domingo, 20 de abril de 2014

TERRA NOVA COMEMORA 25 ANOS DE EMISSÕES OFICIAIS



É urgente recuperar a nossa capacidade de sonhar



A que é hoje a Rádio Terra Nova (RTN) começou como “rádio pirata” em 12 de julho de 1986, num período de condescendência legal. Este período durou até 31 de dezembro de 1988. A 26 de março de 1989, domingo de Páscoa, reiniciaram-se as emissões… agora com o estatuto de órgão de comunicação social, lembrou Vasco Lagarto, fundador e diretor, desde o primeiro passo, da rádio que emite em 105 FM. Já lá vão, como estação oficial, sem interrupção, 25 anos. 

Olhando para a história, o nosso interlocutor sublinha que valeu a pena, acrescentando: «embora a rádio seja uma “coisa” de todos os dias, fez-se muito de que nos podemos orgulhar; uso aqui o plural porque existem muitas pessoas que ao longo dos anos contribuíram para que a Terra Nova conseguisse a notoriedade que tem hoje.»
Admite que não está propriamente «arrependido do que fez», pois julga que o trabalho desenvolvido ao longo destes anos «permitiu valorizar a nossa região, a nossa comunidade; contudo se pudesse voltar atrás, faria algumas coisas de forma muito diferente, sem dúvida…».

Vasco Lagarto, fundador e diretor da Terra Nova

Sobre o impacto da RTN na comunidade, o diretor Vasco Lagarto questiona-se sobre se a nossa rádio «toca» a alguém, mas logo sublinha que algumas boas reações, vindas de perto e de longe, o fazem mudar de ideias. «É o e-mail que se recebe de longe, é o comentário no “Facebook”, é a reportagem sobre a nossa vida e sobre as nossas pessoas, é o entusiasmo dos miúdos quando visitam a rádio…»
Defende e esclarece, porém, que «é preciso assumir-se que uma estrutura destas não vive só de sentimentos e sensações! Precisa de pessoas que, através do seu trabalho, nos transmitam ou permitam viver essas mesmas sensações…e para isso são precisos recursos financeiros! Se a comunidade à nossa volta está consciente disso... Penso que muitos não estarão… Quando digo que a Terra Nova custa, no mínimo, 250€ por dia, muitos ficam surpreendidos».
E como alerta à nossa consciência de ouvintes da RTN e cidadãos, que nos dizemos comprometidos na sociedade, frisa: «Como tudo na vida, muitas vezes valorizamos as coisas e as pessoas quando as deixamos de ter junto de nós!…Pode ser que o mesmo aconteça com a Terra Nova, ou seja, que se note o vazio quando desaparecer ou deixar de ser o que é hoje.» 

Luís Loureiro e Maria do Céu,
no programa "Pauta Desportiva",
agosto de 1986

Luís Miguel Loureiro, jornalista da RTP e docente universitário, que iniciou a sua paixão pela comunicação social na RTN, evocou o nascimento das rádios locais como resposta «a uma necessidade de levar mais longe a democratização do acesso dos cidadãos ao espaço público». Fazendo um pouco de história, disse que nessa época havia energia no seio das comunidades, qual «grito de liberdade» do poder local democrático, bem expresso nas instituições que se foram impondo e empenhando na valorização das sociedades. Referiu que «foi neste caldo que a rádio se formou», desempenhando, certamente, «um papel nessa época que é hoje irrepetível». Luís Loureiro adianta que foi «nesse ADN de forte ligação local a uma noção de comunidade que, apesar das distâncias físicas, se continua a definir pela sua identidade gafanhoa» muito grande, «onde quer que esteja», tendo aí a rádio um papel significativo. E esse papel, «por muita que tenha sido a evolução, ainda não tem substituto a altura».
O nosso entrevistado admite que o papel desempenhado pela Terra Nova «foi certamente fulcral na formação cívica de muitos jovens de então», sendo que «as horas e horas, os dias, os anos de dedicação quase totalmente graciosa ao projeto muito livre e sempre evolutivo da Rádio Terra Nova, resultaram num conjunto de pessoas que hoje desempenham um importante papel artístico e cultural, social, económico e político, um papel de cidadãos verdadeiramente comprometidos. Isso foi conseguido, não só mas também, pela Rádio».
Considerando-se crítico «da forma de governação caciquista e castradora da imaginação libertadora que marcou os anos noventa, em termos políticos e sociais», Luís Loureiro denuncia «o novo-riquismo bacoco em que nos entretivemos depois da adesão à UE», o que levou ao adormecimento das nossas comunidades. E afiançou: «A evolução global, de mercado, para sociedades altamente individualizadas viradas para o consumo e para a posse material, acabou com a possibilidade de nos reunirmos de volta e repensarmos o nosso papel como agentes de mudança e evolução social.»
Como desafios a levar à prática, o nosso interlocutor «gostaria que pensássemos em projetos de intervenção cultural que voltassem a provocar o encontro face a face», mas ainda «que nos instigassem a trabalharmos intergeracionalmente», os mais experientes com os menos experientes», devolvendo «às comunidades os desafios que as fizessem querer-fazer».
Luís Loureiro defendeu que é urgente recuperar «a capacidade de sonho, sob pena de, daqui a umas décadas, já nada restar do que fomos e, certamente, já nada de nós restar sequer como promessa de futuro em comum».

Fernando Martins

Nota: As entrevistas que serviram de base a este texto foram feitas por e-mail.



A RESSURREIÇÃO DA IGREJA

Por Frei Bento Domingues, 
no PÚBLICO de hoje



1. Não pretendo trazer para aqui a lista das significações que a palavra ressurreição tem na história religiosa e, particularmente, nas teologias cristãs. A ideia de insurreição contra os opressores, serviu a S. Paulo para destacar a vitória de Cristo sobre o pior e mais resistente dos inimigos, a morte, no tom de quem ganhou o desafio supremo e se ri da do fatal adversário: “morte, onde está a tua vitória, onde está o teu império? (1Cor 15).

Opto, este ano, por nomear uma questão recorrente e pouco atendida: a ressurreição da Igreja. Do ponto de vista histórico, foi a experiência de algumas mulheres que revelou aos discípulos, contra todas as evidências, que a morte não tinha sido a última palavra sobre a tragédia humana da Cruz. Por outro, as narrativas do Novo Testamento são, em parte, o fruto de um exame de consciência sobre a cegueira que impediu os Apóstolos de entender o sentido do percurso terrestre de Jesus de Nazaré.

AUSENTES DA VIDA NUNCA SERÁ SOLUÇÃO



A esperança de vida tem aumentado significativamente nos últimos anos. Um bem inestimável que temos o privilégio de usufruir, pese embora algumas “enxaquecas” próprias da idade. Para muitos reformados ou aposentados, chegou a hora de se dedicarem à concretização de projetos anos e anos adiados por força das exigências profissionais e familiares. E se para muitos é altura de nada fazer, porque já trabalharam o que tinham de trabalhar, para outros vem o prazer de fazer coisas diferentes, que mantém o corpo ativo e a mente em maré de rejuvenescimento. Parar é morrer, diz a sabedoria do velho provérbio, pelo que importa valorizar a ação, assente na procura de novos conhecimentos, que alimentam novos desafios e concretizam sonhos nunca alcançados. 
Aconselho os menos jovens a procurarem ocupações saudáveis, dando largas às suas próprias capacidades. Mas é óbvio que há diversos  caminhos ajustados às preferências de cada idoso: Ler, escrever, caminhar, andar de bicicleta, envolver-se no voluntariado, visitar doentes ou amigos que vivem na solidão, pintar, fotografar, conviver, partilhar experiências, saberes e sabores, enfim, fazendo tudo o que for possível para se sentirem úteis à sociedade e a si próprio. Ficarem parados, ausentes do mundo e da vida, nunca será solução.

F.M.


sábado, 19 de abril de 2014

PERSEGUIR OS SONHOS

"Não é verdade que as pessoas param de perseguir os sonhos 
porque estão a ficar velhas, elas estão a ficar velhas 
porque pararam de perseguir os sonhos"

Gabriel García Márquez 
(1927-2014), 
escritor colombiano

NOTA: Muita razão tem Gabriel García Márquez, o escritor recentemente falecido. Importa perseguir com força os sonhos, por mais utópicos que eles sejam ou pareçam. 

A JORNADA DE SÁBADO

Crónica de Anselmo Borges 



O pior do nosso tempo é a entrega desvairada ao consumismo, ao ruído e à satisfação imediata e saltitante de prazeres velozes e, conse-quentemente, à vozearia da insensatez que não pensa. Fica então o esquecimento do enigma da vida e da busca de respostas para as imensas e prementes perguntas que erguem o ser humano à sua estatura de homem: porque há algo e não nada, a questão do mal e do sofrimento, da felicidade e da morte, de Deus e do sentido último da existência.


GAFANHA DA NAZARÉ CELEBRA ANIVERSÁRIO DE CIDADE


A Gafanha da Nazaré celebra hoje, 19 de abril, o 13.º aniversário da sua elevação a cidade. Sendo certo que esta efeméride evoca um crescimento a vários níveis, não podemos ignorar que a valorização duma cidade segue um processo sem fim à vista... 

Recordemos um pouco de história

Criada freguesia em 23 de Junho de 1910 e paróquia em 31 de Agosto do mesmo ano, a Gafanha da Nazaré é elevada a vila em 1969. A cidade veio em 2001 por mérito próprio. O seu desenvolvimento demográfico, económico, cultural e social bem justifica as promoções que recebeu do poder constituído no século XX, a seu tempo reclamadas pelo povo.
A Gafanha da Nazaré é obra assinalável de todos os gafanhões, sejam eles filhos da terra ou adoptados. De todos os pontos do País, das grandes cidades e dos mais pequenos recantos, muitos chegaram e se fixaram, porque não lhes faltaram boas condições de vida.
A Gafanha da Nazaré é, hoje, uma mescla de muitas e variadas gentes, que, com os seus usos e costumes e muito trabalho, enriqueceram, sobremaneira, este rincão que a ria e o mar abraçam e beijam com ternura.
O Decreto-lei n.º 32/2001, publicado no Diário da República de 12 de Julho do mesmo ano, foi aprovado pela Assembleia da República em 19 de Abril de 2001, registando em 7 de Junho desse ano a assinatura do Presidente da República, Jorge Sampaio.
O povo comemorou a elevação a cidade com muita alegria, precisamente no dia da aprovação, pelo Parlamento, do desejo das autoridades e de quantos sentem esta terra como sua. A legitimidade popular consagrou essa data, 19 de Abril, como data de festa, sobrepondo-se à assinatura do Presidente da República. 
O título de cidade colocou a nossa terra com mais propriedade nos mapas e roteiros. Mas se é verdade que o hábito não faz o monge, temos de reconhecer que pode dar uma ajuda. Como cidade, passou a reivindicar infraestruturas mais consentâneas com esse título, podendo os gafanhões assumir este acontecimento como marco histórico da sua identidade, como cidadãos de pleno direito.


O Programa das Comemorações

09h00 - Hastear das Bandeiras na Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré

09h15 - Visita ao Mercado Municipal da Gafanha da Nazaré

09h45 - Visita à futura Casa da Música da Gafanha da Nazaré

10h45 - Visita à obra do Ecomare

11h30 -  Visita à obra de Saneamento Básico da Gafanha da Nazaré
(ponto de encontro na zona poente da Vala Pluvial do Esteiro do Oudinot)

12h00 -  Balanço das ações do dia na Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré

VIU E ACREDITOU

Reflexão de Georgino Rocha para este tempo



A manhã de Páscoa desperta serena com Madalena agitada a correr para o túmulo de Jesus. Era ainda escuro. Mas já raiava o clarão da aurora que se avizinha. Corre para sintonizar com o ritmo do seu coração, com o desejo de prestar os últimos cuidados ao cadáver de Jesus, com a vontade de certificar mais uma vez o sucedido, com o “pressentimento” de que algo de novo pode acontecer, pois o amor é mais forte do que a morte. A saudade revela-se um bom caminho para o encontro da verdade.
Chegada ao local, depara-se com o sepulcro vazio e tudo arrumado “a preceito”. Pelo seu espírito perpassa a certeza afirmada: Levaram o Senhor e não sabemos onde O puseram, certeza que transmite a Simão Pedro e ao discípulo amado. Estes partem imediatamente para confirmar a notícia, seguindo cada um a cadência do seu passo. Chegam, aproximam-se, observam, entram no sepulcro e vêem que a realidade condizia com o que lhes havia dito Maria Madalena.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

RECORDANDO A PÁSCOA

Crónica de  Maria Donzília Almeida



A festa da Páscoa, para o mundo cristão representa a vitória sobre a morte, consubstanciada na ressurreição de Cristo.
Coincidindo com o início da primavera, sente-se uma envolvência da natureza, numa súbita transformação da mesma. Esta que estivera em hibernação durante a estação cessante, desperta para a vida e em nosso redor é vê-la a desabrochar e encher-se de cor.
Antigamente, quando as Gafanhas viviam, em parte, da agricultura e as mulheres eram as maiores protagonistas do trabalho nos campos, a limpeza da casa ficava sempre em segundo plano. Aproveitava-se a pausa da Páscoa, em que as sementeiras estavam feitas e o sol começava a puxar por elas e fazia-se uma limpeza geral às casas. Quase todas revestidas a soalho de madeira e muito humildes no seu recheio, assumiam uma nova vitalidade e asseio nesta altura. Para esse efeito, era ver a dona de casa, mulher escafonada, pôr o chão a brilhar com o tradicional sabão amarelo, que p’ra mim, era mais cor de tijolo. 
Aqui, nas Gafanhas, a sala do Senhor mobilada apenas com uma cómoda e cadeiras, à volta, ganhava protagonismo, na receção à visita pascal. Ali, o crucifixo era entregue ao chefe de família que, por sua vez, o dava a beijar a todo o agregado familiar, cumprindo-se assim um ritual antigo, de muitas gerações.
Na comunidade, faz-se a comemoração religiosa em que os cristãos vivem a quaresma, tempo de preparação para a Páscoa. Exemplo disso são alguns sacrifícios/ privações, como o jejum e abstinência na 4.ª feira de cinzas e na sexta-feira santa.


Dia Internacional dos Monumentos e Sítios


Celebra-se hoje, 18 de Abril, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, que foi instituído em 1982 pelo ICOMOS e aprovado pela UNESCO no ano seguinte. A partir de então, esta data comemorativa tem vindo a oferecer a oportunidade de aumentar a consciência pública relativamente à diversidade do património e aos esforços necessários para a sua proteção, conservação, chamando a atenção para a sua vulnerabilidade.
Este ano o Dia internacional dos Monumentos e Sítios é dedicado ao tema Lugares de Memória.
De 12 a 20 de Abril, por todo o Território Continental e Regiões Autónomas terão lugar 640 atividades distribuídas por 170 concelhos e promovidas por 345 entidades públicas e privadas.
O acesso à maioria das atividades é gratuito.
As atividades promovidas nos Monumentos, Museus e Palácios da DGPC têm entrada livre.

Li aqui  

Ver ÍLHAVO

Ver AVEIRO

Falar e ser entendido

Editorial  de José Tolentino de Mendonça 




Durante muito tempo o desafio da renovação eclesial esteve centrado na necessidade de encontrar uma nova linguagem. Um dado era (e continua a ser) evidente: a linguagem habitual não só dos documentos, mas até da pregação da Igreja, já não é entendida pelos nossos contemporâneos. Podemos simplesmente cruzar os braços e denunciar a falta de uma formação cristã de base. Contudo, o desencontro entre a mensagem e os seus destinatários continua lá. E o “desencontro” não é só “ad extra”: dentro das nossas próprias comunidades contam-se pelos dedos os que resistem a uma leitura integral de um texto mais longo do magistério. Ora isso gera uma desarticulação e uma incomunicabilidade que só acentuam a fragmentação do corpo eclesial. Não funcionamos como arquipélagos, mas como desagregadas ilhas.

ÍLHAVO: Feriado Municipal

Segunda Feira da Páscoa



No próximo dia 21 de abril, segunda-feira de Páscoa, comemoramos o Feriado Municipal de Ílhavo com um conjunto de atividades, que têm início às 10h00 com a visita do Sr. Ministro da Defesa Nacional, Dr. José Pedro Aguiar-Branco, ao Museu Marítimo de Ílhavo (MMI), onde se procederá à assinatura do Protocolo de Cedência Temporária de Espólio Físico e Documental dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo ao MMI.
Seguir-se-á às 10h45 a Cerimónia do Hastear das Bandeiras junto aos Paços do Concelho e a Sessão Solene Evocativa do Feriado Municipal, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Ílhavo, na qual serão entregues Condecorações Municipais a um conjunto de entidades e individualidades. A Sessão Solene será este ano presidida pelo Sr. Ministro da Defesa Nacional, Dr. José Pedro Aguiar-Branco.
As comemorações do Feriado Municipal constituem um momento de festa e partilha, assumindo uma condição diferente pela homenagem que vamos realizar ao Poder Local no Município de Ílhavo.

Fonte: CMI


A NOSSA GENTE: Baltasar Casqueira

Baltasar e esposa 

Com a 4.ª classe saltou para o mundo do trabalho

Baltasar Ramos Casqueira, 77 anos, casado com Madalena Caçoilo, cinco filhos e 12 netos, está reformado há bons anos. Começou cedo a luta pela vida. Aos 11 anos, concluída a 4.ª classe da então chamada instrução primária, entrou para os serviços de limpeza da EPA (Empresa de Pesca de Aveiro), durante o inverno, nos arrastões Santa Joana e Santa Princesa. No verão, a vida mudou de figura na marinha de sal de que o pai era marnoto. Trabalho difícil, como osso duro de roer, debaixo de sol escaldante e pisando a moira que lhe roía os pés. «Era a marinha Fornos, do proprietário José Vieira», disse. E assim andou, «durante seis safras», saltando depois para um dóri, como verde, aos 17 anos, para a pesca do bacalhau, no lugre Lousado, da praça de Alcochete. «Foi o meu irmão António que me levou», afirmou. «Pesquei no primeiro ano 226 quintais de bacalhau à tábua [era numa tábua que o oficial de bordo pousava a folha onde registava, por estimativa, o peixe pescado por cada pescador], tendo recebido 11 mil e 200 escudos, que trouxe escondidos nas meias, com medo dos carteiristas», afiançou o Baltasar.
Depois emigrou para os Estados Unidos, onde chegou a exercer o cargo de encarregado numa firma de obras de águas e saneamento. Como reformado, regressou às origens deixando lá os filhos e netos.
Homem dado ao trabalho desde sempre, sem tempo para ser menino e brincar, não sabe estar parado, «sem nada fazer». Reconhece que «não se pode parar na vida» e não é de seu feitio estar «sentado num qualquer banco de café ou jardim». E se já não consegue trabalhar na agricultura, por dificuldades físicas, já que foi operado a uma perna, gosta de se entreter a fazer aquilo de que gosta. Também deixou a pesca na ria. Mas nem por isso se sente diminuído e lá se vai ocupando com o artesanato, não para vender, mas pelo prazer de fazer. Quando o visitei, tenha acabado de pintar um navio em miniatura. «O resto virá a seguir», adiantou. 
Para os seus trabalhos, aproveita pedaços de madeira, restos de troncos, ramos ou raízes de árvores. A imaginação faz o resto. No meio da sala tem muitas cabaças de diversos tamanhos e feitios. Semeia-as, colhe-as, saca-lhes o miolo, pinta-as e usa a técnica do guardanapo. Apreciei búzios, pinhas de anel três e de retenida, usadas nos navios, vertedouros, garrafas e garrafões de vidro, revestidos de fios coloridos. Estes com a preciosa colaboração da esposa, a quem ele ensina a técnica que aprendeu ao longo da vida. 

Fernando Martins

quarta-feira, 16 de abril de 2014

DIGNIFICAR A PESSOA PRESA

Em entrevista ao Correio do Vouga, o coordenador nacional da pastoral penitenciária, padre João Gonçalves, afirmou que "´É terrível a pessoa continuar presa mesmo depois de sair da cadeia". E acrescenta que "a situação dos presos tem a ver com toda a sociedade e muito especialmente com a comunidade cristã".

NOTA: Logo que possível, publicarei aqui a entrevista


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terça-feira, 15 de abril de 2014

A fé alimenta-se de poesia


«Cada poema é um início. Como o estar sempre perante o branco, perante o silêncio, perante o não saber. E recomeçar. A fé alimenta-se muito disso, porque a fé não é o acumulado do ontem, mas é viver no aberto da esperança e do corpo, do nascer e do morrer, do amor e da fragilidade. E no fundo a escrita treina-me para a sucessão de começos que a vida é nas suas várias dimensões.»

José Tolentino Mendonça

De uma entrevista publicada na revista ESTANTE, para ler aqui

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Um texto lindo sobre os gafanhões


«Falou-se de marnotos, falou-se de pescadores e mareantes, faltando, apenas, falar dos gafanhões que vieram, por fim, tratar da moldura afeiçoando a terra que debrua laguna substituindo a desolação da duna e da flora quaresmal que, a medo, aflorava, por uma verdura indizível de milheirais frescos e viçosos e de batatais que lhe corroboraram os tons abertos com gradações sublinhantes que parecem oriundas de uma paleta de pintor.»

Frederico de Moura

No Livro "Ressonâncias"

Nota: Conferência lida, no salão Municipal da Cultura, de Aveiro, integrada no número do programa que, com aquele mesmo título [PAISAGEM DE AVEIRO - O Ambiente e o Homem], fez parte dos actos culturais das Festas da Cidade. Em 11 de Maio de 1970.