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terça-feira, 21 de novembro de 2023

Os amigos não se esquecem


Os amigos não se esquecem, mesmo quando partem para o regaço maternal de Deus. E um dia, estaremos todos juntos. Esta é a minha posição perante a existência humana. Assim penso pela fé que me anima, desde tenra idade.
Hoje evoco, com muita saudade, o Padre Miguel Lencastre e o Daniel Rodrigues, já falecidos, e o Padre António Maria, célebre cantor, felizmente ainda vivo, tanto quanto sei e desejo.
Esta foto regista um encontro que tivemos, à hora do chá, na residência paroquial da Gafanha da Nazaré. Porquê?
O Daniel Rodrigues era jornalista profissional e eu colaborava com ele como correspondente do "Comércio do Porto". Eram frequentes as visitas do Daniel à Gafanha, em serviços de reportagem. Daí a nossa amizade, principalmente quando enveredou pelo jornalismo, deixando as funções que desempenhava no Tribunal de Aveiro.
O Padre António, que não vejo há muito, não sei por onde andará, mas deve continuar entusiasmado com a sua fé e com as canções que o animam na vida, animando outros na sua caminhada terrena.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Hora da chegada


Quantas vezes na minha vida de menino e jovem participei numa cena semelhante! A alegria do abraço do meu pai, Armando Grilo, que evoco hoje com imensa ternura e saudade.

terça-feira, 23 de maio de 2023

Diáconos Permanentes da Diocese de Aveiro

Luís Pelicano

Afonso Henriques 

Joaquim Simões

Fernando Martins


Os primeiros Diáconos Permanentes da Diocese de Aveiro foram ordenados na Sé por D. António Baltasar Marcelino, faz hoje, 22 de maio, 35 anos. Os seus nomes, para memória futura, aqui ficam:

Afonso Henrique Campos de Oliveira, de Recardães
Augusto Manuel Semedo, de Águeda
João Afonso do Casal, da Glória 
Carlos Merendeiro da Rocha, da Gafanha da Nazaré
Daniel Rodrigues, da Glória
Fernando Reis Duarte de Almeida, de Óis da Ribeira
José Joaquim Pedroso Simões, da Gafanha da Nazaré
Luís Gonçalves Nunes Pelicano, da Palhaça
Manuel Fernando da Rocha Martins, da Gafanha da Nazaré

Destes, já partiram para o seio de Deus o Carlos Merendeiro da Rocha, o Daniel Rodrigues. o João Afonso do Casal,  o Fernando Reis Duarte de Almeida e  o Augusto Manuel Semedo. 
Do primeiro grupo de Diáconos Permanentes permanecem vivos, Graças a Deus, quatro: Afonso Henriques Campos Oliveira, José Joaquim Pedroso Simões,  Luís Gonçalves Nunes Pelicano e eu próprio, Manuel Fernando da Rocha Martins.

Permitam-me que neste dia evoque com saudade os que já estão em Deus e que felicite os que permanecem no mundo dos homens e mulheres do nosso tempo, testemunhando a fé que há 35 anos prometeram levar à prática no seu dia a dia. 

O Diaconado nasceu com a Igreja. Logo nos primeiros tempos, o número de discípulos ia aumentando. Então surgiram queixas dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram esquecidas no serviço diário. Daí surgiu a necessidade de escolherem “sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria”, para desempenharem o serviço dos mais pobres. 
Os apóstolos poderiam, assim, dedicar-se mais à Palavra de Deus, como convinha. É certo que os diáconos da primeira hora foram discípulos, na verdadeira aceção da palavra, embora destacados, a nível ministerial, para o serviço dos pobres de então, fundamentalmente para o apoio às viúvas, mulheres que, nessa situação, estariam sem recursos para sobreviver com dignidade. 
Por razões diversas, o diaconado permanente, enquanto ministério ordenado, caiu em desuso, tendo sido restaurado no Concílio Vaticano II. Aliás, o concílio de Trento já havia avançado com a proposta da ordenação de diáconos permanentes, embora tal projeto nunca tenha sido concretizado na Igreja Latina. O diaconado, porém, manteve-se em vigor, apenas para os candidatos ao presbiterado.

Fernando Martins

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Alegrai-vos. Somos a morada de Deus

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo VI da Páscoa 

Somos a morada de Deus que vem viver na nossa consciência, no mundo interior de todos os que são fiéis à Sua palavra

Jesus está na hora das grandes confidências, pois vive o tempo da despedida, de dizer aos discípulos o que lhe vai no coração e quer deixar como distintivo da sua identidade: a alegria, fruto da palavra. “Se me amásseis, ficaríeis contentes por Eu ir para o Pai”. Jo 14, 23-29.
Em diálogo franco, Jesus faz declarações que suscitam perguntas. Judas, não o Iscariotes, não entende como é que Jesus se vai manifestar, nem porque escolhe a quem o irá fazer. E formula a correspondente pergunta: “Porque vais manifestar-te a nós e não ao mundo?”; pergunta a que Jesus responde: “Se alguém me ama, guarda a Minha palavra e Meu Pai o amará. Eu e Meu Pai viremos e faremos nele a Nossa morada”.
Abre assim horizontes surpreendentes e interpelantes. Os contemplados são aqueles que acolhem o seu amor e guardam a sua palavra; a estes, Jesus dá a garantia de serem morada de Deus e de receberem o Espírito Santo. Assim, terão companhia em todas as circunstâncias da vida e nada os poderá perturbar. Assim, a saudade da despedida é compensada pela nova forma de presença. E Jesus destaca a alegria como testemunho da fé dos que compreendem o alcance destes factos, da Sua palavra.

domingo, 15 de maio de 2022

Minha mãe faleceu há 28 anos

A minha saudosa mãe faleceu em 15 de Maio de 1994. Tinha 84 anos e sempre viveu com lucidez, embora tivesse enfrentado trabalhos e doenças que soube vencer com coragem e determinação. Faz hoje 28 anos que fisicamente nos deixou. Por ser de baixa estatura, ficou na vida conhecida por Rosita Facica. 
Evoco-a com saudade, não apenas pelas fotografias, mas através das marcas que deixou impressas na minha memória. No meu quintal, que foi seu, nos vestígios da sua residência, na sua palavra e no seu olhar penetrante, que a toda a hora me acordam, está a minha saudosa mãe.
Quando lidávamos na horta, tinha sempre que dar a sua opinião ou a sua ordem. Vivia  o prazer de cuidar de plantas ornamentais, que sabia reproduzir em vasos pequenos, para depois transplantar. E é uma dessas plantas que a torna presente na sala onde trabalho. Sei que Deus cuida da minha mãe Rosita, aconchegando-a  no seu regaço maternal. 

segunda-feira, 7 de março de 2022

GAFANHA: Devoção pelas Almas do Purgatório

Tópicos para uma palestra proferida 
em 28 de Março de 2009

Etnográfico da Gafanha da Nazaré na Igreja Matriz

Perde-se no tempo a devoção pelas Almas do Purgatório. Antes do cristianismo, já os filhos de Abraão rezavam pelos mortos, na esperança de que Deus os conduzisse e aceitasse no paraíso. Depois, com a Boa Nova de Jesus Cristo, intensificou-se esta devoção, sendo certo que ainda hoje se mantém, talvez não tanto como na nossa meninice. A devoção do Povo de Deus, bem alimentada pelas prédicas e catequeses dos sacerdotes, levou ao surgimento de Irmandades, que tinham por missão estimular o culto, participar nos funerais e encomendar a celebração de missas pelas almas, entre outras obrigações.
Mas o culto dos mortos, como é sabido, não existe só no catolicismo. (Há Igrejas cristãs que não aceitam o Purgatório, razão de ser das orações pelos almas dos mortos). Noutras civilizações e culturas também houve e há a crença na vida do além, a que estão ligados muitos actos cultuais.

Permitam-me que lembre hoje as “Alminhas”, junto às estradas ou nas encruzilhadas dos caminhos. Pequenos nichos ou capelinhas que nos recordam os que morreram e que são um convite a que rezemos por eles.

Aqui na Gafanha da Nazaré também havia “Alminhas”, com um postigo para deixarmos as nossas ofertas. O dinheiro era recolhido pelo proprietário, para mandar celebrar missas. Havia dentro um painel que nos recordava o sofrimento dos que estavam no Purgatório. Uma lamparina e flores completavam o quadro.

As Alminhas da Cale da Vila e da Chave, as que conhecemos mais de perto, eram antigas. A da Cale da Vila foi construída em 1864 e a Chave em 1910.
Recordo, com saudade, os tempos em que, na quaresma, as devoções se intensificavam. O sofrimento de Cristo, do tamanho dos pecados do mundo, era sentido pelos fiéis, com especial envolvimento de toda a gente crente. Crente e menos crente, porque de alguns destes ouvi que só participavam nas missas que se celebravam pelas almas, quer no dia dos funerais, quer do sétimo dia, quer nos dias dos fiéis, 2 de Novembro, em que havia três missas seguidas, com as igrejas sempre cheias.

Na quaresma, nas Gafanhas e noutras comunidades religiosas, as devoções pelas almas proporcionavam vivências muito fervorosas, com o povo a reunir-se, para, em grupo, visitar todas as casas, não só para rezar e cantar, mas também para recolher esmolas, para mandar rezar missas. Havia a tradição de “ouvir” missas pelos fiéis defuntos, tarefa que competia a pessoas idosas e disponíveis, mas também pobres, que recebiam esmolas por isso. Substituíam as que trabalhavam ou muito ocupadas.

Sem luz eléctrica que iluminasse caminhos, noites escuras se a Lua estivesse escondida, lá íamos, respeitosamente, rezando e cantando, atrás da claridade frouxa de duas lanternas, que ladeavam o Painel das Almas. O grupo ia engrossando, ou diminuindo, com gente que entrava e saía, porque nem todos podiam caminhar muito, afastando-se demasiado das suas habitações.

Mas ouçamos a descrição que o Padre João Vieira Rezende faz destas devoções, já que, na Gafanha da Encarnação, de que foi pároco, entre 10 de Novembro de 1928 e 1948, as vivenciou e das quais deixou expressivos registos, na sua “Monografia da Gafanha”, conforme se lê na segunda edição que possuo, com data de 1944.

“... Às 9 horas da noite tocava o búzio a lembrar aos fiéis as almas dos seus defuntos. Mais tarde, era o badalar plangente do sino que recordava a devoção pelos defuntos... Foi um século de oração quotidiana em favor dos defuntos e que as leis draconianas de 1910 sufocaram com mordaça inclemente.

“Para os habitantes do lugar à lareira, para os moliceiros e pescadores das aldeias, de Ílhavo, Vagos e Murtosa, que a essa hora mourejavam na faina da ria, e para as almas retiradas no Purgatório, emudecera aquele despertador salutar que a todos levava consolações suavíssimas, restando agora somente a emoção saudosa de tempos que não voltam!

(Nas famílias, à noite, depois da reza do terço, antes ou depois da ceia, era interminável o número de mortos que se recordavam e pelos quais rezávamos um Pai Nosso e uma Ave Maria, e “Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso…)

“A par deste costume, um outro do mesmo género se manteve por mais tempo. Em certos e determinados dias da Quaresma, homens e mulheres, em grupo, que a pouco e pouco ia crescendo, percorriam o lugar quando todos se preparavam para descansar das fadigas diurnas.

“Painel de madeira à frente, ladeado de duas lanternas, lá seguia o grupo que ajoelhava a cada porta, de mãos postas, rostos piedosamente inclinados, a rezar, a pedir pelos que tinham partido daquele lar. A treva da noite quebrada pela luz baça das lanternas, a efervescência das preces, a toada fúnebre e plangente dos cânticos, tornavam solenemente lúgubre o cortejo deprecatório.

“E a pintura das figuras resignadas do painel, a sobressair da penumbra das lanternas, com toda a liturgia do coro que deambulava a sufragar a almas que esperavam libertação, tornava o cenário mais emotivo e confrangedor.

“No plano inferior da pintura do painel, Reis, Marqueses, homens e mulheres de mãos suplicantes e envoltas em línguas de chamas, a esperar amorosamente o momento da libertação, olham o Crucifixo nimbado por raios divergentes do Coração do Redentor.

“A sobrepujar no plano superior, S. Miguel, de balança e espada na mão, subjuga sob os pés o dragão alado em cujo arreganho infernal e olhar demoniacamente coruscante se adivinha a raiva de um plano frustrado. E o grupo continua a cantar sentimentalmente, comovedoramente, a elegia dos mortos, com o pensamento no mundo do além.”

O Padre Rezende ainda acrescenta que “A promiscuidade dos sexos, os abusos em actos tão santos, de noite e em tempos de depravação, não abonavam a intenção dos bons, antes aconselhavam a supressão desta tão antiga e simpática devoção. Assim se fez, e hoje [1944] apenas se tira a esmola de dia com o mesmo fim”.

Permitam-me que sublinhe que, durante a minha curta experiência e vivência desta devoção, nunca presenciei qualquer atitude menos correcta, fosse de quem fosse. Pelo contrário, na minha memória perdura a devoção que o Cantar das Almas suscitava em toda a gente que formava o grupo.

Na monografia da paróquia, “Gafanha – Nossa Senhora da Nazaré”, publicada em 1986, diz-se que a Irmandade do Senhor e Almas foi responsável pelo ressurgimento desta última devoção, que o Padre Rezende tão bem descreve:

“Lá vai o painel ladeado pelas duas lanternas, o membro da Confraria, de opa, com a cruz que todos beijavam, de joelhos, dentro de casa ou fora, depois de se estender a esteira.”

E cantavam-se estes versos que aqui vão ser cantados como uma relíquia.

Joélhemos nós in terra
Já nusêmos os premêros
Nossa companhia banha
Jesus Cristo berdadêro.

Atromantadas de dôras
De continu padecer,
Assim são nas almas santas
Nu Prugatório arder

Das almas do Prugatório
É bem que nos alembremos;
Nós havemos de morrer
Sabe Deus pâr donde iremos.

“Se não queriam que cantassem (por ter morrido alguém na família!), então rezava-se um Pai Nosso e uma Ave Maria.

“O da opa levava uma saca para dinheiro e outros levavam sacos para milho, feijão, cebolas, o que dessem. Deixávamos estes sacos em casa de lavradores de confiança e, ao outro dia, íamos lá buscá-los.
Vendíamos tudo e juntávamos o dinheiro. Mandávamos celebrar missas pelas alminhas do Purgatório.

“Era bonito e fazia-se bem.

“Agora, com a televisão...

“Tenho saudades desse tempo...

“E uma lágrima teimosa ia caindo, enquanto nós, admirando a candura destes homens (João Francisco da Rocha e Manuel Soares Sardo) de rostos bem marcados, pensávamos no que de bom vamos permitindo que desapareça, quantas vezes por comodismo e falsos respeitos humanos.”

Assim ficou escrito na monografia da paróquia de Nossa Senhora da Nazaré, de Manuel Olívio da Rocha e Fernando Martins, há 36 anos.

Fernando Martins

domingo, 9 de maio de 2021

Na morte adormeci e acordou-me Deus

A morte de um amigo é também a morte de algo em nós. No mais fundo do amor humano existe o desejo de eternidade.
1. As atitudes perante a morte foram e são muito diferentes de pessoa para pessoa, mesmo dentro da mesma época e da mesma cultura, religiosa ou não. No primeiro escrito cristão, é-nos dado a ler: “não queremos, irmãos, que fiqueis na ignorância a respeito dos que morreram, para não andardes tristes como os outros, que não têm esperança.” [1]
Mesmo quem julga que depois da morte não há mais nada pode não dispensar algum ritual que exprima o amor, o vazio, a saudade, o reconhecimento. A morte de um amigo é também a morte de algo em nós. No mais fundo do amor humano existe o desejo de eternidade: tu não me morrerás!
Os elogios fúnebres perdem-se, muitas vezes, a destacar o legado deixado por quem partiu. A obra passa a ser mais importante do que o seu autor: é esquecer que a grande obra de um ser humano é a de se tornar cada vez mais humano, em todas as suas relações.
Durante a pandemia, sobretudo nos momentos em que era mais difícil acompanhar os rituais da morte – velório, enterro, cremação –, muitas pessoas pediram-me para celebrar, mesmo à distância, a Eucaristia, na qual, por vezes, também não podiam participar. Esses pedidos, da parte de quem os faz, significam que a morte não é a última palavra sobre a existência humana. As orações e as liturgias são obra dos vivos que exprimem um paradoxo: já não podem viver nas formas de contacto e de comunicação com as pessoas que nos deixaram, mas também não aceitam que tudo tenha acabado. A morte é o impensável, mas faz-nos sentir a perda do outro em nós. Sabemos que a linguagem em torno da morte é sempre inadequada.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

15 MILHÕES PARA A COMUNICAÇÃO SOCIAL


É público que o Governo vai apoiar com 15 milhões de euros a comunicação social, pagando publicidade institucional, anunciou o Ministério da Cultura. Pretende assim ajudar um setor que se tem tornado cada vez mais deficitário, o que levaria a uma morte sem honra nem glória. É claro que haverá regras a cumprir, não vá dar-se o caso de o dinheiro cair em saco roto, não contribuindo para um jornalismo de qualidade, como é lógico. 
A comunicação social, em geral, está a confrontar-se com a concorrência dos órgãos digitais, que operam em cima da hora, através de textos, imagens e sons quase em direto, um progresso indiscutível a nível informação e formação, que nos satisfaz, embora, como é o meu caso, a nostalgia do jornal e revista em papel não tenha desaparecido. Um diário e um semanário digitais garantem-me janelas bastante amplas para o mundo, estando em permanente atualização. O semanário, no fundo, é diário. Contudo, a saudade e o cheiro do papel ainda não se diluíram. De vez em quando volto a eles, mas o treino ajudar-me-á a esquecer a comunicação social escrita, em papel, até porque já me custa folhear os jornais, sobretudo os que saem com formatos muito grandes para o meu gosto. 
O Governo vai, portanto, ajudar os jornais, revistas, rádios e televisões, esperando eu que não se estabeleça uma espécie de compadrio que suscite obrigações para quem recebe os apoios, coisa muito ruim no jornalismo. A independência é um princípio sagrado. Por cá andaremos para ver, se Deus quiser. 

Fernando Martins

domingo, 20 de outubro de 2019

Nos 40 anos do Santuário de Schoenstatt




Dona Margarida Lencastre
Ao contrário do que muitos possam pensar, a primeira referência a Schoenstatt na Gafanha da Nazaré partiu de uma irmã do Pe. Miguel Lencastre, Dona Margarida. Sendo ela assistente social no setor das pescas, responsável pelo litoral norte e centro de Portugal, tinha como sua colaboradora a irmã do Pe. Domingos, Dona Maria Luísa, a quem propôs que sugerisse ao irmão, o nosso prior, a participação num retiro, em Fátima, sobre uma nova espiritualidade. E assim aconteceu. Desse retiro brotou a espiritualidade schoenstattiana entre nós que se alargou a outras paróquias da Diocese de Aveiro e depois a outras dioceses do nosso país. 
Sobre o Santuário e sua inauguração já muito se escreveu e viveu, graças a iniciativas marcantes, que hão de servir de mote para conversas, evocações e projetos de espiritualidade numa sociedade cada vez mais secularizada.  Mas hoje e aqui desejo, tão-só, evocar algumas figuras que permanecem na minha alma como fontes de inspiração.

Padre Domingos
O Pe. Domingos era uma sacerdote com um carisma mariano muito acentuado. Foi nosso pároco entre dezembro de 1955 e abril de 1973, saindo em jeito de quem abre portas ao seu então coadjutor, Pe. Miguel. Lembro-o, com saudade, pela sua amizade franca, desde a minha juventude. Estava eu acamado quando ele veio para a paróquia como prior. Da janela do meu quarto, voltado para a atual Av. José Estêvão, vi-o passar no seu modo de caminhar, apressado, e tempos depois veio visitar-me, não sei por influência de quem. Muitas conversas tive com ele sobre dúvidas que me assaltavam na juventude. E com que entusiasmo me explicava e me sugeria leituras. Quando eu adoecia, a sua visita nunca faltava. Faleceu no dia 21 de outubro de 2007, completando, amanhã, 12 anos.


Padre Miguel
O Pe. Miguel veio para a nossa paróquia por sugestão do Pe. Domingos. Recordo o dia em que o Pe. Miguel me foi apresentado no café frontal à igreja matriz, conhecido por Café Briol. Era a hora do café depois do almoço. E o Pe. Domingos, nessa conversa informal, adiantou-me que estava a ser equacionada a ideia do Pe. Miguel ingressar na nossa paróquia para exercer as funções de coadjutor. O Pe. Miguel falou-me vezes sem conta de Schoenstatt, enquanto sublinhava, para meu espanto, o seu percurso de conversão radical e entusiasta que guardo religiosamente. O Pe. Miguel ajudou-me a descobrir a universalidade da Igreja. E senti, pela primeira vez,  enquanto católico, que a democracia era possível no dia a dia da paróquia. Por exemplo, houve eleições para a então Comissão Fabriqueira. 
O Pe. Miguel foi ordenado sacerdote com 37 anos e foi coadjutor entre 1970 e 1972. Depois passou a prior, deixando marcas indeléveis relacionadas com o Movimento de Schoenstatt, e não só, em muita gente que jamais o esquecerá, pela sua capacidade de diálogo e entusiasmo.
Padre António

Seguiu-se o Pe. António Maria Borges que cativou os gafanhões com a sua juventude, alegria e arte musical entre outras artes, e o Pe. Rubens Severino com a sua simplicidade, desprendimento e visão prática. A simplicidade é um dom que cativa e inspira confiança. Assim aconteceu com muitos que o admiravam e respeitavam por isso. Mas ainda o Pe. Gilberto, fervoroso na oração e rigoroso no cumprimento das leis e normas da Igreja.
Outros padres de Schoenstatt por esta terra passaram e nela estagiaram e trabalharam, todos eles entusiastas pelo Movimento que assenta em três grandes pilares que nos conduzem a Deus, por Jesus Cristo e com o dinamismo do Espírito Santo. São eles Nossa Senhora, Mãe Admirável, Pe. José Kentenich, o Fundador, e o Santuário, cópia fiel do original na Alemanha, continua a apresentar-se como uma lugar "onde é bom estar".

Padre Rubens 

O Santuário de Schoenstatt celebra 40 anos da sua inauguração, que aconteceu no dia 21 de outubro de 1979, presidida por D. Manuel de Almeida Trindade. Estiveram presentes o Arcebispo de Mitilene, D. Maurílio de Gouveia, muitos sacerdotes, as Irmãs de Maria, os que mais trabalharam na construção e os que acompanharam tecnicamente projetos e demais serviços, convidados, autoridades e duas mil pessoas. 
Aberto a todas as faixas etárias, o Santuário continua a congregar pessoas para a missão urgente de contribuir para a construção de “um homem novo para uma nova sociedade”.

Fernando Martins

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

D. António Marcelino regressou à casa do Pai faz hoje seis anos


Que Deus o aconchegue 
no seu regaço maternal 

A triste notícia do falecimento de D. António Marcelino chegou-me pelo telefone, abruptamente. Faz hoje seis anos. O choque que senti não tem palavras que o definam. Embora esperada a sua partida para o seio de Deus, fiquei, contudo, com a tranquilidade necessária para a aceitar porque acredito que D. António Marcelino intercederá por nós junto do Senhor de todos os dons. 
D. António passou pela Diocese de Aveiro como um corredor de fundo, animando tudo e todos, rumo a uma Igreja mais aberta ao mundo dos homens e mulheres destes tempos. Rápido no pensar e no agir, foi dos bispos que mais apostaram na comunicação social, qual profeta que denuncia as injustiças, mas que não deixa de proclamar caminhos que nos conduzam a uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais caritativa e mais solidária. 
Nesta hora difícil, louvo a Deus pelos ensinamentos que dele recebi, pelo seu testemunho de crente e de bispo que me ordenou diácono permanente, pelo homem corajoso que enfrentou com determinação os desafios do Vaticano II, na convicção de que a Igreja Católica e o mundo só teriam a ganhar com as luzes que do concílio dimanaram. 
Que Deus o aconchegue no seu regaço maternal. Assim escrevi na hora da triste notícia. E hoje, passados seis anos, lembro-o com saudade. 

Fernando Martins

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Georgino Rocha: Somos a morada de Deus

Georgino Rocha

«Quem está desperto para esta presença dinâmica do Espírito vive na alegria e na confiança, aprecia e valoriza a rectidão da consciência e a sabedoria do coração, é cada vez mais humano no seu ser e no seu agir.»


Jesus está na hora das grandes confidências, pois é o tempo da despedida, de dizer aos discípulos o que lhe vai no coração, e quer deixar como distintivo da sua identidade. Em diálogo franco, faz declarações que suscitam perguntas. Judas, não o Iscariotes, não entende como é que Jesus se vai manifestar, nem porque escolhe a quem o irá fazer. E formula a correspondente pergunta a que Jesus dá resposta, abrindo horizontes surpreendentes e interpelantes. Os contemplados são aqueles que acolhem o seu amor e guardam a sua palavra; a estes, Jesus dá a garantia de serem morada de Deus e de receberem o Espírito Santo. Assim, terão companhia em todas as circunstâncias da vida e nada os poderá perturbar. Assim, a saudade da despedida é compensada pela nova forma de presença. E Jesus destaca a alegria como testemunho da fé dos que compreendem o alcance destes factos.
Somos a morada de Deus que vem viver na nossa consciência, no mundo interior de todos os que são fiéis à palavra de Jesus, Seu Filho. Esta opção de Deus evidencia a direcção correcta da realização humana. É a partir de dentro, da interioridade, que se faz a humanização, se alimenta a relação, se aprende a amar, a servir, a crescer na grandeza de ser pessoa, a viver em comunidade. É a partir da consciência iluminada e esclarecida por Deus, mediante os ensinamentos de Jesus e a sabedoria das culturas humanizadas, que têm consistência as opções e os critérios condicionantes das nossas atitudes pessoais e colectivas. É a partir das atitudes que a sociedade manifesta os valores predominantes e a qualidade do sentido da convivência entre os seus membros. Que contraste coma situação actual do nosso mundo?!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

A paixão de Jazzinta em novo disco e novo livro

Jazzinta:  momento de uma interpretação

Jazzinta  e Maria Joana Pereira

Maria Manuel e Rui Grácio
No dia 23 de fevereiro, no Hotel Moliceiro, em Aveiro, Jacinta Bola, docente universitária e cantora de Jazz, apresentou o seu mais recente disco e um livro, “Práticas Performativas no Jazz Vocal” – Uma auto etnografia crítico-analítica”. O disco, que afinal não é o tradicional disco, mas uma pen, bem ao gosto dos apreciadores das novas tecnologias, foi produzido por Maria Joana Pereira, manager da artista, e nele se refletem as artes de Jacinta e do músico Paulo Dantas. E o livro, da responsabilidade editorial da Grácio Editor, oferece aos seus leitores a tese de doutoramento da Jacinta, defendida na Universidade do Minho. 
Maria Manuel Baptista, Catedrática da Universidade de Aveiro, no âmbito de Estudos Culturais, apresenta, na Introdução, “reflexões, interrogações e perplexidades de um percurso artístico”, a propósito da paixão de Jazzinta, sua identificação no mundo do jazz. 
No lançamento do disco e do livro, Maria Manuel afirma que assumiu, perante a artista, apenas a tarefa de a ajudar a descobrir a sua paixão, já que, de música, não percebe “rigorosamente nada”. Nessa linha, levou a Jacinta a refletir, no sentido de encontrar o fio condutor de sua motivação, que começou a ganhar corpo e força. 
Depois de se interrogar sobre se o improvisar, fundamental no jazz, “será coisa que se aprende”, Maria Manuel frisou que o trabalho da artista “não é uma tese seca; tem vida”. O livro, adiantou, “é muito interessante”, porque reflete “muita paixão”. “A Jacinta enfrentou um júri muito exigente, que fez muitas perguntas”, às quais “respondeu brilhantemente”. 
Na referida Introdução, Maria Manuel Baptista afirma que a Jazzinta nos conta “uma história de paixão pela arte e pela música em particular”, mas também nos revela “a luta em busca do seu ser artista” e, ainda, “a desilusão e o confronto com a realidade do mercado cultural”. 
No lançamento do livro e do disco, a artista brindou os convidados com algumas interpretações do seu rico reportório, sobressaindo a técnica vocal poderosa que domina com expressão e paixão, enquanto Maria Joana deu conta de projetos e desafios, da seleção das músicas e dos concertos. 
Jacinta Bola confessou no livro que, quando retomou, em 2013, o ensino a tempo integral, a sua técnica vocal “melhorou exponencialmente”, para seu “grande espanto”, concluindo que, “dar aulas, ainda por cima, de canto”, fazia-lhe “bem à voz”. 
Presentemente, Jacinta Bola é professora no curso de música da Universidade Federal do Piauí, Brasil, e faz pesquisas na área de performance e improvisação do jazz vocal. Os seus alunos são, maioritariamente, cantores profissionais. 
O disco contém 12 interpretações de outras tantas composições, de que destacamos Nascente, de Flávio Venturini; Sinhá, de Buarque & Bosco; Bahia, de Ary Barroso; Sonho Mau (Ask me Now), de Tiago Torres da Silva / Monk; Chega de Saudade, de Moraes / Jobim; Chant / Think of One, de Jacinta; Roger Hall / Monk, e Aquele Abraço de Gilberto Gil, entre outras. A produção é de Maria Joana Pereira. Este álbum, denominado Semhora, é dedicado a todas as mulheres que são senhoras, sem hora. 

Fernando Martins 

sexta-feira, 6 de abril de 2018

ALELUIA! JESUS, O SENHOR, CONVIVE CONNOSCO

Georgino Rocha

Georgino Rocha

É ao cair da tarde. Em Jerusalém, cidade onde há dias havia ocorrido a morte por crucifixão de Jesus de Nazaré. A noitinha está prestes a chegar. Começam a rarear os últimos clarões de luz. A hora do tempo marca o ritmo do coração e indicia o estado de ânimo dos discípulos: Esperança muito em baixo. Refugiados em casa, estão cheios de medo e com as portas trancadas. Sobretudo as do espírito encerrado ao futuro imediato. O desfecho dos seus sonhos, que duraram quase três anos, deixou-os em estado de choque. O Rabi, o Mestre em quem haviam depositado total confiança, teve morte trágica. Vítima de um processo iníquo, em que se empenharam as forças religiosas e políticas. A hora era de trevas e nem sequer os semáforos da esperança estavam ligados e a funcionar. Já só restava a saudade avolumada pela revisitação das suas atitudes na ceia de despedida, no jardim das Oliveiras e na agonia, na prisão e em outros passos dados a caminho do Calvário. Retinham, como memória emblemática, a liberdade de Jesus, a dignidade do seu comportamento, a determinação e firmeza dos seus gestos. Viviam a vibração das emoções sentidas e o sabor amargo da deslealdade e da debandada. Estavam abatidos e procuram segurança numa casa, onde se protegiam uns aos outros enquanto surgiam perguntas angustiadas: E agora, que vai ser de nós? Será conhecido o nosso esconderijo? Virão à nossa procura? Que nos farão? E muitas outras.
Jesus apresenta-se no meio deles. De modo simples. Sempre Ele a tomar a iniciativa, a surpreender. E saúda-os amigavelmente: “A paz esteja convosco”. João, o narrador do episódio (Jo 20, 19-31), não faz alusão a qualquer censura pelo passado recente. Apenas refere que lhes mostra as mãos e o lado, com as cicatrizes da paixão, sinais da sua identidade de crucificado. Não haja dúvidas. É Ele mesmo.
Uma nova aurora começa a despontar: O espírito desanuvia-se, a esperança renasce e o coração enche-se de alegria. Este movimento interior é estimulado por Jesus ressuscitado que prossegue: “A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós”. E para os guiar na missão e garantir a fidelidade na comunicação da mensagem, acrescenta: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”. Que contraste de atitudes! Que confiança acrescida e credenciada! Que tesouro lhes deixa em pobres “mãos de barro”!

sexta-feira, 31 de março de 2017

Carta Aberta a Lázaro de Betânia, Amigo de Jesus

Reflexão de Georgino Rocha


Senhor Lázaro

Desculpe a minha ousadia, mas tenho necessidade de expressar os meus sentimentos a propósito do seu reviver após a morte. O Evangelho de João faz um belo relato, mas não regista nenhuma palavra sua. Indica apenas atitudes. Reina um silêncio que parece ser a linguagem única que emerge da gruta onde esteve sepultado. Ou, então, um convite a que não se perca o fundamental: Jesus de Nazaré, seu especial Amigo, tem poder sobre a morte e antecipa um sinal da ressurreição que irá viver, após a morte por crucifixão no Calvário.
Expresso a minha necessidade como padre católico. Vivo em Portugal, um cantinho da Europa junto ao Atlântico. Estudo as Escrituras há muitos anos e encontro sempre dimensões novas nos textos sagrados. O que se refere à sua família desperta-me especial interesse. Aprecio o ambiente de Betânia e admiro a mensagem que brilha na relação fraterna com as suas irmãs, especialmente quando cai doente. Quantos cuidados não teriam consigo e que solicitude em avisar o Amigo comum. Bem sei que o autor do relato, na altura em que o escreve, tem em conta o que aconteceu para destacar e sublinhar algumas características da comunidade cristã e do estilo de vida dos seus membros.

sábado, 21 de maio de 2016

Faleceu o António Gandarinho

O Gandarinho já repousa 
no coração maternal de Deus


A triste notícia do falecimento do António Gandarinho apanhou-me de surpresa esta tarde. Todas as mortes de familiares e amigos próximos, como é o caso, deixam-nos perplexos, não obstante sabermos que somos finitos e apesar da fé nos garantir que depois da vida terrena ingressamos no seio maternal de Deus. 
A amizade que me unia ao António Gandarinho vem desde a juventude, quando convivemos na JOC (Juventude Operária Católica), onde ele exerceu, pela ação e pelo exemplo, funções diretivas, testemunhando, no dia a dia, ele no mundo do trabalho e eu no mundo académico, a fé em Jesus Cristo, na esperança da ressurreição em Cristo. Não era dos que falavam muito, mas sabia ouvir, indicar caminhos de bem, propor soluções de justiça, de verdade e de vida alicerçada na sua qualidade de batizado e de militante cristão, pugnando pela justiça social em favor de todos os trabalhadores e de todos os homens de boa vontade.
Sempre vi o António Gandarinho como um servidor da Igreja, dando o exemplo de simplicidade e disponibilidade, atento aos mais sofredores, orante, generoso, solidário e amigo de toda a gente. E como dirigente da Ação Católica inquietava-se quando algum jocista faltava às reuniões. Era preciso que todos vivessem, no mundo do trabalho, e não só, o famoso e ainda atual método do fundador da JOC, Joseph Cardijn, assente no Ver, Julgar e Agir, que levava ao conhecimento dos problemas dos jovens trabalhadores, analisando-os à luz dos princípios cristãos, para depois se atuar em conformidade, tendo em conta a doutrina social da Igreja. A meta fundamental seria a dignificação da juventude operária, numa época em que não havia sindicatos livres e à altura de defenderem, com legitimidade, os seus interesses e valores. 
Depois de casado, o seu dinamismo de cristão não diminuiu, integrando-se ou colaborando com associações, irmandades e instituições da paróquia. Passou para a LOC (Liga Operária Católica), foi Ministro Extraordinário da Comunhão mais de 30 anos, membro da antiga Comissão Fabriqueira e do Grupo Bíblico, defendendo que, «sem conhecimento da Palavra de Deus, os católicos não podem dar grande fruto, através do testemunho» — confidenciou-me numa entrevista que um dia me concedeu.
Recordo já com saudade o António Gandarinho, e nesta hora, dolorosa em especial para a família, apresento os meus pêsames com as minhas orações pela sua alma à esposa, Evangelina Filipe Teixeira, e aos filhos, Maria da Nazaré, Paulo Manuel, Dorinda Maria, Marco António e Carla Patrícia, bem como aos restantes familiares e aos muitos amigos. 

Fernando Martins

NOTA: O funeral realiza-se na igreja matriz da Gafanha da Nazaré na próxima segunda-feira, 23 de maio, pelas 15h30. A missa de 7.º dia terá lugar na próxima sexta-feira pelas 19h00 e será presidida pelo nosso bispo, D. António Moiteiro.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O filho pródigo

Um conto de Natal 
de Maria Donzília Almeida



Na cozinha, as mulheres da casa afadigavam-se na preparação da ceia de consoada. O prato típico da quadra iria aparecer com todo o esmero, na mesa que reuniria a família. O bacalhau fora demolhado com a antecedência conveniente, as batatas cresciam em grande alguidar, juntavam-se as cenouras, os ovos e a couve penca de Chaves. Era uma couve tenrinha que o avô cultivava ali,no quintal da casa e que se orgulhava de ostentar, fazendo jus aos seus dotes de hortelão.
Numa mesa redonda, vistosamente coberta por uma toalha colorida, em tons verde e vermelho iam aparecendo em grandes travessas, os doces que faziam as delícias dos comensais: os bilharacos, o arroz-doce,  a aletria, as rabanadas, o bolo-rei, os frutos secos, etc.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Mensagem à Diocese do Bispo de Aveiro

No falecimento  de D. António Marcelino 


Faleceu hoje, tarde do dia 9 de Outubro, no Hospital Infante D. Pedro, em Aveiro, o senhor D. António Baltazar Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro.
Nasceu D. António Marcelino a 21 de Setembro de 1930, na freguesia de Lousa, concelho de Castelo Branco, diocese de Portalegre e Castelo Branco. Oriundo de uma família profundamente cristã era filho de Manuel de Almeida Marcelino e de Maria Cajado.
Desde cedo manifestou o desejo de ser sacerdote. Ingressa no Seminário Menor de Gavião e daí passa, cinco anos depois, para o Seminário de Alcains onde frequenta os anos do Curso Filosófico. No Seminário Maior da Diocese, sedeado na vila de Marvão, conclui o Curso Superior de Teologia.
É ordenado presbítero pelo senhor D. Agostinho de Moura na Catedral de Castelo Branco, em 9 de Junho de 1955. Enviado para Roma prossegue os seus estudos de Direito Canónico na Universidade Gregoriana.
Regressado a Portugal, inicia em 1958 o seu múnus pastoral como professor do Seminário recém-inaugurado da Diocese, em Portalegre, e aí lecciona Direito Canónico, Teologia Moral e Filosofia.
Passado algum tempo é incumbido pelo seu Bispo de iniciar o Movimento dos Cursos de Cristandade, levando a outras dioceses de Portugal este Movimento.

sábado, 4 de maio de 2013

Deus


SOMOS A MORADA DE DEUS
Georgino Rocha
Georgino Rocha


Jesus está na hora das grandes confidências, pois é o tempo da despedida, de dizer aos discípulos o que lhe vai no coração, e quer deixar como distintivo da sua identidade. Em diálogo franco, faz declarações que suscitam perguntas. Judas, não o Iscariotes, não entende como é que Jesus se vai manifestar nem porque escolhe a quem o irá fazer. E formula a correspondente pergunta a que Jesus dá resposta, abrindo horizontes surpreendentes e interpelantes. Os contemplados são aqueles que acolhem o seu amor e guardam a sua palavra; a estes, Jesus dá a garantia de serem morada de Deus e de receberem o Espírito Santo. Assim, terão companhia em todas as circunstâncias da vida e nada os poderá perturbar. Assim, a saudade da despedida é compensada pela nova forma de presença. E Jesus destaca a alegria como testemunho da fé dos que compreendem o alcance destes factos.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Mensagem Pascal do Bispo de Aveiro


A Páscoa é Cristo vivo



«Em Missão Jubilar, sentimos ainda mais viva e mais nítida a fé, a confiança e a audácia apostólica que nos vêm da Páscoa. Sabemo-nos discípulos de Jesus Cristo, testemunhas felizes da sua ressurreição e mensageiros decididos das bem-aventuranças do evangelho. Vivemos um tempo concreto da nossa história como Diocese que realiza nas pessoas, nas famílias e nas comunidades a alegria da Páscoa e concretiza nesta hora jubilar a história da salvação.» 


Na manhã de domingo, o primeiro dia da semana, algumas mulheres visitaram o túmulo de Jesus. Vinham ao túmulo para envolverem de saudade e de perfume, à boa maneira dos judeus, a sepultura de Jesus. 
O túmulo estava aberto e vazio. O corpo de Jesus já não estava ali. Compreenderão mais tarde, juntamente com os apóstolos, agora ainda dominados pela dúvida e pelo medo, o alcance desta hora. Elas vão ser as primeiras testemunhas da ressurreição. 
No acontecimento da ressurreição de Cristo está a raiz e o coração da nossa fé. Pelo baptismo, mergulhamos com Cristo na morte e com Ele somos chamados a entrar numa vida nova, a vida dos ressuscitados. 
A Igreja não cessa de nascer e de renascer desta fonte viva que é o acontecimento pascal. A partir da Páscoa, as injustiças e violências do mundo, o pecado e a morte não estancam a vida de Deus em nós. 
Sabemos que as maiores feridas sociais e as dores humanas precisam de cireneus que ajudem os que sofrem a olhar com esperança para este sinal redentor da cruz de Jesus. “Não tenhais medo! Não procureis entre os mortos Aquele que está vivo! Ele ressuscitou” (Lc 24, 5-6). A Páscoa é Cristo vivo. A Páscoa é obra de Deus que não mais termina e que nunca cessa de trabalhar e transformar a Humanidade. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Valdemar Aveiro: A nossa vida parece ficção

A sua vida daria um romance



Valdemar Aveiro, 78 anos, natural de Ílhavo e residente na Gafanha da Nazaré desde que se casou, dois filhos e dois netos, oficial da Marinha Mercante e atual administrador da Empresa de Pesca S. Jacinto, é autor de dois livros, entre outros, com recordações da pesca do bacalhau. São eles “80 Graus Norte” (3.ª edição) e “Murmúrios do Vento”, onde evoca cenas do quotidiano a bordo dos navios, mas também pessoas que o marcaram indelevelmente. Sobretudo gentes ligadas às empresas de pesca, mas não só, em especial as que com ele enfrentaram trabalhos heróicos e mares bravios. 
Quem conhece o capitão Valdemar, como é mais conhecido na região, sabe que a sua vida, de sonhos realizados e por realizar, de lutas insanas, de canseiras teimosamente enfrentadas e de desafios constantes, daria um romance. De qualquer forma, os seus escritos, memorialistas na sua pureza literária, são o romance que pode ser apreciado como tal pelo leitor comum. 
Questionado sobre a eventualidade de escrever um romance, frontalmente afirma que «não é preciso», porque «a nossa própria vida parece ficção». E adianta, em jeito de explicação: «Falo daquilo que sei, não falo de ouvido; falo daquilo que posso provar; das pessoas com quem convivi e convivo; de gente de uma nobreza extraordinária.» 
Valdemar Aveiro caracteriza, com exuberância, os sofrimentos dos homens do mar na pesca do fiel amigo, «Todos, doentes, sofrendo do mesmo mal — a saudade pungente, o isolamento, a solidão, a ansiedade pelo dia do regresso sem data prevista, o trabalho esfalfante, o alívio do choro, as lágrimas silenciosas vertidas na escuridão do seu catre com a cortina corrida; todos igualmente condenados à abstinência prolongada que altera comportamentos, cria tensões, gera crises de agressividade traduzidas em destemperos explosivos a degenerar em conflito!».