sábado, 13 de dezembro de 2008

O FÓRUM CATÓLICO-MUÇULMANO

Após a tragédia da Índia, em Bombaim, ganha urgência maior o princípio de Hans Küng: não haverá paz entre as nações, sem paz entre as religiões; não haverá paz entre as religiões, sem diálogo entre elas e sem um novo ethos - uma nova atitude ética - global. Lembro, pois, pela sua importância, o encontro inédito e histórico entre 29 muçulmanos, representando várias correntes do islão, e igual número de católicos, que teve lugar no Vaticano entre 4 e 6 de Novembro passado. Quem não se lembra do célebre discurso de Bento XVI em Ratisbona, em Setembro de 2006, e da indignação por ele causada no mundo islâmico por alegadamente associar islão e violência? Foi assim que, em Outubro de 2007, um ano depois, 138 académicos, clérigos e intelectuais islâmicos do mundo inteiro, numa Carta a Bento XVI, com o título Uma Palavra Comum entre Nós e Vós, declararam que, apesar das suas diferenças, o islão e o cristianismo - as duas maiores religiões: juntas, representam mais de 55% da população mundial -, partilham a mesma Origem Divina, a mesma herança abraâmica e os mesmos mandamentos essenciais: o amor a Deus e o amor ao próximo. Também afirmavam que, se não houver paz entre os cristãos e os muçulmanos, não haverá paz no mundo. A esta mensagem respondeu o Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal T. Bertone, em Novembro de 2007: "Sem ignorar nem diminuir as nossas diferenças, podemos e portanto deveremos olhar para o que nos une." Os contactos entre as autoridades católicas e muçulmanas conduziram, em Março deste ano, à instituição do Fórum Católico-Muçulmano e à organização do referido encontro no Vaticano. No fim do Seminário, houve uma Declaração comum, em 15 pontos. Logo no primeiro, mostra-se como a concepção de um Deus, fonte de amor, é partilhada pelas duas religiões. Afirma-se depois que "a vida humana é o dom mais precioso de Deus a cada pessoa. Portanto, deveria ser conservado e honrado em todas as suas etapas". A pessoa requer "o respeito pela sua dignidade original e a sua vocação humana". Defende-se, por isso, uma legislação civil que assegure "a igualdade de direitos e a plena cidadania" de todos, e há o compromisso conjunto de "assegurar que a dignidade humana e o respeito se estendam a uma igualdade de base entre homens e mulheres". O respeito da pessoa e suas opções em assuntos de consciência e religião "inclui o direito de indivíduos e comunidades praticarem a sua religião em privado e em público". Também "as minorias religiosas têm direito a ser respeitadas nas suas convicções e práticas religiosas". "Nenhuma religião nem os seus seguidores deveriam ser excluídos da sociedade." A criação de Deus na sua pluralidade de culturas, civilizações, línguas e povos é "uma fonte de riqueza e portanto não deveria nunca converter-se em causa de tensão e conflito". É necessário promover uma informação exacta sobre as religiões e proporcionar uma "sã educação em valores humanos, cívicos, religiosos e morais aos seus respectivos membros". Católicos e muçulmanos estão chamados a ser "instrumentos de amor e harmonia entre crentes e para a humanidade em geral, renunciando a qualquer tipo de opressão, violência agressiva e terrorismo, sobretudo quando se cometem em nome da religião". Sem justiça para todos, não haverá paz. Por isso, a Declaração apela aos crentes para que trabalhem em ordem a criar "um sistema financeiro ético no qual os mecanismos reguladores tenham em conta a situação dos pobres e deserdados, tanto indivíduos como nações endividadas". No termo do Seminário, Bento XVI recebeu os participantes, apelando veementemente a que as religiões se tornem artífices da paz e a liberdade religiosa seja respeitada "por todos e em todos os lados". Certamente, pensava também nas minorias cristãs perseguidas em países de maioria muçulmana. A Declaração conclui com o compromisso de realização de um segundo Seminário do Fórum dentro de dois anos "num país de maioria muçulmana". Oxalá! Anselmo Borges

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Borboletas vão fugir para o Norte?

Uma notícia de hoje, publicada no PÚBLICO, diz que as alterações climáticas na Europa vão obrigar borboletas a migrar para o Norte, por causa do calor. "A maioria das espécies vai ter de alterar radicalmente a sua distribuição. A forma como as borboletas mudam vai indicar a possível resposta de muitos outros insectos, que em conjunto totalizam dois terços de todas as espécies", diz um comunicado, baseado num atlas de Josef Settele, do Centro de Helmholtz para a investigação do Ambiente, na Alemanha. Todos sabemos que este fenómeno não deixará de ter impacto no ecossistema, pelo que se torna necessário pensar em tudo o que possa provocar danos na natureza. Ela não perdoará.

CONSERVADORES

Uma sociedade democrática é, normalmente, enriquecedora. Os cidadãos, directa ou indirectamente, tomam parte nas decisões que lhes dizem respeito. De tempos a tempos escolhem quem possa tomar posições por eles, mas nem sempre estão de acordo. Vêm, então, os protestos, as manifestações, as acusações, enfim, os sinais de desagrado. E surgem, necessariamente, as promessas de que, no futuro, ninguém os engana. Claro que isto são, por norma, desabafos de ocasião. Na hora de votar, nós, os portugueses, somos reconhecidamente conservadores. Os partidos dos Governos chamam-se PS e PSD. Os outros vivem a sonhar que talvez um dia o povo resolva fazer a experiência, numa atitude drástica, de mudança radical. Tenho dúvidas de que isso alguma vez possa acontecer. Isto porque somos, de facto, conservadores. Outro sinal de conservadorismo está na manutenção de regalias ou privilégios, que ninguém quer perder. Há professores que talvez não estejam de acordo com as avaliações, porque é melhor atingir o topo da carreira por antiguidade, há militares que lutam pela manutenção de um estatuto especial, há médicos que contestam qualquer alteração ao statu quo, enfim, a comunicação social está cheia de profissionais que clamam, constantemente, a urgência de se fazerem reformas no País, porque precisamos de deixar a cauda da Europa, desde que não se mexa nos seus interesses, por mais inadequados que estejam numa sociedade democrática, que se quer justa e solidária. Fernando Martins

COMO SANTO ANTÓNIO FOI VISTO COM O MENINO JESUS

Quando certa vez Santo António entrou numa cidade em serviço de pregação, o senhor fidalgo que lhe deu poisada, assinou-lhe aposentos retirados, a fim de não o perturbarem no estudo e oração. Ora, estava o Santo recolhido e só em seus aposentos, estando o senhor fidalgo, discorrendo pela casa a tratar da sua vida, adregou passar perto, e levado por devota curiosidade espreitou para dentro, a escondidas, por uma fresta que abria mesmo no lugar onde o Santo descansava. E o que haviam de ver seus olhos! Um Menino mui formoso e alegre nos braços de Santo António, e o Santo a contemplar-lhe o rosto, a apertá-lo ao peito e a cobri-lo de beijos. Ficou maravilhado o fidalgo com a formosura do Menino, e todo se espantava não atinando como explicar donde teria vindo para ali criança tão graciosa e bela. E o Menino que outro não era senão o Senhor Jesus, revelou a Santo António que seu hospedeiro o estava espreitando. Pelo que Santo António depois de findar a longa oração, chamando o senhor fidalgo humildemente lhe pediu e instou que, enquanto ele vivo fosse, a ninguém descobrisse a visão que espreitara. E só depois da morte do Santo, o senhor fidalgo com lágrimas santas contou o milagre que seus olhos indiscretos haviam contemplado. Em louvor de Cristo. Ámen. Florilégio Antoniano
Neste Natal Neste Natal de 2008 gostaria de me colocar na posição do hospedeiro a espreitar o presépio do mundo... e ver os meus Amigos/as a brincar com o Menino. Manuel Olívio

Festas Felizes

Olá Professor
Como o prometido é devido, aqui vai o nosso postal de Natal 2008, do outro lado do rio grande, nas terras do tio Sam, com votos de Festas Felizes e um Ano Novo cheio das maiores venturas, para o meu amigo professor e toda a familia, e também para todos os meus amigos que frequentam este cantinho. Um abraço de fraternidade para todos.
Nelson e Teresa Calção
NOTA: Se há leitores amigos e fiéis, daqueles que nos acompanham momento a momento, o Nelson e a Teresa ocupam um lugar muito especial no meu coração. Pelas gentilezas tantas vezes manifestadas, pela felicidade que irradiam nos contactos pessoais que com eles mantenho, pela alegria contagiante de viver a vida com harmonia e bondade. Deste meu recanto, vai esta nota pessoal, extensiva a todos os seus familiares. E para o Nelson e para a Teresa, vão ainda os meus votos de que venham depressa até cá, porque tenho saudades de os ouvir.
FM

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

GRITOS DE DOR E OPINIÕES MAIS OU MENOS ENFEUDADAS

Embora só ouça na estrada, sigo sempre, com grande interesse, o fórum da TSF, com as muitas intervenções de rádio ouvintes, que pedem a palavra para dar a sua opinião sobre o tema anunciado. A situação social, a crise que se instalou no país, os problemas do desemprego, da escola, da família, as leis mais discutíveis, o divórcio injusto e compulsivo, as falências de bancos e de empresas, o futebol, tudo por ali passa. Vou acolhendo quer os gritos de dor, que são os dos eternos atingidos por todas as crises e acontecimentos sociais mais preocupantes para as pessoas individuais, as famílias, os trabalhadores e as pequenos empresários, quer as opiniões coloridas dos simpatizantes e dos partidários, políticos e sindicais, que tanto atacam e desprezam, como louvam e defendem. Há ainda a opinião dos cidadãos sabedores e sensatos… Não há lugar para responder a opiniões contrárias, nem para polémicas. Todas as opiniões valem como expressões livres e desabafos incontidos. O moderador mantém-se sereno, deixa que cada um se exprima com igual direito, apenas controla o tempo. É verdade que, também ali, as razões se sobrepõem às opiniões, porque exprimem vida e não teorias. Por outro lado e para além do programa, fica, normalmente por cima, o poder de quem manda e decide e raramente tem tempo para ouvir a voz do povo e lhe pesar as razões. Por baixo, e além do programa, permanece o sofrimento de quem mergulha no duro da vida, na insegurança do presente e do futuro e na dor de quem se sente marginalizado nas opiniões que lhe respeitam e excluído das decisões que o afectam. Há dias, o tema era a actual crise social e suas consequências que ocupava o espaço e as atenções dos ouvintes e dos participantes. O tempo esgotou-se sem que todos se pudessem fazer ouvir. Surgiu, obviamente, o confronto entre o litoral e as grandes cidades, zonas que mais beneficiam, e o interior do país, carente de muitas coisas fundamentais, com aldeias esquecidas de benefícios, que não do pagamento de impostos. Surgiu o confronto entre as grandes empresas sem rosto, que a um pequeno espirro logo lhe acorrem políticos locais e governantes centrais com paninhos quentes, e as pequenas empresas, que produzem, dão trabalho e geram emprego local, asfixiadas, a pouco e pouco, com leis iguais e atenções e oportunidades diferentes. Empresas que, por mais que gritem, raramente se fazem ouvir. E, mais ainda, milhares de lares sem casa de banho, milhares de famílias com ordenados de miséria, idosos com reformas de igual ordem, milhares de pais sem poderem ajudar os filhos ir mais longe, milhares de pessoas desanimadas e sem saída para problemas prementes, um mundo de jovens sem perspectivas de futuro e de gente que não acolhida, nem respeitada e estimulada. Hoje as pessoas podem falar e desabafar. Mesmo que exagerem - quando o coração se solta isso acontece com todos nós - há sempre um pano de fundo a espelhar que as coisas não estão bem e que a realidade é dura para muitos, todos os dias, dia e noite. Estranho é ver como se cala e distorce a realidade conforme os interesses e as conveniências, e como se esquece que, mesmo tendo o país, nas últimas décadas, melhorado em muitos aspectos, há problemas que persistem e outros surgiram, não menos graves que os de ontem. A destruição das famílias, a corrupção nos negócio e na vida diária, a insegurança em tantos meios, a ilusão dos supérfluos e a míngua de pão, aí estão, ao lado de tantos outros, a confirmar que problemas não faltam. A verdade, moeda rara e pouco corrente, é um direito de todos. Pode abalar prestígios, mas não custa dinheiro. Apenas exige coragem, dignidade e respeito, para que todos, a seu modo, saibam o porquê das crises e se tocam a todos ou apenas e sempre aos mesmos. A verdade é dever de todos mesmo à mesa do café.
António Marcelino

Um conto de Natal

O tamanquinho
No 3º quartel do século XX, ainda existia um ambiente marcadamente rural, nestas terras da Gafanha. A vida fluía… ao ritmo da carroça puxada por uma vaca pachorrenta, gemendo nos gonzos a falta de lubrificação; de uma mulher que carregava um taleigo de milho à cabeça, até à moagem próxima, para o trocar por farinha de milho; de uma lavadeira que transportava para a “fonte”, cavada nas dunas da mata nacional, a bacia de roupa encaixada na banca, mais a enxada e o cabaço com que tirava a água do lençol freático; duma porca ou de uma vaca que percorriam o caminho do prazer, até ao posto de cobrições da freguesia; de um albitar que vinha em socorro de alguma vaca ou porca parideiras que não conseguiam expulsar, para luz do dia, as suas preguiçosas crias; etc, etc. As mulheres e algum homem que escapara, à vida dura, da pesca do bacalhau, ocupavam-se numa agricultura de subsistência, para contribuir em casa, no magro orçamento doméstico. Por essas alturas a vida material resumia-se ao essencial e os bens de consumo não existiam com a abundância quase atentatória das bolsas mais humildes, como hoje são exibidos nas grandes superfícies comerciais. Foi neste contexto que se passou esta cena ternurenta. A Menina, na sua tenra idade e alheada da vida dos adultos, nem se apercebera da chegada do Natal. Este insinuava-se no espírito dos mais velhos que o transmitiam, subliminarmente, aos seus descendentes. Sem árvore de Natal, sem luzinhas multicores e ornamentações apelativas ao consumismo desenfreado, a Menina esquecera completamente esta efeméride do calendário religioso. O pai que lhe declamava, à lareira, os Lusíadas de Camões, que revelava uma erudição invulgar para a época, chama-a, ao dealbar do dia de Natal: - Menina, vem cá à cozinha, depressa! Vê o que está aqui no borralho! Todo o espanto do mundo inundou o olhar da garotinha, pois não compreendeu como o Menino Jesus lhe pusera lembranças no tamanquinho, sem ela o ter lá colocado. E com o ar mais cândido do mundo, rondava os 5, 6 aninhos, pergunta! - Meu pai! Como é que o Menino Jesus sabia onde eu tinha arrumado os meus tamanquinhos? Se o Menino Jesus já possuísse um GPS, no século passado, ... aquele espanto teria sido descabido!!!
Mª Donzília Almeida

Efeméride aveirense: Restauração da Diocese de Aveiro

D. João Evangelista, 1.º bispo da restaurada Diocese de Aveiro
11 de Dezembro de 1938
Com grande solenidade, D. João Evangelista de Lima Vidal deu execução à bula do Papa Pio XI, que restaurou a Diocese de Aveiro, e tomou posse do cargo de administrador apostólico da mesma Diocese. Seria Bispo de Aveiro a partir de 1940
In Calendário Histórico de Aveiro
NOTA: Ao evocar, hoje e aqui, uma data histórica referente à Diocese de Aveiro, alimenta-me o propósito de levar os meus leitores a conhecerem um pouco mais a nossa vida regional. Assim, sugiro que leia algumas informações interessantes sobre a Diocese de Aveiro. A antiga e a actual.

Manoel de Oliveira: um século de vida, com o cinema por paixão

Quando estou a fazer um filme estou a descansar. Esta frase, dita por Manoel de Oliveira, traduz bem a paixão que Manoel de Oliveira nutre pela nobre arte, que é o cinema. Completa hoje um século de vida e quer passá-lo a trabalhar, fazendo aquilo de que gosta. Com paixão, qual cântico solene à vida! Sem queixumes nem renúncias. Com amor e entusiasmo por uma arte que viu nascer e que abraçou, desde a primeira hora, para nos ensinar a reflectir emoções, sentimentos, beleza, arte. Penso que já tudo foi dito sobre este HOMEM do cinema, que não se cansa de transportar para a tela uma visão original do mundo que o ocupa. Cinema de autor. Cinema com assinatura. Que nem todos os cinéfilos entendem, mas que o mundo gosta de ver. E distingue. FM

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Nascemos, nascemos, nascemos

Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez. Para quem quiser ver a vida está cheia de nascimentos. Nascemos muitas vezes ao longo da infância quando os olhos se abrem em espanto e alegria. Nascemos nas viagens sem mapa que a juventude arrisca. Nascemos na sementeira da vida adulta, entre invernos e primaveras maturando a misteriosa transformação que coloca na haste a flor e dentro da flor o perfume do fruto. Nascemos muitas vezes naquela idade onde os trabalhos não cessam, mas reconciliam-se com laços interiores e caminhos adiados. Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez. Nascemos quando nos descobrimos amados e capazes de amar. Nascemos no entusiasmo do riso e na noite de algumas lágrimas. Nascemos na prece e no dom. Nascemos no perdão e no confronto. Nascemos em silêncio ou iluminados por uma palavra. Nascemos na tarefa e na partilha. Nascemos nos gestos ou para lá dos gestos. Nascemos dentro de nós e no coração de Deus. O que Jesus nos diz é: "Também tu podes nascer", pois nós nascemos, nascemos, nascemos. José Tolentino Mendonça

Participar mais na vida comunitária

Nas comemorações da elevação da Gafanha da Encarnação a vila, foi lembrado, no encontro entre autarcas do concelho e da freguesia e forças vivas da terra, que seria importante criar mais acção no sentido de colocar os três mil habitantes a participar mais na vida comunitária. Tanto na Gafanha da Encarnação como nas demais freguesias, sente-se, de facto, um certo divórcio entre a população e a vida da comunidade. Até parece que, para o povo, a vida comunitária é monopólio de uns tantos iluminados, quando, na realidade, ela é das pessoas e para as pessoas. Penso que faltará, nesta área como em tudo, uma dinâmica de envolvimento de todos em tarefas comuns. Ninguém pode ser excluído nem excluir-se, ninguém pode nem deve ficar indiferente ao que à comunidade interessa, tanto no âmbito social e cultural, como desportivo, político e religiosos. E se é verdade que cabe a cada um assumir as suas responsabilidade na comunidade a que pertence, não deixa de ser importante começar a pensar-se, de forma programada e consistente, na melhor maneira de envolver toda a gente em acções que são de todos. Eu sei, por experiência própria, que por vezes se corre o risco de confiar demasiado nos líderes, que existem em toda a parte. Mas nem por isso podemos ficar à margem, alheando-nos dos projectos e iniciativas que dizem respeito a toda a gente. Fiquei, por isso, satisfeito por saber que na Gafanha da Encarnação se pensou seriamente nisto, no dia em que se celebrou a elevação a vila daquela freguesia vizinha. Fernando Martins

Questões da Educação

A Igreja portuguesa está “preocupada com as questões da educação e faz votos para que se encontre uma solução o mais rapidamente possível” – disse à Agência ECCLESIA D. Jorge Ortiga, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), no encerramento do Conselho Permanente da CEP.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

NATAL - 2008

NATAL Natal. Nasceu Jesus. O boi e a ovelha deram-lhe o seu alento, o seu calor. De palha, o berço, mas também de Amor. Desce luz, desce paz de cada telha. Nem um carvão aceso nem centelha de lume vivo. A dor era só dor, até que a mão trigueira dum pastor floriu em pão, em leite, em mel de abelha. Natal. Nasceu Jesus. Dias de festa. Até o cardo é hoje rosa, giesta, até a cinza arde, como brasa. E nós? Que vamos nós dar a Jesus? Vamos erguer tão alto a sua Cruz que não lhe pese mais que flor ou asa.
Fernanda de Castro In “Natais… Natais” Antologia de Vasco Graça Moura
NOTA: Ilustração: Adoração do Menino Jesus à Beira-Mar, xilogravura de João Carlos Celestino Gomes (1899-1960)

Gafanha da Encarnação: Vila há quatro anos

A Câmara Municipal de Ílhavo em cooperação com a Junta de Freguesia da Gafanha da Encarnação realiza hoje uma acção comemorativa do 4º aniversário da elevação da Gafanha da Encarnação a Vila, que hoje se assinala. Pelas 13 horas, realiza-se um almoço de trabalho com representantes das forças vivas da Vila da Gafanha da Encarnação, no Restaurante da ANGE (Associação Náutica da Gafanha da Encarnação). Na agenda deste encontro evocativo, estão questões ligadas aos investimentos perspectivados pela Câmara Municipal de Ílhavo para o próximo futuro, assim como a dinamização social da Vila da Gafanha da Encarnação, rentabilizando o potencial de intervenção das suas Entidades e Associações.

Na Universidade de Aveiro: 60 anos - Direitos Humanos em Globalização?

Nos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Amanhã, 10 de Dezembro, 21 horas, Grande Auditório da Reitoria da UA
Abertura: Coral da Associação Amizade – Associação de Imigrantes dos Países de Leste (Porto) Lançamento: FÓRUM UNIVERSAL – 3 ANOS, 30 IDEIAS – DEBATE SOBRE A ACTUALIDADE Conferência: com Pedro Jordão, do Centro de Estudos Internacionais António Eloy, da Amnistia Internacional Portugal Adriano Moreira, da Academia das Ciências de Lisboa Moderação: Teresa Soares, da UA:UNESCO Encerramento: Danças Tradicionais de Leste
NOTA: Entrada livre

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

CNE - Corpo Nacional de Escutas

Hoje apareceu cá em casa um calendário do CNE - Corpo Nacional de Escutas. O agrupamento da Gafanha da Nazaré andou a vender calendários, não só para angariar fundos, mas também para espalhar, pela comunidade, a mensagem escutista. Ela já é bastante conhecida, aqui e no mundo, mas é sempre bom mostrar a sua pujança e actualidade.
Olhando para as legendas de cada página, percebe-se facilmente a importância desta organização fundada por Baden Powell, para a formação da juventude. Valores como empreendedorismo, experiência de equilíbrio a vários níveis, fermento de comunidade, de paz, de fraternidade. Mais espaço de evangelização, verdade, justiça, amizade e respeito pelo ambiente, entre muitos outros, são um desafio para quantos ousam vestir a farda, seguindo os seus princípios e leis.

Ti António da Bicha

A propósito da evocação que o Ângelo Ribau fez sobre um pobre de pedir, António da Bicha, recebi do João Marçal um comentário que, pela oportunidade dos esclarecimentos, aqui insiro, de forma mais visível.
Lembro-me bem do ti António da Bicha; foi alguém que sempre conheci e que portanto considerava como fazendo parte da realidade dos meus tenros anos. No seu percurso diário era às vezes acompanhado pela garotada dentro daquelas zonas a que chamávamos "cantos". Logo a seguir o grupo era substituido. Segundo a minha mãe era oriundo duma família com posses mas a perda da mulher atirou-o para aquele desinteresse pela vida. O desgosto provocou-lhe alguma fragilidade emocional que o levou a tingir as galinhas do capoeiro de preto. Quando andava na primária e contei isto aos meus amigos de aventuras, resolvemos uma tarde de verão explorar o lugar onde tinha a sua cabana num areal da Gafanha de Aquém. Lá estava o capoeiro e a criação era toda preta, mas esta de origem.Tinha um sobretudo que mais parecia uma manta de retalhos: ele próprio ia acrescentando pedaços de tecido como telhas sobrepostas num telhado. Era uma figura do nosso quotidiano cuja lembrança fez com que lhe atribuíssem o nome de uma rua na Gafanha da Nazaré.
João Marçal

HINO À IMACULADA

Se outrora uma prece eu te ergui, Em desespero, sim, que mãe eu sou, Foi porque acreditei! E agora eu estou A louvar-te e agradecer-te o que vivi! Fizeste renascer em mim a Esp’rança, Foste amparo na dor, na amargura. Eu te elevo meu olhar com ternura, Qu’em Ti, misericórdia sempre alcança. És a Mãe a quem sempre se recorre, Que em toda a adversidade nos socorre, Na nossa peregrinação sofrida! O Teu manto a todos nós protege, Seja crente ou seja até herege, De todos és a Mãe muito querida! Mª Donzília Almeida 08.12.08

domingo, 7 de dezembro de 2008

Morreu Alçada Baptista

“O escritor e jornalista António Alçada Baptista morreu hoje aos 81 anos. António Alçada Baptista nasceu em 1927 na Covilhã. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, Alçada Baptista tem uma vasta obra literária publicada. Esteve também ligado ao jornalismo e à edição. Foi ainda cronista. Identificado por muitos como “o escritor dos afectos” e um defensor da liberdade Alçada Baptista foi um dos fundadores da revista “O tempo e o Modo”, que marcou gerações. Era ainda editor da Moraes Editora. Alçada Baptista foi condecorado com a Ordem de Santiago, com a Grã Cruz da Ordem Militar de Cristo pelo Presidente Ramalho Eanes e com a Grã Cruz da Ordem do Infante pelo Presidente Mário Soares. Inês Pedrosa, directora da Casa Fernando Pessoa, lembrou, em declarações à TSF, o “homem de causas”: “Foi um homem de causas, dos direitos do homem e da democracia. Mas temo que seja esquecido enquanto escritor para ser lembrado enquanto pessoa”. O corpo vai ser velado na Igreja das Mercês, em Lisboa, sendo amanhã levado para o Cemitério dos Prazeres.”
Esta foi a notícia que hoje à noite me surpreendeu no PÚBLICO online. Inesperada, como todas as mortes o são, por mais evidentes que elas se tornem, atingiu-me profundamente, como se fosse a morte de um amigo próximo. Há anos que me habituei a ler Alçada Baptista, à medida que os seus livros foram aparecendo no mercado. Havia no que escrevia um não sei quê que mexia comigo. A serenidade que deixava transparecer no que dizia e escrevia? A familiaridade que me tornava próximo do que contava? Os afectos que se reflectiam no meu espírito? A naturalidade que dele emanava? As causas em que me envolvia? A simplicidade com que escrevia e falava? As reflexões que me suscitou? As estórias que contava como poucos? A sua vastísima cultura? A naturalidade com que aceitava os outros, independentemente das suas opções? Talvez um pouco de tudo isto. Podia não concordar com tudo o que defendia, podia discordar das suas posições, mas gostava de ler este escritor memorialista que me envolvia na sociedade que ele próprio vivenciou e que o definiu como homem bom, de afectos, de amores, de paixões, de entusiasmos, de projectos, de consensos, de diálogos. Paz à sua alma. Fernando Martins

NATAL: Pobres de pedir

O Ti António da Bicha
Magro, escanzelado, vestia uns trapos que, mesmo como trapos, já haviam conhecido melhores dias. Com o seu chapéu roto, mais parecia um espantalho das searas, do que um ser humano que Deus ao mundo tenha posto. Era assim o Ti António da Bicha, um pobre pedinte que, quando eu era ainda moço, dos meus sete, oito anos, aparecia na nossa casa, a pedir esmola. Batia ao portão, abria a aldraba – naquele tempo não era necessário fechar as portas à chave – e pedia uma esmolinha por amor de Deus, para matar a fome, com a cara triste de pedinte, como era conveniente! Nós, os filhos da casa, tínhamos, por este homem, não sei se respeito, se medo. - Vai ao portão ver quem é, diz a minha mãe! Fui. - Mãe, é o Ti António da Bicha a pedir esmola! - Ele que espere um pouco e tu vem cá. Cheguei à casa do forno onde minha mãe já tinha posto sobre a mesa um naco de boroa e duas batatas. Esperei. A minha mãe veio do lado da salgadeira trazendo um pedaço de toucinho salgado. - Leva isto ao pobre. Estamos em vésperas de Natal e ele tem de ter com que matar a fome! Fui. Ao entregar a esmola, notei que deu uma dentada na boroa, guardando o resto num dos lados do saco. As batatas guardou-as noutro. Ao receber o toucinho, olhou-o, como que duvidando da dádiva que estava a receber. Guardou-o com cuidado, olhou-me e sorriu. Foi a única vez que vi aquele rosto sorrir. - Deus vos dê saúde e sorte para o poderem ganhar, foi o agradecimento que lhe ouvi, ao mesmo tempo que murmurava uma Ave-maria, que acabaria logo que eu deixasse de o ouvir! E seguiu a sua viagem para o portão próximo, o do vizinho Sarabando. Ângelo Ribau

Museu de Marinha

Sagres
Conhecido vulgar e erradamente por Museu da Marinha, importa conhecer um pouco da sua história a fim de aquilatar e compreender o seu verdadeiro nome. Em 1863, o Rei D. Luís decretou a constituição duma colecção de documentos históricos que reflectisse o passado glorioso das viagens marítimas dos Portugueses. Isto fruto do seu amor às artes e à sua ligação ao mar, por ter sido comandante de navios. Para o museu foram então canalizadas obras de colecções reunidas em séculos anteriores como a colecção de modelos de navios oferecida pela rainha D.ª Maria II à Real Academia dos Guardas-Marinhas, antecessora da Escola Naval. Esta escola funcionava junto ao Arsenal de Marinha e foi o primeiro local de depósito de tudo considerado com valor museológico. Seguiram-se várias tentativas de instalação do museu, com nomes diferentes e sucessivamente goradas. Em 1916, um incêndio destruiu grande parte do espólio. Em 1934, é feita nova tentativa de instalação do museu, desta vez com o nome de Museu Naval Português, juntando obras a partir do século XVIII, sedeado ainda na Escola Naval. É ainda neste ano que se iniciam as diligências no sentido da formalização do projecto da sua instalação junto ao Mosteiro dos Jerónimos, num anexo onde hoje se encontra. O grande salto de valorização do Museu deu-se pela acção de beneméritos como Henrique Maufroy de Seixas que lhe deixou em testamento a sua colecção denominada Museu Naval. Impunha contudo uma condição: um local digno para o seu depósito. Assim a colecção ficou exposta no Palácio das Laranjeiras entre 1949 e 1962. Em 1959, nova reformulação do museu aponta o Mosteiro dos Jerónimos, com toda a sua carga simbólica, como local digno para receber a colecção. Trabalhando nesse sentido abre as suas portas ao público em 15 de Agosto de 1962, com novos regulamentos e a designação de Museu de Marinha. A razão de ser do actual nome vem da finalidade e do âmbito alargado dos seus propósitos: não se resume apenas a questões da Marinha de Guerra que o dirige e onde está inserido, abarcando antes todas as vertentes relacionadas com o mar e outras marinhas. João Marçal

NATAL: Notas do Meu Diário

7 de Dezembro Como manda a tradição, haurida na infância, hoje foi dia de montar o presépio na sala onde mais paramos e convivemos. Ao lado, ao jeito de Árvore de Natal, há uma planta, cujos ramos vão servir de abrigo ao Menino Deus. Com os enfeites nos seus lugares, fomos buscar o Menino que ficou, em repouso, durante o ano, na minha tebaida, num velho móvel de família, bem à vista de todos. O nosso Menino Jesus está vestido a rigor, com roupa feita há tempos propositadamente para Ele. E agora, ao ocupar o seu lugar no presépio, com Nossa Senhora e São José olhando-O embevecidos, o Menino vai estar atento a quem chega e a quem lhe dirige um sorriso, durante este Advento, na mira de receber d’Ele um ou outro recado de ocasião. Neste dia de montar o presépio, cultiva-se o gosto de beijar o Deus Menino. – Mais logo, quando estiverem todos! – diz quem orienta os trabalhos.

Alice Vieira evoca Erico Veríssimo

Alice Vieira evocou no Jornal de Notícias um escritor brasileiro que muito a marcou. Diz assim: "Erico Veríssimo foi um dos homens da minha vida. Não houve escritor nenhum que me tivesse influenciado tanto. Acho mesmo que a vontade de escrever, a descoberta da maravilha que era usar as palavras para contar uma história - e, mais do que isso, para transmitir uma emoção - foi com ele que aprendi."
Esta evocação também me trouxe à memória uma entrevista que este escritor, autor de "Olhai os Lírios do Campo", concedeu a Igrejas Caeiro, numa rádio que não posso precisar. À pergunta do entrevistador, sobre qual era o seu livro de mesa-de-cabeceira, Erico Veríssimo respondeu que era a Bíblia. - É crente? - questionou Igrejas Caeiro. - Não. - Como assim? - É que ainda não encontrei nenhum código de vida superior à Bíblia! - respondeu o escritor.
FM

Efeméride aveirense: Junta Autónoma da Ria e Barra de Aveiro

7 de Dezembro
No dia 7 de Dezembro de 1921 foi criada, por decreto governamental, a "Junta Autónoma da Ria e Barra de Aveiro", organismo de administração portuária, que viria a instalar-se em 11 de Fevereiro de 1923. Em 18 de Fevereiro de 1950, passou a denominar-se "Junta Autónoma do Porto de Aveiro". Estes organismos foram os antecessores da APA - Administração do Porto de Aveiro.
Fonte: Calendário Histórico de Aveiro

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 106

O EXAME DA 4.ª CLASSE
Caríssima/o: Isto agora é outra conversa; logo para começar, vamos até Ílhavo, a sede do concelho... e cada um que se arranjasse para lá chegar, pois não havia camionetas nem outro qualquer tipo de transporte público que desse acesso à sede do concelho. Só me lembro que foi preciosa a colaboração do Hortênsio que levava o irmão no porta-bagagem e a mim no quadro da sua bicicleta! No primeiro dia, o da prova escrita, não sei como foi; apenas recordo que almocei no recreio pão de trigo com marmelada. [Claro que tudo isto se passou nos século e milénio passados, mas no ano de 1951! As voltas que o mundo andou para a frente! Todos esperamos que agora não volte para trás.] A prova escrita foi normalíssima, facílima (tínhamos feito tantas de preparação na Escola da Ti Zefa, juntamente com os alunos do Professor Ribau que aquilo foi canja); depois vinham as orais, repartidas por vários dias, de manhã e de tarde e era preciso ir assistir algumas vezes para ver como os examinadores perguntavam... Aqui entrava de serviço a bicicleta do Hortênsio... Mas afinal como era a prova escrita? Capa impressa, onde identificávamos a Escola, o Professor proponente e escrevíamos o nosso nome e a data; espaço reservado para o júri assinar e pôr o resultado. Numa primeira folha, fazíamos o ditado (... aqui muito cuidadinho que o número de erros em excesso eliminava... era a doer!) e a prova de caligrafia; no verso, espaço para uma redacção... Outra folha onde resolvíamos uma operação com a respectiva prova real pela operação inversa e, por trás, o tal problema. Por fim, prova de medição e pesagem e o desenho, numa terceira folha mas lisa. Realizada a prova, era corrigida de imediato e ainda antes do almoço eram afixados os editais com os resultados e a indicação dos dias da prova oral. De vez em quando reprovava um ou outro aluno, quase sempre por causa do número de erros; e isso era um caso muito sério para o professor proponente... Bem, chegado o dia da prova oral, feita a chamada (esqueci-me de dizer que a chamada para cada uma das provas era feita à entrada da sala, onde era proclamado em voz alta o nosso nome e apresentávamos a cédula ou o bilhete de identidade!), entrávamos e olhávamos de través para a carteira isolada, em frente da secretária, onde nos iríamos sentar para o interrogatório pelos três elementos que constituíam o júri e que incluía todas as matérias estudadas ao longo do ano: leitura e gramática, pelo livro utilizado na escola, aritmética e geometria, no quadro preto, e história, geografia e ciências naturais junto dos mapas que estavam dependurados. Para não alongar muito, apenas direi que o Professor que me interrogou sobre geografia, para variar, apontou-me para uns mapas que julgávamos decorativos, no primeiro andar da parede, muito lá em cima, quase sem tinta e 'que está ali representado?', a pensar que me atrapalhava: via-se logo que era a Guiné, muito desbotada, quase apagada... O edital falava como arauto de rei: todos aprovados e alguns com distinção! Professores inchados, a dar os parabéns aos felizardos (só falo em felizardos que o nosso grupo era de escola masculina!...), mais um pão com marmelada e pirolito... e toca a andar que se faz tarde! Manuel

sábado, 6 de dezembro de 2008

APRESSAI A VINDA DO SENHOR

O ritmo da história pode ser apressado. É lição que se colhe da leitura dos factos e das convicções dos seus protagonistas. É também afirmação clara de São Pedro na 2ª carta que dirige aos cristãos. “Esperai e apressai a vinda do Senhor” – recomenda com solicitude, acrescentando a título de exemplo algumas atitudes a cultivar. Não perder de vista o valor do tempo, ter muita paciência, estar atento e vigilante, aguardar confiante e manter-se fiel e cooperante. Estas atitudes traçam o perfil do cristão no mundo e indicam um caminho a percorrer a todos os que pretendem intervir no ritmo da história de forma positiva. Constituem o rosto da fé activa e da esperança alegre. São os “braços” estendidos da caridade envolvente da justiça integral. Tornam presente e significativa a comunidade eclesial no meio em que se insere e de que faz parte. Abrem o humano ao Absoluto de Deus e convertem-se em “ponto” de encontro e gérmen de comunhão. O tempo tem um valor único. O seu ritmo é irrepetível. Constitui o período oferecido à natureza para a realização das criaturas e da criação. Traz consigo a oportunidade da salvação. Está à disposição de todos como dom acessível a quem quiser fazer a sua gestão inteligente e sábia. É desafio constante a assumir com ousadia. A paciência é, de certo modo, a medida da esperança. Constitui um dos reflexos mais transparentes de Deus na humanidade de cada um de nós e de todos. Comporta valores apreciáveis, tais como a ciência da paz, o apreço pelo pequeno e pelo fragmento, a confiança na superação do negativo e redutor, a aspiração a ser mais, sempre mais. A vigilância é o estado de espírito de quem vive como a sentinela. Sempre, mas sobretudo na escuridão da noite ou na confusão dos dias. Exige lucidez para observar, princípios para discernir e identificar, critérios para avaliar e encaminhar, agindo da forma mais correcta. A confiança na espera e na acção nasce da certeza de que se tem a melhor companhia do mundo e de que se pode contar com a sua intervenção discreta e eficaz. Como Paulo, o cristão pode dizer com verdade: sei em quem confiei e não serei defraudado! A cooperação fiel expressa a resposta possível ao desafio que o ritmo da história comporta e provoca. Resposta da humanidade toda, mas sobretudo de quem descobre no tempo a oportunidade da salvação, a acessibilidade do nosso Deus, a proximidade de Jesus Cristo, a possibilidade de construir e viver a solidariedade global. Apressar a vinda do Senhor é intervir de forma positiva na humanização pessoal e na fraternidade universal. Tarefa a exigir esforço generoso e perseverante. Sempre mais! Georgino Rocha

A IMACULADA CONCEIÇÃO

Não sei se a maioria dos portugueses conhece o motivo do feriado no dia 8 de Dezembro. Os católicos praticantes saberão que se trata de uma festa ligada a Nossa Senhora. Se interrogados, talvez respondessem, na quase totalidade, que tem a ver com a virgindade de Maria. Aí está, pois, uma festa infestada com equívocos. Logo à partida, que pode significar Imaculada Conceição? De facto, não se refere directamente à virgindade, mas não lhe é completamente alheia. Do que se trata, na realidade, é da afirmação de que Maria, a Mãe de Jesus, foi concebida sem pecado. Mas, aqui, sem hermenêutica, isto é, sem interpretação, pode albergar-se uma série de confusões, profundamente ofensivas sobretudo para as mulheres, minando, desgraçadamente, a mensagem do Evangelho enquanto notícia boa e felicitante. Foi concretamente Santo Agostinho que elaborou a doutrina do pecado original, no sentido de um pecado cometido pelos primeiros pais (Adão e Eva) e transmitido a todos por herança, no acto sexual. Houve uma excepção: Maria foi concebida sem a mancha do pecado original. Deste modo, porém, a sexualidade ficou manchada e as mulheres acabavam por sentir-se discriminadas, tanto mais quanto, associando a concepção de Jesus a uma geração virginal, se lhes propunha o ideal impossível de virgem e mãe. Sub-repticiamente, esta doutrina causou imensos danos ao cristianismo, concretamente à mulher, à visão do sexo e do casamento. Assim, um cristão atento e reflexivo sabe que é necessário e urgente rever o dogma, mostrando o seu verdadeiro sentido. O próprio Papa João Paulo II deu a chave, ao escrever que "o Natal de Jesus revela o sentido profundo de todo o nascimento humano". Afinal, quando percebe que o ser humano não é redutível à biologia, o crente verá em toda a nova geração a presença do Espírito, como aconteceu com Jesus. Por outro lado, nascer é vir à luz e, portanto, dar à luz não constitui uma mancha para a mãe, como supõe a doutrina da virgindade de Maria, antes, no e depois do parto. Um dia, numa entrevista, um jornalista atirou-me: "Não acha que Nossa Senhora é a mulher mais poderosa de Portugal?" Nunca tinha pensado nisso, mas é bem possível. Basta pensar em Fátima e no que Fátima representa para os portugueses. Aliás, Nossa Senhora "concede" dois feriados nacionais: Imaculada Conceição (8 de Dezembro) e Assunção (15 de Agosto). Mas, se se pensar bem, estas festas são metáforas de esperança e salvação: todo o ser humano é concebido sem pecado, mas, entrado no mundo, terá de lutar contra a maldade e o pecado, na esperança de um mundo melhor, e também na morte pode contar com o Deus amor e a sua graça de vida eterna. Podemos então compreender, como dizia o teólogo Karl Rahner, que, nestes domínios, por exemplo, da virgindade de Maria, não se trata de biologia. Referindo-se à narrativa do Evangelho de São Mateus sobre a geração de Jesus por obra do Espírito Santo, escreveu o exegeta Jean Radermakers: "Tomando imagens das mitologias pagãs, depuradas pela reflexão judaica, Mateus não se situa num plano de fisiologia, medicina, ginecologia ou sexologia, mas no de uma realidade mais profunda. Deveríamos reler a nossa experiência do dar à luz e da responsabilidade parental a partir do nascimento de Jesus. Toda a criatura recém-nascida vem de Deus. Assumir uma maternidade e paternidade humanas é deixar que Deus se revele na criatura nascida. A missão de todo o varão e toda a mulher que se unem é dar lugar a que apareça no mundo a realidade do Emanuel, Deus connosco." Criticando os mal-entendidos da leitura do Evangelho a partir de pressupostos negativos em relação à sexualidade, o teólogo Juan Masiá põe na boca do anjo estas palavras dirigidas a São José: "Não deixes de levar Maria contigo. Não penses que pelo facto da intervenção do Espírito o teu papel como varão está a mais. Não tens que afastar-te para permitir que Deus faça algo grande com a tua família. Com a tua relação com Maria, não vais entrar em concorrência com o Espírito. O teu papel é compatível com a acção de Deus e com que Jesus seja o Cristo." Anselmo Borges
In DN

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

DEPUTADOS COMEÇARAM FIM-DE-SEMANA ALARGADO ANTES DO TEMPO

“A presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, decidiu hoje chamar o líder da bancada parlamentar, Paulo Rangel, para explicar na sede social-democrata quem foram os 30 deputados do seu partido que faltaram hoje às votações na Assembleia da República. Um projecto do CDS-PP que defendia a suspensão do processo de avaliação dos professores poderia ter sido aprovado, não fossem as ausências de 35 deputados da oposição.” Esta a notícia do PÚBLICO e de outros órgãos de comunicação social. Mais uma vez, dezenas dos nossos deputados, eleitos pelo povo para o representarem no Parlamento, símbolo maior da nossa democracia, dão-se ao luxo de faltar. Admitindo que alguns terão justificado as faltas, não há dúvida de que há deputados que não têm a noção das responsabilidades e do significado pleno da eleição para tarefa tão digna. Já se sabia, há muito, que alguns não passam de uns verbos de encher, ao ocuparem lugares para nada fazerem de útil. Uns dormitam ou lêem jornais nas bancadas. Outros por ali andam como seres amorfos. Mas todos ganham salários e subsídios muitíssimo acima da média. Ganham para nada fazerem. Em contrapartida, há os cumpridores, os que assumem, com dignidade, as suas funções parlamentares. Agora, Manuela Ferreira Leite quer saber como é. Quer explicações. Mas duvido que alguns venham a ser penalizados, neste país de brandos costumes. Diz a líder social-democrata: “Há deputados que estão fora, há deputados a quem foi concedida dispensa por parte do presidente do grupo parlamentar, há deputados que faltaram por quaisquer outras razões e há deputados que se calhar foram lá, assinaram e se foram embora. Isto não é admissível em circunstância nenhuma na função de deputado.” Pois é. Manuela Ferreira leite sabe disso tudo. Outros líderes sabem o mesmo. Mas ninguém faz nada. Resta-me dizer que tenho pena disto tudo. E aqui fica o meu veemente protesto. FM

NATAL EM AVEIRO

O programa de animação de Natal organizado pela Câmara Municipal de Aveiro, que irá decorrer até ao dia 6 de Janeiro de 2009, inclui eventos diversos, com especial enfoque na área musical e do espectáculo. No dia 11 de Dezembro, pelas 11 horas, o Grupo de Teatro Filandorra – Teatro do Nordeste, apresentará a peça infantil “A menina do mar”, no Auditório do Centro Cultural e de Congressos de Aveiro. A Sé de Aveiro acolherá, no dia 18 de Dezembro, pelas 21h30, o Concerto Coral de Natal, em que actuarão o Coral Polifónico de Aveiro, o Coral Vera-Cruz, o Coral de S. Pedro de Aradas e o Coro Santa Joana. A Orquestra Filarmonia das Beiras fará o Concerto de Ano Novo, que decorrerá no Teatro Aveirense, no dia 1 de Janeiro de 2009, pelas 18 horas. No dia 6 de Janeiro, Dia de Reis, na escadaria e pátio traseiro da Casa Municipal da Cultura terá lugar o “Cantar das Janeiras”.
Fonte: Correio do Vouga

NATAL: Notas do Meu Diário

5 de Dezembro Acordei com uma certa sensação de frio. Não que a temperatura fosse muito baixa, mas pelas notícias que a rádio me trouxe, atravessando as mantas fofas e acariciadoras. Centenas de trabalhadores perderam o emprego de um dia para o outro. A fábrica, onde muitos trabalhavam há bastantes anos, tinha sido deslocalizada para um país asiático. Aí tudo se produz a custos mais reduzidos. Os lucros dos empresários podem crescer desmesuradamente, explorando mão-de-obra barata, própria de escravos dos tempos modernos. E uma trabalhadora, com voz angustiada, clamava bem alto: “A desgraça bateu-nos à porta; este ano não há Natal para nós.”
Fernando Martins

Mais de um milhão e meio de Portugueses são voluntários

Eugénio da Fonseca, presidente da Comisssão Instaladora da Confederação Portguesa do Voluntariado, afirmou que "cerca de um milhão e meio de portugueses dedica parte do seu tempo na prática do voluntariado". E à ECCLESIA adiantou que este número não o surpreende, acrescentando que ainda há o voluntariado de proximidade “que não é possível quantificar visto que está no anonimato”.
Eugénio da Fonseca, que sabe como poucos, nesta área, o que diz, revela deste modo uma faceta muito importante da maneira de ser e de estar dos portugueses, desde sempre dados ao bem-fazer.

APRENDER A ENFRENTAR NOVOS DESAFIOS

Todos sabemos que não é fácil viver na mudança com alegria, liberdade interior e com critérios que denunciem sabedoria. Os mais velhos carregam hábitos e preconceitos, uma carga difícil de alijar para ver o que traz de novidade a mudança. Os mais novos, porque as experiências de vida ainda não têm para eles grande expressão, mais correm atrás das emoções que das razões. Os do meio, gente mais ou menos sabida, mas não tanto como julga, vivem, por vezes, para si próprios comportamentos de uma adolescência retardada que as mudanças favorecem, mas enchem-se de autoridade e dureza para com os filhos e os de fora, em relação a exigências correntes. Muita gente acaba por ver, depois das dificuldades surgidas, que afinal andava na corda bamba ou instalada à margem da vida real, sem se aperceber das mudanças e seus desafios. Aprender a viver na mudança é uma das exigências fundamentais da educação e do crescimento. Quer queiramos ou não, quer gostemos ou critiquemos, a verdade é que as mudanças culturais, rápidas mas com anzóis que prendem, não param mais, nem se compadecem com a nostalgia de quem espera que o tempo volte para trás. Viver na mudança com decisão e serenidade, aprender a ficar de pé nos solavancos da vida, não enjoar no quebrar dos vagalhões que balanceiam o barco, sentir-se acompanhado por quem enfrenta os mesmos desafios sem desanimar, não perder o sentido do que se pretende e quer, assumir a responsabilidade das decisões nos momentos menos claros, perceber o que se está passando e quem o comanda, é muito importante para cada pessoa viva e que assim quer continuar. Indispensável para conviver na família, no trabalho, na politica, na Igreja, nos divertimentos, em tudo. Muita gente já vai compreendendo que assim é, e tenta preparar-se, sem se retirar da vida, enfrentando os desafios da mesma. Outros permanecem casmurros, contrariam as mudanças evidentes com juízos redutores, à espera que todos lhe dêem razão, nem se apercebendo que cada dia têm menos gente que os ouça ou lhes peça conselho. Também não falta quem expenda opiniões que agradam e dê conselhos superficiais, sem pensar se fortalecem as raízes do pensar e do agir, ou se apenas se fazem cócegas aos ouvidos. Preparar para a mudança, um problema grave que atinge também a Igreja, pede no caso uma atenção cuidada para reforçar e motivar a fé dos crentes e das comunidades, de modo a enfrentarem os desafios novos, com discernimento e coragem. Há dias chamou-me a atenção o artigo de uma revista de fim-de-semana que dava pelo título: “Educação: ajude os seus filhos a compreender as mudanças”. A desilusão veio logo, porque eram duas páginas, com aparato e fotografia, apenas para explicar aos meninos e meninas a sua fisiologia. No fundo, o isco é sempre o mesmo. Tratava-se da publicidade de mais um livro, vindo da Califórnia…Na véspera caíram-me os olhos no ecran do televisor, onde uma psicóloga e uma mestra de horóscopos, falavam com gente nova, mais sabida do que se julgava, e a que não faltava a sondagem de rua para ouvir pais e avós opinarem sobre a altura de filhas e netas quebrarem a virgindade… Neste procurar perceber as mudanças para responder a novos desafios, não se podem esperar ajudas para voos mais altos, de gente de asas cortadas ou que não sabe voar Preparar para a mudança é matéria educativa em muitos quadrantes da vida, que não só a sexualidade, por importante que esta seja. Nem esta será bem entendida e vivida, sem se perceberem e assumirem as suas razões mais profundas, que vão muito para além do simples cuidado para evitar consequências indesejáveis e de saber os limites do prazer. Um exemplo actual. Sondagens fiáveis e recentes concluíam que uma percentagem altíssima de pré adolescentes diz que já não pode passar sem o telemóvel? Certamente que são os pais que lhos carregam. Aprender a responder aos desafios das mudanças é aprender a ser livre, a ser pessoa em sociedade, a não ser escravo de nada, nem ninguém.
António Marcelino

Dia Internacional do Voluntariado

Integrado no programa das comemorações dos 110 anos da Restauração do Município, a Câmara Municipal realiza hoje um Encontro das Associações do Município de Ílhavo assinalando o “Dia Internacional do Voluntariado” que neste dia se comemora. Com esta iniciativa pretende-se materializar um gesto de reconhecimento e agradecimento de todo o trabalho realizado pelos Voluntários que trabalham nas Associações, prestando um serviço de relevante interesse público e comunitário. O Encontro realiza-se no Centro Cultural de Ílhavo, hoje, pelas 18 horas. Do programa destacamos a intervenção do presidente da Câmara, Ribau Esteves, e uma palestra do professor Fernando Maria, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo, subordinada ao tema "Voluntariado e Associativismo Hoje".

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

VOTO DE NATAL

Acenda-se de novo o Presépio no Mundo! Acenda-se Jesus nos olhos dos meninos! Como quem na corrida entrega o testemunho, Passo agora o Natal para as mãos dos meus filhos.
E a corrida que siga, o facho não se apague! Eu aperto no peito uma rosa de cinza. Dai-me o brando calor da vossa ingenuidade, Para sentir no peito a rosa reflorida!
Filhos, as vossas mãos! E a solidão estremece, Como a casca do ovo ao latejar-lhe a vida... Mas a noite infinita enfrenta a vida breve: Dentro de mim não sei qual é que se eterniza. Extinga-se o rumo, dissipem-se os fantasmas! O calor destas mãos nos meus dedos tão frios! Acende-se de novo o Presépio nas almas. Acende-se Jesus nos olhos dos meus filhos. David Mourão-Ferreira
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“REGRESSO AO LITORAL – Embarcações Tradicionais Portuguesas”

Bateira - Areão - Anos 80
No sábado, 29 de Novembro, apesar do frio e da chuva, muitos foram os que marcaram presença no Museu Marítimo de Ílhavo, para assistir ao lançamento de mais um livro de Ana Maria Lopes, “REGRESSO AO LITORAL – Embarcações Tradicionais Portuguesas”. No Museu, por ser esse, a meu ver, o ambiente natural para a apresentação de uma obra digna de qualquer estante, escrita por uma ilhavense e editada pela Comissão Cultural da Marinha. O convite veio do presidente da Câmara Municipal de Ílhavo e do presidente da Associação dos Amigos do Museu de Ílhavo, de que a autora já fora directora. A apresentação desta obra, cuja edição de muito nível valoriza sobremaneira a excelente qualidade das fotografias, muitas delas da autora, ficou a cargo do Capitão-de-Mar-e-Guerra e director do Museu de Marinha, José António Rodrigues Pereira, que sublinhou o valiosíssimo trabalho de campo levado a cabo por Ana Maria Lopes, tendo em vista registar o que é possível, face ao progressivo desaparecimento das embarcações tradicionais portuguesas. A história do seu regresso ao litoral, depois das primeiras pesquisas na década de 60 do século passado, à custa do trabalho de dissertação de licenciatura – O Vocabulário Marítimo Português e o Problema dos Mediterraneísmos –, publicado em 1975, veio a talho de foice, para sublinhar a paixão pelos temas marítimos de Ana Maria. Com o bichinho dessa paixão a inquietá-la, volta na década de 80 para “sua recriação”, e disso guarda, “religiosamente”, tudo o que pesquisa e considera fundamental para a preservação, como registo histórico, do que entende ser de mais importante. Em 2006/2007, regressa ao assunto, para fixar, para a posteridade, as ”mortes anunciadas” das embarcações tradicionais, muitas delas das paisagens da nossa laguna, que a autora conhece como as suas próprias mãos. Importa dizer, nesta altura, em que a obra “REGRESSO AO LITORAL – Embarcações Tradicionais Portuguesas” acaba de ver a luz do dia, que texto e ilustrações são um regalo para nosso enriquecimento pessoal e colectivo. Pessoal, porque passamos a ter acesso a realidades que estavam a diluir-se no tempo; colectivo, porque a partir de agora urge preservar, museologicamente falando, o que for possível. Foi alvitrada a oportunidade de enriquecer as nossas rotundas com elementos decorativos provenientes dos restos das embarcações miúdas que hão-de desaparecer, mais ano menos ano, que outros materiais começam a merecer a preferência dos construtores navais, a par da motorização, cada vez mais frequente, de todo o tipo de barcos. Em jeito de conclusões, a autora adianta, como propostas válidas, “as manifestações exteriores de fé, as chamadas procissões, com a presença de modelos de embarcações tradicionais em andores”, as “regatas, quer lagunares, fluviais, estuarinas ou flúvio-marítimas, tão em moda”, e a “construção autêntica de algumas réplicas navegantes”. Glossário, referências bibliográficas, mapas e índices pormenorizados constituem uma mais-valia para o leitor interessado nesta obra de Ana Maria Lopes. Mas ainda para os que se identificam com o litoral português e com o nosso passado marítimo e lagunar. Fernando Martins

HOSPITAL DE AVEIRO: Cirurgias suspensas por causa do frio

A ministra da Saúde, Ana Jorge, admitiu ontem, quarta-feira, a possibilidade de Aveiro vir a ter um novo hospital. No entanto, pelo sim pelo não, ainda avançou com a hipótese de remodelar o actual. Entretanto, por causa das "temperaturas desadequadas" (Diga-se por causa do frio, sem eufemismos), foram suspensas 13 cirurgias. Estas duas notícias de uma mesma notícia, a visita da ministra ao Hospital Infante D. Pedro, dão para reflectir sobre a situação do nosso hospital, quiçá de outros. A ministra, que deve estar suficientemente informada da realidade do Hospital de Aveiro, ainda não sabe o que fazer. Construir um novo ou remodelar o actual. Sempre ouvi dizer que remendo novo em pano velho nunca faz um fato novo. Será sempre um remedeio. E disso estamos todos fartos. Se é assim, por que razão havemos de andar com remendos, quando precisamos de um hospital que responda, com eficiência, às necessidades dos utentes? Pegue-se nas informações que há e decida-se, com urgência, a construção de um novo edifício, com todos os requisitos compatíveis com as exigências do nosso tempo. Acabe-se com a barracada dos pavilhões e mais pavilhões e faça-se um hospital de raiz! Repare-se no ridículo que a segunda notícia representa. Cirurgias suspensas por causa do frio. Isto nem no terceiro mundo! E se morresse alguém por força da suspensão das cirurgias? Mas, afinal, em que país estamos? FM

A morte e a morte

"Estamos todos bem servidos/ de solidão", escreve Alexandre O'Neill. Não de solidão sozinha; de multitudinária solidão sim, e essa "de manhã a recolhemos/ no saco, em lugar de pão". Porque, ao mesmo tempo que abandonamos os nossos velhos à pior e mais dolorosa das solidões, desaprendemos de estar sós connosco. A verdade é que a maior parte de nós não é boa companhia para si próprio. À nossa volta, nos locais de trabalho, na rua, quantas vezes na família, a humilhação tomou cada canto e esquina das nossas vidas, instalou-se nos comportamentos e nos corações, corroendo, como um cancro, a existência individual e social. Tememos ficar sós porque tememos aquilo que temos para nos dizer, e sentamo-nos diariamente diante da TV como quem fecha os olhos. Há uma novela de Cesare Zavattini cuja personagem planeia durante toda a vida dar uma merecida bofetada ao chefe e morre sufocada por esse desejo nunca consumado e pelo desprezo de si mesmo. Quantas vezes morreram por dentro, antes de se matarem, os polícias e GNR (este ano já são 14) que em Portugal regularmente se suicidam "com a arma de serviço"?
Manuel António Pina, no JN

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

NATAL - 2008

A Prenda
Do Santa Claus, herdara o nome e a destreza física. O primeiro deslizava pelas planícies geladas da Lapónia, num trenó puxado por renas amestradas, numa correria expresso, para entregar as prendas a tempo e horas. O segundo fazia piruetas e cavalos com a sua bicicleta, na rua onde morava, para expandir o excesso de energia que o dominava. Era vê-lo correr, com o rabito levantado, do selim, ou exibir o seu talento de malabarista, levantando a roda da frente, tal qual garboso cavalo, arqueando as patas dianteiras. Era ele um adolescente cheio de vivacidade, com os fartos cabelos louros, caindo-lhe em anéis sobre os ombros, ou presos atrás, em rabo-de-cavalo, com ar desafiador perante a vida e muita contestação reprimida. A vida fora madrasta para ele, em toda a extensão da palavra. A morte prematura da mãe precipitara a desagregação dos laços familiares, que aquela conciliara enquanto viva. O padrasto, remetendo-o para a sua situação de filho “adquirido”, restituíra-o à sua anterior condição de órfão de pai, agora da família inteira. Teria ficado sozinho no mundo, não fora a generosidade, a abnegação e o amor da avó materna, que desfrutava, há bem pouco tempo, a tranquilidade duma reforma bem merecida. Prodigalizava esforços, carinhos, para o compensar da falta prematura e súbita da mãe. Havia passado ainda pouco tempo após a sua morte, quando se avizinhava mais um Natal, na vida do protagonista desta história. Na ânsia de lhe minorar o sofrimento e a falta do amor maternal, a avó inquiriu um dia, o neto, sobre a prenda que gostaria de receber. Foi enumerando coisas que fazem as delícias da criançada e que são habitualmente pedidas ao Pai Natal. Escurecia-se-lhe o rosto, sempre que era interpelado sobre tal questão. O tom pesaroso e sombrio que o acometia evidenciava a nostalgia que perpassava na mente deste jovem. Escusava-se a responder, permanecendo num mutismo prolongado. Um dia, depois de muito instado para dar a resposta, sem medo, sem contemplações, atirou, em desespero: - Quero a minha mãe! A torrente de lágrimas aprisionada no cárcere da tristeza jorrou livremente, inundando o campo que tanto quisera proteger! Essa prenda, nem com toda a fortuna do mundo lha poderia dar! Mª Donzília Almeida 01.12.08

A Nossa Gente: Frei Silvino


Neste mês de Dezembro, em que se celebra mais uma quadra natalícia, caracterizada pelo espírito de festa, família e comunhão de pessoas, dedicamos a rubrica “a nossa gente” ao Frei Silvino Teixeira Filipe. Nascido a 19 de Janeiro de 1954, na freguesia da Gafanha da Nazaré, Município de Ílhavo, o Frei Silvino completou a instrução primária na Escola Primária da Cambeia, tendo prosseguido os estudos no Liceu Nacional de Aveiro. 
Para fazer o Postulantado, ingressou no Noviciado dos Padres do Carmo de Fátima a 4 de Fevereiro de 1974, tendo a partir daí trilhado um caminho com vista à vida sacerdotal: tomou o hábito do Carmo a 8 de Outubro do mesmo ano e fez a sua Profissão Simples na Ordem a 21 de Setembro de 1975, ambos em Fátima. 
No ano lectivo de 1975-1976 frequentou o Seminário Carmelitano de Viana do Castelo, onde estudou latim, grego e outras matérias. Em 1976, iniciou os estudos filosóficos e teológicos no ICHT – Instituto de Ciências Humanas e Teológicas, do Porto (1º ano), frequentou os 2º e 3º anos na Universidade Pontifícia de Salamanca, regressando ao ICHT para concluir a referida licenciatura. A 16 de Novembro de 1980, consagrou-se perpetuamente ao Senhor como Carmelita Descalço pela Profissão Solene, no Convento do Carmo de Aveiro, onde foi igualmente ordenado de diácono a 1 de Março de 1981. 
A ordenação presbiteral aconteceu a 27 de Setembro de 1981, na Igreja da Gafanha da Nazaré, pelo Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade. Nesse ano, voltou ao Convento do Carmo de Viana do Castelo para trabalhar como missionário no Seminário Carmelitano e também no secretariado diocesano da pastoral da Juventude, onde permaneceu até 1984.
Os 3 anos seguintes foram vividos na Casa do Carmo, em Fátima, como responsável do Postulantado. No dia 20 de Julho de 1987, celebrou a sua primeira Missa como conventual do Convento do Carmo de Aveiro, onde se encontra desde então, tendo cumprido há dois anos o jubileu das suas bodas de prata sacerdotais. Para o homenagear, a Câmara Municipal de Ílhavo e a Ordem dos Padres Carmelitas promoveram a apresentação do Livro “Alegrai-vos! Homilias do Frei Silvino”, que decorreu na Biblioteca Municipal de Ílhavo, no dia 16 de Dezembro de 2006, do qual apresentamos um pequeno excerto inteiramente dedicado à época natalícia que se avizinha:
“Nos braços do Menino de Belém que se estendem como um bebé para nós, devemos ver o amor de Deus e agradecer-Lhe porque nos criou para sermos como Ele, Deus. Que o Natal nos anime a todos na fé de seguir, servir, amar e louvar aqui e para sempre o Deus que Maria trouxe no seu ventre, deu à luz em Belém e é o Senhor de toda a história e de todos os homens. É Natal, alegremo-nos e rejubilemos porque somos para Deus o melhor que ele tem, porque somos para Deus a obra mais preciosa e Ele não nos deixa ficar pelo caminho, quer levar-nos para a casa onde um dia nasceremos depois da morte, como Ele nasceu no Natal em Belém. A todos, santas e alegres festas do Natal de Cristo nosso Deus, Redentor e Criador. Que assim seja.” 

In Alegrai-vos! Homilias do Frei Silvino – “Solenidade do Natal(I) – Somos o melhor que Deus tem!”


In "Viver em...", da CMI


NOTA: Mais um amigo meu que foi contemplado, pela Câmara Municipal de Ílhavo, com uma referência na sua Agenda "Viver em..." de Dezembro. Oportuna, sem dúvida, até porque nos ofereceu uma mensagem natalícia do homenageado, Frei Silvino, transcrita do seu livro "Alegrai-vos!". Conheço Frei Silvino desde sempre. Mais concretamente, desde a sua participação em tudo o que dizia respeito à Igreja Católica, tendência natural que ele soube cultivar com esmero, até se definir, já na juventude, pela vida religiosa, como consagrado. O meu amigo Silvino nunca deixou de manifestar a sua amizade para comigo, numa resposta à amizade que nutro por ele. O seu empenho pela causa do Evangelho está bem patente naquilo que faz, com os jovens e com todos quantos se abeiram dele. Frade por convicção e opção forte, Frei Silvino granjeia amizades e irradia simpatias onde quer que se encontre. Por isso, esta justa homenagem da nossa Câmara Municipal de Ílhavo, que aplaudo.

FM

Efeméride gafanhoa: Capela de Nossa Senhora dos Navegantes

3 de Dezembro
Segundo rezam as crónicas, neste dia, em 1863, começou a cosntruir-se a Capela de Nossa Senhora dos Navegantes, que ainda hoje se mantém como o templo mais antigo das Gafanhas. Leiam mais aqui.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

NATAL - 2008

ORAÇÃO DO DEUS-MENINO Era noite; e por encanto Eu nasci, raiou o Dia. Sentiu meu pai que era Santo, Minha mãe, Virgem-Maria As palhinhas de Belém Me serviram de mantéu; Mas minha mãe, por ser Mãe, É a Rainha do Céu. Nem há graça embaladora, Como a de mãe, quando cria; É como Nossa Senhora, Mãe de Deus, Ave-Maria! Está no Céu o menino, Quando sua mãe o embala. Ouve-se o coro divino Dos anjos, a acompanhá-la. Como num altar de ermida, Ando no teu coração; Para ti sou mais que a vida E trago o mundo na mão. Não sei de pais, em verdade, Mais pobrezinhos que os meus; Mas o amor dá divindade, E eu sou o filho de Deus!
Jaime Cortesão In Anunciação e Natal na Poesia Portuguesa, Antologia organizada por António Salvado

AMÁLIA – Um Filme

É já esta Quinta-feira que estreia o muito anunciado “Amália, o Filme”. Em cerca de duas horas de fita, o realizador Carlos Coelho da Silva procura esgrimir narrativa e visualmente o que os argumentistas Pedro Marta Santos e João Tordo sintetizaram da aturada investigação feita sobre a vida da artista consensualmente mais popular e representativa do nosso fado. Sabendo-se, muitas vezes pelas palavras da própria, que Amália não se considerou, na totalidade da sua vida, uma mulher feliz, não é de estranhar que a obra explore incisivamente uma componente dramática. Diga-se, porém, em abono da verdade, que a fita está longe do “dramalhão” que uns anunciam e outros temem, conseguindo-se um razoável equilíbrio nos registos em que a obra se inscreve. Ainda assim, em termos da força do seu contéudo, a opção pela sequência de vários momentos da história de Amália, dá muito mais lugar à componente amorosa – com os diversos homens que passaram pela sua vida e a influência que obrigatoriamente tiveram no seu decurso– do que propriamente à força que o dom, o prazer e até a necessidade da música teve ao longo da sua existência, incluindo como ponto de partida e chegada dos seus momentos mais e menos felizes. A obra chega mesmo a ser, em larga medida, um filme de actriz se tivermos em conta que é na estreante Sandra Barata Belo que assenta a sua melhor surpresa – embora um pouco mais de energia, até de rispidez, em certos momentos, lhe assentassem bem. Nas palavras da equipa que produziu e realizou o filme o grande objectivo foi mostrar Amália – Vida e Morte -, um princípio quanto a mim ambicioso de mais para o resultado superficial que a obra vem a ter no seu conjunto. De qualquer forma, retratar no cinema uma personagem como Amália, uma mulher sempre à beira de se deixar ultrapassar pelo seu dom e pela própria vida, nunca será tarefa fácil. Como qualquer outra equipa, a de Coelho da Silva fez as suas opções podendo nós apenas por enquanto reconhecer-lhe a coragem de arriscar trazer ao grande público a sua versão de tão tamanho vulto. Margarida Ataíde

A irmã - crise

Não sabemos bem se nesta crise o melhor é a gente fazer que entende alguma coisa do que se passa ou aceitar que ainda não sabe bem o que está a acontecer. Sobretudo porque os especialistas na matéria quanto mais falam menos esclarecem. E para além das nuvens negras no horizonte ninguém conhece exactamente como será a tempestade. Por fora, entretanto, tudo parece normal. A cidade move-se, a publicidade impõe, o turismo convida, as prendas de Natal prometem, as festas e espectáculos cumprem. A vida roda para além das engenharias bancárias e financeiras e das piruetas dos barris de petróleo. Em que ficamos, afinal? A vida merece ser pensada. O ser, o ter e o haver precisam ser sacudidos para nos posicionarmos interiormente em novos ângulos que observem a realidade com menos ilusões, menos distorções de interesse, imediatismo, parcialidade. Talvez o grande mérito deste momento seja confrontar-nos com o que estamos a edificar. Não para lançar anátemas sobre o nosso tempo, o nosso espaço, a nossa cultura e até a nossa forma de viver a fé Mas para, corajosamente, ensaiarmos no concreto o que já se vem sentindo como profecia subliminar do nosso tempo. Estamos desafiados no nosso quotidiano. Na energia, no ambiente, no desperdício, na alimentação, no gasto, na austeridade, no essencial, no supérfluo. E no sentido da vida. E da nossa relação com os objectos. Como nos novos clamores que nos chegam para um outro olhar sobre a justiça, a cultura, o desenvolvimento, a liberdade, a segurança, a evolução tecnológica, as potencialidades da ciência, o respeito pela terra, pela vida, pelas crianças e pelos idosos, as iniciativas de voluntariado, a serenidade ideológica que confere maior humildade para ouvir, aceitar, ousar a mudança no diálogo, no respeito pela pluralidade de expressões, culturas, artes, religiões. Para trás ficam séculos rígidos e desumanos de escravatura, pena de morte, injustiça silenciada, esmagamento dos mais fracos, sem recurso ou direito de protesto. O nosso tempo, não sendo um clube de santos, oferece novos horizontes. E os sobressaltos económicos e políticos também são profecia, sinal, desafio, apelo, coragem para mudar. Esta lição dura não pode reduzir-se a alguns escândalos que explodem em tempo de crise. Os factos não são novos. Apenas eram ignorados. E se nos organizássemos para uma reciclagem sobre a nossa vida, o nosso mundo, a economia, a terra, a água, a energia, a espiritualidade, o sentido da existência? Os vindouros dirão um dia que uma crise contribuiu para a mudança duma civilização. Mesmo sem entendermos tudo, temos condições para pensar o principal. E pôr em prática. Sei lá se Francisco de Assis não lhe chamaria irmã-crise. Os cristãos sempre chamaram ao tempo do Advento tempo de conversão. Não é tarde nem cedo. É a hora. António Rego

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Feriado Nacional – 1.º de Dezembro

COMO ERAM DIFERENTES OS NOSSOS AVOENGOS!





O Feriado Nacional – 1.º de Dezembro –, que hoje se celebra, já me levou a esclarecer a sua razão de ser a algumas pessoas. Com 368 anos de existência, ainda há compatriotas nossos que ignoram o essencial da nossa História, como Estado e como Nação. Tudo, certamente, por desinteresse das famílias e das escolas, que pouca importância dedicam a estes episódios do nosso passado colectivo. Muito menos agora, em que o caos se instalou no mundo académico, com as famílias assoberbadas com inquietações. 
Com 60 anos de ocupação filipina, no dia 1 de Dezembro de 1640, um grupo de portugueses expulsou o rei estrangeiro e os seus sequazes e traidores, alguns dos quais filhos desta Nação que deu novos mundos ao mundo, e proclamou o Duque de Bragança como rei de Portugal, com o nome de D. João IV, mais tarde cognominado de o Restaurador. 
Diz a História que, a alguns que indagaram o que estava a acontecer, os conjurados responderam, com determinação, que iam tirar um rei e pôr outro, num já. Com esta facilidade toda. Os portugueses de antanho eram assim. Com um golpe certeiro, tiraram ou rei e proclamavam outro. Uns traidores foram janela fora. Como eram diferentes os nossos avoengos! 

FM

Avenida Dr. Lourenço Peixinho quer voltar aos tempos áureos

Fórum de Aveiro
Segundo notícias que vieram a lume, a Associação Comercial de Aveiro criou uma comissão de comerciantes que aposta no regresso da Avenida Dr. Lourenço Peixinho aos seus tempos áureos. A tarefa não será fácil, já que cada tempo tem os seus aliciantes. As pessoas, naturalmente, sentem-se atraídas pelo novo e pelo original. Aquela proximidade com o passado, alimentada durante décadas, pode ruir de um dia para o outro, principalmente quando cheira a coisa diferente. E se essa coisa diferente for alimentada por uma publicidade agressiva, condizente com as necessidades do povo, não há dúvida nenhuma de que os gostos põem para trás das costas as amizades e familiaridades antigas.
Sou do tempo em que a Avenida Dr. Lourenço Peixinho era mesmo a sala de visitas de quem chegava a Aveiro. Por ali se andava aos domingos a ver as montras e se prometiam regressos para adquirir, à semana, o que ficava na ideia. Depois da passeata, lanchava-se nos cafés e pastelarias, antes do regresso a casa.
Uns iam ao cinema, sobretudo no Inverno. De Verão, comiam-se gelados enquanto se caminhava ou sentados nos bancos da avenida. Depois veio o OITA, que passou a ser a nova sala de visitas. Aos domingos, e mesmo à semana, estava sempre repleto de pessoas. Era agradável andar por ali.
Com o Fórum, tudo se alterou. A Avenida começou a esmorecer, a decair, e as lojas seguiram-lhe o caminho. Poucas resistiram. E as que teimam, mesmo modernas e de ares chiques, gostariam de ter mais clientes. Mais tarde, surgiram as grandes superfícies. Novas atracções, novos desafios, novas ofertas, com cinema e tudo. Há festas, promoções, sabores diferentes, muita variedade. E até mesas disponíveis para a cavaqueira, em dias de frio, que o ambiente está aquecido.
Face a isto, que fazer à Avenida? Confesso que não sei. Longe de mim a ideia de a cobrir, como enorme superfície reservada a peões. E se fosse? Fico ansiosamente à espera de ideias, porque a Avenida Dr. Lourenço Peixinho precisa delas. Quero aplaudir uma proposta genial, porque a Avenida Dr. Lourenço Peixinho a merece.

 Fernando Martins

Crónica de um Professor...

João da Esquina
Comparar a Escola Portuguesa actual com a da década de 60 exige um exercício de concentração e de análise profunda. Baseada na pedagogia do “Magister dixit”, regia-se por uma construção do saber, autocrática, disciplinadora. Do seu estrado, o mestre debitava o saber, em discurso baseado na unilateralidade de ideias. O aluno ouvia e, quer concordasse quer não, tinha que aceitar a palavra do mestre como verdade insofismável. Quem como a teacher está neste contexto de actividade sabe, sente na pele, no seu quotidiano, que a Escola hodierna está nos antípodas deste conceito de ensinar. Hoje, o aluno está no centro das atenções, das actuações, das preocupações! E na avaliação? Nessa... ganha-lhe o professor! Pelo menos, assim dizem os nossos governantes, nomeadamente a tutela da educação. Reportando-se à áurea década de 60, em que estudava ao som da música dos Beatles, em que trauteava e percorria na memória as letras lindíssimas das suas canções, lembra, com saudade, o ambiente de paz, ordem e respeito que se vivia. Que bom era ser professor... nessa época remota! Hoje, a Escola é geradora de conflitos, houve a massificação, nem sempre a integração da diferença se faz de forma eficaz e temos o caos que se vive e que vai estendendo os seus tentáculos! Numa dessas aulas conturbadas, em que a disciplina teima em não vingar, a teacher recorda um episódio, que se tornou recorrente na sua prática lectiva. Quando, no decurso da aula, voam aviõezinhos de papel, bocadinhos de borracha aterram na cabeça ou no livro do aluno que teima em estar atento, quando bolinhas de papel mastigado, lançadas como projécteis pelos canos vazios das esferográficas vão cair na mesa do professor, quando surgem grunhidos oriundos duma selva distante das terras gafanhoas, ou o relinchar perfeito dum puro sangue equino, etc., etc., etc., a teacher desespera! Não entrou ainda na hagiografia portuguesa! Depois de muitas vezes ter admoestado os alunos para estarem atentos às tarefas da aula e de ter interceptado algum OVNI (!?), interroga, já fora de si: - Quem foi, desta vez, o autor da “brincadeira”? Ninguém se acusa, numa cumplicidade fraterna, pouco consistente no mundo mesquinho dos adultos. Depois de várias vezes instados para que se acuse o transgressor, a teacher atira para o ar: - Não foi ninguém, pois não? Deve ter sido o João da Esquina... Na intenção de excluir os nomes dos possíveis intervenientes, os Fábios, Sandros, Hugos, Marcos e outros mais, estrangeirados, ocorre-lhe um nome, bem português, disseminado a esmo, nas cédulas de nascimento de há décadas atrás! A figura rubicunda de João da Esquina que emparceira ao lado de João Semana e José das Dornas, assoma à memória, como um nome clássico, bem representativo do homem português... Numa observação perspicaz, pergunta um aluno: - Quem é esse senhor, setôra? Está sempre a falar nele! Júlio Dinis, “As Pupilas do Senhor Reitor”... PNL (Plano Nacional de Leitura). E assim, sem ser detentora da “cátedra” de Língua Portuguesa, a teacher contribui para o fomento da leitura na sala de aula!
Mª Donzília Almeida

Banco Alimentar não descansa

EM TEMPOS DE CRISE HÁ MAIS GENEROSIDADE
O Banco Alimentar Contra a Fome bateu um novo recorde de recolha de alimentos. Os portugueses deram mais de 1900 toneladas de alimentos o que corresponde a mais 19 por cento que em Dezembro do ano passado. Já diversas vezes constatei que em tempos de crise há mais generosidade. Os sociólogos terão, com certeza, explicação para o facto. Cá para mim, quem sofre e quem experimenta, no dia-a-dia, as dificuldades da vida, compreende, melhor que ninguém, a urgência de olhar para os mais pobres. Congratulo-me com isso, mas que a generosidade não se fique por aqui, mas que seja, em cada momento, um estímulo para a procura de soluções políticas e sociais para a erradicação da pobreza. Fernando Martins

NATAL - 2008

NATAL PARA TODOS
A partir de hoje e até 25 de Dezembro, data em que se celebra o nascimento do nosso Salvador, tenciono publicar, dia após dia, um motivo de Natal. Fotos, poemas, reflexões e contos, meus e dos meus amigos, mas não só. O que importa é assinalar este acontecimento ímpar que foi marco indelével na história do mundo ocidental. E já agora, permitam-me que deseje a todos uma bonita caminhada, rumo ao Natal de Jesus Cristo.
Fernando Martins