sábado, 20 de outubro de 2007

SAIR NA HORA CERTA

Aqui ao lado, em OPINIÃO, publiquei uma afirmação, oportuna, de Miguel Sousa Tavares. O colunista do EXPRESSO e escritor tem razão. Se quisesse, poderia indicar outras pessoas, dos vários campos sociais, que têm dificuldade em deixar o poder. Sublinha ele que “A grandeza está em largar e não em continuar agarrado ao poder. Como acontece com tantas outras situações, em determinadas alturas da vida, a sabedoria consiste em saber sair, antes que nos peçam para sair". É verdade. Acontece, porém, que não vale a pena continuar a indicar pessoas que só sabem viver no poder e com o poder. Há casos evidentes em todo o lado, mesmo em campos onde era suposto encontrarmos gente com a humildade suficiente para ceder o lugar a outros. Concretamente, nas Igrejas, nos clubes, na política, nas instituições de solidariedade social e da cultura, em todo o lado. Tanto quanto sei, são pessoas generosas, capazes dos maiores sacrifícios, mas convencidas de que são insubstituíveis. Pensam, até, que a sua saída dos lugares que ocupam pode ser o caos, o fim do que lideram. Puro engano. As pessoas passam e as instituições permanecem de pé, quiçá com outras dinâmicas. Pelo que tenho visto, em diversas situações, estes responsáveis que se encontram agarrados ao poder parece que já não sabem viver sem ele. De tal modo que, uma vez fora das lideranças, até são capazes de fazer a vida negra a quem os substituiu, procurando estar na crista da onda, esforçando-se por dar nas vistas, teimando em mostrar que estão vivos. E afinal, mesmo sem os lugares de mando, poderiam muito bem continuar a trabalhar para o bem comum, em lugares mais humildes, mais apagados, mas úteis. FM

ARES DO OUTONO


O PÔR DO SOL É PARA NOS ELEVAR
Há anos recebi uma lição que jamais esquecerei. Viajava com um amigo, com o crespúsculo do fim de tarde a aproximar-se a passos largos. De repente, ao virar de uma esquina, eis um pôr do Sol deslumbrante. O meu amigo parou o carro, de repente, e convidou-me a sair. E disse: esta beleza é para ser apreciada com serenidade; isto eleva-nos. E ali ficámos a contemplar, numa tarde de Outono, a riqueza multivariada do colorido de um Sol coado pelas nuvens que iam emprestando tonalidades quase inexplicáveis ao astro rei que mudava de hemisfério.
O meu amigo e leitor Ângelo Ribau tem destas sensibilidades. Esta foto, que lhe agradeço, foi tirada junto ao navio-museu Santo André. Aqui a partilhamos com os leitores do meu blogue.

O CASTIGO A SCOLARI

A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) multou Scolari em 35 mil euros, pela sua infeliz atitude num jogo internacional de futebol. Esta multa vem na sequência do castigo que foi aplicado ao seleccionador Scolari pela UEFA, que não ignorou o gesto impróprio de um homem que tem de ser um educador. Scolari reconheceu, na altura, embora um pouco tarde, que fez mal. Agora, a verba que lhe vai ser retirada do ordenado vai ser aplicado "num fundo de fair play", conforme informou Gilberto Madail, presidente da FPF.
O presidente esclareceu, ainda, que "o fundo de fair play e código de ética" já estava a ser pensado antes do incidente que envolveu Scolari no Portugal-Sérvia, realizado em Alvalade."A UEFA tem mecanismos de decisão mais rápidos que nós", explicou Madail sobre as razões que levaram a Federação Portuguesa de Futebol a só agora sancionar o treinador brasileiro.
Gestos de ofensas ao “fair play" no desporto português, nomeadamente no Futebol, não faltam. Infelizmente. Indiciará este comportamento, sobretudo de atletas, pouco cuidado, ao nível dos responsáveis, na sua preparação global? Penso que sim. Tantas atitudes irreflectidas, tanta má educação, tantas agressões na disputa da bola e tantas simulações no sentido de enganar os árbitros (que alguns consideram legítimas, como um dia disse o treinador Fernando Santos) só podem ter uma explicação: ensinam os jovens a dominar a bola, mesmo com arte, mas não educam para o respeito absoluto pelos adversários, profissionais da mesma profissão, e pelos adeptos.
Então, que o "fair play e o código de ética" venham quanto antes, com um objectivo fundamental: educar os atletas, os treinadores e os dirigentes. Os castigos serão sempre secundários, porque não resolvem problemas nenhuns. Se os resolvessem, nos países com pena de morte para os infractores não haveria crimes.

FM

DEUS: UMA QUESTÃO ABERTA




"O que entender por ateísmo? Perante o mistério da existência, talvez alguns não ponham sequer a questão da fé. Outros têm respostas prontas, claras e indiscutíveis. Há também os que não compreendem e, porque, no meio de um mundo ambíguo, grandioso e inquietante, se não satisfazem com nenhuma resposta, se interrogam angustiados: porquê? G. Minois, na sua História do Ateísmo, pensa que é tarefa do historiador explorar o passado destas três atitudes com "compreensão e compaixão". Assim, ele 'fala da história dos descrentes, agrupando sob esse vocábulo todos os que não reconhecem a existência de um Deus pessoal que intervenha na sua vida: ateus, panteístas, cépticos, agnósticos, mas também deístas'."
Leia todo o artigo em DN

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

AVEIRENSES ILUSTRES



EXEMPLO A IMITAR



Está a decorrer, em Aveiro, por iniciativa da Câmara Municipal, um ciclo de conferências, com o objectivo de manter viva a nossa memória, a respeito dos nossos maiores. Este projecto, a todos os títulos louvável, tem o aplauso de toda a gente e merece ser repetido, por esta ou outra forma, nas autarquias do País. Isto, porque nem sempre somos dados a recordar, com ênfase, aqueles que se deram ao serviço público, às ciências, às artes, à solidariedade, aos valores do espírito, ao desporto, ao amor ao próximo.
É frequente olharmos para a toponímia, lermos os nomes de baptismo de algumas ruas e praças, mas nem sempre sabemos, verdadeiramente, quem foram e o que fizeram de relevante essas personalidade, famosas ou humildes, que, de alguma maneira, contribuíram para o enriquecimento da sociedade, projectando-se e projectando-nos para um futuro mais justo e mais fraterno.
Os meus parabéns e que outros sigam o exemplo da autarquia aveirense, são os meus votos.

FM

Museu Marítimo de Ílhavo






PARA ABRIR O APETITE
:
Para abrir o apetite, aqui ficam três fotografias do Museu Marítimo de Ílhavo, mais concretamente da Sala da Ria de Aveiro. Claro que há outras salas, outros espaços, onde o nosso mar e o nosso povo também são reis.

MUSEU MARÍTIMO DE ÍLHAVO




6º ANIVERSÁRIO
DA SUA AMPLIAÇÃO E REMODELAÇÃO

O grande dia das comemorações do 6º aniversário da ampliação e remodelação do Museu Marítimo de Ílhavo será no domingo, 21, no auditório, pelas 17 horas. O evento principal será a apresentação do livro “Museu Marítimo de Ílhavo - Um Museu com História”, que assinala o fecho das comemorações dos 70 anos do Museu. Na mesma sessão será também apresentado o catálogo da exposição “A Diáspora dos Ílhavos”.
Entretanto, hoje e amanhã, tem lugar no mesmo museu o Colóquio Internacional de Patrimónios Marítimos e Museologia.
Permitam-me que reforce o conselho, tantas vezes aqui formulado: visitem o Museu Marítimo de Ílhavo, porque vale bem a pena. As especificidades das suas colecções, que tanto dizem às nossas gentes, precisam de ser apreciadas. E se aproveitarmos a circunstância de haver festa, como é o caso deste fim-de-semana, tanto melhor.

Na Linha Da Utopia



SOCIEDADE MAIS INCLUSIVA, QUANDO?

1. Já estivemos a anos-luz deste ideal que perseguimos. Que o digam os heróis que ao longo tantos dos séculos como das últimas décadas têm lutado por uma sociedade (mais) inclusiva, que saiba acolher cada pessoa na sua situação, especialmente na procura de um tempo social que tenha como referência de especial atenção a pessoa que tem mais dificuldades, o “pobre” (aquele a quem falta algo) e nele elas a pessoa com deficiência.
2. Periodicamente, de forma especial em datas comemorativas (seja de âmbito local ou mundial) convivemos com as promessas interessantes de quem diante dos factos espelha a justa sensibilidade para com esta causa de todos. Mas no dia (mês, ano) seguinte tudo volta à estaca “zero”, quase ao ponto de partida, deixando na ansiosa insegurança quem já vive um peso incalculável, como também as suas famílias e as pessoas e instituições que acompanham a vida das pessoas com deficiência.
3. Do ano 2003, Ano Europeu da Pessoa com Deficiência, continuam ainda um conjunto de expectativas para serem cumpridas (dos passeios das estradas públicas até aos acessos a edifícios, e muitas vezes em construções novíssimas); da estruturante Declaração de Salamanca (10 de Junho de 1994, http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/deficiente/lex63.htm) continua aberto o longo caminho a percorrer nessa estruturação de uma educação inclusiva que tarda em ser a referência paradigmática na perspectiva de uma educação para todos e ao longo de toda a vida. Mas, sublinhe-se, para se chegar onde já se chegou tem sido heróica a entrega daqueles que, contra todos os ventos do pragmatismo, vão dando esta sensibilidade como o único caminho possível de futuro.
4. Todos sabemos que passeios da rua adaptados para a pessoa com deficiência são caminhos melhores para todos. Desta evidência, porque tarda desmedidamente a implementação dos novos modelos de acessibilidades (tanto de “caminhos” porque antes) de mentalidades? Porque aquilo que deveria ser o essencial pedagógico para todos é praticamente esquecido? Porque os cidadãos não “sentem” (só quando toca na pele) esta como uma causa de todos e essencial para uma sociedade mais sensível? Porque vêm as políticas, agora, também, sacar os cêntimos de pessoas cuja vida…? Porque andamos para trás em termos de sensibilidade social? Eis onde chegámos, e como o permitimos. Quem diria!

Alexandre Cruz

VIVER SEM OBRIGAÇÕES, GOZAR SEM TRABALHAR

No seu discurso inicial, o Presidente Sarkozy recordou uma frase escrita nas paredes da Sorbone, em Maio de 68, para dizer nesse dia ao povo francês que esse não podia ser o caminho para a renovação e desenvolvimento do país. A frase foi esta: “Viver sem obrigações e gozar sem trabalhar”. Era o ideal de muitos dos protagonistas desse dia.
Os tempos que vão correndo mostram que este parece ser ainda hoje o sonho de muita gente. O ambiente reinante vem, em muitos casos, ao encontro de quem assim pensa e deseja isso mesmo para si. Ganhar muito com pouco ou nenhum trabalho e sem esperar nem gastar tempo. O frenesim na procura do mais fácil e rentável, leva por vezes a entrar por caminhos enviesados e escusos, à margem da lei ou sob uma protecção duvidosa da mesma, permitido o aumento da corrupção, da marginalidade, da irresponsabilidade social. Tudo isto é possível, mesmo habitando-se vivendas vistosas, gozando da estima de uns e dos favores de outros. Uma clandestinidade com muitas abertas, que passa desapercebida a quem só olha para o lado e, quando os olhos se abrem, logo a luz os incomoda.
As obrigações, que tantos rejeitam e que podemos traduzir por deveres e compromissos pessoais e colectivos, pressupõem consciência de responsabilidade, sujeição a normas de conduta, compreensão do bem comum, participação activa na construção de uma comunidade de direitos e deveres, abertura à mútua colaboração, espírito de serviço e de disponibilidade, capacidade de convivência salutar e de verdadeiro discernimento. Só neste clima se pode esperar a satisfação dos legítimos direitos de cada um e de todos. Então, tem sentido a luta pelos mesmos direitos, quando não reconhecidos, negados ou dificultados
Ninguém ignora que governar, até a própria casa, é uma tarefa cada vez mais difícil e penosa. Muita gente não quer regras, a obediência traduzem-na por sujeição de escravos, cada um sabe sempre mais do que os outros e só o que o que ele faz e diz é que tem valor e mérito. Os outros existem para incomodar quem se incomoda com pouco.
A sociedade está a empobrecer progressivamente. Só um atordoamento publicitário que cria e alimenta ilusões e anestesia a inteligência de quem devia pensar e ser crítico, pode impedir esta dolorosa e preocupante verificação. Também têm culpa desta doença que vai minando a vida em sociedade, muitos meios de comunicação social que cultivam o superficial e o emotivo e só aterram na realidade quando o escândalo é grande e torna a notícia rentável. As revistas dos escaparates, que são depois as que nos consultórios são monte de papel à disposição de quem espera, para poder queimar o tempo e alimentar a fantasia, dizem, com grande aparato gráfico, o vazio de muitas vidas, tornadas “famosas” pelo número de casamentos e de escândalos.
Gozar à tripa larga, sem dar nas vistas, foi o conselho de um conhecido treinador de futebol a alguns jovens jogadores, envolvidos em festa, que não honrava pessoas decentes e sérias. Porque se abriu para eles, em corrente abundante, a torneira dos milhões, muita gente julga que está aí para eles e para a gente nova, em geral, o segredo de uma grande felicidade, presente e futura.
A vida não se pode isentar de obrigações. Ela mesma as necessita e as gera para evitar a sua desagregação e obter a honrosa classificação de ser serviço. Do mesmo modo, também para o normal das pessoas, o trabalho que proporciona a alegria do que se goza e satisfaz. Fugir a obrigações e a trabalhos é falsear a vida e envenenar o prazer do que legitimamente se goza. Aqui o segredo da história que perdura e deixa rasto. A opção pela historieta e pela banalidade, pelos caminhos sujos e pelos meios falsificados, é de vida curta, porque de consciência perturbada.

António Marcelino

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

CONSTRUÇÕES EM TERRA, NA ANTIGA CAPITANIA







Alguns aspectos da exposição


ADOBES EM AVEIRO E NO RESTO DO MUNDO

Até ao próximo dia 21, domingo, ainda pode visitar a exposição de fotografia e de utensílios do fabrico de adobes, na galeria da antiga Capitania, junto ao olho da cidade. Da região de Aveiro e doutras partes do mundo. São fotografias que nos mostram uma arte de tempos ancestrais, com vestígios dos nossos tempos. Vi edifícios, com que me cruzei tantas vezes, sobre os quais nunca me tinha debruçado com a atenção que eles mereciam. As exposições, afinal, têm esta missão de nos alertar para a arte e para as artes que teimam em marcar presença entre nós. Fui de propósito a Aveiro para ver duas exposições, mas não encontrei muita gente com gosto por estas coisas. É pena.
O desafio que aqui deixo é muito simples: vão à exposição antes que ela encerre.
Muitas das fotografias expostas são-nos de alguma forma familiares. Mas os testemunhos de antigos adobeiros também são bastante expressivos. Manuel de Oliveira Silva, 85 anos, de Requeixo; Georgina Gonçalves dos Santos, 84 anos, de Esgueira; e Aristides Marques Ferreira, 92 anos, de Eirol, estão bem retratados, como bem retratadas estão vidas e artes doutras gerações.
Fotografias do fabrico e aplicação de adobes mostram ao visitante que é preciso olhar à volta para apreciar o que resta da riqueza dos nossos avoengos, nomeadamente das freguesias dos concelhos de Aveiro e Ílhavo. E doutras paragens, em especial da Índia, Angola, Moçambique, Egipto, Espanha, Argentina e Marrocos.
Se gosta destas coisas (e mesmo que não goste; está sempre a tempo de começar a gostar), não perca esta oportunidade.

ARES DO OUTONO

Foto de Ângelo Ribau
::
Alegria! Alegria!
Ó céu do meu País,
Onde as nuvens até são quase luminosas,
Ó Sol de Maio a rir nos canteiros de rosas,
Ó Sol Alegre, ó Sol Brilhante, ó Sol Feliz
Para quem o Inverno é um momento apenas.
Sol de ingénuas manhãs e de tardes serenas,
Ó Sol quente de Julho, ó Sol das romarias,
Queimando e endoidecendo as multidões sadias,
Sol candente do Algarve, ó Sol doce do Minho,
Florindo amendoais ou a espumar no vinho.
Sol das searas de oiro e dos vergéis de Outono
Palpitantes de cor como um largo poente;
Sol que ao dormir a terra o seu fecundo sono,
Lhe dás sonhos de luz, voluptuosamente.
Sol das eiras do milho e da roupa a corar,
Sol dos verdes pinhais e das praias trigueiras,
Ó Sol moreno e forte a resplender no mar
Tisnando as carnações mais as velas ligeiras
Ó Sol moreno, ó Sol alegre, ó Sol feliz
Sendo ainda clarão na hora da agonia.

- Canta a glória da Luz, canta a glória do dia
Em todo o meu País!

João de Barros

In Vértice, revista de cultura e arte, Junho de 1952

DIAS POSITIVOS


Desafio espiritual


Al Gore e o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas foram os escolhidos para o Nobel da Paz. A escolha do comité norueguês não foi consensual. Raramente é. Não se pode agradar a gregos e a troianos. E qualquer opção implica exclusões – logo, permite que qualquer um diga que há um lóbi de qualquer coisa por detrás da escolha. Mas a contestação recai principalmente sobre o norte-americano. É difícil ser americano nos tempos que correm.
Um ponto, porém, é de realçar no discurso daquele que, em 2000, teve mais votos do que Bush, mas não foi eleito para a Casa Branca (não foi injustiça – todos sabiam que as regras eleitorais dos EUA permitiam e permitem que tal aconteça). Diz Al Gore, e é de crer que o repita quando, no dia 10 de Dezembro, receber o prémio: “A crise do clima não é uma questão política, é um desafio moral e espiritual para toda a humanidade”.
Não é difícil, para os cristãos, entender que assim seja. A crise do clima é a Criação a dar sinais dos maus-tratos por parte do ser humano, que em vez de ter cultivado o jardim (expressão do Génesis) que é de Outro, andou e anda a explorá-lo como se fosse seu. Já João Paulo II havia dito, num Dia Mundial da Paz, que a Paz com Deus, a paz entre os homens e a paz com a natureza andam todas ligadas.
A crise do clima é um puxão de orelhas ao nosso egoísmo geracional, ao nosso hiperconsumismo. Tudo acabará por ser resolvido com medidas políticas globais, mas estou certo de que, individualmente, isso implicará a adopção de virtudes morais e espirituais, com novos sentidos para a temperança, a solidariedade, o jejum e a abstinência...

J.P.F.
In Correio do Vouga

Na Linha Da Utopia


O perdão da dívida


1. Não se pense que falamos do “perdão da dívida” aos países pobres. Esse perdão seria bem-vindo, pois verdade se diga que muita da riqueza dos países ricos é conseguida à custa dos recursos explorados nos países pobres. Muitas destas nações em maior dificuldade estarão ainda a acolher a novidade efectivamente democrática e a encetar caminhos de real desenvolvimento, este que foi sendo travado pelo interesse estratégico de grandes (con-sideradas) potências ocidentais. Esse “perdão da dívida externa” tem merecido as maiores atenções e divulgações e, no fundo, não se trata de perdão mas sim de JUSTIÇA. Felizmente muitas têm sido já as vozes, da política às artes, sensibilizadoras para esta justiça do perdão da dívida, permitindo aos países de economia pobre um novo arranque no seu processo de justo desenvolvimento. Embora perdão sem um novo compromisso sociopolítico cai em saco roto…
2. Falamos de outro pretenso perdão (esquecimento, será?) de dívida. O caso do pai rico banqueiro que não sabia que seu filho havia pedido ao banco alguns milhões de contos (alguns, tanto faz o número para quem vive nessas esferas!), e, pelos vistos, pelo passar dos dias e das ideias, a dívida já deve estar quase perdoada!... Acontece tudo neste país!... Claro que, de facto, oficialmente, pouco se sabe e quase nada se deve dizer sobre o caso. Mas, o simples facto dessa possibilidade existir nessa gigante entidade bancária do país continua a fazer vir à luz do dia a desconfiança das entranhas dos processos, das agendas económicas, do modo como – em regime de pretensa igualdade de dignidade no tratamento das questões – uns continuam a ser mais iguais que outros. Pobre (rico) país!
3. Felizmente levantaram-se algumas vozes…mas que até têm lá os seus interesses, não vão os euros parar a outra algibeira! Mobilizaram-se entidades competentes, mas tudo em versão soft (leve), pois está consagrado prioritário a “imagem” em relação à “ética” dos milhões. Um arrastamento de silêncios e cumplicidades demonstra-nos bem a raiz dos nossos travões a um desenvolvimento justo, onde os tempos e lugares da ética e transparência terão de ser a fasquia de referência em qualquer área comum. Segundo os analistas da especialidade, essa entidade já havia passado um complexo “verão quente” ao que agora este caso denuncia maus hábitos de um “sistema”. Mas, não será possível ir à boleia por muito tempo; quando a ética de esvai abre-se a permeabilidade a tudo... No implacável mundo económico, não se resiste muito tempo na suspeita, a todo o custo se procuram seguranças. Assim, ISTO, por quanto tempo?!

Alexandre Cruz

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza


AINDA HÁ LIÇÕES DE VIDA

A ideia generalizada de que é impossível erradicar a pobreza no mundo não pode levar-nos a cair no desânimo, nem a limitar-nos na acção diária em favor dos mais pobres. Começando, naturalmente, pelos pobres que existem no pequeno mundo que nos rodeia. E às vezes, temos de o reconhecer, há projectos que podem estimular-nos para uma intervenção mais activa na sociedade.
Há anos participei numa cerimónia em que se homenageava um amigo meu, conhecido pela sua entrega aos outros. Celebrava ele uma data marcante da sua vida, penso que os 25 anos da sua ordenação sacerdotal, à qual se associou a comunidade em que exercia o seu múnus pastoral.
A comunidade, atenta à situação, entendeu oferecer-lhe um automóvel novo, já que o seu, antigo, estava bastante gasto pelo uso. Então resolveu quotizar-se para no dia da festa lhe entregar o cheque com a verba necessária.
Depois das palavras de circunstância, mescladas pelos elogios à sua entrega à comunidade, um membro da comissão organizadora da homenagem simples e de acção de graças sai da assembleia e dirige-se ao homenageado, a quem entregou o cheque, com a sugestão de que seria para um carro novo. Depois dos agradecimentos da praxe, o homenageado diz, com alguma alegria, mais palavra menos palavra: vem mesmo a calhar; este dinheiro vai direitinho para uma cozinha social; há gente que passa fome; o carro pode esperar.
Belo exemplo. Uma grande lição de vida que jamais esquecerei. E a cozinha social ainda hoje existe, fornecendo refeições económicas a quem tem algum dinheiro para as pagar; os que nada têm comem na mesma, porque não podem passar fome.

FM
:
Nota: Não divulgo o nome deste amigo para não ferir a sua sensibilidade.

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza



NÃO NOS ESQUEÇAMOS DE PARTILHAR


O dia que hoje assinalamos – Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza – tem mesmo de nos fazer pensar. Confesso que nem sei bem o que hei-de dizer, depois de tanto já ter lido sobre o tema. É por demais evidente que todos estamos muito agarrados àquela ideia de que “pobres sempre os teremos”, ficando, por isso, muito tranquilos. Verdade seja dita que pobres não são só os que não têm o essencial para se alimentarem no dia-a-dia. Há muitíssimas formas de pobreza, mas a que mais vem à colação é a que está ligada à falta de pão. As outras “pobrezas” ficam relegadas para um plano secundário. Nesta linha, aceita-se a velha máxima, porquanto não estará ao nosso alcance debelar a pobreza que é a infelicidade de muita gente. Quando muito, poderemos admitir que, mesmo aí, haverá sempre a possibilidade de algo sair de nós para ajudar quem sobre, no corpo ou na alma.
Voltando então à pobreza que caracteriza a falta de meios para viver com dignidade, custa-me aceitar que os cientistas, nomeadamente os economistas, não consigam descobrir formas palpáveis que conduzam à erradicação da pobreza.
Há cerca de um ano foi premiado com o Nobel o criador do banco do microcrédito, para ajudar famílias e pessoas no lançamento de projectos que oferecessem meios de sustento. Depois tudo se calou. Os grandes bancos e os seus lucros fabulosos, mais os seus escândalos de permeio, distraíram-nos. Os pobres continuam por aí, à nossa porta inclusive. Os pobres envergonhados, diz-se, estarão a ser cada vez mais. Serenos, indiferentes mesmo, nós todos continuaremos a saber disso e de muito mais, mas pouco fazemos para erradicar a pobreza.
Eu sei que há muita gente que se dedica aos outros, abdicando de tudo, mas continuo a pensar que a luta contra a pobreza tem de passar, também, pela luta em favor de mais justiça social, de mais envolvimento das pessoas nos lugares de decisão, de mais denúncia do que está mal, paralelamente ao anúncio de decisões que sirvam para apoiar e estimular os que mais precisam.
E já agora, não nos esqueçamos de partilhar, no dia-a-dia, o que pudermos com os que sofrem à nossa porta.

FM


Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza


Oito propostas prioritárias

No assinalar do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza - 17 de Outubro -, a Rede Europeia Anti-Pobreza / Portugal (REAPN) apresenta “8 propostas de acção estratégicas prioritárias” para que o assinalar deste dia “não se transforme em mais uma rotina sem significado e, sobretudo, sem consequências”.
:
Ler mais em Ecclesia

NOTA: Foto que me foi enviada por um amigo para este dia

Na Linha Da Utopia



Pobreza: o beco sem saída?

1. Já desde os tempos antigos, falar a “estômagos vazios” é literatura que cai em saco roto. Quando os que têm pão em abundância discursam simpaticamente sobre os que não o têm, e rapidamente passam a outro assunto pelas naturais pressas da agenda e da vida, estamos, no fundo, diante de ideias surdas e mudas, que adiam esta resolução fundamental dos mínimos da dignidade humana. É assim que, salvaguardando esforços heróicos de pessoas e entidades, vamos continuando na manutenção da pobreza. Verdade sublinhada se diga, se os senhores do mundo quiserem, que HOJE será possível terminar com a pobreza extrema.
2. Por ironias do calendário (ou talvez não), depois do Dia Mundial da Alimentação (16 de Outubro), celebra-se o Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza (17 de Outubro). Como as cerejas, num encadeado sempre crescente em que as consequências são novas causas de pobreza, os modelos globais da hiperconcentração dos poderes (macroeconómicos) vão-nos dizendo que “a lei do mais forte” é implacável para quem não se adapta ou tarda em conseguir vislumbrar o caminho. Das antigas (rurais) às novas formas de pobreza (citadina), da envergonhada à desavergonhada, o certo é que até algumas formas clássicas (a horta e o galinheiro!) de sobrevivência foram recebendo a ordem de fechar, deixando o pão ainda mais longe e (mesmo) a ociosidade bem mais perto.
3. A margem da sociedade está a ficar cada vez maior. Os publicitados números económicos espelham o seu fruto, não permitem respirar muitas famílias já de cinto bem apertado, numa classe média que tende a esvaziar-se. O antídoto sempre foi a FORMAÇÃO: esta é a chave da porta de uma sobrevivência que se vai abrindo a novas formas de resolução dos problemas. Formação, tanto para o mundo longínquo (sem água nem pão), como para nós que tardámos em aceitá-la, com motivação e compromisso, será a ferramenta salvadora. Lá longe, muitos ditadores vão impedindo o acesso a essa renovadora qualificação dos povos; cá perto, como é possível que tantos e tantos adolescentes abandonem levianamente a sua formação escolar?! Como tudo se conjuga nessa indiferença da entrada no “beco”?
4. E mais: por exemplo, há dias observámos (e libertámos) num dos parques de estacionamento da cidade uma luta entre duas pessoas; eram dois sem-abrigo, arrumadores de carros, vindos de outro país. Um julgava-se proprietário desse parque e não queria aceitar o outro que lhe vinha “tirar” alguns clientes; álcool e fumo fazem parte dessa vida, dando ao menos para aquecer as noites que começam a ficar frias (o chamado Natal ainda está longe, também é só um dia)… E como podemos proclamar que está tudo bem quando cresce o número de excluídos da sociedade? E como “ensinar a pescar” com mais eficácia e compromisso? E como ligamos mais a política (seja económica) e um ensino como estratégia nestas questões de fundo? E como...

Alexandre Cruz

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Dia Mundial da Alimentação

PAPA LEMBRA AS CRIANÇAS

O Papa Bento XVI assinala este Dia Mundial da Alimentação com um olhar especial sobre as crianças, defendendo o “direito de todos os seres humanos à alimentação”.
Numa mensagem enviada ao director-geral da FAO, o Papa lamenta que os esforços levados a cabo em todo o mundo não tenham permitido diminuir “significativamente” o número de pessoas atingidas pela fome.
A mensagem enviada a Jacques Diouf faz uma referência especial à situação das crianças, “primeiras vítimas desta tragédia que sofrem pela falta de desenvolvimento físico e psíquico”.
Na celebração do Dia Mundial da Alimentação, dedicado este ano ao tema “O Direito à Alimentação", Bento XVI aproveita para ligar o drama da fome ao respeito pelos Direitos Humanos, frisando que os dados disponíveis mostram que a falta de alimentos não está ligada apenas a causas naturais, “mas sobretudo a comportamentos humanos e a uma deterioração geral de tipo social, económica e humana”.
Segundo o Papa, “é necessária uma consciência de solidariedade que considere a alimentação como um direito universal, sem distinções nem discriminações”.

Fonte: Rádio Renascença

Dia Mundial da Alimentação

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL


A agenda diz-me que hoje é o Dia Mundial da Alimentação. E porque é uma agenda do nosso País e para a classe média alta, recomenda que devemos evitar açúcares, gorduras, óleos e aditivos.
É natural que haja cuidados com a alimentação, tanto mais que há muitas doenças que resultam do consumo imoderado de certos produtos, feitos a gosto dos nossos apetites. E dos nossos olhos. Afinal, o homem é o único animal, dizem, que come com os olhos. É, então, importante comer com moderação, optando pelos produtos mais saudáveis. Bom apetite, apesar de tudo. Amanhã direi por que motivo a nossa moderação até pode ter uma finalidade bem útil e importante.
Já agora, aprenda a calcular o índice de Massa Corporal, dividindo o seu peso, em quilos, pela sua altura ao quadrado, em metros. Se o resultado estiver entre 18,5 e 24, parabéns.

Na Linha Da Utopia



Alargar (ou limitar) o debate europeu?


1. Aproximam-se dias importantes para o projecto europeu. 50 anos depois do Tratado de Roma (já ineficiente no nova Europa) procura-se a todo o custo a assinatura de algo, de documento, de um tratado com linhas comuns. De uma ideia de Constituição “chumbada” pela França e Holanda, nestes últimos tempos o receio é tanto que se procuram ler mesmo em novas nomenclaturas essa esperança continuadora do inédito percurso europeu pós-guerra.
2. Mas talvez o maior de todos os problemas continue a ser a distância das comunidades locais em relação ao sonho europeu. Quando os votos nos possíveis referendos europeus derivam (ou não) do estado da situação económica, dos custos ou dos benefícios, tal facto demonstra-nos bem em que critérios temos andado. Dir-se-á que já no princípio assim era: o carvão e o aço, como permutas geradores de “laços” que ao menos evitassem a guerra como solução dos problemas.
3. O assunto (europeu) anda, mais que nunca, a ser lidado com pinças. A tal ponto que, de receio em receio, o “lema” norteador é mesmo evitar referendos, não venham estes a desiludir as expectativas. Neste contexto, por défices anteriores de explicar a Europa aos europeus, será que chegámos a uma situação em que o melhor será fechar, silenciar, limitar o debate europeu? Quase como uma operação clínica, qualquer distracção pode ser fatal. Os tempos actuais são de ansiedade, mas, melhor seria que ao longo dos tempos passados se tivesse conseguido alargar, efectivamente, o debate europeu.
4. O mundo precisa de uma Europa viva, com ideias, muito para além de um afirmado “racionalismo” (este hoje já quase sem razão, asfixiado na tecnologia); a Europa precisa de se repensar à luz do mundo e dos seus valores constitutivos. Nestes estarão tanto um pluralismo inclusivo de visões dignificantes como a constatação de matrizes que ergueram esta forma de democracia. Não será o esvaziamento de si mesmo que dará a capacidade acolhedora da diferença de pensamento e de modo de vida. Na Europa da dignidade humana, por ilusão ou confusão (no entendimento do que significa “pluralismo”), por medo ou pré-conceito, temo-nos esvaziado, quase esquecendo (pluralmente) donde vimos.
5. Claro, neste terreno pantanoso (pela “rama”), é tanto mais difícil saber para onde vamos. Ainda assim, continuará a ser histórico o caminho europeu; mas será tanto melhor quanto mais cedo se “escancarar” um debate aberto de uma Europa social e existencial no Séc. XXI. Parece que por agora este debate antropológico continua a ser adiado; o que se procuram são mesmo as assinaturas, não ideias que saibam ser unas e plurais. Pena, mais uma oportunidade adiada (?)!

Alexandre Cruz

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Poema


DÁ GOZO VER A FLOR
Dá gozo ver a flor
que desabrocha no meu jardim

Sentir que procura a luz
de manhã à noitinha
em silêncio

E descobrir que mais brilha
sozinha
ao amanhecer


Dá gozo ver a flor
que desabrocha no meu jardim

E ler no colorido das suas pétalas
vida límpida
reflectida nos meus olhos
Fernando Martins

Diocese de Aveiro




"IGREJA AVEIRENSE"

Veio a lume mais um número da revista “Igreja Aveirense”, uma iniciativa da Diocese de Aveiro, através da Comissão Diocesana da Cultura. Trata-se do número referente ao primeiro semestre de 2007.
A “Igreja Aveirense” nasceu para registar para a história da Diocese de Aveiro textos fundamentais do prelado diocesano, bem como dos departamentos e demais serviços da Igreja Católica, em terras da ria e do Vouga. Nessa perspectiva, a revista posiciona-se na linha de servir quem pretenda valorizar-se por meio da leitura, bem como ajudar os estudiosos que venham a debruçar-se sobre a vida e a intervenção da Igreja na sociedade aveirense, na multiplicidade das suas paróquias.
Neste número, os leitores podem continuar a reflectir sobre “A Igreja ao serviço da família”, tema do 2º ano do Plano Diocesano, de que se sentem marcas do programa desenvolvido durante os últimos tempos, nas acções levadas a cabo nas paróquias e movimentos, obras e grupos, “embora com ritmos e intensidades muito diversas”, como se lê na Apresentação da revista.
Mensagens, homilias e catequeses, mais alguns textos diversos do Bispo de Aveiro, D. António Francisco. Homilias, catequeses e outros escritos do Bispo Emérito de Aveiro, D. António Marcelino. Vêm a seguir as expressões dos vários serviços diocesanos, na diversidade das suas intervenções eclesiais, culturais e sociais.
A revista oferece também um trabalho sobre o diálogo inter-religioso e notícias breves. A rubrica Publicações apresenta um livro alusivo à acção pastoral dos Bispos de Aveiro, de Mons. João Gaspar. Há efemérides que enriquecem a nossa memória. O último capítulo, Pessoas Notáveis, evoca Maria da Anunciação Filipe, uma diocesana que se entregou sem limites à causa do Reino de Deus. Penso que estes exemplos de vida, cuidadosamente preparados e divulgados pelo padre Georgino Rocha, são uma mais-valia para a “Igreja Aveirense” e para todas as pessoas, independentemente de terem fé ou não. Permitam-me que diga isto: A Igreja esquece, frequentemente, gente que se dá aos que mais precisam, com toda a força de uma fé autêntica. Gente anónima para as parangonas da comunicação social, sem grandes títulos académicos, mas com a alma cheia de generosidade e do sentido de missão que devia caracterizar todos os cristãos. As nossas paróquias estão cheias de pessoas dessas. Felizmente. São elas que deixam marcas indeléveis no coração do povo. Sem estátuas nem honras. Essas estão, seguramente, no coração de Deus. Mas sabe bem recordá-las. É o que a “Igreja Aveirense” tem feito.

Fernando Martins

"Aveirenses Ilustres"


Ciclo de conferências abre com análise
à figura de Alberto Souto


A primeira sessão decorre hoje a partir das 18h30 no Museu da Cidade. O Ciclo de Conferências irá abordar cientificamente os seguintes “Aveirenses Ilustres”: Alberto Souto por Luís Souto da Universidade de Aveiro; António Gomes da Rocha Madahil por Luís Filipe Sampaio Camejo; José Estêvão por José Tengarrinha da Universidade Nova; Mário Duarte por Manuel Alegre; Antónia Rodrigues por Regina Tavares da Silva da Universidade Nova de Lisboa; José Ferreira Pinto Basto e Gustavo Ferreira Pinto Basto pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal; Padre Fernando Oliveira pelo Capitão de Mar e Guerra António Manuel Fernandes da Silva Ribeiro, do Conselho Consultivo e Científico do Centro de Estudos do Mar; Princesa Santa Joana e Infante D. Pedro por Saul António Gomes da Universidade de Coimbra; João Afonso de Aveiro por João Paulo Oliveira e Costa da Universidade Nova de Lisboa; João Jacinto de Magalhães por Isabel Malaquias da Universidade de Aveiro; José Luciano de Castro por Fernando José Grave Moreira; Lourenço Simões Peixinho por Rosa Maria Oliveira; Luís Gomes de Carvalho e Von Haff por Comandante de Mar e Guerra José Rodrigues Pereira, do Museu da Marinha; e Vale de Guimarães por Gaspar Albino e Gilberto Nunes.
:
Fonte: Rádio Terra Nova
Foto de Miguel Lacerda

PARQUE INFANTE D. PEDRO

MONUMENTOS NO JARDIM DO PARQUE
:
Apreciar os monumentos dispersos pela cidade, qualquer que ela seja, é sempre uma lição de história. Ler o que se escreveu neles, procurando depois outras informação, pode ajudar-nos a descobrir curiosidades interessantes. Leiam o que está nestes monumentos. Há personalidades da região que marcaram o seu tempo. E o nosso.

Efeméride


ESTÁTUA DE JOSÉ ESTÊVÃO EM LISBOA

1984 – Voltou a ser colocada junto do edifício da Assembleia da República a estátua do insigne parlamentar aveirense José Estêvão Coelho de Magalhães, que fora inaugurada em 1878 em Lisboa, no Largo das Cortes, e daí retirada em 1935. No mesmo dia, o Parlamento prestou ao grande tribuno uma significativa homenagem, falando os representantes dos principais partidos políticos.

Fonte: Calendário Histórico de Aveiro, de António Christo e João Gonçalves Gaspar
Foto de Dias dos Reis

domingo, 14 de outubro de 2007

FÁTIMA


D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, em entrevista publicada no PÚBLICO de hoje


Fátima é muitas vezes vista pelas coisas feias - o negócio, o urbanismo, a emoção exagerada. Como olha para isso?


Quem quiser ver os aspectos negativos, encontra-os. Mas há também multidões que ali vivem e testemunham a sua fé, com alegria. Há gente que ali encontra uma espécie de oásis espiritual, a frescura e a dimensão interior da sua existência, que é capaz de sair dali transformada e levar essa transformação aos outros.

:

Ler toda a entrevista no PÚBLICO

ARES DO OUTONO



EPÍLOGO

Não receio fantasmas nem duendes
Na jornada que vai quase a findar…
Hoje como ontem, meu Desejo, acendes
O mesmo facho para me guiar.

Ontem como hoje, uma lição aprendes
Na luz do Sol, na longa voz do mar:
- Que, se é grande a saudade a que te prendes,
Maior é sempre a glória de esperar…

Toda a noite amamenta a manhã nova…
E o mar, onda após onda, já renova
Sem apelo de longe em seu clamor.

Eternidade desta vida breve!
- Nunca morre a ansiedade que te leve
A criar, dia a dia, a paz e o amor…

João Barros

In VÉRTICE, revista de cultura e arte, Junho de 1952

Ponta de Lança


LIBERDADE

Há situações verdadeiramente incontornáveis no universo que é a nossa casa!Entre nós, Aveiro na sua amplitude, há uma tradição de luta pelos ideais de liberdade que atravessam muito mais de meio século, como Aveiro comemorou no dia seis de Outubro, a propósito do I Congresso da Oposição Democrática que o Aveirense acolheu em 1957.
De uma forma contida, a oposição reuniu-se em Aveiro para debater a situação e o situacionismo nacional e dirimir as teses que entreabririam uma nesga de céu azul, nas palavras de Mário Sacramento, recordadas no Sábado, pelo Prof. Luís Farinha. E a liberdade ainda vinha tão longe!
Passados estes cinquenta anos, enquanto no Aveirense se actualizava a memória, corriam pelas ruas da cidade aquilo que poderemos considerar como consequência da parte dos ecos dessas teses que, num crescendo de esperança, foram eclodindo a ditadura, mas não conseguiram o triunfo necessário na altura, meados de cinquenta, como agora passados cinquenta (anos)!
O ideário de liberdade vem chocando uns e outros por não ser acompanhado pela responsabilidade de actos e compromisso cívico!
Porque, no decurso da semana de recepção ao caloiro em ambiente festivo, emergem laivos de pré-história, de rocambolescas indigências pouco democráticas!E a noite semeia-se de devastação do património, pelo qual tantos pugnaram, e de dejectos de toda a ordem. O Canal do Cojo fez corar o aterro de Taboeira!
O triunfo do álcool, da indisposição colectiva!?
A revolução está na rua!
Enquanto isto, o campeonato continua!

Desportivamente… pelo desporto!

M. Oliveira de Sousa
:
Fonte: Correio do Vouga

PARQUE INFANTE D. PEDRO










NB: Painéis de azulejo, com motivos históricos da região. Na gruta, junto à escadaria de acesso ao jardim. Para apreciar...

Na Linha Da Utopia


O Nobel da Paz Ambiental

1. Nestes dias, a paz com a natureza foi causa reconhecida com o Nobel. Não precisava de tal atribuição, mas este “reforço positivo” renova os imperativos ecológicos nas agendas políticas. É uma questão de sobrevivência. Como em tudo e como sempre, há quem tenha apoiado a atribuição e há quem não a veja com bons olhos; uma coisa é certa, não há alternativa, será mesmo necessário a transformação de alguns hábitos (diários) a fim da preservação do maior e mais belo património de todos que é, afinal, a nossa própria sobrevivência: a natureza que nos envolve, que somos, e que está em perigo. É um facto, a mudança (já em exercício+-) inadiável, ganha um novo impulso.
2. Na data de 10 de Dezembro, Dia dos Direitos Humanos, será entregue o Prémio Nobel da Paz 2007 a Al Gore, ex-vice-presidente da Casa Branca (ex-futuro presidente dos EUA!) e ao Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, ligado às Nações Unidas). Poder-se-á perguntar: que têm os direitos humanos a ver com as questões ambientais? Será que agora esta uma nova moda? Talvez se vivêssemos noutros sítios do mundo entenderíamos bem melhor a urgência destas questões. Cada ano que passa, as alterações climáticas confirmam-se como um facto alarmante que, em última análise, poderá mudar a configuração do planeta; diante de catástrofes de um lado do mundo, as migrações populacionais, e a própria corrida aos recursos disponíveis, podem mudar radicalmente o cenário populacional global.
3. A propósito deste reconhecimento a Al Gore, alguns analistas consideram-no como o homem que chegou sempre cedo demais; tanto a perceber os alcances da Internet, como o erro da invasão do Iraque (claro, por contraposição à política de W. Bush), como ainda nos anos 80 foi pioneiro a compreender os riscos do aquecimento global. Não se pense, por isso, que o seu famoso documentário global “Uma Verdade Inconveniente” é uma moda dos últimos dias. Trata-se de uma linha de coerência, naturalmente mediatizada e mediatizadora, mas em que claramente Gore muito contribuiu nestes últimos anos para criar uma opinião pública planetária para esta urgência. Agora, o Nobel, premiando (verdade se diga) o uso dos instrumentos comunicacionais ao serviço desta causa, subscreve essa urgência inadiável! É mesmo importante que entendamos a mudança; das políticas institucionais aos cidadãos informais, a mudança será intensificada. Ou não queremos deixar mundo aos vindouros?! No fundo, hoje, é esta a pergunta essencial. Claro que sim!

Alexandre Cruz

sábado, 13 de outubro de 2007

PAIXÃO POR DEUS, COMPAIXÃO PELA HUMANIDADE


"A compaixão tem de ser universal, porque nenhum ser humano gosta de sofrer e todos têm direito à felicidade: não há nós e os outros, pois vivemos todos nesta Terra, que é a nossa habitação comum. Por outro lado, todos temos a semente da compaixão, pois a natureza humana é gentil e compassiva - pense-se na importância do contacto da criança com a mãe: a vida emocional e afectiva boa na infância tem influência decisiva na vida adulta."


Anselmo Gorges, no DN de hoje

NOBEL DA PAZ

O antigo vice-presidente dos Estados unidos Al Gore recebeu on-tem o prémio Nobel da Paz, em conjunto com o Painel Intergovernamental da ONU para as Mudanças Climáticas. Os dois venceram pelo seu trabalho de alertar a opinião pública para o problema do aquecimento global.

Ver em DN


FÁTIMA: IGREJA DA SANTÍSSIMA TRINDADE



UM POEMA DE SOPHIA
NA CERIMÓNIA DA DEDICAÇÃO
DO TEMPLO, LIDO PELO BISPO DE LEIRIA-FÁTIMA, D. ANTÓNIO MARTO






A CASA DE DEUS

A casa de Deus está assente no chão
Os seus alicerces mergulham na terra
A casa de Deus está na terra onde os homens estão
Sujeita como os homens à lei da gravidade
Porém como a alma dos homens trespassada
Pelo mistério e a palavra da leveza

Os homens a constroem com materiais
Que vão buscar à terra
Pedra vidro metal cimento cal
Com suas mãos e pensamento a constroem
Mãos certeiras de pedreiro
Mãos hábeis de carpinteiro
Mão exacta do pintor
Cálculo do engenheiro
Desenho e cálculo do arquitecto
Com matéria e luz e espaço a constroem

Com atenção e engenho e esforço e paixão a constroem
Esta casa é feita de matéria para habitação do espírito

Como o corpo do homem é feito de matéria e manifesta o espírito
A casa é construída no tempo
Mas aqui os homens se reúnem em nome do Eterno
Em nome da promessa antiquíssima feita por Deus a Abraão
A Moisés a David e a todos os profetas
Em nome da vida que dada por nós nos é dada

É uma casa que se situa na imanência
Atenta à beleza e à diversidade da imanência
Erguida no mundo que nos foi dado
Para nossa habitação nossa invenção nosso conhecimento
Os homens constroem na terra

Situada no tempo
Para habitação da eternidade

Aqui procuramos pensar reconhecer
Sem máscara ilusão ou disfarce
E procuramos manter nosso espírito atento
Liso como a página em branco

Aqui para além da morte da lacuna da perca e do desastre
Celebramos a Páscoa

Aqui celebramos a claridade
Porque Deus nos criou para a alegria

Páscoa de 1990

(In Igreja de Santa Maria,
Marco de Canaveses; poema oferecido por Sophia à igreja;
in «Correntes D'Escritas», nº.2, Fevereiro, 2003)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

D. AFONSO HENRIQUES

Ando a ler, reflectindo cada capítulo, “Afonso Henriques” de José Mattoso, grande medievalista. Confesso que me encanta este tipo de leitura. Tanto mais que a beleza da História está num trabalho normalmente inacabado. As investigações sucedem-se, nunca sabendo nós quando se atinge o zénite. José Mattoso vai-nos alertando, passo a passo, para esta verdade indiscutível. E se o assunto é bem lá de trás, dos primórdios da construção da pátria portuguesa, carregada de lendas e mitos, de feitos contados e recontados, ao estilo de quem conta um conto acrescenta um ponto, então se compreenderá que as figuras históricas estejam muito deficitariamente retratadas. Assim é com o nosso primeiro rei.
Diz o autor que “a demonstração dos factos históricos é quase sempre hipotética, sobretudo se eles se situam numa época tão remota como o século XII”. Esta ideia, que José Mattoso vai repetindo, lembrando que as teorias que apresenta não passam, muitas vezes, de meras leituras, deixam-me a certeza de que a figura do rei foi construída ao sabor de interesses em jogo, que muitos eram, quer da Igreja, quer dos senhores de Ribadouro, quer, ainda, dos que se lhes opunham, em especial dos reinos vizinhos.
As imagens que retenho do que aprendi ao longo do tempo sobre o construtor da nossa independência precisam, naturalmente, de ser reformuladas, tal é o manancial de informação, informação que tem estado a ser interpretada e reformulada, com base noutra visão do mundo daquele tempo. Ainda estou um pouco longe do fim do livro, mas já posso adiantar que, afinal, o famoso aio de D. Afonso Henriques, Egas Moniz, o da tal história do baraço ao pescoço, para desagravar a sua honra, pode mesmo não ter sido aio nenhum do nosso primeiro rei. Talvez o aio tenha sido outro… Depois conto.

Fernando Martins

PARQUE INFANTE D. PEDRO





AINDA HÁ MUITA GENTE QUE GOSTA DE VISITAR O PARQUE

Ontem estive no Parque Infante D. Pedro, que não visitava há anos. A vida é assim. Passamos por estes locais que, de alguma forma, foram marcantes na cidade, qual sala de visitas da urbe, com certa indiferença, sem justificação. Hoje as salas de visitas são os centros comerciais, com uma enorme panóplia de desafios que se tornam irresistíveis para muitos.
Ao parque íamos sempre nas horas vagas da escola, sobretudo quando surgia algum “feriado”. Por ali andávamos uns com os outros, ora a ver quem estava, uns a fumar outros não, por vezes navegando no lago, onde se aprendia a manejar os remos, ora namoriscando, enquanto outros apreciavam. Alguns liam o Cavaleiro Andante ou o Mundo de Aventuras, outros os jornais desportivos. Era assim há bons 50 anos…
Ontem encontrei quase tudo igual. A mesma alameda, os mesmos trilhos, a mesma ponte, a mesma Casa do Chá, como na altura era conhecida, o mesmo campo de jogos, os mesmos jardins. Decerto ali estavam muitas mas mesmo muitas árvores daquele tempo, o mesmo lago com patos nadando à espera de pão que lá se vendia. Um senão. Triste. O lago cheirava mal. Água turva. Nem sei como é que os patos resistem. Ali, no parque Infante D. Pedro, onde é desejável que tudo seja convidativo.
Vejam isso, senhores autarcas. É que, como vi, ainda há muita gente que gosta de visitar o parque. E de correr, e de jogar, e de conversar… à sombra do arvoredo.

FM

Na Linha Da Utopia



Da massa cinzenta à massa crítica

1. Dir-se-á que a ideia ainda está incompleta. Talvez o lema ideal fosse “Da massa cinzenta à massa crítica, e desta ao compromisso humano do bem comum”. Não chega uma “massa cinzenta” de conhecimentos que, intelectualmente, se adquire. A viagem da finalidade última da vida (em comunidade) move o conhecimento humano para uma visão de crítica social, esta que não se fique pela fácil teoria “criticista” mas que “agarre” o compromisso como visão dinâmica de verdadeira entrega ao bem comum.
2. O salto quantitativo da “massa cinzenta” tem sido elevadíssimo, especialmente, nestas últimas duas décadas; mas nem por isso o avanço qualitativo português nesse mesmo tempo correspondeu às expectativas. Os défices eram muitos e continuam a sê-lo. Mas, talvez o maior seja a persistente distância entre o mundo intelectual e uma “massa crítica” verdadeiramente comprometida com o “resolver os problemas” deste canto da Europa. Nunca tivemos tantos cursos e formados, mas (talvez) nunca se sentiu tanta dificuldade em gerir e orientar toda essa energia repleta de possibilidades adiadas.
3. Observando, e constatando pelas lideranças políticas que vão emergindo, verificar-se-á esse desfasamento entre níveis de conhecimento científico altíssimo de centenas e mesmo milhares de investigadores portugueses (que cá como fora vão brilhando) e a pobreza de “massa crítica” social, défice que se espelha, por vezes, em tão precipitados e ineficazes horizontes liderantes demonstrativos de desconhecimento da realidade concreta dos cidadãos que são chamados e servir. Governos, oposições e cidadãos, habituámo-nos (?) a adiar, mendigar e a esquecer que esse “encoberto” é mesmo cada um de nós! Sem “mágica”, com rigor!
4. “Servir”, é isso mesmo! É esta a palavra-chave de tudo. Lideranças que sirvam generosamente, é esse o referencial que importa salientar. É a partir dessa “praxis” (as mais das vezes tão difícil) que todas as teorias críticas ou todos os conhecimentos se hão-de redimensionar. Generosidade com cultura, será a linha de reconstrução da realidade, num terreno em que “massa cinzenta” não é sinónimo (simplista) de cultura, às vezes até é o contrário. Conclusão, ao nosso país, agora falta o erguer uma “massa crítica” estimulante e sempre presente, mas esta vivente da autêntica ética de servir, e não provinda de tantos “viveiros” que de “amor à comunidade” têm tão pouco. Pelas “últimas” notícias do país, é a revolução ética que nos pode salvar! Essa também se aprende, na vida!

Alexandre Cruz

SINAIS DO PASSADO


A caminho do Cruzeiro, visita de que dei nota ontem, passei por uma velha garagem, com data de 1931. Tem, portanto, 76 anos. O seu proprietário foi, como regista o painel de azulejos, Sebastião Pedro da Costa, conhecido por Sebastião Conde. Hoje não sei de quem é, nem me lembro de nos últimos anos ver o portão aberto. Há anos guardavam ali materiais de construção, mas na minha meninice e juventude estava sempre fechada.
Sebastião Conde foi um homem rico. Dizem que lhe saiu a "sorte grande" da Lotaria Nacional há muitos anos. A ele e a Manoel Carlos Anastácio, quando regressavam da América, onde tinham estado como emigrantes. Ambos foram generosos na Gafanha da Nazaré: Ofereceram, por exemplo, o relógio e o sino da igreja matriz, em 9 de Novembro de 1930, como refere a acta de entrega à Comissão da Igreja, publicada no livro "GAFANHA - Nª Sª da Nazaré", de Manuel Olívio da Rocha e de Manuel Fernando da Rocha Martins.
Gostaria de saber mais pormenores sobre a vida destes dois gafanhões. Pode ser que alguém me ajude...
FM

MINORIA ENTRE MINORIAS

Dez anos depois de ter sido elevado aos altares um cigano, Ze-ferino Gimenez Malla, foi publicado um documento do Conselho Pontifício para os Migrantes e Itinerantes, especialmente dedicado à etnia cigana, que merece alguma atenção, tanto por parte da sociedade civil e dos governantes, como da Igreja e das diversas confissões religiosas.
Em Portugal vivem 40 mil ciganos ou talvez um pouco mais. São uma minoria entre as diversas minorias, mas não da última hora, como tantas outras, pois se instalaram entre nós no século XV. O mesmo aconteceu em Espanha, onde o seu número é de 600 mil.
Não é difícil verificar que em algumas comunidades locais, bem como em escolas, há ainda muita suspeita e pouco acolhimento em relação aos membros desta etnia, que na sua maioria não são já imigrantes, mas cidadãos portugueses. É verdade que os ciganos, vivam onde viverem, em Portugal, na Espanha, na França ou em qualquer outro país, são sempre e acima de tudo ciganos, coesos e fiéis à sua cultura e tradições, todos eles cidadãos de uma pátria sem território, mas considerada a sua pátria comum.
Muitas coisas mudaram nas suas vidas, por normais exigências de integração no país, onde vivem. Muitos deles já se documentaram, fixaram a sua residência, escolarizaram-se, gozam da segurança social, têm emprego ao lado de não ciganos, tiraram cursos superiores, dirigem associações e, não se furtando à defesa dos seu direitos, assumiram os deveres correspondentes. Mas, em muitos outros casos nota-se a necessidade de maior formação humana e social, bem difícil de se proporcionar se não for atendida a sua cultura com os valores que lhe são próprios e se se pensar fazer coisas em seu favor sem os ouvir e os tornar protagonistas naquilo que lhes diz respeito.
No aspecto religioso, sabe-se que a sua adesão a expressões religiosas que mais se coadunem com a sua cultura, modo de ser e de se expressar, é muito grande. A Igreja Católica tem de há muitos anos um serviço nacional dedicado à sua promoção, com outros similares nas diversas dioceses do país, e tem sido pioneira na atenção às suas necessidades e aspirações, humanas e sociais. Outras confissões religiosas protestantes de linha pentecostal têm muito aderentes ciganos.
Num encontro internacional recente, realizado em Roma, foi dado a conhecer que há na Igreja mais de uma centena de ciganos clérigos (padres e diáconos) e consagrados, oriundos de diversos países da Europa e da Ásia. Muitos participavam nesse encontro.
A etnia cigana testemunha valores importantes e fundamentais, que hoje escasseiam em países ocidentais. Entre outros, o espírito de família, o acolhimento e respeito pelos idosos, a hospitalidade e a solidariedade para com os membros da etnia, a virgindade da mulher antes do casamento, o respeito pelos mortos, a concepção humana do trabalho…
O que falta para que esta minoria seja reconhecida, promovida e integrada, uma vez que ainda é marginalizada em muitos aspectos, dado o apoio do governo e da comunicação social a outras minorias recentes, discutíveis pela sua dimensão e objectivos sociais?
Toda a atenção à etnia cigana deve acolher e respeitar e sua cultura e valores e atender às condições de um diálogo, eficaz e personalizado. Se os ciganos são capazes de cursos superiores, a nível civil e religioso, e de assumir as responsabilidades inerentes, não lhes escasseiam capacidades de promoção e mesmo de integração comunitária.
Um trabalho de formação e sensibilização junto das comunidades locais e dos agentes civis (autarquias, escolas, serviços púbicos em geral) e, também, dos agentes pastorais é indispensável que se faça e se faça bem. Para que o seja, não pode dispensar o seu contributo activo.
Se é importante conhecer línguas, não o é menos conhecer as pessoas que vivem connosco. Marginais há-os em todos os grupos sociais. Temos de nos perguntar quem é que hoje mais envenena o ambiente e corrompe a convivência na nossa sociedade.

António Marcelino

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Marçal Grilo no CUFC

O ex-ministro da Educação falou ontem no Fórum::UniverSal, no CUFC, onde criticou certos comportamentos de algumas universidades portuguesas.
:
"Falando em Aveiro, numa conferência promovida pelo Foro Universal sobre o tema «Que Educação/Universidades que temos e queremos?», Marçal Grilo frisou que «ninguém vive com o que gostaria de ter» e disse que a forma de encarar o problema «não é vir para a rua dizer que há sub-financiamento das universidades. »A imagem da universidade é devastada quando alguns reitores vêm para a rua falar de sub-financiamento. Os reitores deviam estar a procurar ir buscar dinheiro a outras fontes de financiamento«, comentou."
: Leia mais na Lusa/Diário Digital

CRUZEIROS DA GAFANHA



A propósito dos Cruzeiros da Gafanha, o Padre João Vieira Rezende diz, na sua Monografia da Gafanha, que o primeiro Cruzeiro de que há memória “deveria ter existido em 1584, ‘perto da ermida de Nossa Senhora das Areias’ em S. Jacinto”, segundo reza um alvará régio, com data de 20 de Maio daquele ano. E acrescenta, talvez para espanto de alguns, que considera S. Jacinto, “por muitos motivos, pertencente à região da Gafanha”, porque “era-o realmente antes da abertura da Barra em 1808”.
O autor refere depois que “o segundo Cruzeiro foi construído na Gafanha da Nazaré em data que ignoramos. Foi posterior à data da construção da demolida capela de Nossa Senhora da Nazaré e distava dela uns 550 metros para o sudeste. Ficava junto ao caminho (hoje estrada) que ligava Ílhavo com a dita capela. Inaugurada a nova igreja paroquial em 1912, foi mudado para o sítio que hoje ocupa, a 350 metros do local da demolida capela e a 750 da nova igreja matriz. É muito simples, de granito e com os seus três degraus mede 3 m.”
Desde sempre recordo que as procissões das festas da paróquia da Gafanha da Nazaré passavam, e continuam a passar, pelo Cruzeiro, habitualmente enfeitado nesses dias.
Ontem passei por lá e disso dou nota aqui com uma fotografia.
Em 1994, segundo regista uma inscrição inserta na pequena rotunda que foi implantada no cruzamento de várias vias, o Cruzeiro foi mudado, mais uma vez. A inscrição diz assim: “Vila G. Nazaré 1994”
Aproveito para dizer que os cruzeiros são, obviamente, símbolos cristãos, evocativos de datas marcantes. Nada têm a ver, como algumas pessoas pensam, com Pelourinhos. Os Pelourinhos eram símbolos do poder e da justiça. Neles eram acorrentados e expostos os condenados, que sofriam castigos severos, sendo nomeadamente açoitados. Os Pelourinhos não serviam, como algumas pessoas também admitem, para enforcar ninguém. As Forcas eram construídas, para esse efeito, normalmente, fora dos povoados.
Quando passar pelos outros cruzeiros, deles darei notícia neste meu espaço.

FM

Abertura do Concurso Público para o Jardim Oudinot

O Executivo Municipal de Ílhavo deliberou aprovar recentemente a aber-tura do Concurso Público para a execução da obra de requalificação do Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré.
Esta obra tem um valor estimado de 3.275.772 euros (+ IVA) e o seu prazo de execução é de 6 meses.
Esta é uma obra de grande importância para a Gafanha da Nazaré, para todo Município de Ílhavo e também para toda a região da Ria de Aveiro, pela sua localização numa zona privilegiada de relação entre a terra e a Ria de Aveiro, na “ponta norte” do Canal de Mira, enquadrando o Navio Museu Santo André.
:
Leia mais CMI

FÁTIMA: IGREJA DA SANTÍSSIMA TRINDADE

Obra do arquitecto greco-ortodoxo Alexandros N. Tombazis combina a luz e a tecnologia

SONHADA HÁ 30 ANOS

Sonhada há já 30 anos, a nova igreja da Santíssima Trindade será inaugurada esta Sexta-feira após quase quatro anos de obras, tornando-se o maior recinto público fechado do país. Tem forma circular, com 125 metros de diâmetro, e é sustentada por um grande pilar que suporta toda a cobertura e evita colunas no interior do templo. O projecto, desenhado pelo arquitecto greco-ortodoxo Alexandros N. Tombazis, combina a luz e a tecnologia, procurando respeitar a atmosfera de Fátima.
:
Esta nova igreja vai ser inaugurada amanhã. Para ficar
a conhecer alguns pormenores, clique ECCLESIA.

NA LINHA DA UTOPIA



A manifestação das liberdades

1. Há dias realizou-se a comemoração do cinquentenário do I Congresso Republicano, realizado em Aveiro, momento do qual saiu oportuna sugestão para a realização de um IV Congresso, agora já em tempos de liberdade (os outros foram realizados em 1969 e 1973). Estando o país a caminho do centenário da República (2010), muito terreno de reflexão, que se deseja ampla, estará na agenda nacional, debate este que deverá envolver todos os cidadãos humanos (optamos por esta nomenclatura “cidadãos humanos” que prioriza a dignidade do ser humano, enraizada na Declaração dos Direitos Humanos, pois há muitas visões de cidadania, até a cidadania só para alguns, ficando excluídos os que estão “fora”, na marginalidade, da(s) cidade(s).
2. Por vezes deixa-nos a pensar tanto um governado poder chamado social(ista) que vai esquecendo a sociabilidade (tudo são números de uma economia sempre à frente de tudo!), como nos deixa a reflectir (na essência) também o limitado alcance e a menor profundidade de “ser”, de “sentido do essencial”, de visões que exaltam e mesmo quase “divinizam” a “república”, como se ela fosse bem mais importante que as pessoas concretas. Colocar qualquer sistema sócio-político acima das pessoas será o primeiro passo para esquecê-las... Tantas histórias da história humana e nacional já mostraram indignificantes realizações neste contexto. É certo que, caminhando na história, os sistemas sociais haverão de garantir não só uma neutralidade (que nunca ninguém consegue), mas uma “inclusão” proporcionada de tudo quanto for bom para a comunidade, “seja bem-vindo quem vier por bem!”
3. Saber (con)viver com a manifestação da diferença de pensamento social, político, religioso, clubístico, será sinal de uma autêntica preparação democrática assente na respeitabilidade da opinião de cada pessoa. Mas o discernimento sobre a razoabilidade desta ou daquela diversidade é terreno sempre novo. Neste contexto erguer-se-á a formação humana como referencial construtivo e uma visão de pluralismo que seja garantida pelo sistema de regulação humanista e dignificante (esta uma função nuclear do Estado de Direito). A democracia, assim, por inerência, contextualizará tanto as manifestações da liberdade de pensamento, como também o respeito das regras previamente acordadas e dignificantes das mesmas manifestações. Uma qualquer causa não justifica uma qualquer manifestação ou a sua fiscalização ou mesmo impedimento. Temos, ainda, muito a caminhar para chamar “LIBERDADE” às liberdades que vamos experimentando. Precisamos de cidadãos humanos. Venha o (livre) Congresso de Aveiro!

Alexandre Cruz