segunda-feira, 25 de abril de 2016

O Sonho de Abril

Crónica de Maria Donzília Almeida

25 de Abril
Este mês de abril é rico em efemérides e para acabar, aí temos mais uma vez, a comemoração da Revolução de Abril, que vai já na sua quadragésima segunda vez, consecutiva.
Quando, há 42 anos, explodiu ao som das baionetas o grito da liberdade, o povo estremeceu e começou a sonhar. 
Não foi tanto o espalhafato, a euforia incontrolada, a loucura do romper das barreiras que deixou o povo estonteado. Foi a esperança numa vida diferente, numa vida sem mordaças, mas que trouxesse alguma melhoria a quem sempre fora explorado.
Fizeram-se comemorações, de lés a lés, o país estrebuchou e deu largas à sua alegria incontida.
Passaram-se já 42 anos, já se ouviu chamar jovem democracia......mas, c’os diabos! As pessoas têm um tempo para crescer, para amadurecer, para se tornarem adultas! Não será infantilização, chamar-se ao regime em que vivemos, uma jovem democracia? Não terá já passado o tempo suficiente para que a “criança” tenha crescido e assumido postura de adulto?
Pela observação do que nos cerca, constata-se que afinal a democracia ainda não mostrou o lado bom, o lado da maturidade, da consolidação de propósitos e valores.
Vivemos num mundo sem amarras, é verdade, sem mordaças, é certo, mas que importa podermos dizer o que sentimos o que achamos sobre aqueles que nos governam, se nada é feito para alterar o que está mal?
O povo tem demonstrado sucessivamente o seu descontentamento, através de protestos, de manifestações, de greves, que paralisaram o país e.......nada. No antigo regime, não se podia falar livremente, era-se duramente penalizado! Engolia-se, em seco, aquilo que não se podia pôr cá para fora. E hoje? De que serviram as greves que os vários sectores da sociedade fizeram? Com uns pequenos arranjos de cosmética e tudo ficou na mesma.
Afinal, onde está o sonho deste povo trabalhador a quem acenaram com a promessa de uma vida melhor?
Entrevistado sobre o estado actual das coisas, no nosso país e sobre a concretização desse sonho colectivo, Ramalho Eanes, o 1.º presidente da república, democraticamente eleito, respondeu o seguinte: “O sonho fica sempre aquém da realidade! Estamos numa situação dramática pois enfrentamos um enorme endividamento do país e manifestamos fraca capacidade de poupança!”
Deparamos sim, com uma corrupção a grassar nos pólos mais influentes da vida social; a penalização das reformas no sector público, enquanto vemos a atribuição de reformas milionárias a elementos do sector bancário que exerceram cargos políticos e outros; a justiça a tentar camuflar os podres que minam o aparelho de estado! O desemprego que prolifera neste país, em consequência das fábricas que vão à falência, etc, etc, etc
Se auscultarmos o povo genuíno, este está desiludido, frustrado, quase já sem esperança. E... aquele sonho de outrora.....está a transformar-se no maior pesadelo de todos os tempos.
À memória ocorre aquela quadra de António Aleixo, bandeira da oposição ao regime derrubado:

Vós que lá do vosso império
Prometeis um mundo novo,
Calai-vos que pode o povo
Querer um mundo novo a sério! 

25.04.16

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