quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Património Histórico




SANTA MARIA MANUELA VAI CONTINUAR A VIVER

O velho navio bacalhoeiro Santa Maria Manuela vai continuar a viver. A história da luta que foi preciso travar para que isto acontecesse é por demais conhecida na região, sobretudo entre os que estão directa ou indirectamente ligados à Faina Maior, de tantas tradições entre nós.
Agora que o navio está a ser recuperado, sob a liderança de Manuel Serra, presidente da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, penso que se torna interessante, e mesmo importante, pôr a nossa gente a par do que se está a fazer e do que está na agenda para se fazer.
Como sugestão minha, aqui fica o blogue para ser consultado com alguma regularidade. Há sempre algo a aprender; há sempre algo que pode enriquecer a nossa memória.

Veja Santa Maria Manuela

“Portugal na época da abertura da Barra”



No próximo sábado, 15 de Dezembro, vai realizar-se, no edifício da antiga Capitania de Aveiro, uma conferência subordinada ao tema “Portugal na época da abertura da Barra”. A conferência, com início previsto para as 17 horas, será proferida pelo Comandante Rodrigues Pereira, Director do Museu da Marinha e ex-Capitão do Porto de Aveiro. Esta iniciativa integra-se nas comemorações do Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro.
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À data da Abertura da Barra da Ria de Aveiro, em 3 de Abril de 1808, Portugal encontra-se numa situação muito especial, com partes do seu território ocupadas por forças militares estrangeiras, a capital do Reino sediada no Rio de Janeiro e a costa continental bloqueada por uma esquadra inglesa.
Quando em 1802 se iniciam os trabalhos para a recuperação da Barra da Ria de Aveiro, assistia-se na Europa à ascensão de Napoleão Bonaparte, imperador de França, cujos exércitos considerados invencíveis, haviam dominado as velhas monarquias da Europa Central.
Em Portugal, o governo liderado pelo Príncipe Regente D. João – a Rainha D. Maria I havia sido dada como incapaz de continuar a governar – vai tentando, com dificuldade, manter a neutralidade portuguesa. O objectivo era manter a liberdade do comércio marítimo com as colónias sem a hostilidade da Inglaterra e resistindo aos ataques dos corsários franceses e barbarescos. Contra os primeiros organizavam-se as escoltas às frotas de navios mercantes que faziam o comércio com o Brasil; contra os segundos mantinha-se a actividade da Esquadra do Estreito tentando travar a passagem para o Atlântico dos Argelinos. Mas a Marinha Portuguesa sofria baixas nesta luta, perdendo a fragata CISNE em luta contra os argelinos e a corveta ANDORINHA em luta contra os franceses.
Leia mais em Porto de Aveiro

AVEIRO: Arte na cidade








PAINÉIS CERÂMICOS
Quem passa pelo centro da cidade não pode deixar de apreciar os painéis cerâmicos que são uma expressiva marca de Aveiro. Hoje andei por lá e vi como muitos olham a correr. Permitam-me a sugestão de cada um fazer uma leitura das mensagens que os painéis procuram oferecer a quem passa. Não digo mais nada, por enquanto, para que os meus amigos sintam e vivam a oportunidade e o prazer da descoberta.


CONSTRUIR COMUNIDADE, OBJECTIVO ESSENCIAL E PERMANENTE



Quem se mete a construir coisa que valha a pena não dispensa um projecto, gente que o entenda e o leve a bom termo, material de qualidade para que o que se constrói hoje não desabe amanhã.
Esta verificação de tipo corrente, mas sábia e objectiva, ajudará a perceber a missão fundamental da Igreja no seu dia-a-dia, bem como os caminhos de renovação que se consideram indispensáveis para que o objectivo essencial desta missão não se deteriore, nem se perca, e se reencontre, caso a rotina com os seus desvios se tenha aí instalado.
A Igreja, uma comunidade de filhos e de irmãos, “não pela força do sangue, da carne ou da vontade humana”, mas fruto do amor e dom de Deus”, já não se afirma hoje como sociedade perfeita, como o fez durante séculos, mas sim como Corpo de Cristo, vivo e actuante, no seio da comunidade humana, onde é chamado a ser fermento novo.
As comunidades cristãs edificam-se, crescem e actuam como expressões visíveis da realidade sobrenatural em que subsistem. São comunidades edificadas pela Palavra, que conduz à fé, a alimenta e fortalece; pelos sacramentos, que expressam a vivência pascal dos seus membros e da comunidade enquanto tal; pela oração, pessoal e colectiva, que mantém viva a tensão de ser de Deus no mundo; pelo amor mútuo consequente; pela partilha fraterna, traduzida na comunicação de bens a favor de todos, de modo que se possa dizer, com verdade, que aí não há pobres; pela consciência dinâmica da missão, que leva todos e cada um ao testemunho coerente de vida e ao apostolado concreto.
A Igreja, Corpo de Cristo, é uma comunidade que está sempre em construção. Aos seus responsáveis pede-se que reconheçam a dignidade dos que a compõem, não esqueçam o objectivo essencial da sua vida e missão, atendam aos meios que não se podem dispensar para que cada um se torne mais sensível aos dons de Deus e aos apelos dos outros, neste mundo religioso ou não, onde abundam os acomodados e os descrentes.
A comunidade eclesial mais próxima, em construção permanente, é a Diocese, que o Vaticano II define como “ porção do Povo de Deus que se confia a um bispo, para que a apascente com a cooperação do seu presbitério, de forma que, unida ao seu pastor e reunida por ele no Espírito Santo pelo Evangelho e pela Eucaristia, constitua uma Igreja particular na qual verdadeiramente está e opera a Igreja de Cristo que é una, santa, católica e apostólica”. Nesta porção coexistem diversas expressões comunitárias, mais acessíveis a todos, como as paróquias, células da Igreja diocesana, nas quais se mostra ou não a verdade, dinamismo, capacidade missionária da Igreja num mundo concreto.
Não há verdadeira comunidade humana, exigência primeira da comunidade eclesial, sem relações primárias, conhecimento e compromisso mútuo. Assim, onde se vive e cultiva o anonimato ou se instala o individualismo, como modo de vida e de acção, não é mais possível edificar a Igreja, como comunidade fraterna. E isto acontece.Surge, então, como uma exigência iniludível redimensionar a diocese, para que o bispo que a ela preside não seja um estranho ou um ausente ou apareça apenas em momentos festivos ou através de delegados de passagem e por um tempo, os bispos auxiliares.
Exigência de redimensionar a paróquia e lhe dar um novo enquadramento, de modo que o responsável ou responsáveis, conhecendo os que lhe foram confiados, lhes façam chegar um dinamismo portador do essencial, à medida da necessidade e do direito de cada um.
Redimensionar com critérios pastorais, pede que ninguém se assuma como dono do Povo de Deus, mas seu servidor. Pode não se saber como fazer. Sabe-se que é preciso fazer alguma coisa, com a intenção recta de melhorar, sem ceder a motivos humanos e pessoais. Este é, por certo, um dos pressupostos para a renovação. Uma caminhada necessariamente longa e esforçada.

António Marcelino

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

GAFANHA DA NAZARÉ: Arte na rua


Clicar nas fotos para ampliar

Publiquei, há dias, algumas fotos da montagem da estátua de Jesus Cristo, junto à igreja matriz. Hoje, aqui ficam mais duas fotos, uma das quais com a legenda aplicada no sopé da estátua.

ARES DO OUTONO


Largo de São Braz

No largo de São Braz
a vendedora de castanhas
sorria os dentes podres
e patos marrecos
dançavam a dança dos mancos


No largo de São Braz
as crianças adormeciam
nos ramos das árvores
e os cães vigiavam as pombas


O largo de São Braz
era muito pequenino
e não era largo

As pessoas eram muito felizes
porque se sentavam no chão
e cruzavam os braços

Quem me dera voltar
ao largo de São Braz


Orlando Jorge Figueiredo

Na Linha Da Utopia

A admirável lição de James Watson

1. James Watson, famoso cientista norte-americano de 79 anos, acaba de receber a lição intercultural a partir do seu próprio ADN. Lembre-se que Watson, fruto dos seus estudos na descoberta da estrutura da molécula do ADN, no ano de 1962 ganhou o Prémio Nobel da Medicina. Em Maio deste ano 2007, o cientista desejoso de partilhar a sua informação genética, tornou disponível a sequenciação (A-T-C-G) do seu código genético a fim de ser estudado.
2. Entretanto, o Verão de Watson não deve ter sido nada bom. Em Outubro último proclama num jornal britânico a sua última tese, de que as pessoas de cor negra são menos inteligentes que os brancos. O seu desejado e precipitado protagonismo resultou no silêncio (como afastamento) dos mais reputados estudiosos da área e no seu posterior pedido de desculpas que, todavia, não evitou a demissão do conselho de administração do Laboratório de Cold Spring Harbor (EUA), onde trabalhara mais de 40 anos.
3. Ironia no destino, Watson, tendo tornado público o processo da sua amostra de sangue a ser analisado - por empresa e Laboratório de Sequenciação do Genoma Humano (EUA) – recebeu nestes dias o resultado surpreendente. A análise do seu ADN (A-T-C-G) revelar-lhe-ia um “presente caído do céu”: que 16% dos seus genes são de origem negra, o que representa um valor 16 vezes acima da média dos europeus brancos (habitualmente 1%). Assim, James Watson será descendente de um bisavô africano e também de origens asiáticas.
4. Que dizer e que fazer? Que conclusões tirar? Na desejada honestidade intelectual, e quanto maior é o cientista mais esta o deverá acompanhar (assim seja sempre!), Watson mais que um “mea culpa” tem meio caminho andado para dizer que, afinal, somos todos da mesma FAMÍLIA, que as comunidades migrantes de séculos que nos precederam geraram os laços que conduziram à vida que hoje “somos”, e que da comum origem do ser humano (para além de se foi em África ou não) brota o desafio do comum desígnio humano.
5. Tal como em Watson, também no extremo em muitas visões cegas e antropologicamente limitadas (racistas, xenófobas, desumanas) que persistem neste mundo, se não for de outra forma (a partir da sensibilidade da essência humana), talvez o fazer do teste da origem genética apure o sentido de que somos mais iguais (da mesma dignidade) que diferentes, e todas essas diferenças humanas e culturais (bem-vindas!) são o reflexo feliz dessa unidade criativa que nos convida a apreciar o “outro”. Eis-nos diante de uma situação em que a ciência corrige o pensamento.
6. Como disse Theilhard Chardin (cientista teólogo), “tudo o que sobe converge”. Se estudarmos a fundo a nossa origem, somos da mesma essência e dignidade. A origem, o ADN, do (único) Natal ajuda-nos a compreender isto mesmo!

Alexandre Cruz

"AO SERVIÇO DA FÉ NA SOCIEDADE PLURAL"

Padre Georgino Rocha, Prof. Doutor Júlio Pedrosa, D. António Francisco, Gaspar Albino e Artur Filipe


JÚLIO PEDROSA: Este livro indica caminhos importantes a desbravar e a percorrer

No dia em que a Igreja de Aveiro celebra a restauração da diocese, 11 de Dezembro, na Biblioteca Municipal, aconteceu a apresentação pública do último livro do Padre Georgino Rocha – “AO SERVIÇO DA FÉ NA SOCIEDADE PLURAL” –, por iniciativa da Comissão Diocesana da Cultura, Lions Clube de Santa Joana Princesa, CUFC, ORBIS, Secretariado Diocesano de Animação Missionária e Câmara Municipal de Aveiro, através do Pelouro da Cultura e da Biblioteca Municipal.
Em sessão presidida pelo Bispo de Aveiro, D. António Francisco dos Santos, o Prof. Doutor Júlio Pedrosa, da UA, teceu relevantes considerações sobre a obra e a pessoa do Padre Georgino Rocha, sublinhando que, depois da leitura que fez do livro, encontrou uma pessoa que hoje conhece um bom bocado mais, que admira ainda mais. Acrescentou que “este livro olha a humanidade e os seus contextos com verdade, com esperança, com confiança”.
O lançamento da obra do Padre Georgino Rocha, integrado na celebração da restauração da Diocese, proporcionou a salutar cooperação de várias entidades. A esse propósito, D. António Francisco considerou que a comunhão de pessoas e instituições em iniciativas representa, “para a Igreja, para a cidade e para a diocese, um valiosíssimo contributo para sabermos o caminho que havemos de percorrer e as sendas que vamos trilhar”.
Depois de recordar o currículo do autor, como padre e como homem da cultura, sempre envolvido na formação de agentes de pastoral, Júlio Pedrosa enalteceu “o homem de fé que está neste livro”, que nos leva a reflectir sobre “as exigências da fé”. E refere que este trabalho nos ajuda a descobrir marcos de mudanças e “os contextos complexos dessa mudança”, ao mesmo tempo que nos indica “caminhos importantes a desbravar e a percorrer”.
O docente da UA e ex-ministro da Educação adianta, em determinado passo da sua intervenção, que, nesta obra, “haverá, porventura, certos cidadãos que, não sendo cristãos, nem leigos nem agentes de pastoral, terão grande interesse em ler este livro, para se darem conta da Igreja”. Trata-se, sublinha, “de uma obra singular e oportuna”, mas também “um contributo para entender a fé nos tempos de hoje e para ser pessoa de fé em tais tempos”.
Frisou que a consciência ocupa um lugar central na reflexão doutrinal e no agir pastoral, salientando que a temática dos direitos do homem atravessa todo o livro, numa perspectiva de contribuir para a pedagogia da dignidade da pessoa humana. “Isto tudo – adianta – resulta de um contínuo e devotado esforço, estudo e investigação consistentes.”
Citando o autor, disse que “o século XX fica na história com uma enorme lista negra de atropelos à dignidade humana”, sendo urgente reflectir sobre “o que espera o mundo da Igreja, o que oferece o mundo à Igreja, o que espera a Igreja do mundo e o que oferece a Igreja ao mundo”. Nessa linha, Júlio Pedrosa garante que “a leitura deste livro pode ajudar a ver outras formas de nos vermos”.
Na abertura da sessão, Gaspar Albino, em representação do Lions Clube de Santa Joana Princesa, lembrou a data da restauração da Diocese e o seu primeiro Bispo, D. João Evangelista de Lima Vidal, que o tratava com certo carinho, “anda cá meu menino”, bem à moda da Beira-Mar. E depois, leu o que os aveirenses sempre gostam de ouvir, o belo poema, em prosa, do inesquecível bispo: “Eu nasci em Aveiro, ao que suponho na proa de alguma bateira. Fui baptizado à mesma hora…”
Um jovem, o Artur Filipe, deu o seu testemunho sobre a forma como vê e sente a fé do Padre Georgino. E ainda leu um texto, na mesma linha, de seu irmão Jorge, como sinal de que a juventude, afinal, também está atenta ao que se publica e às reflexões testemunhantes de alguns cristãos.

Fernando Martins

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Na Linha Da Utopia



A INSEGURANÇA E OS DISCURSOS


1. Há certas matérias que se situam na fronteira do “dever”. A insegurança é uma delas. As “coisas” sociais deveriam estar de tal forma organizadas que, sobre a segurança, não fizesse sentido o discurso mas sim a acção. Nem o discurso de uns a ocultar a crescente insegurança nas ruas portuguesas, nem a palavra estratégica de outros a fazer “render o peixe” como populismo discursivo. Nada disto, nenhuma destas posições; sobre a insegurança (da ruas do dia e da noite a todas as auto-estradas da comunicação) venha o alargado pacto de regime, de tal maneira estruturado que garantisse a capacitação flexível e eficaz, tanto para o dia-a-dia como para circunstâncias mais complexas e épocas mais delicadas.
2. Noutras como nesta matéria tão sensível à vida diária, tantas vezes, sentimos um “gastar de tempo” no discurso parlamentar, em que, qual “eterno retorno”, os que criticam de lá vêm ou para lá vão… E também muitas vezes verifica-se que queremos combater a insegurança que permitimos ou mesmo fomentamos. Em Portugal, à semelhança de outros países chamados de desenvolvidos (isto para além daquilo que será o justo e saudável entretenimento), há toda uma rede de indústria da noite que estraga, chocantemente, todo o esforço de educação, progresso e justiça pelos quais se luta durante o dia. Um dramático paradoxo que vai crescendo e que compromete as múltiplas boas intenções de uma sociedade mais equilibrada. (Um “passo” da noite estraga anos do dia!)
3. Da insegurança, sem alarmismos mas sem facilitismos, a palavra de ordem terá de ser um realismo comprometido, pois, credível pelo sentido de unidade no ideal que se pretende como sociedade de todos. Esta credibilidade, no terreno sempre enobrecedor quanto pantanoso das subjectivas liberdades humanas, parece comprometida quando as mesmas leis que procuram a justiça são as mesmas que favorecem estruturas nocturnas que, verdade se diga, a partir de certas horas já (quase) tudo será possível (?). Dessas “portas” abertas depois, só vendo a posteriori, queixamo-nos das consequências. De todos estes dramas das inseguranças que fazem notícia, o “segredo” está no antes, nas causas, na origem.
4. Sem alarmismos nem facilitismos (novamente dizemos este refrão), há dias, alguém da área de apoio às pessoas sem-abrigo de Lisboa, dizia que outros países europeus, que já passaram pelo processo que hoje nós vivemos, nas suas ruas acolhem pessoas da mais alta sociedade (como ex-juízes, professores, licenciados sem trabalho), para quem a vida foi caindo dia a dia, noite a noite, até à rua fria da solidão. Mais (fruto de estudos europeus), dizia que quem na juventude se vicia no álcool, garantirá uma percentagem de futuros sem-abrigo. Tudo sem alarmismo, só com um pouco de realismo. Se é certo que haverá sempre que respeitar a liberdade pessoal de todos os consumos… mas quando estes desdignificam a pessoa, que fazer? Eis a questão que nos faz viver a fronteira, mas à qual a indústria da noite e do vício é o passo para o precipício. (É evidente que nada disto tem a ver com o “beber-um-copo”!) É outro preocupante, permissivo e laxista submundo que está em causa. (A noite anda a dar cabo do dia…!)

Alexandre Cruz

NATAL DA CRISE E DO CONSUMO




Para quem está de fora, a festa pode parecer um desperdício. Vê chegar o irmão mais novo e acha que o pai perdeu a cabeça nas suas tolerâncias e até no esbanjamento das economias domésticas necessárias a toda a família. Depois, os exageros de mandar matar o melhor novilho, com música e vinho à farta, no esquecimento total da austeridade do outro filho.
Mas há também os que se banqueteiam todos os dias com finíssimos manjares, sem festa nenhuma. Embriagam-se nos seus luxos e desbaratos erguendo por tudo e por nada taças de bebidas especiosas que nem sabem a nada por se usarem a tempo e fora de tempo.
Vendo e ouvindo as publicidades natalícias fica-se com a sensação de que os novos inebriantes digitais, de máquinas, música e imagens desarrumam completamente a cabeça de adultos, jovens e crianças, lançando todos numa concupiscência descontrolada de possuir e rejeitar para voltar ao mesmo com cara reciclada. Numa parafernália de jogos e concertos que acompanham todos os passos em sobrecargas de informática e tempos livres como reforço de individualismo e solidão.
Por outro lado a economia não descolaria milésimas se os criadores de objectos não tivessem que produzir e multiplicar, se os vendedores não tivessem quem comprasse, se o novo permanecesse intacto sem reciclagem nem substituição. O mercado, os bens e serviços, a organização dos povos não saberiam como permutar os seus bens para que todos tivessem acesso ao pão essencial.
Se olharmos com atenção para os centros de produção e distribuição de hoje veremos que todas as regras tradicionais de compra e venda, produção de subsistência, se alteraram. Estamos todos num grande barco, dependentes uns dos outros, sem se saber bem a quem cabe a primeira e última palavra sobre os bens da terra que, segundo a vontade do Pai do Céu, a todos se destinam.
Celebrar o Natal, fazer a festa, entra, naturalmente, neste grande capítulo da alegria, do gratuito partilhado em ternura e doação, lembrando o Menino que há dois mil anos veio dar uma grande volta à história, remexendo profundamente o coração dos homens. E porque foi recebido por alguns como Filho de Deus, abriu um novo capítulo do encontro do humano com o Divino. Como é sabido esse menino deu a vida por uma causa. E essa causa somos nós. Melhor dizendo, todos nós, do primeiro ao último ser humano que habitou e habitará a face da terra. A festa do Natal é mais que uma tradição ou uma exigência do mercado. É mesmo uma festa. E isso lhe basta.
António Rego

Natal


VOTO DE NATAL

Acenda-se de novo o Presépio no Mundo!
Acenda-se Jesus nos olhos dos meninos!
Como quem na corrida entrega o testemunho,
passo agora o Natal para as mãos dos meus filhos.

E a corrida que siga, o facho que se apague!
Eu aperto no peito uma rosa de cinza.
Dai-me o brando calor da vossa ingenuidade,
Para sentir no peito a rosa reflorida!

Filhos, as vossas mãos! E a solidão estremece,
como a casca do ovo ao latejar-lhe vida…
Mas a noite infinita enfrenta a vida breve:
Dentro de mim não sei qual é que se eterniza.

Extinga-se o rumor, dissipem-se os fantasmas!
Ó calor destas mãos nos meus dedos tão frios!
Acende-se de novo o Presépio nas almas.
Acende-se Jesus nos olhos dos meus filhos.

David Mourão-Ferreira

In “David Mourão-Ferreira”,
edição da Fundação Calouste Gulbenkian

Diocese de Aveiro em dia de aniversário



A Diocese de Aveiro completa hoje a bonita idade de 69 anos. Restaurada em 11 de Dezembro de 1938, teve como primeiro bispo, nesta segunda fase da sua existência, D. João Evangelista de Lima Vidal. Um filho da terra, que muito contribuiu para que Aveiro fosse diocese.
Em dia de aniversário, importa reflectir sobre as vantagens dessa restauração. O anseio vinha de há muito, manifestado por clérigos e leigos. O Correio do Vouga, que nasceu antes da dessa data, assumiu como desafio pugnar pela concretização desse sonho. E isso aconteceu, por decisão do Papa Pio XI, com a publicação da bula Omnium Ecclesiarum, de 24 de Agosto de 1938.
Paróquias das dioceses de Coimbra, Porto e Viseu deram-lhe corpo, e o povo, sentindo que tinha bispo perto, um bispo que respirava a maresia e os ares do Vouga, rejubilou. Até hoje.
A Diocese de Aveiro teve, felizmente, a oportunidade de ter bispos que se identificaram com a maneira de ser e de estar do nosso povo, multifacetado no seu comportamento e no seu modo de viver a fé. Povo solidário, aberto ao transcendente quanto baste, aceitou e respeitou sempre o seu bispo, identificando-se com os projectos de rejuvenescimento da Igreja Aveirense, para cada tempo e lugar.
Desde D. João Evangelista até D. António Francisco, passando por D. Domingos da Apresentação Fernandes, D. Manuel de Almeida Trindade e D. António Baltasar Marcelino, a empatia entre prelados e diocesanos foi marcante, respeitadora e desafiante. Os Bispos de Aveiro, todos diferentes no agir e todos iguais na forma de testemunhar a fé, convincentes e entusiastas, foram, e são, marcos indeléveis na história da Igreja Aveirense, pela sua capacidade de adaptação pastoral a cada época e a cada paróquia, tendo permanentemente em conta a unidade que a Diocese consubstancia.
Agora, com D. António Francisco dos Santos, há um ano entre nós, nova caminhada se enceta, na linha da imperativa e urgente evangelização, atenta à abertura a novas mentalidades, como recomendou, recentemente, o Papa Bento XVI.

Fernando Martins

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Na Linha Da Utopia



Os líderes da União Africana

1. Muito acima da geoestratégia de uma Europa que não quer perder África, continente já inundado pela Índia, China e EUA; muito mais importante que esse jogo de interesse económico de uns que procuram a melhor táctica de exploração de recursos de outros, quando não de humanos, a presente Cimeira União Europeia – União Africana sentou à mesma mesa a vontade da reconciliação histórica. Caminho difícil, mas em que pela primeira vez, segundo os analistas, o ressentimento deu lugar ao encontro e ao realismo das obrigações recíprocas.
2. Talvez um dos grandes heróis da Cimeira seja Alpha Oumar Konaré, presidente da Comissão da União Africana (ex-presidente do Mali). Suas palavras, fruto de sabedoria na experiente leitura dos problemas africanos (e seus nos variados níveis de relacionamentos), faz dele uma figura de dois alertas estruturantes: tanto na denúncia contra os ditadores de África que retardam a democracia e o desenvolvimento (pois a má governação conduz à pobreza), como da vigilância necessária na não imposição de modelos europeus sobre África (visão que supera, assim, séculos de não boa memória).
3. A história faz-se deste modo. E a relação entre os dois continentes, mesmo no quadro do “mal menor” da presença de ditadores (água mole em pedra dura…?!), deu passos adiante, num relacionamento “de igual para igual”. Este “igual” que não pode significar uma “reconquista” de espaço mas uma grandiosa responsabilidade. Sendo a recente União Africana um projecto de unidade na diversidade construído na experiência do modelo europeu, também seja de sublinhar que, resumindo e concluindo, o certo é que poucas capitais europeias teriam a capacidade de erguer (que seja) as tendas de tal encontro UE-UA.
4. Como sempre e em tudo, das expectativas às realizações pode existir uma distância perturbadora. Cimeira terminada, depois das palavras da circunstância, a pobreza, fome e a sede de todos os dias nas populações africanas, continua a ser o flagelo “produzido” por muitos dos que estes dias estiveram em Lisboa. Para John Kufuor, presidente da União Africana e chefe de Estado do Gana, uma nova esperança se abre neste passo em que Lisboa foi o culminar de um caminho, mas terá de ser fundamentalmente um ponto de partida. Querem mesmo os governantes das nações africanas? E nós europeus (e hoje asiáticos e EUA), estamos prontos para “abdicar”, para efectivamente um mundo novo ser mesmo possível?
5. O certo é que com líderes lúcidos e denunciadores como Alpha Oumar Konaré, a esperança é possível. Mas o facto dele não ter o apoio dos chefes de governo africanos para renovar o mandato de liderança…que sinal será? Já estarão todos os governantes africanos na disposição de conviverem com as oposições aos seus regimes? Esta é a fórmula do digno futuro.

Alexandre Cruz

DIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS DO HOMEM



A Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada pela Assembleia Geral da ONU em 10 de Dezembro de 1948, mantém a actualidade nos dias de hoje. Não há dia nenhum que não tenha, em qualquer parte do mundo, razões mais do que suficientes para a justificar. Os atropelos constantes aos mais elementares direitos do ser humano aí estão, sempre, a mostrar que o homem continua a ser lobo do homem.
Daí a importância de recordar a Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada em 1948, em que se sublinha que a Assembleia Geral da ONU a considera “como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição”.

Declaração Universal dos Direitos do Homem

Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro

No Teatro Aveirense, até 2 de Janeiro







PORTA DE MAR - OU O ABRAÇO ENTRE O SAL E O MEL

Às 19 horas de hoje, 10 de Dezembro, proceder-se-á, no Teatro Aveirense, à inauguração da exposição "Porta de Mar", composta por fotografias doconsagrado Paulo Magalhães.
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A exposição, patente até 2 de Janeiro de 2008, é assim descrita pelo Presidente do Conselho de Administração do Porto de Aveiro:
"O mar abre-nos as portas para o Mundo. Só quem não tem o mar por perto sente e sofre os ferrolhos da amarração à terra.
Aveiro, Ílhavo, as Gafanhas ganharam uma fantástica Ria em sorte. E Homens com vontade indómita de a convencer a abraçar o Mar vizinho.
Aconteceu a 3 de Abril de 1808.
O Porto de Aveiro é fruto desse abraço entre o sal e o mel.
O magnífico trabalho de Paulo Magalhães retrata, com mestria, muito desse mel e muito desse sal de que é feita a vida do Porto de Aveiro.

Fonte: Texto e fotos do Portal do Porto de Aveiro

GAFANHA DA NAZARÉ - UMA FILHA DO PORTO




Quem hoje visita a GAFANHA DA NAZARÉ, se embrenha no seu emaranhado casario, onde o contraste entre o rico e o pobre se tornam flagrantes, e percorre a zona portuária e industrial, talvez nem imagine o que foi o viver dos primeiros habitantes que por aqui se foram fixando desde o século XVII, e, sobretudo, nos finais do século XIX e princípios do século XX.
A gente humilde que por esta região se foi quedando no amanho da terra pouco fértil, porque muitas vezes lavada pelas águas salgadas, nem sequer sonhava com a Gafanha que estava a construir e fadada para pólo de desenvolvimento. Antes da abertura da Barra, que aconteceu em 3 de Abril de 1808, a região lagunar era terra doentia e as águas estagnadas muito contribuíram para isso. Mas depois, quando “Pelas sete horas desse dia, Luís Gomes, abrindo um pequeno sulco com o bico da bota, no frágil obstáculo que separava a ria do mar, deu passagem à onda avassaladora da vazante para a conquista da libertação económica, depois de uma opressão que durara sessenta anos”, como descreve o Comandante Rocha e Cunha, a Gafanha viu nascer novas esperanças. As areias movediças, varridas constantemente por ventos carregados de salmoura, desafiaram a tenacidade deste povo que teimava e acreditava numa agricultura de certo modo próspera, embora complementar de outras actividades nascidas com a abertura da barra. A pouco e pouco, a persistência e o suor dos gafanhões fizeram o milagre. Das águas da ria vinha o moliço que os gafanhões nas margens recolhiam sem correrem o risco do moliceiro. Essa aventura do moliceiro surgiria mais recentemente, à medida da necessidade e da descoberta da impossibilidade de se viver de costas voltadas para a ria que também lhes oferecia sem grande esforço o peixe. E com o moliço, operou-se, então, a transformação de muitos conhecida. A terra fertilizada novas gentes atraía.
Barra e gentes, gentes e barra, mais porto e dinamismo, operaram o milagre da Gafanha de hoje, onde trabalho não falta, nem deixa de crescer a aposta de mais e melhor da sua gente empreendedora. E ao falarmos da sua gente, dos gafanhões de hoje, ocorre-nos recordar as suas origens mais recentes. Dos concelhos de Vagos e Mira veio quem já conhecia o que o esperava. Habituados a estes areais, sabiam bem as voltas que lhes dar. Depois Beiras e Minho, sobretudo, invadiram secas e estaleiros, oficinas e marinhas, ajudando significativamente na construção da moderna Gafanha, que serve de berço a um dos mais importantes portos portugueses, o Porto de Aveiro, sempre na senda de novos desafios. Aliás, o Porto de Aveiro, instalado na Gafanha da Nazaré, não deixará de ser mais um motor de novos desenvolvimentos, que hão-de contribuir, de forma expressiva, para o progresso económico da zona centro do país, e não só. E atrás do progresso económico, outros surgirão à mistura, certamente, com alguns reveses que as populações, os autarcas e os responsáveis nacionais, de mãos dadas, saberão atempadamente ultrapassar. Refiro-me, nomeadamente, à criação de infra-estruturas adequadas ao desenvolvimento demográfico inevitável É que um porto dinâmico é sempre uma causa de novos núcleos populacionais.
O porto é hoje a razão de ser da Gafanha e referência constante nas conversas e trabalhos, nos projectos e discussões. Também de alguns descontentamentos, principalmente se não são considerados os interesses fundamentais das populações, as que mais directamente sofrem as consequências negativas que num ou noutro caso não podem ser evitadas.
Fernando Martins

domingo, 9 de dezembro de 2007

Mensagem de Natal do Bispo de Aveiro

NATAL É TEMPO
DE MULTIPLICAR A ESPERANÇA

O Natal cristão transporta sempre consigo o anúncio messiânico de uma grande alegria e de uma renovada esperança: “Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, o Senhor” (Lc 2, 11).
Aqui se radica a fonte de toda a esperança cristã e a certeza de que a redenção da humanidade, desde sempre prometida e profetizada, se cumpria em Jesus, o Filho de Deus.
É dessa esperança que somos testemunhas, servidores e mensageiros.
É esta a certeza redentora que o mundo procura e precisa.
Que o Natal é necessário todos o sentimos e reconhecemos! As sociedades e as pessoas já não sabem nem podem viver sem Natal. Ele faz parte não só da sua matriz cultural mas também da sua identidade social e da sua dimensão religiosa. O Natal é uma espécie de força motriz onde as sociedades e os povos, as famílias e as pessoas vão procurar luz, energia, ânimo e esperança para acreditar que a vida tem sentido, o futuro é possível e o mundo pode e deve ser melhor.
Só assim se entendem as mensagens, as saudações, os gestos de proximidade, as distâncias vencidas, as ruas iluminadas, os presentes repartidos, os sinais de beleza distribuídos e os esforços para reunir e congregar famílias. Aí se inspiram os testemunhos exemplares do voluntariado generoso, por vezes heróico, e da partilha fraterna afirmada e vivida em tantos momentos do tempo de Natal.
Em época de assumida globalização, cumpre-nos oferecer o Natal ao mundo, anunciando o nascimento de Jesus, o Filho de Deus e Príncipe da Paz.
Os cristãos têm esse direito e devem assumir com alegria, serenidade e coragem, essa missão: fazer que o Natal de Jesus se renove e celebre no íntimo do coração humano, no ambiente sagrado da família e na liturgia festiva da comunidade, a fim de que o mundo acredite e a esperança de um futuro feliz para a humanidade se multiplique.
Multiplicar no mundo a esperança que nasce do Natal, qual estrela de Belém que ilumina caminhos de magos, de poderosos e de sábios ou voz de Deus que anuncia o nascimento de Jesus a pastores, a simples e a pobres, exige de nós abertura e generosidade para sermos no contexto concreto da nossa vida “ samaritanos da esperança”.
Também aqui, em tempo de Advento e de Natal, como nos recorda Bento XVI na sua recente Encíclica, os lugares de aprendizagem e de exercício de esperança são a oração, o agir e sofrer humanos e a perspectiva do encontro definitivo com Cristo.
É necessário desde já sabermos ler e viver o Natal à luz das bem-aventuranças e das obras de misericórdia. Só assim celebraremos Natal como discípulos de Cristo e “samaritanos da esperança”, no coração de uma civilização em mudança e no âmago de uma cultura em busca de fundamento, de sentido e de rumo.
Deus é a esperança do mundo. É deste Deus que o Natal deve falar. E da coragem e da verdade deste anúncio e deste encontro com a Pessoa e com o Acontecimento de Cristo devem nascer sonhos, decisões e gestos criativos de amor irmão com todos.
Levar Deus, em gestos de amor fraterno, em olhares serenos e em atitudes de ternura, de esperança e de bênção às crianças, aos jovens, aos doentes, aos idosos, aos pobres, à etnia cigana e aos estrangeiros, tão numerosos entre nós, é uma bela forma de celebrar o Natal de Cristo, vivo e ressuscitado.
Multiplicar a esperança é o milagre permanente que, hoje e sempre, se deve pedir aos cristãos, discípulos de Cristo, iluminados pela Palavra e alimentados pela Eucaristia que Ele nos deixou.
Neste ano pastoral em que a Diocese de Aveiro se volta com intenso desvelo para os mais pobres, realço os gestos diários de partilha fraterna e de cuidado atento das Florinhas do Vouga, Instituição Social Diocesana, junto dos sem-abrigo. Quero que eles sintam, também, o Bispo diocesano próximo e irmão. Estarei convosco e com os sem-abrigo na Ceia de Natal, para que neste gesto simples se multiplique o espírito samaritano que impele em formas tão belas e criativas os cristãos, as comunidades, as instituições e os movimentos apostólicos da Diocese a repartir o amor, a esperança e a fé.
Um santo e feliz Natal.

Aveiro, 8 de Dezembro de 2007

António Francisco dos Santos,
Bispo de Aveiro.

ARES DO OUTONO





PRAIA DA BARRA
Vou à Praia da Barra desde que me conheço. De Verão ou de Inverno. Na Primavera ou no Outono. Todas as ruas, mesmo as mais recentes e fruto de uma urbanização com base no cimento armado, me são familiares. De tal modo que, quando passo, é frequente encontrar gente conhecida. De perto ou de longe. Hoje, com ameaças de chuva, lá fui mais uma vez. Com o Farol da Barra a dominar a paisagem desde há uns cem anos. De qualquer canto, ele desafia-me a fixá-lo na minha máquina. No areal deserto, nem marcas de gente havia. E mais ao fundo, a boca da barra dá passagem a navios que entram e saem constantemente. Quer chova quer faça sol. Num contínuo movimento que renova a paisagem a cada olhar.


O GRANDE DILEMA

“Será necessário, para obter segurança, dialogar com criminosos, apertar a mão a torturadores, tratar quaisquer déspotas de democratas, esquecer guerras e fomes, deixar entre parêntesis a corrupção, alimentar a cleptocracia e debitar, com ar confiante, longos discursos de lugares-comuns optimistas congratulatórios? Será que o preço que tem de se pagar pela paz inclui a criação e a manutenção de uma Nomenclatura internacional imune, impune e “off shore”? Será que o próprio desta casta é o hotel de cinco estrelas, o caviar, os vintages caríssimos, a trufa branca e os aviões transformados em lupanares de luxo?” António Barreto, no PÚBLICO de hoje NOTA: Escrevi ontem sobre a Cimeira UE-África, admitindo a necessidade de se receberem os ditadores, os sanguinários e os corruptos, porque provocar a sua marginalização seria pior. Perder-se-ia a oportunidade de diplomaticamente os sensibilizar para os valores da democracia, entre outros. António Barreto levanta nesta sua crónica a questão, com perguntas pertinentes, que aqui ofereço aos meus leitores, para reflexão.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 52


LENDA DO ABADE DE PRISCOS

Caríssima/o:

Desde logo uma interrogação: que é um «prisco»?
Os dicionários registam a palavra como adjectivo e significando “antigo”; mas no Diário da República III Série de 06/06/2003, onde se faz a descrição das armas desta freguesia, lá aparece: «...com três priscos (penhascos pequenos) de negro, alinhados em faixa...». Portanto, prisco é um penhasco pequeno.

E agora que lenda vamos encontrar em Priscos?
Os “livros “ falam como gente:
«Lenda do Abade de Priscos, Papa de Cozinheiros».(Cf. Sítio da freguesia de Priscos)
E acrescentam:
«Da história da freguesia, ressalta a figura do Abade de Priscos, de seu nome Manuel Joaquim Machado Rebelo. Pároco da freguesia de Priscos, onde esteve colocado quase cinquenta anos, foi um dos maiores cozinheiros portugueses do século XIX, imortalizando uma receita de pudim. »

Remando para outra fonte, a Wikipédia, pode ler-se:

«O Pudim Abade de Priscos é um
pudim típico de Braga, sendo uma das poucas receitas que o Abade de Priscos transmitiu para o público.
O pudim ficou conhecido quando Pereira Júnior, director do Magistério Primário feminino de Braga, no antigo
Convento dos Congregados, pediu ao Abade de Priscos receitas para ensinar no magistério.

O pudim é confeccionado num tacho de
latão ou cobre onde é colocado meio litro de água. Quando esta estiver a ferver, coloca-se meio quilo de açúcar, uma casca de limão, um pau de canela e cinquenta gramas de toucinho (é proposto que seja gordo e de preferência de Chaves ou de Melgaço) e deixa-se ferver até atingir ponto espadana. Batem-se quinze gemas e mistura-se-lhes um cálice de vinho do Porto até ficar em meio ponto, depois de bater novamente. A calda de açúcar é, então, vazada através de um coador fino para uma tijela onde estão as gemas, mexendo-se tudo. Barra-se uma forma com açúcar em caramelo e deita-se aí o preparado que é posto a cozer durante 30 minutos em banho-maria. O pudim é desenformado quando estiver quase frio.»

Assim sendo, na companhia da Maria Beatriz, vamos fazer a prova desta delícia culinária e, já agora, incorporá-la no cardápio da Avó!

Manuel

ADERAV tem petição na Internet




Com o objectivo de alertar para a situação de degradação em que se encontram as igrejas geminadas de Santo António e de S. Francisco, em Aveiro, e incentivar a sua recuperação, a ADERAV – Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro, tem uma petição na Internet, que pode ser “assinada” em www.aderav-aveiro.blogspot.com A igre-ja de Santo António, que integrou o extinto convento, remonta ao século XVI, e a antiga capela da Ordem Terceira de S. Francisco teve origem no século seguinte. Os dois templos comunicam interiormente, formando um conjunto arquitectónico classificado, facto que não impede que tenham sofrido uma acentuada degradação, nomeadamente no que se refere aos painéis de azulejos e revestimentos cerâmicos, às talhas douradas e às pinturas sobre madeira.Para a ADERAV, a recuperação deste conjunto arquitectónico ainda é possível, de acordo com um estudo elaborado por uma equipa do Centro de Res-tauro e Conservação da Universidade Católica do Porto, que avalia em 415.000 euros o investimento necessário para a sua recuperação, montante ao qual se deverão acrescentar as despesas de engenharia civil inerentes à recuperação do próprio edifício.

Fonte: CV

sábado, 8 de dezembro de 2007

BISPO DE AVEIRO




D. António Francisco
está entre nós há um ano

Completa-se hoje, 8 de Dezembro, um ano sobre a entrada de D. António Francisco dos Santos em Aveiro, como Bispo da Diocese. Há um ano, não pude, por razões por demais conhecidas dos meus amigos, estar presente na cerimónia que decorreu na Sé, mas não faltei hoje à Eucaristia de acção de graças pela missão episcopal de D. António e de ordenação do diácono Filipe Coutinho, rumo ao presbiterado.
No silêncio da Catedral, durante bons minutos, recordei todos os bispos da restaurada Diocese de Aveiro, que bem conheci. Com alguns deles colaborei no seu labor pastoral, à medida das minhas disponibilidades e das minhas capaci-dades. A minha memória, recuando algumas décadas, mostrou-me quanto a diocese, a cidade de Aveiro e sua região devem a esses bispos, todos diferentes, mas todos em sintonia com as necessidades espirituais do povo de Deus que lhes foi entregue. Direi mesmo que as suas diferenças, temperamentais sobretudo, se mostraram complementares, ou não exigissem os contrastes, que marcam a maneira de ser e de estar de povos da ria, do mar, do Vouga e da serra, respostas pastorais diversificadas.
À homilia da missa desta tarde, D. António Francisco frisou que celebrava este primeiro aniversário com todos os aveirenses, “na partilha, na oração, na alegria e no compromisso pastoral”, sublinhando que já não saberia viver sem nós.
Considerando que é hora de olhar em frente, face aos desafios lançados, em Novembro, pelo Papa, aos bispos portugueses, durante a visita ad limina, D. António Francisco recordou a importância do serviço aos mais pobres. Referiu, depois, a urgência “da criação de estruturas para a missão” e de “espaços onde as pessoas se encontrem com Deus”. Quanto a ele, o Bispo de Aveiro prometeu que vai continuar “próximo e irmão” de cada um de nós.
Permitam-me que sublinhe esta faceta de D. António Francisco, no relacionamento com as pessoas. Pelos poucos contactos que mantive com ele, não pude deixar de registar a facilidade com que se mantém próximo dos que o procuram, a naturalidade com que os escuta, a simplicidade com que avança com propostas pastorais, a convicção com que afirma a fé que o anima. Por isso, a certeza que mantenho de que Aveiro saberá estar com o novo Bispo, sobretudo nesta hora da renovação de mentalidades e de atitudes, conforme pediu Bento XVI, na linha da concretização do Vaticano II, que muitos teimam em manter nas gavetas das sacristias.

Fernando Martins

Na Linha Da Utopia



O DIA DOS DIAS

1. 10 de Dezembro, Dia dos Direitos Humanos. Dia (con)sagrado que no meio do séc. XX representa um ponto de chegada (e de partida) na recepção da dignidade humana como patamar de todas as realizações. Até esta “meta volante” ser assinalada na Convenção de Paris, a 10 de Dezembro de 1948, tragicamente, foi muito o sangue derramado pelas duras intolerâncias da menoridade humana. A partir deste dia, construído também na base das grandes mensagens de dignidade revelada que vão percorrendo os séculos, o “TEMPO” histórico ganha uma nova contagem. 10 de Dezembro, representará, assim, o dia para todos os dias, o sentido do comum ideal a ser atingido por todas as nações, pessoas, instituições, comunidades.
2. Uma nova ordem se abriu no pensamento-acto humano. A comum dignidade de todos os seres humanos, (re)encontrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, integrando o melhor dos “possíveis” até esse presente, vence as limitações das anteriores coordenadas humanas, particularmente da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (26 de Agosto de 1789). Nesta, ainda na incapacidade humana limitada de que viria a ser reflexo a emergência de nacionalismos de exclusão da “diferença”, não tinham lugar nem a “mulher” nem o não-cidadão, o que vagueia pela rua ou é de etnia diferente… Hoje não celebramos, pois, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) mas sim a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), celebramos a dignidade humana que supera (e dá fundamento na ordem do SER) todas as concepções de cidadania da legalidade das incertas e procuradoras razões de estado.
3. Para o séc. XXI, desta herança de dignidade como imperativo ético, ergue-se a pergunta: e “os outros” (que afinal podemos ser nós)? A “alma” do 10 de Dezembro, celebrado em múltiplas iniciativas, acontecimentos, cimeiras (…) e reflexões, relança-nos aquela pergunta do livro Génesis: “que fizeste do teu irmão?” Essa pergunta ao longo da história foi merecendo e continua a merecer muitas respostas. A busca da resposta do (essencial) ideal humano faz reinterpretar todos os sistemas e níveis do conhecimento contemporâneo, dos mais abstractos aos mais concretos da ordem social comum, pois dos 30 artigos de 1948, continua a destacar-se o 29º em que todos “têm deveres para com a comunidade”. Estes comprometem-nos na liberdade democrática responsável e dizem-nos que enquanto a dignidade humana não brilhar assumidamente em tudo o que “somos” e “fazemos” vivemos a história incerta da procura da “TERRA-PÁTRIA” da unidade plural de que nos fala Edgar Morin.

Alexandre Cruz

O drama de receber ditadores



A Cimeira UE-África, que está a decorrer em Lisboa, acordou muita gente para a triste realidade de termos de conviver, dentro do possível, com ditadores e corrupto. Alguns deles sanguinários. As exigências políticas e as obrigações diplomáticas têm destas coisas. Quantas vezes, na vida, mesmo sob o ponto de vista particular ou social, temos de estar lado a lado com gente dessa, obviamente à nossa escala. De qualquer modo, e aceitando a opinião de muitos, os ditadores não podem ser marginalizados, mas devem ser envolvidos pelas nossas estratégias, sempre numa perspectiva de os levarmos a reconhecer os valores da democracia e dos direitos humanos.
Naturalmente que não será de um dia para o outro que essa gente reconhecerá que não estamos em tempos de ditaduras e de atropelos aos valores que nos enformam, de tolerância, de liberdade, de democracia e de justiça social. Daí que Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, tenha dito que está com pessoas com quem sua mãe gostaria que não estivesse. Acrescentou, depois, em entrevista a uma televisão, que o povo não tem culpa dos ditadores que tem, pelo que a UE não pode deixar de apoiar quem passa fome e outros horrores. A UE não patrocina iniciativas dos ditadores e corruptos, mas dá a mão, através de organizações não governamentais, às populações que se encontram na miséria.
Desta forma, a UE vai mostrando que não está com os ditadores, que não os ajuda, que não alinha com tiranos, mas que ajuda, isso sim, populações sem conta que estão na miséria extrema. Por estas é que a Cimeira UE-África aceita a participação de ditadores, sanguinários e corruptos. Se, afinal, não queremos estar lado a lado com esses, queremos e devemos estar com os oprimidos.

Fernando Martins
Foto: José Sócrates e Durão Barroso

O mar


VI HOJE O MAR

Vi hoje o mar
Lindo mar da minha infância
No areal deserto
Na penumbra da tarde
Da minha memória

Senti hoje o mar
Lindo mar da minha infância
Nas ondas caídas
Na praia salgada
Da minha tristeza

Li hoje o mar
Lindo mar da minha infância
Na gente solitária
Na espuma branca
Do meu passado

Recordei hoje o mar
Lindo mar da minha infância
Nas tardes de leitura
Na areia macia
Da minha alegria

Revivi hoje o mar
Lindo mar da minha infância
Nas vagas soltas
Na vida vivida
Do entardecer
Fernando Martins