domingo, 6 de maio de 2018

O Espírito Santo é um atrevido

Frei Bento Domingues

"O Espírito Santo é muito atrevido, mas não é louco, não se substitui a ninguém, não tem uma varinha de condão para eliminar conflitos, não quer fazer nada sozinho, mas também não se acomoda ao que sempre assim foi"

1. Entramos em Maio e no VI Domingo da Páscoa. O Espírito Santo resolveu não esperar pela festa do Pentecostes e meteu S. Pedro em sarilhos teológicos e pastorais [1]. Contam os Actos dos Apóstolos (Actos) que estava ele para começar a rezar, mas com muita fome. Veio do Céu uma toalha cheia de manjares, mas todos proibidos a um bom judeu. Foi o próprio Espírito Santo quem lhe disse para não ligar a essas proibições e comer à vontade. Insistiu ainda que entrasse na casa de um gentio, um centurião romano, que o recebeu desvanecido. Pedro anunciou aí um princípio teológico de alcance universal: reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, pois qualquer uma, de qualquer nação que O tema e pratique a justiça, Lhe é agradável. Não estava a criar um novo privilégio, pois Jesus Cristo, que é o Senhor de todos, até começou pelos filhos de Israel o anúncio da boa nova da paz.
O Espírito Santo mostrou que não estava para conversas nem muitas cerimónias. Desceu sobre todos. Os companheiros de Pedro ficaram maravilhados ao verem que os gentios tinham a mesma sorte que eles. Pedro rendeu-se à evidência: como negar o baptismo aos que já receberam o Espírito Santo? Nasceu ali uma nova comunidade.

Para o Dia da Mãe



Mãe!

Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas 
que ainda não viajei!
Traze tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça 
não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. 
Depois venho sentar-me ao teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei,
tão parecidas com as que não viajei, 
escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa.
Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente 
para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

José de Almada Negreiros


Nota: Sugerido pela Livraria Bertrand

sábado, 5 de maio de 2018

Artes no Canal - 1





Aveiro está no meu coração. Lá estudei, trabalhei, participei em inúmeras reuniões e cerimónias, convivi com amigos, assisti a espetáculos, apreciei exposições, frequentei livrarias. E, mais importante que tudo, conheci a Lita, minha companheira de toda a vida. Ultimamente, tenho passado por Aveiro a correr, sem vagar para olhar, com olhos de ver, as transformações que tem sofrido, em nome do progresso a vários níveis. 
Hoje, fiz questão de ir à cidade dos canais, animada por um projeto que tem por missão atrair pessoas, aceitar a onda do turismo, estabelecer convívios e criar dinamismos valorizadores da economia. Refiro-me, a Artes no Canal. 
O dia esteve lindo, próprio de festa, e os turistas, nacionais e estrangeiros, de linguajares bem patentes, encheram o centro citadino, com os moliceiros e mercantéis numa roda-viva, com apitos e cicerones a indicarem o que de mais importante se pode apreciar do meio dos canais. 
Cansado, mas satisfeito pelo que experimentei e apreciei, passei por ruas e ruelas há muito afastadas dos meus horizontes, vi esplanadas em cada canto, vi rostos que não via há muito, encontrei estabelecimentos modernos e outros puídos pelos anos, tirei fotografias e confirmei o peso que a moda da arte fotográfica tem nos tempos atuais. Máquinas fotográficas de alta resolução ao lado de smartphones que hão de levar gratas lembranças de Aveiro e seus canais, para mais tarde recordar. 

(continua amanhã)

Aveiro: Artes no Canal




Hoje, sábado, 5 de maio, terá lugar a edição dedicada à Cidade de Aveiro do “Artes no Canal” das 10.00 às 19.00 horas, integrando-se no programa que a Câmara Municipal de Aveiro organizou para assinalar o Feriado Municipal, que ocorrerá no próximo dia 12, também Festa de Santa Joana, padroeira da cidade e diocese de Aveiro.
Tenciono passar por lá para poder sentir o palpitar das gentes aveirenses, tão ricas a vários níveis, onde a cultura e a arte de conviver têm destaque no seu dia a dia.

Ver programa 

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Vieira da Silva na Biblioteca de Ílhavo

Vieira da Silva 
O livro "Marginal", de António Vieira da Silva, médico, poeta e cantor, vai servir de base à próxima sessão da "Comunidade de Leitores", na Biblioteca Municipal de Ílhavo, no próximo dia 24 de maio. Será uma boa oportunidade para conhecer um artista do nosso município, que merece ser mais divulgado.Para espevitar a curiosidade, aqui fica um poema, divulgado por Bibliotecas da Gafanha da Nazaré.

Escola

professor
não tenhas pressa

saí agora de casa
tenho a amarga sensação
de perda não sei de quê
de um regaço
de um abraço
que me ficou na memória

professor
não tenhas pressa
não sou um quadro vazio
já trago dentro de mim
os traços de outras viagens
imaginárias
reais
dos dias da minha história.


Vieira da Silva

O seu livro pode ser lido aqui

Fonte; Bibliotecas da Gafanha da Nazaré

Deus não é misógino

Anselmo Borges

"O problema essencial é mesmo este: o clericalismo e o poder, embora Jesus tenha proclamado a igualdade de todos e mandado que todos estejam ao serviço, sem servidão. Felizmente, Francisco vai repetindo que as mulheres devem ocupar lugares cimeiros para as decisões da Igreja, e o cardeal P. Parolin, secretário de Estado do Vaticano, disse recentemente que o seu sucessor poderia ser uma sucessora, uma mulher."


1. "Preocupa-me que continue a persistir uma certa mentalidade machista, inclusive nas sociedades mais avançadas, nas quais há actos de violência contra a mulher, convertendo-a em objecto de maus-tratos, de tráfico e de lucro, bem como de exploração na publicidade e na indústria do consumo e da diversão. Preocupa-me igualmente que, na própria Igreja, o papel de serviço a que todo o cristão está chamado deslize algumas vezes, no caso da mulher, para papéis que são mais de servidão do que de verdadeiro serviço." Quem o diz é Francisco, Papa.
A confirmar que esta preocupação tem fundamento está um texto recente, que não apareceu em nenhum jornal revolucionário, mas num suplemento do órgão oficioso do Vaticano, L"Osservatore Romano: "O trabalho (quase) gratuito das freiras", no qual várias irmãs, sob anonimato, se queixam: "Algumas servem nas casas de bispos e cardeais, outras trabalham na cozinha de instituições da Igreja ou desempenham tarefas de catequese e de ensino. Algumas, ao serviço de homens da Igreja, levantam-se pela manhã, para preparar o pequeno-almoço e vão-se deitar, depois de servir o jantar, limpar a casa, lavar a roupa e passar a ferro... Neste tipo de serviços, as irmãs não têm um horário preciso nem regulamentado como os leigos." E "raramente são convidadas a sentar-se às mesas que servem", perguntando uma das irmãs: "É normal para um consagrado ser servido deste modo por uma consagrada também?" Isto significa "muitas vezes que as irmãs não têm um contrato com os bispos ou as paróquias". Por isso, "o pagamento é baixo ou nenhum". Assim, como podem viver as comunidades a que pertencem estas irmãs? E o problema não é só de dinheiro: "Por detrás, há ainda a ideia de que a mulher - e nesta situação há inclusivamente irmãs doutoradas em Teologia - vale menos do que o homem, sobretudo que o padre é tudo enquanto a irmã religiosa é nada na Igreja. O clericalismo mata a Igreja." E, de repente, podem ser despedidas e reenviadas para a Congregação. Doentes, nenhum padre vai visitá-las. Mas, quando o padre vai rezar a missa às religiosas, "pede 15 euros. Por vezes as pessoas criticam as freiras, a sua cara fechada, o seu carácter... Mas, por detrás de tudo isso, há muitas feridas". O artigo conclui, dizendo que as experiências destas religiosas "poderiam transformar-se numa riqueza para toda a Igreja, se a hierarquia masculina as considerasse uma ocasião para uma verdadeira reflexão sobre o poder".

Amar sem condições prévias

Georgino Rocha

A ALEGRIA DO SENHOR É A NOSSA AMIZADE FRATERNA

A despedida última de pessoas amigas está sempre recheada de confidências, desabafos e recomendações. É humano, uma exigência do coração e da experiência de vida em relação. É humano, uma garantia de memória feliz no tempo de ausência e de privação. É humano, um elo de ligação entre quem parte e quem fica. É humano, é comunhão.
Jesus vive integralmente a sua humanidade. O ser quem é, Deus humanado, em nada o priva de desvendar horizontes novos ao homem/mulher, à relação interpessoal, à sexualidade humana, ao respeito e cuidado da criação e das criaturas. E como o rio que se mostra no caudal que corre para o mar e lança braços pela terra, originando enseadas e irrigando campos, Jesus faz-nos remontar à fonte primeira do amor, seiva nutriente da comunhão e de toda a relação humanizada. João, o discípulo amado, guia hoje a nossa reflexão na peregrinação a este manancial divino e a alguns dos seus rostos humanos, salientando atitudes fundamentais. (Jo 15, 9-17).

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Festa da Padroeira da Cidade e Diocese de Aveiro


ÍLHAVO - Concurso de fotografia



Nota: Vivemos na época do digital, onde pontifica a arte fotográfica. Nas redes sociais, há artista por todo o lado, o que torna mais luminosa a vida de muita gente. Muitos terão agora mais uma oportunidade de mostrar aquilo que valem. Este concurso pode contribuir, e muito, para revelar grandes sensibilidades.

Corrupção - uma vergonha

Carlos César



NOTA: O Partido Socialista, pela voz do seu líder parlamentar, Carlos César, assumiu a vergonha que sentem pelas suspeitas de corrupção que recaem sobre alguns dirigentes. Todos sabemos que a corrupção não será exclusivamente obra de políticos daquele partido, mas percebe-se que há corruptos, mentirosos, traidores de ideais em todo o lado. Mas também se sabe que tal prática não é só de agora.
Quando há tempos li "Memórias de Raul Brandão" fiquei estupefacto ao verificar que há 100 anos já era assim, com políticos sem vergonha a roubarem o povo indefeso. Em 100 anos, em plena democracia, não se aprendeu nada. E não há leis que escorracem esta gente da esfera dos que nos governam... ou desgovernam.

Nota: Refiro-me aos políticos, embora se saiba que a corrupção não mora só nessa classe sociais, que tem, garantidamente, gente muito séria. 

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Festival de Sopas



Gosto de festivais. Naturalmente, porque geram convívios e estabelecem amizades. Também, porque há sempre muito a aprender. Neste caso, não faltarão, julgo eu, sopas para todos os gostos. Bom apetite para todos.

João Gaspar evoca muralhas de Aveiro

TORRE EVOCATIVA DA MURALHA DE AVEIRO

Aveiro – Zona muralhada (desenho de 1696)

João Gaspar

«Na verdade, agrada-me deveras o projeto idealizado e desenhado com maestria pelo conceituado arquiteto Álvaro Siza Vieira, para recordar a muralha. Todavia, discordo do local apontado pela Autarquia para a colocação da torre memorativa; justifico o meu pensamento.»

A partir de 1418, a fisionomia do nosso antigo burgo de Aveiro começou a mudar, porque o infante D. Pedro, filho de el-rei D. João I e senhor de Aveiro, tomou a iniciativa de mandar cingir a sua parte secular e nobre por uma muralha, além de incentivar a fundação do convento dos padres dominicanos; por outro lado, a estadia em Aveiro da sua neta, a princesa D. Joana, a partir de 1472, também foi importantíssima. A muralha, embora de construção simples, era dotada das seguintes portas: - a da Vila (da Cidade, depois de 1759), a do Sol, a do Campo, a do Cojo, a da Ribeira, a do Cais (ou do Norte), a do Albói, a de Rabães e a de Vagos. Com o andar dos tempos, apesar de vários reparos durante a primeira metade do século XVIII, a muralha foi-se arruinando sucessivamente, pelo abandono a que foi votada e pela frágil solidez dos seus alicerces. 

terça-feira, 1 de maio de 2018

Hoje saí do trilho habitual




Hoje saí do trilho habitual que liga Aveiro à Gafanha da Nazaré. Quis repescar da memória a paisagem das salinas que semeavam, na altura própria, os cónicos montes de sal que emprestavam aos cartazes turísticos um desafio a quem nos visitasse. Aveiro e região lagunar tinham, realmente, uma paisagem única, com as salinas a servirem de janelas do céu. 
Não vi essa paisagem, mas a minha imaginação fez-me o favor de avivar a minha memória, levando-me lá para trás, quando de bicicleta ou motorizada circulava por estradas já quase ignoradas. Porém, ainda vi restos de palheiros e o azul vibrante da toalha de água que é de todos os tempos.

1.º de Maio - Dia do Trabalhador




"1.º de maio é o Dia do Trabalhador, data que tem origem a primeira manifestação de 500 mil trabalhadores nas ruas de Chicago, e numa greve geral em todos os Estados Unidos, em 1886. 
Três anos depois, em 1891, o Congresso Operário Internacional convocou, em França, uma manifestação anual, em homenagem às lutas sindicais de Chicago. A primeira acabou com 10 mortos, em consequência da intervenção policial. 
Foram os factos históricos que transformaram o 1 de maio no Dia do Trabalhador. Até 1886, os trabalhadores jamais pensaram exigir os seus direitos, apenas trabalhavam.” 

Da história do Dia do Trabalhador

NOTA: Foi difícil atingir o patamar do respeito pelos trabalhadores, em qualquer área profissional. Protestos, greves, manifestações, escritos. mortes, perseguições, lutas de toda a ordem até a sociedade reconhecer que os trabalhadores precisam e exigem respeito pelos seus direitos. Se têm obrigações, também têm direitos inalienáveis. 
Sou do tempo em que homens e mulheres trabalhavam do nascer ao pôr do sol, com salários baixíssimos e sem quaisquer regalias, de férias, de seguros, de reformas, de apoios na doença, sem feriados, sem nada que lhes garantisse uma velhice feliz. Trabalhavam até morrer, nos campos, nas marinhas de sal, na construção civil, nas oficinas, nas pescas, nas secas do bacalhau, nas obras do Estado... Mas hoje já não é assim, felizmente. 
Bom Dia do Trabalhador para todos.

segunda-feira, 30 de abril de 2018

João Alberto Roque em entrevista à UA



«Professor do ensino secundário na Escola Secundária da Gafanha da Nazaré, João Alberto Roque divide o seu tempo entre a docência, que é a sua atividade principal, a escrita, a sua participação cívica e a política local. Autor premiado de textos para a infância, João Roque, antigo aluno da licenciatura em Ensino de Biologia e Geologia na Universidade de Aveiro, também colabora na imprensa local.»

Depois da apresentação do seu currículo, o repórter do site da UA entrevista o nosso conterrâneo e amigo João Roque, sublinhando a sua carreira de escritor várias vezes premiado. Congratulo-me com a divulgação do seu mérito artístico e de docente na nossa terra porque, frequentemente, ignoramos ou esquecemos os que entre nós se distinguem em diversas áreas da cultura.
F. M. 


A partilha o pão


Jesus aceita o convite que lhe é feito e toma a iniciativa. Corresponde à aspiração dos discípulos, mostra como se articula em harmonia admirável a novidade de Deus e a natureza humana. E surpreende pela positiva. “Sentou-se à mesa com os dois, tomou o pão e abençoou-o, depois partiu-o e entregou-lho”.

Lucas, o evangelista narrador do episódio, condensa nestes gestos o núcleo da celebração da eucaristia. Gestos que são captados no seu mais profundo significado. Certamente porque os olhos do espírito se abriram, devido a experiências feitas no contacto familiar com Jesus, devido à explicação da Palavra ocorrida durante a caminhada ou a outro factor como a luz do Espírito Santo, o encarregado de fazer descobrir a verdade do que vai acontecendo e ver o que está para lá dos sinais. Pode dizer-se também nestas circunstâncias: “A comida tem memória e é certamente uma ponte para evocarmos quem não está fisicamente presente, mas vive para sempre no nosso meio”.
Que grande estímulo nos dá esta atitude dos discípulos de Emaús?! Nem o cansaço da viagem, nem o medo à noite ou ao que possa ocorrer, nem a incerteza de encontrar quem procuravam para partilhar a alegria da experiência vivida e a novidade surpreendente de Jesus ressuscitado, os impedem de tomar o caminho de regresso à cidade, donde tinham vindo. “Na mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém, onde encontraram os Onze, reunidos com os outros”. E estes confirmaram: “Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!”.
Belo exemplo para nós que participamos na celebração da Eucaristia e repartimos o pão da Ceia do Senhor. Que alegria ser enviado em missão ao ouvir: “Ide em Paz e o Senhor vos acompanhe”.

Georgino Rocha

domingo, 29 de abril de 2018

A impertinência da evangelização

Frei Bento Domingues no PÚBLICO

Frei Bento Domingues


1. Encontrei, em várias intervenções de Thierry-Dominique Humbrecht [1] e no título de um dos seus livros, A evangelização impertinente, a sugestão para esta crónica, ainda que com desvios.
O autor referido pretende escrever um guia do cristão nos países pós-modernos.Teve bom acolhimento. Não se conforma com a moleza das expressões da presença cristã em algumas sociedades ocidentais. Não é preciso estar inteiramente de acordo com o seu diagnóstico nem com as suas propostas. É mais importante suscitar um debate do que apresentar soluções para cristãos apressados e preguiçosos.
Th-D. Humbrecht é um investigador da filosofia medieval e já deu provas da sua acutilância analítica. Não se resigna, porém, a viver na sua torre de marfim do passado, nem se conforma com o silêncio dos católicos nos actuais debates que percorrem a sociedade. O cristão parece intimidado, excluído da cultura, dando a impressão de que não se deixa interrogar pela gravidade do que está acontecer. Ao julgar irremediável que o país deixe de ser cristão, não se apercebe que existe uma estratégia, dita pós-moderna, interessada em libertar-se dessa herança. O niilismo exibido esconde, no entanto, um projecto de poder, por vezes, também, uma nostalgia.

Uma vida por um mundo mais humano

Um testemunho de vida: Alfie morreu, 
uma vida por um mundo mais humano

Alfie Evans

Do Vaticano chega a notícia: 

Alfie Evans faleceu durante a última noite. Os pais anunciaram nesta manhã. Uma história dramática que envolveu o Papa Francisco em primeira pessoa.

“O nosso bebê ganhou asas nesta noite às 2h30 da manhã. Estamos com o coração partido. Obrigado a todos pelo seu apoio": com este post no facebook, Kate James anunciou a morte de seu filho, o pequeno Alfie Evans. Ele não chegou a completar dois anos: teria completado no próximo dia 9 de maio. Ao mesmo tempo, o pai Thomas escreveu: "O meu gladiador baixou o seu escudo e ganhou asas às duas e meia de manhã. Totalmente inconsolável. Eu amo você meu menino ". Ele respirou 4 dias sozinho.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

A morte da Tita deixou-nos tristes


A nossa vida está cheia de memórias, agradáveis e desagradáveis, que jamais esqueceremos. As primeiras dão-nos felicidade e as segundas procuramos ignorá-las.  Montes e vales, riachos e rios, as ondas do mar, ora revoltas ora bonançosas, florestas e planícies, monumentos e simples pedras que ornamentam serranias, animais e pessoas fazem parte das nossas recordações, incrustando no nosso espírito a sensibilidade que partilhamos. Hoje, evoco apenas uma cadela, a nossa Tita, que nos deixou minada pela doença e pelo peso da idade. Tudo lhe foi dado pela família, sob a batuta da Lita, que promoveu há anos a sua libertação de um cativeiro onde passou fome, sede e a solidão do abandono. 
A Tita foi durante uns 15 anos a nossa companhia, numa doação marcada, porventura, pelo instinto da gratidão. Obediente com capacidade para nos entender, brincalhona, meiga e amante da natureza,  logo perdia a cabeça quando algum pássaro saltitava de árvore em árvore. A um qualquer ralhete, acomodava-se. Sozinha, porém, no respeito pela força canina caçadora, a sua alegria manifestava-se em exibir a caça, que entregava ao pessoal da casa. 
Com a idade, as doenças foram-se impondo e os medicamentos, com os cuidados meticulosos da Lita, não faltaram. Mas o fim da vida, aproximando-se a passos largos, não perdoou, e hoje a morte roubou-nos a Tita para sempre. A sua fidelidade e alegria de viver ficaram connosco. 

Fernando Martins 

Ler a história da Tita aqui 

Desabafos ético-políticos

Anselmo Borges 



1. O nosso tempo é um tempo cheio de possibilidades, promessas e realizações. Mas é também o tempo de um imenso vazio humano-espiritual. Para isso, duas razões principais. Por um lado, a falta de tempo, quando deveríamos, aparentemente, ter muito mais tempo. A vertigem do correr pelo correr, sem destino nem horizonte de finalidades propriamente humanas, porque é preciso correr, pela simples razão de que não se pode deixar de correr, esvazia a vida, sem tempo para o essencial. Por outro lado, o tsunami de informações, de opiniões, de comentários de comentários - nunca se tinha visto tão vistosa a profissão de comentador -, dispersa a existência, fá-la fragmentada, sem oriente nem norte, que é isso que quer dizer desorientado e desnorteado. Só resta a superfície e o "surfar" por ela, em vaidades fúteis. Para a política, sem estadistas, fica a busca, por todos os meios, do poder e da sua manutenção, em conluios espúrios com interesses outros que não propriamente o bem comum.
Em interpenetração e interdependência com estas razões, há uma terceira, mais funda: a perda do sentido último. Sem a transcendência, já não se espera para lá do tempo e tudo vacila oscilantemente. Sem a ultimidade imanente-transcendente, sem eternidade, fica o imediato, o aqui e agora, e tudo se dissolve em momentos que se devoram. Então, é aqui e agora que se goza, no prazer, no ter, no poder, no consumismo do consumo. Porque, depois, é o nada. Numa sociedade pós-cristã, o que restou é o relativismo e mesmo o niilismo. E aí está a prova: a incapacidade de integrar na existência as contrariedades e as dores que a vida inevitavelmente traz - veja-se a definição idealizada de saúde da OMS: "A saúde é um estado de bem-estar completo, físico, espiritual e social, e não apenas a ausência de doença e enfermidades", e outros propuseram o ideal de saúde como o estado de bem-estar para poder trabalhar e gozar -, e esta é a primeira sociedade na história que não sabe lidar com a morte e que, por isso, teve de fazer dela tabu: disso pura e simplesmente não se fala e é preciso viver como se ela não existisse. Mas com a morte-tabu, já não há distinção, como mostrou atempadamente Martin Heidegger, em Sein und Zeit (Ser e Tempo), entre existência autêntica e existência inautêntica. E, na indistinção de dignidade e indignidade, justiça e injustiça, bem e mal, apagou-se a ética. Se tudo desemboca no nada, já tudo é nada.

Permanecei em mim e dareis muito fruto

Georgino Rocha



Jesus vive momentos decisivos da sua missão pública e de grande tensão interior. A hora da despedida aproxima-se. Os discípulos dão sinais de ainda não haverem entendido os seus gestos mais expressivos como o lava-pés, e as palavras mais claras como a parábola do Bom Pastor. Filipe faz-se porta-voz deste estado de ânimo e diz-lhe: “Senhor, mostra-nos o Pai”. Judas, não o Iscariotes, interroga-o sobre o seu modo de proceder. Pedro promete segui-lo ainda que tenha de morrer, e recebe a resposta aviso: “Antes que o galo cante, negar-me-ás três vezes”. O desnorte parecia claro. A lentidão aliava-se à confusão. E o tempo corre, aproxima-se do fim.
João, o discípulo amado e narrador do ocorrido, apresenta estes e outros sinais no chamado “Livro da Glorificação: O dinamismo da fé e o Amor”. Aqui se encontram a parábola do Bom Pastor e a alegoria da videira, além de discursos vários em que Jesus reafirma a mensagem já várias vezes apresentada. Hoje, a liturgia faz-nos contemplar a originalidade da comunhão de Jesus com Deus Pai e a novidade da relação com os discípulos. E como rostos humanos desta realidade, traz-nos Paulo, o convertido, e a audácia do início da sua missão apostólica; e João no apelo solícito a que amemos com obras e verdade. Rostos humanos que se prolongam em tantos cristãos que o são nos locais de lazer e trabalho, nas horas de aflição e de perturbação.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Depois do 25 de Abril




O PORTUGAL FUTURO 

O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro

Ruy Belo

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Como ficou a Igreja católica após o 25 de Abril

A opinião de Luís Salgado de Matos



«A Igreja, perante o novo ambiente social e político posterior ao 25 de Abril [revolução ocorrida em 1974], procurou acima de tudo a unidade dos crentes e seguiu uma estratégia defensiva e prudente. Conservou sempre a sua capacidade de enquadramento, adaptando-se com agilidade ao novo ambiente social. Com esta base, enfrentou um novo Estado, potencialmente hostil.
Face à contestação interna, não a combateu frontalmente e cedeu o bastante para isolar os seus autores da maioria dos católicos. Ultrapassado o estigma da culpa na manutenção da ditadura do Estado Novo, a Igreja reforçou as suas estruturas de participação interna. Nos momentos de crise, atenuou o seu perfil nacional em benefício do diocesano, mais flexível. O Santuário de Fátima continuou a ser um polo de irradiação espiritual, tocando pessoalmente milhões de portugueses.
Surgiram em diversos momentos divergências táticas no interior da Igreja institucional. Uns favoreciam o partido e o sindicato católico; outros opunham-se-lhe e vieram a vencer. Alguns queriam um nítido pedido de perdão pelos pecados da Igreja; outros recusavam-no; veio a ser adotada uma solução intermédia. Alguns fizeram as manifestações de rua de apoio ao episcopado no caso da Rádio Renascença; outros opuseram-se-lhe, sem questionarem a sua legitimidade. Estas divergências, porém, nunca impediram que fosse mantida a unidade de ação - interna à Igreja tanto como nas relações com a política.»

Ler mais aqui 

XXII Festival de Folclore Primavera

Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo 
Senhora  dos Campos 
1.º  de maio 
15h30



Grupos participantes:

- Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo
- Rancho Folclórico da Serra do Brunheiro - Chaves
- Rancho Folclórico de Vinhó - Gouveia
- Rancho Folclórico doa Marceneiros de Rebordosa - Paredes
- Rancho Folclórico Sampaense - Oliveira do Hospital
- Rancho da Região de Leiria - Leiria