Crónica de Maria Donzília Almeida
A festa da Páscoa, para o mundo cristão representa a vitória sobre a morte, consubstanciada na ressurreição de Cristo.
Coincidindo com o início da primavera, sente-se uma envolvência da natureza, numa súbita transformação da mesma. Esta que estivera em hibernação durante a estação cessante, desperta para a vida e em nosso redor é vê-la a desabrochar e encher-se de cor.
Antigamente, quando as Gafanhas viviam, em parte, da agricultura e as mulheres eram as maiores protagonistas do trabalho nos campos, a limpeza da casa ficava sempre em segundo plano. Aproveitava-se a pausa da Páscoa, em que as sementeiras estavam feitas e o sol começava a puxar por elas e fazia-se uma limpeza geral às casas. Quase todas revestidas a soalho de madeira e muito humildes no seu recheio, assumiam uma nova vitalidade e asseio nesta altura. Para esse efeito, era ver a dona de casa, mulher escafonada, pôr o chão a brilhar com o tradicional sabão amarelo, que p’ra mim, era mais cor de tijolo.
Aqui, nas Gafanhas, a sala do Senhor mobilada apenas com uma cómoda e cadeiras, à volta, ganhava protagonismo, na receção à visita pascal. Ali, o crucifixo era entregue ao chefe de família que, por sua vez, o dava a beijar a todo o agregado familiar, cumprindo-se assim um ritual antigo, de muitas gerações.
Na comunidade, faz-se a comemoração religiosa em que os cristãos vivem a quaresma, tempo de preparação para a Páscoa. Exemplo disso são alguns sacrifícios/ privações, como o jejum e abstinência na 4.ª feira de cinzas e na sexta-feira santa.