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sábado, 13 de outubro de 2012

11 de Outubro de 1962

Por Anselmo Borges,
no DN



Devemos discordar desses profetas das desgraças, que anunciam acontecimentos sempre funestos, como se o fim do mundo estivesse próximo." A Igreja quer ir ao encontro dos homens nas suas alegrias e esperanças, nos seus problemas e dificuldades. "Nos nossos dias, a Igreja de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade: julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validade da sua doutrina do que condenando erros."

Foi com estas palavras que o Papa João XXIII inaugurou há 50 anos, precisamente no dia 11 de Outubro de 1962, o Concílio Ecuménico Vaticano II, um dos acontecimentos maiores do século XX - o Presidente da França, Charles de Gaulle, considerou-o "o mais importante". Nele, como ironicamente escreveu a Der Spiegel, deu-se "uma viragem copernicana, na qual Roma confessou que o Céu talvez ainda gire à volta da Basílica de São Pedro, mas a Terra não".

sábado, 22 de setembro de 2012

Um serviço aos outros com sentido e dimensão


Por António Marcelino

«Paróquia que não se abre aos leigos ou que os aprecia apenas pelo serviço que prestam no templo, é paróquia que perde a sua fisionomia de comunidade eclesial e empobrece cada ia no seu esforço de evangelização. Certamente que também os leigos não podem deixar de ter obrigações para com o padre e a comunidade. Um serviço por vocação, a tempo pleno, não dispensa as manifestações de respeito, acolhimento, amor e compreensão, ajuda concreta dos leigos para com o seu pastor.»

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A história ampliou as suas mazelas e calou as suas grandezas






TESTEMUNHO QUE É APELO PERMANENTE A TODA A IGREJA

Por António Marcelino

O decreto conciliar sobre a Vida Religiosa está orientado no sentido da sua renovação. A Constituição sobre a Igreja dedicara já um capítulo aos religiosos, como parte privilegiada do Povo de Deus. Aí se insiste que a profissão dos conselhos evangélicos tem o valor de “um sinal que pode e deve atrair eficazmente todos os membros da Igreja a cumprirem com diligência os deveres da vocação cristã”. Neste sentido, se pode dizer que a vida consagrada é um dom de Deus à Igreja, que entra na sua estrutura, não pela via hierárquica ou institucional, mas carismática e profética. É, portanto, um dom divino que se traduz como resposta a necessidades do Povo de Deus ou da comunidade humana.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Formação dos novos padres e promoção vocacional


Por António Marcelino




«A crise vocacional, a nível do país, persiste. Numa ou outra diocese notam-se sinais de melhoria. O seminário menor foi dando lugar ao pré-seminário ou ao seminário em família, e decresceu em muitos padres e comunidades o interesse por novas vocações. Estas exprimem-se agora mais em idade adulta e com jovens vindos das universidades, alguns com cursos já completados.
Passados cinquenta anos, à luz ainda bem viva do Vaticano II, torna-se de novo necessária uma reflexão cuidada sobre escolas teológicas, seminários, vocações e formação pastoral dos novos padres.»

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Bispos não são ornamento

Um forte sentido de pertença
Por António Marcelino


«A Igreja Diocesana não é uma empresa de eventos. É uma comunidade fraterna viva, com uma missão espiritual e humanizadora concreta, no seio da comunidade humana. Um mundo em mudança, e plural nas suas diversas expressões, tem exigências pastorais novas que não se podem ignorar ou iludir, muito menos reduzir a ação a conservar o já existente. O bispo, com os seus colaboradores, é uma sentinela vigilante que lê os sinais dos tempos, mas, acima de tudo, é um coração sensível às inúmeras necessidades emergentes, que o levam, em comunhão eclesial, à promoção contínua de uma ação pastoral orgânica e adequada, em clima sinodal, ou seja, realizada por todos e com lugar para todos.»

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Para além da devoção, um caminho sempre aberto


Por António Marcelino




«É bem manifesto que a nada o povo cristão será tão sensível que ao amor e devoção a Maria, Mãe de Jesus. Não há pequeno ou grande templo onde não se encontre uma sua imagem de seus diversos títulos e invocações. O mesmo se passa nas casas de família. A compreensão de que “se vai a Jesus por Maria” deve partir desta realidade devocional para revelar os mistérios da salvação e estimular no caminho andado por Maria, fiel à vontade de Deus Pai e à identificação com o seu Filho, no cumprimento do seu desígnio de amor redentor, gratuito e universal. Maria é sempre Mãe e Mestra.» 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Dimensões da Igreja ainda pouco explicadas


Por António Marcelino




«Numa Igreja que é santa, pelo Espírito que a anima, mas sempre necessitada de conversão e de purificação, todos os seus membros são chamados, de igual modo, a caminhar, na sua vida diária e de modo consciente e livre, para adquirir, à sua medida, a perfeição querida por Deus e a todos acessível. Ser santo não é privilégio de alguns, é possibilidade de todos. E é na vida do dia a dia, com os seus trabalhos e canseiras, alegrias e desgostos, êxitos e fracassos, que se vai processando o caminhar à maneira e à medida de Cristo. O caminho é sempre o do amor a Deus e ao próximo, porque sempre a caridade será o vínculo da perfeição.» 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Privilégios de tempos idos

Por António Marcelino 






«Antes do Concílio, aos leigos, como membros da comunidade eclesial, apenas se referiam dois cânones e, mesmo assim, negativos e restritivos. Acrescentavam-se mais alguns sobre as formas associativas que, para os leigos, não iam além das Ordens Terceiras, Confrarias e Pias Uniões, normalmente de iniciativa de clérigos ou de ordens e congregações religiosas. Foi famosa a polémica entre canonistas quando se tratou de se ver onde “encaixar” a Ação Católica (AC). Uma voz livre e lúcida perguntou, então, se a criatividade e a inovação na Igreja estavam fechadas e se não se devia considerar a AC como uma expressão nova, que não tinha de se enquadrar nas formas tradicionais…» 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Purificação da Igreja, um exemplo que veio de cima

Texto de António Marcelino 





«A Igreja torna-se insignificante para a sociedade, sempre que a sua coerência não é transparente, olha mais para si própria e se apoia numa história, que não é a da salvação. Com olhos turvados por atavios inúteis, alheios ao exemplo de Cristo e do Evangelho e a uma sociedade mais esclarecida, a Igreja conciliar apaga-se. Os 50 anos do Concílio Vaticano II são um grito de alerta para quem o souber e quiser ouvir.»

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Povo de profetas, sacerdotes e reis

Texto de António Marcelino




É o Povo de Deus que expressa a presença e a ação divina na cidade dos homens. Os seus membros, incorporados em Cristo, são, com Ele, profetas, sacerdotes e reis. São assim por dom de Deus e não podem furtar-se a realizar a sua missão no mundo, segundo a sua vocação de leigos, consagrados ou ministros ordenados. 
Profetas na família, na convivência diária, no trabalho, no lazer, na vida pública, porque sempre e em todas as ocasiões se pode e deve iluminar a vida com a luz da Palavra. O profeta não fala de si, mas daquele que o enviou, o assiste, o torna atento aos sinais, o impele a agir, o faz irmão do seu irmão e sempre reconciliador de todos, crentes e não crentes.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Só a partir do alto se pode compreender e aceitar a Igreja

Texto de António Marcelino


«Não se concebe a Igreja a partir do Papa e dos Bispos, mas a partir de Cristo e do seu projeto, no qual a hierarquia é chamada a servir e não a ser servida.»


A compreensão da Igreja não parte da hierarquia, mas de um desígnio livre de Deus. A capacidade de entender passa pela porta de uma fé viva. A Constituição “Lumen Gentium” abre novos horizontes à eclesiologia com o capítulo essencial e primeiro: O Mistério de Deus. Que mistério é este? Hoje já revelado, a sua compreensão não parte do nada, mas de um acontecimento que na história foi ganhando forma. Um projeto que tem origem no amor e se vai realizar num Povo de crentes, que será também um Povo de irmãos e de irmãs. Povo sem fronteiras, sem raça nem cor, que nasce do dom que se faz amor onde todos cabem.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Das ambiguidades do tempo à clareza conciliar

Texto de António Marcelino



«Em outubro de 1962, Congar, referindo-se a Helder Câmara, o bispo pequeno de coração grande, que vinha inovando e gritando do outro lado do Atlântico, disse, de forma emblemática: “Ele possui aquilo que falta em Roma: a visão”»


É nesta perspetiva que podemos situar a reflexão conciliar sobre a Igreja. Ao contrário do que vinha de trás, o Concílio não nos deu uma definição de Igreja, mas mostrou-nos como ela corresponde à iniciativa de Deus, os seus elementos essenciais, a dignidade dos seus membros, a sua missão e a vocação de plenitude. A dimensão bíblica e espiritual põe de lado ou dá outro sentido aos elementos hierárquico, jurídico e apologético, até ali dominantes.

sábado, 17 de março de 2012

VATICANO II: 50 anos depois

Texto de Anselmo Borges,
no DN


Este ano passam 50 anos sobre um dos acontecimentos mais importantes do século XX: o Concílio Vaticano II, que o Papa João XXIII abriu em Outubro de 1962. Sem ele, é impossível imaginar o que seria hoje a Igreja Católica e, por arrastamento, o mundo.
Quem não viveu a situação e quiser aproximar-se do que era então a Igreja vá ler os manuais de teologia dogmática, de teologia moral, de direito canónico, de liturgia, pelos quais estudavam os futuros padres antes do Concílio. Pense-se, por exemplo, que, na década de 50 do século XX, ainda se proibia às freiras a leitura da Bíblia e que estava em vigor o Índex ou catálogo dos livros proibidos aos católicos, onde figuravam não só teólogos e críticos da Igreja, mas também os pais da ciência e da filosofia modernas e grandes nomes da literatura.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Nova linguagem, nova maneira de comunicar

Texto de António Marcelino



«Será bom que os jornais de entidades ligadas à Igreja, não excluindo as pequenas folhas que por aí se distribuem aos domingos, vejam se são veículos de comunicação ou maneira de desfear o rosto da Igreja, pelo dizem e pelo modo como o dizem. Não obstante o muito que de bom se faz, há sempre campo para rever e melhorar.»  

quinta-feira, 8 de março de 2012

Homilia, momento privilegiado e de grande sentido pastoral


Texto de António Marcelino
no Correio do Vouga


«Ainda presenciei, na década de trinta, como “menino do coro”, este facto curioso. No momento da homilia, os homens saiam para o adro. A ouvir o padre ficavam as mulheres. Não me recordaria deste quadro singular se não me fosse dado ir à porta da sacristia, a um sinal do padre, tocar uma campainha para chamar, de novo, os homens ao templo…»

quinta-feira, 1 de março de 2012

A Igreja foi, ao longo da sua história, promotora da arte e da beleza



Outros aspetos da vida litúrgica

Um artigo de António Marcelino


Não sendo meu propósito ter comentado, ponto por ponto, a Constituição da Liturgia, parece útil falar de outros temas importantes ligados à reforma litúrgica, tais como: o ofício divino, o ano litúrgico, a música sacra, a arte e os objetos sagrados. 
O ofício divino, também nomeado “liturgia das horas”, é entendido como oração da Igreja, Corpo de Cristo, que consagra ao louvor do Pai as horas do dia e da noite. É uma tradição de séculos dos mosteiros de monges que depois se estendeu, como dever diário, aos padres e aos consagrados. Esta ação litúrgica comporta o Ofício de Leituras, a oração de Laudes e de uma Hora Intermédia (Tércia, Sexta ou Noa), Vésperas e Completas. O Ofício é mais simplificado do que o rezado pelos monges, daí chamar-se-lhe “Breviário”, mas tem o mesmo sentido, como expressão viva da Igreja Orante. O pároco reza-o pelo povo que lhe foi confiado. É constituído por hinos, salmos, leituras bíblicas e outras da tradição ou da actualidade eclesial e preces, de carácter universal. Trata-se de cuidar que a vida cristã, pessoal e comunitária, seja um orar permanente que dê sentido de louvor ao trabalho do dia, interrompido, de quando em quando, para a oração explícita. O Concílio recomenda aos padres que levem os leigos a participar neste louvor da Igreja, individualmente, em família e em comunidade cristã, de modo adaptado à sua condição laica. E o façam, sobretudo, com a recitação das Vésperas dominicais. Há padres com este cuidado e paróquias que já assim fazem.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

PONTO ESSENCIAL DA VIDA DA IGREJA

Um artigo de António Marcelino

Foi na celebração da Eucaristia, a partir do Concílio, que o povo cristão melhor captou, por certo, o sentido da liturgia conciliar. Pôde, então, perceber que há uma unidade na celebração que não se pode menosprezar e muito menos destruir. As coisas já andavam pelos mínimos. Ainda está na mente de muita gente e justificava-se que, ao largo da celebração, estivesse sempre gente a entrar. Dizia-se que cumpria o preceito quem participasse no “levantar a Deus”, ou seja, na primeira elevação que se seguia à consagração. O moralismo do preceito nunca educou na fé e na vivência da Eucaristia.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Formação adequada e participação ativa

Um artigo de António Marcelino




Um princípio conciliar muito claro e exigente, expresso na Constituição da Liturgia, refere-se à consciência necessária da Igreja e dos cristãos, em geral, de que é “através da liturgia que se atua e opera a nossa redenção”. Assim se pode dizer que os crentes só podem fazer a experiência completa do mistério pascal de Cristo mediante a sua participação na liturgia da Igreja. Há uma unidade indissolúvel entre o dom de Deus que vem até nós e nos santifica e a ação cultual da Igreja, que significa ir ao encontro desse dom para acolher, louvar e agradecer. Esta unidade traduz-se na centralidade do mistério pascal e na presença de Cristo na Igreja. “Cristo está presente na sua Igreja, muito especialmente nas acções litúrgicas”, assim diz o Concílio.
A natureza da liturgia e dos seus efeitos tornou-se mais expressiva na fórmula, já antes citada e, hoje, muitas vezes repetida: “A liturgia é o ponto mais alto para o qual tende a vida e ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde dimana toda a sua força”.
Para a melhor compreensão desta realidade, o Concílio logo sentiu a necessidade de indicar dois caminhos complementares para orientar toda a renovação: a formação litúrgica dos cristãos e a sua participação ativa nas celebrações. Um e outro iriam depender da hierarquia, dado que ela é um serviço permanente ao Povo de Deus. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Da decisão de um concílio ao início dos trabalhos conciliares

Um texto de António Marcelino





Logo após o anúncio da decisão de convocar um concílio ecuménico (25-01-1959), João XXIII, através do seu primeiro colaborador, o Cardeal Tardini, Secretário de Estado, deu, de imediato, início aos trabalhos de preparação. Via-se que o Papa tinha urgência que assim fosse. Assim lho recomendava a importância do acontecimento e, também, a sua idade, então já com 77 anos. Lembremo-nos que o Papa veio a falecer em 3 de junho de 1963, sem completar cinco anos após a sua eleição. Por outro lado, quaisquer demoras, para além das justificadas, em nada iriam beneficiar a reação, generalizadamente positiva, com que a Igreja acolhera a notícia do futuro concílio.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

AVIVAR A MEMÓRIA PARA ENTENDER A DECISÃO

Um artigo de António Marcelino

Três objetivos do Concílio pareciam claros: revisão da Igreja, em si mesma e da sua imagem; abertura ao mundo moderno e à sociedade, mediante a leitura e o discernimento dos “sinais dos tempos” e consequente diálogo; unidade dos cristãos, com uma presença significativa da Igreja no campo ecuménico.


É bom ter presente pessoas e aspetos significativos da iniciativa conciliar, bem como o contexto, social e eclesial, em que o Concílio surgiu e aconteceu. Muitos dos que, passo a passo, viveram o Concílio, padres ou leigos, em idade de vibrarem com a preparação e o decorrer do mesmo, se ainda vivem, na sua maioria, são pessoas com mais de setenta anos. Isto quer dizer que, passados cinquenta anos, a quase totalidade dos mais responsáveis hoje, na Igreja em Portugal, eram então muito jovens ou ainda nem tinham nascido. A memória histórica comporta, para todos, lições que é bom recordar, para compromisso no presente e ajuda no projetar do futuro.