terça-feira, 30 de abril de 2019

Dia Internacional do Jazz e o apelo à criatividade


O Dia Internacional do Jazz celebra-se a 30 de abril de cada ano. Foi criado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e anunciado pelo pianista Herbie Hancock.
Em 2012 comemorou-se pela primeira vez e ao longo destes anos mantêm-se os objetivos que consistem em lembrar a importância deste género musical e do seu contributo para a promoção de diferentes culturas e povos ao longo da história, sendo certo que o Jazz está associado à luta pela libertação e abolição da escravatura, como é sabido e li no Google.
Também é importante dizer que o Jazz é um estilo musical que apela à criatividade e à improvisação, facetas que entusiasmam os ouvintes, tanto mais que cada artista nunca se repete nas suas interpretações. 
Já agora, é justo referir que a Gafanha da Nazaré tem uma renomada artista de Jazz, a nossa Jacinta Bola, professora universitária no Brasil, a cujo lançamento do seu mais recente disco tivemos a feliz oportunidade de assistir.

“Os Últimos Terranovas Portugueses” – Um trabalho para ler e consultar

O mais recente livro de Senos da Fonseca 



Na segunda-feira da Páscoa, feriado municipal em Ílhavo, para além dos festejos próprios do dia, com condecorações e exposição “Ílhavo, Terra Milenar: do Paleolítico à atualidade, herança arqueológica”, patente na Casa da Cultura, houve também no Museu Municipal o lançamento do mais recente trabalho de Senos da Fonseca, “Os Últimos Terranovas Portugueses”, uma obra para ser lida, refletida e consultada, neste caso por todos os amantes das nossas terras, nomeadamente o povo que sente nas veias o som das ondas e os académicos voltados para a investigação da saga dos ílhavos na costa marítima portuguesa ou nos mares do fim do mundo.
“Os Últimos Terranovas Portugueses” apresenta-se numa edição cuidada, capa cartonada, e as suas 581 páginas integram um espólio fotográfico a cores e preto e branco trabalhado por mão de mestre, que enriquece sobremaneira o texto do autor, fruto de exaustiva investigação, por terras de perto e de longe, nem sempre navegadas por historiadores mais voltados para coleções das bibliotecas.
Senos da Fonseca disse que começou esta investigação  há 20 anos e nos seus planos «este livro seria o único que pensava escrever; e já escrevi 18». «Eu sou um eterno perguntador: quem eram estas gentes que integraram a Faina Maior?», questionou. Frisou depois a importância das razões que obrigaram os ílhavos a navegar litoral fora três séculos e, pé ante pé, foi à procura dessa gente, de norte a sul do país, tendo concluído que «somos um povo que não tem uma história em livro».
Salienta Senos a Fonseca, em "Breve emposta…", que, ao longo da investigação, percorreu «dez séculos do historial dessa grande saga que dá pelo nome de Faina Maior». E refere que o seu trabalho nos oferece fotografias, «muitas delas inéditas, que retratam diversos e interessantes aspectos da vida a bordo», tratadas com saber e arte por Rui Bela, que «reviu, formatou, alinhou, selecionou e tratou as imagens», enquanto concebeu todo o trabalho gráfico.
Para além dos agradecimentos dirigidos a quem o informou, esclareceu e lhe indicou pistas, o autor frisa que da leitura desta obra os leitores perceberão as razões por que este livro «só poderia ter a sua primeira edição em Ílhavo. A Câmara Municipal, assim o compreendeu, e desde a primeira hora desejou dar o seu apoio.»
Fernando Caçoilo, presidente da Câmara de Ílhavo, enalteceu o trabalho do autor, que ilustrou, com verdades indiscutíveis, «vivências familiares associadas à vida de pescador, nomeadamente «as mulheres viúvas de homens vivos», verdadeiros pilares do equilíbrio familiar que garantiam o sustento do agregado, na ausência dos homens».
Para abrir o apetite, que seria fastidioso tecer algumas considerações, por mais breves que fossem, sobre cada capítulo, deixamos apenas, em jeito de desafio para a leitura ou consulta mais serena e demorada, os títulos gerais e capítulos: Abertura, À Laia de Explicação, Capítulo I - Seculo X ao Século XX; Capítulo II – Segunda Investida aos Mares da Tera Nova; Capítulo III – O Dóri; Capítulo IV – Recrutamento, Higiene, Assistência e Segurança; Capítulo V – O Arrasto; Capítulo VI – História Trágico-Marítima. E ainda Glossário, Bibliografia Geral, Nota Biográfica e Créditos.
Do muito que já lemos, podemos afiançar que a releitura, olhando fotos que não cansam, será, garantidamente, um propósito que nunca poderemos pôr de lado.

Fernando Martins

segunda-feira, 29 de abril de 2019

O Ilhavense venceu a borrasca

O perigo de morte do mais antigo jornal do concelho de Ílhavo — O ILHAVENSE — suscitou entre a população local, concelhia e emigrantes espalhados pelo mundo, entre outros que laboram os se fixaram noutras paragens do nosso país, uma onda de tristeza. E tantos se manifestaram contra essa eventual ou quase garantida perda, que tanto bastou para uns briosos ilhavenses, fazendo das tripas coração, apostarem na continuidade daquele quase centenário  jornal. Parabéns aos que manifestaram a sua solidariedade e aos que agarraram com unhas e dentes a ousadia de continuar com O ILHAVENSE.
Permitam-me uma palavra amiga e solidária ao meu querido amigo Torrão Sacramento que tanto fez por Ílhavo e suas gentes, remando vezes sem conta contra a maré. Espero que a sua colaboração, agora sem dores de cabeça, possa continuar.
A nova administração precisa do nosso aplauso pela sua determinação,  e à nova diretora, Maria José Santana, jornalista que muito aprecio e felicito, formulo votos de que possa levar a bom porto a barca, cujo leme já tens em mãos.

Fernando Martins

Vista Alegre - Ilustração à vista




domingo, 28 de abril de 2019

Bento Domingues: Os esquecidos da Páscoa

«A questão da vida depois da morte é comum a muitas religiões. A expressão “ressurreição” não é a descrição de um fenómeno. É a verificação de um facto. Jesus foi morto e umas mulheres testemunham que ele está vivo e que ele continua connosco.»

1. Os profetas bíblicos foram severos com o culto e os seus rituais por causa da injustiça e da hipocrisia que eles encobriam. Jesus de Nazaré nasceu dentro da mesma tradição religiosa e foi o seu crítico mais radical. No célebre diálogo que abriu com uma mulher samaritana, junto ao poço de Jacob – judeus e samaritanos odiavam-se – atreveu-se a dispensar os respectivos lugares sagrados para a relação com Deus: Mulher, chegou o tempo em que os verdadeiros adoradores não vão procurar nem Jerusalém nem Garizim. O que o meu Pai deseja são adoradores em espírito e verdade[1].
Estaria Jesus a negar valor a todos os rituais do culto? Não é Deus que precisa do culto e dos seus rituais, mas os seres humanos. Ele não precisa que o informemos do que se passa connosco e na sociedade. A oração não modifica a sua santa vontade, modifica-nos a nós. Acorda-nos da indiferença perante o sentido mais profundo da vida. Podemos tentar comover a Deus com os nossos pedidos, mas é o próprio Deus que se comove pelo eterno amor que nos tem. Nós é que não podemos deixar de ser quem somos: seres que, para viver na verdade, reconhecem o seu limite e pedem socorro.
As celebrações litúrgicas católicas estão distribuídas em dois ciclos fundamentais: o do Natal e o da Páscoa. Ao resto chamam-lhe Tempo Comum. Estes arranjos dos liturgistas têm bases bíblicas e uma longa história. São uma forma de organizar a oração oficial da Igreja. Seria ridículo pensar que foi Deus que compôs e impôs esta organização ritual. A verdadeira Igreja, a não confundir com a hierarquia eclesiástica, é o voluntariado do Evangelho. Precisa de rezar para não se descuidar de Deus e do mundo. Uma liturgia sem o imperativo do serviço aos mais necessitados, sem a negação do autoritarismo eclesiástico, isto é, sem a simbólica do lava-pés[2], está condenada a ser nada.
Estamos na oitava da Páscoa, mas as celebrações pascais vão até ao Pentecostes.

Anselmo Borges - A Igreja é uma canoa, não é um museu

Anselmo Borges

“Queridos jovens, ficarei feliz vendo-vos correr mais rápido do que os lentos e temerosos. A Igreja precisa do vosso entusiasmo, das vossas intuições, da vossa fé. Fazeis-nos falta. E, quando chegardes aonde nós ainda não chegámos, tende paciência para esperar por nós.”

Papa Francisco

No Sínodo de Outubro passado, em Roma, um jovem proveniente das ilhas Samoa, disse que a Igreja é “uma canoa, na qual os velhos ajudam a manter a direcção, interpretando a posição das estrelas, e os jovens remam com força, imaginando aquilo que os espera mais além.” 
Na recente “Exortação Apostólica Pós-Sinodal Cristo Vive aos jovens e a todo o Povo de Deus”, inspirada nas reflexões e diálogos do Sínodo, incluindo opiniões de jovens de todo o mundo, crentes e não crentes, o Papa Francisco retoma a imagem da canoa, para acrescentar: “Não nos deixemos levar nem pelos jovens que pensam que os adultos são um passado que já não conta, que já caducou, nem pelos adultos que julgam saber sempre como é que os jovens se devem comportar. É preferível que todos subamos para a mesma canoa e que entre todos procuremos um mundo melhor, sob o impulso sempre novo do Espírito Santo.” 
A pastoral só pode ser sinodal, isto é, caminhando juntos, dado que a Igreja somos todos e cada um deve contribuir com os seus carismas e a sua situação. “Ao mundo nunca aproveitou nem aproveitará a ruptura entre gerações.” Só com os contributos intergeracionais se poderá construir um mundo novo e uma Igreja aberta. Lá diz o ditado: “Se o jovem soubesse e o velho pudesse, não haveria coisa que não se fizesse”. 
O Papa apela aos jovens para que não esqueçam as raízes: “É fácil ‘sumir-se no ar’ quando não há onde agarrar-se, onde apoiar-se.” Não devem seguir quem lhes peça que desprezem ou ignorem a História. Quem faz isso “precisa que estejais vazios, desenraizados, desconfiados de tudo, para que só confieis nas suas promessas e vos submetais aos seus planos. Assim funcionam as ideologias de diversas cores.” E previne-os contra outro perigo: a adoração da juventude e do corpo. “Os manipuladores utilizam outro recurso: uma adoração da juventude, como se tudo o que não seja jovem se convertesse numa coisa detestável e caduca. O corpo jovem torna-se o símbolo deste novo culto, e, então, tudo o que tiver que ver com esse corpo é idolatrado e desejado sem limites, e o que não for jovem é olhado com desprezo.

Loja dos “+Afetos” na Gafanha da Encarnação


A Junta de Freguesia da Gafanha da Encarnação inaugurou a Loja Social “+Afetos”, com o objetivo, muito louvável, de promover a solidariedade na comunidade. Trata-se, no fundo, de uma resposta social, direcionada para as necessidades imediatas de famílias em situação de risco, que vai funcionar na sede da autarquia, entre as 10h e as 13h, dos primeiros e últimos sábados de cada mês. 
Nessa linha, recolhem bem usados ou novos em bom estado, para posterior utilização, necessariamente doados por particulares, comerciantes e empresas, sendo garantido, assim cremos, uma imediata distribuição, não muito comum em algumas instituições que se apoiam, por vezes, em burocracias incompatíveis com as urgências. A fome e outras carências não podem esperar. 
Felicito a Junta de Freguesia da Gafanha da Encarnação, com votos dos maiores êxitos nesta tarefa tão fundamental em pleno século XXI, apesar dos avanços tão notórios a nível económico, social e cultural.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

MaDonA - Fragmentos...

Cãezinhos

Vendedora
Circulava eu, tranquilamente, pela Avenida da Força Aérea, sempre a velha tendência de andar com a cabeça no ar, quando me aproximo da passadeira para a atravessar. Como mandam as regras da segurança rodoviária, devemos esperar pela cor verde dos semáforos, para uma passagem segura. Ao meu lado, estava um jovem casal, em que a senhora segurava uma trela dupla com dois caniches vivaços e irrequietos. 
Como é típico nos portugueses muito apressados (!?) se não vier um carro próximo, olha-se para ambos os lados da via e atravessa-se mesmo com o sinal vermelho. Confesso, mea culpa, que faço parte deste grupo transgressor. 
O jovem senhor que partilha deste mau comportamento, aventurou-se como eu, a atravessar com sinal vermelho, tomando-me até a dianteira. A senhora que ficara no início da passadeira, aguardando o momento de passar, exclama com reprovação “Olha que exemplo estás a dar aos cães! 
Sorri, complacente e prossegui viagem, em direção ao quartel da GNR, não para fazer nenhuma denúncia, apenas de passagem... 
Nesse percurso, junto À Oficina da Saúde, cruzo-me com um grupo de três pessoas, um deles um cavalheiro, bem-trajado e engravatado, (parecia uma testemunha de Jeová!) e apanhei de relance “Um homem quando se ajoelha, fica reduzido a um terço da sua estatura!” “um terço?”, contesta uma interlocutora. “Ah...a dois terços, vistas bem as coisas”....Ouvi, curiosa e prossegui a matutar naquilo “Um homem fica diminuído?”

Georgino Rocha: O Ressuscitado convive connosco

Domingo da Misericórdia 2019 

  
  É ao cair da tarde. Em Jerusalém, cidade onde há dias havia ocorrido a morte por crucifixão de Jesus de Nazaré. A noitinha está prestes a chegar. Começam a rarear os últimos clarões de luz. A hora do tempo marca o ritmo do coração e indicia o estado de ânimo dos discípulos: Esperança muito em baixo. Refugiados em casa, estão cheios de medo e com as portas trancadas. Sobretudo as do espírito encerrado no futuro imediato. O desfecho dos seus sonhos, que duraram quase três anos, deixou-os em estado de choque. O Rabi, o Mestre em quem haviam depositado total confiança, teve morte trágica. E agora, que vai ser de nós? Será conhecido o nosso refúgio e esconderijo? Virão à nossa procura? Que nos farão? E muitas outras dúvidas e perguntas enchiam a sua imaginação.
Jesus apresenta-se no meio deles. De modo simples. Sempre Ele a tomar a iniciativa, a surpreender. E saúda-os amigavelmente: “A paz esteja convosco”. João, o narrador do episódio (Jo 20, 19-31), não faz alusão a qualquer censura pelo passado recente. Apenas refere que lhes mostra as mãos e o lado, com as cicatrizes da paixão, sinais da sua identidade de crucificado. Não haja dúvidas. É Ele mesmo. Está à vista.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Senos da Fonseca - 45 Anos de Abril.



 45 Anos de Abril

Sobre a verde bruma do dia
Vê-se no céu pardacento
Um sol sem brilho nem fulgor.
A ria corre sombria.
Parece triste por nenhum barco
Sobre ela, a novo futuro rumar.

Dia de melancolia carpida,
Naquele que foi
Um dia,
O dia de todas as alegrias vividas.
A minha alma de hoje
Não é igual à alma de ontem.

Na minha alma de ontem soava
Num tambor feito de prata
Do tamanho do meu país,
a liberdade, então conquistada.
Hoje bate um trémulo tlim-tlam
Soando triste, na madrugada.

SF - 25 abril 2019