domingo, 24 de junho de 2007

Um texto de Rui Osório, no JN

COMUNICAR COM A RAZÃO
E O CORAÇÃO
:
A Igreja é mestra na arte da comunicação. Perita na argumentação racional, sabe, como ninguém, interpretar outros códigos comunicativos. Hoje, o fascínio está mais na aparência do que naquilo que é demonstrável. Os destinatários das mensagens tendem mais a convencer-se pelo imaginário, mitológico e emotivo, por tudo o que é irracional, o grande ingrediente da pós-modernidade. Não se entenda por isso que a razão é inimiga do coração. A própria razão adverte-nos que não é capaz de compreender tudo ou de erigir-se em princípio absoluto. A Igreja nunca falou apenas à razão. Soube utilizar, com sabedoria, outros códigos comunicativos, como o silêncio, os símbolos, os gestos e os ritos. Hoje não seguirá acriticamente os impulsos da irracionalidade, mas também defenderá a razão de absolutizações indevidas. Usará a razão e o sentimento ou, biblicamente, o coração. Espero que os bispos portugueses tenham aprendido mais a arte de comunicar, nas suas jornadas pastorais da última semana, em Fátima.
RO

São João

O pobre que faz cantando,
Do lar, cascata modesta,
Vê nos seus filhos brincando,
Os balõezinhos da festa!
Justino
Vencedor do 79.º concurso
de quadras JN

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 29


LENDA DA AMOREIRA



Caríssima/o:


Durante os anos que passei na Quinta das Lágrimas houve um grupo de colegas que, na altura, me parecia uma “lenda”. Eram de Macau: o António Lopes do Rosário, a Maria Ângela Teresa Fong e a Maria Edith Santos.
Rebusquei no baú e encontrei esta lenda que, além de lhes prestar uma pequena e sentida homenagem (e recordação!), tem para mim um sabor muito especial e me elucida quando afirma: “Foi assim que a menina linda e virtuosa se transformou em bicho da seda”.

«Na dinastia de Shang, muitos anos antes de Cristo, vivia, em terras da velha China, uma formosíssima donzela, muito rica e cheia de virtudes.
Um dia, o pai, que de manhã cedo partira a cavalo, desapareceu misteriosamente.
A virtuosa menina chorou amargamente, vestiu-se de luto carregado e recusou-se a receber fosse quem fosse antes de ver o pai.
Os ladrões da vizinhança diziam não o ter visto, os sacerdotes juraram que ele não tinha morrido, mas passou-se um ano sem saberem notícias dele.
A mãe, torturada pelas saudades e pelo desgosto, prometeu que daria a mão de sua filha a quem lhe descobrisse o marido.
Os mancebos da terra partiram alvoroçados, atravessaram rios e vales, mas foi tudo inútil. Começavam todos a desanimar, quando o cavalo que, naquela malfadada manhã tinha levado o seu dono, voltando sozinho, saiu a galopar pelos campos, trazendo o velho senhor há tanto tempo perdido.
A satisfação foi geral, fizeram festas e mais festas, apenas o pobre cavalo foi deixado triste e só na cavalariça. Deixou de comer e o seu ar de sofrimento fazia chorar as pedras.
Intrigado com tal atitude, o velho quis saber o que se passava e, quando a mulher lhe contou a promessa que tinha feito, mandou que se dobrasse a ração ao bicho, pois mais nada podia fazer.
As promessas de casamento cumpriam-se , mas não quando se trata de animais.
O certo é que o cavalo nunca mais tornou a comer e, quando a menina passava perto, ficava fora de si manifestando grande nervosismo. A tal ponto chegaram as coisas que resolveram matá-lo com uma flecha.
Depois de morto e esfolado, puseram a pele a secar, pendurada numa árvore, mas ao passar por lá a formosa donzela sentiu-se envolvida pelos restos do cavalo amoroso e levada pelos ares.
Dias depois apareceu a pele estendida noutra árvore, uma árvore estranha, completamente desconhecida, de cujas folhas se alimentava uma lagarta.
Foi assim que a menina linda e virtuosa se transformou em bicho da seda.
Os dias passaram e um dia apareceu aos pais, já muito velhinhos, montada no tal cavalo, e disse-lhes que era muito feliz e habitava um outro mundo.»


[Macau-Terra de Lendas, de Hermengarda Marques Pinto, pp. 28 a 30, Colecção Educativa, Série E, nº 1, XXVII, 1955]

:
E como esquecer meu Pai que, sendo nós criancinhas, trouxe para casa uns “bichos maravilhosos e a amoreira”?
Também não me ficará mal dar um abraço a quem durante anos e anos criou milhões de bichos e manteve essa arte de cultivar a vida numa caixa de cartão. De facto, só um Guerreiro cometeria essa ousadia!

Manuel

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

MONOS E HUMANOS:
ORIGEM E ORIGINALIDADES
:
O que é o Homem? Ao longo dos séculos, foram-se sucedendo, numa lista quase interminável, as tentativas de resposta: animal que fala, animal político (Aristóteles); animal racional (os estóicos e a Escolástica); realidade sagrada (Séneca); um ser que pensa (Descartes); uma cana pensante (Pascal); um ser que trabalha (Marx); um animal capaz de prometer (Nietzsche); um ser que cria (Bergson); um animal que ri, um animal que chora, um animal que sepulta os mortos... Saído da gigantesca aventura cósmica com 15 mil milhões de anos, o Homem tem, segundo Edgar Morin, "a singularidade de ser cerebralmente sapiens- -demens" (sapiente-demente), ter, portanto, com ele "ao mesmo tempo a racionalidade, o delírio, a hybris (a desmesura), a destrutividade". Recentemente, o filósofo André Comte-Sponville apresentou a sua "definição", que julga suficiente: "É um ser humano qualquer ser nascido de dois seres humanos." Mas será mesmo suficiente? O que dizer em relação aos primeiros homens, que, na História da Evolução, não nasceram de outros humanos? E se amanhã se der a clonagem e a partenogénese? Os grandes espíritos - Diderot, por exemplo - deram-se conta de que o que somos não pode ser encerrado numa definição. O Homem é o ser que leva consigo a questão do ser e do seu ser e que originária e constitutivamente pergunta: o que é o Homem? O que, antes de mais, une a Humanidade inteira é precisamente esta pergunta: o que é ser Homem? Se o chimpanzé, por exemplo, também sente, recorda, procura, espera, joga, comunica, aprende e inventa, o que é que nos distingue? Afinal, há muito de idêntico em nós e no chimpanzé, "no mono e no Papa", diz ironicamente o filósofo confessadamente ateu Michel Onfray. O professor de filosofia e o chimpanzé têm necessidades naturais comuns: comer, beber, dormir. A etologia mostra que há comportamentos naturais comuns aos animais e aos humanos. Veja-se, por exemplo, as relações de violência e de agressão e compare-se inclusivamente os rituais de cortejamento sexual. Mas é interessante constatar que já na resposta às necessidades naturais há uma diferença: os homens inventaram a cozinha e a gastronomia e também o erotismo. No entanto, escreve M. Onfray, "o homem e o animal separam-se radicalmente quando se trata de necessidades espirituais, as únicas que são próprias dos homens e das quais não se encontra nenhum vestígio - mínimo que seja - nos animais." Há nos humanos uma série de actividades especificamente intelectuais, que os distinguem radicalmente dos monos: nestes, não encontramos filosofia nem religião nem técnica nem arte. A tentativa de compreendê-lo no quadro de um materialismo mecanicista ou do biologismo não dá conta do Homem. De facto, o animal é conduzido pelo instinto. Por isso, esfomeado, não se conterá perante a comida apropriada que lhe apareça. Face à fêmea no período do cio, não resistirá. O Homem, pelo contrário, é capaz de transcender a dinâmica biológica. Por motivos de ascese ou religiosos ou até pura e simplesmente para mostrar a si próprio que se não deixa arrastar pelo impulso, é capaz de conter-se, resistir, dizer não. Foi neste sentido que Max Scheler, um dos fundadores da Antropologia Filosófica, escreveu que o Homem é "o asceta da vida", o único animal capaz de dizer não aos impulsos instintivos. Cá está: esta é a base biológica da conduta moral, uma característica essencialmente específica humana. Uma vez que o Homem é capaz de ponderar, renunciar, abster--se, optar, dizer sim, dizer não aos impulsos, é livre e, por conseguinte, animal moral. O Homem é corpo, mas um corpo que fala e que diz "eu". Porque fala, é capaz de debater questões, de defender pontos de vista, distinguir o bem e o mal, tomar posições sobre valores morais, políticos, religiosos, estéticos, filosóficos. Então, o enigma é este: provimos da natureza, mas contrapomo-nos a ela, somos simultaneamente da natureza, na natureza e fora dela. Monos e humanos têm a mesma origem, mas os humanos têm originalidades únicas e irredutíveis.

sábado, 23 de junho de 2007

São João

São João da Barra - Gafanha da Nazaré

FOGUEIRAS E SARDINHAS


Hoje vai ser noite de São João, um pouco por todo o lado. Cada terra com seus usos, uns persistentes e outros a caírem com o tempo, famosas são as festas em honra do precursor no Porto e em Braga, para lembrar apenas as mais famosas e cujos ecos chegam até aqui. Mas isso não quer dizer que nas Gafanhas e arredores não haja S. João, que esse santo, afinal, porque é um dos três santos populares, não pode ficar esquecido.
Nos meus tempos de menino e moço, o que lá vai há muito, por esta hora era um corrupio de romeiros a caminha da Barra, onde ainda existe a capelinha em honra do santo que baptizou Cristo, para depositarem aos pés do São João os cravos das suas promessas. Das suas promessas, pois claro, pois não é verdade que o santo se encarregava na altura de pedir a Deus que limpasse a pele dos suplicantes dos cravos, ou verrugas, que inexplicavelmente lhes deformavam a derme? Vinham eles (os romeiros, claro), de toda a parte, de perto e de longe, com seus farnéis, em jeito, também, de quem quer inaugurar a época balnear.
Agora já se perdeu esse hábito de vir ao São João em romaria. Os cravos ou verrugas já saem mesmo sem promessas, com um simples e adequado unguento, e até parece que o São João passou à história. E de tal modo assim é que, aquando da criação da paróquia da Praia da Barra, denominada da Sagrada Família, ninguém se lembrou dele para padroeiro daquela terra, a que tantas e tão boas recordações me ligam. Ninguém se lembrou, não! Eu lembrei-me, mas ninguém considerou oportuna a ideia. O São João já não fazia milagres (nem nunca os fez, acrescento eu, que isso é responsabilidade exclusiva de Deus) e portanto está tudo dito.
Ainda havia as fogueiras, em plenas ruas, para queimar o que havia a mais nos quintais. Saltava-se a fogueira entre risadas, cantava-se e dançava-se à roda, até às tantas, passava-se de rua em rua, a ver qual era a maior (seria?), os rapazes decerto para ver as moças e estas à espera deles, sempre sob os olhares curiosos e atentos dos mais velhos, bebiam-se uns copitos e pouco mais.
Agora, a música é outra. Há sardinha e mais sardinha, com boroa, caldo verde e vinho, mas o São João fica esquecido. As tradições, hoje, não são o que eram. Nem têm que ser sempre cópias fiéis de antanho. Respeite-se, no entanto, algo do essencial. O importante é que o povo se divirta, saudavelmente. Com ou sem marchas, com ou sem sardinhas, porque a alegria cura muitos males.

Fernando Martins

FOLCLORE


Sábado, 7 de Julho


Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré. Foto do meu arquivo

XXIII FESTIVAL NACIONAL DE FOLCLORE
DA GAFANHA DA NAZARÉ




Como manda a tradição, já com 23 anos de existência, vai realizar-se, no dia 7 de Julho próximo, sábado, o XXIII Festival Nacional de Folclore da Gafanha da Nazaré, com a participação de seis ranchos. A organização é, como desde a primeira hora, do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, com larga experiência nesta área.
Depois da recepção aos grupos e ranchos etnográficos e folclóricos, às 17.30 horas haverá uma visita à Casa Gafanhoa, um pólo museológico de bastante interesse etnográfico, com entrega de lembranças aos participantes e convidados. O desfile será às 21 horas, iniciando-se o festival propriamente dito meia hora depois.
O festival terá lugar na Alameda Prior Sardo e a oferta folclórica e etnográfica é variada, como convém. Assim, para além do grupo anfitrião, os apreciadores da cultura popular, que devíamos ser todos, pois que ela é sempre genuína e matriz de outras culturas, porventura mais eruditas, poderão admirar os ranchos da Casa do Povo de Nespereira, Gouveia; Folclórico da Associação Cultural e Recreativa Pouca Pena, Soure; Etnográfico de Santa Maria de Negrelos, Santo Tirso; Folclórico da Golegã, Golegã; e Folclórico “As Lavradeiras de Pedroso”, Vila Nova de Gaia.

NO CUFC - 4 de Julho

PARA UMA CIDADANIA RODOVIÁRIA
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O CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura) vai proporcionar, uma vez mais, bons momentos de reflexão. Desta feita, sobre um tema pertinente: Para uma Cidadania Rodoviária. Ninguém devia perder esta oportunidade, já que, como é sabido, os portugueses são peritos em provocar acidentes na estrada, fazendo tão grande número de vítimas mortais que colocam Portugal, percentualmente, na liderança da UE. O palestrante é um especialista na matéria, Luís Antero Reto, presidente do ISCTE (Instituto Superior dee Ciências do Trabalho e da Empresa), e a sessão vai ser moderada pelo Prof. da Universidade de Aveiro, Jorge Arroteia.

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