segunda-feira, 21 de abril de 2008

PONTES DE ENCONTRO


ADOLESCÊNCIA: SERÁ A CULPA DA IDADE?

A Organização Mundial de Saúde – OMS – define os adolescentes como sendo indivíduos, de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 10 e os 19 anos.
De qualquer modo, não existem escalas de medida nem fronteiras estanques que tornem estas faixas etárias absolutas e definitivas, sobretudo quando se olha para um período da vida humana longo e marcado por profundas transformações fisiológicas, psicológicas, afectivas, intelectuais e sociais, vividas num determinado contexto cultural.
Mais do que um período longo,”que começa ali e acaba acolá”, importa ter em conta que a adolescência é um processo com características próprias, dinâmico, de passagem entre a infância e a idade adulta, onde ninguém fica de fora ou pode ser alheio.
Que condições é que os educadores dão aos adolescentes para que estes possam viver, o melhor possível, as diversas fases do seu crescimento é uma questão que cada um deve colocar a si mesmo.
Muito do que ocorre na vida de cada um tem, necessariamente, uma forte componente de relações interpessoais. Estas relações interpessoais aplicam-se que nem uma luva aos contactos e relações que os educadores e os adolescentes estabelecem entre si, ou seja, não se deve falar de uns sem se falar dos outros. Estão como que “condenados” a entenderem-se e a cooperarem entre si, de acordo com a idade e as características pessoais, entretanto assumidas, por cada um, a seu devido tempo. Em termos relacionais, adolescentes e adultos são interdependentes uns dos outros, sem que isto colida com o processo de afirmação da personalidade e autonomia do adolescente ou tenha que levar o adulto a atitudes, por exemplo, autoritárias, passivas ou de condescendência.
Pena é que esta vertente inter-relacional de gerações, naturalmente diferentes, no tempo e no espaço, e no modo como vivem ou sentem uma mesma realidade, nem sempre seja, devidamente, assumida, destacando a sua família, primeira responsável a educar e a preparar os filhos para as dificuldades e oportunidades do seu próprio crescimento.
Nem sempre é fácil conseguirem-se os melhores resultados, logo à primeira dificuldade e a família, e restantes educadores, têm que estar preparados para terem os seus momentos de, aparente, fracasso, assim com devem ajudar os seus filhos ou educandos a ultrapassarem os seus. É um processo gradual e evolutivo, ao longo de vários anos, sem resultados programados ou fórmulas estabelecidas, para qualquer uma das partes. Todos têm que aprenderem e adaptarem-se às circunstâncias de cada momento, questionando-as, quando necessário, para melhor as compreenderem, depois.
Paciência, carinho, compreensão, aprender a escutá-los, animá-los, estar com eles nos seus projectos, amor, segurança, saber incentivá-los e motivá-los, são algumas das ferramentas a utilizar, sempre que o adolescente necessite (e necessita) de quem o apoie, a começar pelo seu pai e pela sua mãe.
A não se optar por estes comportamentos, não é de estranhar que se continuem a ouvir expressões, ainda nos dias de hoje, proferidas pelos seus educadores, – pai, mãe, professores, por exemplo – sempre que surgem obstáculos ao adolescente, tais como: “A culpa é da idade”; “Deixem-no”; “O que tem é mimo”; “Não lhe liguem”; “O que ele quer é atenção”; “Não sabes o que é sofrer”; “Cala-te”; “Agora, não tenho tempo”; “A conversa não é contigo”; entre muitas outras que se poderiam acrescentar a esta lista.
Não estou aqui para fazer juízos pessoais destas frases assassinas, quando proferidas, mas sei que elas criam, só por si, sentimentos e emoções cujas consequências, naturalmente negativas, no adolescente, não são possíveis de avaliar, em termos imediatos.
Como católico, não posso esquecer, ainda, a dimensão catequética da adolescência, onde os catequistas, educadores da fé, têm uma importantíssima tarefa a realizar, perante este grupo etário, de modo a que ele se sinta parte integrante de um processo de aprendizagem, crescimento, aprofundamento e amadurecimento dessa mesma fé.

Vítor Amorim

APONTAMENTOS SOBRE RELAÇÕES IGREJA(S)-ESTADO (2)


1. O cristianismo constituiu, na História da Humanidade, uma revolução. “Deus é amor” e “adora-se em espírito e verdade”. Todos os seres humanos são iguais em dignidade. Não há impurezas rituais nem tabus alimentares. “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. E o que é mais: segundo o capítulo 25 do Evangelho de S. Mateus, em ordem à salvação, nada é exigido de confessional cristão, pois o determinante é profano – um critério de humanitariedade: “Destes-me de comer, de beber, vestistes-me, fostes ver-me ao hospital e à cadeia.”
2. Depois, de facto, historicamente, é o que se sabe: uma história de grandeza e de miséria. Exemplos de miséria: intolerância religiosa, guerras, civilizações arrasadas, mesquinhez dogmática, menosprezo pelos direitos humanos.
3. Quando se pensa na maldição de guerras religiosas e de discriminação por motivos de religião, a separação da religião e da política, da(s) Igreja(s) e do Estado tem de ser saudada como conquista irrenunciável da modernidade.
Sem ela, torna-se inevitável a cidadania diminuída de quem não segue a religião oficial. Por outro lado, é a própria religião que, ao confundir-se com a política, se degrada.
Evidentemente, salvaguardada a liberdade religiosa, as religiões têm o direito de tentar influenciar segundo a sua fé e valores a sociedade e as leis. O que não é aceitável é que o Estado se reja por leis religiosas: por exemplo, um Estado em que a maioria da população é católica não pode reger-se pelo Código de Direito Canónico, o mesmo devendo ser aceite, por princípio, em relação à Sharia num Estado em que a maioria da população é muçulmana.
4. O ridículo, mas sobretudo o religioso, é sempre ridículo. Como foi possível discutir, por exemplo, se Moisés era o autor do Pentateuco, quando nele se narra a morte do próprio Moisés? Como é possível pensar no Alcorão enquanto ditado por Deus, se há nele contradições? Como é possível atribuir a Deus guerras e violências e apelos ao ódio? Sem a leitura histórico-crítica dos textos sagrados, as religiões não distinguirão entre Deus e o Diabo.
Também por isso, para fugir à ignorância mútua, à irracionalidade e ao fundamentalismo, deveria trazer-se para as escolas públicas o estudo das diferentes religiões.
5. Hoje, tornou-se claro que, em ordem à paz e para evitar o choque das civilizações, se impõe o diálogo entre as culturas e as religiões.
O diálogo, porém, não pode ser unidireccional. A liberdade religiosa implica a possibilidade real de praticar a fé, abandonar uma religião, adoptar outra ou nenhuma, problemas que ainda não encontraram solução em muitos países islâmicos e não só -- pense-se no jornalista italiano Magdi Allam, muçulmano convertido ao catolicismo e obrigado a viver com escolta policial.
A injusta invasão do Iraque agravou ainda mais a situação dos cristãos no Próximo e Médio Oriente, e praticamente só o filósofo agnóstico Régis Debray tem chamado a atenção para os pedidos de socorro desses cristãos. Pergunta ele: “Quando se vai compreender que a Europa não pode fazer orelhas moucas aos SOS lançados pelas comunidades cristãs do Oriente? Esses apelos por socorro perdem-se a maior parte das vezes no vazio. Não é apenas uma questão de compaixão humanitária, mas de interesse estratégico: um mundo árabo-muçulmano desembaraçado da sua componente cristã autóctone não se condenaria apenas ao estiolamento e à esterilidade, uniformizando-se. Será tanto mais dado à guerra das civilizações quanto mais se quiser e puder proclamar religiosamente puro. A questão não é passadista nem folclórica. Trata-se do nosso futuro e não apenas europeu. A questão das minorias vai impor-se a nós como a grande questão do século, na exacta medida em que a unificação tecno-económica do mundo suscitará sempre mais a sua balcanização político-cultural.”
Embora se não possa esquecer as responsabilidades dos cristãos no Médio Oriente, são de saudar conversações em curso para finalmente se abrir um templo católico na Arábia Saudita.
Anselmo Borges
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NOTA: Há, de facto, leitores simpáticos. Desde sábado que fiz todos os esforços para colocar o artigo de Anselmo Borges no meu blogue, como é meu hábito todas as semanas. Sei que há inúmeros leitores deste docente da Universidade de Coimbra. Contudo, nada consegui, porque o DN não estava on-line. Hoje de manhã ainda desejava voltar ao DN. Antes disso, porém, recebo um e.mail com a crónica de Anselmo Borges, que me foi enviada, simpatica e oportunamente, por FCS, pelos vistos uma leitora do meu blogue. Aqui lhe agradeço o gesto bonito. Obrigado.
FM

domingo, 20 de abril de 2008

Na Linha Da Utopia



A Era da Consciência

1. A sociedade da informação e comunicação inunda todos os espaços com as suas aliciantes propostas. Normalmente, ou não fosse quase sempre o espírito publicitário a presidir às comunicações actuais, a mensagem procura ser extremamente sedutora, desafiando o consumidor a fazer contas à vida. Este “contas à vida” está muito para além dos euros das compras, pois pode representar os valores e os critérios em que cada pessoa da comunidade inscreve as suas razões e opções. Uma das questões por responder é se, de facto, hoje é mais fácil ou mais difícil “ser pessoa”. Pelo menos que é diferente de outros tempos é bem verdade… Outras épocas, e no fundo até esta época em que a informação cria padrões hegemónicos, a realidade seria bem diversa: inquestionavelmente, os mais novos aprendiam quase todo o património de valores dos mais velhos, seguindo a linhagem religiosa, as múltiplas tradições e mesmo ideias de cariz político. Estamos a generalizar, mas reinava uma ideia de que quase tudo, por obrigação (mesmo que inconsciente), passava «de geração em geração».
2. A época actual oferece mil potencialidades, mas as correspondentes incertezas e desafios. Felizmente muito do progresso abriu os mais variados conhecimentos às diversas classes sociais e a diferentes gerações. Quase que se conseguiu universalizar, «para todos», a educação; o mundo está mais perto de todos nós e nós do mundo; cada pessoa, no bem-vindo assumir da individualidade, acolhe a consciência de uma dignidade e um projecto de vida sempre únicos. Mas, não havendo bela sem senão, novos desafios, tornados responsabilidades, brotam para todos, notando-se muitas fronteiras semi-confusas no plano do fundacional entendimento das liberdades. Quando se enaltece a individualidade de cada um (pressupondo o sentido de comunidade original, «ninguém vive por si mesmo»), muitas vezes, vemos essa ideia transvazar na assunção do individualismo tragicamente indiferente em relação ao bem comum. Mau sinal.
3. Algumas concepções, mesmo tidas como de «modernas» e progressistas, que “usam” a noção da individualidade irrepetível de cada pessoa humana, acabam por gerar padrões de vida publicitados e desgarrados, e mesmo indignos, que pretendem transformar a minoria em referência de quase obrigação geral, ou então que ridicularizam (e chamam de conservador) o pensar e agir de uma maioria muitas vezes distante das grandes questões sociais. Determinadas visões, proclamadas “fracturantes”, de família, de dignidade (no nascimento) da vida humana, da eutanásia, da solidão… espelham bem as difíceis fronteiras dos princípios e valores; e quanto menos falarmos neles (na base da dignidade humana que brota dos direitos e deveres humanos), menos património de sentidos de viver as novas gerações angariam para a vida…
4. É a fascinante (e incerta) era da consciência, em que no meio da amálgama de todas as mil e uma coisas, cada pessoa já não vai “à boleia” da sua cultura, mas tem de discernir e fazer opções. É o tempo das causas, em que mesmo que o oceano vá por um lado, uma “gota de água” consciente do essencial da vida vai por outro... É essa frescura criativa e dinâmica a raiz da vida dos que dão a vida pelos ideais de todos. É preciso refrescar as raízes! Mas para isso, e acima mesmo das neurociências, hoje, qual o lugar da consciência para que ela seja alimentada na raiz?

Alexandre Cruz

CAVACO SILVA ELOGIA OBRA E ESQUECE DESELEGÂNCIAS DE ALBERTO JOÃO JARDIM


Cavaco Silva encerrou, ontem, a visita oficial à Região Autónoma da Madeira, com elogios à obra realizada ao longo dos últimos 30 anos pelo presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim. Sobre as atitudes tantas vezes malcriadas do Presidente da Madeira, com ofensas sistemáticas aos políticos da oposição regional e do Governo Central, nem uma palavra. Será que a teve em particular?
Eu sei que o Presidente da República tem uma missão muito espinhosa. Mas o seu silêncio, face às muitas grosserias de Alberto João Jardim, torna legítimas, para os portugueses de formação débil, as ofensas e as arbitrariedades de todos os políticos.

DEUS AINDA ANDA POR AÍ


"Apesar da vontade compulsiva que alguns podem ter de fundar novas igrejas, eu acredito noutro caminho, o da conversão das igrejas e das religiões, afastando o que, nelas, impede o essencial. O Vaticano II, em relação ao catolicismo, insistiu na "hierarquia das verdades". As convicções católicas não têm todas o mesmo valor. Nesse aspecto, o chama-do "pensamento débil" tem uma função importante: sorrir diante do ateísmo militante, do fanatismo religioso, de toda a rigidez. É preciso encontrar formas mais descontraídas de conversar sobre o que é essencial, sem ter à perna anátemas em nome da ciência ou da religião."


Bento Domingues, no PÚBLICO de hoje, página 46

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 74

Mapa decorativo das salas de aula

Aspecto de um museu de antiga escola primária
AS SALAS DE AULA

Caríssima/o:


Entremos então na sala de aula sem nos esquecermos de tirar a bóina ou o boné.
Junto da secretária, de pé, o/a professor/a já orienta o trabalho dos mais velhos. (Muitas vezes esta secretária está sobre um estrado: segundo uns para que todos os alunos melhor vejam a professora ou o professor; para outros será a afirmação da autoridade do mestre: está noutro plano!)
Por trás, fixado na parede, o quadro preto onde se faz muito do trabalho escolar – até houve quem escrevesse que “o quadro preto falava”! Recordo que, em época em que o papel era um bem escasso, lá se escreviam e faziam as contas e se resolviam os problemas, se demonstrava a caligrafia mas também a ortografia das palavras e, pasme-se, chegava-se ao ponto de se escrever o ditado (para o que se traçavam umas linhas quase paralelas ao comprido!)... Parece-me que estou a ver o pobre de mim todo torcido e em bicos de pés para chegar ao cimo e mais do que curvado para escrever na última linha. Os que estavam no lugar escreviam nas lousas, mas isso é outra conversa... Normalmente só havia um quadro preto; ter dois era um luxo!
No meio da parede, bem acima, estava o Crucificado, ficando dum lado a fotografia do Carmona e do outro do Salazar. (Era assim que dizíamos sem vislumbrarmos qualquer falta de respeito ou de nem sequer imaginarmos que alguém, supostamente mal intencionado, insinuasse que “Ele estava rodeado por dois ladrões”!...)
Por vezes, sobrava espaço para mapas que ali se quedavam sobrepostos e dependurados dum prego. Quantas viagens, agora ditas virtuais, efectuámos com a cabeça do dedo a rolar sobre os carris dos comboios!
Podemos ainda ver a caixa métrica que era uma sedutora para a nossa curiosidade: a sua porta vidrada fechava os segredos que mais para diante seriam desvendados. A balança, o metro articulado, os sólidos polidos, ... tudo “brinquedos” que víamos nas mãos dos da quarta classe e que eles guardavam como se de peças de um tesouro se tratasse.
E que mais?... Vejam lá que me esquecia de mencionar as carteiras, ai valha-me Deus que falta grave! Pois é, estavam alinhadas em três filas e davam em média para 40 (quarenta) alunos, sentados dois a dois; porém, chegámos a estar três e mais... Ainda hoje me pergunto como nos conseguíamos sentar, sendo certo que tínhamos de escrever e de fazer tudo o mais que a vida escolar desses tempos exigia...As carteiras eram de pau rosa, numa estrutura rígida em que o banco e a mesa de trabalho eram um todo; esta mesa era de plano inclinado. A dificuldade surgia quando a estatura do aluno não se coadunava com a altura da carteira!
Mas façam favor de entrar e de ver com os vossos olhos; é que agora até organizam museus onde conservam tudo... Portanto, é só observar; não mais palavras minhas.

Manuel

sábado, 19 de abril de 2008

FUGAS: Baixo Vouga Lagunar


No Baixo Vouga Lagunar, na zona da Ria de Aveiro, ao longo do percurso de Salreu, é possível encontrar uma enorme variedade de espécies de plantas e aves. A garça vermelha é uma das mais emblemáticas, mas Maria José Santana (texto) ficou particularmente deslumbrada com o frango d"água e a cigarrinha-ruiva, por causa dos sons que vão produzindo.
Reportagem no FUGAS, do PÚBLICO de hoje
NB: Foto da Quercus

SOPHIA NO PÚBLICO DE HOJE


Sophia de Mello Breyner Andresen

O PÚBLICO de hoje oferece a quem o compra uma pequena brochura com a biografia de Sophia de Mello Breyner Andresen. São pouco mais de 50 páginas sobre a mais expressiva e laureada poetisa portuguesa do século XX. Não diz muito, mas diz o suficiente para uma primeira abordagem à sua vida e obra.
Em busca de sintonia perfeita com o Cosmos, como se sublinha no livrinho, Sophia encontrava aí a sua mais profunda fonte de inspiração.

“Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.”

E com este belo poema vos deixo, com votos de que a leiam. Hoje e sempre. Vale a pena.

FM

GAFANHA DA NAZARÉ É CIDADE HÁ SETE ANOS



A data não foi esquecida. Ainda bem. Ainda bem, porque o povo, com as suas múltiplas preocupações, não tem tempo para tudo. De qualquer forma, neste espaço de partilha costumo alertar todos os meus leitores para datas históricas, sobretudo as que me dizem respeito mais de perto.
Quando se lutou por este estatuto, como antes para a criação da freguesia e depois para a elevação a vila, não faltou quem discordasse, alegando que a Gafanha da Nazaré não tinha, ainda, estruturas de cidade. Nunca alinhei por esses protestos. É que, como sempre acreditei, se os não tem, tem de se esforçar por consegui-los.
Não duvido de que a Gafanha da Nazaré tem bastantes infra-estruturas, decerto, até, mais do que algumas cidades, mas também aceito que tem de conquistar outras, não de rajada, que isso é muito complicado em tempos de crise, mas paulatinamente. Contudo, com persistência e determinação. A comunidade vai crescendo e novos tempos exigem novas respostas sociais, culturais, cívicas, educativas, desportivas e de lazer, mas também religiosas. Mas isso só será possível se houver unidade e conjugação de esforços, entre toda a gente. Ficarem todos à espera de que alguém faça alguma coisa não leva a parte nenhuma. Hoje, porém, não falarei disso. Lembro só que vale a pena pensar em projectos que possam contribuir para o enriquecimento da cidade. Todos lucraremos.

FM
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Lei nº 32/2001

(Publicada no Diário da República de 12 de Julho de 2001, nº 160, série I-A, página 4230)

Elevação da Gafanha da Nazaré,
no concelho de Ílhavo,
à categoria de cidade

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161º da Constituição, para valer como lei geral da República, o seguinte:

Artigo único: A vila de Gafanha da Nazaré, no concelho de Ílhavo, é elevada à categoria de cidade.
Aprovada em 19 de Abril de 2001.
O Presidente da Assembleia da República,
António de Almeida Santos

Promulgada em 7 de Junho de 2001.
Publique-se.
O Presidente da República,
Jorge Sampaio

Referendada em 29 de Junho de 2001
O primeiro-ministro,
António Manuel de Oliveira Guterres

BENTO XVI NA AMÉRICA


"É triste que tanta gente ache que a epidemia pedófila na Igreja foi uma inevitabilidade que decorre da intrínseca perversidade do clero; é triste que tantos outros considerem o caso um detalhe sem importância nem consequência. Creio, pelo contrário, que a pedofilia na Igreja foi um acontecimento repugnante mas evitável. E que muitos católicos ainda não se aperceberam do significado desta crise. Ainda há quem fale em acidentes isolados: mas foram cinco mil padres e 13 mil vítimas, só nos Estados Unidos. Que o clero católico, o mesmo que difunde uma ética exigente em tempos de caos ético, tenha estado implicado em tão grande escala em abusos de menores, eis o que não pode redundar senão em perda de autoridade moral e de confiança dos crentes."

Pedro Mexia escreveu hoje, no PÚBLICO, no caderno P2, um texto sobre a visita do Papa aos EUA. Para o ler, vá à página 2.

PONTES DE ENCONTRO


Velho, se posso e sei trabalhar?

Se já existiram tempos em que a velhice significava ter um estatuto, reconhecido, de honra, de dignidade, de sabedoria, de experiência ou de bom conselheiro, ela tende, cada vez mais, a representar um peso para a própria sociedade actual.
No dia 8 de Abril, do corrente ano, o Presidente da República, Cavaco Silva, proferiu um discurso na Fundação Calouste Gulbenkian, cujo tema era exactamente o envelhecimento.
No decorrer da sua excelente mensagem reflectiva (que deveria ser lida na íntegra), o Presidente da República afirmou, a dado passo: "No caso das empresas, questiono-me sobre se a obsessão sobre o contínuo rejuvenescimento dos seus trabalhadores se traduz sempre num ganho efectivo de eficiência e se tal não poderá contribuir para um défice de identidade, de cultura organizacional e, mesmo, de rentabilidade.”
O Presidente da República, que até é economista, sabe bem, apesar de o nunca dizer na sua comunicação, porque é que estas coisas acontecem: a busca imediata, e a qualquer preço, do lucro das empresas, sobretudo das grandes empresas de referência nacional ou internacional.
Cavaco Silva bem sabe que a lógica que vigora nestas empresas é uma lógica que visa despedir (usa-se a expressão “emagrecer”) trabalhadores experientes, competentes e úteis, usando como pretexto (falso) o rejuvenescimento dos seus quadros.
A rentabilidade e a produtividade destas empresas, só em caso muito excepcionais, passa por medidas, deste género, que são sempre bem definidas, pontuais e transitórias.
O que se pretende com estes despedimentos, camuflados de “emagrecimentos”, ou “rejuvenescimento”, é pagar, aos novos e poucos trabalhadores que são contratados, – que são, naturalmente, inexperientes – ordenados muito mais baixos e fomentar os vínculos contratuais temporários. Reforça-se, assim, a precarização do novo trabalhador, prejudicando-se, quase sempre o Cliente, pelos maus serviços que lhe começam a ser prestados e desumaniza-se a própria empresa e a sociedade, em geral.
É verdade que, no imediato, esta forma de gestão de recursos humanos dá lucro, quase instantâneo, e os accionistas entram em gáudio, só que isto implica custos elevados, a prazo, para todos: trabalhadores, empresas, sociedade, Clientes e o próprio Estado.
Pelo mundo fora, algumas das grandes empresas que adoptaram esta política desastrosa – social e economicamente – já mudaram a sua forma de actuar e começaram a contratar os trabalhadores que, anos antes, tinham dispensado.
Esta mensagem do Presidente da República merece a atenção de todos os portugueses, pois trata de assuntos que, no caso de ele estar a exercer as funções de Primeiro-Ministro, dificilmente abordaria,
São estas aparentes contradições de discurso, resultantes dos cargos que se ocupam numa ou noutra ocasião, que acabam por desacreditar os princípios da ética e da moral. Eu sei que o Presidente da República sabe que este modelo económico, a que alguns chamam de desenvolvimento e progresso, não pode continuar por muito mais tempo, pois, de outro modo, não fazia o que fez nem deixava os recados que deixou, como é óbvio, na Fundação Calouste Gulbenkian.
O nível de progresso de uma sociedade também se mede, cada vez mais, pela forma como ela vê e trata os seus idosos e não é conferindo-lhes o estatuto de inúteis ou de velhos, antes do tempo, quando estes estão em perfeitas condições para trabalhar, que ela é capaz de regenerar-se, humanizar-se, desenvolver-se e progredir solidamente. Em vez disso, regride, e não progride; escraviza e não liberta; discrimina e não congrega; divide e não une; desumaniza e não humaniza. No fundo, deseja que o homem acredite que já o não é, para que ponha em causa, o mais possível, a sua própria identidade.


Vítor Amorim

sexta-feira, 18 de abril de 2008

ARTESÃOS DA REGIÃO DE AVEIRO





A região de Aveiro é rica em artesanato. Naturalmente, também em artesãos.

Fotos do meu arquivo. Clicar nas fotos para ampliar.




REGIÃO DE TURISMO ROTA DA LUZ


"A primeira surpresa de quem visita a Região de Turismo Rota da Luz é a de tudo estar tão perto, de como em poucos minutos se pode passar dos extensos areais cheios de sol para a frescura dos pinhais e dos vinhedos, das alturas de ar vivificantes.
Porque, na verdade, apenas alguns quilómetros separam as zonas do litoral de Ovar, Murtosa, Aveiro, Ílhavo e Vagos das serranias verdejantes de Vale de Cambra e de Águeda, ou das margens do Rio Douro, em Castelo de Paiva, permitindo num dia só, bronzear o corpo numa praia e passar horas agradáveis numa paisagem de verdes e água.
A segunda é dada pela Ria, pelos seus horizontes feitos de muitos tons de azul, recortados, aqui e além, pelas pirâmides brancas do sal, as velas dos moliceiros, os milheirais e pastagens."


Fonte: Texto da Rota da Luz; Foto do meu arquivo

BENTO XVI DEFENDE PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Papa na ONU

“A promoção dos direitos humanos continua a ser a estratégia mais eficaz para eliminar a desigualdade entre os países e os grupos sociais, como também para construir um maior sentimento de segurança”, afirmou Bento XVI na Assembleia Geral das Nações Unidas. A primeira missa nos EUA não coube dentro do estádio. Ler PÚBLICO on-line, página 22.

PSD: Menezes bateu com a porta

É público que Luís Filipe Menezes bateu com a porta. Registo o facto, porque o maior partido da oposição estava de rastos, com os grandes inimigos entre os seus próprios militantes. E quando assim é, não há líder que possa resistir.
Menezes bateu com a porta, mas ainda pode voltar. Se isso acontecer, Sócrates vai continuar a cantar de galo, porque os críticos de Menezes não se calarão. Com opositores destes qualquer Governo dorme descansado.
Mesmo não sendo do PSD, nem de qualquer outro partido, embora me sinta um político no activo (a política não se vive só dentro dos partidos), tenho pena que o antigo PPD de Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Magalhães Mota e outros, não consiga posicionar-se numa alternativa credível. O pior que pode acontecer a uma democracia é uma situação como esta, susceptível de levar o Governo, qualquer que ele seja, a ter no horizonte o caminho livre para fazer o que lhe apetecer.
O que me ocorre dizer neste momento é muito simples: que o PSD encontre depressa, entre os diversos candidatos à liderança ou entre os seus membros, um líder carismático, ponderado, arguto e capaz de oferecer luta, dentro de uma sociedade democrática como a nossa. Se optar por um líder de vistas curtas, de cultura mediana e sem postura de Estado, adeus PSD.
FM

AGNÓSTICOS E IGREJA CATÓLICA


Sempre que na Igreja há qualquer acontecimento que a comunicação social realça, normalmente os primeiros comentadores vêm do lado dos que se professam agnósticos ou são conhecidos como tal. Penso que é bem que assim aconteça. É sinal de que o que se passa não deixa desatentos os que se preocupam com o evoluir da sociedade e reconhecem que a acção dos cristãos ou incomoda ou não é sempre de desprezar.
Mesmo entre estes comentadores, os tons são diferentes, as perspectivas nem sempre coincidem, o que para uns é mais ou menos indiferente, para outros não o é tanto. Há preconceitos não ultrapassados e nostalgias difíceis de apagar ou esquecer.
Não falta quem se fixe mais nas pessoas da Igreja, outros mais nas suas afirmações, sempre com um misto de cultura adquirida noutro contexto e com horizontes onde a Igreja ainda cabe, apesar de tudo. Procuro estar muito atento e apreciar, sem rótulos nem preconceitos, estas críticas. Estou convicto de que se a Igreja não atende os que não concordam com ela ou pensam que os seus caminhos devem ser outros, estará cada vez estará mais ausente de tudo e mais fechada numa torre inacessível, mas insegura.
A história está cheia de páginas que denunciam atitudes de superioridade e sobranceria de membros da Igreja, sempre carregadas de consequências que não foram de conversão evangélica.
Vasco Pulido Valente faz também a sua leitura da última assembleia dos bispos, insistindo nos incómodos da Igreja ao verificar que perde cada vez mais a sua influência na sociedade portuguesa, e conclui o seu artigo no Público (4.4.08) dizendo: “Se a Igreja quer recuperar o que perdeu, esqueça finalmente o Estado e os ridículos privilégios de que ainda goza, e venha para a rua. Não há outra maneira de ganhar uma existência pública e política”.
A Igreja quando intervém em problemas de ordem ética e moral ou de bem comum e humanização social, não pode esquecer quem actua no mesmo terreno. Como instituição religiosa que tem por missão servir, também não pode pretender a recuperação de prestígios e privilégios. A sua missão é dar um contributo, no meio do marasmo reinante e, também, do pluralismo aceite, para o reencontro normal, no seio da sociedade portuguesa, do sentido da vida e da dignificação pessoal e comunitária, no contexto cultural e histórico que nos plasmou.
Também eu estou de acordo que é na rua que se ganham as batalhas em que vale a pena entrar. A Igreja tem por vocação viver com as pessoas e sempre próxima das suas vidas. Nasceu no meio do povo, sente-se ao seu serviço, alegra-se e sofre com ele, bebe da sua sabedoria e enriquece esta com a mensagem e a solidariedade evangélica. A sua pedagogia não é de palácios, de linguagem erudita, de trato privilegiado com os senhores, sem que deixe de ser para todos e para a todos ajudar a ser mais de Deus, origem e a garantia da sua dignificação. É uma pedagogia de presença e de testemunho convincente. Foi isso que o Concílio Vaticano II lhe veio recordar, quando a levou a considerar que, por sua natureza, ela é povo e não elite, povo que serve, porque ao ser servido pela hierarquia, deve ter capacidade para se tornar um povo original, fermento e referência de valores novos e determinantes, que o tempo não pode desgastar, porque são indispensáveis na ordenação da sociedade e na relação das pessoas.
Quando se esqueceu ou menosprezou o rumo certo, deu-se mais valor ao templo, que é sempre um lugar de passagem, e menos à rua, onde a vida é concreta e se joga todos os dias o destino, se alcançam as vitórias e se sentem as derrotas.
Concordo com VPV. A Igreja tem de andar na rua, falar uma linguagem que todos entendam, dialogar com todos, concordem ou não com a sua mensagem.
O mundo laico e plural aceita a Igreja hoje, se ela aceitar e respeitar as regras do jogo.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Não te esqueças do que estás para dizer…



Vi hoje o Jerónimo. Já não o via há muito. Estava à mesa do café a dormitar, como dormitam todos os velhos. Em qualquer sítio e a qualquer hora. Cá para mim, o Jerónimo estava a ensaiar mais uma das suas muitas histórias, para contar a quem se sentasse com ele à mesa do café.
O Jerónimo é um conversador nato. Basta uma palavra dita por um amigo, em qualquer circunstância, para logo ele disparar:
- Não te esqueças do que estás para dizer…
A partir daí, começava mais uma história de um rol enorme de recordações que não tinham fim. Mas as histórias saíam-lhe com graça. Uns esgares faciais, expressivos, e mãos que enriqueciam os pormenores davam-lhe uma dimensão única. Por vezes, os ouvintes, que outra coisa não podiam ser junto dele, ainda suportavam umas palmadinhas, mais ou menos agressivas, conforme a força das convicções do orador por vocação.
- Pois é, meu caro Jerónimo. Ontem encontrei um amigo que regressou da estranja…
- Ó pá, não te esqueças do que estás para dizer! Aconteceu-me precisamente a mesma coisa. Um dia destes também dei de caras com o Xico, que não via há anos.
E lá vinha a história do Xico, que só o Jerónimo conhecia e que dava para um romance, como costumava sublinhar. Com pormenores, ora tristes ora alegres, sempre ampliados ao jeito dos bons contadores de histórias, que, de uma palavra, podem muito bem ditar lindos contos. E no ar ficou perdida a conversa interrompida.
- Ó Jerónimo, ao jantar, com a fome que tinha, comi um frango que…
- Ó pá, não te esqueças do que estás para dizer! Um dia destes, à merenda, com a minha mulher a apreciar, comi um galo de uns dois quilos… Teimava que não era capaz de o comer e quis mostrar-lhe que à mesa ninguém me bate...
Ligadas a essa outras histórias de comezainas saíam cantadas da boca do nosso Jerónimo, qual delas a mais romanceada. É que o nosso homem não era pessoa para deixar para boca alheia a arte de convencer quem o ouvia. E a conversa interrompida lá ficava, mais uma vez, para quando o Jerónimo deixasse, se alguma vez deixasse…
Um dia também eu entrei no jogo do Jerónimo.
- Quer o meu amigo saber que há tempos, à entrada da Barra, um petroleiro…
- Ó pá, não te esqueças do que estás para dizer…
Ora o Jerónimo, um oficial náutico na reforma, não perdoou a minha ousadia de entrar nos seus domínios. Vai daí, entra a desfiar uma carrada de tempestades no mar alto, barcos que eram cascas de nozes, naufrágios e heroicidades de lobos-do-mar… Até que, cansados de o ouvir, o Jerónimo, voltando-se para mim, perguntou:
- Ó pá, então o petroleiro?
- Qual petroleiro, Jerónimo?

Fernando Martins

Na Linha Da Utopia


15-0: Parabéns Magna Tuna Cartola

1. «Quinze a Zero». Foi este o irreverente resultado final escolhido para comemorar nestes dias (16 e 17 de Abril) o 15º Aniversário da Magna Tuna Cartola (http://www.magnatunacartola.net/) (MTC), núcleo cultural da Associação Académica da Universidade de Aveiro. O espectáculo, reflexo de muitos anos de inovação e criatividade na área musical académica, também já chegou à ilha virtual do Second Life da UA. Nesta hora aniversária, como em tudo na vida, vem à memória o caminho percorrido, os esforços, sacrifícios e vitórias alcançadas. Muito acima mesmo de todos os prémios recebidos, em que no panorama nacional (e mesmo internacional) as tunas de estudantes universitários em Aveiro têm merecido brilhantes reconhecimentos, os aniversários tornam-se oportunidade de apreciar e aplaudir o quanto a cidade, a vida académica e a comunidade em geral, beneficiam desta riqueza cultural que representam as tunas universitárias.
2. Para a sociedade em geral é importante dizer-se que as tunas, constituídas por estudantes, estabelecem uma ponte feliz para com a comunidade mais alargada. Essa sua dinâmica presença está espelhada em inúmeras actuações e animações ao longo de muitos anos, não só nos festivais da especialidade de tunas académicas por esse país fora e no estrangeiro, mas muito especialmente nas festas populares da região, em arraiais típicos e tradições comunitárias e, de salientar, no inestimável contributo que as tunas dão em relevantes iniciativas de solidariedade ao serviço de causas de todos. Todo o riquíssimo caminho cultural e académico realizado ao longo de muitos anos tem, neste sentido cívico de comunidade, o seu ápice como reflexo de uma visão da vida como sensibilizado serviço. Quantas actuações, noites, cansaços, viagens, ao serviço de causas de todos! Ousamos dizer que nestes 15 anos da Cartola e nas vésperas de condignas festas académicas, as tunas da UA (TUA, MTC e Tuna Feminina), que vivem o espírito de cooperação e unidade pelo bem comum, na riqueza da diversidade de cada uma, estão todas de parabéns!
3. Se formos a fazer o filme da vida, das pessoas, dos grupos informais como das associações e instituições, quase que poderíamos perguntar que seria de nós uns sem os outros? Que seria do espírito da vida académica sem as magníficas tunas? As coisas são como são, e a “energia positiva” que estes núcleos culturais trazem à comunidade universitária como animação e abertura de serviço à sociedade é um bem inestimável. Se fazer aniversário é reparar na história que vamos construindo, então será hora de apreciar as pontes que se foram criando pela mão de quem foi dando as ideias e a vida por grupos culturais estimulantes entre nós. Se 15 anos é muito tempo, todavia, é só o princípio! É bom sentir que um dia festejaremos os «30 a Zero»! A gratidão da história construída junta-se à expectativa de que comunidade que acolhe os valores da cultura e da participação é comunidade mais viva, por isso com mais futuro. É isso mesmo! Não há irreverência que (vos) pare! Venham mais 50!

Alexandre Cruz

É assim o desporto


Hoje li mágoas de benfiquistas, por causa da derrota, histórica, do Benfica. A tristeza de uns é a alegria de outros. Ensinaram-me, era eu criança, que perder e ganhar é tudo desporto. Mas a verdade é que a derrota custa sempre a engolir. É assim o desporto; é assim a vida. O importante é respeitar os adversários, que não são nossos inimigos. Mas ontem aprendi outra coisa importante. O Sporting perdia por 2 a 0 e eu perdi a paciência. Mandei-os todos à fava (os jogadores do Sporting, claro) e retirei-me para as leituras. Tempos depois recebo uma mensagem estranha no meu telemóvel: " E esta?" Mas que será isto? Ligo a televisão e a euforia, por banda dos sportinguistas, dominava os ecrãs. Vi logo... Conclusão: No futuro tenho de ter mais paciência, confiando em quem veste a camisola do Sporting!

FM

EUA: Papa fala dos abusos sexuais


“Responder a esta situação não tem sido fácil e, como o presidente da Conferência Episcopal indiciou, ela foi por vezes ‘muito mal gerida’. Agora que a dimensão e a gravidade do problema é mais claramente entendido, (os Bispos) têm sido capazes de adoptar soluções e medidas disciplinares mais direccionadas, promovendo um ambiente seguro que dê mais protecção aos menores”, disse.
Num encontro com os Bispos católicos do país, em Washington, o Papa lembrou “a dor que muitas comunidades experimentaram quando os clérigos traíram as suas obrigações sacerdotais e os seus deveres, com este comportamento tão gravemente imoral”, assegurando o apoio de toda a Igreja na tarefa de “eliminar este mal onde quer que ele ocorra”.
Num longo discurso, o Papa aprovou a política da Conferência Episcopal, que passou por dar prioridade ao cuidado das vítimas, “curando as feridas causadas por qualquer quebra na confiança”, “promovendo a reconciliação” e “indo ao encontro dos que foram tão seriamente atingidos, com carinhosa preocupação”.
Leia mais em Ecclesia

Imagens da Ria



Com organização da Escola de Vela do Sporting Clube de Aveiro e em colaboração com o Porto de Aveiro, decorreu no fim de semana de 5 e 6 de Abril a Regata “200 Anos da Abertura da Barra de Aveiro” – Vela Ligeira, enquadrada no Troféu Norte da Classe Optimist (6-15 anos). Esta regata, que se enquadra no “Projecto Aveiro Vela”, decorreu na Baía do Terminal de Granéis Sólidos do Porto de Aveiro, tendo reunido cerca de 60 velejadores Optimists dos grupos A,B e P, distribuídos por vários clubes da região norte e centro do país. De salientar a presença nesta regata de 19 velejadores da Escola do Sporting, verdadeira referência na formação de excelência de velejadores de todas as idades.

NB: Foto e texto cedidos pelo Porto de Aveiro

D. Manuel Almeida Trindade, 90 anos de vida


Se compararmos a vida a uma maratona, D. Manuel de Almeida Trindade está a entrar na recta final para o centenário do seu nascimento. Completará 90 anos de vida no próximo dia 20 de Abril. O seu natal foi em Monsanto, mas saiu de lá com apenas três anos de idade. No livro «Memórias de um bispo», da sua autoria, D. Manuel de Almeida Trindade realça: “Ficou-me na memória a configuração do penhasco recortado no horizonte azul do céu, e também a de alguns ciclópicos que eu avistava da janela da nossa casa”.


Pode ler todo o texto de Luís Santos, na Ecclesia e no Correio do Vouga

A CAMINHADA


Às vezes sentimo-nos meio perdidos, sozinhos, e sentimos a necessidade
de procurar novos caminhos para nossas vidas...
Nestas caminhadas encontramos muitas pedras...
Que lapidadas transformam-se numa jóia preciosa: a experiência!

Encontraremos pessoas mais novas...
E com elas reaprendemos a inocência perdida...
Encontraremos pessoas mais idosas e com elas aprenderemos a ser maduros...
Aprenderemos que o fogo, que queima, também esquenta as noites de frio...

Em algum momento nossa caminhada será interrompida e
aprenderemos que foi apenas uma pausa para o descanso da alma ...
Às vezes achamos que perdemos algumas pessoas,
mas depois percebemos que elas é que nos perderam.
Sentiremos medo e solidão, mas encontraremos sempre
a mão amiga d' Aquele que morreu por nós...

E se achamos que a caminhada é longa demais,
temos a garantia do abraço sempre aconchegante
daqueles que também dariam a vida por nós: nossos pais.
Ao final desta grande caminhada que se chama VIDA
percebemos que o que realmente importa são aquelas coisas
que podemos carregar dentro dos nossos corações.

Portanto, guarda somente os bons sentimentos.
Assim chegaremos com o coração leve e a mala cheia de boas lembranças...


Texto enviado pelo leitor e amigo João Marçal

ONU: QUE OBJECTVOS PARA 2015?


“Nós, Chefes de Estado e de Governo, reunimo-nos na Sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, entre os dias 6 e 8 de Setembro de 2000, no início de um novo milénio, para reafirmar a nossa fé na Organização e na sua Carta como bases indispensáveis de um mundo mais pacífico, mais próspero e mais justo.” (…) “Decidimos ainda”: 1. Reduzir para metade a pobreza extrema e a fome, até ao ano de 2015; 2. Alcançar o ensino primário e universal, até ao ano de 2015; 3. Promover a igualdade entre sexos; 4. Reduzir em dois terços a mortalidade das crianças, até ao ano de 2015; 5. Reduzir em três quartos a taxa da mortalidade materna, até ao ano de 2015; 6. Combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças graves, invertendo a tendência de crescimento até 2015; 7. Garantir a sustentabilidade ambiental; 8. Criar uma parceria mundial para o desenvolvimento.
Caros leitores, o que leram não é ficção. Trata-se de um pequeníssimo resumo de oito objectivos que fazem parte da Declaração do Milénio das Nações Unidas, assinada, no ano 2000, por todos os seus Estados-membros, e a atingir até ao ano de 2015!
Passados cerca de 8 anos, é razoável que se pergunte: o que é que se tem feito para que estes compromissos estejam a ser cumpridos. Afinal, o ano de 2015 está próximo!
Infelizmente, estamos, mais uma vez, perante um conjunto de boas intenções, que não passam disso mesmo. O declínio de uma sociedade humana inicia-se quando os princípios apregoados pelos seus responsáveis políticos não correspondem à realidade e aspirações, legítimas, dessa sociedade, tendo como premissa as reais necessidades dos seus cidadãos, fundamentadas na paz, na verdade, na justiça e igualdade, a que se junta a execução, eficaz e imediata, dos mesmos princípios, junto das populações.
No último texto que partilhei com os leitores, perguntava pelo futuro da ONU. Hoje, a pergunta que deixo, vai um pouco mais além: qual o futuro da humanidade? Em rigor, não há uma resposta exacta, ainda que existam sinais preocupantes por todo o mundo.
O mês de Abril, tem sido fértil em manifestações, algumas bem violentas, devido ao aumento brutal do preço dos cereais, como o milho, trigo e arroz, e da fome que está a originar nas pessoas. Haiti, Egipto, Costa do Marfim, Camarões, Bolívia, Filipinas e México foram alguns dos países onde decorreram incidentes, já que estes cereais são a base da alimentação dos seus cidadãos. No dia 9 de Abril, em Nova Deli, Jacques Douf, Director-Geral da FAO, fez um alerta, veemente, para as consequências do aumento dos preços dos cereais (houve casos de aumentos de 181%) e dos seus efeitos na alimentação dos países mais pobres. O FMI também tem feito alertas importantes.
No Quénia, Etiópia, Paquistão, Indonésia, Bolívia, também já começaram a surgir sinais de insegurança alimentar e os países mais ricos não estão imunes a esta crise.
O aumento brutal do preço do petróleo (ainda não explicado) está a estimular, cada vez mais, a produção de biocombustíveis, à base, sobretudo, do milho, que devia ir para a alimentação, gerando profundos desequilíbrios em toda a cadeia alimentar e afectando todo o circuito alimentar envolvido. A isto, há que juntar as alterações climáticas, em algumas zonas do globo, com a consequente baixa da produção dos cereais e as alterações da dieta alimentar na China e na Índia.
Ao crescimento económico e à extraordinária evolução científica e tecnológica, que se tem verificado em todos os domínios, nos últimos anos, não têm correspondido medidas para que a desigualdade e a pobreza deixem de aumentar e as doenças deixem de alastrar um pouco por todo o planeta.
A Declaração do Milénio das Nações Unidas parece estar a transformar-se numa nova miragem, das tantas que, os que nos (des) governam, são pródigos em prometer.
Até quando o mundo e os seus povos aguentam este somatório de disparates?
Vítor Amorim

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Papa Bento XVI na América


"No dia em que celebra 81 anos, o Papa entrou na Casa Branca afirmando-se como “um amigo, um pregador do Evangelho e um com grande respeito pela vasta sociedade pluralista” norte-americana. A Bento XVI, Bush sublinhou o papel da fé na vida dos norte-americanos. “Num mundo em que alguns evocam o nome de Deus para justificar actos de terror e homicídio, precisamos da sua mensagem de que Deus é amor. E abraçar esse amor é o caminho certo para salvar os homens de abandonarem a oração para o ensino do fanatismo e terrorismo”, disse Bush. Sem tocar nos assuntos mas polémicos que dividem a opinião pública norte-americana, como a presença dos Estados Unidos no Iraque ou a questão do aborto, Bento XVI fez referências no seu discurso aos pais da nação norte-americana, citando a Declaração da Independência e o seu primeiro Presidente, George Washington."
Texto e foto do PÚBLICO on-line
NOTA: Depois dos escândalos dos padres pedófilos, o Papa Bento XVI, "envergonhado", procurará animar os católicos americanos, sublinhando que a Boa Nova não pode pactuar com crimes desta natureza. Admiro a franqueza de Bento XVI quando se declara envergonhado com a atitude desses sacerdotes e, decerto, com o silêncio cúmplice de alguns bispos. A sua franqueza não deixará de pesar nesta viagem a uma das mais poderosas nações do mundo.
FM

Irmão de Taizé em Aveiro: 18 de Abril

Jovens em Taizé

O único Irmão Português que, actualmente, integra a Comunidade Ecuménica de Taizé, na localidade com o mesmo nome, na Borgonha Francesa, estará no próximo dia 18 em Aveiro de visita à diocese, a convite da Pastoral Juvenil e Vocacional desta diocese.
O Irmão David, natural de Portalegre, vai encontrar-se com D. António Francisco, Bispo de Aveiro e Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios, vai visitar estudantes de Educação Moral e Católica na Escola Secundária de Estarreja e à noite vai integrar a oração mensal de Taizé e participar numa mesa redonda no final da celebração.

HUC: Estacionamento muito difícil

Por motivo de consulta médica, acompanhei hoje uma familiar ao Hospital Universitário de Coimbra, onde, aliás, tenho ido inúmeras vezes. Hoje como sempre foi muito difícil estacionar. A paciente teve que correr para não perder a consulta e eu tive de andar, andar, andar à procura de um cantinho para estacionar o carro. Como é sabido, naquela zona da cidade há vários hospitais ou diversas dependências do mesmo. O HUC propriamente dito, o Hospital Pediátrico, o IPO e outros. E o problema está aqui. Com tão completa concentração de serviços, decerto com muitas centenas de funcionários, entre médicos, paramédicos, auxiliares e administrativos, os espaços existentes mal dão para eles. E para os doentes e acompanhantes que chegam de toda a Região Centro para as consultas e exames? É impossível. Não se compreende como é que os programadores, projectistas, políticos e demais responsáveis por estes equipamentos não pensam nestas questões. Usar transportes públicos? É complicado. Mas quem usa os seus meios próprios, como é que há-de fazer? Só há uma solução: cada doente tem de levar um condutor para andar por ali às voltas enquanto dura a consulta. Hoje de manhã havia muitos, como eu. Em conclusão: pensar na construção de hospitais (e de quaisquer equipamentos) exige que se pense na qualidade de apoios aos doentes, seus familiares e utentes.
FM

Na Linha Da Utopia

D. Ximenes Belo

Diálogo de culturas, ciências e religiões

1. «Onde há diálogo não pode haver agressividade» (Emmanuel Mounier, 1905-1950). Consequentemente, quando há agressividade é sinal de que não se assume o diálogo como procura de entendimento do diverso humano. O ano 2000, a passagem do milénio, trazia consigo a expectativa, finalmente, de “todo” o progresso humano; agora que estavam derrubadas as ideologias do séc. XX, faltando unicamente regular, humanizando, a desordem do capitalismo (selvagem) florescente. Este não se regulou e o momento dramático do “11 de Setembro 2001” trouxe consigo o novo imperativo ético de integrar no esforço reconciliador (uma hermenêutica = estruturação com degraus, como uma escada) todas as ordens do pensamento, não só os admiráveis conhecimentos científicos experimentáveis “tocavelmente”. Todas as culturas, filosofias e religiões, na riqueza da sua diversidade, são caminhos de procura de sentido que condensam em si próprios milhentos símbolos e significados que os tempos, apressados, que vivemos dão pouco lugar ao seu reconhecer e mesmo apreciar como apelo ao “sentido”: tarefa essencial para que a bondade substitua a agressividade.
2. Segundo estudo da UNESCO (ano 2000), existem no mundo cerca de cinquenta mil culturas. Neste contexto, a diversidade é, pois, a riqueza maior a destacar, num enraizamento que brota, naturalmente, do desígnio da unidade comum a todos os seres humanos. Por vezes sente-se que o prato da balança tem crescido muitíssimo para alguns em termos de sociedade de conhecimento científico, tecnológico e económico; mas, ao que parece e pelos efeitos de uma certa “agressividade” intolerante espelhada em múltiplos acontecimentos mundiais, tem crescido (ainda) pouco o prato da balança da inclusão positiva dos conhecimentos da ordem mais filosófico-social e cultural, solidária e essencialmente humana. O desafio do século XXI pode estar espelhado no slogan que a Europa escolheu para si própria neste Ano 2008 – Ano Europeu para o Diálogo Intercultural.
3. Assinalando este Ano Europeu em Aveiro, a EPA – Escola Profissional de Aveiro, levou a efeito significativa iniciativa de alargada sensibilização para os valores do diálogo intercultural e inter-religioso. No Centro Cultural e de Congressos de Aveiro as centenas de estudantes, na linha programática da escola, no âmbito da formação humana para a cultura e sociedade contemporâneas, acolheram com agrado intervenientes de diversas culturas e religiões presentes em Portugal e no mundo, numa óptica do «diálogo inter-religioso para a construção de uma Europa pluralista». Vale a pena referir os nomes: da comunidade islâmica esteve Faranaz Keshavjee; da comunidade judaica, Joshua Ruah; pelo cristianismo, Anselmo Borges. Foi especialmente convidado e homenageado D. Ximenes Belo (bispo emérito de Díli, Nobel da Paz 1996), neste desígnio das culturas, ciências e religiões em diálogo na promoção da paz mundial e da inalienável dignidade da pessoa humana. De tanta riqueza partilhada fica a expectativa feita certeza de que o cidadão do futuro terá de ter estas questões bem presentes na sua formação de todos os dias. Dizemos formação e não formatação!... Para que a bondade humana da PAZ brilhe acima de tudo e em todos.

DIA MUNDIAL DA VOZ

No Dia Mundial da Voz, nada melhor do que ouvir "A VOZ" - Frank Sinatra.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Celebrar o Património Religioso, testemunhar a ousadia da fé!

Igreja matriz da Gafanha da Nazaré


A humanidade inteira acha-se convocada pelo ICOMOS, da UNESCO, a celebrar no dia 18 de Abril o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, este ano de 2008 dedicado ao "Património Religioso e Espaços Sagrados". A eleição de um tal tema dá bem conta da relevância que o fenómeno religioso, e o universo simbólico que o configura, tem na vida das sociedades de hoje! Sem nos determos nas perturbações que uma laicidade mal equacionada, ou mesmo arvorada em bandeira política tem causado em amplos horizontes, a decisão do ICOMOS mais não faz do que reconhecer a importância que o sagrado tem na vida de milhões de pessoas em todo o mundo e que atinge tantos outros milhões, seja através da estética, da memória histórica, ou das identidades culturais.
Sem perder de vista a vocação primeira de tais "espaços sagrados", uma tal celebração traz ao nosso convívio colectivo e a uma escala global um conjunto amplo de questões, que nos ajudam a reflectir, em última instância, o lugar do próprio crente na construção da comunidade mais vasta em que aquele se integra. Certo, ao erguerem notáveis edifícios e ao produzirem todo um conjunto de bens que lhes vestem a alma, as religiões contribuíram e continuam a contribuir decisivamente para a construção de identidades culturais, tantas vezes até étnicas. Mas é sobretudo de pessoas que falamos, não dos seus objectos ou dos lugares dos seus afectos, quando a visão do mundo se acerta pela lente da transcendência!
Hoje é pedido aos lugares de culto e aos agentes que os mantêm vivos, bem entendido, que voltem a assumir um papel que já desempenharam em outras épocas, em moldes sem dúvida diferentes: que avultem como centros geradores e potenciadores de cultura, que sejam, eles mesmos, sujeitos activos e protagonistas de cultura. Isto é, centros de humanização, em sociedades cada vez mais marcadas pela fragmentariedade dos ideais e das práticas. O Cristianismo tem para oferecer, a este respeito, não apenas a memória dos contributos dados no passado, mas a capacidade de continuar a rasgar caminhos de ousada novidade. As suas igrejas, as suas capelas, os seus santuários são espaços de vida, espaços dedicados a sinalizar na nossa existência trilhos de eternidade, onde a grandeza das mulheres e dos homens se faz ainda maior, de mãos dadas com um Deus que lhes está próximo. E, como lugares de tal encontro, eles revelam-se, de facto, como "espaços sagrados".

João Soalheiro

Na Linha Da Utopia


O Sr. Silva e o Sr. João


1. O Senhor Presidente da República está na Madeira. Isto, por si, não seria nenhuma notícia de relevo em regime de liberdade democrática, pois o hábito das visitas de estado já há muito que está consolidado. Sinal de proximidade política dos cidadãos? Talvez nem tanto… Com as visitas dos Sr.s presidenciais e ministeriais vai sempre uma comitiva alargada; percorrem os caminhos e visitam os espaços cuidadosamente limpos e ajeitados para a passagem decorrer da melhor forma possível, mostrando o que de melhor temos ou não temos na vida diária, dando a entender que parecemos melhor do que o que realmente somos. Todos somos assim, pelo menos um pouco, quando há visitas! Mas o excesso da imagem que se quer passar pode, precisamente, ocultar a dura realidade de todos os dias. Nessas passagens, muitas vezes também se juntam à festa o reverso da medalha: manifestações, bandeiras, reivindicações, mas também, na ausência de outra oportunidade, um excesso que desvirtua a mensagem sadia dos problemas diários…
2. Neste contexto a região da Madeira vive a fronteira e a intermitência da festa. Mensagens e recados serão cuidadosamente partilhados entre os dois senhores. Nas vésperas, o Sr. João encarregou-se de dar o timbre da elegância do momento, carimbando de “loucos” os que logicamente pretendiam a visita do Sr. Silva ao local mais emblemático da democracia madeirense, a Assembleia. A preferência do programa foi colocar essa conversa numa jantarada! O Sr. Silva já estava quase no avião de ida quando esta proclamação fora decretada pelo Sr. João. O fio sobre o qual caminha o Sr. Silva é estreito, e o Sr. João é que o tem na mão. Independentemente das qualidades e limites de qualquer político como de qualquer pessoa, e bem acima das virtudes e defeitos, ideias e obras de qualquer pessoa e linha político-partidária, é caricata demais a situação. Na óptica da essência “política” todo o pseudo-respeito dos “Sr.s” falseia a própria representatividade democrática, e o Sr. Silva parece refém do Sr. João. Não é bom para ninguém, cada coisa no seu lugar.
3. E depois diz-se que os cidadãos estão afastados e permanecem longe da realidade sociopolítica da comunidade. Talvez neste caso até permaneçam perto, a fim de ver e ouvir um certo humor feudal que, juntando aqui ou ali razões válidas e/ou questionáveis, muito mais tem de emoções fazendo borbulhar continuamente a terra (em) que o Sr. João põe e dispõe no “mapa” nacional. Seja como for, nenhuma obra realizada de nenhum regime que se quer democrático justifica visões autoritárias e substitutivas da inteira representatividade do povo que são as diversidades políticas presentes em Assembleia. O “Sr. Silva”, assim proclamado pelo Sr. João em tempos idos de frequente discórdia estratégica, parece subjugado e suas esforçadas palavras no fio da navalha espelham essa limitação da própria liberdade presidencial (?). Talvez (ou mesmo sem talvez), o Sr. Silva deveria exigir ao Sr. João que a obra mais importante destes dias seria a condigna recepção no espaço mais amplo da democracia madeirense. Ou (acima de tudo o resto) não será?

Alexandre Cruz

Cavaco Silva provocado na Madeira


Ser Presidente da República é muito complicado. Conviver com todos, democratas e não democratas, líderes e membros activos de todos os quadrantes políticos, gente educada e malcriada, serena ou agressiva, não é tarefa fácil. Ao Presidente da República foi vedada a entrada na Assembleia da Região Autónoma da Madeira, para a compreensível e importante sessão solene, com o intuito de evitar o confronto com “um bando de loucos”, no dizer do Presidente Alberto João Jardim.
Os comentadores, duma maneira geral, acusam o Presidente Cavaco Silva de passividade ou complacência face à ofensa que lhe foi dirigida. A ele e ao País, de que a Madeira faz parte integrante.
O Presidente tem de ser uma pessoa capaz de evitar problemas e polémicas, dadas as suas elevadas funções de Chefe Supremo da nação. Deve procurar estabelecer a paz e não alimentar a guerra. Nessa linha, talvez tenha razões para estar calado face à ofensa de que foi alvo. Mas estou convencido de que, nos lugares próprios, saberá dizer o que pensa sobre o assunto a todos os que o provocaram. Sem barulho e sem complexos.
FM

AVEIRO: Cidade há quase 250 anos






Aveiro completará 250 anos de cidade em 2009. Foi em 1759 que o rei D. José elevou Aveiro a cidade, poucos meses depois de ter condenado ao cadafalso o último duque, acusado de ter participado no atentado contra o rei. Será que esta elevação a cidade correspondeu, de algum modo, a um arrependimento real pela condenação à morte do duque?
O que se sabe, de concreto, é que no dia 11 de Abril de 1759, o rei, “considerando a situação natural, povoação e circunstâncias que concorriam na vila de Aveiro e nos seus habitantes, e folgando pelos ditos respeitos, e por outros que inclinaram a sua real benignidade, houve por bem elevar a dita vila de Aveiro, notável por mercê filipina, à dignificante categoria de cidade”. (Calendário Histórico de Aveiro)
Deixando isso, penso que Aveiro tem de celebrar este aniversário com acções abrangentes, desde culturais e artísticas, até sociais, religiosas e desportivas. Importante será, a meu ver, envolver toda a população, nomeadamente os jovens. Porque é preciso mostrar o esforço dos nossos antepassados, numa luta constante pelo progresso a todos os níveis.
Festas, celebrações, concursos de vária ordem, exposições, cortejo etnográfico, jogos desportivos e arraiais populares, reedições de obras de autores aveirenses do passado, de tudo um pouco deve haver nas festas da cidade. Que hão-de ser feitas.
FM

SEM PAZ, NÃO HÁ FUTURO!


Neste último sábado, dia 12 de Abril, Bento XVI, numa mensagem dirigida ao Conselho Pontifício Justiça e Paz, reunido no Vaticano, com o fim de debater e analisar o tema “Desarmamento, desenvolvimento e paz. Perspectivas para um desarmamento integral” no mundo, dirigiu um forte apelo a todos os participantes, neste seminário, para que se caminhe na direcção do desarmamento global, construindo, em simultâneo, as bases para uma “paz justa e duradoura”.
“Renovo o apelo para que os Estados reduzam as suas despesas militares para o armamento e tomem em séria consideração a ideia de criar um fundo mundial destinado a projectos de desenvolvimento pacífico dos povos” – afirmou o Papa.
Mais adiante, Bento XVI salienta que “A produção e o comércio de armas estão em contínuo aumento e vão assumindo um papel decisivo na economia mundial. Há uma tendência para a sobreposição da economia militar à civil.”
Admitindo que cada Estado tem o direito à sua própria defesa, o Papa não deixou de referir que este direito tem que estar sustentado nos “princípios da “suficiência” e da “proporcionalidade”, tendo em conta os “perigos que o Estado corre, pelo que não é lícito qualquer nível de armamento.”
“Podem existir – observa o Papa – guerras desencadeadas por graves violações dos direitos humanos, pela injustiça e pela miséria, mas não se deve esquecer o risco de autênticas guerras do bem-estar, isto é, causadas pela vontade de expandir ou conservar o domínio económico em prejuízo dos outros.”
“No plano económico é necessário o empenho das autoridades para que a economia seja orientada para o serviço da pessoa humana e da solidariedade e não só para o lucro. No plano jurídico, os Estados são chamados a renovar o próprio empenho, em particular o respeito dos tratados internacionais, já em vigor, sobre o desarmamento e o controlo de todos os tipos de armas, bem como a ratificação e a consequente entrada em vigor dos instrumentos já adoptados” – adianta Bento XVI na sua mensagem.
O Papa pede esforços contra a proliferação de armas ligeiras e de pequeno calibre, “que alimentam as guerras locais e a violência urbana, e matam, demasiadas pessoas, todos os dias, no mundo inteiro”, terminando a sua comunicação com palavras de esperança: ”Chegou a hora de mudar o curso da história, de recuperar a confiança, de cultivar o diálogo, de alimentar a solidariedade perseguindo o caminho de “um humanismo integral e solidário.”
Já o secretário do CPJP, D. Giampaolo Crepaldi, frisou que, no decorrer dos trabalhos, foi repetida uma posição favorável ao uso do nuclear, desde que “para fins pacíficos”, ao mesmo tempo que os seus participantes se mostraram preocupados com os “sinais inquietantes”, surgidos nos últimos tempos, que fazem temer uma “militarização do espaço”.
Ainda ontem, dia 14 de Abril, partilhava, com os caros leitores, um texto com o título “ONU: QUE FUTURO?”, em que procurava fazer uma breve reflexão sobre o papel desta Organização no fomento da paz, da justiça e do desenvolvimento dos povos e do mundo, que, como escrevi na altura, deixa, a meu ver, infelizmente, muito a desejar.
No mesmo dia, a Agência Ecclesia transmitia-nos notícias relacionadas com os trabalhos, neste passado fim-de-semana, do Conselho Pontifício Justiça e Paz, no Vaticano, os quais, de algum modo, estão interligados com o texto que escrevi.
O mundo atravessa, a vários níveis, uma crise séria e profunda e a tendência parece ser a do seu agravamento. Os cristãos e os homens de boa vontade têm um compromisso com a esperança e o amor, do qual não podem abdicar nem responsabilizar só os outros.

Vítor Amorim




segunda-feira, 14 de abril de 2008

CATÓLICOS ULTRAPASSADOS PELOS MUÇULMANOS


Notícias destes dias dizem que, pela primeira vez na história da era cristã, os católicos foram ultrapassados, em número, pelos muçulmanos. Os católicos, mas não os cristãos, que estes, com as várias Igrejas, ainda vão à frente. Os muçulmanos, que também estão divididos, foram considerados como um todo, nesta contagem, não obstante guerrearem-se entre si.
Penso que temos aqui uma boa razão para nos debruçarmos sobre o porquê de a Igreja Católica estar a ser ultrapassada, se olharmos, apenas, para os números das estatísticas. Há meses, os Bispos portugueses foram aconselhados pelo Papa, na visita Ad Limina, a reflectirem sobre a melhor maneira de os católicos se assumirem na sociedade, testemunhando a fé que dizem ter. A grande maioria dos portugueses afirmam-se católicos, mas na realidade sabe-se que não é verdade. Do dizer ao ser vai uma grande distância. E no mundo a situação deverá ser muito semelhante ao que se passa entre nós, salvo o devido respeito pelas diferenças históricas, culturais, políticas e sociais de cada povo.
Não há dúvida de que ainda temos muitos crentes que participam nas missas dominicais, mas todos reconhecerão que alguns deixam, nos templos, a fé que mostram ter. Na vida, admito, agem como se a mensagem evangélica não fosse para o dia-a-dia. E não havendo quem testemunhe, dificilmente se conquistarão adeptos e adesões.
Quando os bispos chegaram do Vaticano ouvi, entre certos católicos, que urgia reflectir sobre o posicionamento de cada um e de todos no mundo do trabalho, do lazer, da família, da cultura, das artes, da economia, da comunicação social (onde raramente os católicos se posicionam como tal), da solidariedade, etc. Contudo, e não obstante alguns esforços pontuais que decerto haverá para responder ao desafio do Papa, tudo continua como dantes. Eu sei que na Igreja, uma instituição com o peso de muitos séculos, as mudanças e as adaptações se processam muito cautelosamente. O pior é se, por causa dessas cautelas, não se avança mesmo nada. Mas como de pessimistas está o mundo cheio, vamos acreditar que o Espírito Santo não dorme e que alguns caminhos de renovação há-de suscitar em quem está no seio da Igreja, como primeiros responsáveis ou como simples baptizados, na certeza de que todos têm a obrigação de evangelizar e de catequizar.

FM

Na Linha Da Utopia


O ambiente da chama olímpica

1. A chama olímpica anda a tentar percorrer o mundo. O que seria um percurso de festa e sensibilização para o saudável espírito dos jogos olímpicos tem sido um complexo labirinto que reflecte as luzes e as sobras da actualidade. Para a causa do Tibete é a hora inadiável, para Pequim os Jogos começam mesmo a ficar mal assinalados, agora também que o Secretário-Geral das Nações Unidas confirma que, por motivos de “agenda”, não irá estar presente na inauguração oficial dos Jogos. Quanto à chama olímpica, essa, sem ter culpa nenhuma dos males dos homens, por diversas vezes teve de ser protegida para não ser apagada de vez, pois a sua passagem transporta bem mais que uma lamparina acesa... Afinal, a chama olímpica tem verdadeiro sentido quando existe o pressuposto da paz entre os povos; pelo contrário, antes de tudo e depois e tudo, não há ambiente para grandes festas quando é ferida a “chama humana” fundamental da dignidade da pessoa humana.
2. Não sabemos como será a chegada a Pequim da labareda olímpica. Sabe-se, pela ordem física das coisas, que para uma chama arder tem de ter condições ambientais de oxigénio. A China (como alguns designam de) a actual “fábrica do mundo”, para onde se foram deslocando na última década milhares de fábricas pela sedução da mão-de-obra barata, hoje respira um ambienta nada propício para festas e acontecimentos. Nestes dias que faltam até Agosto, o esforço é enorme; mas a sua sustentabilidade humana e ambiental continua duvidosa. Os alertas do próprio Comité Olímpico Internacional estão aí e, por exemplo, já referiram que, no caso de excessiva poluição que impeça condições razoáveis, a prova da maratona pode ter que ser adiada. Do esforço registe-se que algumas fábricas já pararam, que os automóveis estão a ser retirados de certas estradas; os cientistas botânicos chineses estão já há muito a trabalhar, tanto para haver mais árvores dadoras de oxigénio como para o embelezamento florido dos canteiros de flores em Agosto.
3. Tudo num país “acordado” que quer passar uma boa “imagem”. Mesmo num cenário em que as questões ambientais apresentam-se dramáticas, pois Pequim (com 17,4 milhões de habitantes) é uma das cidades mais poluídas do mundo, sendo que na China, segundo o relatório do Banco Mundial de 2007, a poluição do ar nas cidades causa, anualmente, próximo de 400 mil mortes prematuras e a má qualidade da água provoca mais de 60 mil. Números e realidades dramáticas que a chama olímpica quer destronar.
Não só para os jogos, mas para ficar gerando uma nova consciência humana e ambiental. Haverá condições para tal meta de sustentabilidade futura? Os próximos meses serão decisivos, ou talvez não. Os Jogos Olímpicos já muitas vezes foram “usados” como artimanha de poderio imperial e ilusão de imagem. Estes jogos não são bem vindos mas sim os jogos que querem representar projecto dignificante de humanização humana.

PAPA NOS EUA


Começa amanhã, terça-feira, a primeira visita do Papa Bento XVI aos EUA. A visita decorrerá até ao dia 20 de Abril, estando agendadas passagens por Washington e Nova Iorque.
Bento XVI discursará na ONU e visitará, num gesto extremamente simbólico, os locais dos atentados do 11 de Setembro. Tanto num local como noutro, segundo o Vaticano, os Direitos Humanos serão parte central das intervenções do Papa.
Estão previstos, entre outros, 11 discursos e homilias, encontros com o presidente Bush, universitários e jovens católicos, líderes cristãos e representantes de outras religiões. Na ONU, receberá, em privado, o Secretário-Geral, o Presidente da Assembleia-Geral e, ainda, 60 representantes daquela organização internacional.
Bento XVI será o terceiro Papa a visitar os EUA, estando garantida uma cobertura mediática, capaz de mostrar ao mundo o que pensa e aconselha o Santo Padre a todos os homens de boa vontade. Haverá, disso estou certo, razões para estarmos atentos.

A beleza do mundo animal


A beleza do mundo animal está bem patente nesta foto que me foi enviada pelo amigo das lides jornalísticas Carlos Duarte, fotógrafo por paixão. E aqui ficam os meus votos de que continue sempre em busca dos melhores ângulos.

ONU: QUE FUTURO?


“Nós, os povos das Nações Unidas, decidimos:
A preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que, por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade;
A reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas;
A estabelecer as condições necessárias à manutenção da justiça e do respeito das obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional;
A promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de um conceito mais amplo de liberdade;”
Este texto consta da Nota Introdutória da Carta das Nações Unidas, assinada na cidade de São Francisco, a 26 de Junho de 1945, pelos Estados-membros seus fundadores.
Ninguém deixará de concordar com estes princípios e que a sua aplicação real seja feita, de modo a que cada continente, cada país, cada povo, cada etnia e cada homem se sintam, apesar das suas naturais diferenças, iguais entre si, em direitos e deveres, na medida que todos são cidadãos de uma mesma casa comum: a Terra.
Infelizmente, a realidade do mundo actual dá-nos conta de que, ao fim dos seus 63 anos, após a sua fundação – 24 de Outubro de 1945 –, a Organização da Nações Unidas (ONU) está longe de conseguir aplicar os princípios a que ela mesmo se propôs, assim como dá sinais, evidentes, de uma flagrante inoperância, incapaz de inverter a dinâmica de injustiças, conflitos, guerras, pobreza e doenças que, cada vez mais, se vão instalando um pouco por todo o mundo.
Desde há muito que se discute a eficácia real da ONU e a sua capacidade para fazer face aos problemas reais do mundo contemporâneo e esta questão já não é ignorada por nenhum dos seus actuais 192 Estados-membros.
De facto, como é possível que a ONU possa ter uma estrutura moderna e funcional, capaz de encontrar soluções e propostas para o mundo de hoje, se ela própria, ao longo dos seus quase 63 anos de existência, não sofreu nenhuma reforma de fundo, capaz de reavivar os princípios éticos e morais da sua própria Carta de valores.
É evidente que não é por acaso que isto sucede e se deixou chegar a ONU ao ponto em que chegou.
Teoricamente, todos os Estados-membros têm os mesmos direitos e deveres, só que, na prática, estes princípios não funcionam, havendo Estados-membros de primeira e de segunda categoria.
No dia 9 de Abril, do corrente ano, o antigo presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, numa conferência, no auditório da Fundação Serralves, no Porto, afirmava: “É urgente reestruturar as bases da ONU, para que adquira força de se impor ao mundo e não esteja dependente do veto de alguém, o que, muitas vezes, obriga que os Estados tenham que andar a negociar aquilo a que aspiram e lhes cabe por direito e justiça própria.”
Criada logo a seguir ao final da II Guerra Mundial e passando por todo o período da Guerra Fria (1945-1991), os pressupostos da sua criação e da sua posterior manutenção já não existem, nos mesmos termos de há 63 anos atrás. O mundo tem mudado muito.
Num mundo em que emerge, notoriamente, a ideia de que ninguém se entende sobre as grandes questões mundiais e onde faltam líderes fortes e mobilizadores da sociedade humana, a ONU tem que abandonar a mediocridade geral instalada e tornar-se numa Instituição credível e responsável, ao serviço de todos os povos e do mundo.
Vítor Amorim

domingo, 13 de abril de 2008

AÇORES - A minha homenagem

O João Paulo, cicerone, e a Lita

A colocação de um filho nos Açores, como professor, permitiu-me sentir, na pele e no espírito, a realidade da ausência. Eu sei que hoje a vida obriga a isso, como outrora obrigava à emigração, quantas vezes sem regresso. Não é o caso. Os Açores são Portugal, indubitavelmente. Pelas suas ilhas, que eu saiba, não há sinais de independência nem mal-estar em relação ao "continente" e aos "continentais".
A minha homenagem vai, então, para quantos, deixando o seu meio, são obrigados, por força das circunstâncias e por necessidade de trabalho, a dar um salto até aos Açores.

Na Linha Da Utopia


A Vocação

1. A palavra “vocação” conduz-nos pelo sentido de uma “chamada”. Mas para esta ser atendida e escutada devidamente exige as justas condições de sintonia e identificação. Talvez, em tempos de uma certa sobrevivência apressada, a palavra “vocação” contenha hoje das dinâmicas mais importantes. Vale a pena começar por ir ao dicionário: «Vocação: s.f.: acto de ser chamado para um determinado fim; inclinação e predisposição para um certo género de vida, profissão, estudo ou arte; tendência; talento; jeito» (dicionário da língua portuguesa). Não é de forma instantânea e fácil que se obtém a plena realização humana; quantas vocações pessoais e profissionais são “aprendidas” ao longo do caminho da vida. Mas também esse sentir-se chamado a algo não se pode situar meramente naquilo que é o “si mesmo”, pois quando se diz que um profissional tem mesmo vocação para esta ou aquela forma de vida é porque serve bem a comunidade. Consciência de vocação é (viver para o) serviço.
2. Já quando as coisas estão desajeitadas, quando ‘a bota não dá com a perdigota’, pode-se ter motivo para dizer que não existe uma identificação plena e realizante com a função que se desempenha, ou então existem outros fins que não o serviço. Outras circunstâncias também existem de vocações (a determinadas profissões bem vistas socialmente ou a certas formas de vida do âmbito da conjugalidade) que, na onda do hábito, pesam mais pelo factor social que por uma opção consciente e escutada profundamente. A este propósito, por vezes, pode haver razão para se dizer, por exemplo, quantos casamentos realizados sem uma inteira vocação, sem levar inteiramente à consciência aquilo por que se opta...(?) Quantas vezes a superficialidade do mais fácil faz com que não se tenha mergulhado nas águas profundas do ser para se conhecer a si mesmo e iluminar na recta consciência os projectos de vida com as suas exigências…(?)
3. Um grande enriquecimento será a capacidade de se ir aprofundando todos os dias a sua própria vocação, o mesmo será dizer, ir pensando a vida e discernindo os caminhos do futuro. Este, hoje, é um valor fundamental que proporciona a identificação da vida de cada dia com o ideal sempre mais elevado que se procura. Sem a sabedoria desta viajem pode-se cristalizar no tempo, deixando apagar a luz interior que comanda uma vida com sentido. Talvez a sociedade, mais do que nunca, precise de uma reflexão transversal e estimulante sobre a vocação à vida e ao serviço, sobre o lugar das diversas vocações humanas e existenciais como riqueza espiritual e opcional de ser humano. Sendo que, por vezes, quando se fala do conceito “vocação” se leva (errada pois) exclusivamente para o campo do religioso, também talvez tal aconteça porque se lhe reconhece grandeza humana e espiritual que está bem acima das coisas práticas. Uma aspiração/convite a todos!
4. Na semana passada a Igreja Católica propôs-se à coragem de reflectir (45ª Semana), em todo o mundo, a problemática das vocações. Profetismo de renovação estrutural à luz do “essencial” ou simples manutenção de modelos? (Por exemplo: que concepção/acção ainda existe em relação ao “lugar” da mulher na Igreja? A sociedade ensina…) Claro que para quem quer “ver” é verdade inadiável, neste tempo, a aprendizagem do pluralismo no contexto das vocações como serviço dedicado à comunidade. Nada de novo que continua sendo tarde… Tudo depende (ou não) do querer, pelo menos, reflectir o futuro! Tem-se dado preferência ao passado…