segunda-feira, 12 de junho de 2017

Valdemar Aveiro: "Os políticos estão destruindo frotas de pesca"


«Os motivos estão cheias de peixe, mas dizem-nos que temos de ter cuidado porque ele está se esgotando", disse o Português especialista em pesca do bacalhau»
"Os motivos são cheio de peixes e ainda há aqueles que continuam a dizer -nos que devemos ter cuidado com o que pescar, porque vamos correr para fora das unidades populacionais de peixes."Tal confiança o convidado de ontem provou Clube de Faro , Valdemar Aveiro, Portugal especialista capitão na pesca do bacalhau, que analisou a história desta pescaria e falou sobre seu presente e seu futuro, um futuro que não augura nada de bom . "Os políticos e a União Europeia está destruindo frotas (pesca) e ainda dizer que temos que ter muito cuidado com taxas, se você não quer a correr para fora do peixe. E eu não posso compreender que dizer isso quando não são tantas pessoas desempregadas , " ele disse durante falando no Auditório Municipal do Areal, que foi apresentado por José Manuel Muñiz, presidente da Associação dos Diplomados Náutico-Pescas (AETINAPE).
Convidado da FARO clube disse que este aviso sobre a escassez de recursos marinhos é falsa. Além disso, de acordo Aveiro pesqueiros peixes estão cheios. "Há tantos peixes que estão comendo seus filhotes", disse o capitão de pesca Português, 83, acrescentando que este é um problema sério para o ambiente marinho. "Quem é você determinado a fazer-nos crer que não há peixe suficiente, também nos dizem que há um problema com o peixe pequeno, não. E não porque o peixe grande está comendo os pequenos", disse ele.
Também não é verdade, acrescentou, que o problema da escassez acima mencionado é devido a ciclos de reprodução de peixes. Não, pelo menos no caso do bacalhau. "É verdade que o bacalhau só jogar uma vez por ano. Além disso, o bacalhau feminina fica entre sete e oito milhões de ovos, mas não todos sobreviver, é claro", disse ele.»

Nota: Transcrição do jornal Faro de Vigo 

domingo, 11 de junho de 2017

UM DEUS PLURAL E UMA IGREJA MONOLÍTICA?

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


1. Quando se pressentem consequências graves de desentendimentos entre pessoas belicosas, diz-se, à moda do Porto: vai cair o Carmo e a Trindade. Sobre a Trindade, muitos católicos já não sabem muito mais. O antigo mundo rural orientava-se pelo “toque das trindades”. O sino da Igreja paroquial tocava três vezes por dia: de manhã, ao meio-dia e ao fim da tarde. Tudo parava, os homens tiravam o boné, e rezava-se o “Anjo do Senhor”, seguido de uma “Avé Maria” e do “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”.
Quando se queria mostrar o cuidado da família com o desenvolvimento religioso da criança, pediam-lhe: “Mostra que já sabes fazer o sinal da cruz.” Era um rosto marcado pela Trindade Santa.
Na catequese ou na teologia, ignorando os recursos evocativos da linguagem simbólica, repousava-se no mundo dos conceitos evanescentes. À falta de explicações satisfatórias, recorria-se a uma geometria rudimentar, ao triângulo ou ao trevo do campo.
As argutas definições dogmáticas dos séculos II, III e IV não se contentaram com a proclamação de Paulo em Atenas: é em Deus que vivemos, nos movemos e existimos [1].
Sim, Deus, mas que Deus? Foi preciso mostrar que era possível dizer que um só Deus vive misteriosamente em três pessoas distintas, iguais e diferentes: todas activas, inteligentes, amantes, em comunhão perfeita e sem qualquer subordinação! Era a vitória da máxima unidade na floração da máxima diversidade.
Por mais estranha que pareça, esta convicção talvez não seja nem absurda, nem inútil. Não poderá ela esconder a realidade mais profunda e misteriosa do mundo, da família, da sociedade, da política, da religião e da Igreja?

2. Em nome da unidade, sacrifica-se a diversidade e a imprevisível liberdade, resvalando-se para a falsa segurança da ditadura; perante as dificuldades de viver em liberdade, na diversidade, no pluralismo, pergunta-se: será possível conjugar governabilidade e democracia? Não serão os muros a recusa do acolhimento recíproco entre diversas identidades num mundo que a todos compete respeitar, como casa comum?
A sabedoria aconselha a que não se deite para o caixote do lixo a afirmação trinitária de Deus que hoje é celebrada na Igreja Católica. É um alerta político, cultural e religioso, como sublinhou o filósofo Giorgio Agamben.
S. Paulo deu-lhe uma expressão quase narrativa: a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós [2]. Representa um belo sumário da teologia da unidade plural da Igreja, na comunhão e na diversidade dos seus carismas. Por desgraça, os rituais não conservam apenas as referências centrais de uma religião. Decaem, facilmente, em rotinas que adormecem as consciências em vez de as despertar para o que falta viver e fazer.
É legítimo perguntar: porque continuar a manter a vergonhosa separação entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente, invocando minudências linguísticas esquecendo que estamos todos a balbuciar o inabarcável mistério de Deus e do mundo? A verdade viva revela-se no caminho humilde da busca espiritual e não no orgulho de manter embalsamadas fórmulas e costumes em nome de ortodoxias vazias. Por que não deixar Deus ser Deus e o seu Espírito à solta no mundo?
A arrogância de todas as Igrejas, em nome da posse da verdade, acaba por afastá-las da alegria da comunhão na fé e na caridade, impedindo-as da escuta recíproca e da pergunta essencial: não poderei aprender nada com as outras comunidades cristãs, com as outras religiões, com as pessoas que buscam, por tantos caminhos, um sentido para a vida?

3. Estamos em 2017, a cinco séculos de distância do gesto de Martinho Lutero, ao colocar, a 31 de Outubro de 1517, as suas teses sobre o comércio de indulgências, na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. De facto, o V Centenário da Reforma já foi inaugurado, na Alemanha, em 2008. É a Década de Lutero.
É, também, uma ocasião para os historiadores da cultura, da política e da teologia reexaminarem cinco séculos de história extremamente complexa e, talvez, colherem algumas lições para o nosso presente de renovados fanatismos políticos e religiosos.
Portugal não é a pátria de Lutero e os portugueses também não o puderam acolher no séc. XVI, nem com discernimento nem sem discernimento. Depois foram-no esquecendo.

Para assinalar os 450 anos da sua morte, o Centro de Estudos de Teologia/Ciência das Religiões, da Universidade Lusófona, marcou essa data com um importante colóquio, cujos contributos já estão publicados. Tentei, no prefácio, explicar as razões da ausência de Lutero entre nós [3].
O Pe. Carreira das Neves introduziu o seu importante Lutero. Palavra e Fé com a pertinente observação: “O tema que vamos tratar tem sido objecto de milhares de livros, artigos e pronunciamentos religiosos, políticos, sociológicos, filosóficos. Só estranha o facto de nenhum autor português ter assumido, nestes 500 anos que nos separam de Lutero, a responsabilidade de escrever sobre esta pessoa que está na origem do protestantismo luterano e das igrejas evangélicas.” [4]
O ausente de Portugal encontrou acolhimento, em português, mas no Brasil, onde já foram publicados 12 volumes das Obras Seleccionadas de Martinho Lutero [5].
O luterano Artur Villares pergunta: “Cinco séculos depois, com a poeira da História a assentar, e as polémicas, ódios e extremismo, definitivamente encerrados nas prateleiras da apologética de todos os participantes, o que significa, para o homem de hoje, o nome de Martinho Lutero? Para muitos nada; para outros tantos, um mero revoltado, um rebelde, que destruiu a unidade da Igreja do Ocidente; para outros ainda, uma figura histórica, de assinalável grandeza, um dos construtores do mundo moderno.”
O Pe. Carreira das Neves também perguntou: “Lutero está ultrapassado?” E concluiu a sua obra com muita graça: “Estamos todos ultrapassados se nos fixarmos nos redutos das nossas identidades religiosas, de ritualismos, jurisdicismos, dogmatismos, farisaísmos.” [6]

[1] Act 17, 22-29.
[2] 2Cor 13, 13 e paralelos.
[3] Martinho Lutero. Diálogo e Modernidade, prefácio de Frei Bento Domingues, Edições Universitárias Lusófonas, 1999.
[4] Lutero. Palavra e Fé, Presença, Lisboa, 2014, p.17, assinala que de obras estrangeiras, em Portugal, apareceu apenas a tradução do livro de Johannes Hessen, Lutero visto pelos Católicos, Coimbra, 1951, Ed. Arménio Amado; Lucien Febvre, Martinho Lutero. Um Destino, Ed. Bertrand, 1976; nova tradução do mesmo autor, da Ed. Texto, 2010. Cf. Walter Kasper, Martinho Lutero. Lido em chave ecuménica 500 anos depois, Paulinas, Lisboa, 2016.
[5] Responsabilidade da Comissão Interluterana de Literatura. São Leopoldo.
[6] Op. Cit., p. 459.

Nota: Imagem de Martinho Lutero

sábado, 10 de junho de 2017

MARINA DA GAFANHA DA NAZARÉ COM VÍDEO-VIGILÂNCIA





No dia 8 de Junho,  foi inaugurado o sistema de vídeo-vigilância com  fechadura electrónica de acesso ao aparcamento na água. São duas inovações que vão melhorar e aumentar a segurança das embarcações que estão na marina da Associação Náutica e Recreativa da Gafanha da Nazaré, informou a direção daquela estrutura sediada junto à Empresa de Pesca de Aveiro. 
Entretanto, solicita a todos os sócios que têm os seus  barcos na bacia da Marina que procurem levantar o seu cartão de acesso, o mais depressa possível.
Aproveito esta ocasião para felicitar a nova direção da Associação Náutica e Recreativa da Gafanha da Nazaré, liderada pelo nosso conterrâneo Humberto Rocha, desejando-lhe os maiores êxitos, para bem do desporto náutico e de quantos demandam, por mar, as nossas paragens. 

NOTA: Fotos cedidas pela ANRGN

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

  
Celebra-se hoje, com feriado, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Haverá condecorações e celebrações, numa perspetiva de fixar na memória de todos as grandezas do nosso país, mas também os seus valores, que são os nossos, e os projetos que hão de enformar os vindouros.
Há quem se questione sobre o porquê de no dia 10 de junho se evocar Camões e não outro português, de tantos que houve com grande mérito.
A este propósito, li hoje:

«Em pleno dia 10 de Junho há razão para questionar porque Afonso Henriques não é o seu símbolo?


(Freitas do Amaral) Justamente porque quando se começou a assinalar o Dia de Portugal havia ainda aquela "maldição" do Oliveira Martins lançada sobre Afonso Henriques. Que era um "bronco", um "estúpido" e um "javali que só sabia marrar e matar", enquanto Camões estava no seu esplendor. Por outro lado, não era fácil escolher uma data para ser o Dia de Portugal ligado a um dia especial relacionado com o rei porque em 1128 ele ganha a Batalha de São Mamede, que durante muitos anos no Estado Novo foi considerado o início de Portugal. No entanto, essa vitória foi apenas contra a Galiza e não contra Leão, o que levou que ainda se tivesse de chegar a 1143. Ainda no Estado Novo, quando Salazar organizou as comemorações dos centenários em 1940, disse que se comemoravam os 300 anos sobre a Restauração de 1640 e 800 sobre o nascimento do Reino de Portugal, que ele punha em 1140 porque julgava-se que datava desse ano o primeiro documento em que Afonso Henriques se intitulava Rei dos portugueses. Verifica-se mais tarde que era de 1139. Ou seja, não era fácil escolher uma data, enquanto o 10 de Junho [data da morte de Camões] foi mais consensual e ficou. Talvez fizesse sentido se não tivéssemos feriados a mais transformar uma destas datas das batalhas em data nacional.»

Ver mais aqui 

QUERIA TER A POSIÇÃO DOS CLAUSTROS



 Queria ter a posição dos claustros
A posição do monge antigo que os varre
A posição do moribundo que pergunta as horas
A posição das árvores quando as crianças sobem
A posição dos ramos quando os ninhos nascem
A posição de alguém que já não mora. Queria
Como se tivesse
A posição da casa e alguém me visitasse

Daniel Faria,

in DOS LÍQUIDOS

IGREJA DO SEMINÁRIO DE AVEIRO FOI INAUGURADA NESTA DATA







1983 - 10 de junho

«Sob a presidência do bispo de Aveiro D. Manuel de Almeida Trindade, foi solenemente inaugurada a igreja do Seminário Diocesano de Santa Joana Princesa, dando-se assim por concluída a construção do mesmo Seminário, cuja iniciativa ficou a dever-se ao ínclito arcebispo e aveirense D. João Evangelista de Lima Vidal (Correio do Vouga, 17-6-1983) – J.»

"Calendário Histórico de Aveiro" 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

NOTA: A propósito desta efeméride, ofereço aos meus leitores e amigos várias imagens que dão, apesar de tudo, uma pálida ideia da beleza desta igreja. 

sexta-feira, 9 de junho de 2017

PAPA FRANCISCO — A Revolução Imparável



CUFC: COMO CUIDAR DO PATRIMÓNIO RELIGIOSO?


A Comissão Diocesana da Cultura de Aveiro vai realizar, no dia 28 deste mês, uma ação de formação sobre a melhor forma de cuidar do Património Religioso. A iniciativa terá lugar no CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura), entre as 21.30 e as 23 horas,  sendo intervenientes Sandra Costa Saldanha e Vítor Serrão.
Esta é uma boa oportunidade para os participantes tomarem consciência da importância e urgência de cuidarmos do nosso património religioso, muitas vezes de valor incalculável. 


FRANCISCO E TRUMP

Crónica de Anselmo Borges no DN


1 Para ajuizar do encontro entre o Papa e Trump, não basta uma fotografia em que Francisco surge "de rosto fechado", não habitual nele. Esquece-se que uma fotografia fixa um instante, e lá andam os fotógrafos metralhando momentos, que depois põem a circular, para delícia dos comentadores a fazer o que sabem ou não fazer: comentários que outros comentarão para entretenimento difuso ou irritante... Aliás, quando duas pessoas se encontram frente a frente para dialogar e têm jornalistas a observar e fotógrafos a fixar os tais instantes, que ficam "congelados", em que estão verdadeiramente a pensar? Claro que a espontaneidade, que também depende do modo de ser de cada um, fica fragilizada. Mesmo sem jornalistas e fotógrafos, quando duas pessoas com imensas responsabilidades globais se colocam em frente uma da outra, o que se passará lá no mais íntimo? Isso acontece até quando não há essas responsabilidades nem jornalistas nem fotógrafos, mas, claro, tudo fica tremendamente aumentado nas ditas circunstâncias. Porque há o que realmente se pensa (e o que é que realmente se pensa?) e há a diplomacia, o que se pode e o que se não pode nem deve dizer. Por palavras e por gestos.
Francisco até procurou desanuviar a situação perguntando a Melania Trump se o marido lhe "dá a comer potizza". Com um sorriso, ela respondeu: "Sim, delicioso." A potizza é um bolo típico esloveno. A Eslovénia é o país de origem da primeira-dama norte-americana, que se diz que é católica e terá pedido ao Papa para lhe benzer um terço.

2 De qualquer modo, percebe-se que este não foi dos encontros mais exaltantes para Francisco. São bem conhecidos os diferendos existentes entre os dois líderes, que vêm de há muito. Francisco tinha dito que "não é cristão" construir muros, referindo-se à promessa de Trump de levantar um ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México, tendo Trump respondido que não fica bem a um Papa julgar a fé dos outros, acrescentando, ainda durante a campanha eleitoral: "Se o Vaticano fosse atacado pelo Daesh, que toda a gente sabe ser o derradeiro troféu dos terroristas, garanto-vos que o Papa rezaria para que Donald Trump fosse presidente."
Os pontos de divergência referem-se concretamente à política migratória, à pobreza global e à defesa do meio ambiente. Sobre a imigração, por exemplo, Francisco é claro: "Creio que, em teoria, se não pode fechar o coração a um refugiado", embora acrescentando com realismo: "Também há a prudência dos governantes, que devem ser muito abertos para recebê-los, mas também devem fazer o cálculo de como poder alojá-los, porque não basta receber um refugiado, é preciso integrá-lo." Sobre o meio ambiente e a "ecologia integral" escreveu uma encíclica que fará história, Laudato Sí, e disse recentemente numa conferência de imprensa: "Posso dizer-vos que é agora ou nunca. Os problemas agravam-se a cada ano que passa. Estamos no limite. Se me é permitida uma palavra forte, diria que estamos à beira do suicídio." Sobre a "economia que mata": aí está o "ídolo dinheiro que reina em vez de servir e que tiraniza e aterroriza a humanidade."

3 No fim do encontro no Vaticano, Trump e Francisco desejaram-se "boa sorte". O Papa pediu-lhe que fosse "um instrumento da paz" e Trump escreveu que tinha sido "uma honra ter conhecido Sua Santidade" e que deixava o Vaticano "mais decidido do que nunca a procurar a paz no nosso mundo". Segundo um comunicado da Santa Sé, o encontro foi "cordial" e ambos abordaram "a promoção da paz no mundo" e temas relacionados com a actualidade internacional, concordando em lutar "através da negociação política e do diálogo inter-religioso, referindo especialmente a situação no Médio Oriente e a protecção das comunidades cristãs". Depois, já com o primeiro-ministro italiano, Trump referiu-se ao Papa como "uma grande pessoa", alguém "especial", e ao encontro como "fantástico".
Entretanto, para combater os efeitos da seca, Trump, aparentemente "convertido", prometeu mais 300 milhões de dólares para a luta contra a fome em África. Mas a seguir anunciou a saída dos Estados Unidos dos acordos de Paris sobre o clima.

4 Quando se pensa em Trump, não se pode ficar por uma condenação rasa, pois é necessário perguntar pelas razões que levaram à sua eleição e que se ligam também às ameaças crescentes de nacionalismos e fundamentalismos. De qualquer modo, sobre Trump e Francisco, repito as reflexões de Harvey Cox, pastor baptista, professor em Harvard e um dos mais conceituados especialistas na análise do fenómeno religioso no mundo moderno e contemporâneo. Numa entrevista recente a José Manuel Vidal, Harvey Cox falou de modo entusiasta e elogioso: "Sim, sou um grande admirador de Francisco. Penso que até agora fez coisas maravilhosas. É um dom para a Igreja Católica, para todas as Igrejas..., um dom para todo o mundo. Sei que tem oposição - uma oposição forte e séria - e julgo que precisa que o apoiemos." À pergunta: "O Papa pode ser o único líder global que pode fazer frente a Donald Trump?", respondeu: "Bom... Como alguém disse muito recentemente, o Papa Francisco é o único adulto que resta, o único com maturidade. Penso que um dos problemas com Trump é que é muito infantil. É impetuoso, destemperado, age a partir da ira e não modera os sentimentos. Essa é uma forma perigosa de actuar, e isso é característico das crianças. Há outras coisas. As suas políticas são muito frequentemente más - não todas, mas muitas -, mas preocupa-me a sua falta de temperamento equilibrado. Há uma coisa que o Papa Francisco tem: um sentido maravilhoso de maturidade. Maturidade, equilíbrio e justiça. Estando assim as coisas, julgo que Francisco é um dos poucos muros de contenção -talvez o único - ao que Trump gostaria de fazer."

CREIO EM UM SÓ DEUS: PAI, FILHO E ESPÍRITO SANTO

Reflexão de Georgino Rocha


Festa da Santíssima Trindade

Jesus suscita progressivamente nos discípulos a fé em um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. Ao longo da sua vida vai fazendo acções, dizendo palavras, provocando e aproveitando encontros que levantam “a ponta do véu” desta verdade insondável, que é a Santíssima Trindade, a festa que, hoje, celebramos. A Igreja, na sua liturgia e na vida cristã que dela decorre, mostra a importância central desta realidade sublime que sempre está presente e nos envolve. Tudo começa “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Tudo se desenrola com “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”. Tudo se encaminha para que a assembleia dominical fortalecida com “A bênção de Deus todo poderoso: Pai, Filho e Espírito Santo” possa ir semear a paz assente na justiça e percorrer os caminhos da vida com alegria e confiança.
O encontro de Jesus com Nicodemos, que João nos narra (Jo 3, 16-18), constitui uma rica oportunidade para fazer a iniciação à vida de Deus na história humana e em cada pessoa. É a partir do agir que se pode chegar ao ser. À semelhança do percurso do rio que leva o explorador peregrino à nascente das águas cristalinas, ao manancial que, de diversos modos, se expande e irriga tudo à sua volta e ao longe.
Nicodemos é uma pessoa influente na classe dirigente dos judeus. Intervém duas vezes em questões referentes a Jesus: quando o querem matar sem julgamento e quando é preciso descer o cadáver da cruz e fazer os preparativos para ser sepultado (Jo 7, 50; 19, 39). Sempre revela a procura da verdade para o seu espírito inquieto, bom senso nas sentenças, ousadia discreta e corajosa na relação pública com Jesus.
Os rumores que lhe chegam a respeito de um novo Rabi, estimulam a curiosidade e impelem a vontade a ir falar-lhe. Aproveita a noite e põe-se a caminho. A noite no Evangelho de João tem uma densidade especial, simbólica. E contrasta bem com a luz do dia, irradiante de verdade e beleza. O silêncio da noite favorece confidências que o bulício  do dia afugenta. E Nicodemos abre o seu coração, desvenda a sua consciência. Surge um diálogo breve, mas profundo, seguido de uma declaração didática em que Jesus faz a sua primeira auto-revelação: “De tal modo Deus amou o mundo que entregou o seu Filho Unigénito… para que o mundo seja salvo por Ele”. Esta declaração constitui o coração do diálogo e, de algum modo, do próprio Evangelho. É precedida de outras afirmações de Jesus e perguntas de Nicodemos, que manifesta estar deveras surpreendido. As suas expectativas estão longamente superadas, sobretudo pela garantia dada pelo Rabi da Galileia: “Ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nasce da água e do Espírito”.
O relato de João segue uma linha que vai aclarando quem é Deus: O Pai ama o Filho e este corrresponde-Lhe em reciprocidade de amor. O amor recíproco origina uma nova pessoa: O Espírito Santo. Todos unidos no e pelo amor; cada um diferente pelas funções reveladas no seu agir histórico para salvar o mundo. Verdade inacessível à inteligência racional, mas muito apreciada pelo coração humano. Verdade revelada que desvenda a nossa matriz original. Verdade comunicada que humaniza as nossas relações e confirma a nossa vocação/missão comum. Verdade que Jesus transforma em credencial dos seus discípulos ao rezar ao Pai: “Que todos sejam um como nós somos um”.
A Santíssima Trindade habita na consciência de cada pessoa que, necessariamente, tem de ser educada para esta realidade admirável. Ajuda-nos o testemunho de Enzo Bianchi, prior da comunidade monástica italiana de Bose, “Desde pequeno, antes de ir dormir, a minha mãe fazia-me ajoelhar aos pés da cama e com palavras simples fazia-me orar pedindo ao Senhor a sua bênção, a saúde dos nossos queridos, o envio do Espírito Santo, e depois convidava-me a manifestar-lhe reconhecimento e louvor. Por isso fui habituado a falar com uma Presença invisível. Aliás, há realidades invisíveis nas quais acreditamos. Pense-se no vento: não tem rosto, não se vê, e no entanto é uma presença de que todos nos damos conta e na qual acreditamos. No espaço da fé, Deus é uma presença não discernível, não visível, no entanto não só podemos acreditar nele, mas podemos também falar-lhe, abandonar-nos a Ele, esperar o dom do seu Espírito”.
Presença invisível, mas sensível ao nosso espírito, que reforça a dignidade e abre novos espaços à liberdade; que nos proporciona um novo acesso a Deus e nos impele a sintonizar a consciência com Ele e com o agir de Jesus Cristo, e nos faz saborear as alegrias do Espírito Santo. “Bendito seja Deus que fez de mim o Seu templo e quis habitar neste corpo já envelhecido pelos anos”, dizia em atitude de agradecimento humilde uma idosa que se aproximava dos noventa.
Presença invisível, mas actuante no agir da pessoa humanizada, reflexo e imagem da glória de Deus. Vale a pena meditar a declaração pública do Padre Rafael Garrido, Provincial da Companhia de Jesus, em nome dos jesuítas da Venezuela, de que se destaca este parágrafo: “Nós, jesuítas, trabalhamos em conjunto com dezenas de milhares de pessoas, entusiasmados pela vida, pela vocação e pelo trabalho, "a maior glória de Deus". Jesus nos ensina que a maior glória de Deus está em que os homens e mulheres tenham dignidade para viver e que essa nova vida não pode ser construída com o ódio e com a morte. Agradecemos por seu trabalho generoso em condições difíceis e recursos financeiros precários”.
Festa da Santíssima Trindade, convite a reabilitar a nossa dignidade e a empenhar-nos para que a humanidade viva como família de Deus.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

CASA DA MÚSICA VAI ABRIR PORTAS NO DIA 18




A Casa da Música, prometida há muito, vai abrir portas no próximo dia 18, domingo, pelas 17 horas, garantidamente com festa. Vai servir a Filarmónica Gafanhense e o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, com espaços independentes e partilha de zonas comuns. Depois de tantos anos de espera, tenho a certeza de que chegou a hora para todos nos congratularmos com esta inauguração, augurando grandes êxitos para aquelas instituições com tantos sonhos e projetos, rumo a novos dinamismos culturais.


PRÉMIO CAMÕES PARA MANUEL ALEGRE


PORTUGAL 

O teu destino é nunca haver chegada
O teu destino é outra índia e outro mar
E a nova nau lusíada apontada
A um país que só há no verbo achar

Manuel Alegre,
in "Chegar Aqui"

MARCHAS SANJOANINAS A CAMINHO


Estão para breve as Marchas Sanjoaninas. Os ensaios devem estar a decorrer, em força, para que tudo saia perfeito, de modo a agradar a todos. Dirigentes, ensaiadores, autores das músicas e das letras, dançadores e dançarinas, sem esquecer os trajes a condizer com os temas, que serão segredo até ao dia da apresentação. E quem ganhará? Todos, certamente.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

EFEMÉRIDE — MUSEU DE SANTA JOANA

1912 – 7 de junho

«Atendendo à proposta do Conselho de Arte e Arqueologia da 2.ª Circunscrição, Coimbra, o Governo da República, por uma portaria da 2.ª Repartição da Direcção-Geral da Instrução Secundária, Superior e Especial do Ministério do Interior, criou um museu no edifício do extinto Mosteiro de Jesus e nomeou uma comissão local para o organizar e administrar que, por sua vez, escolheria para presidente o Dr. Jaime de Magalhães Lima e para secretário João Augusto Marques Gomes (Diário do Governo, n.º 135, 11-6-1912, pg. 2075; Arquivo, XLI, pgs. 241 e ss., onde aliás se erram datas) – A.»

“Calendário Histórico de Aveiro” 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar



NOTA: Faz hoje a bonita idade de 105 anos o Museu de Aveiro, mais conhecido por Museu de Santa Joana. O que se recorda, realmente, é a decisão do Governo da República de o criar, tendo sido nomeado para o cargo de presidente o Dr. Jaime de Magalhães Lima, conhecido e multifacetado escritor, mas também um amante da natureza e da cultura em geral. Recordo, hoje e aqui, a propósito da sua paixão pela natureza, um livro que li e reli — Entre Pastores e nas Serras —, em que descreve uma viagem à serra do Caramulo, que ele considerava a mais bonita de Portugal. Há uns dois anos tive a curiosidade e o prazer de calcorrear caminhos de aldeias que ele calcorreou há mais de 100 anos. 

F.M.

À DESCOBERTA DE MANGUALDE

Crónica de Maria Donzília Almeida


A vida é o que fazemos dela. 
As viagens são os viajantes. 
O que vemos não é o que vemos, 
senão o que somos.”

Fernando Pessoa

Nelas - Enoturismo 


Lápide
Altar
Igreja - Escadório

Igreja - Pirâmides

Igreja Senhora do Castelo






“À descoberta de Portugal” e “Por terras de Portugal” são dois livros alinhados na estante, muitas vezes consultados, para organizar roteiros e conhecer o património local. No século passado. Com o avanço da tecnologia, a literatura de viagens ficou relegada para secundaríssimo plano e a internet assumiu esse papel. É fácil, é barato e está sempre ao nosso alcance. Aí se colhe a informação necessária, se fazem os itinerários, e é possível saber-se de antemão, o que se vai ver e o que se vai saborear.
Quanto ao alojamento, não há sombra de dúvidas – Hotel? Trivago!
Com a curiosidade, a disponibilidade e a sede de cultura/conhecimento, lá foi um minigrupo de “jovenseniores” à descoberta de Mangualde. Pertencente ao Distrito de Viseu, região Centro e sub-região do Dão-Lafões, recebeu em 1102, o foral do Conde D. Henrique.
Do seu património, salientam-se alguns monumentos: a Anta da Cunha Baixa um monumento funerário em granito, a Capela da Senhora de Cervães, o Castro do Bom Sucesso, a Citânia da Raposeira, a Fonte da Ricardina que herdou o nome de uma rapariga, filha de um pretenso abade, que proíbe os amores da jovem, em cartas trocadas com Bernardo Moniz, numa fonte ali situada. Serviria de mote, a Camilo Castelo Branco para escrever o seu "Retrato de Ricardina"; a Igreja da Misericórdia de Mangualde, a Igreja Matriz de S. Julião, o Palácio dos Condes de Anadia obra dos fidalgos Pais do Amaral que a partir do séc. XVIII se tornam a família de relevo. É Simão Pais do Amaral quem ultima a parte arquitetónica da mansão; o Real Mosteiro de Santa Maria de Maceira Dão, o Pelourinho de Abrunhosa-a-Velha, o Pelourinho de Chãs de Tavares, etc.
Para ganharmos energia e absorvermos este banho de cultura e história, tivemos, ao jantar de 6º feira, um suculento repasto no restaurante Valério, uma referência local, cujas paredes estão revestidas por fotos de famosos que por ali passaram. A de Maria José Valério ostenta a sua madeixa verde, como imagem de marca. Também tirámos a foto da praxe com o Sr Valério para se juntar às demais. Em terras em que a Nobreza teve forte expressão, senti-me como peixe na água. (!?)
Apesar do vasto património, por limitação de tempo, a nossa atenção concentrou-se apenas em alguns pontos. O primeiro, em que nos detivemos, foi a capelinha de Santa Maria do Castelo, que deu o nome ao hotel, ali próximo. Erigida no começo do séc. XV, evoca a batalha travada em Trancoso entre soldados de Portugal e de Castela. De linhas simples, nela ressalta a altíssima torre, elevada a prumo sobre a fachada. O interior mostra uma elegante capela-mor com um retábulo de sabor neoclássico. Recebeu nos finais do século XIX, a honrosa visita dos reis D. Luís e a rainha Maria Pia e do rei D. Carlos com a ilustre rainha D.ª Amélia.
Esta minha atração pela monarquia, num misto de fantasia e realidade, assenta em fundamentos históricos. Segundo rezam as crónicas, através de relatos orais, há indícios que a avó materna seria filha da fidalguia que um dia, veio à sua procura, numa caleche, puxada a cavalos. A menina que tinha passado pelo Mosteiro de Jesus, não quis aparecer ao presumível pai biológico. A sua origem, provavelmente nobre, perdeu-se na bruma dos tempos, numa sociedade hipócrita que camuflava os desmandos da Nobreza. Dessa avó, herdei o sobrenome …de Jesus.
Passadas estas elucubrações, a nossa digressão prosseguiu por terras beirãs.
A próxima paragem foi em Fornos de Algodres, onde almoçamos com um espetáculo delicioso: o vai vem das andorinhas que nidificaram a todo o comprimento do beiral de um prédio ali em frente. Até a refeição se tornou mais gostosa. Aí visitámos, no edifício do turismo, uma exposição da Confraria da Urtiga. Uma planta amaldiçoada por tanta gente foi reabilitada e apresentada como uma fonte de nutrientes, que rivaliza com muitos produtos hortícolas.
Já no regresso, visitámos um empreendimento de Enoturismo, em Nelas, onde só os grandes apreciadores e conhecedores do precioso néctar, fazem paragem obrigatória. Os carros de alta cilindrada, ali estacionados, são reveladores! 
Em pleno coração do Dão, o enoturista tem a possibilidade de visitar as vinhas, a adega e realizar uma prova de vinhos. 
Como não somos dados a esses eflúvios etílicos, ficámo-nos pela visita ao local e degustámos um café quente.
Outros espaços, outras visitas ficarão para a próxima escapadela. Este país tem encanto em qualquer recanto apesar de dizerem que a beleza está nos olhos de quem vê!

06.06.2017

terça-feira, 6 de junho de 2017

Helena Semião


Neste mês de junho, mês dos Santos Populares, a rubrica “A Nossa Gente” é dedicada a Helena Semião, Presidente de Direção das Pestinhas – Grupo de Dança – Associação Cultural. 
Natural da Gafanha da Nazaré, Helena Semião nasceu a 24 de novembro de 1966. Iniciou os seus estudos na Escola Primária da Cale da Vila, seguindo-se o 5.º ano no Ciclo de Aveiro, o 6.º no Ciclo da Gafanha da Nazaré e o 7.º no Liceu de Ílhavo, atualmente Escola Secundária Dr. João Carlos Celestino Gomes. 
Não tendo possibilidade de continuar os estudos, agarrou-se a todas as oportunidades que a vida lhe proporcionou com o objetivo de poder gerir a sua vida. Ainda muito jovem trabalhou numa obra, numa padaria e na lavoura, mas havia algo que queria muito fazer: dançar. 
Com apenas 18 anos tentou formar um grupo de dança, na Senhora dos Campos (Colónia Agrícola), mas o seu projeto não vingou. Juntou-se ao Rancho Folclórico “As Ceifeiras” da Gafanha da Encarnação, onde tocava acordeão. Mas o seu sonho era dançar e, cerca de um ano e meio depois, desistiu do Rancho para ingressar no Estúdio Cem, em Aveiro. À hora do almoço e depois do trabalho ia aprender aquilo que sempre sonhara. A sua primeira atuação aconteceu no Rossio e a partir daí nunca mais parou. 
Voltou ao seu projeto antigo, num convívio de amigas, e criou um grupo de dança na Gafanha da Nazaré. Inicialmente constituído por oito meninas, o grupo ensaiava na rua, depois numa sala da casa dos pais de Helena e, mais tarde, numa garagem. O grupo cresceu e, numa festa de Catequese na Igreja Matriz da Gafanha da Nazaré, apresentou duas coreografias, que foram muito apreciadas e aplaudidas, dando motivação a Helena Semião para continuar, dando ao grupo o nome de “Pestinhas”. 
Das inúmeras atuações que foi realizando ao longo do tempo, Helena destaca a participação no programa de televisão “SIC 10 horas” com a apresentadora Fátima Lopes, motivo que a levou a formalizar o grupo em 2007. O Grupo de Dança Pestinhas ensaiou durante vários anos no Centro Cultural, agora Fábrica das Ideias, e no Mercado, na Gafanha da Nazaré. Atualmente, os ensaios realizam-se num espaço junto à Escola da Cale da Vila e está aberto, gratuitamente, a todas as crianças e jovens que queiram juntar-se ao projeto.
Dinâmica, criativa e lutadora, Helena Semião idealiza as coreografias e desenha os modelos de roupa sempre aliados aos temas que também ela escolhe, imprimindo originalidade naquilo que faz. 
Depois da participação no Carnaval de Vale de Ílhavo e no Concurso de Hip-Hop Dance, Helena Semião volta a ser a porta estandarte do Grupo Pestinhas que, pelo nono ano consecutivo, vai participar nas Marchas Sanjoaninas de Ílhavo, que vão decorrer nos dias 17, 23 e 24 de junho, pelas 22h00, na Gafanha da Nazaré, na Praia da Barra e na Praça da Casa da Cultura de Ílhavo, num momento de divulgação da criação artística nas vertentes da coreografia, música, poesia e demais requisitos envolvidos nesta atividade. 
O percurso de 50 anos de vida e de 25 anos de Pestinhas de Helena Semião é a prova provada de que, com trabalho, esforço e dedicação, os sonhos podem tornar-se realidade.

Fonte: Agenda “Viver em…” da CMI

NOTA: Congratulo-me com esta distinção atribuída a Helena Semião, ao ter sido incluída na rubrica "A Nossa Gente”, pelo trabalho de tantos anos em prol da dança com arte. Helena Semião, que conheço e cujo dinamismo aprecio, ao serviço das “Pestinhas, Grupo de Dança — Associação Cultural” da Gafanha da Nazaré, tem provado à saciedade que, com força de vontade e muito trabalho, é sempre possível enfrentar desafios e avançar com projetos em prol da comunidade, na certeza de que dos fracos não reza a história. 
Por esta forma felicito a Helena Semião e todos quantos usufruem da sua paixão pela dança, quer sejam crianças e jovens, quer mais idosos. O que importa realmente é promover a alegria, o otimismo e o gosto pelas artes, neste caso, pela dança.

Ler entrevista que me concedeu aqui 

F. M. 

A FROTA PORTUGUESA DO BACALHAU — UMA HISTÓRIA EM IMAGENS



Jean-Pierre Andrieux

A FROTA PORTUGUESA DO BACALHAU — UMA HISTÓRIA EM IMAGENS é um livro de Jean-Pierre Andrieux, com edição da Âncora Editora. Os patrocínios vieram da Câmara Municipal de Ílhavo e do Museu Marítimo de Ílhavo. 
Jean-Pierre Andrieux é um «Escritor de afetos e colecionador de imagens» que se deixou «arrebatar pela secular presença portuguesa nos grandes bancos, recolhendo fotografias, documentos e testemunhos de viva voz. A sua coleção de fotografias sobre a frota portuguesa e outras que competiram pela pescaria nos grandes bancos da Terra Nova é seguramente a mais extensa e completa que se conhece», garante no Prefácio Álvaro Garrido, Professor da Universidade de Coimbra e Consultor do Museu Marítimo de Ílhavo.  E adianta que o autor é «amigo pessoal de muitos capitães de navios portuguesas», visitando «regularmente Portugal para conviver com eles e para tirar partido da cultura portuguesa cuja gastronomia muito admira».
O livro é essencialmente uma mostra expressiva de fotografias de navios e homens do mar ligados à pesca do bacalhau nos grandes bancos, a preto e branco e legendadas a preceito. O texto, de apenas 22 páginas, está carregado de memórias elucidativas, oferecendo ao leitor uma panorâmica do que foi a Faina Maior e para além dela, com pormenores que deixam o pó do esquecimento para se tornarem vivos no dia a dia dos nossos contemporâneos e dos vindouros. 
Jean-Pierre Andrieux lembra que «Em grande parte do sul da Europa, o bacalhau passou a simbolizar a diferença entre a abundância ou escassez alimentar», mas também conhece e divulga legislação, armadores, navios da pesca à linha e arrastões, cujas características, a traços largos, nos mostram o essencial da frota portuguesa.
Debruçando-me sobre as imagens, constato que traduzem o quotidiano de oficiais e pescadores, cozinheiros e pessoal das máquinas, homens do leme, chegadas e partidas, icebergues, festas e religiosidade, momentos de lazer e de descanso, convívios à mesa e as homenagens aos que faleceram.
A FROTA PORTUGUESA DO BACALHAU — UMA HISTÓRIA EM IMAGENS é um livro que se apresenta em boa edição,  integrando a "Colecção Novos Mares", dirigida por Álvaro Garrido. Merece, sem dúvida, ser apreciado por toda a gente que transporta na alma o mar, as pescas e as nossas tradições pesqueiras. 

Fernando Martins

É PRECISO DENUNCIAR IDEOLOGIA QUE EXPULSA A ARTE DA ESCOLA


«É "perverso", "merece atenção e denúncia" a "ideologia que se está a querer pôr na escola privada e pública de que a verdadeira educação é ensinar as disciplinas duras", como ciência, tecnologia, inglês e matemática, considera Manuel Pinto, professor catedrático da Universidade do Minho.
Como resultado, "há políticas públicas que procuram escorraçar do centro do ato educativo as dimensões das expressões das artes, da música, da dança", entre outras, bem como "outras componentes da educação que não são necessariamente aulas, e que são campo de expressão dos jovens, em tempos mais livres e menos formatados".»
(...)
«"Mas mais grave do que isto é que os próprios pais estão já marcados por esta ideologia e estão a fazer pressão sobre professores para não darem espaço e não valorizarem esse tipo de coisas", declarou o investigador na 13.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, que este sábado debateu, em Fátima, o tema "'Out of the box': A relação dos jovens com a Cultura".»

Fonte: Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

segunda-feira, 5 de junho de 2017

PRISÃO DE LUÍS GOMES DE CARVALHO

1823 – 5 de junho


«Por motivos de ordem política, a Câmara Municipal cometeu a iniquidade de prender e mandar sob custódia para o Porto o Engenheiro Luís Gomes de Carvalho, a quem Aveiro ficou a dever os mais assinalados serviços. Presidia então à Câmara o barão de Vila Pouca, Rodrigo de Sousa Teixeira da Silva Alcoforado, do partido absolutista, o qual nesta cidade possuía um vínculo importante, herdado de sua avó D. Maria José de Carvalho e Nápoles (Marques Gomes, Aveiro – Berço da Liberdade, pgs. 26 e 33 e ss.; Revista de Obras Públicas e Minas, Tomo II, Abril de 1875) – A.»

In "Calendário Histórico de Aveiro"
de António Christo e João Gonçalves Gaspar


Nota: Luís Gomes de Carvalho, genro do Eng. Oudinot, foi um dos principais obreiros da abertura da Barra de Aveiro, no local em que ainda se encontra. Depois de outras tentativas, levadas a cabo por outros tantos engenheiros, foi Luís Gomes de Carvalho quem, no dia 3 de abril de 1808, abriu a porta ao progresso da nossa região. Contudo, as guerras políticas, ontem como hoje, foram capazes de humilhar um homem que tanto deu ao nosso país. 

CRÓNICA DA ILHA TERCEIRA I — JARDIM DUQUE DA TERCEIRA





Crónica de Júlio Cirino

A ilha Terceira, descoberta entre 1444 a 1449, é uma das mais belas regiões de Portugal. A riqueza da sua cultura e tradições é quase desconhecida no resto do país. Por essa razão, faço o convite para que me acompanhe na visita aos locais mais belos que por aqui podemos encontrar. Comecemos a nossa viagem pelo Jardim Duque da Terceira, um dos ex-líbris da cidade de Angra do Heroísmo.
Para além de muita paz, de pombas e alguns melros à espera de comida (quantas vezes dada pela mão inocente de uma criança), de flores multi-cores, de árvores de origem tropical, de pequenos lagos com pimpões e um coreto, existe um telheiro-biblioteca com um armário destinado à leitura de obras editadas em várias línguas que podem ser consultadas, gratuitamente, por quem estiver interessado. Uma curiosidade: os livros são oferecidos pelos leitores. Próximo de um local conhecido por “canto dos gatos”, existe um busto erigido em honra de Almeida Garrett, com a seguinte inscrição:


“Não tive a fortuna de nascer naquele torrão; 
mas a minha pátria; 
mas a de meus pais; 
mas o meu património;
mas tudo quanto constitui a pátria de um homem, 
é a minha saudosa Ilha Terceira, 
um dos mais nobres padrões da glória portuguesa.”

Almeida Garrett

NOTA: 

1. O meu amigo Júlio Cirino aceitou enviar crónicas para o meu blogue, um gesto de partilha que muito agradeço. Sei que todos ficaremos mais ricos pela oportunidade que teremos de apreciar belezas que descobre no seu dia a dia. 
2. Fotos da Wikipédia

domingo, 4 de junho de 2017

PAPA ALERTA PARA DIVISÕES E PEDE UNIDADE NA IGREJA



O Papa Francisco disse hoje no Vaticano que a Igreja deve rejeitar “coligações e partidos” no seu seio, apelando à unidade dos católicos, sem “posições excludentes”.
“Inflexíveis guardiães do passado ou vanguardistas do futuro, em vez de filhos humildes e agradecidos da Igreja: assim temos a diversidade sem a unidade”, assinalou, na homilia da Missa da Solenidade de Pentecostes, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, que ali acorreram desde as primeiras horas da 
O Papa Francisco alertou ainda para as “maledicências que semeiam cizânia” e “as invejas que envenenam”, defendendo que os homens e mulheres de Igreja devem ser “homens e mulheres 

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Foto da Ecclesia 

O Espírito sopra onde quer

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


1. O Vaticano II, que foi o Pentecostes do século XX, tentou renovar, descentrar a Igreja e levar os cristãos a serem agentes da transformação da sociedade, segundo critérios de desenvolvimento, de liberdade, de justiça e de paz, em colaboração com todos os seres humanos preocupados em tornar melhor este nosso mundo. Foi a conclusão de muitos movimentos que o precederam, catalisados pela leitura que João XXIII fez dos sinais dos tempos.
~Para as novas gerações isto pode parecer mais antigo do que o Antigo Testamento (AT). Se não tivermos em conta que a sensibilidade eclesial e social muda rapidamente, também não compreenderemos a urgência do Papa Francisco em reinterpretar o Vaticano II no mundo actual, muito diferente dos anos 60 do século passado.
Não podemos esquecer que o movimento cristão começou por se enxertar no mundo judaico, mas também na perspectiva de se enxertar em todos os povos e culturas. É verdade que, nas suas primeiras manifestações, este movimento pensava que o fim estava para breve. Não valia a pena influenciar os destinos das sociedades humanas. Cada pessoa que esperasse o fim, segundo a situação em que se encontrava, casada ou solteira. Era mais importante salvar-se deste mundo do que salvar este mundo.
S. Paulo, na primeira carta aos tessalonicenses, preocupava-se mais em organizar o fim próximo do que em programar o futuro. Foi sol de pouca dura. Ele próprio, na segunda carta, apercebeu-se que se tinha enganado e não tenta elaborar uma nova concepção. Opta por medidas pragmáticas: “Quando estava entre vós já vos tinha dado a seguinte ordem: quem não quiser trabalhar, também não coma. Ora, ouvi dizer que alguns de entre vós levam a vida à toa, muito atarefados a não fazer nada. A estas pessoas, ordeno e exorto, no Senhor Jesus Cristo, que trabalhem na tranquilidade, para ganhar o pão com o próprio esforço.” [1]
Quando os Actos dos Apóstolos (Act) são escritos, o autor apresenta Jesus Cristo bastante decepcionado: “Estando reunidos, os discípulos interrogaram-no: Senhor, é agora que ides restaurar a casa de Israel? Resposta: Não vos compete conhecer os tempos e os momentos que o Pai reservou em seu poder. Mas o Espírito Santo descerá sobre vós e dele recebereis força. Sereis, então minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra.” [2]
S. Lucas era um artista em compor cenários dinâmicos. Era como se Jesus tivesse dito: Eu acabei, mas a tarefa não. Pelo contrário, alargou o horizonte, mas seria uma energia nova, o Espírito Santo, que levaria os discípulos a realizá-la.

2. No Domingo passado, celebramos uma despedida que o não era. Ocultou-se dos seus olhos numa nuvem. Foi a Festa da Ascensão. Interpretada em termos espaciais, poderia sugerir o que um miúdo me perguntou: foi visitar os extraterrestres? Outros escritos do NT insistem em que Cristo, longe da nossa vista, continua connosco até ao fim dos tempos em toda a nossa vida, mas como um clandestino.
A habilidade de S. Lucas consiste em não querer discípulos pasmados a olhar para o céu, como se a sua missão não fosse a transformação da Terra. Representa, por isso, a diferença que existe entre a Igreja presa do medo e a Igreja sacudida, abalada pelo Espírito. “Quando chegou o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído semelhante ao soprar de impetuoso vendaval e encheu toda a casa onde se encontravam. Apareceram umas como línguas de fogo, que se distribuíam e foram posar sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os impelia.” [3]
Havia uma festa judaica para celebrar o dom da Lei com gente piedosa que vinha de todas as nações. Confusão geral. Como é que cada pessoa ouvia falar aqueles galileus, na sua própria língua? Estão com os copos. Aí, Pedro, em nome do grupo não aguentou. Ainda não é hora para bebedeiras. Está a cumprir-se a profecia de Joel: “Acontecerá, nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne. Os vossos filhos e as vossas filhas hão-de profetizar, os vossos jovens terão visões e os vossos velhos hão-de ter sonhos. Em verdade sobre os meus servos e as minhas servas derramarei o meu Espírito.” [4]

3. Se, como vimos, os primeiros cristãos pensavam que o mundo estava a chegar ao fim, os Actos dizem-nos que está tudo a começar. Esta obra deveria chamar-se o Livro das Aventuras do Espírito Santo. Faz tudo às avessas do previsto no judaísmo. O próprio S. Pedro levou tempo a compreender a liberdade de Deus. Quando teve de justificar, perante os circuncisos, o seu comportamento de acolhimento dos gentios, confessa: “Apenas eu começara a falar o Espírito Santo caiu sobre eles, como sobre nós ao princípio. Lembrei-me, então, desta palavra de Senhor: João, dizia ele, baptizou com água, mas vós sereis baptizados com o Espírito Santo. Se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós, que acreditamos no Senhor Jesus Cristo, quem sou eu para me opor a Deus?” [5]
Os sarilhos vão ser mais que muitos e vai ser preciso reunir um Concílio, o primeiro da Igreja cristã, para reconhecer que o Espírito de Deus não faz acepção de pessoas, nem de povos, nem de culturas. É o Espírito da liberdade, do amor universal.
Não é para aqui a leitura de dois mil anos de história das Igrejas cristãs no mundo. No entanto, algo ficou testemunhado nos textos do NT. O caminho do poder de dominação económica, política e religiosa foi o ambicionado pelos discípulos e sempre recusado pelo Mestre. Disse-lhes, expressamente: quem quiser ser o primeiro, ponha-se ao serviço de todos; aqui, reinar é servir. Isto significa que a Igreja não anda para trás quando se confronta com este espelho. O que o Espírito de Cristo lembra a todos os cristãos é simples: o nosso passado, o nosso presente e o nosso futuro só é garantido pela contínua criatividade
Quiseram fazer do Vaticano e das suas Cúrias o lugar do depósito da Fé. Esta não é um depósito, é o caminho do mundo, como Evangelho da Alegria. É sintomático que o Papa Francisco surja, simultaneamente, com um programa de reforma da Cúria e com um programa de Igreja de saída, para todas as periferias. Talvez seja o mesmo.
Perante as novas experiências e expressões do Evangelho, Bergoglio poderá dizer como Pedro: estava eu no meio desses pobres e abandonados e o Espírito Santo caiu sobre eles como um novo Pentecostes. Quem sou eu para dizer que Deus é só para os que têm assento nos lugares de poder da Igreja?

[1] Cf. 2 Ts 3, 10-12
[2] Cf Act 1, 6-8
[3] Act 2, 1-4
[4] Act 4, 16-19
[5] Act 10-11

NASCER TODAS AS MANHÃS


«Apesar da idade, não me acostumar à vida. Vivê-la até ao derradeiro suspiro de credo na boca. Sempre pela primeira vez, com a mesma apetência, o mesmo espanto, a mesma aflição. Não consentir que ela se banalize nos sentidos e no entendimento. Esquecer em cada poente o do dia anterior. Saborear os frutos do quotidiano sem ter o gosto deles na memória. Nascer todas as manhãs.» 

Miguel Torga, 
in "Diário (1982)"

Li aqui

sábado, 3 de junho de 2017

LUÍS MIGUEL CINTRA RECEBE PRÉMIO DA IGREJA CATÓLICA


Luís Miguel Cintra, conhecido ator e encenador, recebeu hoje, em Fátima, o Prémio "Árvore da Vida — Padre Manuel Antunes", atribuído pela Igreja Católica a quem se  destacou por um percurso ou obra assente no humanismo e na experiência cristã.
Na sua intervenção, sublinhou que lhe parece ser necessário «haver uma mudança se não quisermos que o mundo e com ele a nossa Igreja mais uma vez se recolham na oração e em tudo o que em si transporta, visto que a sociedade capitalista se tornou tão monstruosamente castradora de todas as liberdades, tão burocrática, que cada vez menos há lugar para repararmos uns nos outros». 
Luís Miguel Cintra declarou-se comovido pelo prémio que recebeu, mas não deixou de pedir licença «para não aceitar a sua componente monetária».«Lembrem-se de que foram homens como nós que escreveram Jesus e tudo o resto, querendo na palavra, inscrever uma Revelação. Para que os Homens reconhecessem o Filho de Deus e quisessem seguir o seu mandamento. E cada dia me espanta como o escreveram, que pensamento claro, exposto, sem máscaras, tinham aqueles escritores», disse.
E mais adiante apontou: «Que a Igreja me perdoe mas creio que a situação política mundial é tão grave, que seria tempo de deixarmos de perder tempo com questões evidentemente abusivas da responsabilidade de cada cristão, todas as questões sexuais, em leigos e eclesiásticos, as excomunhões, perdões e autorizações, carreiras religiosas, acumulação de riquezas, privilégios e castigos e voltarmo-nos para o mundo. Nem que seja apenas respeitando quem, sem referência cristã, tem o amor aos outros que a vida pede a todos, construindo finalmente a fraternidade que ainda se não construiu, a partir das relações pessoais a solidariedade entre os povos. Descobrindo pouco a pouco que seja, com a prática de vida que os Evangelhos nos pedem, onde se aloja o cancro que está a minar a obra de Deus.» 

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ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA — PESCA DO BACALHAU



NOTA: Registos recolhidos, com a devida vénia, em Etelvina Almeida e Valdemar Aveiro, no Facebook.