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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

AMIGO, VEM MAIS PARA CIMA

Reflexão de Georgino Rocha
 
 
Este apelo convite surge na parábola do banquete narrada por Jesus na conversa à mesa com um fariseu que o havia convidado a tomar uma refeição em sua casa. Constitui uma espécie de resposta às atitudes dos comensais que buscam os primeiros lugares, sinal ritual da importância social e religiosa de cada um. Serve de contraponto e realça valores fundamentais a quem pretende ser discípulo e fazer parte da comunidade dos que o seguem. Define claramente as pautas da “corrida do cristão” na sociedade actual, da escala de valores a promover e das atitudes a vivenciar.
Estar à mesa e comer juntos tem um grande significado familiar, social e religioso: encontro amigo e fraterno, conversa e partilha de notícias e saberes, reforço de laços de proximidade, afirmação de estima mútua e de próxima ou igual categoria. Assim o entendiam todos os participantes. Por isso se observam mutuamente.  Certamente com segundas intenções. Jesus não foge à regra, como o demonstram as parábolas, hoje, narradas.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

ATREVE-TE A ENTRAR PELA PORTA ESTREITA

Reflexão de Georgino Rocha

A vida humana tem futuro? O que fazemos agora esgota-se no momento em que acontece ou prolonga-se para além do tempo? O que sobrevive de mim, após a morte, tem algo a ver comigo que procuro realizar-me em cada momento? O que me aguarda definitivamente tem algo a ver com as opções que faço em cada dia e a vida que levo?
Estas e outras preocupações – talvez não tão elaboradas – atormentam os acompanhantes de Jesus no seu “percurso” para Jerusalém. Um anónimo ergue a voz do meio da multidão e condensa-as na pergunta: “Senhor, são poucos os que se salvam?” - pergunta que fica sem resposta directa.
Jesus aproveita a oportunidade e faz um dos mais belos ensinamentos do seu magistério. Ignora o número pretendido e centra a sua atenção nas pessoas, exortando-as a praticarem uma qualidade de vida expressa em acções coerentes; condiciona o desfecho da existência terrena à luta, ao combate, ao “esforço” feito por cada uma como prova de acolhimento ao dono da casa e sintonia com a sua vontade; garante que haverá surpresas que encantarão uns e desiludirão outros; exorta com insistência a entrar pela “porta estreita” a fim de poder sentar-se à mesa da felicidade; responde no plural, sinal de que a salvação se realiza em solidariedade fraterna, embora seja pessoal; designa esta realidade englobante por reino de Deus, indicando claramente o futuro emergente na história que se desvendará plenamente na eternidade.

domingo, 3 de julho de 2016

Gostar de sofrer: mística ou doença

Crónica de Bento Domingues 


1. Só acreditas em Deus porque te dá jeito. Recebo muito bem esta velha censura de amigos agnósticos e ateus. Só me faltava acreditar porque via nisso uma desgraça.
O que torna a ideia de Deus inacreditável ou inaceitável para muitas pessoas, já foi expressa de mil maneiras. Em alguns meios, a mais corrente é esta: Deus não pode ser simultaneamente omnisciente, omnipotente e bom. Diante do sofrimento do mundo não sabe, não pode, ou não é tão infinitamente bom como se diz. Há outras razões mais sofisticadas de ateísmo. Não pretendo refutar nenhuma. Haverá sempre razões para dizer sim e razões para dizer não. Quando perguntaram a Einstein se acreditava em Deus, respondeu: primeiro gostaria de saber em que Deus está a pensar ao fazer essa pergunta.
Conheço confissões de fé em Deus que, para mim, são tão perversas que gostaria que não existissem. A Divindade foi e é invocada para fazer guerras e extermínio de populações. Na própria Bíblia há passagens, Livros e Salmos, absolutamente insuportáveis, mas não aconselharia a sua eliminação. Ao dizerem o que não se deveria nunca dizer de nenhum deus, revelam aquilo de que somos capazes: de colocar na boca de Deus os nossos interesses, mesquinhos ou detestáveis.
Por outro lado, quando, perante uma desgraça, natural ou provocada, se diz que é a vontade de Deus, sei que não acredito nessa peça do determinismo. Espero que Deus não tenha tão má vontade.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

IDE, CONFIANTES, EM MISSÃO DE PAZ

Reflexão de Georgino Rocha

Jesus envia 72 discípulos
Jesus está desejoso de partilhar a sua missão de anunciador da novidade do projecto de Deus. Apesar dos revezes que vai sentindo – a fúria dos que ouvem a sua primeira homilia em Nazaré seguida de expulsão da cidade, os apóstolos não conseguem realizar certas curas, os habitantes de uma aldeia da Samaria manifestam ostensiva hostilidade…–, prossegue a sua firme decisão de avançar para Jerusalém e reforçar o ânimo dos discípulos missionários. Designa setenta e dois e dá-lhes instruções precisas. Este número de enviados, além de histórico, tem um sentido simbólico: indica a totalidade dos povos então conhecidos e visa transmitir a universalidade da missão em que todos ficam envolvidos. Dá assim mais um passo na realização do seu “sonho em acção” que Lucas descreve maravilhosamente no Evangelho e nos Actos dos Apóstolos. A Igreja nesta visão surge como a continuadora emblemática da missão de Jesus. E nós como os beneficiários e herdeiros responsáveis de a gerir fielmente.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Com quem começar o novo ano? (II)

Crónica de Frei Bento Domingues 

Bento Domingues

 O cristianismo nasce no reino 
da liberdade criadora!



1. Para mim, Jesus Cristo foi desde sempre, é e será o ser sublime, supremo e ideal que a humanidade produziu. Enquanto Judeu, é o único orgulho que sinto de ser da sua raça. A sua existência, as suas palavras, o seu sacrifício e a sua fé deram ao mundo o mais nobre presente jamais recebido: o do amor, do amor do próximo, do amor do pobre, a compaixão, a humildade, enfim todos os sentimentos que enobrecem o ser humano… é o Homem supremo. Estas são palavras do famoso músico Arthur Rubinstein (1887-1982).
Santa Tereza de Avila [1] (1515-1582), com ascendência judaica, escreveu um dos mais belos sonetos da literatura espanhola, nascidos da sua paixão porJesus: (…) Muéveme, enfin, tu amor de tal manera/ que aunque no hubiera cielo, yo te amara,/ y aunque no hubiera infierno, te temiera (…).

sábado, 19 de dezembro de 2015

Natal: a revolução

Crónica de Anselmo Borges no DN

pela positiva: NATAL - 14:
Repouso na fuga para o Egipto - Gerard David.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa


"Tive fome, sede, estava nu, 
na cadeia, no hospital, 
e destes-me de comer, 
de beber, vestistes-me, 
fostes ver-me..."


1- Jesus Cristo é figura "decisiva, determinante" da História da Humanidade. Quem o disse foi um dos grandes filósofos do século XX, Karl Jaspers. A pergunta é: porquê?
Crentes ou não, cristãos ou não, têm de reconhecer a Wirkungsgeschichte de Jesus, isto é, a história dos efeitos ou das repercussões, assombrosamente humana e positiva, de Jesus na História. Por exemplo, o próprio conceito de "pessoa" veio ao mundo por influência do cristianismo, por causa dos debates à volta da tentativa de compreender a pessoa de Jesus. Foi em solo de base cristã que, embora tenham tido de impor-se contra a Igreja oficial, se deram as grandes Declarações dos Direitos Humanos.
Isso é reconhecido por grandes pensadores, inclusive não crentes. Hegel afirmou que foi pelo cristianismo que se tomou consciência de que todos são livres. Ernst Bloch, marxista heterodoxo e ateu, escreveu que é ao cristianismo que se deve a exigência de que nenhum ser humano pode ser tratado como "gado". Jürgen Habermas, agnóstico, afirma que a democracia, com "um homem um voto", é a transposição para a política da afirmação cristã de que Deus se relaciona pessoalmente com cada homem e mulher. Frederico Lourenço - para citar um português -, que se confessa ex-católico, agnóstico, escreve: "Não tenho nenhum problema em afirmar que, pessoalmente, considero Jesus de Nazaré a figura mais admirável de toda a história da Humanidade", Jesus foi "o homem mais extraordinário que alguma vez viveu".

sábado, 3 de outubro de 2015

Unidos por Deus em matrimónio

Uma reflexão semanal de Georgino Rocha

Georgino Rocha
«O Papa Francisco  vai reflectir 
sobre a beleza do matrimónio e da família, 
sem esquecer as realidades actuais 
em que muitas vivem»


“Estais unidos por Deus em matrimónio”, declara o oficiante da celebração dirigindo-se aos noivos, agora recém-casados. E o coração exulta de alegria e confiança, manifestando-se de tantos modos, sendo visível o ar de festa de todos os participantes. A assembleia de familiares e amigos testemunha, feliz, o evento religioso de forte cariz social. Testemunha e solidariza-se, expressando o seu desejo de que “seja para sempre” a aliança agora selada por Deus, após o mútuo e livre consentimento dos nubentes. E o rito conclui-se com a afirmação do presidente: “Não separe o homem o que Deus uniu”.

sábado, 22 de agosto de 2015

Acreditamos que Tu és o Santo de Deus


Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha


O discurso do pão da vida atinge o auge, no desabafo de Jesus, que João formula na pergunta dirigida aos Apóstolos: “E vós também quereis ir-vos embora?” A sinceridade denota um sabor de amargura. A preocupação manifesta um receio fundado. O risco é evidente e virá a ser concretizado na paixão. A circunstância, aliada ao tom da voz e ao brilho do olhar, provoca a resposta eloquente de Pedro: “A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. Jo 6, 60-69. 

A crise atinge o auge: as multidões deixam de andar na sua companhia e perdem o gosto de o ouvir; os nobres judeus, após discussões intensas, “viram-lhe as costas”, deixando palavras mordazes; os discípulos, “escandalizados” pela vivacidade crescente e realista da mensagem anunciada, cansam-se e desanimam, dispersando-se. Resta o grupo dos Doze. Jesus sente o abandono, mas não cede em nada, não suaviza o alcance do discurso, não faz uma religião à medida do gosto de cada um nem das tradições legalistas. E seria tão fácil. Como ainda hoje se pode verificar.

sábado, 1 de agosto de 2015

Deixar Deus ser Deus

Reflexão de Georgino Rocha

 A partir do que digo, 
ajustem o vosso modo de pensar, 
alterem a vossa compreensão, 
conformai a vossa vida

Georgino Rocha


Os judeus caem em si. A condição social de origem de Jesus não condizia com o reconhecido estatuto de Mestre e, menos ainda, com o seu discurso após a multiplicação dos pães. Jo 6, 41-51. E, coerentemente, interrogam-se sobre o que está a acontecer: Um artesão de Nazaré da Galileia ser o enviado de Deus? O filho de José e de Maria, bem conhecidos na terra, declarar-se pão da vida? O deslocado de Cafarnaum ensinar, com linguagem dura, “coisas estranhas” na sinagoga? Donde lhe vem tal autoridade? Jesus não entra “no jogo” de pergunta-resposta. Os factos estão à vista, são públicos. A explicação é clara, persuasiva e respeitadora. A mensagem é apelativa, mas não surte efeito. Em vez de se deixarem atrair por Deus e entrar na novidade que o ensinamento de Jesus comporta, começam a murmurar e “estancam” no seu rígido pensar e nos seus velhos hábitos, distanciam-se interiormente e muitos acabam por O abandonar. 
João, o autor da narrativa, destaca a relação de Jesus com Deus Pai e faz uma excelente catequese que choca abertamente com a mentalidade dos ouvintes judeus. Eles, como talvez muitos de nós, têm as suas ideias a respeito de Deus e querem encerrá-Lo nesse quadro de referências. Jesus propõe uma perspectiva diferente: A partir do que digo, ajustem o vosso modo de pensar, alterem a vossa compreensão, conformai a vossa vida. “Não murmureis entre vós, Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que me enviou, não o trouxer”.

sábado, 11 de julho de 2015

Enviados por Jesus a curar e a libertar

Reflexão de Georgino Rocha




«É preciso sobrepor a relação solidária 
à razão económica, 
o bem de todos aos interesses de alguns»







Jesus marca o ritmo do tempo. Quer que o seu projecto entre numa fase nova: lançar os discípulos na primeira experiência da missão. Mc 6, 7-13. Por isso, faz a escolha dos doze, símbolo da totalidade, confere-lhes poder sobre as forças do mal, define o anúncio da mensagem a proclamar e dá instruções claras e precisas. Tudo em conformidade com o que tinha feito - e eles tinham visto e ouvido - nas viagens pelas aldeias e na ida às sinagogas, no contacto com as multidões, nas conversas em família.
Este modo de proceder constitui a melhor escola de formação: em grupo, com relacionamento personalizado, ensinamentos oportunos e, quase sempre, precedidos de acções envolventes e apelativas, recurso a explicações complementares, autoridade reconhecida e participada por todos, responsabilidades atribuídas progressivamente, riscos calculados e ousadia confiante. Tudo a convergir para formar aqueles que eram/são chamados a testemunhar e a cooperar na realização do projecto de salvação que Deus nos proporciona em Jesus Cristo.

sábado, 16 de maio de 2015

Jesus coopera com os seus enviados

Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha


A ascensão do Senhor marca o início de uma nova fase, na realização da missão. Jesus passa a estar presente de outra forma Mc 16, 15-20. Uma série de expressões pretendem “dar rosto” a esta realidade. A nuvem – sinal de Deus – indicia o mundo novo em que o crucificado/ressuscitado “entra” definitivamente, a intimidade do Pai de que sempre participa, a proximidade invisível, mas interventiva, junto dos discípulos. A nuvem – sinal do homem que ergue o olhar e quer ver o céu – manifesta uma aspiração fundamental que se vive e realiza no tempo, atesta a tendência humana de cultivar o gosto do que se aprecia, suscita interrogações profundas que exigem respostas adequadas.
Outras expressões são o mandato missionário, as maravilhas que podem realizar os que acreditam, o sentar-se de Jesus à direita do Pai, evidenciado o reconhecimento da excelência do seu novo estatuto, a prontidão dos discípulos em assumirem o encargo apostólico, a garantia dada por Jesus de cooperação incondicional.

domingo, 10 de maio de 2015

Um prefeito nem sempre é perfeito

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO

Frei Bento Domingues


1. A vontade de fixar certas interpretações, declarações, doutrinas e instituições religiosas como sendo absolutas, irreformáveis e definitivas — marcadas por tradições, contextos históricos e culturais muito circunscritos — roça a idolatria. Substitui o Absoluto transcendente pelo que há de mais relativo e banal, numa linguagem inacessível. Os textos do Novo Testamento (NT) mostram um constante empenhamento de Jesus em dessacralizar tempos, lugares e instituições divinizadas, pois tornavam o acesso a Deus privilégio de alguns e a condenação de quase todos.
O próprio Jesus, ao andar em más companhias, ao comer com os classificados como pecadores, não só se desautorizava como homem de Deus, como se expunha a ser considerado um agente do diabo[1]: Ele não expulsa demónios, a não ser por Beelezebu, príncipe dos demónios.
Jesus não era da tribo sacerdotal, não andou em nenhuma escola rabínica, não era um teólogo profissional e, no entanto, pôs tudo em causa[2].

sábado, 25 de abril de 2015

Seguir Cristo, o Bom Pastor

Reflexão de Georgino Rocha

Georgino Rocha
“Eu sou o Bom Pastor” – afirma Jesus, fazendo o seu autorretrato com os traços mais marcantes da sua identidade. Recorre a uma metáfora muito conhecida dos ouvintes, sobretudo a partir do profeta Ezequiel, em que se espelha a relação de Deus com o seu povo. Aproveita a oportunidade surgida com a tensão provocada pelos fariseus durante a cura do cego de nascença. Repete várias vezes esta declaração que contrasta fortemente com o proceder dos pastores mercenários, que usam o nome e assumem a função, mas não a desempenham com honradez, sobretudo quando o perigo ameaça.

sábado, 29 de novembro de 2014

Vinde, Senhor Jesus!

Reflexão de Georgino Rocha

 Fizeste-nos, Senhor, para Vós, 
e inquieto andará o nosso coração
 até em Vós repousar

“Vinde, Senhor Jesus” constitui uma síntese feliz do encontro da aspiração humana com o desejo expresso por Deus conservado nos textos bíblicos e, agora, proclamado na Igreja, sobretudo nas celebrações dominicais. Condensa a atitude de confiança suplicante do povo crente ao longo do Antigo Testamento, sobretudo dos sábios e dos profetas. E também das pessoas que se encontram com Jesus nos caminhos, nas aldeias e cidades da Palestina. E ainda das comunidades nascidas do testemunho e ensino dos Apóstolos. E da Igreja orante em todos os tempos, especialmente no Advento. Encontro que desvenda a nossa matriz mais original que Santo Agostinho, de modo belo e acertado, resume ao afirmar: Fizeste-nos, Senhor, para Vós, e inquieto andará o nosso coração até em Vós repousar.

sábado, 22 de novembro de 2014

A mim o fizestes

Reflexão semanal de Georgino Rocha

 A herança futura chega 
em cada momento de bondade 
dispensado a quem necessita

Cenário majestoso realça a importância da figura central e contrasta com a simplicidade dos convocados, a sobriedade das alegações, a contundência da sentença. A solenidade da grande assembleia é patente: anjos rodeiam o homem que está sentado num trono de glória, nações inteiras aparecem dos cantos da terra, o universo converge no mesmo espaço e testemunha o acontecimento. A acção a realizar é extraordinariamente simples, semelhante à de um pastor que, ao cair da tarde, ou ao chegar o tempo invernoso, recolhe o rebanho, separando as ovelhas dos cabritos. Mt 25, 31-46.

A imagem pastoril ilustra, de forma acessível e eloquente, a mensagem que Jesus pretende “passar” aos discípulos de todos os tempos: a opção pelo futuro constrói-se no presente, a semente contém, em gérmen, a árvore, a relação solidária vive-se em atitudes concretas, a glória do Pai brilha nos gestos de fraternidade, a atenção aos “pequeninos”, a quem a vida não sorriu por malvadez humana, manifesta o reconhecimento de quem se identifica com eles e por eles vela com a máxima consideração.

sábado, 15 de novembro de 2014

RESPONSÁVEIS E ACTIVOS

Uma reflexão de Georgino Rocha




Juízo severo, sentença drástica. Quem o poderia imaginar? (Mt 25, 14-30) O desfecho da parábola dos talentos é surpreendente, desconcertante. O “chamado” servo mau não faz mais do que proceder de acordo com as regras do tempo e do modo de ser do seu patrão: aceita o encargo, guarda com cuidado o talento e apresenta-o, sem desfalque, no regresso do senhor, acompanhando a entrega com uma justificação plausível. O seu comportamento está motivado pelo modo de ser do patrão: ter medo de quem é severo, saber de antemão que não pode falhar, pois ele quer colher onde nada semeou. Por isso manteve a rotina e fez como era hábito: escolher um local seguro, enterrar cuidadosamente o objecto recebido, gravar na memória esse local e, tranquilo, descansar aguardando o momento da reposição.

sábado, 8 de novembro de 2014

FALAVA DO TEMPLO DO SEU CORPO

Uma reflexão semanal 
de Georgino Rocha



O gesto de Jesus, usando o chicote de cordas para expulsar os vendilhões do templo, seguido de diálogo que pretende ser esclarecedor, provoca tal “confusão” que é preciso o autor do texto vir dizer que “falava do santuário do seu corpo”. (Jo 2, 13-25). E não era para menos. O chicote do Messias, segundo uma expressão rabínica, constitui um símbolo da chegada dos tempos messiânicos: Pela purificação das intenções dos corações e pela reposição da função das coisas que, necessariamente, comportam aflição e sofrimento.

Ao ver o espectáculo do que acontecia – o mercado havia dominado o glorioso Templo de Jerusalém – enche-se de coragem e liberta os sentimentos mais impulsivos e vibrantes. E segue-se a acção demolidora das mesas de comércio, o menosprezo pelo dinheiro e a expulsão dos cambistas, a retirada dos animais e das aves. “Não façais da casa de meu Pai um covil de ladrões” – adianta como exortação e denúncia.

sábado, 25 de outubro de 2014

ACIMA DE TUDO, O AMOR

Uma reflexão semanal de Georgino Rocha

A esplanada do Templo é palco de novo episódio. (Mt 22, 34-40). Os responsáveis dos grupos influentes mexem-se com grande persistência e à-vontade. Aproveitam-se de questões progressivamente mais delicadas e comprometedoras. Depois da política, vem a religião. Agora é o sistema e a hierarquia das verdades que se buscam. Assunto sério, se não houvesse uma segunda intenção: a de experimentar Jesus, a de ver como se posiciona face ao complicado conjunto legal - os peritos apontam 613 mandamentos –, a de saber a qual deles dá prioridade, que parecer tem sobre o núcleo central da vida dos judeus fiéis à Lei recebida de Moisés.

Os novos contendores pertencem aos fariseus, alegres por saberem que os saduceus se tinham remetido ao silêncio, após a disputa sobre a ressurreição. Era a sua vez e querem “marcar pontos” aproveitando-a com mestria porque têm reduzida influência junto do povo – virão a aumentá-la progressivamente e chegam a constituir a classe preponderante, por volta do ano 70 da nossa era, após a destruição do Templo.

sábado, 18 de outubro de 2014

MAIS QUE UMA QUESTÃO DE IMPOSTOS


Reflexão semanal de Georgino Rocha


A armadilha não pode falhar. Há que pôr cobro ao agitador Nazareno que se movimenta tão livremente na esplanada do Templo e desafia o mais sagrado das práticas judaicas. O conflito crescia em intensidade e ostentação. A situação tornara-se intolerável. Por isso os chefes religiosos urdem a trama e aliam-se aos líderes políticos, partidários de Herodes. O “caldo” era excelente. (Mt 22, 15-21)

A delegação parte com uma missiva muito clara: surpreender Jesus em algo ilícito para ser acusado e condenado. Leva consigo uma estratégia aliciante: tecer elogios que, se não fossem hipócritas, eram verdadeiros e reconheciam o agir correcto do Mestre. Pagar ou não o tributo, eis a questão crucial. Se dizia sim, era colaboracionista com o ocupante romano e, por isso, insolidário com o povo oprimido. Se respondesse não, caía sob a alçada da lei e podia ser acusado de subversivo e revolucionário. E o exército imperial não tardaria a fazer-lhe o que havia feito a Judas, o Galileu, aquando da sublevação por ocasião do censo destinado a conhecer a população e a introduzir nova carga de impostos, cerca de seis anos antes de Cristo.

sábado, 13 de setembro de 2014

SALVOS PELA CRUZ DO SENHOR

Reflexão semanal de Georgino Rocha

A visita nocturna de Nicodemos a Jesus, apresentada no Evangelho de João, faz parte da secção narrativa de factos e pessoas que dão o seu contributo para dizer quem é Jesus. Surge após o testemunho de João Baptista que actua em vários cenários, a mudança da água em vinho de qualidade na festa de um casamento em Caná da Galileia, a operação-limpeza do Templo em Jerusalém e o primeiro anúncio da edificação de um novo templo. O autor do 4º Evangelho acrescenta: “Falava do Seu corpo”, afirmação que veio a ser compreendida pelos discípulos, após a ressurreição.