sábado, 27 de setembro de 2008

Declaração de Conimbriga

Jovens da Terceira Idade, em passeio
1. Envelhecer é o maior atributo da vida, expressão completa da existência.
2. Todo o ser humano tem o direito a envelhecer com saúde, segurança e dignidade.
3. A sociedade deverá proporcionar a todos os que atingirem a fase superior da vida meios para uma existência condigna em termos sociais, familiares, económicos, médicos e culturais.
4. Os seniores têm a obrigação de transmitir à família e à sociedade a cultura e sabedoria acumuladas ao longo da vida.
5. Os seniores têm direito ao convívio com os seus netos naturais e adoptivos, ajudando-os e acompanhando-os e transmitindo, pelo exemplo, valores, princípios e ensinamentos.
6. Os seniores têm direito a que sejam respeitadas as suas disposições e vontades, no estrito respeito pela ética e pela lei.
7. A sociedade tem a obrigação de adaptar e construir as estruturas, de valorizar e modificar a organização social e ensinar os cidadãos em função da nova realidade social, fruto do envelhecimento.
8. Os seniores devem associar-se, formal ou informalmente, na defesa dos seus interesses e na promoção dos seus valores.
9. Os seres humanos têm o direito e o dever a envelhecer com arte e a estimular a arte do envelhecimento.
Conimbriga, 27 de Setembro de 2008.
NOTA: Transcrita, com devida vénia, do blogue Quarta República
Foto da Revista "Maior Idade", da CMI

UM NÃO CONVERTIDO EM SIM

A cena parece um enigma com aspectos de armadilha. Mas é antes uma historieta com grandes ensinamentos de vida. Passa-se com Jesus e os chefes do povo na esplanada do Templo em Jerusalém. Um homem tem dois filhos e diz a um: vai trabalhar na vinha e ele, solícito, diz que sim, mas não foi; e diz a outro: vai trabalhar também para a vinha e ele, contundente, não vou, mas depois reconsiderou e foi. Qual fez a vontade do Pai?! Ambos, em algum momento, dizem fazer-lhe a vontade. Mas basta dizer?! O trabalho da vinha fica feito com palavras de assentimento?! Este momento fugidio não constituirá um símbolo emblemático de tantas fases da vida que têm o mesmo sentido e alcance? Sinceramente acho que sim. Estou convencido que, se as “coisas” se resolvessem com palavras, muitas coisas correriam melhor e funcionariam mais certo. Tudo, não, porque diz-se cada uma que nem a honra escapa, quanto mais a ética de povos civilizados! Ambos, em algum momento, negam corresponder ao pedido feito. Afirmam-se pela oposição, manifestam o impulso da sua vontade pela negação. A afirmação na vida, sendo importante, não é tudo e pode fazer-se de várias maneiras. A reacção impulsiva, tendo a sua riqueza fugaz, não constitui o modo normal de viver do ser humano, nem se mantém pujante durante muito tempo ou garante qualquer solidez para a estabilidade do futuro. A vontade do Pai é clara e benevolente: fazê-los partilhar do trabalho da vinha, deixarem a estéril ociosidade, serem prestáveis e sentirem-se úteis, desenvolverem capacidades, adquirirem competências. Esta relação constitui o núcleo principal da historieta. O homem da vinha é Deus Pai. Os filhos são todos os humanos. A vinha é o mundo ou a sociedade organizada em qualquer das suas modalidades, a Igreja e as comunidades e os movimentos que a configuram e realizam a sua missão. Trabalhar na vida é assumir um serviço socialmente útil, sentir-se responsável pelo que faz ou omite, partilhar o que se tem e manifestar o que se é, reconhecer os outros e as suas capacidades ou limitações, dar as mãos na prática da solidariedade, organizar-se funcionalmente para alcançar os objectivos pretendidos, viver em constante comunhão com a benevolência do Pai, cultivar a paciência confiante, saber intervir a tempo e em conjunto, saborear o descanso merecido, apreciando o fruto alcançado. Felizmente, há trabalhadores exemplares na vinha do Senhor. A história vai-se fazendo com o seu esforço, por vezes, heróico e martirial. A humanidade vai-se dignificando com a sua entrega generosa permanente. A Igreja vai-se “ramificando” e infiltrando com os seus gestos de amizade e atitudes de proximidade. O mundo, qual vinha do Senhor, vai-se desenvolvendo com as negas de uns, logo transformadas em afirmações de coerência generosa, e os sins de outros que rapidamente se tornam inconsequentes, desistindo de tão nobre propósito, sem qualquer explicação aparente. Muitos destes trabalhadores nem sequer chegam a ser conhecidos na voracidade do tempo. Resta-lhes o “livro de Deus”, onde a vida humana tem um registo de qualidade. Georgino Rocha

FESTA NA COSTA NOVA

Costa Nova antiga. Seria dia normal ou de romaria?
ROMARIA DA SENHORA DA SAÚDE MANTÉM A TRADIÇÃO
Este fim-de-semana vamos ter festa rija na Costa Nova, em honra de Nossa Senhora da Saúde. Amanhã há missa, procissão e as tradicionais devoções particulares a Nossa Senhora. Para além disso, que é o substrato religioso das festividades em honra dos padroeiros, neste caso da padroeira da paróquia da Costa Nova, vem a romaria do povo das redondezas, ao jeito de quem encerra a época balnear. Diz o padre Rezende, na sua Monografia da Gafanha, que “Frei João Pachão, no século Jerónimo Pachão, das Aradas, naquele tempo já frequentador da Praia, fundou em 1822 ou em 1824, com o auxílio das companhas e com esmolas do povo, uma capela de madeira, que dedicou a Nossa Senhora da Saúde”. A história continua e a dado passo, com mais banhistas a procurarem a praia, José da Graça, de Ílhavo, gerente de uma das companhas, avançou com a ideia de construir outro templo, porque o primeiro não oferecia as condições mínimas para o culto. Continua o padre Rezende: “Com o concurso das outras companhas pôs mãos à obra, e em 1890 tinha erguido a linda capela, que a brisa do mar beija a toda a hora, numa saudação fagueira.” “Todos os anos – garante o autor da Monografia – desde a sua fundação, é celebrada a festa à sua excelsa Padroeira, no último domingo de Setembro, atraindo à praia multidões de devotos e forasteiros.” Mais adiante, sublinha que a devoção é tanta que não faltam ofertas valiosas, tais como “Cordões, libras, ligas, anéis, crucifixos, medalhas, (tudo de oiro), velas, ex-votos de cera, outros ex-votos, azeite, novenas, orações, tudo ali era levado pelos verdadeiros devotos em agradecimento à SS. Virgem, pelas graças recebidas”. E depois acrescenta: “Pena é que os pseudo-festeiros, ou devotos-arrecadadores, dessem aplicação desconhecida às esmolas que anualmente subiam a alguns contos.” (permitam-me um à parte: nestas coisas, de vez em quando, não falta quem se aproveite da devoção dos fiéis) Diz ainda o padre Rezende que, “Nesse tempo de esbanjamentos, foi a família do Dr. Luís de Magalhães, quem manteve com esplendor o culto da capela. Está bem paramentada pela generosidade das famílias Magalhães e Maia Alcoforado”. Fernando Martins

FÁTIMA

Um terço dos visitantes do santuário são católicos não praticantes
Um terço dos visitantes do santuário de Fátima são católicos não praticantes, revela um estudo a apresentar hoje, em Fátima, por ocasião das comemorações do Dia Mundial do Turismo. A autora do trabalho, Graça Poças Santos, disse à agência Lusa que “existe hoje uma religiosidade menos enquadrada institucionalmente e mais assumida individualmente”. “Uma boa parte da população portuguesa que nos Censos Populacionais do Instituto Nacional de Estatística se afirma como católica, tem uma prática religiosa muito intermitente ou mesmo nula”, adiantou a docente. Graça Santos traçou o perfil de quem se desloca a Fátima, recorrendo ao trabalho de investigação da sua tese de doutoramento, a que acresceram os resultados de 384 inquéritos e também entrevistas a autarcas e pessoas ligadas à hotelaria, religião e turismo. Segundo o estudo, o visitante de Fátima é maioritariamente do sexo feminino, tem uma idade média de 50 anos, é casado e apresenta formação igual ou inferior ao 2º ciclo. A maioria dos visitantes de Fátima reside em Portugal (71,1 por cento dos inquiridos) e trabalha sobretudo nos sectores secundário e terciário. Leia mais em Ecclesia

MINHA PÁTRIA É A LÍNGUA PORTUGUESA

Dois leitores assíduos do meu blogue recordaram a célebre frase de Fernando Pessoa. Aqui a deixo para melhor a sentirmos.
FM
«Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente. Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse. Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.»
Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, ed. de Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Ática, 1982 vol. I, págs. 16-17 In Ciberdúvidas

BIMILENÁRIO DE SÃO PAULO: A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

Nada move tanto o ser humano como a necessidade de reconhecimento. O que vale a minha vida? O quê ou quem lhe dá sentido? Vale para quê e para quem? Quem lhe dá valor? Quem me reconhece? De muitos modos e por múltiplas vias, pela violência e pela paz, pelo amor e pelo ódio, por caminhos estreitos e grandezas sublimes, são estas perguntas que querem ver-se respondidas. Durante um ano (entre 28 de Junho de 2008 e 29 de Junho de 2009), será lembrada, através de congressos e actividades múltiplas, a figura de São Paulo, determinante para o cristianismo e para a História mundial. Nasceu entre 6 e 10 depois de Cristo, talvez no ano 8. De perseguidor dos cristãos, tornou-se apóstolo, erguendo o cristianismo a religião universal. Converteu-se a caminho de Damasco, pelo ano 33, num "encontro" imprevisível com Jesus ressuscitado. Foi uma experiência de tal modo avassaladora que daí para diante nada a não ser o anúncio da mensagem do Deus de Jesus lhe interessou. Foi decapitado no ano 64, em Roma, depois de percorrer o Mediterrâneo oriental e sem poder chegar à Espanha, como tinha programado. E qual foi a sua experiência radical? Deus ressuscitou Jesus, o crucificado, mostrando desse modo que é um Deus de vivos e não de mortos, que não faz acepção de pessoas, que olha para a pessoa enquanto pessoa, independentemente das suas qualidades. Diante de Deus, todos os seres humanos valem como pessoas radicalmente iguais. Então, o que justifica o Homem não são as obras da Lei judaica - a circuncisão ou os rituais religiosos exteriores e os tabus alimentares. Também não é a Filosofia que o justifica - e Paulo conhecia bem nomeadamente a filosofia estóica -, porque a Filosofia põe as perguntas últimas, mas não tem resposta plena para elas. Como escreverá na Carta aos Romanos, "o Homem é justificado pela fé". Como diz o teólogo D. Marguerat, a descoberta de Paulo é a da "pura gratuitidade da graça". Nada se entende do pensamento de Paulo (Saulo é o nome aramaico de Paulo, nascido em Tarso, na actual Turquia), se não se compreender como ele "dinamitou" a imagem de Deus. Via-o omnipotente, e agora vê-o a actuar na extrema fragilidade. Pensava que era um tirano, e "descobre-o solidário". Pensava que estava longe, e "vê-o presente em todo o sofrimento". "Deus só se deixa descobrir por aqueles que abandonam o imaginário do deus despótico e se deixam 'justificar', isto é, acolher, tendo como base apenas a sua confiança nele." Nas suas recentes Conversas Nocturnas em Jerusalém, onde apela para a necessidade de reformas constantes na Igreja - "a força reformadora tem de vir de dentro" -, o cardeal Carlo Martini, exegeta eminente e antigo arcebispo da maior diocese católica do mundo, Milão, elogia Lutero como "um grande reformador", que inspirou também reformas no Concílio Vaticano II. Ora, segundo Lutero, o núcleo da mensagem da salvação encontra-se na fé - "o Homem justifica-se pela fé" e não pelas indulgências e toda a parafernália religiosa exterior. Claro que não se pode ser ingénuo e é sabido que mesmo as comunidades paulinas, ao princípio carismáticas, se foram lentamente organizando institucionalmente. Mas, por outro lado, também é preciso ter presente que a fé não cresce automaticamente na proporção directa da institucionalização. Perguntava-me, há pouco tempo, em exclamação negativa, um amigo dominicano, professor de exegese bíblica na Universidade de Lovaina: "Como foi possível o movimento de fé no Deus de Jesus ter desembocado no Vaticano, com um Papa chefe de Estado?" O cardeal Martini, que sabe que a fé é um combate - "quando vejo o mal no mundo, perco a respiração e compreendo as pessoas que concluem que não há Deus"; mas, por outro lado, só com os olhos da fé, algo pode mudar: da fé e da confiança "nasce a esperança, apesar do sofrimento" -, diz que "se impressiona com a pergunta de Jesus: 'quando o Filho do Homem voltar, encontrará fé?' Jesus não pergunta: encontrarei uma Igreja grande e bem organizada? Ele sabe também valorizar uma Igreja diminuta e pequena, que possui uma fé forte e age em consequência." Anselmo Borges, no DN

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

REVISTA LER

Para quem gosta de livros 
e de leituras

Quem gostar de livros e de leituras tem na revista LER, do Círculo de Leitores, um excelente suporte. Dirigida por Francisco José Viegas, a LER publica-se todos os meses, excepto em Agosto.Para além de um conteúdo variado, com diversificada informação de livros publicados e a publicar, a revista oferece crónicas e críticas de real importância, a par de uma grande entrevista. 
Pela LER, que começou uma vida nova em segunda série, já passaram António Lobo Antunes, José Saramago e Margarida Rebelo Pinto. O número deste mês apresenta, em longa e circunstanciada entrevista, Eduardo Lourenço, de 85 anos, “O homem que ensina Portugal a pensar”. Quem gostar de Eduardo Lourenço, ficará a conhecer um pouco melhor este nosso compatriota, emigrante em França, mas que mantém uma ligação afectiva e efectiva a Portugal e a tudo o que por aqui se passa, sobretudo a nível cultural, e não só. Até parece que vive permanentemente entre nós, tendo em conta o que reflecte sobre o que se publica, o que se faz e o que se diz no nosso País. 
Sugestões de leitura, os livros que podemos esperar no início de uma nova temporada, Best-Sellers em diversos países, curiosidades de escritores, histórias e apontamentos, relação de livros recentemente publicados e extractos de obras completam esta edição da revista LER. A não perder, obviamente.

FM

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Igreja Católica recusa ministrar sacramentos pela Internet

O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais rejeitou hoje, em Fátima, a possibilidade de a Igreja poder ministrar sacramentos on-line, informou o SOL.
Questionado sobre a hipótese dos sacerdotes poderem confessar pessoas on-line, uma das sugestões deixadas no decurso das Jornadas Nacionais das Comunicações Sociais, D. Manuel Clemente citou a experiência pessoal para negar tal hipótese. «Eu, quando me confesso, quero diálogo face a face. Não quero apenas ter a minha ideia de interlocutor», afirmou, declinando, ainda, a eventualidade de transmissão de casamentos ou funerais na Internet. No caso dos outros sacramentos, lembrou que «se trata de uma comunidade que celebra e para uma comunidade são precisos pelo menos dois», adiantou aquele semanário.

Música partilhada

Um vídeo gentilmente enviado pelo Nelson Calção, com a amizade de sempre. A música é, indubitalmente, um bom motivo de encontro e de partilha. Um abraço, com votos de bom regresso, quando for hora disso.

O Fio do Tempo

A reinvenção da Economia
1. Os dias são de continuada turbulência. A economia virtual (do vender o que não se tem com segurança) tem os dias contados. Os anseios repetidos pelos especialistas são o milagre da regulação. As reflexões globais em realização, que também recuam décadas e vão mesmo aos anos 30, falam-nos de um safanão que tem raízes bem mais profundas que a agitação diária das bolsas de valores. Todavia, a resposta a este cenário terá se ser nova porque o momento é mesmo inédito. Dizem os estudiosos que também os cataclismos económicos são sinais de mudanças de época. 2. Em causa acabará por estar a realidade de uma economia virtual de modelo publicitário que cresceu desmedidamente, mas que não consegue nem pode libertar-se de todo o potencial, hoje insubstituível, das novas formas de comunicação. O reajustamento ao novo império asiático a par da mágica especulação dos mercados imobiliários e bolsistas a que se juntam as energias (petróleo e outras que virão…) como elemento central da vida das sociedades, tudo conjugado avoluma o risco e a incerteza, palavras-chave dos períodos de recessão. Mas os tempos actuais são ainda mais gritantes, pois a escalada da urgência humanitária a par da asfixia das classes médias está a conviver com a meia dúzia de ricos superpoderosos. 3. Onde iremos parar? Em Maio passado um conjunto de ex-governantes, entre os quais Jacques Delors, escreveu ao Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso. A exigência era a legítima aspiração humanista em que «Os mercados financeiros não podem governar-nos». Esta urgente concepção de vida digna para além da economia, todavia, não se obtém de forma simplista. É preciso rever tudo, logo a partir dos fins últimos dos bens materiais “ao serviço”. Ser feliz não pode continuar a ser ter muito dinheiro. É possível mudar a mentalidade? Alexandre Cruz

Aldeia da Luz

Os moradores da Aldeia da Luz, segundo vi e ouvi na televisão, não estarão felizes. Foi uma aldeia construída, de raiz, para substituir a que foi ocupada pela barragem do Alqueva. Aparentemente, tem todas as condições para se viver bem, com traçados rectilíneos e casas novas, decerto de acordo com as actuais exigências para as pessoas se sentirem comodamente instaladas. Igreja moderna, chaminés vistosas, ruas sem buracos… Mas nem assim os moradores se vêem compensados. Porquê? Simplesmente porque é uma aldeia sem memória, sem história, sem alma. As pessoas não podem conviver nos antigos recantos que as acolhiam com intimidade, com carinho. Nem podem sentar-se nos velhos bancos cheios de segredos. Deram-lhes tudo, mas esse tudo, sem alma, não é vida. E por isso, de quando em vez, os habitantes da nova povoação lá vão espreitar à velha aldeia, na ânsia de captarem as forças telúricas que tanta falta lhes fazem.

Poema de Neruda

Para Marieke, minha leitora assídua, galega de raízes e de coração
Vuelve, España Espãna, España corazón violeta, me has faltado del pecho, tú me faltas no como falta el sol en la cintura sino como la sal en la garganta, como el pan en los dientes, como el odio en la colmena negra, como el día sobre los sobresaltos de la aurora, pero no es eso aún, como el tejido del elemento visceral, profundo párpado que no mira y que no cede, terreno mineral, rosa de hueso abierta en mi razón como un castillo.
Pablo Neruda
Excerto do poema Vuelve, España, in Antologia, da Relógio D´Água

Subsistência empreendedora, no reverso do "país"

"Existe uma tendência muito visível para a eliminação da economia de subsistência; até se considera que tal eliminação é um imperativo do desenvolvimento económico e da dignificação do trabalho. Tudo isto é verdade, em parte, mas também é verdade que a economia mais regular não resolve inúmeros problemas de emprego e de rendimentos. Portanto, há que optar: ou pela eliminação da economia de subsistência ou pela sua integração gradual na economia mais regular: a primeira hipótese é a que vem predominando; a segunda parece claramente a mais defensável, até porque os «empresários» e os outros trabalhadores honestos da economia de subsistência lutam por trabalho e rendimentos dignificantes."
Acácio Catarino, em artigo publicado no Correio do Vouga, aborda, de forma muito simples, mas objectiva, uma questão pertinente, ligada a mais de dois milhões de trabalhadores que no nosso país lutam diariamente pela subsistência. Leia aqui para reflectir.

LEIS PARA TODOS, POR OPINIÃO E DECISÃO DE ALGUNS

"Aqui há anos, quem optava pela união de facto, à margem das leis do Estado, ridicularizava o casamento porque “não são os papéis que dão a felicidade” e reagia, negativamente, sempre que se falava de qualquer forma legal para a situação. Mas verificou-se que podia haver benefícios fiscais e os papéis deixaram de repugnar… O INE diz que os divórcios crescem em flecha. Gente da ribalta e com influência nas leis vai coleccionando casamentos e divórcios. Que benefícios para a família, filhos e casal? E para a sociedade? Casar, descasar, voltar a casar e a divorciar-se pode ser um ideal de família a sério e de sociedade equilibrada? Será que a família, célula vital, por excelência, da nossa sociedade, ainda interessa aos legisladores? Será que a Constituição, em relação a outras formas, goza do respeito devido? Será legítimo, ao legislar sobre minorias, que se proponham às famílias formas que as destroem e aos seus valores, empurrando-as para facilidades que não querem?" António Marcelino
Clique aqui para ler todo o artigo

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

REGATA DOS GRANDES VELEIROS

Ontem, terça-feira, depois do nevoeiro muito fechado que atrasou a partida, os Veleiros deixaram o Porto de Aveiro, rumo ao Funchal. Partiram, mas deixaram saudades. Como se dizia antigamente, na hora da saída dos bacalhoeiros: Boa viagem e que regressem com saúde.

O Fio do Tempo

E a Teresa continua!
1. Não é novidade a apetência da Teresa Guilherme para a exploração radical das emoções na Tv. Quem não se lembra da polémica despertada quando do primeiro big brother? Preocupante é o hábito destas programações que se vai generalizando e a massa crítica que se vai diluindo a ponto de perder a sua força capaz de propor uma alternativa ética de qualidade. O programa «O Momento da Verdade» da SIC é esse rosto actualizado da máquina concorrencial em que, quanto pior melhor para as audiências, essas que telecomandam autenticamente o panorama das comunicações. 2. A degradação do programa referido, de que nenhum órgão que se digne faria publicidade, talvez venha tornar patente mais uma vez o gosto lusitano para a intriga na praça pública. O entretenimento transformado como lavadouro de roupa suja aparece como o novo ópio do povo, dissuasor dos próprios compromissos de co-responsabilidade social a assumir. O crescer destas tendências para o “quanto mais esquisito mais dinheiro dá”, deita por terra todo o esforço diário e comprometido das mais variadas apostas na educação em geral. O empenho e o trabalho está a deixar de ser premiado; a falcatrua compensa, quanto mais melhor. 3. E para ajudar à festa emocionante, agravando mais o cenário, vemos familiares de concorrentes que foram enganados a aplaudir cada resposta confirmada pelo teste polígrafo. A razão do aplauso talvez seja mesmo o deus do dinheiro, pois que a honradez caiu por terra. Vale a pena perguntar se esses responsáveis da Tv se preocupam sobre a semente que lançam… Já bastavam os cinemas. Parece que o crime e traição que se denunciam nas notícias às 20h têm no passo seguinte o seu próprio laboratório. E ainda: onde está a ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social? Não nos deveria mobilizar numa consciência ética e crítica? Alexandre Cruz

Plágios

O PÚBLICO denuncia hoje, em Nota da Direcção, ao lado do Editorial, a transcrição de parte de um seu texto, da edição online, pelo Diário de Notícias, sem qualquer referência à fonte. Apesar do pedido de desculpas apresentado pelo DN, o PÚBLICO lembra que até as gralhas mostram o plágio. Infelizmente, isso acontece um pouco por todo o lado, numa clara falta de respeito pelos autores, que chegam a investir o seu tempo, e não só, na procura do suporte para as notícias e crónicas que publicam. E tal acontece um pouco por todo o lado. Até na blogosfera. E se é verdade que alguns amigos têm autorização para utilizar os meus textos, também não posso aceitar que outros sejam, de facto, indelicados, injustos e desonestos. O seu a seu dono. FM

REGATA DOS GRANDES VELEIROS

Sédov - Sino Creoula Carranca - Oman
Aqui ficam três registos da ilhavense Ana Maria Lopes, que comanda, com perícia, o Marintimidades. Pormenores de veleiros que nos visitaram no último fim-de-semana, para gáudio de muitos amantes das coisas do mar.

Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza: 17 de Outubro

Levanta-te e actua!
“Dia 17 de Outubro é o Dia Mundial para a erradicação da pobreza e, à semelhança do ano passado, espera-se que volte a ser um grande momento de mobilização a nível nacional e internacional. Em 2007, mais de 43 milhões de pessoas levantaram-se para exigir aos líderes mundiais que cumpram as suas promessas para acabar com a pobreza e desigualdade. Portugal contribuiu com mais de 65 mil vozes nesta iniciativa. Este ano precisamos da tua ajuda para bater um novo recorde e a enviar uma mensagem ainda mais forte para os nossos governantes. Estamos a meio caminho de 2015, ano que marcará o final do período para alcançar os Objectivos do Milénio. É urgente “Levantarmo-nos e Actuarmos”, para que os governos honrem os seus compromissos. Tal só acontecerá se tomarmos uma posição clara.”
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Memórias da Romaria da Senhora da Saúde

No carrocel
Cá, para nós, a festa dos Grandes Veleiros, grandiosa, mesmo com alguns boas perturbações atmosféricas, já acabou. Agora, vem aí a romaria…p’ra te comprar uma flor…A minha mais antiga recordação desta romaria é uma fotografia, no terraço da minha casa, em que tenho dois anos, com um grande laçarote na cabeça. A armação da festa comprova a data – fins de Setembro de 1946. Vivia no “coração” da romaria.Outra, bastante mais forte e de que ainda hoje me recordo vivamente, foi a minha integração na procissão, “vestida de anjinho” – a primeira e a única vez. Cá perdurou “o boneco” tirado “à la minuta”, como mandava a tradição. Só que foi uma procissão complicada e agitada, porque durante o seu trajecto, deflagrou um forte incêndio na, à época, Pensão Pardal, na esquina norte da Estrada do Banho. Alterado o percurso, o susto apoderou-se de todos, crianças, jovens e adultos. As chamas lambiam as outras casas e todos temiam que se propagassem às casas vizinhas. Foi um alvoroço. Postos a par da ocorrência por residentes, lá vieram os Bombeiros de Ílhavo acudir ao sinistro que poderia ter alcançado proporções gigantescas, dado que as casas da proximidade eram palheiros de madeira ressequida.Depois de tamanha confusão, felizmente sem consequências de maior, lá chegou o “anjinho” assustado, a casa. Na ausência de data na fotografia, lá fiz algumas diligências para situar a ocorrência no ano certo – foi no domingo da Festa de 1951 (in O Ilhavense de 10 de Outubro de 1951).
Ana Maria Lopes

terça-feira, 23 de setembro de 2008

OUTONO

SE DESTE OUTONO Se deste Outono uma folha, apenas uma, se desprendesse da sua cabeleira ruiva, sonolenta, e sobre ela a mão com o azul do ar escrevesse um nome, somente um nome, seria o mais aéreo de quantos tem a terra, a terra quente e tão avara de alegria. Eugénio de Andrade
In O Sal da Língua

REGATA DOS GRANDES VELEIROS

ORGANIZAÇÃO COM NOTA DE EXCELENTE
Hoje à tarde, a Regata dos Grandes Veleiros deixou o Porto de Aveiro, com rumo traçado para chegar à cidade do Funchal, que está a celebrar meio milénio de existência. O espectáculo da saída da barra foi presenciado por numeroso público, que vibra sempre com navios, mastros, velas, sirenes estridentes e marinheiros. No final, o presidente da Câmara, Ribau Esteves, anunciava que a organização tinha sido premiada com nota de Excelente, pelo alto nível dos serviços prestados e pelo acolhimento manifestado aos veleiros e suas tripulações. Da parte da manhã, bem esperei pelos veleiros, mas o nevoeiro intenso, que cobria totalmente a boca da barra, impediu a saída, para tristeza de imensa gente que enchia os paredões mais próximos. Segundo li na Rádio Terra Nova, mais de 350 mil pessoas visitaram os 22 veleiros atracados no Porto de Aveiro, participando na festa rija que a Câmara Municipal de Ílhavo, de braço dado com a APA (Administração do Porto de Aveiro), ofereceu a todos. Ribau Esteves, presidente da autarquia e grande entusiasta por este desafio em que apostou, garantiu que estão já a ser preparadas novas candidaturas a duas regatas, uma europeia e outra transatlântica, para 2012/2013.
Nota: Tenciono publicar amanhã algumas fotos da saída dos veleiros

O Fio do Tempo

Nas raízes da inovação
1. Como tantas outras, «inovação» pode ser palavra gasta. Há mesmo já quem diga inovar a inovação. Para além dos malabarismos da linguagem, importa aprofundar a atitude inspiradora. No contexto do início de ano escolar, esta capacidade de sermos parte das soluções merecerá nota de louvor. Este ano a Lição de Abertura da Sessão Solene da abertura do Ano Académico da UA contou com a presença do Presidente Executivo da Portugal Telecom SGPS, SA, Eng. Zeinal Bava. A temática da comunicação era: «A inovação como chave do sucesso». Podendo ser hoje esta uma temática de lugar-comum, valerá a pena, acima de outros aspectos e mesmo dos naturais prós-e-contras que existem em tudo, destacar duas ideias fundamentais. 2. Quando Zeinal sublinha que «uma equipa é sempre mais inteligente que uma pessoa sozinha» acentua uma tecla essencial que tem sido um dos parentes pobres da mentalidade portuguesa. Ao destacar que, mais que os mecanismos de retorno da satisfação do consumidor, o ideal será que este tome parte da solução inovadora a encontrar, representa uma sintonia empática de inteira correspondência entre o que se oferece e o que se procura. Muito acima dos patamares meramente comerciais, vale a pena destacar as potencialidades criadoras do trabalho em grupo, pois até é bem mais fácil uma pessoa escrever um livro sozinha do que gerar um trabalho de plataforma em «rede» entre diversas áreas e saberes. Também as noções de retorno, auscultação, como processo criador merecem mais atenção… 3. Claro que tudo é aprendizagem, mesmo a inovação. Esta não cai do céu, precisa mesmo da capacidade de «arriscar» para acertar. Também este é um processo de sabedoria tão importante. Porque não criar-se mais hábitos de gente de diferentes áreas e estruturas sentarem-se à mesma mesa? Seria surpreendente! Alexandre Cruz

O PODER DO LINK

O desenvolvimento da informática, da electrónica e das telecomunicações estão na origem das revoluções mediáticas constantes a que as últimas décadas do séc. XX deram origem. Da convergência das tecnologias de cada um desses mundos resultou uma nova matriz onde se processa a comunicação: a matriz digital. Que oferece sempre novas ferramentas à transmissão de conteúdos, que os torna progressivamente mais céleres e cada vez mais acessíveis. Trata-se de uma realidade sempre nova, que foge a estereótipos comunicacionais de outros tempos. Resulta antes do contributo de um conjunto vasto de actores, todos os cidadãos mesmo, e emerge em qualquer recanto da vida pessoal, familiar ou social: porque são muitos os emissores ao nosso alcance e ainda mais os receptores desses pixéis, a nova sebenta onde se inscrevem mensagens em circulação constante pelas redes de comunicação. Claro que todos os conteúdos têm de passar por esta comunicação, porque é também aí que acontecem, hoje, as relações humanas e a construção social. O que exige saber, arte de comunicar. Retórica, oratória e não só: também a capacidade de explorar o poder do link. Se o bom discurso ou o bom sermão é avaliado imediatamente por reacções espontâneas do auditório, a audiência das mensagens que se colocam nas redes virtuais é uma constante incógnita: quem "agarra" um texto, imagem ou som? Até que recanto do mundo pode chegar o que eu coloco num blog, num portal da internet ou no anexo de um mail? Quantos "cliques" passam por um título e quantos reencaminhamentos "sofrem" as mensagens? Num qualquer recanto, eu posso partilhar conteúdos para o grande universo da rede, aguardando que sejam visitados. Mas o desejo de qualquer autor é vê-los linkados. É esse o maior desafio da comunicação em rede: encontrar ligações noutro espaço, noutra página da internet, num mail ou sms e, dessa forma, fazer aumentar exponencialmente os "caminhos" para uma foto, um vídeo ou um texto colocado num qualquer "quintal digital". Depois de linkado, fica ao alcance de um "clique", em qualquer parte do mundo. O poder da comunicação, em sociedades digitalizadas, é cada vez mais o poder do link. Paulo Rocha

Cinema na Televisão

"Quer os cinéfilos gostem ou não gostem, o cinema hoje passa muito além da projecção em sala conhecendo uma crescente divulgação em DVD e através da televisão. As condições de imagem, em formato e em qualidade, não têm comparação possível, mas é um facto que sem estes novos suportes estaria inacessível a maior parte das obras de outros tempos. Se nos referirmos apenas à televisão aberta, com quatro canais, só nos dois dias do último fim-de-semana foram apresentados 24 filmes, ou seja, uma dúzia por dia. É um número considerável que respeita uma variedade muito grande e abrange diferentes épocas de produção." Francisco Perestrello Clique aqui para ler mais

Voluntariado Universitário

HÁ SEMPRE TEMPO, SE QUISERMOS
Há projectos que me merecem um cuidado especial. O Voluntariado Universitário é um deles, porque promove o serviço em favor dos que mais precisam. Na proposta dirigida aos universitários das escolas superiores de Aveiro diz-se que há sempre “tempo”, de acção e reflexão, para dedicar ao bem comum. Se todos quisermos, claro. Para cada um e à medida de cada qual. Em Explicações no Bairro de Santiago, no Voluntariado Hospitalar, em Instituições Comunitárias, no Estabelecimento Prisional de Aveiro. É óbvio que tem de haver informação e preparação. As inscrições estão abertas no CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura) e na AAUAv (Associação Académica da Universidade de Aveiro).

Faleceu Adolfo Roque

As notícias de hoje referenciam a morte de Adolfo Roque. Um industrial de sucesso, mas também um exemplo cívico para todos. Águeda e o País ficaram mais pobres. Para além de provedor da Santa Casa da Misericórdia, o comendador Adolfo Roque envolveu-se em diversas instituições, dinamizando-as, sem nunca descurar o espírito de bem-fazer que sempre o animou. Era um benemérito por excelência e um homem bom por natureza. Paz à sua alma.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O Fio do Tempo

O tempo do regresso 1. O retomar das actividades impele-nos ao reerguer de projectos. Nos cenários de um surpreendente mundo em convulsão transformadora, e em que não podemos fugir dele mas actuar renovados nele, o estabelecer de objectivos ambiciosos que consigam gerar pontes de cooperação na busca de soluções é, hoje, uma claro sinal da necessária e inspirada procura revitalizadora. O mundo está como os humanos o fazem. E diante dele sempre houve, pelo menos, duas tentações: a cómoda “fuga ao mundo” típica de quem julga ter adquirido já a verdade plena, como se ela não existisse para o aperfeiçoamento comunitário; ou o diluir-se de tal modo no mundo perdendo a força crítica, afogando-se no conformismo, no deixar andar, no não vale a pena. 2. O retomar dos vários níveis de actividade, como a função educativa do aprender escolar, a missão política de servir o bem comum, as propostas de sentido de vida das Igrejas, os projectos de concertação social, humanitária e cultural, os novos programas das grelhas televisivas, os futebóis, as músicas, os espaços comunitários, tudo o que se move e pode mobilizar para uma sociedade melhor, especialmente em tempos de apregoada crise, em todos os recantos teria sentido fazer aquela “pausa” que pode gerar objectivos nobres em ordem a sermos, pelo menos, melhor Humanidade. Tudo porque a sabedoria e a bondade educativa que dessa pausa provêm também podem ser antídoto inspirador para tantos dos males sociais. 3. Após a pausa veraneante, chegado o Outono, retomamos. É o sexto ano, agora com outro nome: «o fio do tempo». Depois de alguns anos com «Universalidades» e o ano passado com a «Linha da Utopia», agora avançamos sobre «o fio do tempo». Não o meteorológico! Mas sobre os sinais do tempo actual. Único, todos actuamos nele! Alexandre Cruz

Ainda a Senhora dos Navegantes

FOLCLORE AO LADO DOS VELEIROS
Quem participa em cerimónias oficiais, no âmbito da freguesia ou do município, regista, com gosto, a participação do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré (GEGN), bem como de outras instituições culturais. Nas festas que se realizaram este fim-de-semana, referenciadas neste meu espaço, sublinho a representação de um par de gafanhões antigos, concretamente, dos princípios do século passado. A Isabel e o Acácio, casal na vida real, membros do GEGN desde a primeira hora, apresentaram-se como gafanhoa em traje de inverno e como feirante, para mostrar as modas doutros tempos. Fizeram-no agora como o têm feito por todo o país e até pelo estrangeiro, onde o Grupo se desloca, na sua missão de exibir, com galhardia, o folclore da região das Gafanhas. Ontem, o GEGN, para além da responsabilidade de organizar os festejos em honra da Senhora dos Navegantes, em parceria com o Stella Maris e com a paróquia de Nossa Senhora da Nazaré, e ainda com o apoio da Câmara Municipal de Ílhavo, da Administração do Porto de Aveiro e de outras entidades, oficiais e particulares, também ofereceu um Festival de Folclore, que contou com a participação do próprio Grupo e dos Grupos de Cantares da Associação Cultural da Azurara da Beira (Mangualde) e Danças e Cantos dos “Olhos de Água” (Pinhal Novo - Palmela). Soube bem saber que, afinal, o Folclore teve o seu lugar ao lado dos Grandes Veleiros, que atraíram milhares de pessoas à nossa terra.
FM

OUTONO

O Castanho e as Castanhas vêm aí
 
Não podemos exigir das estações do ano aquilo que elas não têm a obrigação de dar. O Outono, que hoje começa, está no seu legítimo direito de começar com chuva e, para já, sem sol à vista. Querer o contrário, isto é, um dia luminoso e bonito, é pedir o ilógico. Portanto, há que aceitar a natureza, com tudo o que ela tem para nos oferecer em cada época do ano. 
O importante, a meu ver, é criarmos em nós o gosto por descobrir no Outono, se possível, o belo até no horroroso. Será um exagero, mas tem uma pontinha de verdade. Assim, até me está a saber bem ouvir a chuva a cair nesta manhã sombria, sem ponta de sol, sem ponta da alegria esfuziante que um dia de Primavera ou de Verão nos pode proporcionar. 
E não é verdade que, com o Outono, vamos poder apreciar a beleza e a riqueza do castanho com todos os seus matizes? E também não é nesta época que podemos saborear as castanhas assadas, mesmo que elas venham embrulhadas numa folha de jornal ou de lista telefónica? 

F. M.

domingo, 21 de setembro de 2008

Senhora dos Navegantes na Festa da Ria



Nós, os da beira-mar e beira-ria, somos assim, no dizer poético do primeiro bispo da restaurada Diocese de Aveiro, D. João Evangelista de Lima Vidal: nascemos “na proa de alguma bateira…” e “somos feitos, dos pés à cabeça, de Ria, de barcos, de remos, de redes, de velas, de montinhos de sal e areia, até de naufrágios. Se nos abrissem o peito, encontrariam lá dentro um barquinho à vela, ou então uma bóia ou uma fateixa, ou então a Senhora dos Navegantes". 


A festa, de que falei por aqui algumas vezes nos últimos tempos, mostra isso mesmo. Começou no sábado, no Stella Maris, também a celebrar uma data festiva, para lembrar a bênção da primeira pedra do actual edifício-sede, que aconteceu em 18 de Setembro de 1983. 
Na homilia da missa de acção de graças, presidida pelo nosso bispo, D. António Francisco, não faltou o momento para a evocação de quantos, ao longo de décadas, contribuíram para que esta instituição fosse, realmente, uma âncora para muitos trabalhadores do mar e suas famílias. Mas D. António soube dizer, com oportunidade, que importa agora alimentar “perspectivas de futuro”, respondendo a outros desafios e avançando por “novos caminhos”, sabendo “remar com os ventos da esperança”.
Hoje, à tarde, a procissão pela ria, com a Senhora dos Navegantes no barco “Jesus nas Oliveiras”, rodeada de gente que se acomodou à sombra da sua bênção, foi um sinal expressivo de fé, graças ao trabalho do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, que em boa hora levantou do esquecimento esta iniciativa do Padre Miguel Lencastre. 
D. António Francisco, com presbíteros e diáconos do arciprestado, associou-se, presidindo à festa da ria, dos marítimos e suas famílias, bem como das gentes da borda d´água, ávidas de algo diferente, que lhes acicate o sentido do divino. Ali vimos irmandades, a Filarmónica Gafanhense, Grupos Folclóricos, autoridades civis e militares e o povo a emoldurarem o ambiente. Barcos grandes e pequenos, de trabalho e de turismo, e muita gente engalanaram a ria até ao Forte da Barra, passando por São Jacinto que soube, como manda a tradição, honrar Nossa Senhora, com gestos expressivos de devoção à Mãe de Deus, que vela permanentemente por todos os que sulcam as águas dos oceanos e da nossa laguna. 
Uma volta pela Meia-Laranja, antes da Senhora dos Navegantes chegar à sua capelinha, no Forte da Barra. A eucaristia, animada pelos grupos etnográficos convidados para a festa, foi outro momento alto. Na véspera, no Stella Maris, D. António Francisco lembrou que, com Nossa Senhora, aprendemos a chegar a seu Filho Jesus, estabelecendo, com Ele, um verdadeiro diálogo de esperança. E foi isso, decerto, o que aconteceu durante a missa celebrada junto da Senhora dos Navegantes, no Forte da Barra, antes de todos demandarem outras festas. 

Fernando Martins

Bairrismos doentios

“TURISMO DO CENTRO DE PORTUGAL”
É público que a nova Entidade Regional de Turismo do Centro, designada por “Turismo do Centro de Portugal” poderá ficar sedeada em Aveiro. Numa manifestação doentia de bairrismo provinciano, o presidente da câmara coimbrã, Carlos Encarnação, segundo li no Diário de Aveiro de hoje, considera “aberrante” esta decisão e ameaça que Coimbra não integrará a nova estrutura de turismo, se tal ideia for por diante. Pensava eu, talvez na minha ingenuidade, que os bairrismos saloios estariam a diluir-se na sociedade democrática e que o respeito pelos outros tenderia a impor-se. Mas não, afinal. Não tem conta o número de vezes que diversos departamentos regionais foram instalados em Coimbra e noutras cidades, em desfavor de Aveiro, sem que ameaças ofensivas como as de Carlos Encarnação tivessem surgido, que me lembre, por estas bandas. Discordar é uma coisa. Ameaçar, por retaliação ou chantagem, é outra. Coimbra tem todo o direito de dizer que não concorda. Mas cheira-me a ridículo ameaçar que não fará parte do “Turismo do Centro de Portugal”, se este organismo ficar com sede em Aveiro. Se todos nos comportássemos assim, seria bonito! FM

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 95

A GEOGRAFIA... E OS MAPAS
Caríssima/o: Viajar de comboio pelas pontas dos dedos..., poderia ser este o ponto de partida para um conto de encantamento ou para uma viagem interminável de terror sem fim. Mas o que estava em jogo era a aprendizagem da Geografia ou Coreografia de Portugal (Continental, Insular e Ultramarino, com passagem rápida pelo Brasil e seus estados e pelo Mundo Universo...). Não se trata, pois, de ir, ir e não voltar! Ali, naquela Escola do Ti Lopes, estudava-se com afinco para preparar o exame e, na quase totalidade, tirar o “passaporte” para o mundo do trabalho. Como já disse, «o Professor mandava-os sempre para aquele quarto, onde se sentavam no chão, cada um no seu canto, e aí cantarolavam palavra a palavra até papaguearem as vírgulas e os acentos. Quando a cantilena diminuía de intensidade, sinal de que o estudo chegara ao fim, logo um recado os chamava para a sabatina!...» e o “saber” era debitado desde a rosa dos ventos (vá lá a nossa cabeça matutar para descobrir porquê 'rosa' e ainda mais 'dos ventos'!...) até à leitura do planisfério que, noutros painéis, se transformava em mapa-mundi, e ia passando pela situação de Portugal, os limites ou fronteiras, as serras, os rios, os cabos,... o clima, as produções, as indústrias, as termas, ... e por aí fora; ah, vinham depois os Açores, a Madeira, Cabo Verde... até Timor, tintim por tintim, não fosse esquecermos que o pico mais alto de Portugal era o Pico de Ramelau!... Claro que hoje é motivo de muita admiração e de incomensurável incredulidade para os de tenra idade o armazenamento de tantos dados na nossa memória! Mas eles ficavam lá e expandiam-se quando a pergunta do examinador era disparada..., não podia sair aos tropeções ou engasgada, tinha de ser pronta, rápida, certeira e com certo ar de felicidade atingida... Mas... para que servia todo esse “saber” engavetado? Era assim, e ponto final. Ainda há dias falando com um antigo companheiro destas lides, ele comparava os conhecimentos que acumulou (e até lhe serviram para ... e para...) com o que seus netos não sabiam: - Olha, é uma tristeza! Ainda hoje sei as serras todas e os sistemas... (E mais do que depressa a cantilena: 'sistema galaico-duriense...Para os mais novos convém esclarecer que as serras estavam distribuídas em quatro sistemas como se de quatro ligas de futebol se tratasse...) E eu ia sorrindo, ouvindo recordando e contrapondo ao que o Oliveiros ia declamando, agora já com os olhos fechados... Também eu ainda criança fora para o Liceu de Aveiro e, no primeiro ano (esta coisa de termos que traduzir tudo complica um pouco as coisas: o primeiro ano equivale, na numeração que não em conhecimentos nem em valências, ao actual quinto...), ora dizia que no primeiro ano a nossa doutora de Português indicou um tema para uma redacção (os mais novos poderão traduzir por 'composição', embora...); o tema era o mais simples que se possa imaginar e não tinha grau superior de dificuldade, mas embaraçou o nosso estudante que tartamudeou: - Senhora Doutora, não posso fazer a redacção!... A professora sorriu incrédula e perguntou: - Então por quê? - É que... eu nunca vi um comboio... Era verdade: como poderia escrever sobre 'o comboio' se nunca o tinha visto, ele que morava ali na Gafanha e já frequentava o Liceu!? As coisas que o ensino tecia! Manuel

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

REGATA DOS GRANDES VELEIROS

FESTA NO PORTO DE AVEIRO

Os Grandes Veleiros chegaram ontem, para partirem, no dia 23, rumo ao Funchal. Ali, com a sua presença, vão associar-se aos 500 anos da fundação da capital da Madeira. Hoje, depois do cerimonial da chegada, iniciou-se a visita aos Veleiros. Em terra, como podem ver, houve momentos de alegria.

ÍLHAVO: Fórum Náutico

Creoula
A bordo do “Creoula”, numa viagem entre Lisboa e o Porto de Aveiro, foram traçadas as coordenadas do “Fórum Náutico do Município de Ílhavo”. Delinearam-nas 14 entidades das 18 convidadas pela autarquia ilhavense, sublinhando o presidente Ribau Esteves que este foi um passo importante, com vista a criar “uma plataforma institucional de grupo e de conjunto que vai valorizar esta área tão importante e cada vez mais atractiva”, em especial no sector náutico de recreio, conforme pude ler no Diário de Aveiro. Esta aposta pretende congregar todas as isntituições ligadas ao mar e à ria, nomedamente, clubes, empresas e marinas, em especial para incentivar o gosto pelas actividades náuticas, promovendo a região, sob todos os pontos de vista.

REGATA DOS GRANDES VELEIROS

De hoje até à próxima terça-feira, 23 de Setembro, o Município de Ílhavo acolhe, no Terminal Norte do Porto de Aveiro, a Regata dos Grandes Veleiros. Uma iniciativa de grande impacto, que conta com a parceria do Porto de Aveiro. A iniciativa da passagem por Aveiro da Regata dos Grandes Veleiros é da Câmara Municipal de Ílhavo. Venha visitar alguns dos maiores e mais belos veleiros do mundo. A cerimónia de abertura realiza-se este sábado. Com início às 14:00, vai decorrer no Porão de Salgado do Navio-Museu Santo André. Meia hora mais tarde começam as visitas aos Veleiros. Às 16:00, no Jardim Oudinot, realiza-se a “Corrida Mais Louca da Ria 2008”. A animação no Jardim Oudinot prossegue até à uma da manhã de domingo.


Fonte: Newsletter do Porto de Aveiro

Festa de Nossa Senhora dos Navegantes

Só tive contacto com a festa em honra de Nossa Senhora dos Navegantes aí pelos meus quinze anos, nos anos sessenta. Todavia, pelas conversas a que assistia à mesa apercebi-me da sua particularidade em relação a todas as outras: era a uma 2ª feira, patrocinada por um organismo público -a JAPA- e mexia com o comércio em Aveiro que era normal fechar neste dia. Não sei se para possibilitar a participação nos piqueniques no Jardim Oudinot, se por respeito à reabertura da Barra que revitalizou a cidade após anos de incertezas durante os períodos em que esteve encerrada, se por ambas as razões. O certo é que as conversas sobre esta festa nos tempos idos me deixou esta ideia de diferença. Mesmo antes de a conhecer me apercebi que as pessoas que a procuravam tinham uma conduta diferente. Havia um acorrer de gentes das redondezas que se identificavam com esta festa e ao vê-los passar sabia para onde iam ou de onde vinham. A festa começava e acabava na 2ª feira. Era usual no regresso trazerem um penacho daqueles arbustos que ornamentavam o jardim e essa foi para mim durante muito tempo a imagem de marca desta festa. Numa família ligada à vida do mar era natural evocar muitas vezes Nossa Senhora dos Navegantes e a data desta festa era por vezes usada como referência ao regresso dos navios empenhados na pesca do bacalhau. Os povos da Gafanha viviam esta festa com grande adesão. Ficava-lhes mesmo à porta e permitia mais um dia de folguedo. Depois desta só a Nossa Senhora das Areias, em São Jacinto. Dalgumas histórias que ouvi de tempos que não vivi lembro uma passada com os meus avós aqui da Gafanha: depois de folgarem na Nossa Senhora da Saúde no Domingo, passaram à Nossa Senhora dos Navegantes na 2ª feira. Ao fim da tarde regressaram a casa moídos e cansados. O meu avô adormeceu na cozinha enquanto a minha avó tratava das lides domésticas. Findas estas, e já mais recuperada acordou o marido pois apetecia-lhe ir ao Fogo. Ele respondeu-lhe que já tinha festa que chegasse e voltou a adormecer. Para que ele não arrefecesse a minha avó cobriu-o com uma manta de lã de ovelha que tinha tecido em solteira. Do cabide retirou o gabão do meu avô que envergou, cobriu a cabeça com o capuz e arrancou para a festa. Não havia iluminação pública e o gabão ajudava a disfarçar a ousadia de uma mulher de se meter sozinha ao caminho. Na festa, num botequim iluminado por um gasómetro petiscou umas enguias fritas enquanto esperou pelo Fogo. Findo este comprou uma rosquilha ao desbarato e regressou a casa. Ao outro dia à merenda serviu rosquilha e chouriça ao meu avô. Ele foi petiscando distraidamente até que reflectiu que o gosto era diferente do da côdea de broa habitual e perguntou: “onde arranjaste a rosquilha?” Ela respondeu: “no Fogo da Nossa Senhora dos Navegantes.” Ele só disse: “o teu juízo anda mais alto que o Farol.” João Marçal

Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro

Hoje, pelas 21:30, no Centro Cultural de Ílhavo, vai realizar-se o Concerto de encerramento das Comemorações do Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro. Participações do Coro da Casa do Pessoal do Porto de Aveiro (direcção: Artur Pinho), Coral de Salreu (direcção: Daniel Fernandes), Coro de Santa Joana (direcção: António Costa), Coro Infantil de Santa Joana (direcção: Susana Matos e Sandra Morais), Orquestra Filarmonia das Beiras e da soprano Ângela Alves (direcção: Artur Pinho). Realce para a estreia absoluta de “mar da Alma – Pistis Sophia”, obra encomendada pela Administração do Porto de Aveiro para celebrar os 200 anos da abertura da Barra de Aveiro. A obra é da autoria de Rui Paulo Teixeira, contando com a direcção musical do Maestro Artur Pinho.
Fonte: Newsletter do Porto de Aveiro

O BOSÃO DE HIGGS E O LIVRO DO GÉNESIS

Quem, no passado dia 10, se não sentiu entusiasmado com o sucesso do início da megaexperiência em curso através do megaacelerador de partículas no CERN, na fronteira entre a Suíça e a França? Há um modelo-padrão na Física, mas há uma partícula que falta, o famoso bosão de Higgs. Ela está prevista pela teoria. Mas, como disse o físico Carlos Fiolhais, ela pode não aparecer. "E podem aparecer outras partículas, o que significaria que a teoria actual teria de ser revista". O próprio cientista deixa-se fascinar pela "imaginação da Natureza". De qualquer forma, o conhecimento humano do Universo avança e está em expansão... É natural que também os crentes sejam arrastados pelo entusiasmo da investigação e se esforcem por fazer avançar o conhecimento da realidade a nível científico. No caso cristão, trata-se mesmo de uma exigência da fé. De facto, no Evangelho segundo São João, está escrito que "no princípio havia o Logos (Razão, Palavra); o Logos estava em Deus e o Logos era Deus. Por Ele é que tudo começou a existir". Isto significa que, se o mundo foi criado pelo Logos, o mundo é racional e deve ser investigado racionalmente pelos seres humanos. Frente ao carácter gigantesco da experiência em curso, que nos deveria levar à máxima proximidade do que se seguiu ao Big Bang, alguns cientistas chegaram a utilizar linguagem quase religiosa para a designação do bosão de Higgs, dando-lhe o nome de "partícula de Deus". O físico Michio Kaku escreveu: "Esta máquina, o superacelerador, levar-nos-á tão perto quanto humanamente é possível à maior criação de Deus, a Génese. É uma máquina da Génese, concebida para estudar o maior acontecimento de toda a história: o nascimento do Universo". Neste enquadramento, o Prémio Nobel da Física Steven Weinberg disse que as descobertas esperadas podem diminuir a importância de Deus na nossa compreensão do Universo. Anselmo Borges Leia todo o artigo no DN

Senhora dos Navegantes

Sofre a festa da Senhora dos Navegantes, que vai ter lugar no Forte da Barra, Gafanha da Nazaré, durante este fim-de-semana, pode ler, em Galafanha, algumas considerações históricas, e não só, para ficar a saber mais um pouco.
FM

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Menos retórica e mais ajudas concretas

“Diziam-me há dias que Portugal era, na Europa, o país com as maiores manchas de pobreza concreta. Não vi dados comprovativos nem comparativos, por isso não afirmei nem neguei. Sei apenas que abundam expressões e situações de pobreza escancarada e envergonhada, com tendência a aumentarem. Também sei que, por vezes, nos diversos sectores de vida - políticos, religiosos, empresariais, culturais - há mais retórica que acções concretas. Os pobres, incapazes de saírem, por si, das valas profundas para onde foram empurrados, são um grito permanente pela justiça, partilha efectiva de bens, reconhecimento e defesa de direitos humanos não promovidos, nem respeitados. Um grito que tem de nos acordar e incomodar. Muitas situações podem resolver-se se todos quisermos. Quando o conseguirmos, temos mais autoridade para exigir a quem pode que resolva o que nos ultrapassa."
António Marcelino Leia todo o artigo no CV

Sem Ciúmes

Eu identifico-me, presentemente, com três praias: Barra, Costa Nova e Figueira da Foz. Gosto de outras, mas estas enchem-me as medidas, por razões pessoais. Aqui ficam três fotos, com as legendas que justificam as minhas opções. Mas que fique claro: não quero que haja ciúmes entre as minhas três praias. 


BARRA

Gosto da praia da Barra porque nasci a dois passos do seu mar e do seu areal. Desde tenra idade, identificava, na noite silenciosa, o som cadenciado das ondas a estenderem-se na praia, o trabalhar dos motores das traineiras a saírem para o mar, o rugido da ronca a anunciar nevoeiro na costa, a luz do farol com avisos à navegação. Agora, que preciso de caminhar, a praia da Barra dá-me a possibilidade de entrar no mar, um bom quilómetro, pelo molhe sul, para sentir distintamente a maresia, o palpitar do mar, ora sereno ora bravio. Mas ainda para me deliciar com horizontes largos, aqui e ali assinalados por navios que passam ao largo ou entram na barra. 

  
COSTA NOVA

A Costa Nova também me está no sangue e na alma. Os sons confundem-se ou misturam-se, irmãmente, com os da Barra. E se o mar é o mesmo, a laguna que bordeja a povoação, com 200 anos de vida, enche-nos a alma de paz. Olhando-a, de pertinho, ali estão a beijar-nos os pés a sua água transparente, os seus barquinhos à vela que nos convidam para viagens de tranquilidade, os pescadores na safra que os alimenta, a vontade de dar um saltinho até às Gafanhas, com ponte à vista Ao longo da ria, na Costa Nova, há sempre a possibilidade do encontro com outras gentes que procuram um ar cada dia diferente. 

  FIGUEIRA DA FOZ

A praia da Figueira da Foz foi, para mim, uma conquista tardia. Nem por isso deixo de a admirar, como se pode e deve admirar uma terra com tradições antigas na arte de aproveitar o sol à beira-mar, sobretudo para a burguesia. Depois, e bem, democratizou-se, e hoje a praia da Figueira é de toda a gente. Aquela marginal a perder de vista, com areal de um lado e vida urbana do outro, com o oceano, ao longe, a desafiar-nos, tudo isto me encanta em dias de menos vento e de mais sol. Gosto de por ali caminhar, cruzando-me com quem passeia tranquilamente ou insiste em perder peso, com gente jovem e menos jovem, a pé ou de bicicleta e sempre com a serra da Boa Viagem à vista. Fernando Martins

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Uma Pedrada por Semana

Os ordenados escandalosos que já não escandalizam
A revista Sábado (4-10 de Setembro) dá nota dos ordenados maiores, recebidos por portugueses e estrangeiros que cá trabalham e vivem: dos políticos aos empresários, dos actores aos gestores, dos banqueiros aos futebolistas, dos médicos aos juízes, dos apresentadores de TV aos advogados… São sessenta personalidades, na sua maioria caras conhecidas de todos nós. E diz-se na reportagem como se fez o apuramento e quais as fontes de informação usadas… De longe, bem de longe, os futebolistas estão no top. Um futebolista do FCP recebe vinte vezes mais que o Procurador Geral da República; uma actriz da SIC mais que o Primeiro Ministro; um apresentador da TVI sete vezes mais que os Presidentes do Supremo Tribunal da Justiça, do Tribunal Constitucional ou do Tribunal de Contas… Eu gostava de ser capaz de ler, ver e comentar, com objectividade, esta realidade. Nem tento. Todos sabemos que há trabalhos que, pela sua complexidade e responsabilidade, devem ser bem pagos, de outro modo não há quem os faça com competência… Mas outros, por exemplo no mundo do futebol, com ordenados mensais de 114 mil, 107 mil, 85 mil euros… E eu até gosto de futebol. Não entendo e, antes que grite o que me vai cá dentro, é melhor calar… Por agora.
António Marcelino
In CV

Mons. João Gaspar submetido a uma operação

Soube, pelo Correio do Vouga, que Mons. João Gaspar foi submetido a uma intervenção cirúrgica, no passado dia 9 de Setembro. Considerada uma “operação ligeira”, o Vigário-Geral da Diocese de Aveiro deixou no dia seguinte o Hospital, encontrando-se agora em repouso. Desejo rápidas melhoras a Mons. João Gaspar, na esperança de que retome, o mais breve possível, as suas actividades eclesiais e culturais.

FIGUEIRA DA FOZ: CAE COM ARTE

Conforme prometi, passei hoje pelo CAE (Centro de Artes e Espectáculos) da Figueira da Foz. Para olhar o parque das Abadias, mas também para sentir o palpitar artístico desta cidade de encantos vários. Antes do café da manhã, no bar onde se respira tranquilidade, agora sem o incomodativo tabaco, passei por exposições de dois jovens artistas: Paula Ferrão e Rui Santos.
PAULA FERRÃO
Paula Ferrão, natural de Coimbra e licenciada em Artes Plásticas – Ramo Pintura, expõe Imagens Sem Título na Sala Zé Penicheiro. Curiosamente, Zé Penicheiro, natural da Figueira da Foz, está tão identificado com as paisagens, cores, traços, sombras e silhuetas da nossa Ria de Aveiro. Paula Ferrão, usando uma técnica mista, teve como ponto de partido, como se lê no desdobrável promocional, a imagem fotográfica, apoiando-se no “ponto de vista de quem está por detrás da objectiva”. Deixa-nos como desafio a descoberta do lugar da pintura perante a realidade da fotografia. Bom desafio este de Paula Ferrão, numa altura em que o choque (se é que ele existe) entre fotografia e pintura confunde as pessoas, quando confrontadas com as técnicas da manipulação da arte fotográfica, inúmeras vezes ensaiadas por diversos fotógrafos. A artista pintou, neste caso, à volta do espaço real envolvido pelo imaginário claramente patente em rostos, cores e posições. Fico, agora, à espera que a Paula Ferrão dê o salto, deixando, progressivamente, os sinais do figurativo. A imaginação terá o seu lugar, mais tarde ou mais cedo, nesta artista. Uma exposição a ver, sem falta, até 21 de Setembro.
RUI SANTOS

Rui Santos, figueirense com apenas 17 anos de idade, apresentou Paisagens da Figueira na Sala Afonso Cruz. Não é todos os dias que podemos ver uma exposição de fotografia artística de um jovem com esta idade. E quando tal acontece, tenho realmente de me regozijar. Olhei, por isso, a sua exposição com redobrada curiosidade. O Rui Santos manifestou interesse pela fotografia desde tenra idade. Em 2005, porém, a dedicação intensificou-se e hoje mostra uma maturação, que há-de crescer muito mais, porque tem obrigações que não pode descurar, por ama aquilo faz. Um artista nunca atingirá a plenitude, o que o leva, naturalmente, a colocar à sua frente metas cada vez mais altas. Nesta mostra, que está patente até 30 de Setembro, há fotografias que revelam uma sensibilidade muito grande para captar cores, com o sol e o jogo de luzes e sombras a marcarem presença muito forte. A Figueira está ali, bem visível, com reflexos de um jovem que tem olhos para ver e arte para captar o que vê.

FM

PONTES DE ENCONTRO

A FALÊNCIA ESTÁ AÍ!
Já por diversas ocasiões, tenho feito referências, nomeadamente neste blogue, à necessidade de uma nova arquitectura internacional, capaz de garantir a satisfação dos mais elementares direitos humanos como, por exemplo, o direito à alimentação diária, de todas as pessoas, ao mesmo tempo que dê um impulso decisivo à resolução dos gravíssimos problemas mundiais que, há décadas, se encontram por resolver pela comunidade internacional, através de acções concretas das suas instituições. Diz o provérbio que “não há pior cego do que aquele que não quer ver”, ou seja, a sociedade internacional tem sobre si toda uma série de dados, indicadores, avisos e ameaças concretas, que já ninguém pode disfarçar como não existentes ou, então, minimizar como não prioritários e importantes na sua resolução. Há poucos meses, quem é que imaginava, a nível do pacato cidadão dos chamados países desenvolvidos, nos quais se inclui Portugal, que a questão da escassez de alimentos ou dos seus brutais aumentos, começasse a colocar-se como uma ameaça séria, para os próprios países desenvolvidos, nestes primeiros anos do século XXI? Já não bastavam os gravíssimos problemas, que se arrastam, indefinidamente, no tempo, relativos à falta, sistemática, de alimentos suficientes para alimentar tantas populações do continente africano, entre outros, cuja resolução está longe de se encontrar num estado satisfatório, como ainda se (re)confirma que a lógica de pôr um novo problema em cima de um ainda não resolvido persiste e não tem tendência para ficar por aqui. A chamada crise financeira internacional está aí a demonstrá-lo, inequivocamente! Em linguagem empresarial, a conclusão óbvia a reter é que a arquitectura internacional, em vigor, está falida e, como qualquer empresa falida, deve dar o seu lugar a outras, capazes de se adaptarem às novas realidades, aos novos tempos e com novos protagonistas. Quando se fala em novos conceitos de inovação, aprendizagem permanente, globalização, reestruturação constante, investigação aplicada, adaptação às novas realidades e de muito mais que se queira acrescentar à lista, fica a ideia de que tudo isto é para aplicar a seres de outras galáxias e não a toda uma série de organismos internacionais que mais parecem viver ainda no tempo em que foram criados. A ONU (1945), a Organização Mundial de Comércio (1994), o Fundo Monetário Internacional (1945) ou o Banco Mundial (1944) são exemplos de organismos parados no tempo ou amarrados a poderosos interesses que os impedem de se reformularem e com eles a sociedade e o que dela imana. Não está em causa a existência destas instituições – cada vez mais necessárias –, mas sim a forma como insistem em se manterem num mundo que já nada tem a ver com as realidades e os contextos em que foram e para que foram criadas. Estamos, pois, perante, uma série de crises estruturais, das quais a do sistema financeiro norte-americano é a mais recente, que já não se resolvem com as duvidosas receitas de antigamente, tão de agrado de alguns. O não criar condições para a existência de um comércio mundial livre e justo, o não reestruturar toda a economia mundial, para que a riqueza seja melhor distribuída por todo o planeta, o querer lucros desmesurados e a qualquer preço, a falta de regulação e regulamentação dos mercados, entre outras causas que podiam ser, aqui, referidas, são alguns dos obstáculos que estão a impedir um progresso e um desenvolvimento sustentado e partilhado por todos, que garanta a paz, preserve o ambiente e dignifique o homem. Se os principais dirigentes mundiais, designadamente os políticos e economistas, persistirem em fazer que não percebem esta nova realidade e a não querer ver os múltiplos desafios – e oportunidades – que ela comporta em si mesmo, para o presente e o futuro do mundo, é porque continuam a insistir em por remendos num pano gasto e roto, cuja factura acaba, como sempre tem sucedido, por ser paga pelo cidadão comum, que em nada contribuiu para que se atingisse este estado caótico e imprevisível.
Vítor Amorim

Carimbos terríveis

Regresso de Paulo Pedroso 
à Assembleia gera desconforto

Li hoje no Público que o regresso de Paulo Pedroso à Assembleia da República está a gerar algum desconforto entre os deputados socialistas. Isto mostra quanto a política, ao nível dos interesses partidários, é uma entidade sem alma. É conhecido que Paulo Pedroso foi acusado de estar envolvido no crime da pedofilia da Casa Pia. Recordo-me bem do seu sofrimento e da luta que teve de travar para se libertar dessa acusação. Esteve preso e suspendeu a sua intervenção política, por questões de ética. O tribunal arquivou o processo por falta de provas credíveis e o Estado foi obrigado a indemnizá-lo por danos materiais e morais. Julgando-se livre das peias que o envolviam, entendeu que seria hora de retomar os seus direitos cívicos e políticos. Alguns camaradas seus, do seu PS, admitem agora que, mesmo assim, a sua presença na Assembleia da República é incómoda para o partido. A vida tem destas coisas. Põe carimbos terríveis numa pessoa e recusa retirá-los por interesses mesquinhos. Sem mais comentários.

 FM

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Jornalismo reumático

Há dias, um blogue de gente amiga, falou de “jornalismo reumático”, a propósito da visita do Papa a França. Referia-se, obviamente, ao jornalismo que ignora o essencial, favorecendo o que possa vender notícias: o polémico, o insólito, a ofensa, a calúnia, o escabroso, o crime de faca e alguidar. Dir-me-ão que esse é que é o verdadeiro jornalismo, na linha daquela teoria que diz que notícia acontece quando é o homem que morde o cão e não o contrário. Mas eu não posso alinhar nisso, porque tal seria negar a essência do jornalismo, que deve apostar na informação isenta e plural, na formação do homem todo e de todos os homens e no divertimento saudável. Tenho para mim que um jornalismo pela positiva valoriza o que é deveras importante para a sociedade e para as pessoas, mesma que vá contra a corrente. Porém, isso nem sempre acontece. Nas reportagens sobre a visita do Papa, o que de doutrinário e de catequético ele sublinhou, o que ele falou de estimulante para os católicos e para os homens de boa vontade, nada disso despertou qualquer interesse em muitos jornalistas, mais voltados para temas que Bento XVI, no seguimento dos Papas que o antecederam, já andará cansado de tanto deles falar: aborto, eutanásia e missas em latim. Quando leio reportagens de acontecimentos relevantes da sociedade, por vezes fico espantado com as banalidades que alguma comunicação social aborda, ficando-se por resíduos marginais e esquecendo o que os intervenientes sublinharam de fulcral. O essencial, a matriz das intervenções, isso ficou apenas para quem esteve presente. O tal “jornalismo reumático” não teve pernas para lá chegar.
FM

Senhora dos Navegantes no Forte da Barra - 5

Procissão: na hora da partida para o Forte
5 – Tradição a manter-se Sou dos que pensam e defendem que as boas tradições devem ser mantidas e cultivadas, no sentido de que, tudo quanto faz parte da nossa identidade, precisa de estar na base do futuro. Futuro sem raízes na história pode estar condenado a ser absorvido por hábitos que nada nos dizem. Daí a importância de continuarmos a apostar nas festas religiosas, de tradição popular, embora imbuídas de projectos mais ambiciosos, isto é, que possam enriquecer as pessoas, levando-as a viver a fraternidade e o espírito do bem e do belo mais aberto aos outros. Antigamente, a Festa da Senhora dos Navegantes unia as pessoas da região, de tal forma que Aveiro e Gafanhas suspendiam os trabalhos para se juntarem em torno da sua capelinha. Participavam na missa, incorporavam-se na procissão, pagavam as suas promessas, conviviam umas com as outras, saboreavam as merendas no Jardim Oudinot, ouviam música, cantavam e dançavam. E ainda consta que, na festa, muitos jovens se conheceram, muitos namoricos se iniciaram e alguns casamentos se combinaram. Tudo à sombra de Nossa Senhora dos Navegantes.
FM

Figueira da Foz

Jardim interior do CAE
Da minha janela vejo o CAE (Centro de Artes e Espectáculos) da Figueira da Foz, por onde passarei hoje à tarde. Para além da tranquilidade que ali se respira, poderei ver algumas exposições, de que darei nota por aqui. Será uma curta semana, também com mar à vista e a perder de vista.