segunda-feira, 9 de junho de 2008

PONTES DE ENCONTRO


A crise da família na Europa

A FIDES, órgão da Congregação Para a Evangelização dos Povos, publicou, com data de 29 de Março de 2008, um dossier intitulado «A crise da família na Europa», no qual se reúnem dados sobre a diminuição da população no continente europeu e os graves problemas que ameaçam a instituição familiar, a começar pelo aborto, em referência à Rede Europeia do Instituto de Política Familiar, que, por sua vez, apresentou, no passado dia 7 de Maio de 2008, no Parlamento Europeu, um Relatório sobre a “Evolução da Família na Europa – 2008”.
De acordo com o dossier da FIDES, entre 1994 e 2006 a população europeia cresceu 19 milhões de pessoas, sendo 80% deste crescimento devido à entrada de quinze milhões de imigrantes, pelo que, não resultou de um aumento da taxa de natalidade, que permaneceu estável, ou seja à volta de 310.000 crianças por ano.
Segundo os cálculos apontados pela Agência FIDES, crê-se que, a partir de 2025, a Europa começará, lentamente, a despovoar-se, ainda que a mobilidade migratória possa alterar estes dados, não se conhecendo, contudo, os seus resultados, se tal suceder.
Em relação ao envelhecimento, o dossier da Agência FIDES afirma que, a Europa, tem mais pessoas idosas do que crianças. A população com menos de 14 anos representa apenas 16,2% do total da sua população, o que corresponde a 80 milhões de crianças, nos 27 países da União Europeia.
Sobre a taxa de natalidade, o dossier adverte que, na Europa, nascem cada vez menos crianças. Em 2006, apenas se registaram 5,1 milhões de nascimentos. A situação foi estável de 1995 a 2006, com um aumento entre 2005 e 2006 de apenas de 1,1%, o que está longe dos valores necessários para a renovação de gerações.
Quanto ao aborto, o mesmo dossier afirma que, a cada 25 segundos, se realiza um aborto na União Europeia, a 27 países, e onde, em cada dia, se fecham três escolas, por falta de crianças.
A Espanha é o país onde mais aumentou o número de abortos, nos últimos dez anos, com um aumento de 75%, seguida pela Bélgica, com 50% e da Holanda, com 45%.
Deste modo, o aborto é a primeira causa de mortalidade na União Europeia, a 27 países, onde fez mais vítimas que as enfermidades cardiovasculares, os acidentes de trânsito, a droga, o álcool e os suicídios.
Em relação aos gastos destinados às políticas sociais, o dossier refere que 27% do PIB da UE é destinado a esta rubrica, enquanto que só 2,1% deste orçamento global é destinado a políticas de apoio familiar, o que é um sinal claro da falta de prioridade que as políticas de apoio à família têm perante as autoridades comunitárias. Isto significa que a UE destina menos de um euro a cada família, em relação aos treze euros destinados aos restantes gastos sociais, o que até pode ser insuficiente para estes.
Sobre a pobreza infantil e da adolescência, há 97,5 milhões de pessoas na União Europeia entre 0 e 17 anos, e, destes, 19 milhões estão em risco de pobreza. Mesmo assim, já, hoje, a média de pobreza europeia está na casa dos 19%.
Sobre os matrimónios na UE, o dossier refere que, em 25 anos (1980-2005), o número de matrimónios diminuiu 692.000, o que corresponde a uma queda de 22,3%.
Por cada dois matrimónios que se celebram na Europa, um acaba em separação, lê-se no dossier.
Pena é que estas questões não sejam mais divulgadas e debatidas, mesmo no seio das Comunidades cristãs. Ao menos, sempre poderíamos ficar a saber se anda por aí alguém com vontade de despovoar a terra e repovoá-la com seres de outras galáxias ou, então, se andamos, todos, a ser enganados por aqueles responsáveis políticos que se dizem a favor de uma renovação de gerações.

Vítor Amorim

domingo, 8 de junho de 2008

NA LINHA DA UTOPIA

Ateísmo, Fé e Liberdade

1. Esta é uma das fundamentais fronteiras do entendimento humano e da tolerância. Toca uma respeitabilidade que quererá ser iluminada pela ordem da racionalidade. Por sua vez, a noção de liberdade (da pessoal à social) assume-se como o terreno garantido pelos estados para a ocorrência partilhada da diversidade de propostas; mas estas também não poderão ser estanques, haverão de procurar, de forma ascendente e dinâmica, responder ao sentido de vida do ser humano e à saudável convivência da humanidade.
2. Vem esta reflexão a propósito da recentemente criada Associação Ateísta Portuguesa (AAP). A liberdade dos estados, chamados de modernos, nem pode fermentar a sua criação nem impedir a sua realização. O mesmo sucede aos terrenos da religião, como expressão da fé: o estado, nem pode orientar nem impedir. Mas o que não significa que os estados devam ser indiferentes; muito diferentemente disso, os estados deverão estar vigilantes… Esta vigilância só pode estar em conformidade com a matriz da convivência democrática que assenta na dignidade da pessoa humana que brota da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assim, a bitola de referência transversal terão de ser «as acções que», no sábio dizer de Vieira, «dão o ser».
3. Há dias, sobre esta criação da AAP, D. José Policarpo foi interpelado. A resposta, única certeira, foi o claro princípio da comum respeitabilidade. Afirmou D, José que «cá estaremos para respeitar e dialogar, esperando também ser respeitados». É bom acolhermos este horizonte, também porque ele coloca as pessoas como o verdadeiro centro das opções de consciência, facto que não significa o absoluto privatismo das convicções, mas sim o assumir da relacionalidade (racionalidade tolerante) como princípio fundamental de uma sociedade adulta.
4. Não é pela negativa que se deve ver esta problemática de fundo que toca o sentido da vida, da história e da misteriosa esperança que bota da dignidade única da pessoa humana. No princípio da autêntica liberdade religiosa dos estados – o que é diferente de serem confessionais (felizmente que esses tempos já passaram) ou de serem laicistas (como que querendo apagar com os sentidos profundos da vida das pessoas) –, neste patamar da liberdade e da cooperação em ordem ao bem comum, brota como desafio decisivo a formação: dos que são ateus, a atitude filosófica e existencial da procura incansável de algo mais; dos que professam alguma fé confessional, a premência de uma formação contínua (que supere os vazios pragmáticos e) que dê o sentido da beleza fascinante que é a VIDA… esta que, da profundidade do ser, faz brotar a poesia, a esperança, o sentido inapagável do absoluto de Deus.
5. O enquadramento autêntico da liberdade proporcionará não o silêncio que fecha, mas a abertura dos melhores diálogos sobre a vida, sobre o que somos e a que esperança nos sentimos chamados. É mais esta grandeza, como possibilidade crescente, que brota deste facto; terá de ser a racionalidade razoável a presidir às opções conscientes de cada pessoa no referente às suas âncoras mais profundas. Seja esta frescura dialogal o terreno futuro! Há sempre tanto a aprender uns com os outros!

MANIFESTO DE CAFARNAÚM


A todos quantos este Manifesto virem, saúde e paz!
Eu, Mateus, e meus companheiros cobradores de impostos na região de Cafarnaúm no tempo de Herodes Antipas, estivemos sentados à mesa com Jesus de Nazaré numa refeição de amigos, após ele me ter chamado para seu discípulo.
O meu chamamento aconteceu de forma simples: vi um homem decidido a avançar para mim e aproximar-se do meu posto de cobrança. Senti a profundidade e sedução do seu olhar. Escutei o convite/apelo que me dirigiu: “Segue-me”.
Imediatamente, me levantei e deixei o trabalho. Uma força interior se apoderou de mim, me atraiu e encantou. Fiquei de tal modo “apanhado” que nem sequer fiz perguntas. Nada me preocupava: nem família, nem profissão, nem obediência ao meu chefe nem ao delegado do Imperador. Confiei simplesmente e aventurei-me sem calculismos. A inteligência não entendia, mas o coração dizia-me que aquele convite era uma “caixa” de surpresas para mim. E foi! Posso comprová-lo com abundantes provas que vivi mais tarde.
Atesto, por minha honra, que à mesa todos eram tratados por igual. Na conversa não se perguntava o que fazia cada um nem donde procedia, embora todos soubéssemos que partilhávamos a mesma condição. Constava que este era o modo de proceder de Jesus de Nazaré: mais do que as profissões e as condições de vida, interessava-lhe a pessoa e a sua dignidade, por vezes esquecida e espezinhada. Do seu olhar surgia uma serenidade e compreensão que nos dava alegria e paz. No seu convívio todos nos sentíamos bem, sem medos nem discriminações. Éramos verdadeiramente uma família!
Estar à mesa com Ele foi para nós uma maravilha surpreendente. Pelo que sentimos, pois nunca ninguém nos tinha tratado de modo semelhante: ser considerado digno de ouvir os segredos mais íntimos, alimentar as mesmas aspirações em relação ao futuro, reforçar os laços de união no presente. Pelo que augurava aquele gesto. De facto, era o núcleo mais expressivo do sonho de Deus: sentar todos os humanos à mesa da fraternidade em que Ele possa mostrar o seu amor de Pai na dignidade de cada um. Era o princípio da sociedade nova em que as pessoas têm prioridade absoluta sobre as tradições e as coisas, em que os bens pertencem a todos, antes de serem de cada um, e o bem comum constitui o dinamismo e a meta que dão sentido a tudo quanto se faz e se pretende.
Eu e os meus companheiros ouvimos críticas que nos parecem completamente injustas ou, então, temos de negar a nossa comum humanidade e de considerar ridícula a mensagem que Jesus de Nazaré – o Filho Deus – nos transmitiu como Palavra de Salvação para todos os tempos.
Negar a mensagem, é para nós de todo impossível. Estamos absolutamente convencidos do seu valor a ponto de, sendo preciso, dar a vida em sua defesa. Aceitamos com humildade a crítica que nos é feita e que nos ajuda a viver de modo mais pleno o exemplo de Jesus, o Mestre que nos abre horizontes mais plenos da fraternidade de todos os humanos chamados a reconhecer a sua filiação divina. Protestamos contra os que falseiam os nossos ideais, desvirtuam e ridicularizam as nossas razões e, presos ao passado, não mostram capacidade de entender as “coisas novas” que vão surgindo em relação a Jesus Cristo e à sua mensagem. Anunciamos com alegria criativa e esforço confiante que um dia virá em que a mesa posta para todos não será recusada por ninguém.
Em Cafarnaúm, com Mateus

Georgino Rocha

SCHOENSTATT







(Clicar nas fotos para ampliar)

Um jardim de silêncio, de paz e de encontro...
Passei por Schoentatt, na Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré, esta semana. Conheço, há muitos anos, este Movimento Apostólico, fundado em 1914 pelo padre alemão José Kentenich, com o objectivo de criar um homem novo para uma sociedade nova. Confirmei, in loco, mais uma vez, que este recanto, em boa hora vindo para a Diocese de Aveiro, é mesmo um jardim de silêncio, de paz e de encontro. Ali, junto ou dentro do Santuário, onde é bom estar, como desde a primeira hora sonhou o fundador, sentimo-nos libertos das inquietações do dia-a-dia, do que nos bloqueia interiormente, do que nos perturba nas caminhadas da vida.
Olhei o Santuário. À sua volta, como que a abraçá-lo com ternura, há flores e cheiros, objectos e geometrias, símbolos e caminhos que convergem para um altar onde está e espera, por quem chega, o bom Deus. Quem entra, fica, e reza, e conversa sem perturbar quem está, e escuta, e ouve a paz, e aceita a harmonia que tudo invade, e recebe a força que almeja. Cá fora, à saída, os nossos olhos sentem-se atraídos pelo amor e pela sensibilidade dos que cuidam de tudo para que todos se sintam bem, consigo próprios, com Deus e com o mundo.
Um dia destes, se puder, passe por lá. Verá que vale a pena.
FM

Lusodescendentes

"Hoje 12 portugueses ou lusodescendentes vão ser homenageados por Portugal numa cerimónia em Lisboa, transmitida pela televisão. É uma excepção, num país que se esquece vezes demais da enorme comunidade portuguesa que está espalhada pelo mundo. E não devia.
Só uma sociedade que vive de costas para a sua comunidade emigrante pode desconhecer o facto de termos uma portuguesa à frente da Orquestra Sinfónica de Toronto, como é contado na página 18 deste jornal. Mesmo os jornais e restantes órgãos de comunicação social esquecem muitas vezes esta realidade.
Segundo os dados estatísticos, haverá 5,5 milhões de emigrantes portugueses. Isto sem contar com os lusodescendentes. Mesmo sem contar com sentimentalismos, estes são números impressionantes. Já é bom ouvir falar a nossa língua em todo o lado, ou contar com os estratégicos apoios que, por exemplo, os 180 mil portugueses na Suíça dão à selecção nacional, fazendo-a sentir em casa. Mas é mais importante pensar que estes portugueses e lusodescendentes estão em áreas e lugares-chave.
Os portugueses devem começar a pensar na comunidade emigrante como uma grande rede onde se podem agarrar. E isto funciona, por exemplo, no meio universitário e científico, mas também, e sobretudo, nos negócios. Os chineses sabem isso há muito e é assim que se espalham pelo mundo. Já tarda a hora de Portugal o compreender e pôr em prática."
In Editorial do DN

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 81


OS ALUNOS

Caríssima/o:

Com toda a razão alguns perguntarão quando chegam os alunos à sala de aula. Creio ser a hora de os sentarmos, tudo está preparado para os receber.
Aliás, lá para trás ficou um ligeiro apontamento sobre as matrículas; vimos também que o número de escolas foi aumentando, sinal de que o número de alunos subia constantemente. Mais uma vez recorremos à Monografia do Padre Resende que nos apresenta valores supostamente de toda a Gafanha; contudo, lemos que na Nazaré, em 1936, há 411 crianças recenseadas; em 1941, 509, sendo 261 do sexo masculino e 248 do feminino; e em 1942, 515, sendo que a diferença é de mais 9 crianças do sexo masculino.
Aproveitando ainda os números fornecidos pelo Padre Resende, em 1942, os lugares dão-nos o seguinte : Cale da Vila=> 83 M, 80 F, total 163; Cambeia=> 68 M, 69 F, total 137; Chave=> 75 M, 65 F, total 140; Marinha Velha=>41 M, 34 F, total 75.
Podemos agora imaginar a «ginástica» de pais e professores para «arrumar» estes alunos se pensarmos na exiguidade dos espaços postos à sua disposição. Assim, cada um/uma frequentava a escola da sua área, conforme o «canto» onde morasse. Claro que isto, por vezes, não era linear. Os professores conheciam muito bem a população e todas as suas características prevendo, dentro da normalidade, o aproveitamento de determinados alunos. Por outro lado, também os pais e as crianças sabiam com o que contar se lhes calhasse tal ou tal professor/a. No início do ano escolar, desenrolavam-se conversações mais complicadas do que nos actuais hemiciclos ... Envolviam-se mães e professores, e as concessões só eram recebidas com trocas de alunos que compensassem as perdas ou os ganhos. Caso vivi, que me revelou a fibra de uma Mãe: fez várias viagens (claro, todas a pé!...) entre as escolas da Cambeia e da Marinha Velha, falando, argumentando até convencer ambos os professores ...
Os alunos podiam ser divididos em dois grandes grupos: os de pés calçados e os descalços. Do primeiro saíam os que receberiam as distinções e que prosseguiriam os estudos, fazendo exame de admissão. Nem sempre era assim: algumas vezes, as cabeças pregavam partidas à norma; e quando tal se verificava, estava instalado o “estado de sítio” e o professor confrontava-se com um sério quebra-cabeças...

Manuel

sábado, 7 de junho de 2008

Portugal no topo; Portugal em crise



Faz hoje anos que Portugal e Castela assinaram o Tratado de Tordesilhas. Para os que não sabem o que isso foi, eu adianto que, em 1494, precisamente no dia 7 de Junho, o mundo descoberto ou por descobrir foi entregue a duas potências da época. O apoio para esse acordo veio da Santa Sé, que era, na altura, quem aprovava estas decisões políticas.
O Tratado de Tordesilhas dizia que uma linha traçada, de pólo a pólo, 370 léguas a poente das ilhas de Cabo Verde, definia que, tudo o que ficasse a nascente dessa mesma linha, seria do rei de Portugal e de todos os seus sucessores, para todo o sempre. A outra parte do mundo ficaria para Castela.
Este tratado diz bem da grandeza e do prestígio das duas potências. Portugal deixou há muito o topo do mundo e caiu numa crise que os portugueses saberão ultrapassar. Sem nunca mais, no entanto, poderem aspirar à posição hegemónica que há mais de meio milénio protagonizaram no mundo conhecido ou por conhecer. Pese, embora, muitos ainda sonharem com o 5.º Império.

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré


"Porque um projecto destes não pode apoiar-se no improviso, quantas vezes deturpador da realidade, alguém propôs que se contactassem pessoas mais velhas, sempre fundamentais a qualquer trabalho do género. Manuel Retinto Ribau (o tio Retinto), Maria do Carmo Ferreira (tia Maria Ruça) e Maria dos Anjos Sarabando (a tia Sarabanda), entre outros, que antes haviam participado num rancho sem grandes preocupações de rigor, foram os primeiros a ensinar o que se cantava e dançava no seu tempo de jovens.No salão paroquial, os encarregados de pôr de pé e no palco as danças dos nossos avós, aqueles convidados foram ouvidos, tendo mesmo exemplificado como se cantava e dançava a “Farrapeira”. Depois avançaram com o “Vira de quatro” e foram essas as duas primeiras peças que hoje, e desde então, começaram a fazer parte do repertório do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, como ex-libris da nossa terra, sobretudo a primeira."
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APONTAMENTOS SOBRE RELAÇÕES IGREJA(S)-ESTADO (3)


Uma loja maçónica promoveu, em Lisboa, num "jantar branco", portanto, também com a presença de "profanos", um debate sobre "O futuro da laicidade". Convidados: o grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, António Reis, e eu próprio.
Procurei, antes de mais, esclarecer conceitos: secularização, secularismo, laicidade e laicismo. Neste sentido, permita-se-me chamar a atenção para a melhor obra escrita em língua portuguesa sobre o tema: Entre Deuses e Césares, de Fernando Catroga.
1.Secularização tem múltiplos sentidos. No domínio das ciências sociais, é possível apresentar, pelo menos, cinco significados fundamentais: eclipse do sagrado, autonomia do profano, privatização da religião, retrocesso das crenças e práticas religiosas, mundanização das próprias Igrejas.
Mas é essencial o sentido de autonomia das realidades terrestres, mundanas ou temporais, como reconheceu o Concílio Vaticano II. Como é sublinhado hoje pelos estudiosos, é inegável que a Bíblia e o cristianismo foram determinantes na problemática da secularização e, portanto, no reconhecimento desta autonomia. A Bíblia é essencialmente desdivinizadora da natureza, da história e da política. A ciência, a política, a economia, a própria moral têm uma racionalidade própria e não vão buscar a suas leis e legitimação à religião.
2. Mas é preciso distinguir secularização de secularismo, termo criado pela Londoner Secular Society, fundada por G. J. Holyoake, em Londres, em 1846, cujo programa resumido nesse termo consistia em "interpretar e regular a vida prescindindo tanto de Deus como da religião". De facto, a secularização não elimina o Mistério, pois a finitude não é secularizável, e o crente maior de idade pressupõe e quer uma razão e um mundo adultos.
3. Apesar da constantinização e suas consequências -- sobretudo o reconhecimento do cristianismo como religião oficial do Império e o regime de Cristandade - a fé cristã requer a separação da religião e da política, da Igreja e do Estado. O Estado deve ser laico, portanto, não religioso, neutro confessionalmente, e isso é exigido não apenas para que haja paz civil e se impeça a menoridade em cidadania daqueles que não seguissem a religião oficial do Estado, mas também porque a religião entendida na sua verdade não pode aceitar que se confunda Deus com a política. Um Estado confessional seria idólatra, pois poria em causa a transcendência divina.
4. A laicidade não deve confundir-se com laicismo. Este não se contenta com um Estado neutro do ponto de vista confessional e garantindo a liberdade religiosa de todos. Vai mais longe, exigindo um programa positivo, de tal modo que o Estado reivindica para si uma vocação de transmissão de uma mundividência total do mundo, da vida e da própria morte. O combate pela imposição deste programa a executar pelo Estado-pedagogo foi travado sobretudo em países católicos por causa de um catolicismo intransigente e, por vezes, em lutas duras, ao clericalismo contrapôs-se o anticlericalismo e a laicidade desembocou em laicismo.
5. A exigência de laicidade não significa que as religiões devam ser remetidas exclusivamente para o foro íntimo. Deve ser-lhes garantido o direito de expressão no espaço público e entre o Estado e as Igrejas deveria estabelecer-se um clima de respeito e mesmo de colaboração.
Aliás, há múltiplas possibilidades no arranjo jurídico das relações entre a(s) Igreja(s) e o Estado, como disse, em 2004, o antigo Presidente da República Federal da Alemanha Johannes Rau, referindo-se à união Europeia: "As relações Igreja-Estado são reguladas de modo muito diverso na Europa, indo das Igrejas de Estado na Escandinávia ao laicismo francês. Nós, na Alemanha, escolhemos um outro caminho impregnado pelo conceito de 'secularidade esclarecida' do bispo Wolfgang Huber. Se o Estado e as Igrejas estão claramente separadas na Alemanha, trabalham, no entanto, em conjunto em muitos domínios e no interesse de toda a sociedade. Feitas bem as contas, considero esta a via justa e não vejo qualquer razão para nos associarmos ao laicismo dos nossos vizinhos e amigos franceses."

Anselmo Borges

“Da Janela dos Outros”

“O mundo nunca foi tão parecido com a descrição de Marx. Nunca estivemos numa civilização tão alienada e alienante. O marxismo que encarnou não foi capaz de superar isso. Mas continua a ser válido e interessante.” “Lamento que o catolicismo se refugie em coisas arcaizantes que têm efeitos éticos e sociais deploráveis. Não sei se está condenado a morrer, mas está condenado a transformar-se.” “As minhas contradições são de bradar aos céus.” Eduardo Lourenço, “Cartaz do Expresso”, 31.V. 2008

PONTES DE ENCONTRO


Estatísticas, correcções e os males de sempre

Os últimos dados do Eurostat (Gabinete de Estatísticas da União Europeia), conhecidos no passado mês de Maio, não deixam margem para dúvidas: se compararmos os rendimentos acumulados dos 20% mais ricos com os dos 20% mais pobres, verificamos que, em 2004, os portugueses mais favorecidos tinham ganhos 7,2 vezes superiores aos dos mais necessitados. Este rácio representa um ligeiro decréscimo em relação a 2003 (7,4), mas nem por isso deixa de estar muito longe da média europeia, de vinte e cinco países (Bulgária e Roménia não entraram neste estudo), que era de 4,6 em 2003 e 4,8 em 2004.
Qualquer que seja a forma de medir a desigualdade, Portugal é, sempre, o pior país da UE e um daqueles em que a pobreza é mais extrema. Ainda segundo o Eurostat, 9% dos portugueses vivem com menos de 10 euros por dia, enquanto, na Europa, a média ronda os 5%. O retrato agrava-se, se tivermos em conta que, em 2007, 21% dos portugueses estavam em risco de pobreza, mesmo depois de contabilizados os apoios sociais.
Um risco que atinge as populações mais vulneráveis: 23% dos menores de 16 anos e 29% das pessoas com mais de 65 anos, de acordo com dados referentes a 2004.
Outra das questões que aparece associada à exclusão social, no Relatório do Eurostat, é referente ao abandono escolar precoce. E, também, aqui, é traçado um quadro negro para Portugal: no ano passado, 38,6% dos jovens entre os 18 e os 24 anos não tinham mais do que o nono ano de escolaridade.
Quem trabalha no terreno, acusa o debate em torno da exclusão social em Portugal de ser demasiado teórico e alerta para a necessidade de se reforçarem as medidas, sobretudo nas áreas da educação e do emprego. De facto, é na educação e no emprego que tudo se joga, para o bem ou para o mal. Salvo melhor opinião, já começa a saturar falar tanto nas iniciativas e nos vários trabalhos na área da exclusão social, na medida em que a sua banalização, um dia destes, torna-se num hábito pernicioso. É evidente que é um “mal” necessário, quantas vezes, a única tábua de salvação para se ir sobrevivendo, mas só por si não basta.
Mas onde estão os empregos prometidos? Onde estão os empresários que investem e criam riqueza para eles e para o país? Onde está uma escola que ensine, eduque e prepare os jovens para a vida? Onde estão as Universidades que formem as elites e a massa crítica do país? Onde está uma formação profissional séria, que não desperdice, em brincadeiras, os milhões de euros para ela canalizados, sem ser capaz de formar profissionais competentes? Onde é que está a agricultura e a indústria portuguesa, áreas estruturais de qualquer país, de forma a não o tornar tão dependente do exterior?
Bem pode este ou outro Governo dizer que os dados estão desactualizados, por serem de 2004, e até corrigir alguns dos indicadores que estejam incorrectos, mas, no essencial, o que muda? Claro que estão todos a fazer um grande esforço e a preocupação é grande, como dizem, mas que sinal é que se quer dar quando pessoas que têm menos de 400,00 euros de reforma recebem 1,6% de aumento, para o ano de 2008, quando a inflação (mal) calculada pelo Governo é de 2,1%? Será que já ganham muito e há que lhes baixar a reforma, por via da inflação, que se prevê, agora, nos 2,4%?
Afinal, já temos trinta e quatro anos de democracia e um longo e profundo oceano de promessas feitas, ao longo de todo este tempo. Por isso, com mais décimas ou menos décimas de correcção, é este o país que somos. Saber porque tudo isto nos acontece parece ser um mistério que ninguém quer ou consegue desvendar. A não ser que a sua chave não esteja só na incompetência, que já não se pode escamotear, da classe dirigente do país (especialmente, políticos e empresários), mas também na dos portugueses que, no geral, podem já não conseguir ou não quererem viver de outra maneira.

Vítor Amorim

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Para pensar…

Cardeal Martini lamenta inveja, vaidade, calúnia e carreirismo na Igreja A inveja é o “vício clerical, por excelência”, e os outros pecados capitais mais presentes na Igreja são a vaidade e a calúnia. Quem o afirma é o Cardeal Carlo Maria Martini, Arcebispo emérito de Milão, 81 anos, um dos nomes mais respeitados da Igreja Catóica no mundo. O Cardeal Martini, que ao completar 75 anos, trocou Milão por Jerusalém, está a dirigir os exercícios espirituais na sede dos Jesuítas, na localidade de Ariccia, próximo de Roma. Segundo ele, muitos dentro da Igreja estão “consumidos” pela inveja. Alguns não aceitam nomeações de outros para Bispo e este não é o único pecado capital entre os homens da Igreja. O Cardeal contou que costumam chegar às dioceses cartas anónimas, desacreditando seus membros. Quando estava em Milão, mandava destruir todas as cartas com calúnias. D. Carlo Maria Martini denunciou também o vício da vaidade, precisando que na Igreja “é muito grande”. “Continuamente – disse – a Igreja se desnuda e se reveste de ornamentos inúteis, numa tendência à ostentação, ao alarde”. O Cardeal italiano citou ainda o “carreirismo” na Igreja, e especialmente, na Cúria Romana, onde “cada um quer ser mais que o outro”.
Fonte: Ecclesia

Bispos preocupados com a situação dos trabalhadores

«D. Manuel Clemente [Bispo do Porto] aponta que “trabalho e capital devem convergir para o bem geral duma sociedade que comporta os dois e ganha com o seu dinamismo mútuo”. As organizações sindicais são um factor construtivo de ordem social e de solidariedade e, portanto, um elemento indispensável da vida social, indica o Bispo, que apela às associações que assumam uma função de “colaboração com os outros sujeitos sociais” e que se “interessem pela gestão da coisa pública. As organizações sindicais têm o dever de influenciar o poder político, de modo a sensibilizá-lo devidamente para os problemas do trabalho e a empenhá-lo a favorecer a realização dos direitos dos trabalhadores”. O Bispo do Porto rejeita qualquer determinismo na história, acrescentando que o homem é o árbitro da “complexa fase de mudança”. “O homem é o verdadeiro protagonista do seu trabalho. Ele pode e deve assumir de modo criativo e responsável as actuais inovações e reorganizações que sirvam ao crescimento da pessoa, da família, das sociedades e de toda a família humana”.»
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Para rir ou talvez não


Dos muitos e.mails que recebo diariamente, este teve graça. Trouxe por título "roubo"... Achei piada a este paralelismo e aqui o partilho. Para rir ou talvez não.

Ponte da Barra quase pronta


A ponte da Barra está quase pronta. Um dia destes andei por lá a vê-la e a confirmar a sua beleza, não tanto pela sua grandeza, mas sobretudo pelo belo enquadramento paisagístico e pela ligação que estabelece entre terras vizinhas, que comungam da mesma matriz. Gafanhas e praias são terras irmãs, mas estiveram, durante séculos, separadas pela ria.
A ponte veio enaltecer a proximidade reclamada há muito pelas pessoas. Havia uma ponte de madeira que, frequentemente, pregava muitos sustos a quem por ela circulava. Esta, de cimento armado, tranquilizou toda a gente. Mas em determinada altura começou a ceder. Os técnicos diziam que não havia perigo, mas nem sempre é bom confiar cegamente. Feita a reparação há muito exigida, verifica-se que a depressão, no centro, continua. Não há perigo, acredito. Mas não seria melhor terem disfarçado o desnível? Eu penso que sim.



MUNDO RICO, MUNDO POBRE, QUE LUGAR PARA AS PESSOAS?

É no presente que a vida acontece e é nele que se torna possível caminhar para a plenitude que desejamos, porque a ela somos chamados. Quando se recua cinquenta anos na memória do tempo vivido, já pouco se encontra de nós, além de nós próprios que persistimos ainda e das nossas vivências. Iguais, mas diferentes, parecendo que veio de um sonho para viver outro sonho.
Quem não tem passado, tem mais dificuldade em perceber o presente. As pessoas e as coisas, tal como as plantas, têm raízes e estas são quase sempre ocultas. Delas, porém, vem a vida e a sua razão de ser. Nada por acaso, nada a nascer já feito, nada a ser perfeito antes do tempo, nada que dispense a colaboração pessoal.
O mundo de hoje não tem só as desgraças e as coisas de que todos se vão queixando. Está, também, cheio de riquezas naturais e humanas, de renovadas possibilidades e conquistas que antes nem se podiam imaginar, e não passavam de “ficções científicas”, que recheavam romances empolgantes para gente nova e menos nova. A maior das aventuras era para jovens sonhadores a “a volta ao mundo em oitenta dias”, que, então, não passava de um sonho que permitia voar nas asas da imaginação.
Mundo novo, mundo rico de oportunidades alargadas, de riquezas diversas hoje mais acessíveis, mundo globalizado e sem quaisquer fronteiras, possibilidades diversas de usufruir o património cultural, condições para usar a liberdade de opinião e expressão, mundo em que muitas coisas que ontem se mendigavam, hoje se esbanjam…
Se no bojo enriquecido da sociedade em que vivemos vai a riqueza da liberdade, da solidariedade, da cultura multiforme, dos compromissos pela justiça e pela paz, da vontade eficaz do bem, dos valores morais e éticos mais universais, dos apelos de transcendência libertadora, também neste bojo coabitam sementes empobrecedoras de egoísmo, orgulho, desprezo dos outros, insensibilidade a situações dolorosas necessidades básicas, ânsia incontida de ter, poder e gozar, prepotência física e moral sob muitas formas, tentação de pôr o emotivo e o imediato a comandar a vida, não aceitação da dependência pessoal e social, presunção de ser dono dos outros…Tudo até que o coração aqueça e se abra…
Hoje podem ler-se, com melhor compreensão e mais responsabilidade, as ameaças da natureza não respeitada, as manchas incómodas mais graves e preocupantes da pobreza, como a fome que alastra, desemprego que cresce, as doenças sem cura, a crescente e fomentada fragilidade das famílias, a perda de sentido na vida de muita gente, a insensibilidade frente às injustiças, mentiras, prepotências, a violência e todas as formas de exploração do homem pelo homem, o egoísmo na procura do bem estar, os privilégios escandalosos de uns poucos a afrontar as carências injustas de muitos… Num clima assim percebem-se os jogos do poder, o desrespeito pela democracia, a sobreposição dos interesses particulares aos colectivos, as portas e janelas fechadas ao sobrenatural e ao transcendente.
Dar à pessoa humana, em tudo, o lugar primeiro; reconhecer à natureza criada a sua dignidade; alargar o círculo da responsabilidade; hierarquizar, com sabedoria, capacidades e necessidades; colocar de novo o bem comum como objectivo da acção política e social; deixar o espírito soltar-se rumo ao bem; aceitar, com alegria, a força determinante da humildade, do diálogo e do serviço aos outros, será o caminho comum de edificação de um mundo que não seja de ricos ou de pobres, mas de todos.
Apostar nas riquezas pessoais e nas possibilidades da natureza criada, duas dádivas gratuitas e únicas do Criador, tornou-se uma urgência num mundo à deriva. Mas não é menor urgência que cada um de nós olhe à nossa volta as situações graves de pobreza e se interrogue, consequentemente, sobre o que pode fazer, não apenas com palavras.

António Marcelino

A NOSSA GENTE: JACINTA

Nascida a 26 de Maio de 1971, na Freguesia da Gafanha da Nazaré, Município de Ílhavo, Jacinta iniciou o seu percurso musical com apenas 4 anos de idade, tendo a sua primeira actuação pública ocorrido em 1982, ao cantar em dueto vocal com a sua irmã.
Determinada em enveredar pelo mundo da música, ingressou no Conservatório de Aveiro em 1983. Sete anos mais tarde começou cantar a solo músicas dos Beatles, Simon & Garfunkel, Sérgio Godinho, Rui Veloso, entre outros. O estudo da música clássica em piano e composição foi posteriormente aprofundado com a Licenciatura em Música na Universidade de Aveiro, iniciada em 1990.

“Da janela dos outros”


“Nós não somos melhores do que os outros. No entanto, as coisas correm-nos melhor do que a outros. Nós, a pequena minoria que vive na paz e na prosperidade, temos um caminho para o Céu muito diferente da enorme maioria que sucumbe na miséria e no medo, na dor e na fome. Mas, penso que todos estes oprimidos serão felizes na eternidade, pois são os mais pequenos dos que Lhe pertencem e, portanto, os seus preferidos. Deus entrega-Se a nós através dos nossos irmãos cristãos que sofrem para que, graças aos nossos bens materiais, Lhe dêmos de comer quando tem fome, de beber quando tem sede, que o vistamos quando estiver nu…”

Padre Werenfried (1913-1993), fundador da Ajuda à Igreja que Sofre

PONTES DE ENCONTRO


A verdade (dos combustíveis) vem sempre ao de cima!

No dia 20 de Maio de 2008, a propósito da “velha” questão do preço do petróleo e do relatório que o Ministro Manuel Pinho pediu, na altura, à Alta Autoridade da Concorrência, para averiguar como os preços dos combustíveis são formados em Portugal, tive a oportunidade de escrever, aqui, no “Pela Positiva”, que o Ministro recebia (e recebe), trimestralmente, relatórios da AdC, sobre a informação que pediu, pelo que dizia, a dado passo do texto, de então. “ A ser assim, o que espera o Dr.º Manuel Pinho? Milagres? Parece, isso sim, que estamos perante mais um estudo encomendado para ir iludindo os portugueses.”
Já no dia 31 de Maio, voltava a escrever outro texto, sobre o mesmo assunto, onde a dado passo deste, referia: “é pura hipocrisia e demagogia política aquilo que os responsáveis políticos [europeus] estão a fazer: andarem armados em bonzinhos e vítimas, quando, há três anos e meio (!), pelo menos, nada fizerem para que o choque petrolífero e a especulação, que sabiam estar a acontecer, não fosse tão abrupto e tão longe.” Relembro que, então, o barril de petróleo andava à volta de 40 dólares.
Finalmente, no passado dia 3 de Junho, a AdC divulgou o famigerado Documento, de 96 páginas, a que deu o título de Relatório da Autoridade da Concorrência sobre o Mercado dos Combustíveis em Portugal, no qual se diz: “que a investigação levada a cabo pelo regulador "não conseguiu" encontrar situações ilícitas na formação dos preços dos combustíveis em Portugal, nem situações de abuso da posição dominante por parte das maiores petrolíferas do mercado, nomeadamente a Galp Energia, a BP e a Repsol.
Estamos perante um problema que ultrapassa a dimensão nacional e ultrapassa as questões concorrenciais", disse o presidente da AdC, Manuel Sebastião.
Para além de outras considerações que o relatório descreve, nada de substancial é dito de novo (nem este podia pôr-se a inventar novidades), pelo que, mais uma vez, se andou a brincar com os cidadãos portugueses, com a sua boa fé e com o seu dinheiro.
É esta a dimensão e a dignidade que se vai dando à política em Portugal, hábito que não é só de agora, num permanente jogo do “faz-de-conta”, para gáudio, eventualmente, dos ingénuos ou daqueles em que a “partidarite” já se sobrepôs ao seu discernimento e à sensatez pessoal, perante a realidade preocupante em que o país está envolvido.
Escrevo tão mais à vontade quando se sabe que nem foi o Governo actual que procedeu à chamada liberalização dos combustíveis, em Portugal, facto que ocorreu em Janeiro de 2004. Só que, para se fazer uma liberalização honesta e com seriedade, coisa que os responsáveis políticos de então não fizeram, seja na actividade que for, não se pode ter um único operador dominante (neste caso a Galp), de Norte a Sul do país, em que as refinarias são deste (Sines e Matosinhos) e servem também os concorrentes. A isto chama-se desonestidade e brincar às liberalizações. Havia, pois, antes de se proceder à chamada “liberalização”, que dividir a Galp em várias empresas, definir regras claras e transparentes de regulação deste mercado, desde a refinação, armazenamento, transporte e distribuição e só depois arrancar para a liberalização, propriamente dita. Aliás, o mesmo se passou com a liberalização do mercado das telecomunicações ou da electricidade que, de liberalização só tiveram o nome.
De qualquer modo, nesta altura, face ao contexto internacional da escalada especulativa dos preços do petróleo, tudo isto, que é importante, a nível nacional, passou para uma situação secundária, sem prejuízo de se tomarem medidas, sérias e urgentes, para que a liberalização dos combustíveis em Portugal se torne uma realidade, coisa que eu não me acredito ir acontecer, pelo que tudo, no essencial, vai continuar na mesma.
De resto, continuamos a brincar aos governantes e aos governados e, nestas brincadeiras de maus resultados, sabemos muito bem porque lado parte sempre a corda e quem, no final, tem que pagar uma nova.

Vítor Amorim

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O 13 de Maio pelo rádio

"Teria os meus seis anos quando vi e ouvi, pela primeira vez, um rádio. Na altura chamavam-lhe telefonia. Foi na casa do tio João. Num dia 13 de Maio, para ouvir as cerimónias de Fátima. Mulheres e filhos sentados no chão, numa sala onde a telefonia era rainha, ali se ouvia o que decorria no Santuário de Fátima, com a missa celebrada em latim. Um padre fazia os comentários e um locutor, como então se dizia, dava explicações do que estava a acontecer. O tio João, sentado ao lado do rádio, de quando em vez acertava a sintonia. Pelos vistos, as ondas sonoras desviavam-se do aparelho e era preciso estar atento, para não se perder pitada do que lá longe acontecia."
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MAR DE SONHOS – ENTRADA DA BARRA DE AVEIRO

Clicar na foto para ampliar
"MAR de SONHOS" é um espectáculo a não perder, tendo como pano de fundo a Entrada da Barra de Aveiro. Esta é mais uma iniciativa, entre muitas, integrada nas celebrações dos 200 anos da Abertura da Barra de Aveiro, que trouxe mais vida a toda a região.

Multibanco: mais um imposto disfarçado?


Já por várias vezes, responsáveis da banca portuguesa têm feito declarações públicas no sentido de se vir a cobrar uma taxa por cada operação que os portugueses façam nos terminais Multibanco, como sejam, por exemplo, levantar dinheiro, fazer pagamentos ou carregar cartões de telemóvel.
Pois, ontem, dia 4, foi a altura do Presidente da SIBS (sociedade que gere toda a cadeia dos terminais Multibanco), Vítor Bento, dizer que os portugueses poupam 190 milhões de horas em filas de espera, nos bancos ou noutras empresas, o equivalente a 750 milhões de euros, por ano, por utilizarem este serviço bancário.
O que este responsável da SIBS não disse foi quanto poupam os bancos (e o país) por não terem estas filas de clientes no interior das suas agências, com a natural sobrecarga de trabalho para os seus funcionários, para além da necessidade que haveria de aumentar o número destes e mesmo o número de agências bancárias, caso os portugueses não utilizassem os terminais de Multibanco.
Estamos, pois, perante uma informação parcial, ou mesmo tendenciosa, quem sabe para ir preparando o terreno para a implementação da dita taxa aos cidadãos portugueses.
Os banqueiros não brincam em serviço, nem falam por falar. Só não avançarão para esta cobrança se, de todo, for impossível. Estes senhores do dinheiro nunca desistem dos seus intentos!
Cabe aos cidadãos portugueses estarem informados e, se necessário, manifestar o seu descontentamento e repúdio, tanto junto da banca como do Governo, se tal se vier a justificar.

Vítor Amorim

A Igreja respeita ateus e espera ser respeitada


O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, assegurou esta Quinta-feira que a Igreja respeita os ateus e espera o mesmo respeito por parte destes.
Num encontro com jornalistas, no qual foi questionado a respeito da criação da Associação Ateísta Portuguesa (AAP), o Patriarca assegurou que “cá estaremos para respeitar e dialogar, esperando também ser respeitados”.
A recém-criada AAP manifestou-se contra várias tomadas de posição da Igreja Católica em relação ao ateísmo, incluindo uma do próprio Cardeal D. José Policarpo. Na sua homilia de Natal de 2007, este responsável afirmou que “todas as expressões de ateísmo, todas as formas existenciais de negação ou esquecimento de Deus, continuam a ser o maior drama da humanidade”.
Hoje, aos jornalistas, o Patriarca de Lisboa voltou a sublinhar que “se eu acredito que Deus é essencial na vida do homem, desconhecê-lo é um problema fundamental na vida do homem".

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Casa Major Pessoa





De cima para baixo e da esquerda para a direita: Entrada principal, Mirante, Entrada traseira, Bomba, Painel de azulejos (Clicar nas fotos para ampliar)

A Casa Major Pessoa, onde entrei na passada semana pela primeira vez na minha vida, vai ser, num futuro que se espera próximo, o Museu Arte Nova. Mais um pólo museológico, que muito enriquecerá a cidade e a região.
Há muito desejava entrar ali, numa casa que tinha para mim algo de misterioso pela ostentação da arte que lhe deu o ser. Quando jovem, vi entrar e sair gente do edifício, mas nunca soube quem era o Major Pessoa. Só imaginei que, para ter uma casa como aquela, tinha de ser alguém com posses ou ligado a uma família de teres e haveres.
Mas na semana passada tive então o prazer de andar de sala em sala, apreciando as obras de restauro que foram levadas a cabo, por iniciativa da Câmara Municipal de Aveiro. Porém, logo verifiquei que há muito trabalho a fazer, para que o museu se apresente com ar humano e pedagógico, de forma a que os visitantes, uma vez lá dentro, possam apreciar o viver num espaço dos princípios do século XX. Nesta visita, deu para contemplar o ferro forjado das decorações exteriores e os azulejos decorativos, tudo mostrando um bom gosto, típico da Arte Nova.
Estou em crer que não faltará quem se atreva a oferecer ao Museu Arte Nova peças coetâneas da Casa Major Pessoa e representativas da arte que inspirou a construção do edifício.
FM

NA LINHA DA UTOPIA

Fernando Nobre
O tempo de gritar

1. «Talvez tenha chegado o tempo de gritar!» A afirmação é de Fernando Nobre, presidente da AMI – Assistência Médica Internacional http://www.ami.org.pt/, em sessão (realizada a 4 de Junho) promovida pelos Serviços de Acção Social da Universidade de Aveiro. A resposta à temática «É possível sonhar com um mundo melhor?», integrando a apresentação do seu último livro «Gritos contra a Indiferença» (2008, editora Temas e Debates), foi partilhada com a experiência de serviço humanitário que ultrapassa todas as fronteiras. A AMI, fundada a 5 de Dezembro de 1984, tem sido ao longo destes já longos anos a realização solidária desse grito de esperança e de inquietação humana que supera as fronteiras dos estados, no primado da causa do serviço às pessoas na sua situação.
2. Quem vive autenticamente para servir não esconde as dificuldades e as barreiras encontradas nessa mesma entrega. Fernando Nobre não teme, por exemplo no recente caso da Birmânia, em esconder os problemas encontrados mas manifesta a esperança da resolução positiva das contrariedades, também na desejada abertura de fronteiras ideológicas para a solicitude para com as populações afectadas. Nas sociedades democráticas ele apresenta um tripé no qual assentar a construção social: 1. O Estado (de direito); 2. A economia (social); A sociedade civil (viva e fortemente actuante). Como se depreende, talvez pudéssemos ordenar de forma diversa estes três vectores, mas sempre no essencial da sua preservação harmónica e como estruturação de uma comunidade verdadeiramente humana.
3. Este último livro completa o anterior «Viagens contra a Indiferença» (2004). A obra actual também é colectânea de artigos e conferências realizadas nestes últimos dez anos, em que nos apercebemos da evolução premente que a luta contra a indiferença assume. Destaca Fernando Nobre que, da sua leitura viajante do mundo, e diante do colapso de tantas certezas recentes cabalmente desmoronadas, não chega falar é mesmo preciso «gritar» e agir. Uma boa (e profundamente inquietante) leitura para o tempo de verão poderia ser este escrito do presidente da AMI. Não são pensamentos dedutivos, de cima para baixo. Antes pelo contrário, partem da crueza das realidades e procuram esboçar uma concepção realista de sociedade em dignidade da pessoa humana. Se perdermos esta «luz» de sabedoria, perdemos tudo.
4. Tanto que é preciso reinterpretar toda a realidade a partir destas realidades tão cruas! E tanto que estes sábios da experiência deveriam ser mais ouvidos pelos decisores, dos políticos aos educativos! Também nestes terrenos é preciso um gritar humano!

Dia Mundial do Ambiente


Natureza: beleza de Deus!


Celebra-se, hoje, o 36º Dia Mundial do Ambiente, por resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 15 de Dezembro de 1972, que designou o dia 5 de Junho, de cada ano, como dia para a sensibilização da população do planeta Terra para os enormes desafios que se colocam à sua preservação, bem como à dos seus cidadãos e à valorização e protecção que estes têm que fazer desta casa comum onde habitam.
As principais comemorações internacionais do Dia Mundial do Ambiente, deste ano de 2008, realizar-se-ão em Wellington, na Nova Zelândia e o slogan adoptado é “Kick the Habit! Towards a Low Carbon Economy” (Muda o hábito! Para uma economia com baixos níveis de carbono).
Reconhecendo que as alterações climáticas constituem actualmente uma das grandes preocupações ambientais, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA) pede que os países, empresas e comunidades reduzam a emissão dos gases com efeito de estufa, sublinhando que todos nós podemos optar por fazer parte da solução, consumindo menos energia e fazendo opções mais ecológicas no nosso quotidiano.
A partir de meados do século XX, o meio ambiente e a ecologia passaram a ser uma preocupação em todo o mundo. Contudo, ainda no século XIX, um biólogo alemão, de nome Ernst Haeckel (1834-1919), criou formalmente a disciplina que estuda a relação dos seres vivos com o meio ambiente, ao propor, em 1866, o nome ecologia para esse ramo da biologia.
Celebrado de várias maneiras (paradas, concertos, competições, ou até mesmo lançamentos de campanhas de limpeza nas cidades), nesta data, muitos são os responsáveis políticos que fazem as declarações habituais, através das quais se comprometem a tomar conta da Terra. Se é verdade que muitas promessas têm sido feitas, com o intuito de se conseguir que a vida seja sustentável e tenha qualidade no planeta, não é menos verdade que os resultados práticos têm ficado muito aquém das intenções proclamadas e do que a realidade exige.
Aprender a consumir menos do que aquilo de que realmente necessitamos, ter hábitos de poupança energética (caso das lâmpadas economizadoras), andar menos de carro, poupar água, comprar aparelhos electrodomésticos de baixo consumo, separar o lixo doméstico, isolar os nossos lares do frio e do calor, entre muitos outros hábitos pessoais, alguns deles diários, são medidas da responsabilidade de cada cidadão, que as deve assumir de forma mais consciente.
Para além disto, existe todo um conjunto de inúmeros problemas e desafios que esperam, urgentemente, medidas estruturais e coordenadas, a nível mundial.
A poluição dos rios, dos mares, da atmosfera, as alterações climáticas, a desertificação de vastas áreas do planeta, o efeito estufa, a diminuição da biodiversidade, são apenas alguns dos assuntos que aguardam respostas e soluções de fundo, não só do ponto de vista técnico, mas, sobretudo político.
Portugal não está imune a este fenómeno global e, neste momento, cerca de um terço do país tem características climáticas e vegetação próprias das zonas áridas, sobretudo em algumas zonas no interior do território e no Sul do País.
Noutros países, principalmente no continente africano, o problema é mais grave, pois todos os anos morrem muitos milhares de pessoas só por causa da seca.
As Nações Unidas calculam que cerca de 135 milhões de pessoas estão em risco de abandonar áreas de território dos seus países, devido à aridez, à falta de condições para a agricultura e abastecimento de água.


Vítor Amorim

quarta-feira, 4 de junho de 2008

NA LINHA DA UTOPIA

A euforia e a razão
1. Tudo parece preparado. A onda de euforia, agora do Euro 2008, está no ponto-mel para celebrar as vitórias ou chorar as derrotas. Mesmo para os mais racionalistas é um facto a onda que se observa… Naturalmente em excesso, pois o entusiasmo não conhece fronteiras. Quem vê uns minutos de televisão, a publicidade logo anuncia a matriz futebolística… A Suíça, povo metódico e mais introspectivo, onde a selecção está alojada, está acordada e surpreendida com toda a festa antes do título; os jogadores sentem essa pressão e não querem defraudar; das equipas técnicas, mesmo que só se diga que «vamos fazer o melhor», depois do Euro 2004, só se pede o título. Tudo pode acontecer, a estrela da sorte ou o azar que também tiveram connosco os adversários de Portugal em 2004. Das nossas comunidades imigrantes já seria de esperar a euforia e a festa; mas esta cresceu galupantemente, até ao ponto de não retorno. Sem um único jogo e sem qualquer vitória todas as emoções já estão ao rubro a ponto de que todos são bestiais; mas se as coisas não correrem assim tão bem é a queda para o reverso da medalha, da depressão e das bestas. São assim as emoções. 2. Contraditoriamente com a onda da euforia colectiva, nota-se que, desta vez, há mais prudência e maturidade; são mesmo os jogadores a dosearem com a razão (do trabalho) toda a carga de obrigação a que as emoções os impulsionam. Mas um sinal diferente está dado, quer se queira, quer não. As comunidades portuguesas, por esse mundo fora, andam à procura de um símbolo positivo de pertença; esse, é um facto (e mesmo acima de todas as psicologias das emoções), com a selecção de futebol está encontrado. Quem não se lembra do que aconteceu no Euro 2004? É um excesso, é criticável, mas é um facto que vence a própria razão. Está mal? Está bem? Talvez estas sejam questões racionais demais para algo que supera toda a lógica. Ficou-nos aquela frase, inspirada em Agostinho da Silva, em que se diz que «Portugal não se entende pela razão, pois pela razão um povo tão pequeno não poderia construir um tão vasto império, nem poderia, depois de perder a sua independência, recuperá-la e resistir ao mais poderoso monarca da terra, conseguindo, além do mais, o que não conseguiria unido à Espanha: recuperar o Brasil aos Holandeses» (Pedro Calafate). 3. Se toda esta energia emocional for “canalizada” com determinação para as causas comuns, então seja bem-vindo tudo o que mobilizar e der confiança à identidade dos portugueses. Com racionalidade e empenho determinados que impeçam os excessivos baixios, mas projectando de forma inovadora acima da mera razão lógica e prática das coisas práticas. Afinal, equilibrando, há vida para além da razão!

Paira sobre nós a ameça dos famintos...

No comício da esquerda, que se realizou ontem, em Lisboa, Manuel Alegre, do PS, afirmou que "a pobreza é uma tragédia, não é uma fatalidade como a direita quer fazer crer, mas um problema estrutural que resulta de um esquema económico". Com a crise económica a bater a todas as portas, gerando cada vez mais pobres entre nós, muitos deles com vergonha e sem capacidade para se assumirem como carentes do essencial para uma vida digna, não têm faltado organizações de todos os quadrantes, políticos e civis, a clamarem por soluções rápidas que minimizem a situação de pobreza de muitos. Como sempre, neste país de brandos costumes, não falta a solidariedade de bastantes portugueses, mas o mais importante, que é descobrir respostas políticas eficazes, continua na arca das coisas adiadas. Ontem vi na SIC Notícias um velho revolucionário e idealista, Miguel Tavares Rodrigues, a falar com entusiasmo das suas experiências e dos seus sonhos. Mas também lhe ouvi um chavão conhecido há muito: só o povo é que faz as revoluções. Obviamente, o povo que sofre, que passa fome, que sente a opressão, que vive escravizado, que é espezinhado nos seus direitos, que não vê no sistema económico respostas para os seus dramas. É certo que vivemos numa democracia estabilizada, mas injusta, que pertencemos à UE, organização que tem por missão sanar ou evitar conflitos, que quer o progresso económico e o bem-estar de todas os europeus. Mas nada nos garante que o século XXI seja um século sem revoluções, sem contestações em massa. Há meses, o general Garcia Leandro denunciou que já tinha sido “convidado para encabeçar um movimento de indignação”, sublinhando que “Os regimes podem renascer. Este regime está gasto.” Dias depois, comentou no meu blogue que queria “apenas alertar com ênfase que é preciso governar com muito mais competência e justiça social.” Ora a chave da questão está aqui: é mesmo preciso governar melhor e com mais justiça social. Enquanto isto não acontecer, é certo e sabido que paira sobre nós a ameaça, legítima, dos famintos e explorados deste país. FM

Entre a euforia e a depressão

É muito mais que um jogo de palavras. É a distância curta entre a porta de David de hossanas e o Horto do abandono. É o risco simples que separa os que aclamaram rei e os que - possivelmente os mesmos - preferiram Barrabás. O fio entre o louvor e o vitupério. O estado de alma flutuante entre uma festa intensamente passageira e uma dor friamente prolongada. Um tempo de fartura no Egipto com o Faraó a esbanjar tudo, e o tempo magro com o filho mais novo de Jacob a racionar as migalhas para cada mesa carcomida de olhares esfaimados. Diremos, resignadamente, que é a vida, na sua complexidade de andamentos, ora alegres ora arroxeados de adágios intermináveis em tons menores. Quem sabe medir com precisão a vida? Estas divisões e fronteiras estão na nossa cabeça e na nossa cultura. A sofreguidão do todo em cada momento, do indivíduo para além da comunidade, do agora contra todos os futuros, da exaustão do bem estar imediato a todo o preço, do relativo anteposto a todos os absolutos, com o individualismo em nome do direito de cada pessoa, do mundo, enfim, para mim voltado como se fora o único, e o instante de prazer como a eternidade comandada por pulsões do agora. Por isso se torna difícil a gestão da crise, da dor, da construção paciente de edificação invisível, do investimento sem resultados palpáveis, dos gestos significativos apenas quando vistosos. A ascese cristã pode ensinar-nos esta subida à montanha com a esperança a reforçar o coração, o alto a mitigar o cansaço, o tempo no ritmo certo da nossa marcha, conjugada com o caminhar da história, que é como quem diz com o projecto de Deus. A que vem todo este filosofar breve? Vem à crise que nós vivemos para além das nossas fronteiras porque o jogo desenfreado do negócio, mais conhecido por mercado livre, faz estremecer os alicerces da casa, da saúde, dos transportes, da cultura, da sobrevivência de crianças e idosos. A especulação é o serviço oportunista dos espertos que adivinham a inclinação do barco.Com esta crise algo se deve afundar para que o barco seja salvo. Há pesos de bugigangas inúteis que importa deitar fora. Isso é muito mais importante que colocar a euforia ou a depressão no prato descontrolado da balança do petróleo. Não podemos, neste momento, fechar-nos no nosso casulo. Mas é imperioso reconhecer que muito há a mudar nos nossos hábitos pessoais e comunitários.
António Rego

NA LINHA DA UTOPIA

A Paz Infantil
1. Corria o ano de 1982 e, na sensibilização crescente para os valores da respeitabilidade humana para com as crianças, a Organização das Nações Unidas instituiu o dia 4 de Junho como o Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão. O mês de Junho, abertura do tempo de verão, convida-nos, assim, ao incentivo da reflexão sobre a preservação da dignidade da pessoa humana a partir idades mais tenras. Como sabemos e pelas notícias que todos os dias vemos (e muito para além delas), tanto que é preciso sensibilizar globalmente pela positiva. Esta dramática realidade da violência infantil exprime-se de forma múltipla, de modo «físico, sexual, psicológico, social, económico, entre outras». 2. A história da violência infantil regista a própria história da dignificação da pessoa humana, em que até ao século XVIII a criança era pouco valorizada e muito desrespeitada, tendo sido vítima quer de trabalhos forçados quer submetida a todo o género de agressões. Neste contexto, é importante destacar que os estudos da psicologia, pedagogia, pediatria e psicanálise realizados no século XIX trouxeram uma nova consciência da autonomia da criança e, por isso, a consequente dignificação daquela que está em fase de aprendizagem do ser. Parece estranho revisitar esta triste história, mas os múltiplos abusos violentos que continuam a ser realizados “hoje”, directa ou indirectamente, assim reclamam esta tomada de consciência de que essa história negra não terminou. 3. Zelar por uma cultura da paz infantil não é só tarefa dos pais. É missão da sociedade em geral (da educação à saúde, dos governantes à comunicação social) e que acaba por nos interpelar sobre o modelo de sociedade futura que queremos. Quando a violência entra pelas televisões, cinema, e já mesmo pelas publicidades dentro; quando os símbolos geracionais apostam numa certa força da libertinagem que esbarra com a liberdade dos outros…destas formas tão informais vai-se gerando uma cultura não pacífica e competitiva até ao rubro, já entre as crianças. Quem dera que todos os dias fossem vividos não «contra» nada, mas sim a favor dos valores e princípios de tal maneira que não houvesse qualquer espaço para a violência. No mundo continuamos muito distantes deste ideal; mas a aposta determinada no acolhimento das diferenças e na cultura da paz, sem dúvida, afirma-se como a tarefa educativa decisiva de todas as gerações.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Com máquina avariada...

Com máquina avariada... fico limitado. Não se trata da máquina humana, que essa vai andando como pode. Trata-se, isso sim, do meu portátil, onde tenho o essencial para o meu dia-a-dia do ciberespaço. Espero que a reparação seja rápida, para me evitar preocupações. É que gosto mesmo de estar em sintonia com os amigos e com o mundo.
De qualquer modo, sempre que me seja possível, por aqui andarei, nem que tenha de bater a outras portas.
FM

PONTES DE ENCONTRO


Beato João XXIII: memória de bondade e desafio para sempre!

Há quarenta e cinco anos, exactamente na tarde do dia 3 de Junho de 1963, morria o Papa João XXIII, com 81 anos de idade, vítima de cancro do estômago.
Eu, na altura, tinha cerca de dez anos de idade, mas lembro-me, como se ainda fosse hoje, da imensa consternação que se apoderou dos habitantes da aldeia em que vivia.
Não uma tristeza apenas provocada pela morte de alguém que nos é querido, mas, sobretudo, e disso tenho a certeza, pelas dúvidas se haveria alguém capaz de dar continuidade ao trabalho de renovação da Igreja que o Beato João XXIII tinha iniciado com a convocação do Concílio Vaticano II (25.XII.1961).
Se alguma coisa aprendi na vida, até hoje, foi ver que o povo simples pode não perceber nada de teologia, de música, de arte ou de qualquer outra actividade de cariz mais ou menos intelectual, mas tem uma percepção enorme para distinguir o bom do mau, o justo do injusto e o fundamental do acessório, coisas que os intelectuais nem sempre sabem discernir, em tempo útil, apesar de todos os conhecimentos que possam ter.
Como referi, naquele dia de Junho, ouvi muitas vozes dizer: - E agora, como vai ser?
Claro que eu, na altura, não entendia o alcance daquelas interrogações. Volvidos todos estes anos, fui percebendo que se há alguém que aspira à renovação genuína, na simplicidade e na solicitude, como devem ser, sempre, as coisas de Deus, é o povo anónimo. Só precisam que o acarinhem, orientem e que os seus Pastores não se afastem dele, pois a sua receptividade e disponibilidade é do tamanho do mundo.
Creio que esta, ainda é, uma das maiores riquezas da Igreja que, infelizmente e gradualmente se está a perder, não só como consequência das profundas alterações sociais que se têm operado na sociedade portuguesa, ao longo das últimas mais de três décadas, mas, também, pelo alheamento ou incapacidade em dar respostas audíveis, perceptíveis e envolventes, por parte de alguns sectores da Igreja, a que não é alheio o decrescente nível de vocações sacerdotais e a sempre adiada clarificação do estatuto dos leigos nesta mesma Igreja.
Se fosse feita uma sondagem aos cristãos da Igreja Católica, qual seria o número destes que responderiam conhecer os principais Documentos saídos do Concílio Vaticano II, designadamente os conteúdos que mexem com a maneira de ser e assumir-se cristão?
E, destes Documentos, quantos serviram para discussões de trabalho e de evangelização das comunidades eclesiais, e, a partir deles, traçar percursos, aproveitar vitalidades e criar objectivos de acções concretas, perante as necessidades das próprias comunidades?
Alguns dirão que a baixa escolaridade das gerações mais antigas tem dificultado este trabalho. Porém, tenho enormes dúvidas que as gerações mais novas (que nem a chamada religiosidade popular têm), possuindo um grau de escolaridade mais elevado, estejam receptivas a agarrar no essencial do Vaticano II e fazerem dele, como se diz na linguagem informática, “motor de busca” para as suas vidas e da Igreja em que foram baptizados.
Para os mais novos ou menos atentos, durante os seus quase cinco anos de pontificado (1958-1963), o Beato João XXIII enfrentou muitas resistências internas da própria Cúria Romana e um mundo em convulsões permanentes, entre os países da Cortina de Ferro e o mundo Ocidental. A Guerra Fria (1945-1991), a construção do Muro de Berlim (1961), a crise dos mísseis de Cuba (1962), o primeiro homem no espaço (1962) e a Guerra do Vietname (1959-1975) são alguns dos acontecimentos que estiveram em cima da sua secretária. Foi preponderante o seu papel na resolução da questão dos mísseis de Cuba, pois o próprio Secretário-Geral da União Soviética, Nikita Khrushchov, para escândalo de muitos, não escondia o respeito e a admiração que tinha por esta figura ímpar da Igreja Católica.
Deste “Bom Papa”, como carinhosamente foi baptizado pelo povo, fica o exemplo que só é velho quem quer e que a “Obediência e a Paz” (seu lema episcopal) são para todos e para toda a vida.

Vítor Amorim

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Manifesto Contra a Fome

"Apelamos aos governantes para que promovam políticas que possam corrigir o fosso que separa ricos e pobres e que tenham em vista, não o que agrada aos grupos particulares, mas sim o que pode conduzir todos os cidadãos e cidadãs a uma situação de autêntica cidadania, isto é, a condição de pessoas livres e com meios indispensáveis para tomarem o destino das suas vidas nas próprias mãos. Deixar que continue a verificar-se o agravamento do preço dos alimentos essenciais, dos cuidados de saúde, dos transportes e do acesso a uma educação efectiva só pode conduzir ao aprofundamento do fosso entre os muitos que têm pouco e os poucos que têm muito. E as consequências em termos de paz social só podem ser trágicas."
Ler o Manifesto

Arte na praia

Painel de Zé Augusto (clicar na foto para ampliar)


Quando vejo que há o bom gosto de oferecer arte a quem passa, na rua ou em lugares públicos, fico satisfeito. Até me apetece bater palmas, para mostrar essa satisfação. Os frequentadores da Praia da Barra têm, desde 3 de Abril deste ano, um painel cerâmico de Zé Augusto, um artista aveirense que há muito marcou presença assídua em eventos citadinos, e não só. A feliz ideia de o convidar para celebrar, à sua maneira, os 200 anos da Abertura da Barra de Aveiro, precisamente no local onde Luís Gomes de Carvalho, com a biqueira da bota, deu liberdade à água do mar para lavar a nossa ria, está bem à vista de quem vier a frequentar este recanto paradisíaco da Gafanha da Nazaré.

O cheiro do Verão




(Clicar nas fotos para ampliar)


Hoje de manhã fui à Praia da Barra, para cheirar o Verão. Não vi muita gente, mas vi como tudo está a ser preparado para receber os veraneantes, que não faltarão, logo que o tempo quente e ameno chegue.
A azáfama era grande na preparação do areal, que o bom ambiente exige muita limpeza. E por lá andava o tractor que limpava e peneirava a areia, enquanto outras máquinas e pessoal libertavam os passadiços de autênticas dunas que o mau tempo para ali levou. Na praia, ainda é visível a colocação de areias, para reforçar o espaço destinado às pessoas. Também vi que nos restaurantes há preparativos para servir quem vem de férias ou de passagem, e até verifiquei que em casas particulares há retoques, como que a preparar boas férias.
Também é verdade que a Praia da Barra tem sempre quem goste dela. E quer de Verão quer de Inverno, não falta quem aprecie o mar e se delicie com a maresia.

NA LINHA DA UTOPIA



O Rio de Amy


1. Nestes dias decorre o Rock in Rio. Se o slogan que foi percorrendo os últimos meses dizia «eu vou», já da nossa parte confessamos que nunca fomos nem contamos ir ao grande festival que abre os festivais de verão já característicos do verão português. O Rock in Rio nasceu no Brasil, Rio de Janeiro, no ano de 1985. Tendo andando meio irregular nas suas realizações, a partir de 2001, a estratégia mobilizadora voltou-se para a causa «Por um Mundo Melhor», este o lema simpático do festival que ocorre nestes dias novamente para os lados de Lisboa. Nesse ano de 2001, conseguiu-se a realização do acto simbólico de cinco minutos de silêncio no início do festival; silêncio mesmo para três mil rádios e 522 televisões de todo o mundo já presentes. O final deste silêncio foi marcado pelo toque de sinos e libertação de uma imensidão de pombas brancas, pedindo a paz para o mundo.
2. Como hábito nestas coisas, o evento foi crescendo. A certa altura os artistas são mais as vedetas do mundo do espectáculo que os viventes das causas que o festival quer representar. Bom, há sempre uma ou duas frases simpáticas que se dedicam ao mundo melhor, mas quanto ao resto, pelo que se noticia, parece que a “música” é efectivamente outra! Queremos acreditar que tudo o que envolve o festival seja mesmo por um mundo melhor(?)! De uma coisa não haja dúvida: é incontornável o poder destas realizações que, de modo informal vão passando todas as mensagens, do melhor ao menos melhor. Sem ser contra nem a favor, mas mantendo o olhar atento ao que acontece, para quem quer compreender como vão as motivações, as vontades, as participações, as causas, a sua coerência profunda, este acontecimento e os seus continuadores fazem-nos pensar sobre o que querem as juventudes, ou o que outros querem que eles queiram (?).
3. Na noite de abertura do Rock in Rio estavam, segundo alguns organizadores e jornalistas, cerca de 100 mil pessoas a assistir. Claramente que o entretenimento, hoje um privilégio ampliado da novas gerações, tem todo o seu saudável lugar. Mas fazer do entretenimento a própria vida será outra realidade bem distinta, facto que também existe. Uma das vedetas da primeira noite era Amy Wienhouse. Artista, pelos vistos de renome de que confessamos a total ignorância pelo desconhecimento. De tão badalada e da nossa curiosidade em saber quais os valores que merecem tamanha idolatria, em viagem de carro ouvindo na rádio ecos da grande noite anterior, eis que ficámos surpreendidos pelos símbolos que Amy representa e com os quais ilumina, consciente ou inconscientemente, os seus fãs seguidores: «Vulnerável […] Decadente. […] Um misto de gravidade emocional e vulnerabilidade extrema. […] Frágil, magnífica, autêntica, verdadeira, descontrolada, decadente, fraude ou trágica»; vícios. (Público, P2. 1 Jun. 8-9)
4. Ficámos surpreendidos e perguntamo-nos onde está a filosofia da qualidade desejada para a construção do mundo melhor? Enfim, com realismo, é mesmo assim que vai o Rio…


PONTES DE ENCONTRO


A ciência e a liberdade de escolha

Na semana passada, aconteceram-me três situações no mesmo dia que, sem o imaginar, iriam estar todas interligadas entre si.
A primeira, começa com uma entrevista que o cientista António Damásio deu à jornalista Clara Ferreira Alves, publicada no jornal “Expresso”, de 24 de Maio.
Concorde-se ou não com esta perspectiva biológica de ver, analisar e conceptualizar a vida e o homem, a dado passo da entrevista, o cientista português fala do bem e do mal, “em sentido biológico” – como ele diz – dizendo que “O bem é o resultado de acções que levam à manutenção da vida, especialmente à vida com bem estar, ou à sobrevida do bem estar, ou à promoção da vida com bem estar, não só no próprio como nos outros. E o mal seria o conjunto das acções e dos estados que conduz à perda da vida ou que prediz a perda da vida, caso da dor…”
Mais adiante acrescenta: “que quando se fala de vida, não se pode olhar só para a própria vida, mas também para a dos outros. O bem-estar individual é impossível se à nossa volta se estiverem a passar, por exemplo, catástrofes naturais.”
Ainda a pensar no que tinha acabado de ler, saí de casa e deparo com uma vizinha minha, que estava com um ar entristecido e abatido. Como é habitual, sempre que nos encontramos, ficámos à conversa durante algum tempo e o seu desabafo surgiu: o filho dela, com 16 anos de idade, tinha posto a casa em “pé-de-guerra”, porque queria ir, a bem ou a mal, para o festival musical do Rock in Rio, que decorreu em Lisboa, neste passado fim-de-semana. Daí, há que exigir dinheiro aos pais, já que autorização é coisa que ele dispensa bem. Como a vida, não está para festivais de coisa alguma, não houve dinheiro e a reacção deste adolescente não foi a melhor, ameaçando os seus pais que ía para Lisboa, à boleia, e que lá haveria de se desenrascar, de alguma maneira.
Perguntei se podia ajudar e pus-me à disponibilidade para falar com este jovem. Coisa que já tem acontecido, mas, nem sempre com os melhores resultados.
Segui o meu caminho a lembrar-me da entrevista do cientista António Damásio e da conversa sobre o meu amigo, que o é, o jovem do rock, e, no meio de tudo isto, a pensar e a interrogar-me como é que ele era tão diferente do seu outro irmão, creio que com 19 anos, bem mais calmo e ponderado, relativamente a este seu irmão. Porquê estas diferenças? De onde elas vinham? Onde está o seu fundamento? Se reduzirmos as coisas só à biologia, como parece ser a proposta do cientista António Damásio, diria que o irmão mais velho foi bem programado e mais novo mal programado. Mas, o homem está para além da sua base biológica própria. De outro modo, onde está a responsabilidade individual? O bem e o mal? A liberdade? Será que tudo isto pode ser manipulado ou quantificado?
Algum tempo depois, regresso a casa, apanho a correspondência que, entretanto, tinha chegado, e encontro, nesta, uma frase que dizia o seguinte: “Cada dia percebo melhor a graça de ser católico. Viver sem fé, sem defender um bem espiritual, sem preservar a verdade na luta constante, não é viver, mas sim vegetar.” Quem a disse? Um outro jovem, italiano, de nome Pier Giorgio Frassati (1901-1925), beato da Igreja Católica, desde 1990, que eu desconhecia, até agora, que passou o curto período da sua vida a fazer o bem aos outros, sobretudo aos mais desfavorecidos da sociedade, e que, já no seu tempo, tinha a clarividência profética para dizer que: “ A Caridade não é suficiente: precisamos de reformas sociais.” Naquela manhã, tinha sido confrontado com as declarações de um cientista, reputado, que busca a compreensão dos mecanismos, biológicos, que levam o homem a fazer ou a escolher entre o bem e o mal. De um jovem a quem não parece interessar, o bem ou o mal que está a fazer à sua família. Finalmente, de um outro jovem, que mais não fez do que amar e fazer o bem. Três contrastes de vida ou, então, também, três expressões (só biológicas?) das necessidades e das prioridades individuais com que somos capazes de ver o mundo e os outros?

Vítor Amorim

domingo, 1 de junho de 2008

Ganhar tempo

"Nas desmantadelas do milho, ao serão para juntar mais vizinhos, havia o bom gosto de brincar. Num desses serões, uns trolhas que trabalhavam na Gafanha e que tinham vindo dos lados da Murtosa, apareceram com uns lençóis pela cabeça e umas máscaras improvisadas para esconderem as suas identidades. Foi uma noite bastante divertida, cada um procurando adivinhar quem seriam os mascarados. Só muito tarde, noite adiantada, se soube quem eles eram. Nunca percebi a razão destas brincadeiras que se mantêm na minha memória."
Ler mais em GALAFANHA

"A Grande Aventura" na RTP2

Creoula (Foto de arquivo)


A pesca do bacalhau e a memória
dos portugueses na Terra Nova


No dia 10 de Junho, às 23.30 horas , estreia na RTP 2 o documentário A Grande Aventura, realizado por Francisco Manso e com guião de Álvaro Garrido. O filme será de novo exibido na RTP2 no dia 14 de Junho, cerca das 10.15horas, neste caso, sujeito a confirmação.
A primeira antestreia do filme terá lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, no dia 5 de Junho, pelas 21.30 horas. A sessão contará com intervenções do Dr. Mário Soares, na qualidade de Presidente da Comissão Mundial Independente para os Oceanos, de Mário Ruivo, biólogo e Presidente do Comité Oceanográfico Intergovernamental da UNESCO, e de Rui Vilar, Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian.
A segunda antestreia terá lugar no Museu Marítimo de Ílhavo, no dia 8 de Junho, às 19 horas. A sessão inclui um debate com o realizador e o autor do guião.

Dia Internacional da Criança



Neste Dia Internacional da Criança, quando alguns Pais percorrem, afadigadamente, catálogos, ruas e lojas, em busca de brinquedos novos, caros e originais para oferecerem aos seus filhos, enquanto outros preparam para o seu filho único, aquela prometida e fantástica viagem à Disney, muitos Pais - demasiados - sem trabalho, sem tecto e sem pão, pouco mais terão para oferecer aos seus filhos, que um beijo e um abraço de ternura triste e sem esperança, outros, ainda, de tão preocupados com as suas contendas conjugais, separações, divórcios e “namoros” serôdios, esforçar-se-ão, apesar de tudo, por comparecer, talvez já atrasados, com um enorme embrulho do presente prometido, para compensar a inevitável dor da ausência, do vazio, da separação e falta de atenção, a APFN quer homenagear todas as crianças em geral, porque elas são, de facto, “o melhor do mundo”, mas, em particular, quer recordar, hoje e aqui, todas as crianças mortas sem nascer, aquelas a quem é recusado o 1º de todos os direitos: O Direito à Vida! e aquelas crianças a quem é negado o que deveria ser o seu 2º direito: o direito a nascerem e crescerem em paz e alegria, aconchegadas por uns pais que as amem e se amem, e se queiram amar para sempre, numa família com irmãos.

APFN - Associação Portuguesa de Famílias Numerosas

Na Linha Da Utopia


O mundo das crianças


1. Do tempo pós II grande guerra, diante da escassez de recursos, em que muitas crianças do mundo regressavam ao duro trabalho, quase como escravatura trabalhando de sol a sol, a Federação Democrática Internacional das Mulheres propôs às Nações Unidas que, como sensibilização universal, se assinalasse um dia dedicado à dignificação efectiva e afectiva das crianças em todo o mundo. Corria o ano de 1950. Nesta preocupa-ção, «independentemente da raça, cor, sexo, religião e origem nacional ou social», foi decretado o dia 1 de Junho como o Dia Mundial da Criança. É esta a sua origem.
2. O passo seguinte fora registado nove anos depois, a 20 de Novembro de 1959, quando da proclamação, pela Assembleia-Geral da ONU, da Declaração dos Direitos da Criança. Numa perspectiva em que se destaca (no terceiro considerando do preâmbulo) «que a criança, por motivo da sua falta de maturidade física e intelectual, tem necessidade de uma protecção e cuidados especiais, nomeadamente de protecção jurídica adequada, tanto antes como depois do nascimento». Esta declaração é proclamada «com vista a uma infância feliz e ao gozo, para bem da criança e da sociedade, dos direitos e liberdades aqui estabelecidos e com vista a chamar a atenção dos pais, enquanto homens e mulheres, das organizações voluntárias, autoridades locais e Governos nacionais, para o reconhecimento dos direitos e para a necessidade de se empenharem na respectiva aplicação».
3. Nesta caminhada ascendente, o ano de 1989 viria a consagrar a Convenção sobre os Direitos da Criança. Com 54 artigos e em linguagem acessível aos principais destinatários, destaca-se (no artigo 1º) que «todas as pessoas com menos de 18 anos têm todos os seus direitos escritos nesta convenção» e que (2º artigo) estes são garantidos «seja qual for a tua raça, sexo, língua ou religião. Não importa o país onde nasceste, se tens alguma deficiência, se és rico ou pobre». Destaca-se, assim, na óptica dos princípios esta consciencialização que carece sempre de ser assumida como prática em muitos pontos deste mundo. É desta mesma preocupação, e tendo a educação como o tesouro da transformação que, por exemplo, o 2º Objectivo de Desenvolvimento do Milénio (até 2015) deseja garantir a todas as crianças, de ambos os sexos, o ensino primário universal.
4. Esta foi e é uma viagem sofrida, mas que também não se coaduna, tantas vezes, com o excesso de centralismo de tudo nas crianças… O 10º princípio da Declaração dos Direitos da Criança (1959) sublinha que a criança «deve ser educada num espírito de compreensão, tolerância, amizade entre os povos, paz e fraternidade universal, e com plena consciência de que deve devotar as suas energias e aptidões ao serviço dos seus semelhantes». Talvez seja necessário repensar – o que está em elaboração contínua – a aposta da educação com as crianças. Há crianças de tal maneira “endeusadas” que dessa forma não crescem nos valores da amizade, da família e do grupo. Também em muitas situações monoparentais como compensação essa instrumentalização do amor cresce. Tempos de mudança social (para onde?) reclamam o repensar educacional (para melhor, familiar).

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 80

Mapa da escola do Estado Novo
OS MAPAS

Caríssima/o:

Há neste mundo que nos é dado viver coisas incríveis e inimagináveis ontem quanto mais há sessenta anos; falar de mapas nos dias do GPS! Pois, mas nos nossos tempos de infância mapas eram um luxo; mesmo nas Escolas havia apenas os indispensáveis e tratados como material de excelência e de excepção!
Mancha colorida que alegrava a sala de aula e que, aos mais velhos, permitia “ir “ até ao Brasil, à Alemanha ou à Gronelândia para “ver” onde estavam os nossos pais ou tios, conforme o caso. Guardavam-se e só apareciam quando eram precisos; da nossa parte recebiam todo o nosso carinho mesmo ao tocá-los!
O mapa de Portugal Continental, além do mapa propriamente dito onde estava o tal rectângulo ao alto, apresentava a rosa dos ventos, a escala, sinais convencionais, e outros mapas mais pequenos (“hidrográfico-rios colorido por bacias hidrográficas”, “cura de águas: termas...”, “orográfico”, “do caminho de ferro”, “campos de aviação”) e, bem saliente e com palma, o escudo de Portugal. Num outro, além da carta do Continente, exibia “carta dos caminhos de ferro”, “carta dos distritos” e “carta das estradas”. As serras eram manchas castanhas com o nome escrito por cima e os rios eram traços azuis; bem visíveis, as bandeiras assinalando as batalhas da nossa História.
Depois, o mapa de Portugal Insular e Ultramarino, com Angola e Moçambique bem no centro e, à sua volta, Açores, Madeira, Estados da Índia, Macau, Timor, Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe, dispostos aleatoriamente para melhor aproveitar o espaço; este ainda sobrava para um planisfério onde se podia ver todo o Portugal e para gráficos comparativos das respectivas áreas e população.
Outro mapa que era estudado era o Planisfério, com os tais sinais convencionais, a rosa dos ventos e mapa-mundi com a representação das zonas polares...
Mapas nos livros? Sim, poucos, reduzidos mas a preto!
Bem, fiquemo-nos por aqui que nos livremos de um riso incrédulo dos mais novos.


Manuel