da Foz. As tripulações tiveram em terra um bom acolhimento com uma Base de Regata instalada para o efeito no Porto de Abrigo da Pesca Costeira, onde as embarcações ficaram atracadas e os velejadores confraternizaram animadamente ao fim da tarde, continuando pela noite fora na festa oficial da regata que decorreu na Estação da Luz. Sublinhamos a importância desta regata, como de outras. O espectáculo que elas proporcionam tornam mais visível a beleza da Ria de Aveiro.
Fonte: Newsletter do Porto de Aveiro

HOMEM, TORNA À TUA ESSÊNCIA!

Num velho livro topei com uma palavra escrita, Que como um choque me marcou e ilumina toda a minha vida: E quando me entrego ao prazer embotante, E à essência prefiro a aparência, a mentira e o falso semblante, Quando, de ânimo leve, a mim mesmo me engano com pequenos nadas, Como se fosse clara a escuridão, como se a vida não tivesse mil portas brutalmente fechadas, E repito palavras cuja vastidão nunca senti, E agarro coisas cujo sentido profundo não vivi, Quando, com mãos aveludadas, o sonho bem-vindo me acaricia E de trabalhos e dias me alivia, Alienado do mundo, estranho à minha própria consciência, Então ergue-se em mim essa palavra: Homem, torna à tua essência! Ernst Stadler (1883-1914)

PESQUISAR

DESTAQUE

Animais das nossas vidas

O Toti e a Tita foram animais das nossas vidas. Aqui estão no relvado com a Lita. Descontraídos e excelentes companheiros, cada um com o seu...

https://galafanha.blogspot.com/

Pesquisar neste blogue

Arquivo do blogue