domingo, 20 de março de 2016

A Páscoa do escravo

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO

«Ao questionar a sua solenidade aos pés de gente, 
aparentemente, pouco recomendável, 
fez dele a bússola da Igreja.»

1. Graças a Deus, há sempre algum amigo que se julga encarregado de me chamar à “realidade”. Convidado para umas mini férias na Semana Santa, observei que, para mim, não era a melhor altura. O amigo não me largou sem uma viagem pela sua visão do mundo, em forma de sermão, que passo a resumir: isto já não vai com cerimónias, nem com as da Páscoa, nem com as outras. Estamos cercados de guerras por todos os lados e sem qualquer proposta para enfrentar a desordem mundial em que estamos mergulhados. A paixão pela dominação económica e financeira não recua diante de nada. O apelo aos direitos humanos tornou-se uma invocação de rotina.
A chamada UE já não sabe para que nasceu. A promovida divisão entre a Europa rica e a Europa pobre - divisão reproduzida também dentro de cada país – fabricou a burocracia que esvaziou o seu desígnio primeiro. Esquecida da responsabilidade solidária, parece que nenhuma refundação a poderá salvar. Continuaremos na dúvida se vale a pena discutir a dívida.

sábado, 19 de março de 2016

Vive com Jesus a sua paixão gloriosa

Reflexão de Georgino Rocha

«O amor de doação total
brilhará para sempre»

O domingo de Ramos constitui o pórtico da Semana Santa. Apresenta e celebra a Paixão gloriosa de Jesus. Faz ver as duas faces desta realidade histórica: a chegada à cidade de Jerusalém e o processo de condenação organizado por judeus e por romanos. Os rostos são muitos, embora os nomeados sejam apenas os que detém funções especiais: Lucas, o narrador do acontecido, recorre à sua fina sensibilidade e grande capacidade de observação e dá uma dignidade sóbria aos intervenientes e regista o alto sentido de cada passo daquele processo. Nele vão desfilando, um após outro, rostos em que o leitor se pode rever, por vezes, com grande precisão e clareza. Como num espelho. Nele se refletem os que, ao longo da história, sofrem o penoso calvário a que são são forçados: perseguidos, espoliados, indesejados, descartados.

A paixão e a política

Crónica de Anselmo Borges 

Anselmo Borges
Pascal observou agudamente nos Pensamentos: 
"Jesus estará em agonia até ao fim do mundo; 
é preciso não dormir durante este tempo." 
Todos sabemos do "calvário" do mundo, 
e as personagens são as mesmas.

1. Jesus sabia que, a continuar nas suas palavras, atitudes e comportamentos, o que o esperava era a morte, condenado pelos poderes religiosos e políticos. Assim, realizou uma ceia, a Última Ceia: "Isto é o meu corpo", "este é o cálice do meu sangue". Aquele pão e aquele vinho são a sua pessoa entregue, para dar testemunho da Verdade e do Amor.

2. Judas era discípulo, mas sentiu-se enganado, porque Jesus não tomava o poder. Assim, entregou-o, tendo recebido trinta moedas de prata. Depois, perdido, enforcou-se. De que valera aquilo? Mas o dinheiro, em conluio com o poder político, continua a ser o móbil da entrega de milhões de inocentes à ignomínia e à morte.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Ílhavo Sea Festival 2016

5 a 8 de agosto 
no Terminal Norte do Porto de Aveiro


O Município de Ílhavo prepara-se para receber,  de 5 a 8 de agosto, no Terminal Norte do Porto de Aveiro, alguns dos mais belos e interessantes Veleiros do Mundo, participantes na Tall Ships Races 2016, que farão a Cruise-in-Company entre Cadiz e A Coruña (Espanha), assim como outros que pretendam juntar-se à edição deste ano, o Executivo Municipal deliberou aprovar o programa de parceiros/patrocínios do Ílhavo Sea Festival 2016.

Ler mas aqui

quarta-feira, 16 de março de 2016

Georgino Rocha homenageado na gala “Vaga d’Ouro”



Georgino Rocha, sacerdote da Diocese de Aveiro e pró-vigário geral da mesma diocese, foi recentemente homenageado na XII Gala “Vaga d’Ouro” com o Prémio Carreira. A gala decorreu no dia 12 de março na Escola Profissional de Vagos, numa iniciativa do jornal “O Ponto” e da “Rádio Voz de Vagos”, contando com o apoio do Crédito Agrícola.
Como seu admirador e grande apreciador do muito que escreve numa perspetiva eclesial, mas com forte ligação aos mais altos valores que enformam homens novos para uma sociedade mais justa e mais fraterna, geradora de paz e harmonia, há anos convidei Georgino Rocha para colaborar no meu blogue Pela Positiva, oferecendo-nos uma reflexão semanal, tarefa que aceitou de imediato.
Considero o seu contributo uma mais-valia para os meus leitores, já que, no dia a dia da nossa existência não prescindimos de textos que nos ajudem a refletir a vida sob o ponto de vista dos valores do cristianismo que nos foram legados pelos nossos maiores.

Gestos com sentido

Editorial de Querubim Silva,
Diretor do Correio do Vouga


Querubim Silva
«Saber gerar sorrisos com arte, com delicadeza 
e elevação, não é para todos. 
Ele sempre foi mestre, e nobre mestre, 
nesta tarefa de abrir os corações e os espíritos 
ao sol do otimismo e da esperança»

O País toldou-se de cinzenta tristeza: Nicolau partiu sem avisar! E o seu humor vai fazer falta a muita gente. Saber gerar sorrisos com arte, com delicadeza e elevação, não é para todos. Ele sempre foi mestre, e nobre mestre, nesta tarefa de abrir os corações e os espíritos ao sol do otimismo e da esperança. Com critérios e pautado por princípios de um respeito assinalável pela dignidade da pessoa humana. E fê-lo com pontaria cirúrgica, com o seu sarcasmo político e social, denunciando vícios, ridicularizando comportamentos…, sempre de uma forma divertida e alegre. 
Vários dos comentários à morte deste ator, produtor e realizador, a quem a cultura portuguesa tanto fica a dever, sublinharam a sua condição de católico praticante, seguramente inspiradora da sua constante alegria, da sua amabilidade e afabilidade sem fronteiras. Pressentiu-se em alguns desses comentários o efeito do testemunho de fé deste insigne português, com uma afirmação, mesmo que hesitante, da convicção de que ele continua connosco e, porventura, a beneficiar-nos com a sua arte, agora junto de Deus.

terça-feira, 15 de março de 2016

Aldeias históricas

Crónica de Maria Donzília Almeida

Contemplação
Arco
Casa restaurada


Cegonhas 
Sortelha

«Se você deseja viajar longe e rápido, viaje leve. 
Deixe para trás todas suas invejas,
 ciúmes, incapacidade de perdoar, 
egoísmo e medos.»

Glenn Clark

"Por Terras de Portugal” é o título de um livro arrumado na estante, há já longos anos. “À Descoberta de Portugal” foi sempre o meu desiderato, tantas vezes adiado, por motivos profissionais. A minha ânsia de conhecer os lugares recônditos deste nosso torrãozinho natal, que encerram tanta beleza, começa a concretizar-se agora, nesta nova etapa da vida. Quando temos amigos a ajudar à festa… o sonho aproxima-se mais da realidade.
O projeto de fim de semana encaminhou-nos para terras do interior, com passagem pela cidade dos cinco “F’s”, cuja designação sempre me intrigou. Fiquei finalmente a conhecer o seu significado:
FORTE: a torre do castelo, as muralhas e a posição geográfica demonstram a sua força;
FARTA: devido à riqueza do vale do Mondego;
FRIA: a proximidade à Serra da Estrela explica este F;
FIEL: porque Álvaro Gil Cabral – que foi Alcaide-Mor do Castelo da Guarda e trisavô de Pedro Álvares Cabral – recusou entregar as chaves da cidade ao Rei de Castela durante a crise de 1383-85. Teve ainda fôlego para combater na batalha de Aljubarrota e tomar assento nas Cortes de 1385 onde elegeu o Mestre de Avis (D. João I) como Rei;
FORMOSA: pela sua natural beleza;

domingo, 13 de março de 2016

O gosto perverso de acusar

Crónica de Frei Bento Domingues 
no PÚBLICO

«Ainda persiste o gosto 
de novas formas de apedrejar 
"suspeitos" em praça pública


1. Bergoglio, desde que foi nomeado bispo de Buenos Aires, empenhou-se em transfigurar, a partir da sua prática, o imaginário religioso do confessionário. Viu que era preciso fazer dos lugares de tortura psicológica e moral espaços e tempos de festa, mediante a manifestação da misericórdia infinita de Deus no comportamento dos confessores.
O sacramento de reconciliação tem e teve muitos nomes, até o de "tribunal". Numa aula de teologia dos Sacramentos, um estudante, ao ouvir tal designação, exclamou: só podia ser um tribunal fascista! Para o Papa Francisco, o confessionário tornou-se um dos lugares da prática mais profunda da sua teologia da libertação e da sua actuação pastoral.
No passado dia 9 de Fevereiro, na celebração da Eucaristia, rodeado de franciscanos Capuchinhos, disse-lhes directamente: "a vossa tradição é a do perdão, oferecer o perdão". Só aquele que se sente pecador pode ser um grande perdoador no confessionário. Os que se julgam puros e mestres sabem apenas condenar.

sábado, 12 de março de 2016

Bem-aventurados os ricos!

Crónica de Anselmo Borges 

 "A raiz de todos os males 
é a paixão pelo Dinheiro"

1 Mais de mil milhões de pessoas têm de viver com menos de 1,14 euros por dia. A cada dia morrem de fome entre 30.000 e 40.000 pessoas (16.000, crianças). Em 2015, 6% apenas da população detinham metade da riqueza do mundo, mas neste ano de 2016 a situação agravar-se-ia, pois aquele número desceria para 1%, o que significa que a distribuição da riqueza seria a mais desigual de sempre, disse o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Nos últimos anos, tem-se assistido ao aumento da concentração da riqueza nos bolsos de uma elite cada vez mais restrita: entre 2010 e 2015, a fortuna dos mais ricos aumentou em cerca de 44%, mas o património dos mais pobres diminuiu. Os pobres, apesar de, em geral, estarem menos mal, são cada vez mais pobres. É o que acaba de confirmar o relatório da ONG Oxfam: o 1% dos mais ricos tem 50,1% da riqueza mundial. As 62 pessoas mais ricas do planeta possuem tanta riqueza como a metade mais pobre da população mundial: 3.600 milhões.
Os famosos "mercados", com a financeirização especulativa da economia, potenciados pelas novas tecnologias e pela falta de uma governança global, fazem, numa linguagem esotérica, inacessível ao leigo, jogos que causam crises em cadeia e que os mais pobres acabarão por ter de pagar. E também há trafulhice explícita, sendo um exemplo disso (só um exemplo) o construtor automóvel Volkswagen, que fez batota, ao falsear as emissões dos motores em caso de teste, derrubando assim, como lembrou A. Lacroix, a teoria de Max Weber, segundo a qual a Europa do Norte seria "mais séria e virtuosa" do que a do Sul.

Adúltera perdoada vai em paz

Reflexão de Georgino Rocha

«Todos possuidores 
de uma dignidade inalienável» 

Por que me trazeis apenas a mulher? Onde está o homem que a acompanhava quando foi apanhada em flagrante? Ninguém é adúltero sozinho. Sois cúmplices da sua fuga? Quereis sonegar a sua responsabilidade? Não sabeis ler o que Moisés prescreveu? “O homem que cometer adultério com a mulher do seu próximo tornar-se-á réu de morte, tanto ele com a sua cúmplice” (Lev 20, 10; cf Dt 22, 22).
Estas e outras questões decorrem do episódio protagonizado por escribas e fariseus que apresentam a Jesus uma mulher surpreendida em adultério e, em jeito de armadilha, querem saber o que fazer em tais situações. Cobrem-se com a autoridade de Moisés. Aguardam o parecer de Jesus que, parece, não tem alternativa. Ou diz pura e simplesmente: Cumpram a lei e negaria a misericórdia que tanto evidenciava na sua prática ou preferia esta e distanciava-se dos preceitos recebidos e religiosamente observados.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Um poema para amenizar a imaginação

Entrei no café com um rio na algibeira 

Entrei no café com um rio na algibeira 
e pu-lo no chão, 
a vê-lo correr
da imaginação... 

 A seguir, tirei do bolso do colete 
nuvens e estrelas 
e estendi um tapete
de flores 
— a concebê-las.

Depois, encostado à mesa, 
tirei da boca um pássaro a cantar 
e enfeitei com ele a Natureza 
das árvores em torno 
a cheirarem ao luar 
que eu imagino. 

 E agora aqui estou a ouvir 
a melodia sem contorno 
deste acaso de existir 
— onde só procuro a Beleza 
para me iludir
dum destino. 

José Gomes Ferreira 

NOTA: Poema da série "Café"

Onda de Solidariedade à volta da Rádio Terra Nova



A Rádio Terra Nova, 105 FM, foi alvo da fúria dos ventos fortes que caíram sobre a nossa região na noite de 14 para 15 de fevereiro. A queda da antena, base de sustentação para as emissões chegarem mais longe, cortou a voz à única rádio local a operar no concelho de Ílhavo e arredores, onde não falta espaço para o povo e suas instituições terem vez e voz que se faça ouvir, muito para além das fronteiras terrestres das suas origens. Graças às novas tecnologias, a RTN é ouvida praticamente em todo o mundo.
Não foi por acaso que, logo que foi notícia a queda da antena, através dos mais diversos órgãos de comunicação social, de âmbito local, regional e nacional, se elevou no éter uma onda de solidariedade para restituir voz à nossa rádio, numa ânsia de reerguer a antena, que todos, agora, admitem como indispensável à nossa maneira de ser e de estar no mundo, como cidadãos livres, responsáveis e atuantes nos processos democráticos e de progresso, com necessidades formativas, informativas e recreativas, base essencial da construção da cidadania a todos os níveis.

Visita ao Jornal de Notícias

Crónica de Maria Donzília Almeida

Redação do JN


No âmbito da disciplina História e Jornalismo,
ministrada na US (Universidade Sénior),
participei numa visita de estudo ao Jornal de Notícias

Regressar à “Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto” é sempre gratificante para quem aí passou momentos gloriosos de enriquecimento, nas suas vertentes de MMP (Mulher, Mãe e Professora). Foi nesta cidade, que convivi com a nata da sociedade portuense, nos domínios da cultura, da pedagogia e da literatura infantojuvenil. Aqui estão sediadas grandes editoras, em que a Porto Editora, a Civilização Editora e a Edições Asa são apenas algumas referências. Era comum nas escolas, conviver-se lado a lado, com os autores de manuais escolares.
O matutino Jornal de Notícias foi fundado a 2 de junho de 1888, no Porto e tornou-se num dos jornais de maior expansão em Portugal, a seguir à Revolução do 25 de abril de 1974.
Quando saiu para a rua, o Jornal de Notícias, dirigido por José Diogo Arroio, tinha quatro páginas de grande formato, custava dez réis e era vendido no Porto e arredores, Lisboa e Braga. A nível de conteúdo apostava em noticiário nacional e internacional e dedicava a última página à publicidade.
A tiragem inicial do matutino portuense rondava os 7500 exemplares por edição, mas começou a subir a partir de 1890, quando fez campanha política em favor dos regenerados. Pouco depois, foi introduzida uma inovação nas páginas do jornal já que em 1891 surgiram as primeiras gravuras com retratos dos principais implicados na revolta do 31 de janeiro.
O jornal, que ficou conhecido por JN, assumiu claramente a defesa do Norte e do Porto em 1911, na época em que mudou de instalações, para a Rua Elias Garcia.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Hoje ficámos ao pé da porta


Hoje resolvemos ficar ao pé da porta. Uma voltita para arejar, as compras necessárias da praxe e o almoço no restaurante “Traineira”. À entrada fomos surpreendidos pelo dístico em epígrafe, que nunca tinha lido nem ouvido, mas a que achei piada. A recomendação não foi seguida à risca nem sei se alguém a segue, mas não deixa de ser uma advertência a ter em conta. Bebemos o normal. De facto, há bebidas que estimulam outras e às vezes isso pode dar para o torto.
Há anos, em Trás-os-Montes, fomos visitar uma unidade industrial de engarrafamento de água. Conhecida como água de mesa, sem gás, era até a minha preferida. Na visita, o guia, solícito, foi respondendo às minhas questões, e a dado passo verifiquei que estava a sair, no tapete rolante, água com gás. Disse-me ele: 
— “Sabe, esta água com gás tem uma particularidade especial: quando bebemos uma garrafinha apetece-nos logo outra.» E explicou: — «O gás provoca a sensação de sede.»
No “Traineira” tivemos de aguardar que uma mesa ficasse disponível. Bom sinal, pensei eu. Comemos, por sugestão da casa, os pratos do dia. E saíram bem. Arroz de feijão com pataniscas de bacalhau, saborosas, fofas e bem temperadas, para mim; arroz de pato que agradou à Lita. A abrir uma sopa de legumes. Leite-creme queimado na hora e vinho da casa. Serviço rápido, simpático e preço acessível. 
A festa com a família será no domingo, se Deus quiser.

A Lita faz hoje 76 anos

Um beijo como flor 
especial para a Lita…

A Lita faz hoje 76 anos. Quando lho referi, disse-me incrédula que chegara aos 75. Depois rimo-nos. Às vezes sabe bem esquecer um ano que seja. Diga-se de passagem, contudo, que a vida não é só a que o calendário inexoravelmente regista e os documentos atestam. A vida não tem idade no dia a dia da nossa existência terrena. Cada minuto com sonho lindo apaga anos de sombras indefinidas. 
Vamos dar uma volta por aí, saboreando o ar fresco tocado pela brisa marinha. Acalentados pelo céu azul que nos dá horizontes de paz, saberemos reconhecer o que de bom nos ofereceu um matrimónio com mais de meio século.
Almoçar onde calhar, falar do passado sem amarguras por horas menos agradáveis, mas certos de que o presente continua a garantir-nos, a nós que somos otimistas, um futuro repleto das bênçãos de Deus. 
Com um incómodo de saúde aqui ou ali, agora ela depois eu, ambos em simultâneo as mais das vezes, o rolar da vida vai passando por invernos frios, logo seguidos de primaveras e verões reconfortantes… E o outono da existência não nos rouba a alegria dos filhos, netos e demais familiares, nem a simpatia de amigos sem conta.

Fernando Martins

quarta-feira, 9 de março de 2016

Pelo Portugal de sempre

Presidente da República

Pelo Portugal de sempre
Nós, portugueses, continuamos a minimizar o que valemos.
E, no entanto, valemos muito mais do que pensamos ou dizemos.
O essencial, é que o nosso génio  —  o que nos distingue dos demais 
— é a indomável inquietação criadora que preside à nossa vocação ecuménica. 
Abraçando o mundo todo.
Ela nos fez como somos.
Grandes no passado.
Grandes no futuro.
Por isso, aqui estamos.
Por isso, aqui estou.
Pelo Portugal de sempre!
Marcelo Rebelo de Sousa
Marcelo Rebelo de Sousa


Ainda ontem: Canal Central



















Ontem caminhei junto ao canal central da cidade de Aveiro. Olhei para a estátua de João Afonso, o de Aveiro, que registei em sua homenagem como símbolo dos intimoratos navegadores de D. João II, os tais que deram novos mundos ao mundo. E passei adiante que tinha recomendações para caminhar… caminhar, não vá dar-se o caso de se me prenderem as pernas!
Fixei-me então nos moliceiros e aparentados que no canal estão à espera de turistas para poderem apreciar a cidade de outros ângulos, nem que seja a correr, como observei. Com pena não vi, de quem dirige as operações, quaisquer sinais de esclarecimentos dirigidos aos passageiros, no sentido de saírem mais ricos da viagem. Assunto a rever pela organização destes passeios, se é que estou enganado.
De máquina em punho fui gravando painéis de proa e ré dos barcos que ali estão ao serviço do turismo local.
Aqui ficam para deleite de quem aprecia sinais de arte do nosso povo.

terça-feira, 8 de março de 2016

Dia Internacional da Mulher


 A mulher ainda precisa do seu dia especial com data marcada no calendário. O homem não precisa desse dia especial para si próprio, porque se considera o rei da criação. O homem tem todos os dias por sua conta. É ele que manda em quase tudo. A mulher ainda luta por estar em pé de igualdade com o homem em muitas áreas. Em muitas tarefas profissionais ganha menos quando faz o mesmo que o homem. Na liderança, em vários setores, é preterida em favor do homem. O homem é o sexo forte, mesmo sendo frágil; a mulher é o sexo fraco mesmo sendo forte.
Na política barram-lhe a subida apesar do mérito, da sensibilidade, da persistência e da intuição. Mas quando tem campo aberto lidera.
Nas universidades e no ensino é maioritária; na investigação dá cartas; nos cuidados médicos e nas artes bate-se em pé de igualdade; no desporto agiganta-se; e na família cuida, amamenta, espalha ternura, acarinha, estimula, abre horizontes, ama incondicionalmente. E apesar da aparente fragilidade ainda consegue acumular duas profissões: Uma remunerada, a do emprego;  e outra não remunerada, a de casa,  por amor.

Somos Livros


Em Aveiro, cidade de que gosto,  passei pela livraria Bertrand como é costume. Para ver livros e para comprar se houver apetite para isso. Por vezes fico com ideias que só concretizo noutra maré. Olhei para um texto já meu conhecido, que não sei se já o divulguei por aqui. De qualquer modo, cá está ele...
Boas leituras.

domingo, 6 de março de 2016

Um contador de histórias subversivas

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO

«A Eucaristia é um convite para a festa, 
para a festa de Deus revelada nos gestos 
e nas palavras de Jesus.»

1. Segundo os evangelhos sinópticos [1], Jesus não deu nenhum contributo para o avanço das ciências, nem revelou um grande pendor metafísico, embora não faltem investigadores que, hoje, o reconheçam como um filósofo.
O facto é que não deixou nada escrito. A sua breve intervenção pública acabou num fracasso tão vergonhoso, que ninguém poderia descobrir alí qualquer caminho de futuro. Aconteceu que os seus seguidores, depois de várias crises, não recalcaram a sua memória. Alguns judeus continuaram a ver, naquele carpinteiro de Nazaré, o messias esperado; outros recusaram-no, o que nada tem de surpreendente. Passados dois mil anos, Daniel Boyarin, conhecido especialista do Talmude, observa que se há alguma coisa que os cristãos sabem bem a propósito da sua religião é que ela não é o Judaísmo.

sábado, 5 de março de 2016

Aliança Underground Museum — Uma visita obrigatória

Buda em meditação



Mandíbula de dinossauro
Visitar o Aliança Underground Museum estava no rol dos meus propósitos há muito tempo. Como não sou pessoa de pensar e logo realizar, fui adiando a visita ao Museu Subterrâneo Berardo instalado nas Caves Aliança. Mas hoje aconteceu. Com o meu filho primogénito Fernando, como ele próprio se identifica, lá fomos, incluindo na viagem uma visita a um amigo que está doente há vários meses. Este, aliás, foi o primeiro objetivo do passeio que programámos para hoje. Depois do almoço, com o célebre Leitão da Bairrada a pontificar, a visita ao amigo foi comovente. 

Mineral
Quando os amigos adoecem, ficamos sempre com a sensação da nossa finitude. Sobretudo quando não temos nem conhecemos forma científica de lhes valer. É o caso. Como crente, entrego nas mãos de Deus o meu amigo sofredor, mas muito lúcido,na esperança de que recupere o mais depressa possível.
A ida ao museu veio mais tarde. Visita guiada, que doutra forma seria impossível, tal a riqueza e a quantidade dos objetos expostos, num casamento perfeito entre arte, produção, armazenamento e comercialização vinhos, onde predominam os espumantes, destinados grandemente à exportação, com a marca das Caves Aliança a selar este setor, de que o Comendador José Berardo é seu principal proprietário.

Arte africana
Deixando os vinhos de lado, muito embora sejam a razão de ser da coleção do Comendador Berardo em terras bairradinas,  voltemo-nos para o que os nossos olhos viram de expressivamente belo e digno de outras visitas sem pressas, a que o guia, conhecer do que está exposto e do todo que são as empresas e coleções daquele colecionador, empresta vivacidade e conhecimento a quem o acompanha.
Impossível se torna para mim, que regressei a casa há pouco tempo, descrever com pormenor o que os meus olhos contemplaram  e os meus ouvidos captaram. De qualquer forma, retenho na memória as coleções de arqueologia e etnografia de várias regiões africanas, escultura, coleções de minerais e fósseis com milhões de anos, cerâmica das Caldas, azulejos de diversos séculos, estanhos que só podem ser vistos através de grades de segurança, pinturas antigas e contemporâneas, móveis e um sem-número de objetos criteriosamente selecionados para encanto de quem gosta de arte desde o homem primitivo até ao homem dos nossos dias, de todos os quadrantes do mundo.

Cabeça de dinossauro

A coleção do Comendador Berardo não se limita a umas tantas salas ou salões, mas espalha-se por corredores e subterrâneos, lado a lado com vinhos tintos e brancos, aguardentes e espumantes, em pipas de carvalho francês e russo, talvez ainda de outras origens que não fixámos, depois em garrafas, antes de seguirem viagem para as nossas mesas e festas. 
Depois destas rápidas considerações aqui fica o meu apelo: Se puderem ou quando puderem não percam a oportunidade de visitar as Caves Aliança, em Sangalhos, mas não deixem de marcar reserva por telefone (234 732 045).

Horário das visitas: 10h|11h30 – 14h30|16h.

Todos os dias do ano, exceto 1 de Janeiro, Domingo Páscoa, e 25 de Dezembro.

Fernando Martins

Santuário de Schoenstatt — O silêncio à nossa espera

Santuário de Schoenstatt
Se não tiver nada que fazer… Se gostar de apanhar ar fresco… Se quiser encontrar-se consigo mesmo… Se preferir meditar um pouco… Se lhe apetecer sentir a força do silêncio… Se amar a riqueza da natureza… Se tiver necessidade de viver a quaresma… Se aceitar buscar Deus… Passe um dia destes pelo santuário, mas vá sozinho.
Bom fim de semana.

Os dois pais, a liberdade, Spotlight

Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias


«A Igreja Católica tem muitos e graves problemas 
para resolver, mas a questão da reconciliação sã 
com a sexualidade é fundamental»

A. Foi uma chuva de críticas contra o disparate do BE com o cartaz "Jesus também tinha dois pais", que pretendia celebrar uma causa justa: a não discriminação na adopção. Cito: "campanha infeliz", "ofensivo", "desrespeitoso", com "teor sexista", "de mau gosto", "estúpido", "imbecil", "provocação bacoca", no meio da bebedeira do poder... Alguém sugeriu que, se se quer mostrar força, faça--se algo parecido com imagens do islão. Por mim, disse e repito: A frase, "mais do que infeliz, é ridícula. Onde está a graça? A mim não me ofende e a Deus também não, porque o ridículo só atinge quem o produz". De facto, Jesus teve dois pais, como qualquer um ou uma de nós: um pai e uma mãe. O cartaz é um tiro no pé.

Abraço do pai acolhe filho reencontrado

Reflexão de Georgino Rocha


“O meu filho voltou à vida. 
Foi reencontrado. Façamos festa”

A parábola do “filho pródigo” atinge o seu momento mais expressivo no abraço do Pai que, pacientemente esperava o seu regresso. A narração é uma maravilha saída da pena de Lucas. A mensagem é um primor que Rembrandt visualiza de forma magistral. Os protagonistas apresentam traços humanos do rosto de Deus que Jesus insistentemente quer que os seus interlocutores acolham, admirem e apreciem. A Igreja prolonga na história a missão de Jesus e esforça-se por lhe ser fiel e por fazer brilhar em si e nos seus membros a ternura, o calor e a misericórdia que transparecem naquele gesto familiar. Os cristãos ficam constituídos em seus discípulos missionários pelo estilo de vida e pela prática de obras de justiça impregnada de amor de serviço generoso.

Auto da Barca do Inferno

Crónica de Maria Donzília Almeida

Elenco 

«Vocês, artistas que fazem teatro em grandes casas, sob sóis artificiais diante da multidão calada, procurem, de vez em quando, o teatro que é encenado na rua. Cotidiano, vário e anónimo, mas tão vivido, terreno, nutrido da convivência dos homens, o teatro que se passa na rua.» 

Bertolt Brecht

Fidalgo

No dia 29 de fevereiro, a Companhia de Teatro (!?) da US levou à ribalta, no Museu Marítimo de Ílhavo, o Auto da Barca do Inferno, trazendo colorido ao último dia de um mês tenebroso em termos de meteorologia. Em parceria com a autarquia e num intercâmbio com as escolas do município, foi proporcionado aos alunos do 9º ano a visualização desta peça de teatro que faz parte do programa de Língua Portuguesa. Da teoria, passaram à prática. Constitui uma forma de enriquecimento das aprendizagens em contexto de sala de aula, já que os alunos, nesta faixa etária, não acham grande piada às opiniões que Gil Vicente tinha da sociedade da época.
Tive a agradável surpresa de ver, na assistência antigos alunos , acompanhados dos seus professores, meus colegas. Houve acenos e sorrisos cúmplices que se mesclaram com a nostalgia dos tempos áureos da teacher . Senti-me duplamente em casa.