sábado, 8 de setembro de 2018

Cães e gatos vadios


Permitam-me que volte hoje aos nossos cães que morreram recentemente para tristeza de toda a família. A falta que eles nos fazem é notória porque a alegria que nos contagiava deixou marcas indeléveis. Posta de lado a hipótese de adotarmos outro ou outros,  por dificuldades inerentes à nossa capacidade de os tratar como deve ser, mas também por não percebermos facilidades futuras que garantam os mimos fundamentais na hora de deixarmos o mundo terreno, resta-nos a consolação de olhar pelos que nos batem à porta à procura de pão para a boca. Contas feitas à esperança de vida dos cães, não haverá certeza de que viveremos o tempo necessário para deles cuidarmos.
Tenho visto o que toda a gente pode ver: Cães e gatos vadios e abandonados ou nascidos destes, pululam por todos os cantos, podendo provocar problemas de saúde às pessoas e a outros animais, o que é de lamentar. As autarquias não terão capacidade para acolher, alimentar e tratar todos esses animais, de forma a garantir a sua sobrevivência condigna. Porque, logicamente, as famílias ainda terão prioridade nos programas e projetos camarários.
Eu sei que não falta quem mostre interesse acrisolado pelos animais, questão que nem ouso pôr em discussão. Mas como resolver o problema dos cães e gatos vadios, que chegam, alguns deles, sobretudo gatos, a entrar na nossa própria casa sem pedir licença, só porque a Lita, apaixonada por animais, lá os vai sustentando e tratando da melhor forma que pode e sabe?
Gostaria que as autoridades e os meus leitores se pronunciassem sobre este problema, porque é, realmente, uma questão de saúde e tranquilidade pública.

Fernando Martins

Os inimigos do Papa Francisco

Anselmo Borges


1. No meio desta tragédia da pedofilia do clero, que coloca a Igreja Católica numa crise sem precedentes, e quando se pode erguer a suspeita de que ela é um antro de anormais e pedófilos, parece-me justo esclarecer que, no mundo dos pedófilos, a percentagem dos padres é mínima.
Sinceramente, esta constatação não é para mim de modo algum motivo de consolação. Pelo contrário. De facto, este dado só vem confirmar que o número de crianças que sofreram e que sofrem é muitíssimo mais vasto do que aquilo que se poderia imaginar.
Depois, os abusos de menores e adultos fragilizados por parte do clero têm uma agravante terrível: as pessoas confiavam, diria que de modo incondicional, nos padres e na Igreja, e foi essa confiança que foi traída. Uma traição que envergonha os católicos. E a agravar ainda mais a situação: responsáveis, incluindo bispos e cardeais e a Cúria Romana, ocultaram e encobriram estes horrores, porque pensaram que o mais importante era defender e salvaguardar a honra e o prestígio da Igreja enquanto instituição. Evitar a todo o custo o escândalo era a palavra de ordem. Deste modo, o Evangelho foi ferido de modo brutal no seu núcleo, que é colocar a pessoa e a sua dignidade no centro, sobretudo quando se trata de vítimas inocentes. Uma catástrofe moral.
Sobre as crianças, há duas palavras essenciais de Jesus no Evangelho, que é necessário continuamente relembrar. A primeira: "Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino de Deus. Quem quiser entrar no Reino de Deus deve ser como elas." Elas são simples e não discriminam... A outra palavra de Jesus é terrível: "Ai de quem escandalizar uma criança, ai de quem fizer mal a uma criança. Era melhor atar-lhe a mó de um moinho ao pescoço e lançá-lo ao mar."

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Sentidos abertos e atentos à realidade comunicam melhor

Georgino Rocha

Jesus vem para o mar da Galileia, depois de andar por terras de pagãos desconsiderados pelos judeus. Já não é a primeira vez. Quer afirmar por atitudes e palavras que a novidade de Deus é para todos, a salvação é universal. Afirmação que contraria directamente as convicções mais arreigadas dos fiéis observantes da lei judaica. E ergue-se logo a questão, tantas vezes repetida ao longo da missão pública de Jesus: De que lado está a verdade? Quem interpreta com mais fidelidade a tradição das origens e quer reajustar as práticas actuais àquele sentido criacional?

No caminho, apresentam-lhe um surdo-mudo e fazem-lhe o pedido de impôr as mãos sobre ele. São gente anónima, que faz sua a situação precária deste homem. São gente que, mesmo ali, se vê privada da presença de Jesus que se retira com ele para um local próximo, mas afastado. São gente que, paciente e confiante, aguarda o resultado deste encontro tu-a-tu, de diálogo pessoal e da possível acção curativa. É gente que, no regresso de ambos e perante o sucedido, reconhece o alcance do gesto de Jesus, exlamando “cheios de assombro: Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e os mudos falem”. Quer dizer: vêem o alcance do benefício alcançado por uma pessoa particular e abrem-lhe o horizonte universal.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Um livreiro que merece uma visita

Livraria Miguel Carvalho na Figueira da Foz 





Gosto muito da cidade velha da Figueira da Foz, com as suas ruas estreitas e casario com marcas antigas ainda visíveis, que são outras tantas lições de história de uma povoação inclinada para a foz do Mondego. Por muito que me custe, não passo sem dar uma voltas por lá. 
Desta feita, o meu destino levou-me a procurar um alfarrabista que dias antes fora motivo de reportagem no PÚBLICO, com título expressivo e desafiante: O livreiro que desceu o Mondego para lutar contra a corrente. de seu nome Miguel de Carvalho recebeu-me com lhaneza, na esperança de que eu seria um potencial colecionador. Milhares de obras, umas ricamente encadernadas e outras normalíssimas, muitas a acusarem o peso de décadas de edição. Algumas que folheei foram enriquecidas com curiosas anotações dos seus anteriores proprietários ou leitores. 
Questionei-o sobre a existência de livros com referência às Gafanhas, mas nada especial encontrei. Miguel Carvalho consultou o seu ficheiro, mas nada de importante. O que possuía já eu tinha na minha modesta biblioteca. Deixei número de telefone para informação posterior. 
No PÚBLICO li que é um apaixonado por livros e quer continuar a remar contra a corrente no seu novo espaço, um prédio que fica numa esquina da rua de O Figueirense com a rua das Parreiras. É fácil de descobrir. Quem chegar à Igreja Matriz de São Julião, olhando-a de frente, à direita lá está uma das muitas ruelas estreitas. Descendo, coisa que não custa, ao fundo encontrará a livraria com frente renovada e moderna. 
Nas suas estantes, em várias salas, há 40 mil livros, muitos oriundos de coleções de personalidades da cultura e amantes dos livros, dos vários ramos da ciências, das artes e da literatura, de múltiplos e variados escritores: poetas, cronistas, romancistas, contistas, historiadores, investigadores. De tempos antigos e modernos. Há de tudo e para todos os gostos. É claro que há obras para todas as bolsas. 
Miguel Carvalho tem formação académica na área de Geologia, mas a paixão pelos livros é superior a qualquer outra atividade. Reconhece que a procura de livros antigos, sem novas e modernas edições, é mesmo para gente apaixonada pelo colecionismo e pelo gosto de possuir obras de autores que, outrora, foram mesmo consagrados, estando hoje no gueto do esquecimento. Pelo que percebi, Miguel Carvalho não é homem para virar costas à sua paixão. 

Pode ser consultado e vende online.

Festa em honra da Senhora dos Navegantes

Senhora dos Navegantes, 
Forte da Barra, 
Gafanha da Nazaré, 
16 de setembro






Como manda a tradição, vai realizar-se no Forte da Barra, Gafanha da Nazaré, a já famosa Festa em Honra de Nossa Senhora dos Navegantes, no próximo dia 16 do corrente mês. A organização é da responsabilidade do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, em parceria com a paróquia, contando com apoios diversos, nomeadamente, do Porto de Aveiro, Câmara de Ílhavo, Junta de Freguesia, Associações de Pescas e Instituto da Juventude e Desporto, entre outras entidades públicas e privadas. 
A celebração da Eucaristia, por volta das 16h30, frente à igreja do Forte da Barra, como ponto alto da devoção do povo marítimo e seus familiares à Senhora dos Navegantes, conta com cânticos interpretados pelos grupos e ranchos que participarão no festival de folclore, pelas 18h30. 
Nota alta vai também para a procissão pela Ria de Aveiro, antecedida de uma outra, por terra, entre a igreja da Cale da Vila e o cais de embarque, n.º 3, do Porto Bacalhoeiro. Aí, a traineira Jesus nas Oliveiras recebe o andor de Nossa Senhora dos Navegantes, irmandades, Filarmónica Gafanhense e autoridades civis e religiosas, bem como muito povo. Outros andores seguirão noutras embarcações. 
O desfile pela laguna aveirense terá início pelas 14h30, seguindo, ao lado e atrás do barco Jesus nas Oliveiras, moliceiros, mercantéis, saleiros, bateiras, barcos de recreio e de pesca artesanal, todos decorados e embandeirados em sinal de festa, ou não fosse a Senhora dos Navegantes a protetora de quantos trabalham e se divertem na laguna aveirense e no mar. Em São Jacinto, há o encontro com a Senhora das Areias e suas gentes, gesto simbólico da proximidade entre povos separados, desde 8 de abril de 1808, aquando da abertura da Barra de Aveiro. 
No festival, participam o Grupo Folclórico de Castelo de Neiva, o Rancho Folclórico do Centro Social Cultural e Recreativo Arvorense de Vila de Conde e o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré. 

Fernando Martins

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Homenagem a D. António Francisco em Cinfães


"É um testemunho importante para as gerações que vierem e vão ter oportunidade de conhecer um homem de corpo inteiro, de alma inteira", afirmou o bispo de Lamego. 

A "vida e missão" de D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto que faleceu em setembro de 2017, está simbolicamente perpetuada num monumento que foi inaugurado e benzido no dia 29 de agosto, dia em que completaria 70 anos, em Tendais (Cinfães), na Diocese de Lamego. 
"É um testemunho importante para as gerações que vierem e vão ter oportunidade de conhecer um homem de corpo inteiro, de alma inteira", afirmou o bispo de Lamego. Em declarações aos jornalistas, D. António Couto pensa que o monumento "não seria muito do agrado do Sr. D. António" que não era homem destas coisas mas "mais como os passarinhos, poisava ai em qualquer lado". 
Contudo, realça que as pessoas ao terem acesso à figura e às quatro frases, uma de cada diocese onde trabalhou - Lamego, Braga, Aveiro e Porto - vão ter de perguntar "quem é este bispo, quem é este homem e vão chegar mais ao coração de D. António Francisco dos Santos".

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Estamos mesmo com o Papa?

João Alves


Muito se tem escrito sobre a luta do Papa Francisco e as pressões "anti-Papa", e muito mais neste momento em que o tema dos abusos sexuais voltou a exigir uma atitude da Igreja de culpa e de renovação. Muito recentemente alguns bispos e conferências episcopais têm manifestado a sua solidariedade com o Papa Francisco. O bispo de Aveiro escreveu no dia 31 de setembro um oportuno "Comunicado aos diocesanos de Aveiro". Qual o alcance real ao dizer que "estamos com o Papa Francisco"? 
Não se pode dizer que se está com o Papa Francisco e a prática da Igreja em Portugal não ser preventiva. Não estamos a falar apenas de denúncia de casos de abusos, mas de evitar que essas situações aconteçam. Quando os bispos, na responsabilidade que lhes é confiada, não denunciam junto da Santa Sé situações anormais e ilícitas, como seminaristas que são expulsos e acolhidos e ordenados noutras dioceses, sem pedido de informação prévia... não estaremos a entrar na mesma lógica de silenciamento? 
Não podemos por um lado dizer que estamos empenhados em erradicar essa perversão e depois, quando temos situações concretas de imaturidade afetiva, perturbações psíquicas ou outras situações graves, simplesmente deixarmos a água correr e não defendermos a Igreja ativamente de males futuros. Dizer que "estamos com o Papa Francisco" é não permitir mais que situações destas aconteçam em Portugal. Não basta denunciar, o que fazemos para prevenir? 

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Leituras de viagens: “Nos passos de Santo António”

Uma viagem medieval de Gonçalo Cadilhe 


Gonçalo Cadilhe é um jornalista e escritor figueirense. A sua especialidade é viajar pelo mundo para, na hora certa (via rádio) ou posteriormente, editar relatos apaixonantes do que viu, sentiu e experimentou. Gosto sobremaneira da literatura de viagens porque, no fundo, somos levados pelos autores a viajar com eles. E deles, ficamos a conhecer pormenores com que nos brindam, sobretudo se os viajantes-escritores prepararam convenientemente a “peregrinação”, apoiados em bibliografia adequada. Foi o caso do livro que li durante uns dias das minhas curtas férias na Figueira de Foz. 
Gonçalo Cadilhe oferece os seus leitores, na  obra “Nos passos de Santo António — Uma viagem medieval”, um trabalho que contou com o apoio da Rádio Renascença”, onde foi dando conta do que viu, regularmente, de viva voz, pelas formas normais da comunicação à distância. 
Na contracapa, sublinha-se que o autor “revisita um percurso feito há oito séculos”, tendo descoberto “um dos maiores viajantes da História de Portugal: Santo António”.  E se foi, sem dúvida, um grande viajante, foi ainda um homem extremamente culto e um pregador exímio e convincente.
Salienta-se, também, que, “A par do diário de viagem, recria-se a vida do Santo e a atmosfera do início do séc. XIII: a Reconquista Cristã, o espírito das cruzadas, a guerra civil entre o Papa e o Imperador, a amizade com São Francisco de Assis». 
Gonçalo Cadilhe utilizou “transportes apinhados de imigrantes», atacou “estradas de terra a dois mil metros de altitude”, visitou “ermos impenetráveis e Kasbah intimidantes” e com tudo isto construiu “uma biografia humana, laica, por vezes polémica, e profundamente documentada da vida inspiradora de Santo António”, como refere.

domingo, 2 de setembro de 2018

VOZ DAS VÍTIMAS E HORA DOS LEIGOS

Papa no Encontro Mundial das Famílias

Georgino Rocha

A crise que varre a Igreja atinge um ponto culminante com a participação do Papa Francisco no Encontro Mundial das Famílias realizado na Irlanda. À dimensão da pedofilia, junta-se a onda que grupos contestatários lançaram em público. E a sua voz ecoa longe levada por meios de comunicação. E a escolha dos títulos que vendem passa a ser o estribilho que se repete como verdade.
Detenho-me perante este fenómeno, tomei as minhas notas, procurei nexos entre o que de mais relevante pude colher, fiz a minha reflexão que condenso em alguns tópicos.

1. A experiência do encontro, alegre e feliz, tornou-se visível em milhares de rostos e de testemunhos, em celebrações festivas e mensagens claras e apelativas. De facto, o evangelho da família é alegria para o mundo. Relevo especial é devido ao Papa Francisco e à sua atitude exemplar;

2. No entanto, o barulho provocado quase que abafou a comunicação da mensagem do congresso, desviando a atenção para outros assuntos, também eles merecedores de atenção, como a situação das vítimas da pedofilia, dos católicos divorciados recasados, da mulher na Igreja, das pessoas gays e outros;

sábado, 1 de setembro de 2018

Buarcos de passagem

A religião sempre presente

Muralha da antiga fortaleza

Homenagem ao Mar Português

Praia

Com a Lita a apreciar o ambiente

Ontem foi dia de visitar Buarcos, terra de pescadores e de gente de trabalho. Pelo que li no livro “Figueira da Foz – Rotas do concelho”, a freguesia integra «as antigas e contíguas vilas de Buarcos e Redondos separadas, no século XVIII, por uma única rua». A visita foi a correr, que o tempo não dava para mais. Há anos andei por ali e até entrevistei para o jornal “Solidariedade” o dirigente responsável pelo Clube Stella Maris, da Obra do Apostolado do Mar, José Filipe Lucas, e o pároco, padre Carlos Noronha, que era também o diretor nacional da Obra do Apostolado do Mar.
Na curta passagem, deu para apreciar o mar com as suas pedras desafiantes e pelo areal à beira da marginal que liga a praia do Relógio, também chama da Claridade. O tempo de férias, apetecido e com sol a condizer com a época, atraíra imensa gente. Estacionar o carro foi complicado, mas valeu a pena.

A mística do quotidiano 2

Anselmo Borges
"Então? Qual é a mística verdadeira? É aquela que, em Deus, o Bem e a Beleza, leva a tratar dos irmãos e a transformar o mundo"

Há uma história que Aristóteles narra sobre uma palavra do filósofo Heráclito a uns forasteiros que queriam chegar até ele. Aproximando-se, viram como se aquecia junto a um fogão. Detiveram-se surpreendidos, enquanto ele lhes dava ânimo: "Também aqui estão presentes os deuses".

Os visitantes ficaram frustrados e desconcertados na curiosidade que os levou a irem ao encontro do pensador. Julgavam ter de encontrá-lo em circunstâncias que, ao contrário do viver dos homens comuns, deveriam mostrar em tudo os traços do excepcional e do raro e, por isso, excitante.

Em vez disso - e estou a transcrever o comentário do filósofo Martin Heidegger à história relatada por Aristóteles -, os curiosos encontraram Heráclito junto ao fogão. É um lugar banal e bastante comum. Ver um pensador com frio que se aquece tem muito pouco de interessante. A situação é mesmo frustrante para os curiosos. Que farão ali? Heráclito lê essa curiosidade frustrada nos seus rostos. Ele sabe que a falta de algo de sensacional e inesperado é suficiente para fazer com que os recém-chegados se vão embora. Por isso, infunde-lhes ânimo. Pede-lhes que entrem: "Também aqui estão presentes os deuses". Também ali, naquele lugar corriqueiro, é o espaço para a presentificação de Deus.

Diocese de Aveiro apoia o Papa Francisco

Comunicado aos diocesanos de Aveiro

Perante a campanha orquestrada contra o Papa Francisco a propósito dos abusos de pedofilia e outros, por parte de alguns membros da Igreja Católica, queremos afirmar o seguinte:
– Repudiamos todos os abusos sexuais contra vítimas inocentes e indefesas e queremos afirmar, mais uma vez, que tudo faremos para que estes crimes sejam abolidos da sociedade em que vivemos, fazendo justiça na defesa das vítimas e denunciando os culpados.
– A Igreja é santa e pecadora, sempre necessitada de conversão e renovação. O esforço que o Papa Francisco, na continuação dos papas que o precederam, tem vindo a fazer para tornar a Igreja mais evangélica, em diálogo com o mundo atual e em responder a problemas novos que se colocam à nossa ação pastoral, merece todo o nosso apoio como povo de Deus em terras de Aveiro.
Por fim, convidamos todos os diocesanos a um assentimento filial aos ensinamentos do magistério do Papa Francisco, a comprometermo-nos em renovar a nossa Igreja e o mundo em que vivemos e, ao mesmo tempo, pedimos ao Espírito Santo que nos ilumine nesta missão que diz respeito a todos nós.

Aveiro, 31 de agosto de 2018.

+ António Manuel Moiteiro Ramos, 
Bispo de Aveiro.

NOTA: Perante o silêncio de muitos, pessoas e instituições de expressão católica, face aos ataques que desde o início do pontificado do Papa Francisco, gostei de ver e ler o comunicado que o Bispo de Aveiro, António Moiteiro Ramos, dirigiu ao diocesanos, nos quais me incluo, com muita honra. 
O Papa Francisco deu sinais claros, desde a primeira hora, de que iria ser um Papa simples, próximo, desprendido, recusando luxos, pondo fim aos tronos, carros de luxo e vaidades, optando por um quarto simples, numa casa de hóspedes, recusando o palácio que lhe estava destinado, O perdão e a misericórdia, a humildade e o trato fácil, o diálogo e a compreensão, o sentido ecuménico e o respeito por outras religiões ou formas de pensar, mas também a proclamação da essência do Evangelho sem receio fizeram do Papa Francisco uma referência para imensa gente de todos os quadrantes ideológicos. 
Mas a sua postura mexeu com os tradicionalistas, clero e povo, que cedo montaram a máquina para o desacreditar. Viram atacados os seus privilégios, a sua luxúria, os seus palacetes, os seus carros último-modelo, as suas vaidades. E a pedofilia, com que muitos clérigos desonraram o catolicismo, em especial, e a humanidade, em geral, aí está, com os detratores do Papa a pedirem a sua renúncia. Eu estarei sempre com o Papa Francisco. 

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Farmacêutica figueirense gosta do GDG

Crianças-atletas do GDG com o treinador e treinadora.
Foto copiada de uma página da secção  do basquetebol
Um dia destes, numa farmácia da Figueira, a jovem farmacêutica sorriu com gosto e admiração quando, respondendo a uma sua questão, lhe indiquei o meu número do telemóvel e o código postal. 
Da Gafanha da Nazaré? 
Sim, respondi eu. Conhece? 
E logo contou que era treinadora de basquetebol, em especial de crianças. Que havia participado num torneio e que tinha percebido a dimensão do GDG naquela área. É claro que lhe falei do nosso mais representativo clube desportivo, que movimenta centenas de atletas, em especial no Basquetebol e no Futebol. 
A jovem farmacêutica adiantou que, com os horários profissionais que tem, já não pode treinar crianças, num desporto que é a sua paixão. 

Antigamente, cheguei a irritar-me com pessoas que desconheciam por completo a Gafanha da Nazaré. Alguns denotavam uma total ignorância pelas nossas terras. Nunca tinham ouvido falar da Gafanha. Meio a sério meio a brincar lá ia dizendo: Estou a ver que o meu amigo não é forte em geografia; então nunca ouviu falar do Porto de Aveiro, das Praias da Barra e Costa Nova, dos estaleiros, das secas do bacalhau? E depois lá davam sinais de que afinal tinham algumas memórias.
O desporto, realmente, tem contribuído para a divulgação da nossa comunidade multifacetada, com gente de todo o lado. Clubes visitantes não podem ficar indiferentes às belezas da nossa região. E a prova disso está nesse ocasional encontro com uma jovem farmacêutica, simpática e apaixonada pela Basquetebol.

O Totti deixou-nos

O Totti

A Lita com o Totti e a Tita

O Totti, um cão que viveu connosco cerca de 16 anos, deixou-nos no passado 13 de agosto. Foram 16 anos cheios de histórias que ficarão para toda a nossa vida. Histórias de dedicação, alegria e  fidelidade a toda a prova, que um dia saíram reforçadas com uma prenda que lhe demos — a nossa Tita — sua companheira de todas as horas. Mas há tempos, a Tita deixou-nos também, ficando toda a família muito triste. O Totti não fugiu à regra e sentiu, decerto mais do que todos nós, a perda da sua amiga de sempre. O Totti andava triste, olhar distante e frequentemente perscrutador, numa tentativa de ver chegar a sua amiga de qualquer canto da casa, do jardim ou do quintal.
A sua tristeza foi-se acentuando, de parceria com as doenças próprias da idade: Menos visão, surdez em crescendo, coluna vertebral a tolher-lhe os movimentos, coração a dar sinais de cansaço, tiroide a provocar-lhe incómodos, tosse constante. Medicação para tudo, cuidados especiais nunca prodigalizados pela Lita. Teimosia em tomar remédios, que distinguia mesmo quando muito disfarçados durante as refeições. Gritava por não conseguir levantar-se, sem forças nas patas traseiras. E no dia 13 de agosto, à tardinha, foi o tempo de nos deixar. Morreu serenamente. As corridas velozes, o ladrar a quem passava, o brincar com quem chegava, o atirar-se às galinhas e outras aves que detestava, o lançar-se furioso contra gatos que invadissem os seus domínios e o rosnar quando lhe tocavam nos ouvidos, tudo acabou.
Rezam as histórias e as lendas que os cães são os maiores amigos do homem. Terão sido os primeiros animais a serem domesticados pelo ser humano. E há provas extraordinárias da sua dedicação pelos donos ou pelos que deles cuidavam, mas ainda da estima de homens e mulheres pelos canídeos, fossem eles de que raças fossem.
O Totti tinha por hábito fixar os horários da chegada a casa dos que se tinham ausentado para o trabalho ou para passeios ou compras. E à hora que a sua curta memória ou instinto determinavam,  lá ia ele para o portão esperar quem havia de chegar. Se era a Lita, seria o portão por onde entraria o carro. Se eram familiares, o portão seria outro. Assim durante muitos anos. E quando o esperado abria o portão, dava uns gritinhos de alegria e uns saltitos de felicidade, como que a anunciar: Já chegou! Depois esperava as carícias que nunca ninguém lhe negou.
A vida é assim. Não é por acaso que um velho ditado proclama à saciedade: “Quanto mais conheço os homens, mais gosto dos cães.” E eu concordo.
Acompanho com muito carinho e amor todos os que gostaram da Tita e do Totti, em especial a Lita, que os tratou como gente.

Fernando Martins

Dos lábios ao coração: Um percurso singular

Georgino Rocha

Jesus está rodeado de pessoas com claras e diversas intenções: a multidão que, encantada com os seus ensinamentos e confiante, o segue por onde quer que vá; os discípulos que entusiasmados pelo sucesso da sua missão, o acompanham e escutam com desvelo e atenção; o grupo de fariseus e escribas que, fiéis funcionários do Templo, são enviados de Jerusalém a informar-se do que estava a acontecer.
Intenções diversas que oferecem uma grande oportunidade para Jesus afirmar o papel do coração na ética dos comportamentos, a relação profunda entre a verdade e a liberdade, entre a atitude e as convicções profundas que gerem a vida interior do ser humano. Só a coerência em harmonia garante a integridade honesta e transparente de quem se sente livre e quer servir por amor. “A felicidade só se alcança quando o que cada um pensa, o que cada um diz e o que cada um faz estão em harmonia”, garante Gandhi, o maior dos grandes pacificadores e libertadores da Índia do poderio da Inglaterra.

Marcos, o evangelista que a Liturgia faz proclamar nas assembleias dominicais deste ano, organiza a conversa em três momentos de acordo com aquelas categorias de pessoas. O tom é de grande franqueza e valentia. Por amor à verdade, Jesus quer provocar os enviados da cidade e, sem discordar das observações que fazem, abrir horizontes novos às práticas rituais e comportamentos de aparência. (Mc 7, 1-8. 14-15. 21-23).

Que exista a coragem de divulgar o bem feito pelos sacerdotes

Carta de um sacerdote católico 
para o NEW YORK TIMES

(Foto da Rede Global)

Caro irmão e irmã jornalista:

Sou um simples sacerdote católico.
Estou feliz e orgulhoso da minha vocação.
Há vinte anos que vivo em Angola como missionário.
Vejo em muitos meios de informação, sobretudo no vosso jornal, a ampliação do tema dos sacerdotes pedófilos, com investigações de forma mórbida sobre a vida de alguns sacerdotes.
Falam de um de uma cidade nos Estados Unidos dos anos '70, de outro na Austrália dos anos '80, e seguida de outros casos recentes... 
Certamente isto deve ser condenado!
Veem-se alguns artigos de jornal equilibrados, mas também outros cheios de preconceitos e até de ódio.
O facto que pessoas, que deveriam ser manifestação do amor de Deus, sejam como um punhal na vida de inocentes, provoca em mim uma imensa dor.

Figueira da Foz: 15 dias se passaram

Figueira da Foz - Torre  do Relógio com 20 metros de altura

Prometi a mim mesmo, há 15 dias, que teria de descansar para retemperar energias. Assim procedi. Limitei-me, porém, a respeitar compromissos assumidos, o que fiz sem qualquer dificuldade. Não estou assim tão mal que não possa cumprir um dever. Contudo, sinto o peso da idade que me rouba alguma vitalidade, embora teime em ultrapassar pequenos obstáculo que outrora nem me apercebia deles. 
Deambulei sem perder o Norte, li e reli umas coisas, voltei à Figueira da Foz onde gosto de estar e vi o mar à distância, que as minhas pernas já não vencem o areal que nos separa do oceano, andei por ruas e ruelas da Figueira Antiga, apreciei palacetes da alta burguesia que por aqui passou férias, nesta cidade que se tornou cosmopolita há décadas. E por estas bandas continuarei até me chegarem as saudades da minha Gafanha, da Ria e das nossas praias. Também dos nossos familiares, amigos e outras gentes cujos rostos têm lugar reservado nas minhas melhores memórias.

sábado, 25 de agosto de 2018

Diácono Augusto Semedo já está no regaço maternal de Deus





O diácono permanente Augusto Semedo já está no regaço maternal de Deus. A notícia chegou-me hoje [24 de agosto]. As mortes de familiares e amigos são sempre inesperadas. Caem sobre nós como alertas de que a vida terrena é mesmo  finita. Para os crentes, como eu, a vida continuará em Deus, que nos acolhe como filhos prediletos, na certeza de que o Pai Todo Poderoso “perdoa sempre, perdoa tudo”, no dizer, em jeito de lembrança, do Papa Francisco. 

O Augusto Semedo estava doente. Foi atingido por um AVC que lhe limitou os movimentos, sem lhe afetar a capacidade de falar, de refletir e de partilhar ideias e sentimentos, com uma lucidez digna de registo. Sucumbiu, para mim e para outros, de forma repentina, neste agosto que registaremos como o mês da sua partida para a felicidade em Deus, onde se lembrará de cada um de nós, como nós haveremos de manter viva, para sempre, a sua bondade para com todos. 

O Semedo, como o tratávamos, marcou-me profundamente como colega de curso e de trabalho no Diaconado Permanente da Diocese de Aveiro, ao longo de mais de 30 anos. Para mim, o diácono Augusto Semedo era o melhor de todos: Generoso no servir, culto na hora de esclarecer, humilde no momento de se dar aos outros, fervoroso na oração, aberto ao espírito vicentino sem dia e hora marcados, compreensivo na troca de ideias, alegre nos convívios fraternos. Era, realmente, um Rosto de Misericórdia, no dizer justo e oportuno do padre Georgino Rocha, como se lê no seu mais recente livro “Rostos de Misericórdia – Estilos de Vida a Irradiar”. 

As minhas sentidas condolências a toda a família e amigos. 

Fernando Martins

O equívoco da fé "na" Igreja

Anselmo Borges


1.É de A. Loisy um dos ditos que, desde o seu pronunciamento, no início do século XX, mais animaram o debate teológico: "Jesus anunciou a vinda do Reino de Deus, mas o que veio foi a Igreja." E é um dito decisivo também para a compreensão em profundidade da tragédia da pedofilia por parte do clero.
Quando se recita o credo (a síntese da fé cristã), é necessário estar prevenido contra possíveis alçapões. Vejamos. Diz-se: "Creio em Deus Pai, em Jesus Cristo, no Espírito Santo." Em português também se diz "Creio na Igreja una, santa, católica", como se esta estivesse ao mesmo nível de Deus. Realmente, não pode ser nem é assim. Aliás, o latim faz a distinção essencial, pois diz: "Credo in Deum..."; porém, não diz "Credo in Ecclesiam", mas "Credo Ecclesiam". A diferença essencial está naquele "in": Creio "em" Deus, o que significa: entrego-me confiadamente a Deus, mas não creio "na" Igreja; o que lá está é: em Igreja, isto é, fazendo parte da Igreja como comunidade de todos os baptizados, creio em Deus, em Jesus e espero a vida eterna...
Como habitualmente se coloca tudo no mesmo plano, dizendo "creio na Igreja", é fácil interiorizar a ideia de que se acredita na Igreja enquanto instituição, e instituição divina, com todos os enganos e desastres que se sucedem.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

FICAR COM JESUS POR DECISÃO LIVRE

Georgino Rochs

O discurso do pão da vida atinge o auge, no desabafo de Jesus, que João formula na pergunta dirigida aos Apóstolos: “E vós também quereis ir-vos embora?” A sinceridade denota um sabor de amargura. A preocupação manifesta um receio fundado. O risco é evidente e virá a ser concretizado na paixão. A circunstância, aliada ao tom da voz e ao brilho do olhar, provoca a resposta eloquente de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. Jo 6, 60-69.
“Quando se vive esta união com Jesus (tal era o caso de Pedro e dos discípulos que ficaram com Ele), as crises de dúvidas e obscuridades se superam. A força do Espírito faz-se força em nossa vida… É a vida que se caracteriza pela firmeza em ir na vida como foi Jesus e pela transparência de quem não tem nada a dissimular”, afirma J. M. Castilho, no seu comentário ao episódio de Cafarnaúm.
Jesus e Pedro surgem como o rosto pessoal da relação com Deus. Constituem as duas faces da realidade mais profunda da consciência: acolher a oferta, dar-se em liberdade; escutar a palavra, abrir-se à verdade; identificar o dom e fazer-se doação. Por isso, afirma João Paulo II: “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade”. O Papa propõe, na encíclica Fides et Ratio (Fé e Razão), uma belíssima e fundamentada reflexão sobre a verdade, questão central da vida humana e da história da humanidade.