domingo, 9 de dezembro de 2007

Mensagem de Natal do Bispo de Aveiro

NATAL É TEMPO
DE MULTIPLICAR A ESPERANÇA

O Natal cristão transporta sempre consigo o anúncio messiânico de uma grande alegria e de uma renovada esperança: “Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, o Senhor” (Lc 2, 11).
Aqui se radica a fonte de toda a esperança cristã e a certeza de que a redenção da humanidade, desde sempre prometida e profetizada, se cumpria em Jesus, o Filho de Deus.
É dessa esperança que somos testemunhas, servidores e mensageiros.
É esta a certeza redentora que o mundo procura e precisa.
Que o Natal é necessário todos o sentimos e reconhecemos! As sociedades e as pessoas já não sabem nem podem viver sem Natal. Ele faz parte não só da sua matriz cultural mas também da sua identidade social e da sua dimensão religiosa. O Natal é uma espécie de força motriz onde as sociedades e os povos, as famílias e as pessoas vão procurar luz, energia, ânimo e esperança para acreditar que a vida tem sentido, o futuro é possível e o mundo pode e deve ser melhor.
Só assim se entendem as mensagens, as saudações, os gestos de proximidade, as distâncias vencidas, as ruas iluminadas, os presentes repartidos, os sinais de beleza distribuídos e os esforços para reunir e congregar famílias. Aí se inspiram os testemunhos exemplares do voluntariado generoso, por vezes heróico, e da partilha fraterna afirmada e vivida em tantos momentos do tempo de Natal.
Em época de assumida globalização, cumpre-nos oferecer o Natal ao mundo, anunciando o nascimento de Jesus, o Filho de Deus e Príncipe da Paz.
Os cristãos têm esse direito e devem assumir com alegria, serenidade e coragem, essa missão: fazer que o Natal de Jesus se renove e celebre no íntimo do coração humano, no ambiente sagrado da família e na liturgia festiva da comunidade, a fim de que o mundo acredite e a esperança de um futuro feliz para a humanidade se multiplique.
Multiplicar no mundo a esperança que nasce do Natal, qual estrela de Belém que ilumina caminhos de magos, de poderosos e de sábios ou voz de Deus que anuncia o nascimento de Jesus a pastores, a simples e a pobres, exige de nós abertura e generosidade para sermos no contexto concreto da nossa vida “ samaritanos da esperança”.
Também aqui, em tempo de Advento e de Natal, como nos recorda Bento XVI na sua recente Encíclica, os lugares de aprendizagem e de exercício de esperança são a oração, o agir e sofrer humanos e a perspectiva do encontro definitivo com Cristo.
É necessário desde já sabermos ler e viver o Natal à luz das bem-aventuranças e das obras de misericórdia. Só assim celebraremos Natal como discípulos de Cristo e “samaritanos da esperança”, no coração de uma civilização em mudança e no âmago de uma cultura em busca de fundamento, de sentido e de rumo.
Deus é a esperança do mundo. É deste Deus que o Natal deve falar. E da coragem e da verdade deste anúncio e deste encontro com a Pessoa e com o Acontecimento de Cristo devem nascer sonhos, decisões e gestos criativos de amor irmão com todos.
Levar Deus, em gestos de amor fraterno, em olhares serenos e em atitudes de ternura, de esperança e de bênção às crianças, aos jovens, aos doentes, aos idosos, aos pobres, à etnia cigana e aos estrangeiros, tão numerosos entre nós, é uma bela forma de celebrar o Natal de Cristo, vivo e ressuscitado.
Multiplicar a esperança é o milagre permanente que, hoje e sempre, se deve pedir aos cristãos, discípulos de Cristo, iluminados pela Palavra e alimentados pela Eucaristia que Ele nos deixou.
Neste ano pastoral em que a Diocese de Aveiro se volta com intenso desvelo para os mais pobres, realço os gestos diários de partilha fraterna e de cuidado atento das Florinhas do Vouga, Instituição Social Diocesana, junto dos sem-abrigo. Quero que eles sintam, também, o Bispo diocesano próximo e irmão. Estarei convosco e com os sem-abrigo na Ceia de Natal, para que neste gesto simples se multiplique o espírito samaritano que impele em formas tão belas e criativas os cristãos, as comunidades, as instituições e os movimentos apostólicos da Diocese a repartir o amor, a esperança e a fé.
Um santo e feliz Natal.

Aveiro, 8 de Dezembro de 2007

António Francisco dos Santos,
Bispo de Aveiro.

ARES DO OUTONO





PRAIA DA BARRA
Vou à Praia da Barra desde que me conheço. De Verão ou de Inverno. Na Primavera ou no Outono. Todas as ruas, mesmo as mais recentes e fruto de uma urbanização com base no cimento armado, me são familiares. De tal modo que, quando passo, é frequente encontrar gente conhecida. De perto ou de longe. Hoje, com ameaças de chuva, lá fui mais uma vez. Com o Farol da Barra a dominar a paisagem desde há uns cem anos. De qualquer canto, ele desafia-me a fixá-lo na minha máquina. No areal deserto, nem marcas de gente havia. E mais ao fundo, a boca da barra dá passagem a navios que entram e saem constantemente. Quer chova quer faça sol. Num contínuo movimento que renova a paisagem a cada olhar.


O GRANDE DILEMA

“Será necessário, para obter segurança, dialogar com criminosos, apertar a mão a torturadores, tratar quaisquer déspotas de democratas, esquecer guerras e fomes, deixar entre parêntesis a corrupção, alimentar a cleptocracia e debitar, com ar confiante, longos discursos de lugares-comuns optimistas congratulatórios? Será que o preço que tem de se pagar pela paz inclui a criação e a manutenção de uma Nomenclatura internacional imune, impune e “off shore”? Será que o próprio desta casta é o hotel de cinco estrelas, o caviar, os vintages caríssimos, a trufa branca e os aviões transformados em lupanares de luxo?” António Barreto, no PÚBLICO de hoje NOTA: Escrevi ontem sobre a Cimeira UE-África, admitindo a necessidade de se receberem os ditadores, os sanguinários e os corruptos, porque provocar a sua marginalização seria pior. Perder-se-ia a oportunidade de diplomaticamente os sensibilizar para os valores da democracia, entre outros. António Barreto levanta nesta sua crónica a questão, com perguntas pertinentes, que aqui ofereço aos meus leitores, para reflexão.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 52


LENDA DO ABADE DE PRISCOS

Caríssima/o:

Desde logo uma interrogação: que é um «prisco»?
Os dicionários registam a palavra como adjectivo e significando “antigo”; mas no Diário da República III Série de 06/06/2003, onde se faz a descrição das armas desta freguesia, lá aparece: «...com três priscos (penhascos pequenos) de negro, alinhados em faixa...». Portanto, prisco é um penhasco pequeno.

E agora que lenda vamos encontrar em Priscos?
Os “livros “ falam como gente:
«Lenda do Abade de Priscos, Papa de Cozinheiros».(Cf. Sítio da freguesia de Priscos)
E acrescentam:
«Da história da freguesia, ressalta a figura do Abade de Priscos, de seu nome Manuel Joaquim Machado Rebelo. Pároco da freguesia de Priscos, onde esteve colocado quase cinquenta anos, foi um dos maiores cozinheiros portugueses do século XIX, imortalizando uma receita de pudim. »

Remando para outra fonte, a Wikipédia, pode ler-se:

«O Pudim Abade de Priscos é um
pudim típico de Braga, sendo uma das poucas receitas que o Abade de Priscos transmitiu para o público.
O pudim ficou conhecido quando Pereira Júnior, director do Magistério Primário feminino de Braga, no antigo
Convento dos Congregados, pediu ao Abade de Priscos receitas para ensinar no magistério.

O pudim é confeccionado num tacho de
latão ou cobre onde é colocado meio litro de água. Quando esta estiver a ferver, coloca-se meio quilo de açúcar, uma casca de limão, um pau de canela e cinquenta gramas de toucinho (é proposto que seja gordo e de preferência de Chaves ou de Melgaço) e deixa-se ferver até atingir ponto espadana. Batem-se quinze gemas e mistura-se-lhes um cálice de vinho do Porto até ficar em meio ponto, depois de bater novamente. A calda de açúcar é, então, vazada através de um coador fino para uma tijela onde estão as gemas, mexendo-se tudo. Barra-se uma forma com açúcar em caramelo e deita-se aí o preparado que é posto a cozer durante 30 minutos em banho-maria. O pudim é desenformado quando estiver quase frio.»

Assim sendo, na companhia da Maria Beatriz, vamos fazer a prova desta delícia culinária e, já agora, incorporá-la no cardápio da Avó!

Manuel

ADERAV tem petição na Internet




Com o objectivo de alertar para a situação de degradação em que se encontram as igrejas geminadas de Santo António e de S. Francisco, em Aveiro, e incentivar a sua recuperação, a ADERAV – Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro, tem uma petição na Internet, que pode ser “assinada” em www.aderav-aveiro.blogspot.com A igre-ja de Santo António, que integrou o extinto convento, remonta ao século XVI, e a antiga capela da Ordem Terceira de S. Francisco teve origem no século seguinte. Os dois templos comunicam interiormente, formando um conjunto arquitectónico classificado, facto que não impede que tenham sofrido uma acentuada degradação, nomeadamente no que se refere aos painéis de azulejos e revestimentos cerâmicos, às talhas douradas e às pinturas sobre madeira.Para a ADERAV, a recuperação deste conjunto arquitectónico ainda é possível, de acordo com um estudo elaborado por uma equipa do Centro de Res-tauro e Conservação da Universidade Católica do Porto, que avalia em 415.000 euros o investimento necessário para a sua recuperação, montante ao qual se deverão acrescentar as despesas de engenharia civil inerentes à recuperação do próprio edifício.

Fonte: CV

sábado, 8 de dezembro de 2007

BISPO DE AVEIRO




D. António Francisco
está entre nós há um ano

Completa-se hoje, 8 de Dezembro, um ano sobre a entrada de D. António Francisco dos Santos em Aveiro, como Bispo da Diocese. Há um ano, não pude, por razões por demais conhecidas dos meus amigos, estar presente na cerimónia que decorreu na Sé, mas não faltei hoje à Eucaristia de acção de graças pela missão episcopal de D. António e de ordenação do diácono Filipe Coutinho, rumo ao presbiterado.
No silêncio da Catedral, durante bons minutos, recordei todos os bispos da restaurada Diocese de Aveiro, que bem conheci. Com alguns deles colaborei no seu labor pastoral, à medida das minhas disponibilidades e das minhas capaci-dades. A minha memória, recuando algumas décadas, mostrou-me quanto a diocese, a cidade de Aveiro e sua região devem a esses bispos, todos diferentes, mas todos em sintonia com as necessidades espirituais do povo de Deus que lhes foi entregue. Direi mesmo que as suas diferenças, temperamentais sobretudo, se mostraram complementares, ou não exigissem os contrastes, que marcam a maneira de ser e de estar de povos da ria, do mar, do Vouga e da serra, respostas pastorais diversificadas.
À homilia da missa desta tarde, D. António Francisco frisou que celebrava este primeiro aniversário com todos os aveirenses, “na partilha, na oração, na alegria e no compromisso pastoral”, sublinhando que já não saberia viver sem nós.
Considerando que é hora de olhar em frente, face aos desafios lançados, em Novembro, pelo Papa, aos bispos portugueses, durante a visita ad limina, D. António Francisco recordou a importância do serviço aos mais pobres. Referiu, depois, a urgência “da criação de estruturas para a missão” e de “espaços onde as pessoas se encontrem com Deus”. Quanto a ele, o Bispo de Aveiro prometeu que vai continuar “próximo e irmão” de cada um de nós.
Permitam-me que sublinhe esta faceta de D. António Francisco, no relacionamento com as pessoas. Pelos poucos contactos que mantive com ele, não pude deixar de registar a facilidade com que se mantém próximo dos que o procuram, a naturalidade com que os escuta, a simplicidade com que avança com propostas pastorais, a convicção com que afirma a fé que o anima. Por isso, a certeza que mantenho de que Aveiro saberá estar com o novo Bispo, sobretudo nesta hora da renovação de mentalidades e de atitudes, conforme pediu Bento XVI, na linha da concretização do Vaticano II, que muitos teimam em manter nas gavetas das sacristias.

Fernando Martins

Na Linha Da Utopia



O DIA DOS DIAS

1. 10 de Dezembro, Dia dos Direitos Humanos. Dia (con)sagrado que no meio do séc. XX representa um ponto de chegada (e de partida) na recepção da dignidade humana como patamar de todas as realizações. Até esta “meta volante” ser assinalada na Convenção de Paris, a 10 de Dezembro de 1948, tragicamente, foi muito o sangue derramado pelas duras intolerâncias da menoridade humana. A partir deste dia, construído também na base das grandes mensagens de dignidade revelada que vão percorrendo os séculos, o “TEMPO” histórico ganha uma nova contagem. 10 de Dezembro, representará, assim, o dia para todos os dias, o sentido do comum ideal a ser atingido por todas as nações, pessoas, instituições, comunidades.
2. Uma nova ordem se abriu no pensamento-acto humano. A comum dignidade de todos os seres humanos, (re)encontrada na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, integrando o melhor dos “possíveis” até esse presente, vence as limitações das anteriores coordenadas humanas, particularmente da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (26 de Agosto de 1789). Nesta, ainda na incapacidade humana limitada de que viria a ser reflexo a emergência de nacionalismos de exclusão da “diferença”, não tinham lugar nem a “mulher” nem o não-cidadão, o que vagueia pela rua ou é de etnia diferente… Hoje não celebramos, pois, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) mas sim a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), celebramos a dignidade humana que supera (e dá fundamento na ordem do SER) todas as concepções de cidadania da legalidade das incertas e procuradoras razões de estado.
3. Para o séc. XXI, desta herança de dignidade como imperativo ético, ergue-se a pergunta: e “os outros” (que afinal podemos ser nós)? A “alma” do 10 de Dezembro, celebrado em múltiplas iniciativas, acontecimentos, cimeiras (…) e reflexões, relança-nos aquela pergunta do livro Génesis: “que fizeste do teu irmão?” Essa pergunta ao longo da história foi merecendo e continua a merecer muitas respostas. A busca da resposta do (essencial) ideal humano faz reinterpretar todos os sistemas e níveis do conhecimento contemporâneo, dos mais abstractos aos mais concretos da ordem social comum, pois dos 30 artigos de 1948, continua a destacar-se o 29º em que todos “têm deveres para com a comunidade”. Estes comprometem-nos na liberdade democrática responsável e dizem-nos que enquanto a dignidade humana não brilhar assumidamente em tudo o que “somos” e “fazemos” vivemos a história incerta da procura da “TERRA-PÁTRIA” da unidade plural de que nos fala Edgar Morin.

Alexandre Cruz

O drama de receber ditadores



A Cimeira UE-África, que está a decorrer em Lisboa, acordou muita gente para a triste realidade de termos de conviver, dentro do possível, com ditadores e corrupto. Alguns deles sanguinários. As exigências políticas e as obrigações diplomáticas têm destas coisas. Quantas vezes, na vida, mesmo sob o ponto de vista particular ou social, temos de estar lado a lado com gente dessa, obviamente à nossa escala. De qualquer modo, e aceitando a opinião de muitos, os ditadores não podem ser marginalizados, mas devem ser envolvidos pelas nossas estratégias, sempre numa perspectiva de os levarmos a reconhecer os valores da democracia e dos direitos humanos.
Naturalmente que não será de um dia para o outro que essa gente reconhecerá que não estamos em tempos de ditaduras e de atropelos aos valores que nos enformam, de tolerância, de liberdade, de democracia e de justiça social. Daí que Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, tenha dito que está com pessoas com quem sua mãe gostaria que não estivesse. Acrescentou, depois, em entrevista a uma televisão, que o povo não tem culpa dos ditadores que tem, pelo que a UE não pode deixar de apoiar quem passa fome e outros horrores. A UE não patrocina iniciativas dos ditadores e corruptos, mas dá a mão, através de organizações não governamentais, às populações que se encontram na miséria.
Desta forma, a UE vai mostrando que não está com os ditadores, que não os ajuda, que não alinha com tiranos, mas que ajuda, isso sim, populações sem conta que estão na miséria extrema. Por estas é que a Cimeira UE-África aceita a participação de ditadores, sanguinários e corruptos. Se, afinal, não queremos estar lado a lado com esses, queremos e devemos estar com os oprimidos.

Fernando Martins
Foto: José Sócrates e Durão Barroso

O mar


VI HOJE O MAR

Vi hoje o mar
Lindo mar da minha infância
No areal deserto
Na penumbra da tarde
Da minha memória

Senti hoje o mar
Lindo mar da minha infância
Nas ondas caídas
Na praia salgada
Da minha tristeza

Li hoje o mar
Lindo mar da minha infância
Na gente solitária
Na espuma branca
Do meu passado

Recordei hoje o mar
Lindo mar da minha infância
Nas tardes de leitura
Na areia macia
Da minha alegria

Revivi hoje o mar
Lindo mar da minha infância
Nas vagas soltas
Na vida vivida
Do entardecer
Fernando Martins

A IGREJA CATÓLICA NO LABIRINTO DO SEXO



Uma razão fundamental do mal-estar em relação à Igreja provém da sexualidade. Desde o século XVIII, muitos terão iniciado o seu abandono, porque concretamente a confissão, patologicamente centrada no pecado sexual, esmiuçado até à exaustão, começou a ser sentida como invasão indevida da intimidade e ferindo inclusivamente os direitos humanos.
A Bíblia contém, dentro da literatura mundial, um dos mais belos hinos ao amor erótico: leia-se o Cântico dos Cânticos. Desde o início, no Génesis, se diz que a sexualidade é dom de Deus. Segundo a Bíblia, o ser humano não está dividido em corpo e alma, pois forma uma unidade. Na perspectiva cristã, o corpo não é desprezível, pois o próprio Deus assumiu a humanidade corpórea.
A gnose, o maniqueísmo, Santo Agostinho, a lei do celibato dos padres, misogenias, dualismos antropológicos, concepções do poder a reprimir o prazer: eis algumas das causas do mal-estar.
A emancipação feminina e a facilitação da possibilidade de separar actividade sexual e procriação foram determinantes para uma nova vivência da sexualidade.
A Igreja terá sempre dificuldade em ter uma palavra equilibrada sobre temática tão complexa como humana, uma palavra que não seja de bênção para o "vale tudo" nem de repressão da alegria do encontro de liberdades sexuadas.
Mas, sob o nome de Monsenhor Pietro De Paoli, alguém altamente posicionado na Igreja quis reflectir sobre problemas fundamentais dessa Igreja, facilitando a questão, mediante a forma de romance: Vaticano 2035. Trata-se de um cardeal que chega a Papa, depois de ter tido a experiência do casamento, da viuvez, de duas filhas que nem sempre cumprem as regras oficiais, de um cardeal homossexual.
O novo Papa toma apontamentos para uma futura encíclica sobre a sexualidade. Já não se tratará de condenações, mas de compreensão e de apelo a uma caminhada no respeito, no amor, no desejo de progredir em humanidade digna.
Começaria por relembrar o sentido profundo da sexualidade: "o primeiro bem do casamento é o amor." A sexualidade pode e deve ser um lugar privilegiado de humanização e de aprendizagem da unidade do ser humano enquanto corpo e espírito. "É pelos nossos enlaces, união íntima do corpo e do espírito, que compreendemos, talvez da maneira mais próxima, o que significa o amor encarnado."
Seguem-se alguns pontos de referência:
1. Embora a existência humana seja um caminho, devendo cada um responsavelmente examinar em consciência em que etapa se encontra, lembra-se que o exercício da sexualidade humana, antes de formar um laço conjugal, é uma forma não plena de sexualidade. 2. "Os seres humanos não se reproduzem, fazem amor." É importante perguntar de que modo o exercício da sexualidade tem de facto o amor como fruto e de que modo dá fruto; "é certamente um critério de julgamento". 3. O exercício da paternidade e da maternidade responsáveis requer "um diálogo permanente, franco e sincero entre os esposos". Esse diálogo incidirá concretamente nos meios de assumir essa responsabilidade. 4. O homem e a mulher não são posse um do outro. 5. "A sexualidade homossexual é um facto comprovado em todas as sociedades humanas." Que sabemos sobre a sua génese, as suas causas, a sua "natureza"? "Afirmamos que não desejamos julgar nem os comportamentos nem as pessoas: os pontos seguintes permitirão exercer um discernimento sobre o exercício de toda a sexualidade humana, incluindo a homossexual." 6. "O meu corpo não é uma coisa, o corpo do outro não é um objecto." 7. O exercício da sexualidade pressupõe "o respeito mútuo, a confiança e o consentimento de cada um". 8. "A sexualidade realmente humana não pode exercer-se no âmbito do constrangimento, da chantagem ou de uma relação tarifada." 9. O exercício da sexualidade humana é feito de permuta de gestos e de intimidade revelada, "mas pressupõe antes uma troca de palavras". 10. "Violar a palavra dada, quebrar um compromisso, ser infiel são faltas graves."


Anselmo Borges


In DN


sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 51



NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

Caríssima/o:

Sem contar, mas com muito gosto, a sombra da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, ao Marquês, no Porto, voltou a ser para mim doce refrigério e um momento de agradável reencontro. Contrariamente ao que é habitual, desta vez fui levado pela mão de uma filha...
Já lá não ia há muito! Depois de por ali andar durante vinte anos, eis que dou por mim a contar vinte e cinco que passaram desde que pela última vez me sentei na Cripta desta Igreja! Mas foi reconfortante palpar o amor a Nossa Senhora da Conceição que a todos os que lá estávamos nos aquecia.
Tratava-se da apresentação de dois livros em que se canta a Imaculada Conceição, no ano em que se comemora o 60º aniversário da sua Igreja.
Porém, sem ninguém dar por isso, esgueirei-me da sala e pulei para o Esteiro Pequeno para ver e ouvir os morteiros que os mordomos da festa lançavam nesta quadra em que muitas vezes o céu era de chumbo e a luz do foguete era brecha rasgada no escuro!
Que me perdõem D. Carlos Azevedo, P. Rúbens, Dr. Seisdedos e todos os outros e outras, não foi por mal esta escapadela! Acreditem que terminei essa noite a meditar nas linhas finais deste livro:
«Cada cristão, pelo testemunho recebido [de Maria], pode interrogar-se e construir a sua própria vida. Maria é mãe de todo o cristão que nasce para a fé e se dispõe para a entrega à dor e à alegria de um amor criador.»
E ainda ressoa dentro de mim o último apelo:
-Alegrem-se!

Boa festa de Nossa Senhora da Conceição!

Manuel
FOTO: Nossa Senhora da Conceição. Escultura gótica alterada por vários restauros; tradicionalmente terá sido adquirida em Inglaterra e oferecida pelo Condestável Nuno Álvares Pereira, primeiro donatário de Vila Viçosa, a esta igreja então chamada de Santa Maria do Castelo. D. João IV coroou esta imagem, proclamando Nossa Senhora da Conceição Padroeira de Portugal.
In "As mais belas igrejas de Portugal"

A espiritualidade de Mário Castrim


«DO LIVRO DOS SALMOS»


Do livro dos Salmos nasce o livro de Mário Castrim. Um testemunho, mais próximo e fiel, para muitos desconhecido, da sua ligação ao transcendente. “Do Livro dos Salmos” é o nome da obra que oferece uma visão mais íntima do escritor conhecido por muitos como um crítico de televisão e com “opções e ideologias diferentes”, aponta à Agência ECCLESIA, Alice Vieira, escritora e esposa de Mário Castrim.
Na realidade a obra nasceu há 13 anos, apesar do seu recente lançamento. Na origem está a colaboração que Mário Castrim manteve com os Missionários Combonianos, para a revista Audácia, uma ligação iniciada em Março de 1993.
Da leitura dos salmos, “da sua interpretação porque os sabia quase de cor”, foi re escrevendo poemas sobre os salmos.
No desejo de o ver publicado, Mário Castrim chegou a entregar o livro à editora, afirmando que a edição seria inteiramente dedicada aos Missionários Combonianos. A vida não permitiu acompanhar a publicação.
“É um livro muito bonito”, afirma sem qualquer desculpa a sua esposa de quase 40 anos. Para quem não o conheceu bem, “será uma surpresa”, admite Alice Vieira, que relembra a posição do seu marido “em desacordo com a hierarquia”, mas “católico”. Esta será uma oportunidade para as pessoas “terem uma ideia mais completa da sua pessoa”.
Alice Vieira descreve um livro de grande fervor, com uma “grande ligação ao divino”. Será esta a grande surpresa, assegura.


Leia mais na Ecclesia

Nova estátua na Gafanha da Nazaré


"EU SOU CAMINHO, VERDADE E VIDA"



A Gafanha da Nazaré tem nova estátua. Jesus Cristo, que todos os gafanhões bem conhecem, de terem ouvido falar d'Ele ou de O sentirem nas suas vidas, está agora, em estátua, junto à capela mortuária. Gravada no seu coração está uma legenda bíblica e muito expressiva, que todos também conhecem: "Eu sou caminho, verdade e vida". Tive o prazer de passar por ali, com máquina fotográfica, no momento certo. O registo aqui fica.

GRATIDÃO À TELEVISÃO




Hoje acordei com vontade de manifestar a minha gratidão à televisão, a caixinha mágica que mudou o mundo. Simplesmente por saber que há muita gente que a tem por companhia única em horas e horas de solidão.
Todos os dias chovem críticas contra os programas que as diversas televisões apresentam. Por esta ou por aquela razão, todos os cronistas da comunicação social têm nela uma muleta para alimentarem os seus escritos. A par dela, só o Governo. Mas temos de convir que muitas vezes as críticas são injustas. Isto não significa que fiquemos calados perante aquilo de que não gostamos. No fundo, as críticas bem alinhavadas, até são úteis. A partir delas, há sempre quem procure melhorar o que faz.
Há dias, em conversa com um idoso, daqueles que vivem numa solidão que será difícil de suportar, ele dizia-me que o que lhe vale é a televisão. Com ela, sente-se com alguém que o ajuda a olhar o mundo e a tocar, quase, nos seus ídolos, nas pessoas que admira, nos artistas, no povo… “Se não fosse a televisão, já imaginou o que seria a minha vida, sem ninguém com quem conversar?”, adiantou-me o meu amigo… E logo explicou: “Vejo futebol, vejo telenovelas, vejo filmes, vejo espectáculos, vejo reportagens, enfim, corro o mundo!”
Pois é verdade. Afinal, a televisão, onde muitos vêem quase tudo errado, ainda presta um serviço social nem sempre quantificado, substituindo-nos, na grande maioria das vezes, nas visitas aos que vivem sós.
Por isso, a minha (ou a nossa?) gratidão à televisão…

FM

Prémio para gafanhão

Tiago Margaça venceu
Prémio Ariane de Rothschild Tiago Margaça, um jovem artista plástico da Gafanha da Nazaré, com 26 anos de idade, venceu o Prémio Distinção, em pintura, na terceira edição do Prémio Ariane de Rothschild, promovido pela delegação portuguesa do Banque Privée Edmond de Rothschild Europe.Como prémio, Tiago Margaça recebe uma bolsa de estudo, com a duração de três meses, na Slade School of Fine Arts, de Londres, na Inglaterra.
Fonte: Correio do Vouga

PARÓQUIA, UMA ESTRUTURA A PEDIR RENOVAÇÃO?



Vou partir da paróquia para que a recomendação do Papa seja melhor compreendida. A paróquia, que é ainda uma instituição importante na Igreja, tornou-se uma realidade muito diferenciada e complexa. No meio urbano, ela mostra que falar de limites de território é estar fora do tempo. Nos meios de transição e de mobilidade, por razões de trabalho e outras, ela perde identidade. Nos meios rurais desertificados, é uma memória sem sonhos nem projectos.
Há dezenas de anos, as dioceses com muitos padres criavam paróquias para os ocupar. Não se pensava em ajudar outras que os não tinham. Ir para as missões implicava sair da diocese e o padre dizia ao bispo que se ordenara para a sua diocese e não para outras.
Nos meios urbanos, a crescer demograficamente, a solução mais normal foi criar novas paróquias, sem uma reflexão que as tornasse operativas já no tempo que corria. Nasciam com o destino traçado de serem o que outras sempre foram, com alguma cosmética de imaginação e cheiro de juventude. Mas, por vezes, já nasceram velhas.
Se a solução de “um novo estilo de organização” começar pela paróquia, o diagnóstico da realidade é tão simples, como inconsequente. Neste país de dois palmos, há zonas populacionais onde faltam paróquias, zonas onde elas abundam, apesar de mortas, zonas intermédias, em que nem se sabe bem quem são os paroquianos. O resto pouco conta.As últimas sondagens à prática dominical mostram que, mesmo em zonas não urbanas, a igreja da paróquia já não é pólo de atracção para alguns paroquianos ainda residentes.
Exigências canónicas e planos pastorais da Diocese passam até agora pelas paróquias. Porém, em muitos casos, não passam de facto. A ferrugem do tempo sedimentou formas de individualismo pastoral, hoje sem qualquer futuro. A mobilidade, ainda que apenas verificada e lamentada, gera cristãos que, se ainda cumprem o preceito dominical, não têm qualquer vínculo comunitário. Não se sentem bem na sua paróquia da residência, porque não vão lá. Não são da paróquia ou da igreja onde vão, dos religiosos ou outra, porque não residem lá e não querem nada que os prenda. Apenas laços de amizade pessoal ou mesmo nenhuns. Numa Igreja, Povo de Deus e Comunhão responsável, isto não chega.
Muitas paróquias já são pouco mais que instâncias canónicas obrigatórias para actos de jurisdição paroquial: baptizados, comunhões solenes, confirmações, processos de casamento, funerais… Mesmo assim, o sistema de licenças pagas para transferências e de excepções aceites para lugares especiais, como colégios e santuários, debilita ou mata a vida comunitária ainda possível, e deixa as pessoas, no presente e para o futuro, sem raízes e referências visíveis e sensíveis. O anonimato nunca responsabiliza.Deste modo, torna-se difícil a formação cristã de adultos, continuada e diferenciada.
Quando as paróquias, e são muitas, pouco ou nada oferecem de válido neste campo, os que não se resignam a ser apenas cristãos rotineiros e ignorantes procuram noutros espaços eclesiais o alimento da sua fé e do seu compromisso apostólico. Será este o caminho? Em tempo de reflexão e de procura não se pode excluir nenhuma hipótese válida.A paróquia estará então condenada a desaparecer? As instituições seguem as leis da vida. Renovar não é matar, sem mais, mas também não é cedência, de modo habitual e acrítico, a situações que empatam e impedem uma renovação necessária e urgente.
Onde se justifica a paróquia, e justifica-se ainda em muitos casos, ela e o seu responsável devem ter consciência de que, por mais apetrechados que estejam, necessitam de integração complementar em novas formas e espaços pastorais, que melhor sirvam a vida e potenciem a acção da Igreja. Estruturas intermédias alargadas tornaram-se necessárias, porque a vida e as relações das pessoas passam-se em espaços novos e abertos. Equipas eclesiais arciprestais e vicariais, unidades pastorais comunitárias, novos modos de servir e assistir os fiéis, podem e devem ser caminho renovador. Se for só o clero a procurar este caminho, depressa ele se tornará velho. Os leigos são mais sensíveis às mudanças que interpelam a Igreja. Sofrem-nas mais. Há que ouvi-los, interrogar-se em comum, e decidir solidariamente.

António Marcelino

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Na Linha Da Utopia




Novas Sendas, no terreno…


1. Precisamos cada vez mais de apreciar e valorizar aqueles projectos que antecipam o futuro, pelo colocar em rede a sociedade integrando a diversidade das comunidades. Quando não, por vezes, só ao nos deparamos com os problemas das crispadas intolerâncias que facilmente enchem os noticiários, nessa hora, então discursamos sobre o que fazer em ordem a uma coexistência social na diversidade de razões, culturas, formas de ser e pensar…em ordem a um desenvolvimento assente na dignidade da pessoa humana. Que bom seria que, numa sensibilidade social (desejada de forma sempre maior), fosse enaltecida a consistência de projectos (que são vida) que no silêncio de todos os dias procuram semear os valores da paz, do sentido do outro e da educação (a chave do futuro).
2. O Projecto Novas Sendas (promovido pela Cáritas Diocesana de Aveiro e com o apoio parceiro de inúmeras entidades da região, de autarquias até às áreas de saúde, educação-formação, segurança social, emprego, pastoral) representa este sinal da cooperação entre todos em ordem a uma integração social positiva e estimulante da diversidade. Derivando de anterior projecto “Senda Gitana”, este “Novas Sendas” nasceu em Fevereiro de 2005, chegando ao (final no) presente como um rasto de luz para a população de etnia cigana dos três bairros do Lugar de Ervideiros (Quinta do Simão). Uma esperança se vai confirmando ao observarmos as crianças a quererem a Escola e os seus Pais a considerarem como importante a convivência e a formação…
3. Deste esforço de anos, um eco de co-responsabilidade social vai dizendo que o projecto não pode parar. Chega-se, sim, ao final de uma etapa, pois parar seria o risco de deitar a perder este esforço intercultural de anos. Não é nem foram teorias, foi a vida no “terreno” (como tanto sublinha a coordenação), no procurar semear nas famílias o ideal de que uma sempre mais saudável forma de viver é possível e desejável. Um caminho feito numa ténue e por vezes surpreendente fronteira, entre o respeito cultural e a dignidade das pessoas. Visionário projecto que transforma as mentalidades de uns e outros, a ponto de não se ficar à espera dos problemas para obter soluções. Se é certo que as dificuldades sempre persistem, a procura antecipada de soluções comprometidas e alargadas confirma que, também nesta área, Aveiro vai abrindo as portas do futuro.
4. Uma realização dinâmica, em que também a “imagem social” das comunidades diferentes vai mudando (embora lenta), nesta aprendizagem inclusiva da cultura do outro e numa convergência recíproca, tendo como horizonte a dignificação da pessoa humana. Assim continue, cada vez mais, sempre ensinando a “pescar”. No “terreno”, dando e recebendo, estimulando esses “outros” que graças ao “projecto” são hoje mais próximos, esses que também somos nós. Se assim não for, adiaremos o futuro.

Alexandre Cruz

Foto: Crianças do projecto "Novas sendas", do meu arquivo


NATAL
:
Um anjo imaginado,
Um anjo dialéctico, actual,
Ergueu a mão e disse: — É noite de Natal,
Paz à imaginação!
E todo o ritual
Que antecede o milagre habitual
Perdeu a exaltação.

Em vez de excelsos hinos de confiança
No mistério divino,
E de mirra, e de incenso e oiro
Derramados

No presépio vazio,
Duas perguntas brancas, regeladas
Como a neve que cai,
E breves como o vento
Que entra por uma fresta, quezilento,
Redemoinha e sai:


À volta da lareira
Quantas almas se aquecem
Fraternamente?
Quantas desejam que o Menino venha
Ouvir humanamente
O lancinante crepitar da lenha?

Miguel Torga

In “POESIA COMPLETA”

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 50



FESTA DAS CRUZES OU DO ABRAÇO

Caríssima/o:


“Por fim, em Guardão (Vila do Caramulo), Festa das Cruzes ou do Abraço (quinta-feira da Ascensão) com bênção dos campos (ritual propiciatória da abundância). Há quem lhe chame Festa das Ladainhas com o abraço das cruzes (processionais) de vários povos em redor, cerimonial ligado à lenda de batalha dos infiéis e o povo de Guardão festejou com abraços depois da vitória. “
Assim podíamos começar a conversa que pessoa amiga puxou e toda ela está envolvida em lenda. Mas afinal onde fica Guardão?

«Freguesia do concelho de Tondela e do distrito de Viseu, possui uma área de 18.700 km2.
Enquadrada pela Serra do Caramulo, dista cerca de 20 km da sede concelhia e abrange as seguintes povoações: Cadraço, Carvalhinho, Caselho, Ceidão, Guardão de Cima, Guardão de Baixo, Janardo, Jueus, Laceiras, Caramulo, Pedrógão.
A antiguidade da povoação, anterior à fundação da Nacionalidade Portuguesa, é comprovada pelo Castro de São Bartolomeu, situado num cabeço a 631 metros de altitude, onde se encontram inúmeros vestígios de outras épocas, como cerâmicas ou moedas medievais, cuja origem se desconhece, mas que facilmente se poderá ligar à existência de uma feira na região, desde o período de formação de Portugal.
Pensa-se que Guardão constituiria um dos extremos da "civitas" romana.»

Afinal como se processa o “abraço”?

«Enfeitadas com ouro, laços e flores, as cruzes saem em procissão das respectivas Capelas, levando na frente o pendão da freguesia. Encontram-se todas no adro da Capela de São Bartolomeu, seguindo os cortejos, depois, um por um, para a Igreja de Nª Sª dos Milagres.
Pelas dez horas da manhã, chegam as primeiras cruzes, as de Santiago, depois as de Santa Eulália e, por fim, as de Castelões.
À chegada das primeiras cruzes, anunciadas pelo tocar do sino, saem da Igreja Matriz as cruzes de Guardão, dirigindo-se para o largo, junto do cruzeiro, de modo a receberem aí os primeiros cruciferários. À medida que vai chegando cada um dos cortejos, cumpre-se o ritual do “tocar das cruzes”, até que, no final se unem todas “como num abraço”.

Este cerimonial que se realiza, segundo a população, há mais de mil anos, pretende recordar e homenagear o abraço dado pelos habitantes aos soldados que ali, um dia, lutaram contra os Mouros, expulsando-os, definitivamente, daquela região.»


Um tanto longe do tempo, entremos no espírito deste abraço e brindemos com o povo!

Manuel

Na Linha Da Utopia

SEM DILEMAS, COM REALISMOS 1. A complexidade da vida em sociedade democrática faz com que os dilemas que, de quando em quando se vão levantando, sejam ineficientes em ordem a um sempre maior desenvolvimento futuro. Dilemas como “público ou privado”, “tecnologias ou filosofias”, “igrejas ou estados”, “máquinas ou pessoas”, quando ainda tornados presentes espelham uma visão parcelar (quando não mesmo radical) da realidade que é bem mais abrangente que qualquer esquema predefinido. Quando se quer considerar a realidade como se ela fosse “preta ou branca” estamos diante de uma visão pragmática e tecnocrática que se fica pela rama… O tempo histórico dos dilemas na abordagem social, como se esta pudesse ser vista numa linha instrumental, teve a sua época e quando ainda brilham reflexos desta forma de pensar será porque as bases de uma memória aberta e consciente andam pela rama. 2. A própria história, na sua construção (dialéctica) em crescendo é mesmo assim, e tantas vezes as querelas culturais entre os conservadores do passado e os progressistas do “amanhã” ocuparam demasiado espaço, como se a história das pessoas em sociedade fosse algo desgarrado da vida simples e concreta e não tivesse a capacidade razoável de ser receptora dos impulsos renovadores. (Por vezes assim foi!) Um desses momentos marcantes, que valerá a pena recordar, de tensão entre o passado e o futuro foi a famosa crise cultural francesa dos fins do séc. XVII, a designada de “Querela dos Antigos e dos Modernos” (1687-1715); uma “guerra” cultural na viragem do século e no fim de uma época. Dizem os estudiosos que este tempo, em muito, preparou as ideias futuras, mesmo nas ciências das sociais e psicologias. 3. Sendo certo que os tempos de mudança acelerada (como a globalização presente) desafiam grandemente à consistência dos valores essenciais, verificamos que diante das tensões e fragmentações sociais ganha essencial importância o equilíbrio de pontes entre o passado e o futuro. A mudança (silenciosa) de paradigmas em andamento que vão transformando as concepções de Família, Escola, Religião, Estado, Comunicação (on-line)… precisam de novas pontes de entendimento e não de dilemas que separam toda a densidade da realidade, hoje em “rede”. Neste procurado equilíbrio, não há fórmulas, na certeza de que o futuro daqui a uma década será muitíssimo diferente do passado de há dez anos. Basta ouvir os sentimentos que pairam nas “ruas” do mundo para que a apreensão se transforme em pontes de realismo para um saudável futuro. Na obra “As Chaves para o séc. XXI” (com a UNESCO, 2000), sublinha-se que este não pode ser um monólogo tecnológico, mas de diálogo entre as pessoas. Aqui todos os instrumentos podem ajudar, mas tudo depende, cada vez mais, dos valores realistas dos utilizadores. Afinal, sempre assim foi! Alexandre Cruz

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

DIA INTERNACIONAL DO VOLUNTARIADO


Celebra-se hoje, 5 de Dezembro, o Dia Internacional do Voluntariado. Penso que ninguém no mundo ignora a impor-tância de quem se dedica ao serviço dos outros, em especial dos que mais precisam. Os voluntários estão por toda a parte, servindo, gratuitamente, quem está necessitado do essencial para vi-ver. Há organizações vocacionadas e organizadas para responder às mais variadas solicitações, tanto nos campos de guerra como nas zonas de catás-trofes naturais. Tanto junto de quem passa fome e sofre de doenças graves como dos que se encontram perseguidos pelas suas ideias políticas ou religiosas. Seria extensíssima a lista de quem precisa da acção generosa dos voluntários. Mas todos sabem que é assim, pelo que me fico por aqui.
Quero, contudo, enaltecer quem se dá sem esperar nada em troca. Quem vive para os outros. Quem está sempre atento a responder a situações de carência.
Por isso, esta nota, com uma sugestão. Quem puder, e todos podemos duma forma ou outra, dê um pouco de si a quem mais precisa. Nem que seja, apenas, um sorriso e uma palavra de conforto.

FM

Gafanha da Nazaré: Adjudicada requalificação do Jardim Oudinot


A obra de requalificação do Jardim Oudinot, que se encontrava a concurso público, já foi adjudicada ao consórcio Conduril, SA e Rosas Construtores, SA. O espaço está transformado daqui a cinco meses


O concurso público para a execução da obra de requalificação do Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré, foi, anteontem, adjudicado pelo Executivo municipal, ao consórcio Condurir, SA e Rosas Construtores, SA. A obra, com um valor estimado de cerca de três milhões de euros, tem um prazo de execução de cinco meses. O processo seguiu, agora, para visto do Tribunal de Contas, perspectivando-se o início da obra já para o próximo mês.

Ler mais em Diário de Aveiro

LÍNGUA PORTUGUESA


Língua Portuguesa vai dispor de portal
a partir de meados do próximo ano



A Língua Portuguesa vai dispor, a partir do segundo semestre do próximo ano, de um portal – Lingu@e – que visa pensar a língua em termos práticos, como disse ontem Rui Machete. O presidente da Fundação Luso-Americana de Desenvolvimento (FLAD) falava em Lisboa, no âmbito do protocolo ontem assinado entre esta fundação, o Instituto Camões e o Gabinete em Portugal do Parlamento Europeu, que tornará possível colocar o portal na Internet.
Actualmente o portal, “em fase bastante embrionária”, como disse Rui Vaz, do Instituto Camões, está ligado ao site deste instituto, http://www.instituto-camoes.pt. A sua presidente, Simonetta Luz Afonso, disse à Lusa que “em finais de Maio, princípios do segundo semestre, o portal entrará em funcionamento pleno”.
A responsável salientou que o português, sendo falado “por apenas 10 milhões de pessoas na Europa, é falado por 230 milhões no mundo”, sendo a terceira língua europeia mais falada internacionalmente. Este portal visa debater o Português no âmbito da problemática do multilinguismo europeu e “como a Língua Portuguesa e outras línguas comunitárias globais podem ser instrumento de projecção das relações exteriores da União Europeia”.
Paulo de Almeida Sande, do Gabinete em Portugal do Parlamento Europeu, referiu, a propósito, que esta assembleia parlamentar “é um exemplo de como conciliar 23 línguas oficiais diferentes” e que o portal permitirá “registar” grande parte do debate que se faz a propósito do multilinguismo. “Será um instrumento não só de diálogo como um repositório de documentos produzidos pelos vários debates que se têm feito sobre o multilinguismo”, disse. O portal terá sete temas de debate, cada um com um coordenador específico.


Leia mais em PÚBLICO on-line

ARES DO OUTONO


ILHA DE SAMA OU ILHA DO REBOCHO
As tecnologias fazem por vezes quase o impossível. Na Gafanha da Nazaré, junto ao Porto de Pesca Longínqua, vê-se ao longe a célebre Ilha de Sama, também conhecida por Ilha do Rebocho. O que mal se vê ou vê mal a olho nu pode ser ampliado por qualquer razoável máquina fotográfica. O que fica, nesta fotografia, é uma imagem do abandono a que foi votada a ilha. A casa em ruínas dá a sensação de que é filha de guerra ou de puro esquecimento. Numa zona turística talvez a ilha pudesse ser devidamente aproveitada. Outrora foi propriedade agrícola, não sei se muito ou pouco produtiva. Mas tinha alguma vida. Hoje, está em agonia plena.

O NATAL DE TODAS AS NOITES

No CUFC, 10 de Dezembro, 21 horas


Em mais uma Conversa Aberta do Fórum::Universal, no CUFC, no próximo dia 10 de Dezembro, segunda-feira, pelas 21 horas, vai reflectir-se sobre O NATAL DE TODAS AS NOITES. Tema sem dúvida oportuno e desafiante. Urge pensar, de facto, num Natal de sempre e para sempre. Sem hesitações.
Como convidado, estará presente João Abrunhosa, presidente da Comunidade Vida e Paz, que põe em prática, todas as noites, junto dos sem-abrigo de Lisboa, a utopia, para muitos, de um Natal durante todos os dias do ano. Ano após ano. Quando se diz que o Natal é sempre que o homem quiser, para muita gente não é utopia. É realidade palpável, sentida, talvez, por quem está sem norte, sem auto-estima, sem horizontes de qualidade de vida digna.
Estou certo de que muitos hão-se saber aproveitar muito da experiência de João Abrunhosa. Da sua experiência e do seu testemunho, decerto rico no saber estar com quem sofre e nada tem. Nem pão, nem família, nem calor humano, nem trabalho, nem amigos. E na noite do dia 10 de Dezembro, quem sabe se um ou outro não sairá da Conversa Aberta com vontade de se abrir um pouco mais a quem mais precisa.

Fernando Martins

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Na Linha Da Utopia

A CIMEIRA 1. Aproxima-se a “hora” da Cimeira Europa-África. Depois de longa preparação e expectativa sobre as presenças e ausências, dos que ficam em hotéis ou em tendas, dos que tomam as refeições oficiais ou trazem as suas cozinhas, eis que finalmente, no próximo fim-de-semana realiza-se, sob a coordenação da presidência portuguesa da UA, a tão desejada Cimeira Europa-África. Para Portugal é importante que corra bem. Para os países europeus é o “regresso” geopolítico a África. Para África é a presença diplomática como um “mostrar-se” na estabilidade para consolidação de parcerias socioeconómicas. Para além deste pró-forma haverá oportunidade para agarrar a fundo as questões fundamentais de um mundo desequilibrado em desigualdades gritantes? Que frutos para o futuro serão expectáveis de tão grandioso encontro? 2. Desde já, uma conta parece estar garantida. A Cimeira, acima do previsto, custará ao Estado (aos contribuintes portugueses) dez milhões de Euros. Pelo valor garantido muito se tem mesmo de esperar de um fim-de-semana tão pesado que, mesmo assim, conta com quatro ausências dos 27 europeus (Reino Unido, República Checa, Eslováquia, Lituânia). Não faltará o champanhe, como há dias no brinde da presidência chinesa com o presidente da Comissão Europeia e o primeiro-ministro de Portugal; direitos humanos, depois! Também o próprio ditador Mugabe do Zimbabwé beberá duas taças, a dele e a da ausência de Gordon Brown; direitos humanos, a ver vamos. Tudo preparado, num cumprir de calendário onde alguns desafios estão em agenda. 3. Paz e segurança; desenvolvimento; democracia; energia; migrações e alterações climáticas; direitos humanos; Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Em perspectiva oito parcerias estratégicas entre a União Europeia e a União Africana, também num forte apelo às sociedades civis africanas. Da parte africana, das 53 presenças possíveis, estarão em Lisboa 46 ou 47 chefes de Estado. É importante que tudo corra bem, especialmente para Portugal. A diplomacia da presidência portuguesa já considera “histórico” o acontecimento (Diário de Notícias, 4 Dez.). Já?! Será por se esperarem poucos frutos concretos ou tudo já estará predefinido? Então, Cimeira para quê? Ou não haverá (sequer algum) significativo discurso directo? Estará a diplomacia do gabinete a fechar o diálogo político vivo? 4. Tudo com chefes de Estado…Não haverá para além destes quem dê eco das sociedades concretas? Que nova conjugação possível entre diplomacia política e verdade social? Tantas vezes não se chegam a soluções, também porque os chefes de Estado vivem longe dos problemas. Alexandre Cruz

Violência nas escolas


MAIS DE 300 PROFESSORES
E FUNCIONÁRIOS AGREDIDOS


Algo vai mal nas escolas portuguesas. Quando mais de 300 professores e funcionários são agredidos no ano lectivo de 2006/2007, temos de reconhecer que o mundo da educação e da aprendizagem tem um longo caminho a percorrer para se tornar num mundo onde o respeito por quem aprende e por quem ensina e educa é norma que todos aceitam e cumprem.
Confesso que acho estranho reconhecer-se que, nas escolas portuguesas, a violência, mesmo circunscrita a certas zonas, é uma situação sem solução à vista a curto prazo. Os professores e demais educadores precisam, mesmo, não de guardas, mas de condições que permitam uma educação integral dos alunos, com apoios altamente qualificados. Os improvisos e as soluções de remedeio não levam a parte nenhuma.
Urge, de facto, estudar-se o problema, até porque, creio eu, não faltarão estudos, técnicas e gente qualificada para enquadrar os violentos e os mal-educados num clima propício à educação. As crianças não precisam de ser enjauladas para serem educadas. Mas precisam, isso sim, de acompanhamento adequado na hora certa.

ARES DO OUTONO





Gafanhão que se preze não passa sem navios. E se não puder navegar, não resiste a passar por onde eles estão, como que a descansar das labutas no mar alto. Nos portos de pesca, na Gafanha da Nazaré, há sempre navios à espera que os gafanhões, e não só, os apreciem. Ontem por lá andei a contemplar estes bravos que, com homens valentes, enfretam, por vezes, a brutalidade das ondas marinhas. Mas também pensei no que foi a frota portuguesa antes da entrada na UE. A mais importante e mais dinâmica do País ancorava na Gafanha da Nazaré. Agora... é melhor pensar que um dia ela poderá regressar.




COMO O PÃO DE CADA DIA



Começou pela caridade, passa pela esperança e tudo leva a crer que nos conduzirá proximamente à fé. Bento XVI, na sua segunda Carta ao Povo Cristão. Que, como "encíclica" se destina a circular pelas comunidades para ser lida como uma epístola de Paulo ou de Pedro aos cristãos dispersos por diversas igrejas.
Tal como Paulo fazia, conhecedor da realidade e da missão da Igreja, Bento XVI fala a este tempo a partir do olhar sobre os acontecimentos convertidos em sinais que precisam ser lidos com a iluminação da fé. E parece-nos de facto muitas vezes que o homem de hoje anda um pouco perturbado com os sinais preponderantes ou que mais se impõem nas narrativas de palavras e imagens que constituem sempre referência aos caminhos por onde andamos. E pode dizer-se que estes tempos não são, para muitos, timbrados de esperança. Há uma série de esforços e promessas em muitos terrenos que parecem ter fracassado. A fome ainda habita o nosso mundo e o nosso país nas suas múltiplas formas. Os acordos e tratados, convenções e cimeiras parecem sugerir-nos um novo tempo de paz parecido com o sonhado por Isaías. Mas os tropeços são constantes e a paz perde-se outra vez no horizonte, como ponto minúsculo e inalcançável. E por aí adiante.
É neste contexto que a esperança ganha uma especial dimensão e oportunidade. Tal como a fé, sua parente íntima que não se define pelo somatório de razões lógicas ou filosóficas, a esperança não brota como instinto de saída de emergência para as crises, ou dum optimismo barato que só vê meia face do globo, como se a noite não existisse. É nesse complexo de luz e sombra que a esperança brota. Com algo desconhecido: "esse desconhecido - diz o Papa - é a verdadeira "esperança" que nos impele e o facto de nos ser desconhecida é, ao mesmo tempo, a causa de todas as ansiedades como também de todos os impulsos positivos ou destruidores, para o mundo autêntico e o ser humano verdadeiro."
Tudo isto tem a ver com Deus. A esperança é sobrenatural. Mas o problema é que muitos crentes, mesmo cristãos, em matéria de esperança, ainda que com muita fé, não vêem mais longe que os pagãos porque se refugiam nos seus próprios becos. É a novidade dum horizonte desenhado pela redenção de Jesus que importa proclamar ao mundo de hoje para que se não aprisione nos próprios instrumentos de redenção.
Mesmo com alguns acentos técnicos e teológicos mais áridos, esta carta de Bento XVI clarifica o momento que vivemos e o grande depois que é a eternidade. Com a esperança colocada de permeio. E algumas propostas concretas de celebrar a vida e a morte e o além, na esperança… onde somos salvos. Por isso é tão importante pedir a Deus a esperança. Como pedir o pão de cada dia.

António Rego

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Mensagem de Advento e Natal


Neste Advento e Natal de 2007, como Organizações Católicas de apoio aos Imigrantes, queremos, enviar uma mensagem de paz e esperança, de alegria e solidariedade a todos os homens e mulheres do nosso país, solidarizando-nos com todos, mas, de uma forma muito especial, com todos os que, devido a circunstâncias adversas nos seus países de origem, escolheram ou se viram forçados a escolher Portugal para viver e trabalhar.
Vivemos tempos difíceis! As situações de crise económica, política e social repercutem-se, cada vez mais, na vida concreta das pessoas, e manifestam-se de maneira especial, na falta e precariedade de emprego e, por consequência, num maior empobrecimento de grande parte da população, fazendo aumentar os conflitos sociais, originando vagas de migrações que buscam, longe das suas terras, os meios para viver com o mínimo de dignidade.
A situação actual de crise económica afecta todos, mas especialmente os pobres e com mais força os imigrados, frequentemente em situação irregular e precária, sendo explorados, sem direitos efectivos e sem esperança. Nós, porque conhecemos directamente a realidade dos imigrantes, queremos partilhar com todos e de uma forma especial com os cristãos, pistas para reflexão e partilha afim de que na nossa caminhada de Advento possamos criar atitudes que, face ao fenómeno das migrações, nos ajudem a viver um Natal centrado no mistério da explosão de alegria surgida em Belém com Jesus, o imigrante por excelência, que integrou a história da humanidade.

Fórum de Organizações Católicas de Apoio aos Imigrantes (FORCIM)

ARES DO OUTONO





O Forte da Barra, em dia de Outono frio e húmido, não deixou de ser agradável à vista. Passei por lá e registei estas imagens que partilho com todos, em especial com os emigrantes que daqui partiram para um dia voltarem às origens.

DIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA



Hoje celebra-se o Dia da Pessoa com Deficiência. Para recordar que os deficientes existem e que têm direitos. Se pensarmos bem, todos nós temos, de alguma forma, uma qualquer deficiência. Mas não me refiro a esses, os que, por exemplo, têm de usar óculos para poderem ver melhor. Refiro-me aos que estão mais limitados para viverem no dia-a-dia. São esses que precisam que os tratemos como pessoas de pleno direito, embora carentes de infra-estruturas para se movimentarem com naturalidade. E para viverem dignamente.
Há, em Portugal, e decerto no mundo civilizado, instituições vocacionadas para apoiarem a pessoa com deficiência. E aí, se muitos de nós quisermos, poderemos contribuir para facilitar o mundo aos que estão nessa situação.
Há sempre algo que poderemos fazer pelos outros. Quem sabe se amanhã não seremos nós a precisar.

Na Linha Da Utopia

TÃO ANTES DO TEMPO QUE… 1. Não esquecemos uma história, já lá vão uns cinco anos, numa grande superfície comercial da região. Lembramo-nos que era o dia 7 de Novembro e os locais de comércio estavam a ser engalanados para a chamada quadra comercial natalícia. Nesta história real, havia um avô, uma mãe e uma criança. Três gerações diferentes diante do mesmo acontecimento. O choro da criança era a todo o custo o pedido exigente à mãe para lhe comprar aquele brinquedo. Ela, talvez para conseguir acomodar a situação, parecia na disposição de fazer a sua vontade… Entretanto, intervém o avô, guardião da tradição, com um chavão que gravámos na memória: “não, o Natal é só em Dezembro!” 2. O “século” que vivemos vai elegendo o comercial acima de tudo, já nem se conseguindo um domingo à tarde (em certas quadras) que seja para estar em família, conversar, passear ou descansar. A concorrência aberta, bom sinal no sentido pluralista, não havendo “bela sem senão”, faz do chegar primeiro o lema de todas as casas. E com o passar dos anos vem-se ampliando toda a antecipação de tudo, em que quando se chegam aos dias festivos já pouco faz sentido. Saturação. O “mágico” das quadras especiais, como o Natal, vai-se diluindo pelo tempo fora… Que bom seria que esses mesmos valores correspondentes (ao menos da tradição) também fossem passando, mas parece que quanto a esses o Pai Natal Comercial abafa, este tornou-se dono e senhor. 3. O homem do saco vermelho já há muito que anda por aí, e até vai tendo direito a entradas triunfais como se ele merecesse toda a adoração. Em vez de “amor e paz” a sua palavra mágica é “prendas”e mais “prendas”, num ter que se gasta e vai arrefecendo o tão essencial calor humano da ternura dos gestos sensibilizantes. É um facto. E se os grandes têm a distância crítica de quem sabe a origem e o sentido do Natal (e em que os gestos calorosos são o seu prolongamento festivo), já aos pequenos, predominantemente, pelo que vemos, pouco lhes interessa alguma mensagem. E mais, de tanta sobrecarga de prendas e coisas tanto antes do tempo, quando chegar o dia nada tem sentido, nada tem valor. 4. Este ano a meados de Setembro começou a “vender-se” Natal. Para o ano, será em Agosto? Pela quantidade das coisas vamos perdendo o calor dos gestos... Verdade? Exagero? Os vindouros serão o que “lhes damos” hoje. Seja o AMOR o presente mais dado. Não estraga, é gratuito, tem todo o futuro e representa mesmo o verdadeiro Natal! Até nesta mensagem da “memória” os avós são tão necessários. Alexandre Cruz

domingo, 2 de dezembro de 2007

Na Linha Da Utopia

A ESPERANÇA 1. A esperança é o encontro com o desejado (bom e belo) futuro. Uma esperança que supera toda a ciência e tecnologia, pois que abarca a totalidade da existência, como encontro do que se é com o que se procura, envolvendo tudo o que se sente de mais profundo. Nesta fase histórica da globalização comunicacional do séc. XXI, que sobrecarregada nas mudanças de paradigmas de pensamento-vida gera um ansioso pessimismo, falar e propor esperança é perspectivar e antecipar um amanhã melhor que relativiza o poder das “coisas” ou dos “sistemas” e eleva a dignidade humana como centro de toda a experiência histórica. 2. Que bom seria que todos os líderes das grandes instituições, ciências sociais e humanas, filosofias, e religiões, esboçassem o seu Tratado da Esperança como compromisso com o futuro do século…e nesse caminho de reflexão sentissem o comum desígnio humano como transcendência, numa realização humana que se completa para além da historicidade sempre limitada. Diremos que neste aprofundamento dos valores essenciais da paz, amor, esperança, sentido da vida, todas as energias ganham proximidade, parceria, dando assim, “razões” para acreditar na esperança, pois esta não pode ser palavra “vã” que se professa sem se alimentar da interioridade…pois só depois se manifestará na (vida ética da) exterioridade histórica concreta. 3. Como que procurando partilhar uma mensagem esboçada nas raízes do ocidente, Bento XVI na recente Carta Encíclica (Spe Salvi – Salvos na Esperança) propõe-se a essa reflexão, na qual constrói o caminho da esperança, do Humano ao Divino, que para os cristãos brota na Primeira Pessoa. Nesta proposta da Esperança Cristã que culminará com a reflexão da época patrística (Agostinho de Hipona) e do magistério eclesial, o papa cita Platão, Lutero, Kant, Bacon, Dostoiesvski, Engels e Marx. Numa visão de confronto reflexivo, visando uma distância crítica em relação aos sistemas técnico-sociais que, levados ao absoluto, podem asfixiar a esperança. 4. A esperança, como brotar contínuo de um sentido da vida que não “seca”, não se compra nem se vende, nem se produz em laboratório ou se detecta nas tecnologias da comunicação, por mais aperfeiçoadas que venham a ser. A esperança exige a “entrega” para além de si mesmo e para além das visões da história humana, sempre procuradora de verdades maiores. A viagem dos anos da vida apura a esperança, e em circunstâncias onde as forças da lógica racionalista humana nada valem… essa luz de esperança existencial (no fundo, sempre procurada) brota anunciando um amanhã melhor. Não é algo da ordem das pressas técnicas, exige a capacidade de sabedoria poética, elevada ao infinito! Não haja dúvida, na junção de todas as reflexões da esperança, o edifício da Nova Humanidade ganhará alicerces para todo o futuro! Alexandre Cruz

DIA DA ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA




Comemora-se hoje o Dia da Abolição da Escravatura. A oportunidade desta comemoração é evidente. A escravatura desde sempre existiu à face da Terra. E continua a marcar a existência de muitos seres humanos. Foi oficialmente abolida em muitos países, mas ainda existe em muitos outros. Até naqueles onde se julga que a escravatura foi erradicada há muito.
Quando se fala de escravatura, logo nos vêm à mente cenas de pessoas acorrentadas e ligadas, como bichos, a trabalhos forçados. Seres humanos tornados animais de carga. Sem direitos, sem voz, sem projectos de vida, sem felicidade. Eram comprados e vendidos como gado nas feiras. Eram propriedade absoluta de quem os comprava, com direito a fazer deles o que quisesse.
Contudo, e sem podermos esquecer esse tipo de escravatura, não podemos ignorar a realidade dos tempos actuais em países civilizados e democráticos. É sabido que há novas e subtis formas de escravatura. Escravos do sexo, escravos de negócios sujos, escravos de patrões cegos pelos lucros fáceis, escravos do dinheiro que todos os sentimentos abafa, escravos de ideologias desumanizantes, escravos de máfias que os exploram sem piedade. Mais ainda: crianças forçadas a trabalhos de adultos, crianças escravizadas na pedincha, crianças-soldados em guerras que não entendem, crianças-artistas sem tempo para brincar, crianças abusadas por adultos tarados, crianças sem direitos de crianças.
O rol das novas formas de escravatura seria interminável. Mas o que disse já será minimamente suficiente para reflectirmos sobre a escravatura que ainda existe entre nós. Para que um dia todos os homens e mulheres deste mundo sejam pessoas livres.

Fernando Martins

ACOLHER A DEUS QUE VEM



Deus faz-se humano e quer acolher-nos. Pretende encontrar-se connosco e ser nosso amigo e companheiro. Vence todas as barreiras para se fazer próximo e dar a conhecer este seu desejo. Quer ajudar-nos a ser humanos, abrindo-nos horizontes de realização plena. Quer indicar-nos o caminho a percorrer, os valores a cultivar, as opções a fazer, as atitudes e os gestos a vivenciar. Quer envolver-se na história humana, potenciando capacidades e ajudando a superar limitações. Quer ser verdadeiramente o Emanuel, o Deus connosco.
É este o sentido profundo do Advento que marca o início do Ano Litúrgico. É uma espécie de tempo novo em que o modo de ser e de agir de Deus se vai dando a conhecer progressivamente. E também a maneira como reage a humanidade.
A história bíblica constitui um rico documentário desta relação mútua. Deus mantém-se sempre fiel. O povo nem sempre e faz outras opções. Surgem então os profetas que recordam o propósito divino, as promessas feitas, a aliança celebrada. E anunciam que o Emanuel vai nascer. É necessário estar atento e vigilante, preparar-se para o acolher, pronto e disponível lhe corresponder.
Jesus é este Emanuel. O seu nascimento é o Natal cristão. A atitude mais correcta é a vigilância do espírito, fruto de uma consciência lúcida e de um coração sensível. A resposta mais acessível e coerente é o cultivo da liberdade para, sem medos nem inibições, o acolhermos com alegria e verdade.
A atitude vigilante supõe e exige forças dinâmicas que nos fazem viver um humanismo de qualidade: a esperança, a sobriedade, o trabalho, a responsabilidade, a oração que constitui como que a seiva de todas as outras.
A esperança tem como alicerce a promessa feita e Deus não falha. A sua vinda é certa. O envolvimento no seu projecto depende de nós. A sobriedade faz-nos ser donos de nós mesmos e partilhar generosamente os bens com os necessitados. O trabalho desenvolve capacidades indispensáveis à nossa realização e à dos outros. A responsabilidade leva-nos a dar a melhor resposta aos desafios que nos chegam, quer provenham das situações humanas, quer da urgência de testemunhar de modo credível o Evangelho.
Estas forças dinâmicas, além de tornarem mais humana a nossa vida, dão um contributo valioso à humanização da sociedade. O natal da nova humanidade está a surgir e pode ser apressado. Precisa do esforço de todos, especialmente do contributo de pessoas enraizadas na fé, alegres na esperança e empreendedoras no amor gratuito.



Georgino Rocha

A IMPORTÂNCIA E O PREÇO DA DEFESA DO AMBIENTE



Nos próximos cinco anos, Portugal vai gastar 348 milhões de euros para cumprir o Protocolo de Quioto. Um esforço financeiro que custará a cada português cerca de 35 euros. Para tanto, parece pouco, mas não chega para inverter a tendência destrutiva global que ameaça o ambiente.
Depois de anos de apelos e campanhas de sensibilização, a carteira está identificada como a única, e derradeira, forma de estimular a protecção do ambiente. Assim, os próximos anos serão de aumentos significativos no que aos recursos naturais diz respeito. O objectivo da União Europeia é que se consuma menos água quando quem a utiliza passar a pagar, além do custo real, o custo ambiental; que se produza menos lixo, quando a taxa de resíduos começar a reflectir o real custo do seu tratamento, cada vez mais complexo.
Para o ano, o Orçamento do Estado prevê já que 60% do valor do imposto automóvel seja calculado consoante as emissões poluentes do veículo. É justo que paguem mais os que poluem mais. Mas, nesta matéria, o dinheiro apenas ajuda a limitar os estragos ambientais, porque muitos são irreversíveis.
É incompreensível que uma questão de bom senso, que nos beneficia a todos, tenha de ser imposta à força e com sacrifícios económicos que as famílias podiam evitar ou, pelo menos, minimizar, se se empenhassem a fundo na defesa do ambiente.
Mas nunca é tarde de mais para começar.

Editorial do DN de hoje

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 49



TREVÕES ... A LENDA DO POÇO




Caríssima/o:

Venham comigo, acompanhar a Mariana, até Trevões. Servir-nos-emos de vários escritos:

«Entre as serras vestidas da Beira e os montes despidos do Douro, situa-se Trevões, povo tão importante e antigo que já os documentos medievais falam dele.
Foi cabeça de concelho até ao liberalismo, senhoreado por fidalgos de elevada estirpe, que aqui deixaram suas moradas, das quais a mais importante é o Solar dos Caiados Ferrões, numa construção que remonta ao século XVIII.
Durante muito tempo, numa casa apalaçada e com magníficos dourados, junto ao adro da igreja, teve o bispo de Lamego a sua residência de férias e de Verão.
»
[À Descoberta de Portugal, Selecções do Reader's Digest, 1982, pág. 95]

«É terra de remoto povoamento. Há documentos do século XII que se lhe referem. No final da Idade Média sofreu, como tantas outras da região de Riba-Côa e de Tarouca, as prepotências dos senhores de Marialva e Penedono, os Meneses, de cuja estirpe foi representante típico, pelo uso da violência, o mal afamado Sousa Coutinho. Aqui mesmo um prelado de Lamego foi preso e humilhado por esse fidalgo atrabiliário. A vila recebeu foral manuelino em 1512. Pela reforma de 1855, perdeu a categoria de cabeça de concelho. Na povoação decaída, há solares de algumas estirpes beiroas e transmontanas (Sarmentos, Caiados, Almeidas).
A igreja paroquial (mon. nac.), talvez do séc. XIII, conserva ainda acentuados traços da sua estrutura românica: paredes de grande espessura, arco do portal de ponto subido, cantarias sigladas.
»
[Guia de Portugal, Gulbenkian, 1988, vol. V, pág. 790]

«Desde a primeira dinastia que Trevões foi couto da Sé lamacense, pertenceu a vários senhores e ao rei (reguenga), povoada por carta de foro de 1159 de D. Afonso Henriques com D. Fernão Mendes «de Bragança» (Braganção) e D. Sancha Henriques, sua mulher e irmã do monarca (quem fez doação à Sé, tornando a vila «couto» episcopal e D. Dinis, na devassa, mandou respeitar).

D. Manuel I deu foral novo à vila e concelho de Trevões, a 15 de Dezembro de 1512. Teve hospital e misericórdia.
Trevões foi elevada a Paróquia no século XIII e tem como padroeira Santa Marinha que, segundo reza a história, foi uma das nove irmãs martirizada e perseguida por se converter ao cristianismo, acabando por ser degolada após sucessivas torturas, das quais saiu miraculosamente curada. Realiza-se em Julho a festa em sua honra.
É uma terra de grande religiosidade, bem patente no grande número de capelas e ermidas que apresenta e na existência de ricas tradições e manifestações de índole religiosa, não podendo deixar de destacar-se, a Capela de Nossa Senhora da Conceição do século XVII, situada na praça da vila, bem como a conhecida Procissão do Senhor dos Passos que se realiza em Abril durante a Semana Santa.
A sul ( e a mais de meia hora de tractor) levanta-se a serra do santo Sampaio e capela que deu origem a rivalidades e (graves) desentendimentos (até inícios da década de 70) com os de Penela que o disputavam. Por isso (antigamente) em dia de procissão (da freguesia à serra), o andor entrava às arrecuas na ermida (de costas voltadas para os de Penela).»
[De documento fotocopiado que possuo.]


Aqui chegados, dizei-me se há necessidade de lenda?
Mas para que não digam coisas, deixo-vos com uma deliciosa que encontrei no sítio da Escola de Várzea de Trevões, freguesia que fica mesmo ali ao lado:

«Era uma vez os mouros que habitavam em Várzea de Trevões e quando eram muito velhinhos pegaram em três panelas, uma contém pês(fogo), outra contém prata e a outra ouro. Enterraram as 3 panelas num poço e cobriram com uma rocha e terra, donde nasceu uma nascente.
Quem nelas mexer terá que encontrar a panela de ouro, pois se encontrar a de prata arrebenta com o poço, se encontrar a de pês(fogo) arrebenta com a Freguesia, daí nunca ninguém lá ter mexido para exploração da água.»


Esperando que tenham gostado do passeio, fica o

Manuel

sábado, 1 de dezembro de 2007

NATAL


Até ao Natal de Jesus Cristo, 25 de Dezembro, por aqui hão-de passar, como é meu desejo, sinais desse marco histórico que mudou o mundo. Em prosa ou em verso, em fotografia ou noutros registos, esta será uma maneira simples de saudar quantos passarem, mesmo de fugida, pelo meu blogue. Obviamente, gostaria que outros se associassem a esta minha intenção, partilhando, assim, cada um e todos, um Natal de mais paz.

Simples VERSOS Simples


Simples VERSOS Simples

Simples Versos Simples
Brotam do meu coração
Em manhãs serenas
Em tardes amenas
Ditados pela emoção

Ditados pela emoção
Cantados por minha’alma
Simples Versos Simples
São sinais de ternura
Da vida já vivida
São sonhos de venturas
Por viver

Fernando Martins

1º de Dezembro



Ainda não perdemos a dignidade
de Nação livre e independente



Não sei se muitos portugueses ainda sabem que dia se celebra hoje. Dia 1º de Dezembro, feriado nacional, para recordar a célebre data histórica do ano 1640. Depois do domínio filipino, que durou 60 anos, um grupo de portugueses restaurou a dignidade nacional, proclamando rei D. João IV, o então duque de Bragança e a residir em Vila Viçosa. Diz a história pátria que foi dia grande, com o povo a festejar o feito levado a cabo por um grupo organizado de patriotas.
Que é feriado, julgo que toda a gente o sabe. O significado e a importância do que se celebra penso que pouca gente estará interessada em saber. Julgo também que, se viéssemos para aqui, agora, falar do patriotismo daqueles heróis, ainda alguém ficaria ofendido. Porque para alguns, infelizmente, já é politicamente incorrecto falar de patriotismo. Nunca percebi porquê. Nem estarei, nesta idade, com tempo para descobrir a vergonha com que alguns escribas e falantes fogem à ideia de patriotismo, considerando-a ultrapassada.
Contudo, não me coíbo de dizer que o amor à Pátria, no qual fui educado, devia ser regra de conduta diária de quem educa. A nossa juventude, penso eu, só ganhará se for encaminhada para os valores que enformaram as nossas raízes e que são os alicerces sólidos de uma nação independente.
Recordar os feitos dos nossos antepassados, muitos dos quais construíram o nosso País com muito amor e com muitos lágrimas, é obrigação de todos. Sem complexos e com orgulho. Somos uma das nações mais antigas da Europa. Demos novos mundos ao mundo. A Língua Portuguesa pode ouvir-se e falar-se nos quatro cantos da Terra. Fomos muito poderosos e hoje estamos na cauda da UE a nível económico. Mas, que eu saiba e sinta, ainda não perdemos a dignidade de Nação livre e independente, orgulhosa do seu passado, atenta ao seu presente e confiante no seu futuro.

Fernando Martins

DEUS CONTRA DEUS?

1. Embora ao princípio tenha sido ignorada, trata-se de uma obra decisivamente importante: O Mundo como Vontade e Representação, de A. Schopenhauer. "O mundo é a minha representação", assim começa, pois é sempre com a nossa estrutura humana que o captamos. Mas o Homem não se reduz ao conhecimento. Antes de pensarmos, vivemos: respiramos, comemos, bebemos, movimentamo-nos. Somos um corpo vivo que quer viver. No mais fundo de nós, somos vontade de viver, e a mais forte expressão dessa vontade está no sexo e no instinto de reprodução. Toda a vida orgânica é manifestação dessa vontade. É aterrador o que se passa na selva - também na "selva humana". Mais: a vontade está na raiz das manifestações da natureza inorgânica - pense-se na potência que põe os astros em movimento, na energia nuclear, na força de atracção e repulsa dos elementos, nas tempestades, nos terramotos, nos vulcões. O universo, aparentemente sereno, é um reboliço infindo, gigantesco. Foi também aqui que Nietzsche veio beber a sua teorização da vontade de poder e do super-homem. O que é a moral vulgar senão a manifestação do ressentimento dos fracos contra os fortes? 2. Já não se repara nisso, mas o cristianismo é realmente um paradoxo e um escândalo. Jesus disse que veio para que tivéssemos "a vida e a vida em abundância". Ele é a "ressurreição e a vida". Mas a vida que ele traz não é a vida para os mais fortes. Os preferidos são os fracos, os doentes, os aleijados, os pobres, os coxos, os cegos, os leprosos, as prostitutas, os pecadores públicos, os marginalizados pela sociedade, os excluídos pela religião. E são precisamente os poderosos que em coligação o excluem do mundo, condenando-o à morte e morte de cruz - a morte dos escravos. Portanto, Jesus aparece sem poder. Ele é Deus derrotado pelos poderosos, coisa nunca vista nem ouvida. São Paulo percebeu o escândalo, dizendo que só pregava Cristo, e Cristo crucificado. Aos Coríntios escreveu: "Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria, nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios." E foi ao Areópago, em Atenas, pregar "o Deus desconhecido", que ressuscitou Jesus. Agora, "quem quiser ganhar a vida deve perdê-la, quem a perder por amor ganha-a". É tal o paradoxo que, aqui, se agita uma pergunta tentadora: Porque não criou Deus um mundo mais amoroso e menos violento? Não foi o Filho "vítima" do Pai criador, como se Deus lutasse com Deus? 3. Os seres humanos debatem-se com três impulsos - manifestações fundamentais da vida como potência - de cuja gestão depende uma vida humana boa para todos: o prazer, o ter e o poder. Alguns dos primeiros cristãos resolveram a questão de modo radical, entregando o poder a César, renunciando ao casamento, dando os bens aos pobres. A sua fidelidade era facilitada pela convicção da chegada iminente do Reino de Deus, com a segunda vinda de Jesus. Se o Reino de Deus, aquele Reino onde Deus reina e onde não haverá escassez nem exploração nem dor nem morte e se realizarão todas as esperanças, está para chegar, César que fique com o poder, efémero, a questão do casamento não se põe, já não se trabalha e tudo é comum. Depois, foi o que se sabe. Até o Papa se declarou "sumo pontífice", sucedendo ao imperador, os bispos ocuparam palácios, os cristãos mataram e mataram-se por causa do prazer, do ter e do poder. Jesus ainda não voltou, e a vida sem algum prazer não tem interesse; para haver futuro, é preciso continuar a gerar; a economia tem de funcionar, e não há comunidades humanas sem um mínimo de exercício do poder. Assim, o desafio essencial para os cristãos é a gestão do prazer, do ter e do poder, no horizonte da mensagem de Jesus com as bem-aventuranças: "Felizes os pobres em espírito, os mansos, os misericordiosos, os que choram, os puros de coração, os que se batem pela justiça..." Mas já Nietzsche se queixava: "Cristãos? Só houve um, e morreu na cruz." Depois, veio a Igreja e "o Disangelho". Anselmo Borges

Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro

Na antiga Capitania, 15 de Dezembro



“PORTUGAL NA ÉPOCA DA ABERTURA DA BARRA”

“No próximo dia 15 de Dezembro, vai realizar-se, no edifício da antiga Capitania de Aveiro, uma conferência subordinada ao tema “Portugal na época da abertura da Barra”.
A conferência, com início previsto para as 17 horas, será proferida pelo Comandante Rodrigues Pereira, Director do Museu da Marinha e ex-Capitão do Porto de Aveiro. Esta iniciativa integra-se nas comemorações do Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro.