quinta-feira, 5 de julho de 2018

O maior navio de sempre no Porto de Aveiro





NOTAS:

1. Para quem, como eu, viu nascer e crescer o Porto de Aveiro, com a estrutura das últimas décadas, é sempre um prazer ler notícias destas.
2. Pessoalmente, assisti, há 10 anos, ao primeiro maior navio de sempre no Porto de Aveiro.

Eu conheço aquela cara de qualquer lado

Uma saudação a todos os nossos emigrantes 
que passam férias este ano entre nós

Em férias, minhas ou de outros, há muitos encontros inesperados. Em qualquer esquina, há rostos que me levam a pensar: — Eu conheço aquela cara de qualquer lado. É o tal déjà vu, reação do cérebro, julgo eu, que o leva a processar a questão para chegar a uma conclusão sobre os tais encontros inesperados. 
Ontem aconteceu-me precisamente isso. Numa grande superfície, quando me sentei para ler uma revista sobre assuntos de história, o N. olhou-me tão fixamente que me levou  a questioná-lo sobre se me conhecia. Mesmo antes de lhe lançar a pergunta, disse-me: — É de… no Canadá! Respondi que não. E a esposa, à sua frente, que apenas tinha visto de costas, logo acrescentou: — Foi confusão, desculpe. 
O sol obrigou-me a mudar de lugar e agora, voltado para a senhora, tirei uma conclusão, fruto do tal processamento do meu cérebro, que, como todos os cérebros, deve funcionar como os computadores. Os psicólogos saberão explicar melhor o que se passou. 
De imediato, levantei-me e dirigi-me ao casal. — Estou cá a pensar que vos conheço mesmo. Por favor, digam-me: — Moram por aqui perto de Aveiro? E a resposta foi pronta e em simultâneo: — Somos da Gafanha da Nazaré e estamos cá de férias, pois vivemos no Canadá. 

Fernando Martins 

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Férias — Escrever


Escrever
por prazer, por gosto, para ver
escrever para escutar o que o barulho comum encobre ou confunde
incluindo o barulho das palavras
Lavar as palavras até que elas fiquem
completamente puras e redondas e lisas
ou então ir pelos caminhos abundantes
ou então refazer, refazer indefinidamente
para abordar um pouco mais o que falta e insistir
escrever para chegar àquele ponto
que comunica com o que está para além e aquém de toda a palavra.


Maurice Bellet
In Cahiers pour croire aujourd'hui, Novembro 1993)
Trad.: MLPV/JTM

terça-feira, 3 de julho de 2018

"A Vida no Campo" — Leitura saborosa


Li, com a serenidade possível, “A Vida no Campo”, de Joel Neto, escritor que tive o prazer de conhecer no Porto, no lançamento do seu mais recente livro, “Meridiano 28”. Escusado será dizer que foi um prazer enorme saborear uma prosa tão escorreita, ou não fosse o autor um escritor de referência no panorama da literatura atual do nosso país. 
Joel Neto deixou Lisboa para fixar residência nos Açores, de onde é natural, concretamente na Terceira, local privilegiado para, no silêncio que convida à reflexão, escrever os seus livros e as suas crónicas que tem publicado no Diário de Notícias. Interrompeu essa colaboração há dias, para a retomar, porventura em janeiro, em moldes diferentes. Lia-as regularmente e muitas delas fazem parte do livro “A Vida no Campo”. O “Arquipélago” e “Meridiano 28” estão à espera de leitura em estante cá de casa. Serão, garantidamente, grandes momentos de satisfação interior. 
Das referências que li ao livro “A Vida no Campo”, registo a do crítico literário Pedro Mexia, publicada o Expresso, cujas sugestões sigo quando posso. Aqui fica: 

«A escrita é concisa, cuidadosa, composta palavra a palavra, sob pressão, de uma tranquilidade melancólica, atenta às mutações, aos hiatos, ao que fica do que passa. (...) "A Vida no Campo" é um "poema à duração". Um elogio da transmissão geracional, das boas pessoas, dos objectos herdados, da felicidade pela agricultura, do viver habitualmente. A Terra Chã desenha-se como uma hipótese de salvação pela Humanidade comum.» 

PEDRO MEXIA 

Há tempo para tudo



HÁ TEMPO PARA TUDO

Tudo neste mundo tem seu tempo;
cada coisa tem sua ocasião.

Há um tempo de nascer e tempo de morrer;
tempo de plantar e tempo de arrancar;
tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derrubar e tempo de construir.

Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar;
tempo de chorar e tempo de dançar;
tempo de espalhar pedras e tempo de as juntar;
tempo de abraçar e tempo de afastar.

Há tempo de procurar e tempo de perder;
tempo de economizar e tempo de desperdiçar;
tempo de rasgar e tempo de remendar;
tempo de ficar calado e tempo de falar.

Há tempo de amar e tempo de odiar;
tempo de guerra e tempo de paz.

Ecle. 3, 1-8

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Não há vidas sem saída



«Um náufrago foi lançado pelas ondas para as costas de um ilhéu deserto. Todos os dias perscrutava o horizonte na esperança de uma ajuda, mas não avistava ninguém no mar.
Os dias foram passando e ele conseguiu construir uma cabana. Um dia, voltando da caça para encontrar alguma comida, encontrou a cabana em chamas, enquanto que densas colunas de fumo subiam ao céu. Ficou desesperado.
Mas no dia seguinte eis que vislumbra no horizonte um navio a dirigir-se para o ilhéu. Tinha sido o fumo a impeli-lo na direção daquela ilha.»

Li aqui 

NOTA: Imagem e texto do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura


Em tempo de férias, olhemos para o que nos rodeia



Pondo de lado a hipótese, por circunstâncias conhecidas, de sair em gozo de férias, vamos olhar para o nosso concelho com olhos bem abertos. Paisagens de encantos vários e gentes de simpatia extrema bem justificam uma atenção mais atenta. 
Da nossa ria e do nosso mar vale sempre a pena falar, porque haverá recantos a descobrir, experiências a usufruir, riquezas a explorar. Vamos no período de férias por aí, sem precisar de muito dinheiro ou até sem ele. 
Passeemos pela borda-d’água, mergulhemos na laguna ou no mar em dias de calmaria. Utilizemos os trilhos assinalados pela Câmara Municipal de Ílhavo e descubramos o que há de antigo e de mais moderno, com a finalidade de compreender o porquê das coisas. Há folhetos bastante úteis que podemos encontrar nos Postos de Turismo, onde os houver, sobretudo nas zonas balneares do nosso município. E assim, mais esclarecidos, poderemos ficar no que é nosso. 
Todavia, não vamos supor que já sabemos e conhecemos tudo, porque não é verdade. Somos muitas vezes uns puros analfabetos acerca do que nos envolve, optando, vezes sem conta, por outras terras e outras gentes e desprezando as nossas realidades quotidianas e históricas.

domingo, 1 de julho de 2018

Tolentino Mendonça: O 48.º bibliotecário do Vaticano

Entrevista conduzida por Miguel Marujo 
para o  Diário de Notícias


«O padre e poeta português é o novo bibliotecário e arquivista do Vaticano, ele que já tinha orientado o retiro quaresmal do Papa. Em entrevista ao DN recusa a "lógica das influências" e fala da sede que desinstala

José Tolentino Mendonça estava convencido que orientava o retiro quaresmal do Papa - estávamos em fevereiro - e voltava ao seu trabalho em Lisboa. Mas Francisco desinstalou-o e chamou-o a Roma, agora, para ser o responsável da Biblioteca Vaticana e do Arquivo Secreto da Santa Sé, dando-lhe a dignidade de arcebispo.

Depois de ser o primeiro português a pregar os exercícios espirituais ao papa, Tolentino chegará a Roma recusando qualquer influência especial junto de Francisco. "Um retiro tem outra natureza, bem distante da lógica das influências. A voz que aqueles que fazem um retiro procuram não é certamente a do pregador. E mais. De uma forma despojada, nem é sequer a sua própria voz. A única voz importante é mesmo a de Deus que ressoa no silêncio do coração. Tudo o resto é acessório", confessou ao DN.
É esta lógica despojada com que responde sobre a sua nomeação. "Eu estava convencido que fazia o retiro e voltava ao meu trabalho em Lisboa, de que gostava muito."»

Ler toda a entrevista no Diário de Notícias

Diário de Notícias aposta em novos desafios



Os que me seguem neste espaço sabem que já tenho o Diário de Notícias (por extenso) na mão. Encomendei-o na véspera, não fosse o diabo tecê-las. E quando cheguei ao quiosque lá estava o jornal guardado, escondido dos olhares dos clientes. 
Folheei-o com avidez para apenas em casa o saborear com calma. E comecei, logicamente, pelo editorial (sem essa indicação, porém) do diretor Ferreira Fernandes. Bem no seu estilo, que aprecio. 
Cada parágrafo, mais ou menos, poderia servir de mote a esta minha primeira referência ao mais antigo quotidiano de Portugal Continental, agora renovado. Mas fico-me pelas notas, oportunas, neste tempo do vale tudo a nível da comunicação social, com duas ideias:   “A semana das boas notícias" e “crónicas “edificantes e de enternecer”. Infelizmente, estas opções têm dado lugar ao mal-dizer, às raivas e ódios de estimação, às notícias falsa. Só quando  o homem morde o cão ou há faca e alguidar, no sentido literal ou metafórico, é que alguns jornalistas acordam. "São estas que vendem", dizem-me. 
No meu Pela Positiva, nem sempre segui o que me propus fazer desde que abri esta minha janela para o mundo. Terei que rever esta minha posição. Obrigado pela sugestão, Ferreira Fernandes. 

Fernando Martins

Não há milagres? (1)

Bento Domingues

1. Falou-se durante muito tempo do milagre económico alemão. Quando se deseja criticar uma gestão económica e financeira diz-se: não há milagres! Em clima de religião barata vem o velho ditado: fia-te na Virgem e não corras! São apelos sensatos para que as iniciativas humanas sejam pensadas e planeadas a tempo, executadas com rigor. Não deixar as nossas decisões ao Deus dará, pois Ele ajuda quem se sabe ajudar. Afirmar que não há milagres nem sempre significa uma atitude ateísta ou negação da providência divina. Pode ser apenas respeito pela responsabilidade humana com uma conotação teológica: não invocar o Santo nome de Deus em vão. 
Não é aconselhável dar demasiada importância à linguagem do quotidiano que, raramente, é fruto de grandes cogitações como, por exemplo, eu cá sou ateu graças a Deus. Usa-se o vocabulário mais disponível, marcado pelo contexto social e cultural de uma população. Há zonas do país nas quais um palavrão é, apenas, um recurso simples e rápido, para acabar com uma conversa que não leva a lado nenhum.

sábado, 30 de junho de 2018

António Vitorino eleito para a OMI


António Vitorino foi eleito para a Organização Internacional das Migrações (OMI). "É mesmo verdade? É a melhor notícia que recebo hoje. É bom para Europa e refugiados", reagiu o presidente do Conselho Europeu.
Mais um português num alto cargo a nível mundial, esperando-o uma missão complexa no contexto atual das nações, com migrações em massa em fuga das guerras, das perseguições e da miséria.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Festa da Vista Alegre até 2 de julho



Até 2 de julho prossegue a Festa da Vista Alegre em honra de Nossa Senhora da Penha de França, venerada naquele lugar de São Salvador, Ílhavo.

Ver programa completo aqui 

Ecumenismo e proselitismo

Anselmo Borges

Na continuidade do seu empenho no diálogo ecuménico em ordem à unidade visível dos cristãos, bem claro nos seus encontros com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, a quem chegou a pedir a bênção, com o Patriarca Kirill, de Moscovo, depois de um milénio de costas voltadas, na sua ida a Lund, Suécia, para a inauguração das celebrações dos 500 anos da Reforma, o Papa Francisco, correspondendo a um convite para estar presente na celebração dos 70 anos do Conselho Mundial das Igrejas, esteve no passado dia 21 em Genebra. Uma viagem sob o lema "Caminhar, rezar e trabalhar juntos", apelando a "uma nova primavera ecuménica".

Como nasceu o Conselho Mundial das Igrejas? Para a sua criação teve papel relevante a experiência de conflito na missionação. Por isso, foi importante, em 1910, a Conferência Mundial das Missões de Edimburgo. Em 1920, o Patriarcado ecuménico de Constantinopla propôs a criação de uma "Sociedade de Igrejas", à semelhança da Sociedade das Nações. Em 1937-1938, responsáveis de mais de cem igrejas manifestaram-se favoráveis à criação de um Conselho Ecuménico das Igrejas, tendo a sua concretização sido adiada por causa da Segunda Guerra Mundial. Em 1948, na sequência da Guerra e das experiências que provocou, realizou-se a Assembleia fundadora do Conselho, com 147 membros. Actualmente, o Conselho é constituído por 345 Igrejas ou denominações cristãs de mais de 120 países, com representantes das antigas Igrejas ortodoxas, das Igrejas anglicanas, baptistas, metodistas e também das mais recentes ramificações do protestantismo evangélico, perfazendo na totalidade uns 500 milhões de cristãos. A Igreja católica não se conta entre os seus membros, também porque, ela sozinha, representa mais de metade do cristianismo no mundo, 1200 milhões, mas tem um estatuto de observador e participa na comissão doutrinal Fé e Constituição.

Dizer a verdade a Jesus, cura e liberta

Georgino Rocha

Jesus é recebido por uma grande multidão que o aguardava após a travessia do Lago de Tiberíades. Enquanto se detém à beira-mar, chega Jairo, chefe da sinagoga local. Vem muito aflito. A sua filha está a morrer. Procura ajuda, a última, pois as outras não haviam resultado. Ao ver Jesus, suplica-lhe com insistência: “Vem impor-lhe as mãos, para que se salve e viva”. E Jesus foi com ele, acompanhado pela multidão que o apertava, afirma a narração de Marcos.

Que cena maravilhosa! Jesus, sem guarda-costas, completamente à vontade, no meio da multidão. A sofrer empurrões de todos os lados. A olhar pessoalmente cada pessoa. A atender as urgências inadiáveis. Sem pensar em si ou na sua comodidade, sem medir perigos nem distâncias. Movia-o a paixão por aliviar o sofrimento humano, por enxugar lágrimas sentidas, por salvaguardar a vida. Que exemplo estimulante nos deixa como legado em herança.

No caminho, acontece o inesperado. A surpresa vem de uma mulher que sofría de fluxos de sangue, de feridas secretas, íntimas. Está “nas últimas”. Havia tentado tudo. Havia gasto o que possuía. E o resultado era nulo. Mas o seu coração não dormia e uma secreta confiança lhe advinha de Jesus de Nazaré de quem ouvira falar. Decidida, lança a aventura, quebrando todas as barreiras: a dos discípulos que rodeavam o Mestre, a das leis higiénicas e religiosas que proibiam o andar no meio das outras pessoas, a comitiva de Jairo que, apressada, guiava Jesus para casa.

A mulher sofrida mostra um proceder humano admirável. Proceder que São Gregório de Nissa, no livro sobre «a perfeição da vida cristã» sistematiza deste modo: “Há três coisas que revelam e distinguem a vida do cristão: a acção, a palavra e o pensamento. Entre estas, vem em primeiro lugar o pensamento; em segundo lugar, vem a palavra, que manifesta e exprime, por meio dos vocábulos, o pensamento concebido e impresso no espírito; depois do pensamento e da palavra, vem a acção, que põe em prática o que o espírito pensou”. Bela síntese que brilha na atitude desta mulher: pensa que pode surgir uma oportunidade; dá-lhe nome pessoalizado; e, depois, age de acordo com o “plano” gizado. É tão rica esta cena que nos vamos deter nos seus elementos principais.

terça-feira, 26 de junho de 2018

Padre Tolentino vai ser arcebispo e bibliotecário no Vaticano


O Papa Francisco nomeou hoje o padre José Tolentino Mendonça, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, para o cargo de arquivista e bibliotecário “da Santa Igreja Romana”, elevando-o à “dignidade” de arcebispo. 
A tomada de posse está marcada para 1 de setembro, anunciou a sala de imprensa da Santa Sé, e o futuro arcebispo recebeu a antiga sede episcopal de Suava, no norte de África. 
O Padre Tolentino, que na última Quaresma orientou o retiro do Papa e dos seus colaboradores na Cúria Romana, viu agora reconhecido o seu valor cultural e sensibilidade espiritual pelo Santo Padre, assumindo, em breve, a tarefa de dirigir a celebérrima biblioteca do Vaticano. 
Felicito o Padre Tolentino pela sua nomeação e elevação à honra de arcebispo, augurando-lhe os maiores êxitos na missão que passará a desempenhar. 

Fernando Martins

Ler mais informações na Ecclesia 

Ler mensagem do Presidente da  República

O sol está quase a chegar


O sol está quase a chegar e as temperaturas começam a subir. Ainda bem que assim é, por várias razões: o sol é fonte de vida e alegria; as férias para muitos estão à porta; todos precisamos de descontrair, com ou sem preocupações laborais; nem só de tristezas e aflições pode ser o nosso dia a dia; tem de haver vida para além das crises económicas.
Como a nossa vida é orientada e influenciada em grande parte pela comunicação social e pelos agentes económicos, sociais, religiosos e culturais, é certo e sabido que vamos pôr para trás das costas os problemas intrincados, as angústias dos défices, as complicações das incertezas profissionais e tudo quanto nos possa incomodar.
As televisões e demais órgãos de comunicação social estão atentos aos fenómenos cíclicos que marcam os nossos passos neste mundo competitivo, porque sabem que dificilmente poderemos viver em stresse permanente. Vai daí, já começaram a preparar a festa. O Campeonato do Mundo de Futebol está aí. Tudo o que é drama vai hibernar. Por uns tempos, claro.

Fernando Martins

Cuidado com os homens astutos

"Nada provoca mais danos num Estado 
do que homens astutos a quererem passar por sábios"

Francis Bacon, 1561-1626, filósofo 

Notas: 
1. Os astutos que querem passar por sábios estão por todo o lado. De modo que devemos fugir deles como o diabo da cruz. 
2. Por sugestão do PÚBLICO 

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Novas tecnologias na comunicação social


Tenho andado ligado à comunicação social escrita, e não só, desde muito novo. Sou de tempo dos jornais feitos com os tipógrafos a alinharem as palavras e as frases, letra a letra, com uma rapidez impressionante, saltando da caixa alta para a baixa e vice-versa. E quando era preciso substituir uma palavra ou frase havia, de vez em quando, um esgar crítico, ao jeito de quem queria perguntar: — Mas este indivíduo não podia ter visto o lapso antes? 
Depois, as tecnologias foram avançando, até que, com a informática, tudo começou a tornar-se mais simples. E por fim (nunca será o fim…) os jornais impressos começaram a tornar-se obsoletos, porque a comunicação social online começou a dar ao mundo, em cima da hora, todo o que é notícia, boa e má, numa visão imediata dos jornalistas e dos editores, notícias essas que a todo o momento podem ser, e são, reeditadas. 
Os jornais de papel passaram à história, quer queiramos quer não, por nem tempo haver para os ler. Quando muito, alguns, porventura os mais idosos, ainda os aceitam aos fins de semana. E não é verdade que as notícias nos vão chegando ao telemóvel, minuto a minuto, com notificações? 
O mais antigo jornal de Portugal continental, o Diário de Notícias, vai iniciar no próximo domingo, dia 1 de julho, uma nova fase da sua vida. Terá uma edição em papel, aos domingos, e, nos demais dias da semana, somente terá edições online. 
Com estes avanços, importa saber escolher as propostas adequadas às nossas sensibilidades e opções. 

Fernando Martins

domingo, 24 de junho de 2018

Joel Neto e a vida no campo

O meu filho Pedro com o escritor Joel Neto, no lançamento do seu mais recente livro, "Meridiano 28"
Na sua habitual crónica do DN, "A vida no campo", Joel Neto despede-se dos seus leitores, entre os quais me incluo, refletindo sobre o que não escreveu. Consultando o seu ficheiro de notas, enumera os temas que não abordou na sua coluna, evocando pessoas e acontecimentos. E nessa consulta não passou da página sete das 56 que tem o referido ficheiro. Contudo, nesta hora de despedida do DN, que a partir do próximo domingo se apresentará renovado, com uma única edição semanal em papel, passando no dia a dia a jornal online, Joel Neto promete voltar em Janeiro. 
As crónicas de Joel Neto têm um sabor intimista e mexem com a minha sensibilidade. Acabei  há dias a leitura do seu livro “A vida no campo” e hoje fiquei com pena de não o poder ler, ao menos com certa regularidade, na comunicação social. 
É curioso verificar que nunca fiz um ficheiro dos temas escritos e a escrever. Sou o rosto do caos em organização. E quando tenho de escrever, seja para os meus blogues seja para publicar noutro sítio qualquer, por iniciativa própria ou a pedido, enfrento naturalmente a questão: Mas eu já não terei escrito sobre isto? 
Pondo de lado essa preocupação, já que não vislumbro hipótese de passar a ordenar ficheiros sobre o que escrevi ou tenciono escrever, chego à conclusão de que nunca haverá perigo de me repetir porque os meus escritos, modestos, não passam dos horizontes da minha janela. 

Fernando Martins

Cristo não desempregou os santos (2)

Frei Bento Domingues


«Estamos no mês dos Santos Populares: a 13, Santo António, a 24, S. João e, a 29, S. Pedro. Esses santos mais antigos são valores seguros. Mesmo numa era secular e num Estado laico, as autarquias compreendem que são os santos da religião popular que marcam as festas do povo»

1. Não entendo nada do jogo do “monopólio”. Parece que é guiado por uma lógica económica muito simples: para uns jogadores ficarem ricos, os outros vão à falência.
Não pretendo encontrar aí uma analogia para a relação entre as religiões, mas sempre ouvi dizer aos críticos do monoteísmo que a sua vitória foi um golpe muito duro no pluralismo religioso da antiguidade. Um Deus único não poderia tolerar concorrentes. 
Não é essa questão, cheia de falácias, que pretendo abordar nesta crónica. A palavra Deus encobre significações muito diferentes. Lembrei-me desse jogo ao ler uma recente declaração do actual Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Luis Ladaria. Tenta ressuscitar a Carta Apostólica de João Paulo II – Ordinatio sacerdotalis – para reafirmar que o jogo do sacerdócio ministerial foi ganho pelos homens e a falência sacerdotal das mulheres é irremediável. A referida Carta defendia que o sacerdócio ministerial – de padres e bispos – é monopólio masculino e definitivo: sempre assim foi e sempre assim será.
Compreendo o zelo do Prefeito L. Ladaria. Perante a arremetida teológica, cada vez mais insistente, contra o monopólio masculino, reagiu segundo a sua função policial: lembra que a lei tem de ser respeitada. Mas não lhe pertencia repetir que esta nunca poderá ser alterada. Que um Papa tenha dito isso, obriga a um acurado reexame do que ele entendia por Igreja e da sua concepção dos seus poderes no futuro.

O Sporting vai ultrapassar a crise que o abalou



Será que o Sporting vai encetar novos caminhos, depois do caos que se instalou há tanto tempo à custa dos populismos? Esperamos que sim, porque o grande clube,  que congrega milhões de simpatizantes e muitos milhares de sócios,  não pode sucumbir de um momento para o outro. Bruno de Carvalho foi destituído democraticamente. 
A nível do futebol profissional, com jogadores em fuga pela incerteza instalada, a preparação da nova temporada precisa urgentemente de gente capaz de levar por diante a tarefa de pôr a “máquina” em andamento acelerado,  para o clube competir em pé de igualdade com os demais clubes da Liga Profissional. Os sportinguistas confiam nos que vão gerir o clube até às próximas eleições. 
Curiosamente, as secções respeitantes às muitas modalidades que fazem do Sporting o clube mais eclético do nosso país continuam a trabalhar sem sobressaltos, o que prova, à saciedade, que não foram afetadas pelo terramoto que atingiu em especial o futebol profissional. Ainda bem.

sábado, 23 de junho de 2018

Quando os padres se confessam…


Uma crónica de
P. Gonçalo Portocarrero de Almada

Faltava um livro que desse notícia dos padres que não são notícia, para contrapor às notícias dos padres que o são

(...)
«É conhecida a máxima daquele furioso anticlerical que se propunha enforcar o último sacerdote, com as tripas do último bispo! Não haverá muitos assim, mas abundam os que têm do padre uma imagem soturna: uma espécie de figura pré-histórica, relíquia da era das trevas e da ignorância, que as luzes da ciência e do progresso um dia irão desmascarar. Na melhor das hipóteses, o padre católico é um sujeito anacrónico, uma espécie de dinossauro em vias de extinção, um parasita social que, não só não produz qualquer riqueza, como explora a crendice dos mais incultos. Mas, será mesmo assim?
Para responder a esta pergunta, em boa hora a Aletheia decidiu “confessar” onze presbíteros portugueses, reunindo os seus testemunhos num livro agora editado e que, no próximo dia 27, vai ser apresentado por três mulheres: Aline Gallasch Hall de Beuvink, vice-presidente do Partido Popular Monárquico; Laurinda Alves, jornalista e cronista do Observador; e Margarida Neto, médica.»
(...)

Nota: Vale a pena ler toda a crónica no Observador

sexta-feira, 22 de junho de 2018

S.O.S. cristãos (2)

Anselmo Borges

1 Penso que ficou bem clara na outra crónica com este título a dramaticidade da perseguição dos cristãos no mundo. Quando se fala em cristãos não se pense apenas em católicos ou protestantes, pois é preciso incluir as várias famílias do cristianismo: coptas, assírios, siríacos, ortodoxos de várias liturgias, sofrendo todas actualmente o estigma da cruz. Só mais um exemplo terrível, apresentado na obra de Pilar Rahola: os fiéis da Igreja Ortodoxa Siríaca, que remonta ao século I e falando uma variante do aramaico, a língua de Jesus, eram uns 500 mil no início do século XX no Curdistão turco, mas hoje não vão além dos dois mil e tudo indica que a sua erradicação total está para breve.

2 Porque são perseguidos os cristãos? O sociólogo Javier Elzo, em Morir para Renacer, avança com algumas razões. Em primeiro lugar, porque o cristianismo é a religião com maior número de fiéis no planeta: 2300 milhões, sendo os muçulmanos 1700. Foi num século, entre 1910 e 2010, que este crescimento se deu, em detrimento, não apenas percentual, da Europa. Este aumento fora do Ocidente é visto em alguns países como uma ameaça: por exemplo, a China e a Arábia Saudita vêem--no como perturbador dos seus regimes. Os cristãos, minoria religiosa, étnica, social e cultural, são vistos como adversários da ascensão social da população autóctone, como acontece na Birmânia ou na Índia. Os cristãos são considerados como ligados ao Ocidente, sofrendo o antieuropeísmo e sobretudo o antiamericanismo, nem sempre sem razões para isso (pense-se na invasão do Iraque...). "A presença dos cristãos que adoptem como lei moral o amor gratuito e universal, não só para com os seus, e que prefiram o martírio a abjurar do seu deus, o Deus que professam, o Deus revelado em Jesus Cristo, pode tornar--se insuportável."