domingo, 23 de abril de 2017

Metamorfoses pascais do desejo (2)

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO 


«Ao fim desta Quaresma, da Semana Santa e da Oitava da Páscoa, há um sabor amargo: tirando o Papa, quem, no mundo católico, nas dioceses, nas paróquias, nos conventos, se levantou contra os sinais de guerra que marcam o mapa do mundo?
Repetiu-se: estar com o Papa é estar com a Igreja. Isto era quando os Papas não se comoviam com as dores dos mais feridos.»

1. O filósofo Bertrand Russel não foi muito original ao destacar que os dois grandes desejos humanos são o poder e a glória. Podem realizar-se pelos caminhos da ilimitada vontade de dominação económica, política e religiosa ou pelo desenvolvimento dos próprios talentos em função da vontade de criar condições para que tenham todos iguais oportunidades.
Em Portugal, a julgar pelas aparências, o grande desejo de poder e glória, de pais e filhos, é que ganhe o clube da sua paixão. Os mais devotos têm sempre os caminhos de Fátima à disposição. Se aparecer um Papa, é o segredo da glória, o desejo consumado.
Em meados do séc. VI a.C., nasceu um príncipe desencantado, Siddharta Gautama, mais conhecido por Buda, o iluminado, e viu-se confrontado com a pulsão avassaladora do desejo. No célebre discurso pronunciado em Benares, nas margens do rio Ganges, teria sentenciado que a terceira “nobre verdade”, para acabar com a dor omnipresente, era indispensável abolir o desejo e os seus laços. Vale a pena perguntar: será o desejo uma doença ou uma bênção?
O mundo do desejo, da fantasia, do afecto, é de tal forma essencial ao psiquismo humano que todas as outras faculdades é dele que recebem a sua energia. Nasce de uma falta estrutural no ser humano, não como uma maldição, mas como um infindo desassossego. Para Espinosa, a essência do ser humano é o desejo. Segundo Aristóteles, os desejos que não dependem da fisiologia, mas da razão, são ilimitados; os seres humanos desejam o infinito. S. Tomás de Aquino descobriu, nessa sede insaciável, o desejo natural de ver a Deus que não pode ser defraudado [1].
Não há notícias de que Buda tenha influenciado o Nazareno, embora este também tenha mudado de rumo depois de uma divina iluminação. Já foram descobertas afinidades entre certas passagens dos evangelhos e algumas propostas da sabedoria budista, mas não são da mesma extracção. Jesus não era pela abolição do desejo, mas pela sua intensificação e metamorfose, isto é, pela sua conversão. O seu desejo mais ardente era colocar-se ao serviço do desejo libertador de Deus, alegria do mundo. Era vontade humana e divina de alteração radical da nossa sociedade.
Os Evangelhos sinópticos mostram, no entanto, que ele teve de lutar contra tentações diabólicas infiltradas nos caminhos do advento e da configuração da era messiânica. Se era realmente o Messias, tinha de o provar. Mediante acontecimentos espectaculares, transformações económicas, políticas e religiosas radicais, teria o mundo a seus pés.
Jesus conhecia os desejos, os modelos, os grupos e os movimentos messiânicos que agitavam o povo a que pertencia e que, sem um poder absoluto, era impossível realizar os seus projectos. Percebeu também que, por esse caminho, tinha de renunciar à alma da sua alma: à experiência do Deus do puro amor e ao projecto de passar os marginalizados dos diversos poderes para o coração da sociedade [2].

2. As tentações supunham que conheciam bem a Deus, os apetites do coração humano e o projecto do Nazareno. Vencida a tentação, ficou o aviso: quando alguém invocar a Deus para O negar ou para O louvar, é indispensável perguntar: qual é a experiência pessoal, existencial, donde nasce essa negação, exaltação ou indiferença religiosa? Fora do contexto cultural, político e religioso que provoca essas atitudes, não podemos saber o que está a comandar o uso da palavra Deus.
Na teologia de S. Tomás de Aquino, muito marcado pela teologia negativa do Pseudo-Areopagita, Deus só pode ser conhecido como infinitamente Desconhecido. A tentação permanente das religiões é a criação de deuses à imagem dos nossos desejos distorcidos para legitimar sociedades enlouquecidas pelas lutas da dominação económica, política e religiosa.
Como vimos, Jesus disse radicalmente não às tentações messiânicas que o assaltaram, mas levou muito tempo a compreender a prontidão dos discípulos em abandonar tudo para o seguirem. O Evangelho segundo S. Marcos mostrou, com insistência, que Jesus os chamou para uma missão e o que eles desejavam era que o Nazareno tomasse mesmo o Poder e o resto era só conversa. Por isso, a discussão entre eles girava sempre em torno da futura distribuição dos cargos políticos. Um dia a tensão explodiu: os irmãos, Tiago e João, perderam o pudor e foram reclamar os dois primeiros lugares, o que indignou os outros dez.
Perante essa situação, Jesus resolveu pôr tudo em pratos limpos: sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam e os seus grandes as tiranizam. Entre vós não deverá ser assim: ao contrário, aquele dentre vós que desejar ser grande, seja o vosso servidor e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida pela libertação de todos [3].

3. O texto de S. Marcos deixou claro como devem ser as relações de poder na Igreja. Só dessa forma ela se pode tornar uma instância crítica dos poderes de dominação na sociedade.
O que o Papa Francisco está a fazer na Cúria romana, com tantas resistências, é puro Evangelho. Já em 1969, o Cardeal Suenes denunciava o sistema que aprisiona o Papa e o torna cúmplice e solidário daquilo que ele não quer, tenha ou não a sua assinatura. É preciso conseguir libertar o Papa do sistema do qual há queixas há vários séculos, sem resultado. Porque, como Suenes frisou, ainda que os Papas mudem, a Cúria permanece.
O poema do bispo Casaldáliga gritou: 

“Larga a cúria, Pedro,
desmantela o sinédrio e a muralha.
Ordena que se mudem
todas as filactérias impecáveis
em palavras vibrantes de vida.”

Ao fim desta Quaresma, da Semana Santa e da Oitava da Páscoa, há um sabor amargo: tirando o Papa, quem, no mundo católico, nas dioceses, nas paróquias, nos conventos, se levantou contra os sinais de guerra que marcam o mapa do mundo?
Repetiu-se: estar com o Papa é estar com a Igreja. Isto era quando os Papas não se comoviam com as dores dos mais feridos.

Frei Bento Domingues no PÚBLICO 

[1] José Antonio Marina, Las arquitecturas del deseo, Anagrama, Barcelona, 2007; Juan Guillermo Droguett, Desejo de Deus. Diálogo entre psicanálise e fé, Vozes, Petrópolis, 2000, pp. 13 e 139; Cipriano Franco Pacheco, O desejo natural da visão de Deus. Expressão de abertura humana ao transcendente, Romae, 2001; Teresa Messias, O desejo e a sua transformação no seguimento de Jesus. Uma leitura dos escritos de Sebastião Moore, Paulus, 2017.
[2] Cf. Lc 4, 1-13; Mt 4,1-11; Mc 1,12-13
[3] Mc 10, 35-45

sábado, 22 de abril de 2017

A coragem de Fernando Pessoa



Posso ter defeitos, viver ansioso
e ficar irritado algumas vezes
mas não esqueço de que minha vida
é a maior empresa do mundo,
e posso evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
apesar de todos os desafios, incompreensões
e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas
e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si,
mas ser capaz de encontrar um oásis
no recôndito da sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã
pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo
dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “não”.
É ter segurança para receber
uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo…

sexta-feira, 21 de abril de 2017

JESUS ESTÁ VIVO NO MEIO DE NÓS

Reflexão semanal de Georgino Rocha


Jesus ressuscitado realiza várias iniciativas para desvendar aos discípulos, e por eles, a toda a humanidade, a novidade do seu ser e do seu agir. Encontros pessoais e comunitários, marchas e refeições, diálogos e provações. Presenças surpreendentes, ausências súbitas e apresentação das cicatrizes da paixão. Hoje, o relato do Evangelho oferece-nos uma “amostra” de algumas destas iniciativas que realçam a sua divina misericórdia. (Jo 20, 19-31).
A desolação dos discípulos contrasta fortemente com a coragem de Jesus ressuscitado. Eles, amedrontados, estão refugiados em casa trancada, a temerem o que lhes podia acontecer na sequência da condenação do seu Mestre. Este, destemido, apresenta-se no meio deles, sereno e ousado, e saúda-os amigavelmente, desejando-lhes a paz. O contraste não pode ser mais radical e provocador. A atitude de Jesus surpreende-os completamente e deixa-os expectantes. Eles ainda não o haviam reconhecido. Que carga de medo inibidor! Que urgência da “purificação” do coração e da mente para iniciar o caminho da fé no ressuscitado! Que importância atribuída à jovem comunidade reunida em assembleia neste “arranque” decisivo!

IGREJA AVEIRENSE - Para formar e informar


Recebi a revista “Igreja Aveirense” e já li muito do que ali vem publicado. A revista é trabalho da Comissão Diocesana da Cultura e completou o Ano XII da sua edição, sob a direção de Georgino Rocha, um padre do presbitério da Diocese de Aveiro, com larga experiência no âmbito da cultura, da pastoral e da docência, para além de outras tarefas do foro sacerdotal, e não só.
Com uma tiragem de apenas 325 exemplares, a revista não chega à grande maioria dos católicos da Diocese de Aveiro, apesar do muito que diz, formando e informando, sobre os trabalhos e preocupações de âmbito diocesano, nomeadamente dos serviços, clero, arciprestados e paróquias, instituições, santuários, movimentos e obras de apostolado, mas ainda da vida consagrada, publicações, efemérides, e pessoa notável. Neste capítulo, é evocada, com sentido de oportunidade, a nossa D. Maria da Luz Rocha, falecida recentemente.
A revista, de publicação semestral, abre sempre, como desde a primeira hora, com mensagens, notas pastorais, homilias, entre outros escritos ou intervenções do bispo diocesano, D. António Moiteiro, dando assim oportunidade a que os leitores fiquem a par do que diz e faz o prelado aveirense na sua passagem pelos diversos arciprestados e paróquias.
Georgino Rocha sublinha na Apresentação que «A Porta Santa que se abre e fecha no Ano Jubilar da Misericórdia constitui um símbolo qualificado da missão da Igreja: fazer viver a comunhão com Deus e reforçar a missão que lhe está confiada de ser testemunho do amor compassivo de Jesus Cristo. Apesar da sua fragilidade, a Igreja, animada pelo Espírito Santo, mobiliza as suas energias para ser fiel». E disso dá conta a “Igreja Aveirense”, na esperança de perpetuar, no tempo possível, na vida dos crentes, marcas indeléveis do Ano Jubilar da Misericórdia. Nesse sentido, o diretor da revista frisa: “É a hora de dar espaço à imaginação a propósito da misericórdia para dar vida a muitas obras novas, fruto da graça. A Igreja precisa de narrar hoje aqueles ‘muitos outros sinais’ que Jesus realizou e que «não estão escritos», de modo que sejam expressão eloquente da fecundidade do amor de Cristo e da comunidade que vive d’Ele, exorta o Papa Francisco.”
Bom seria que todos os católicos, clérigos e leigos, com responsabilidade pastorais ou outras, tivessem acesso à revista “Igreja Aveirense”, fonte de comunhão e de partilha de saberes, experiências e vivências.

Fernando Martins

A revolução de Francisco: irreversível?

Crónica de Anselmo Borges no Diário de Notícias


1 A propósito do meu livro sobre o Papa Francisco: Francisco: Desafios à Igreja e ao Mundo, que acaba de ser publicado, e a partir de debates provocados por ele, muitos me têm feito a pergunta em epígrafe: será a revolução de Francisco irreversível?

2 Antes de mais, em que consiste esta revolução? Diria que ela tem várias vertentes, distinguindo concretamente duas: uma mais imediatamente para dentro da Igreja e outra para fora, embora seja perfeitamente pertinente perguntar se ainda faz sentido este "dentro" e o "fora".

3 A revolução da Igreja dentro dela própria é, acima e antes de tudo, a conversão, isto é, tentar fazer que os católicos, a começar pelos cardeais, bispos, padres, se convertam ao Evangelho de Jesus. De facto, o fascínio deste Papa vem daí: do facto de ele se comportar como Jesus enquanto revelação do Deus que é Pai e Mãe e cujo nome é Misericórdia. Ele vive uma vida simples, humilde, abraça e beija as pessoas, manifesta-lhes afecto e ternura, a começar pelos mais pobres, frágeis, abandonados, humilhados e ofendidos... Por palavras e obras.
Sendo a Igreja uma imensa instituição, evidentemente que tem de haver uma revolução nas estruturas. Aí está a reforma da Cúria, tolerância zero para a pedofilia, transparência no Banco do Vaticano, onde são intoleráveis a presença de máfias, corrupção, desvios.
No plano do governo, impõe-se o respeito pelos direitos humanos também no seio da Igreja, concretamente, respeito pela liberdade de pensamento e expressão; Francisco não condenou teólogos. Não se pode continuar num centralismo romano, com o objectivo da romanização da Igreja. Francisco tem posto em marcha a sinodalidade, isto é, um processo que conduza a Igreja à participação de todos, incluindo leigos e leigas, em todos os níveis da vida eclesial: nas paróquias, nas dioceses, na Igreja universal. Se a Igreja "somos todos", como repete Francisco, o poder tem de ser participado por todos, sem esquecer os diferentes carismas. Por outro lado, se a Igreja é uma instituição global, não pode propugnar a uniformidade, tem de haver inculturação, isto é, há a necessidade de atender às várias culturas no modo de viver o Evangelho, nos diferentes planos: teológico, moral, pastoral, celebrativo-litúrgico, organizacional. Uma Igreja em rede, a cuja unidade na caridade preside o Papa.
Atenção especial vai merecer a necessidade de as comunidades poderem celebrar a Eucaristia. Aqui, é inevitável o fim da lei do celibato obrigatório, começando pela ordenação de homens casados. Esse processo está aliás a caminho. Numa entrevista recente a Die Zeit, Francisco declarou que a falta de vocações é "um problema enorme e como tal a Igreja tem de resolvê-lo". Mais recentemente, o cardeal Walter Kasper disse que é preciso agir: "A discussão é urgentíssima. O Papa pensa que esta discussão vale a pena; vê-a com bons olhos. Os episcopados podem aproximar-se do Papa e fazer-lhe a correspondente petição. O Papa responderá positivamente. Agora depende das conferências episcopais." E não pode haver discriminação para as mulheres; como disse o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, nada impede que o seu sucessor seja uma mulher.
Exigência maior é a continuação do impulso para o diálogo ecuménico entre as Igrejas cristãs e o diálogo inter-religioso. Mais um exemplo de Francisco: apesar dos ataques bárbaros e infames contra os cristãos coptas no Egipto, no Domingo de Ramos, ele segue para o Cairo nos dias 28 e 29 deste mês, acompanhado por Bartolomeu I, patriarca ortodoxo de Constantinopla, numa visita assente no "espírito de tolerância e diálogo", activando esse diálogo no encontro com o Papa dos coptas e com o grande imã da universidade islâmica do Cairo Al-Azhar. Francisco sabe que o número dos cristãos e dos muçulmanos juntos é superior a mais de metade da humanidade.

4 Muito recentemente, uma das pessoas em quem Francisco mais confia, o jesuíta Antonio Spadaro, lembrava que "o Papa Francisco é um grande líder, talvez o líder moral do mundo". É, de facto, um líder político-moral planetário - está em curso o estudo da possibilidade de uma visita a Moscovo e sobretudo a Pequim -, que tem uma palavra essencial a dizer em problemas decisivos de humanidade e para a humanidade: questões da paz (e aí estão as suas intervenções positivas na relação entre Israel e a Palestina, Cuba e os Estados Unidos, Colômbia, Venezuela; irá em breve ao Sudão do Sul, juntamente com o arcebispo anglicano de Cantuária...), questões de justiça social num mundo globalizado (o centro da economia tem de ser a pessoa humana e não o deus Dinheiro), questões de ecologia (a Laudato Sí fará história), questões de bioética também no que se refere a problemas novos colocados pela ciência e a tecnologia, por exemplo, pelas NBIC (nanotecnologias, biotecnologias, inteligência artificial, ciências cognitivas e do cérebro em geral)...

5 A. Spadaro também lembrava que "há oposições que se tornam raivosas, dão-se conta de que Francisco está a falar a sério". Francisco também confessou ao padre Adolfo Nicolás, superior dos jesuítas até há pouco tempo: "Criticam-me porque não falo suficientemente como Pontífice e porque não actuo como um rei". Daí, a pergunta: que marca deixará o seu pontificado?
Penso que é praticamente impossível voltar atrás em relação concretamente ao estilo que imprimiu: a simplicidade, uma Igreja "em saída", participativa, sinodal, mais pastoral, centrada no Evangelho e não no Direito Canónico. Reverter o processo seria desastroso para a Igreja e para o mundo. De qualquer modo, Francisco também confessou a Adolfo Nicolás: "Peço ao Bom Deus que me leve quando as mudanças forem irreversíveis."

Anselmo Borges, 

quinta-feira, 20 de abril de 2017

JUVENTUDE: Um estado de alma



«A juventude não é um período da vida, mas um estado de alma, um efeito da vontade, uma qualidade da imaginação, uma intensidade emotiva, uma vitória da coragem sobre o amor da comodidade.
Ninguém se torna velho por ter vivido um certo número de anos, mas porque se abandonou o próprio ideal. Os anos traçam sulcos no corpo e enrugam a pele, a renúncia ao ideal marca-os na alma.»
Em muitos casos está, relegado para um qualquer canto, o álbum ou a caixa de fotografias. Percorrer as mais amareladas pelo tempo cria uma sensação de melancolia: os rostos perfeitos, frescos, sorridentes do passado deram lugar à impiedosa verdade do espelho em que esses mesmos rostos se refletem hoje.»

Card. Gianfranco Ravasi
Presidente do Conselho Pontifício da Cultura

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Pastorinhos vão ser canonizados em Fátima no dia 13 de maio


«O Papa Francisco anunciou hoje no Vaticano que vai presidir à canonização de Francisco e Jacinta Marto em Fátima, no dia 13 de maio, anunciou o Santuário português, em comunicado enviado à Agência ECCLESIA.
Os dois pastorinhos de Fátima tornam-se assim nos mais jovens santos não-mártires da história da Igreja Católica.
A decisão sobre o local e data da canonização foi tomada hoje num Consistório Público, reunião formal de cardeais, realizada no Palácio Apostólico do Vaticano.»

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Gafanha da Nazaré — Cidade há 16 anos

Fernando Caçoilo, Carlos Rocha e Fernandes Thomaz



Edifício em obras de conclusão

Com as redes de águas pluviais e residuais na Chave, em fase de arranque, numa parceria entre a CMI e a AdRA (Águas da Região de Aveiro. SA), que importam em 660 mil euros, mais IVA, a Gafanha da Nazaré vai ser a primeira freguesia do concelho de Ílhavo com saneamento a 100 por cento, afiançou Fernando Caçoilo, presidente da Câmara, nas celebrações do 16.º aniversário da elevação a cidade da nossa terra. Esta realidade foi corroborada por Manuel Fernandes Thomaz, presidente do conselho de administração da AdRA, presente na sessão, que teve lugar no Casa da Música, presentemente em obras de conclusão. 
Fernandes Thomaz adiantou que esta obra coloca a Gafanha da Nazaré numa posição bastante invejável, mesmo «em termos nacionais». Entretanto, valorizou a importância do saneamento, como «essencial para a qualidade de vida das populações».
O presidente da AdRA garantiu que as pessoas e as famílias «anseiam pela rede», mas depois das obras concluídas «resistem a fazer as ligações», sendo certo que «a ligação à rede de água e saneamento não tem custos». E disse que estas ligações «são um ato de civilidade, de saúde pública», pois as fossas séticas, ao drenarem para espaços adjacentes, «passam a poluir os terrenos que são dos vizinhos».
Reconheceu que as obras relacionadas com as redes «têm grandes impactos na vida das pessoas, com estradas esburacadas, trânsitos desviados e comércios afetados», sendo um mal, «mas no fundo será um bem no futuro». Daí que sejam fundamentais os esclarecimentos às populações por parte da Junta de Freguesia e dos empreiteiros, já habituados a estes incómodos. 
Sobre a Casa da Música, destinada ao Grupo Etnográfico, Filarmónica Gafanhense e Escola de Música, Fernando Caçoilo afirmou que «as salas estão, em termos acústicos, bem trabalhadas». Este é um investimento da ordem dos 650 mil euros, a cargo da autarquia, «sem qualquer tipo de apoios». E prometeu que em finais de maio será o tempo da inauguração.
O presidente da Câmara falou da impossibilidade de alargar a atual Av. José Estêvão, «que já foi noutros tempos uma grande avenida», frisando que a via será beneficiada muito em breve. E ao referir-se à Praia da Barra, parte integrante da Gafanha da Nazaré, salientou que vai ser aberto concurso no próximo mês, para uma nova rotunda no acesso às praias. As obras decorrerão entre o verão de 2017 e o verão de 2018. 

Fernando Martins

quarta-feira, 19 de abril de 2017

“ÍLHAVO, Terra Milenar” - Monografia do Município







Paulo Costa com Fernando Caçoilo

Saul Gomes com Fernando Caçoilo

A história de um povo 
nunca está totalmente escrita 

«O peso deste livro é sinónimo claro do peso do nosso município, da grandeza do nosso município», afirmou Fernando Caçoilo, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, no lançamento da obra “ÍLHAVO, Terra Milenar”, na segunda-feira de Páscoa, 17 de abril, feriado municipal. A sessão decorreu na Casa da Cultura, antecedendo o concerto pela Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana.
O autarca ilhavense sublinhou que «este livro é marca que fica para além das “modernices” da era digital». Agradeceu a quantos nele colaboraram, «com um abraço do tamanho do nosso farol», e referiu que este «é um excelente projeto que ficará para a história». «Não há dinheiro que o pague!», disse.

Paulo Costa, vereador do pelouro da Cultura da CMI e Diretor Executivo do projeto que culminou com a edição da obra de 600 páginas, afirmou que “ÍLHAVO, Terra Milenar” se assumiu como «uma motivação, um espaço de encontro e discussão para todos aqueles que tivessem gosto pela história de Ílhavo». E adiantou que a obra nasceu com «uma investigação profunda, sistemática, consistente, alargada, abrangente, não condicionada por ideias preconcebidas» sobre as origens de ílhavo e sobre o seu desenvolvimento ao longo dos séculos.
Este trabalho «foi construído por várias mãos, com o objetivo de ir mais atrás dos quase  mil anos da história documentada de Ílhavo», tendo sido realizado durante três anos, com a envolvência do CDI (Centro de Documentação de Ílhavo) e do CieMar (Centro de Investigação e Empreendedorismo do Mar), a quem agradeceu o bom contributo de todos os que nele se envolveram. Paulo Costa frisou que esta obra «é um marco da nossa história recente», garantindo que ficámos a saber mais de «onde viemos e da razão do que somos hoje». Ainda considerou que haverá agora bons motivos «para nos juntarmos, para discutirmos e para nos conhecermos, para continuarmos a procurar e a investigar, na certeza de que a história de um povo nunca está totalmente escrita».

Saul Gomes, Coordenador Científico do livro “ÍLHAVO, Terra Milenar”, afirmou que a obra se apresenta com o objetivo de nos levar a «compreender melhor a nossa identidade, o nosso passado e a nossa história», mas ainda a conhecer «o contributo de Ílhavo para a história de Portugal». Trata-se de uma monografia «muito plural do ponto de vista dos registos, das escritas, das sensibilidades dos que foram convidados a colaborar nesta composição».
Saul Gomes garantiu que «Ílhavo cresceu quando se fez ao mar». «Não podemos projetar o presente de Ílhavo no passado; é uma das coisas que esta monografia nos ensina», disse. E questionou-se: «Como é que há mil anos atrás um pequeno núcleo de lavradores, gente da terra, onde se encontravam alguns migrantes da península ibérica e de outras paragens, se fez ao mar e foi acrescentando território no contexto da construção do reino e depois do império português?» 
O Coordenador Científico frisou também que, no século XIX, muito do futuro deste município esteve «na transferência de territórios para Ílhavo; esse território foi-lhe acrescentado em função do mérito e do desenvolvimento que os ílhavos dessa época conseguiram».

“ÍLHAVO, Terra Milenar” apresenta-se em edição cuidada, capa dura, papel couché, formato A4, profusamente ilustrada, com cronologia, bibliografia e fontes arquivísticas. Os seus quatro capítulos contemplam o espaço e as gentes, a história, o património e elementos para a história de Ílhavo. A abertura tem registos de Fernando Caçoilo, presidente da CMI, Paulo Costa, vereador do Pelouro da Cultura, e Saul Gomes, coordenador científico do projeto.

Fernando Martins

terça-feira, 18 de abril de 2017

Ílhavo celebrou o seu feriado municipal

Presidente da CMI
Jovem executante protagonizou um bom momento musical

Presidente da Câmara com os homenageados 
Vereadores da CMI
Segunda-feira de Páscoa é dia de feriado municipal, com distinções atribuídas a personalidade e instituições relevantes no contexto concelhio. Será, porventura, o momento mais expressivo, porque qualquer sociedade precisa de exemplos a seguir no dia a dia. Mas também é importante que os autarcas e partidos com assento na Assembleia Municipal sublinhem o que de bom foi feito durante o ano, abrindo ainda portas a novos horizontes para um concelho em crescimento.
A abrir a sessão, um jovem executante protagonizou um bom momento musical.
Ana Maria Lopes e Valdemar Aveiro receberam medalhas de Mérito Cultural em Prata e a Vasco Lagarto foi atribuída a Medalha do Concelho em Vermeil.
Os Centros Sociais Paroquiais de Nossa Senhora da Nazaré e da Gafanha da Encarnação receberam Medalhas do Concelho em Vermeil. Para o Grupo de Teatro Ribalta foi a Medalha de Mérito Cultural em Prata, pelos 25 anos de atividade, e para ao Novo Estrela da Gafanha da Encarnação (NEGE) foi a Medalha de Vermeil, pelos 40 anos de atividade. O funcionário municipal aposentado Álvaro Jorge Rocha recebeu a Medalha de Dedicação em Prata, enquanto as funcionárias aposentadas Maria de Lurdes Santos Cardoso e Maria Luísa Pinheiro foram contempladas com a Medalha de Dedicação em Vermeil.
Durante  a cerimónia, que contou com bastante participação dos munícipes, pudemos apreciar o mural frontal de autoria do artista ilhavense António Neves. Com motivos alusivos ao município, de âmbito marítimo, turístico, cultural e empresarial, assentes num azul marchetado, o painel enriquece sobremaneira o salão nobre dos Paços do Concelho. 

"Das visões dos pastorinhos à visão cristã"



«Tema "delicado e melindroso" lhe chamou diversas vezes o primeiro estudioso dos factos ocorridos em Fátima, o Cónego Formigão. As visões da Cova da Iria são assunto secundário e periférico na dimensão da fé cristã e simultaneamente importante na intensificação e dinamismo da vida espiritual de tantos católicos. Escrever sobre tal matéria corre riscos de gerar irritação em olhares fundamentalistas ou insatisfação em críticos radicais. Isso não me amedronta.»

São estas palavras que abrem a introdução do livro "Fátima - Das visões dos pastorinhos à visão cristã", de Carlos A. Moreira Azevedo, recentemente publicado pela editora A Esfera dos Livros, obra que apresenta «uma releitura crítica sobre o fenómeno das visões ocorridas na Cova da Iria há 100 anos, partindo da situação sociocultural de Portugal e da Europa e da realidade familiar e psicológica das personalidades envolvidas», assinala a sinopse.

Nota: Para uma leitura oportuna e decerto muito interessante. Li aqui 

domingo, 16 de abril de 2017

Páscoa de 2017... E a tradição cumpriu-se


A Lita beija a Cruz

O grupo que nos visitou

A mesa de acolhimento

Dona Conceição, nossa vizinha, não faltou, mesmo sem a sua viola... E a vida continua


Páscoa de 2017. Páscoa da Ressurreição de Jesus Cristo. Páscoa de vida nova para a civilização do amor. Páscoa de renascimento para um homem renovado. Páscoa da alegria alicerçada na Boa Nova. Páscoa para a libertação do homem escravizado por valores sem sentido. Páscoa para glória de Deus!
Como manda a tradição, o anúncio da alegria da ressurreição de Jesus Cristo chegou à nossa casa às 9h30. Uma saudação fraterna, um cântico, uma oração, votos de feliz e santa Páscoa. E a marcha continua…
Apenas eu e a Lita pudemos estar presentes. Os filhos e netos, com as suas vidas, estiveram apenas nos nossos corações. Sempre presentes, afinal.

Votos de santa Páscoa para todos os nossos amigos.

Lita e Fernando

Metamorfoses pascais do desejo (1)


«Um Deus que não é a alegria da vida não é Deus. É um ídolo criado para justificar a dominação económica, política e religiosa.»


1. Os textos do Novo Testamento (NT) não foram encomendados ou ditados, corrigidos por Jesus Cristo. Surgiram em comunidades cristãs, depois da sua morte, para mostrar que o processo que O vitimou não podia ser arquivado. A coligação das autoridades romanas e judaicas, ao contrário das aparências, sob a capa de um julgamento, de facto, tinha decretado o assassinato de um inocente em nome de Deus e do Império [1].
Os autores do NT, ao reabrirem o processo, não pretendiam rever uma questão jurídica do passado, mas testemunhar que estavam completamente enganados os que julgavam que o Nazareno e as suas propostas tinham uma pedra em cima, para sempre. Estava em curso, até ao fim dos tempos, a passagem agitada para uma nova era.
Era difícil o caminho da realização da esperança. Mesmo depois da ressurreição, até os discípulos mais chegados, continuavam a alimentar concepções messiânicas que Jesus tinha expressamente rejeitado durante a sua vida terrestre. O autor dos Actos dos Apóstolos começa a sua obra narrando esse distorcido desejo pré-pascal: “Estando reunidos, perguntaram-lhe: ‘Senhor, é agora que vais restaurar a realeza em Israel?’”[2] 
Jesus não lhes reconheceu competência sobre essa questão. Precisavam de outra lucidez e de outra energia para enfrentar os novos tempos: “Recebereis uma força quando o Espírito Santo tiver chegado sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e Samaria, até ao fim da terra.” [3] Os Actos dos Apóstolos desenharam um cenário espantoso desse acontecimento: “De repente, veio do céu um ruído semelhante a um vendaval, ficaram cheios do Espírito Santo, soltou-se-lhes a palavra e cada um os ouvia na sua língua materna.”

ALELUIA DE HANDEL

sábado, 15 de abril de 2017

FELIZES OS PACÍFICOS


felizes

felizes os pacíficos, que suspendem a violência
e reparam as redes de logradas fainas
(ai a guerra, mãe da pobreza e irmã da morte)

felizes os que aos olhos do mundo
passam por inútil carga social ou rendimento zero
e que escondidamente participam da alegria
que aligeira a vida
(ai aqueles que a sede de poder afoga)

felizes os pobres de alguma pobreza boa
felizes os que lavam as feridas e vivem com os cegos
honrando neles o fundo de humanidade
que lhes é comum

felizes os que nas situações-limite
decidem da singularidade do fazer, da urgência
felizes os que, excluídos, despojados de qualquer imagem
no documento mortal pregado na cruz
inscrevem os seus corpos

felizes os que, intacta, guardam a sensibilidade
à injustiça, apegados só à força da Palavra que cura

felizes os que não pactuam com os anjos
escuros da morte total
nem desculpam os «erros humanos»
das nossas sociedades sem olhos
(ai os que no inferno climatizado sobrevivem
ai o terror mole do dia a dia sobre os ombros)

felizes os que, à imagem de Deus, perdoam
alargando o coração às dimensões de um mundo abençoado


José Augusto Mourão
In "O nome e a forma", ed. Pedra Angular

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