quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Gestão de resíduos do Porto de Aveiro

Plano de Receção e Gestão 
de Resíduos do Porto de Aveiro 
2017-2019 



No respeito pelo artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 165/2003, de 24 de julho, a APA (Administração do Porto de Aveiro) efetuou mais uma revisão do Plano de Receção e Gestão de Resíduos do Porto de Aveiro. que tornou público. 
Quem gosta de viver num ambiente sadio, obviamente sem poluição, tem de ficar satisfeito com a decisão da APA. Ficamos na certeza de que os responsáveis pelas estruturas portuárias saberão estar atentos, porque as pessoas e a natureza precisam mesmo de viver tranquilas.

Ler planos aqui 

A ALMA DE SEBASTIÃO DA GAMA



Minha alma abriu-se...
Que linda janela
que é a minha alma!
Não!, linda não é ela:
lindas são as vistas
que se avistam dela.

Que ouvidos tão finos
que tem a minha alma!
Não!, finos não:
finos são os cantos
que os pássaros cantam,
meus ouvidos ouvem.

Como são tão belas
as coisas lá por fora!
Minha alma em tudo,
em tudo se demora.

Que ouvidos tão finos!
Que linda janela!
Quem me compra a alma?
Quanto dá por ela?

Sebastião da Gama,
in"Cabo da Boa Esperança"

Sebastião da Gama faleceu a 7 de fevereiro de 1952, com 27 anos de idade. Recordo-o com este poema tão simples e tão belo.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Ditos populares e estufa de chicória

Chaminé da antiga estufa

Do espaço ajardinado da ANGE (Associação Náutica da Gafanha da Encarnação), registei há bons meses esta imagem, que hoje encontrei, quando buscava motivo para me animar neste dia de frio de cortar à faca, como se dizia na minha meninice. Penso que hoje pouca gente haverá que utilize ditos populares. Novos tempos, novas influências, novas formas de dizer, que não condeno, mas até aprecio.
Houve tempo em que se falava do linguajar dos gafanhões, um linguajar sadio que curiosos e estudiosos vão debitando nas redes sociais, porventura com vontade de o preservar, ouso sugerir agora que se inicie a compilação de palavras e termos caídos em desuso. Os vindouros agradecerão.
Ora, a fotografia que reproduzo mostra a chaminé da antiga estufa de chicória da Gafanha da Encarnação de que sabemos pouco. Seria interessante que alguém desse passos no sentido de mostrar à saciedade como nasceu aquele edifício, quem foram os proprietários e por que fases passou até chegar a restaurante. 
Aqui ficam, portanto, duas propostas de trabalho. 

FM

domingo, 4 de fevereiro de 2018

JUSTIÇA E JORNALISMO NO ESGOTO

Vicente Jorge Silva 


«Sim, é saudável que deixe de haver espaço para a impunidade e que rigorosamente ninguém se considere acima da lei. Mas é triste que, simultaneamente, sejam casos desses que fazem prosperar o jornalismo de sarjeta — até ao dia, porventura ainda longínquo, em que o verdadeiro jornalismo de investigação, autónomo de todos os poderes, se imponha à opinião pública como única fonte credível de informação. Por enquanto, infelizmente, o culto nauseabundo da porcaria que faz salivar a avidez populista, fora e dentro das redes sociais, terá ambiente para medrar.»

BABEL, BÊNÇÃO OU MALDIÇÃO?

Frei Bento Domingues 

Frei Bento Domingues

1. Para os meios de comunicação, a moda mais recente é a preocupação com as divisões na Igreja católica que me parecem coisa de pouca monta. Vencer a separação entre as igrejas do Oriente e do Ocidente e entre católicos e protestantes tem sido a beleza do horizonte do movimento ecuménico, nas suas diversas expressões. Quem conhecer o movimento cristão sabe que, desde o começo, esteve sempre exposto a divisões. Os apelos a que todos sejam um significam a dificuldade em conseguir uma unidade plural. O cristianismo continua a ser uma Sinfonia Adiada [1].
O que custa não é a comunhão, não é a diversidade, nem a liberdade. O que custa é manter estas três atitudes em simultâneo. Quem insiste apenas na comunhão tem problemas com a diversidade e com a liberdade. Quem, pelo contrário, exalta a diversidade e a liberdade é porque, em nome da comunhão, sente a ameaça da unicidade.
O mito da Torre de Babel [2] não é de fácil interpretação. Supõe-se que Deus se sentiu ameaçado por uma Torre que chegava aos céus, obra da unicidade linguística: “Em toda a Terra, havia somente uma língua e empregavam-se as mesmas palavras [...]. Vamos, pois descer e confundir de tal modo a linguagem deles que não consigam compreender-se uns aos outros. E o Senhor dispersou-os dali por toda a Terra.”

sábado, 3 de fevereiro de 2018

IDE VER QUANTOS PÃES TENDES

Reflexão de Georgino Rocha



A exortação de Jesus aos discípulos é dirigida à Igreja de todos os tempos. Também às paróquias, espaços locais mais próximos às pessoas onde se tece o viver quotidiano cristão. É fruto da compaixão que sente pelas multidões famintas e cansadas. Que contraste tão interpelante com a atitude dos que o acompanham e pretendem ser seus seguidores. Estes querem desfazer-se do problema, evitar complicações, silenciar a consciência, “lavar” as mãos. Longe da vista longe do coração. A sorte das pessoas pouco lhes importa. Mesmo que morram de fome. É a sensibilidade desviada, a indiferença ostensiva, o conselho da fuga às situações difíceis. Como se torna urgente educar a compaixão, reorientar o olhar, reganhar a confiança, promover a empatia! Como ficará enriquecido o nosso agir pastoral com esta “seiva” que brota da missão pública de Jesus!
“Manda-os embora, para irem aos campos e aldeias comprar de comer” (Mc 6, 34-36). Abandonadas e sem forças, entregues a si mesmas, com a noite a chegar, que esperança pode dar alento aos seus esforços. Jesus ignora o conselho e sintoniza com o ritmo do coração faminto prestes a perder o ânimo. Enche-se de compaixão e provoca a “reviravolta” indispensável e sensata. Envolve os discípulos na procura da solução. Nem fuga à realidade por facilidade, nem recurso ao seu poder singular; nem partir do zero como se nada existisse ou as pessoas fossem destituídas, nem esperar que resolvam o problema com recurso apenas às capacidades próprias. Todos, em acção concertada, assumem a situação e dão-lhe resposta convincente.

A ARTE DO RIDÍCULO

Crónica de Joana Petiz no DN


«Há não muito tempo assistíamos ao derrube de estátuas alusivas à Confederação norte-americana e por cá chegou a discutir-se a sério - o que é incrível - a possibilidade de mandar retirar a estátua do padre António Vieira, a quem já se chamava criminoso, racista, vil promotor da escravatura. É uma pena que só tentemos copiar os exemplos mais estúpidos do mundo - mas admirável como ninguém se lembrou de que a ponte sobre o Tejo, mandada construir e inaugurada por Salazar, de quem chegou a ter o nome durante muitos anos, também devia ir abaixo...»

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

FRANCISCO - Um Papa sem papas na língua

«Que não nos aconteça olhar mais para o ecrã do telemóvel do que para os olhos do irmão»

Li aqui 

NOTA: A afirmação em epígrafe foi proferida pelo Papa Francisco, quando se dirigiu aos consagrados, mas, no fundo, os destinatários somos nós todos. Todos os que, nas mais diversas situações, temos sempre à mão, ou na mão, o telemóvel, uma das mais revolucionárias invenções das últimas décadas. Esta tecnologia, que nos permite contactar com toda a gente, de perto ou de muito longe, conhecidos ou desconhecidos, torna-nos próximos, ao jeito dos vizinhos do lado, a quem pedíamos lume para acender a nossa fogueira. Contudo, quando o utilizamos por tudo ou por nada, para telefonar ou ler notícias, para apreciar paisagens ou assistir a batalhas campais, para brincar ou para nos afastarmos de quem a nosso lado está, o telemóvel gela a proximidade e destrói a convivência. O telemóvel impede-nos, realmente, de olhar para os irmãos. 

Francisco no Chile e no Peru

Anselmo Borges 
Anselmo Borges

1 Por ocasião da visita do Papa Francisco ao Chile e ao Peru, fui confrontado, lendo José Manuel Vidal, que cita um estudo de Latinobarómetro, com estatísticas temíveis quanto à situação da Igreja na América Latina. Os números mostram uma forte queda da Igreja Católica latino-americana devido à saída para as igrejas protestantes, no contexto da religião evangélica, e, num processo acelerado de secularização, para o agnosticismo e o ateísmo, como afirmou Marta Lagos, que dirigiu o estudo.
Os países com maior número de pessoas que se declaram católicas são Paraguai (89%), México (80%), Equador (77%), Peru (74%), Colômbia (73%) e Bolívia (73%). 65% dos inquiridos nos 18 países da América Latina dizem confiar na Igreja, sendo as nações onde tem mais crédito Honduras (78%), Paraguai (77%) e Guatemala (76%). No Chile, o número baixa para 36% e, segundo Marta Lagos, a quebra deve-se sobretudo aos abusos sexuais perpetrados pelo influente padre Fernando Karadima: antes desse escândalo, a confiança dos chilenos rondava os 69%, descendo abruptamente em 2011 para 38%.
O número de latino-americanos que se declaram católicos caiu paulatinamente nas duas últimas décadas: se em 1995 os católicos representavam 80%, esta percentagem baixou para 59% em 2017. Há sete países onde a população católica já representa menos de metade da população: República Dominicana (48%), Chile (45%), Guatemala (43%), Nicarágua (40%), El Salvador (39%), Uruguai (38%) e Honduras (37%). "A esta velocidade, daqui a dez anos os países da América Latina que terão a religião católica como religião dominante serão uma minoria." A eleição de Francisco em 2013 teve um "efeito positivo" e uma prova é que 60% dos chilenos reconheceram como "positiva" a visita que acaba de fazer ao país.

JESUS QUER CURAR-TE. ACEITA E COLABORA

Reflexão de Georgino Rocha 

Georgino Rocha

Jesus está no início da sua vida pública. Como bom judeu, vai à sinagoga onde fala abertamente da novidade que traz em nome de Deus e “limpa” os espíritos de pessoas que manifestavam sinais de forças estranhas e maléficas. Participa na oração oficial, assume o direito à palavra e prega com autoridade. Da sinagoga, espaço religioso, desloca-se para a casa de Simão e André. Deslocação indicativa das suas preferências pela vida quotidiana: encontros no lago, em casas de família, nos caminhos públicos, em refeições, em diálogos pessoais e locais silenciosos. Deslocação que se mantém como referência para os discípulos: conjugar a oração como relação com Deus Pai e a acção de bem-fazer como rosto do querer deste bom Deus. Jesus, desde o início, deixa-nos este belo exemplo.
A casa de Simão Pedro é “uma vivenda de tipo clã, onde habitavam várias famílias com parentesco próximo, distribuídas por quartos/salas em torno a dois pátios interiores com comunicação entre si… Neles, decorria a vida do clã… Quantas imagens bebeu Jesus dessa vida cheia de colorido para ilustrar as suas catequeses sobre o Reino de Deus!”. Sirva de referência o fermento que leveda a massa e a moeda perdida que é encontrada e provoca grande alegria. (Guia de Tierra Santa, História-arqueologia-bíblia, Verbo Divino, p. 325).
Ao regressar a casa, Jesus ouve falar da doença da sogra de Pedro. Vai ao seu encontro, aproxima-se da doente, toma-a pela mão e levanta-a. Não diz palavra. O gesto fala por si e constitui um modelo de relação sanadora. Parece um ritual de curas, sem magias nem exorcismos. O guia de acção está bem delineado por Marcos (1, 29-39): Ir aonde a se encontra a pessoa doente, colocar-se ao seu nível, sobretudo da disposição com que vive o sofrimento e a dor, tocar-lhe como quem comunica a saúde integral de que é portador, agarrar a mão para a erguer na vida, ajudando-a recuperar a dignidade de poder desempenhar as suas funções normais. O que faz à sogra de Pedro, faz Jesus a tantos outros, como bem registam os Evangelhos.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

NOTAS DO MEU DIÁRIO – O MEU PAI


No silêncio natural da minha tebaida, ouve-se o zumbido do vento a confirmar o inverno que persiste. Já choveu com frio à mistura, e as notícias afiançam que é imperioso aquecimento para o corpo e para a alma. À minha frente crepita a lenha que arde na salamandra. As chamas aquecem o ambiente enquanto alinhavo esta nota, mas também iluminam sonhos e recordações da minha meninice. Parece-me que é sina da velhice que se instala no meu ser. E imaginei o meu pai sentado à conversa comigo, cigarro entre os dedos amarelecidos pela nicotina, sorriso sóbrio permanente, olhar perdido por vezes, decerto a reviver interiormente momentos  de mar bravo que tantas vezes enfrentou. 
O meu pai não era pessoa de grandes falas, gostava mais de ouvir, mas quando encontrava uma nesga ditava sentenças. Sinto a falta dele, sim senhor, porque a sua serenidade me impressionava, deixando marcas indeléveis na minha personalidade. Se aqui estivesse, como eu gostaria!, era ele que ateava a fogueira, que aconchegava a lenha, que alimentava a conversa, mesmo falando pouco. E até gostava que ele tivesse a minha idade. Seria o parceiro ideal para estas noites à lareira. 

FM

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Processo de canonização de Santa Joana em curso

Beata Joana
Túmulo de Santa Joana


Está em curso o processo de canonização de Santa Joana, padroeira da cidade e diocese de Aveiro. Na sequência disso, o Correio do Vouga iniciou esta semana a publicação de uma separata que deve ser recortada, lida e guardada, para poder ser consultada quando necessário. A publicação será semanal, sempre no semanário diocesano. Contém informação variada e outros textos para todos acompanharem de perto o progresso do processo, que não sabemos quando terminará. 
Neste primeiro número da separata pode ser lido um apontamento biográfico, a cronologia da Princesa Santa Joana, um testemunho, a relação dos mais diretamente responsáveis pela organização do processo, sendo postulador da causa Mons. João Gonçalves Gaspar. Na primeira página, o P.e Fausto Oliveira, pároco da Glória (Sé de Aveiro), lembra que o culto de Santa Joana, «confinado há muitos anos à Celebração Eucarística e Procissão solene no dia 12 de maio, verifica, desde junho de 2017, novo fôlego». E acrescenta: «a 12 de cada mês, os cristãos enchem a igreja de Jesus, às 9 horas, bem perto do túmulo de Santa Joana, para celebrar a eucaristia e agradecer o dom que foi e é para a Igreja, e, sobretudo, para Aveiro, a vida da Padroeira da nossa cidade e diocese.»

FM

Humor inteligente


 «Um humorista levou a sério a tarefa de falar como escritor a quatro dezenas de adolescentes e a conversa serviu para quebrar um mito. Afinal, fazer rir dá muito trabalho, exige muito estudo, muita leitura, “muita consistência”. Ricardo Araújo Pereira não o disse assim, mas se os alunos da Murtosa que o foram ouvir ao Palácio de Belém esta terça-feira iam com as gargalhadas prontas a disparar, o humorista deu-lhes um banho de água fria. Pô-los a pensar ao contrário, como fazem os humoristas.»

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NOTA: Alunos da Murtosa tiveram o privilégio de ouvir  e ver um humorista culto e inteligente que, em vez de os fazer rir, apenas, os pôs a pensar, segundo  li  no PÚBLICO.
Eu gosto, sempre gostei, dos humoristas inteligentes e cultos que nos ajudem a pensar. Dos outros não rezará a história. Ricardo Araújo Pereira faz parte dos meus favoritos. Tal como Raul Solnado continua na minha memória. E pelo que li, o seu encontro com os jovens da Murtosa, podia muito bem ser apreciado pelos adultos, que de humoristas sem graça inteligente estamos fartos.

A sentença antes do julgamento



«Os arguidos não são acusados e os acusados não são culpados. Num dia como o de ontem em que ao final da manhã as redações foram inundadas com notícias de buscas, detenções e acusações existe o risco facilitista de julgar tudo pela mesma bitola.»

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NOTA: Penso que muitos caem facilmente no facilitismo de condenar seja quem for na praça pública, antes de qualquer julgamento. É um erro crasso. Direi mesmo que é um crime. Importa que a Justiça siga o seu caminho e no fim, quando a condenação ou absolvição surgirem, poderemos tecer os nossos comentários. Eu sigo esse caminho. Sobre Sócrates, por exemplo, estou à espera que os tribunais se pronunciem. Até lá, ele está inocente. 

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

PORTUGAL NÃO É UM PAÍS DE CORRUPTOS



Confesso que tenho andado espantado com as notícias que todos os dias nos chegam com denúncias de corrupções ou de eventuais corrupções. Não escapa ninguém, como se Portugal fosse um país sem norte, sem dignidade, sem gente honesta. Os agentes de investigação andam numa roda viva à cata de provas. Ministros, juízes, agentes desportivos, jogadores, advogados, padres, políticos, empresários, etc., etc., etc. E o mais estranho está no facto de os investigadores levarem à ilharga a comunicação social, que tudo relata ao pormenor, desde os passos dados até às gavetas, computadores, documentos, arquivos pessoais e nem sei que mais. Tudo à franca, aos olhos de todos. E daí as especulações, à medida de quem conta um conto acrescenta um ponto. 
De um dia para o outro, aqueles que vestiam a pele de gente séria passam a suspeitos de eventuais criminosos, de desonestos sem remissão, de corruptos descarados, de usurpadores de bens alheios, de pessoas repugnantes, de vigaristas irrecuperáveis. E não será assim; eu não quero crer que Portugal esteja cheio de homens e mulheres sem princípios, sem moral, sem regras de honestidade a toda a prova, sem vergonha. Não pode ser!
E tudo isto porquê? Porque os investigadores não agem discretamente, permitindo, por desleixo ou por inconfessadas razões, que a comunicação social os “acompanhe”, por artes mágicas ou outras artes, no negócio das notícias que podem manchar para o resto da vida gente séria. E se tudo for falso, se não for como se noticia? Quem lava a mancha execrável que caiu sobre os investigados?

Fernando Martins

EUGÉNIO DE ANDRADE - O SAL DA LÍNGUA


O SAL DA LÍNGUA

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém – mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar.
Para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

Eugénio de Andrade
In "O Sal da Língua"

O HOMEM È COLOSSAL E... MINÚSCULO


Diz Abbé Pierre,
para quem o quiser ouvir,
ainda hoje,
em o TESTAMENTO:

“O homem de hoje é colossal pela enormidade das responsabilidades que pesam sobre ele e minúsculo perante a imensidão das tarefas que em toda a parte o chamam. Mas não podemos, a pretexto de que nos é impossível fazer tudo num dia, não fazer coisa nenhuma! Conservemos no coração a impaciência de fazer. E a indignação na acção.”

domingo, 28 de janeiro de 2018

Andróides, professores de Teologia?

Frei Bento Domingues 


1. Hiroshi Ishiguro é um académico japonês, de 54 anos, professor da Universidade de Osaka, que desenvolve robôs inteligentes com aparência humana. Veio a Lisboa fazer uma conferência na Universidade Católica. João Pedro Pereira, do PÚBLICO, conversou com este criativo [1].
Hiroshi desejou ser pintor para entender a humanidade. Mudou-se para a área da robótica e da inteligência artificial. Ao verificar que a inteligência artificial precisava de um corpo apropriado, criou, nos últimos anos, vários andróides. Trabalha com diversas empresas no Japão para desenvolver múltiplas aplicações práticas. Toda a gente consegue interagir com robôs semelhantes a seres humanos. No ambiente de laboratório, a aparência e os movimentos dos andróides têm vindo a ser aperfeiçoados. A inteligência artificial torna-se cada vez mais sofisticada e permite que as máquinas possam ter conversas razoáveis com pessoas. Contudo, na construção de robôs que funcionam como humanos a consciência será, provavelmente, a última barreira.
Ishiguro acredita que um dia, não hoje, esta dificuldade será ultrapassada. Talvez demore duas ou três décadas. Julga que o que já pode dizer, com clareza, é que os investigadores, os neurocientistas e os cientistas de robótica estão muito interessados na consciência. Depois da inteligência artificial, a próxima meta é a consciência artificial.

sábado, 27 de janeiro de 2018

Pedro Mexia: "Inflexibilidade" impede evangelização

Pedro Mexia afirma que «inflexibilidade» 
de alguns cristãos impede evangelização


«O escritor e crítico líterário Pedro Mexia disse hoje que dialogar com o mundo não significa ceder a modas ou a novidades e que a “inflexibilidade” apenas gera “auto-satisfação” e não evangeliza.
“É um péssimo ponto de partida. Não é um concurso de popularidade, nem (se trata de) embarcar em modas ou novidades. Trata-se de viver no mundo, tal como ele existe, com os comportamentos e ideias das pessoas e dialogar com isso”, afirmou o assessor cultural da presidência da República durante o encontro de referentes do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, que decorre hoje em Fátima.»


Ler mais aqui

CARNAVAL PARA ANIMAR A MALTA




Como manda a tradição, o Carnaval vai ser celebrado por todo o país, como, um pouco, por todo o mundo. No município de Ílhavo, não se foge à regra e não faltará quem ouse substituir a máscara de todos os dias, muito camuflada, por uma mais adequada à quadra. Digo “máscara” de todos os dias a brincar, não só por sempre ouvir dizer que tal é mesmo assim, quando muitos escondem as suas personalidades, em obediência ao politicamente correto, mas também por reconhecer que a vida precisa de ser vivida com alegria a transbordar. E nesses dias, é certo e sabida que não faltarão as críticas diretas e oportunas dirigidas, normalmente, às pessoas que, às vezes, brincam com coisas sérias na arte da governação, mas não só.
Pessoalmente, não me atraem esses festejos, por razões que nunca percebi, mas admiro quem tem a coragem de sair à rua mascarado e com ditos, em princípio educados, mas com muita graça. Oxalá o Carnaval nos ajude a pensar na vida, atirando para trás das costas o que tanto incomodou tanta gente.
Boas festas carnavalescas para todos, para os que gostam e para os que não gostam.  

Janeiras – E a tradição cumpriu-se...

Grupo Etnográfico (foto do meu arquivo)
Ontem,  cumpriu-se a tradição. O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, apesar do frio, deu sinal, com um cantar próprio desta quadra. Entrou em  nossa casa com gargantas e instrumentos musicais afinados. Uma saudação amiga, sorrisos alegres, espírito aberto, simpatia franca. E os cânticos, que ocupam um lugar especial nas minhas memórias, décadas e décadas ensaiados e repetidos e  no Cortejo dos Reis apresentados, na Gafanha da Nazaré e noutras bandas, ao ritmo de partilhas etnográficas enriquecedoras, encheram o nosso ambiente familiar. 
A importância dos Grupos Etnográficos está na manutenção destas tradições, revividas para os mais idosos e ensinadas aos mais novos, se é que têm coragem de pôr de lado o teclado do telemóvel por simples momento que seja. Contudo, no grupo havia jovens, tocando e cantando, um sinal claro de que há no grupo etnográfico quem tenha sensibilidade para cativar e ensinar. E assim se passa o testemunho.

F.M.

Um dos cânticos

Deus nos dê Festas Alegres
Com Seu divino amor
A Virgem Nossa Senhora
Deu à luz o Redentor

Cantemos nossas canções
Para visitar Jesus
Vamos ver Sua lapinha
Cheia da divina luz

A Gafanha da Nazaré
É esta sedutora
Damos graças ao Menino
E à Virgem Nossa Senhora

O presépio enfeitado
Nos espera e nos seduz
Para prestar homenagem
Ao que a Virgem deu à luz

Vamos indo pastorinhos
Com toda a nossa alegria
Visitar o Deus Menino
Filho da Virgem Maria

Vamos indo piedosos
Cada qual com sua oferta
Oferecer ao Menino
Que é dia da Sua festa

É o nosso Deus Menino
O Rei dos pobrezinhos
Oferecer-lhe ofertas
Dos humildes pastorinhos

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

A VIDA


A VIDA

A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa;

A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura num momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!

A vida é flor na corrente,
A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,
Voa mais leve que a ave:

Nuvem que o vento nos ares,
Onda que o vento nos mares,
Uma após outra lançou,
A vida – pena caída
Da asa da ave ferida
De vale em vale impelida
A vida o vento levou!

João de Deus


NOTA: Hoje, a pensar na vida, tão cheia de surpresas, umas agradáveis e outras nem tanto, lembrei-me deste poema de João de Deus, um mestre na arte de poetar de forma tão simples.


GIL EANES EM VIANA DO CASTELO





NOTA: Todos os naturais e residentes na nossa região, ligados direta ou indiretamente ao mar, e sobretudo à pesca do bacalhau, se identificam com o Gil Eanes, navio-hospital que prestava apoio aos pescadores e tripulantes dos navios bacalhoeiros. Hoje, terminada a safra dos bacalhaus, é um navio-museu que desenvolve variadíssimas ações culturais que importa sublinhar. Sei que há conterrâneos nossos, ílhavos e gafanhões, que estão ligados a algumas iniciativas, o que é muito meritório. Louvo-os por isso, porque, no fundo, prestam um serviço que simboliza gratidão. 

Jerusalém: com um "estatuto especial"?

Anselmo Borges 

Anselmo Borges

1 Jerusalém é uma cidade mítica no imaginário de milhões e milhões de pessoas, concretamente crentes das três religiões monoteístas.
O significado da cidade para os judeus está bem expresso no Salmo 137, versículos 5-6: "Se me esquecer de ti, Jerusalém, fique ressequida a minha mão direita! Pegue-se-me a língua ao céu da boca, se eu não me lembrar de ti, se não fizer de Jerusalém a minha suprema alegria!" Os cristãos sabem que foi em Jerusalém que Jesus enfrentou a religião oficial, exploradora do povo, ali foi condenado à morte e crucificado, ali fizeram os primeiros discípulos a experiência avassaladora de que a morte não teve nem tem a última palavra, pois Jesus está vivo para sempre em Deus. Para os muçulmanos, Jerusalém, onde se encontra a mesquita Al-Aqsa, é o terceiro lugar sagrado, depois de Meca e Medina.
Mas Jerusalém foi e é também lugar de confrontos constantes, de invasões permanentes ao longo da história, de contínua conflitualidade e, actualmente, um dos focos mais explosivos, com perigos e ameaças para a paz. A recente decisão do presidente Trump de passar para lá a Embaixada dos Estados Unidos, reconhecendo Jerusalém como capital de Israel, só contribuiu para incendiar os ânimos e agudizar as tensões.

2 Neste contexto, no passado dia 17, teve lugar no Cairo, por iniciativa das autoridades da universidade e mesquita Al-Azhar, uma conferência internacional sobre a Cidade Santa, Jerusalém, também com a presença, entre outras personalidades, do patriarca copta ortodoxo Teodoro II, o patriarca maronita Béchara Boutros Raï e o catholicos arménio Aram.

Maravilhados com o ensino de Jesus. E nós?

Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha


Jesus vai calcorreando os caminhos da Galileia e localiza em Cafarnaum, nesta quase desconhecida aldeia, a sede da sua missão em público. É uma opção pelas “periferias” pobres e sem poder, distantes de Jerusalém e dos funcionários sagrados que oficiavam no seu Templo. Também dos políticos de turno controlados por Roma. É uma opção clara que se desenvolve e confirma em mensagens e acções, em ditos e parábolas. E por vezes chega a expressões verbais veementes.
Cafarnaum fica situado perto do mar de Tiberíades, viveiro fértil de peixes vários, onde labutam pescadores que necessitam do sustento familiar e de pagarem as taxas que lhes são impostas. Nos socalcos das montanhas cultivam-se cereais, árvores e legumes que constituem a base alimentar da população. “Quem visitar esta região nos primeiros meses da primavera ficará maravilhado ao comprovar a força com que cresce a vegetação, afirma Flávio Josefo, historiador judeu do séc I, e menciona, entre achados arqueológicos, restos de moinhos de grão e de prensa de azeitona. Terra atravessada por duas vias ao serviço de interesses superiores.
Chegado ao sábado, Jesus vai à sinagoga. Marcos, o narrador do episódio, centra a visita num único ponto: A autoridade de Jesus que decorre do modo como Ele fala e a reacção entusiasta que desperta nos presentes. E, por contraste, vem a dos escribas, os homens letrados nos textos sagrados. Evita pormenores que podem desviar. Usa um estilo sóbrio. Faz-nos ver Jesus em acção, como se fosse “um directo”. (Mc, 1, 21-28).