quinta-feira, 12 de junho de 2008

Regata dos 200 anos da Abertura da Barra – Cruzeiros à Vela


Realiza-se no próximo fim de semana (14 e 15 de Junho) a “Regata 200 anos da Abertura da Barra – Cruzeiros à Vela”. Esta Regata é organizada pela APA – Administração do Porto de Aveiro SA e pelo CVCN – Clube de Vela Costa Nova, tendo por Patrocinador Oficial a PRIO – Advanced Fuels. A prova irá concretizar-se ao largo da Barra e contará com a participação de inúmeros Cruzeiros de várias localidades.

A Base de Regata está instalada no Porto de Abrigo do PPC – Porto de Pesca Costeira. Uma tenda com 250 m2 permitirá a recepção dos velejadores e convidados bem como o serviço de refeições e animação. Faz parte do programa a actuação de um excelente conjunto musical, que manterá os participantes bastante animados, dando à regata um carácter festivo. A animação será igualmente ponto alto quando às 22.30 horas se iniciar o Grande Espectáculo Piro Musical, oferta da Comissão das Comemorações do Bicentenário da Abertura da Barra a toda a população e visitantes.

O segundo dia de provas começa com a largada dos Veleiros para o mar, a partir das 10 horas. No regresso, cerca das 17 horas, será servido um lanche durante o qual haverá o imprescindível convívio entre os participantes. A entrega dos prémios realizar-se-á no final do jantar que se inicia às 19 horas.

De referir ainda que, a todos os participantes, serão oferecidas várias lembranças. As entidades organizadoras convidam toda a população a assistir a esta importante iniciativa desportiva.

PONTES DE ENCONTRO

Do 25 de Abril ao 10 de Junho

No dia 5 de Março, do corrente ano, fiz algumas humildes e breves considerações ao discurso que o Presidente da República proferiu na cerimónia da 34ª Sessão Comemorativa do 25 de Abril, na Assembleia da República. Na altura, o Presidente da República afirmou que “Num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar-se”. Tive ocasião de escrever, então, que “o 25 de Abril de 1974 será, sempre, passado sem sentido e um memorial de recordações e nostalgias, que jamais poderão fazer parte do futuro”, se a classe política não tiver capacidade de se organizar e de se mobilizar, definitivamente, a fim de que os cidadãos deste país cumpram, na parte que lhes cabe, os desafios iniciados, após Abril de 1974. De outro modo, Abril (ou outro mês qualquer, para quem o desejar), continuará, em muitos sentidos, por realizar-se, para sempre!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Não será euforia a mais?

Confesso que não compreendo tanta euforia. Hoje à tardinha, depois da vitória de Portugal sobre a República Checa, em algumas ruas da Gafanha da Nazaré, decerto à semelhança do que acontecia por todo o país, a alegria era esfuziante. Como se Portugal acabasse de vencer o campeonato do Mundo de Futebol. De outra coisa qualquer, o silêncio seria igual ao de todos os dias, com o povo mais preocupado com a crise que provoca angústias. Mas com o Futebol, não é assim. Carros cheios de gente, bandeiras e bandeirinhas agitadas ao vento, também em casas particulares e nos estabelecimentos comerciais, buzinadelas ensurdecedoras, gritos e gritinhos de entusiasmo! Quase todos vestidos ou decorados com as cores nacionais, aos pulos, nas ruas e em carrinhas de caixa aberta. Todo o pessoal se saudava de braços bem abertos e de bandeiras desfraldadas! Até vi um carro de museu na festa! Cada um é quem é. Mas eu, que gosto que Portugal vença e seja campeão, não sinto necessidade de todo este espalhafato. Por esse andar, se a nossa selecção perder, se ficar num lugar fora do pódio, então a tristeza é mesmo de morrer. Nunca li qualquer explicação para esta reacção nacional. Será uma resposta espontânea às crises económicas por que temos passado? Será uma vontade explosiva para afugentar as preocupações? Será uma atitude natural de quem tem andado na mó de baixo e se vê agora, com o Futebol, só com o Futebol, a bater forte nos outros? Expliquem-me, por favor, porque eu não entendo isto! FM

Mensagem do Bispo de Aveiro: Dar valor e sentido à vida

"As aulas de EMRC inscrevem-se necessariamente neste ho-rizonte de serviço aos alunos e à Comunidade Educativa e prestam um inalienável contributo nesse sentido. Ajudar os jovens a crescer com valor, oferecendo-lhes um percurso com sentido cristão, é uma das missões primeiras das aulas de EMRC. Abre-se este horizonte em cada aula e em cada etapa do tempo escolar para um desafio de vida cristã marcada pela coerência, pela disponibilidade, pela verdade e pela alegria manifestadas no testemunho exemplar de cidadania e de fé, no serviço entusiasmante do Evangelho e na entrega generosa às causas do bem comum, da justiça e da paz.A matrícula nas aulas de EMRC é assim também um testemunho de fé, nascido no coração dos jovens e das famílias."

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NA LINHA DA UTOPIA

Bénard da Costa

Universalismo, Valor a rentabilizar


1. Com a actualidade em polvorosa com outras questões, o 10 de Junho parece já ter sido esquecido. Sobra a polémica de uma ou outra “frase” dita que também faz apagar, rapidamente, algumas questões de fundo salientadas na celebração deste dia das comunidades que vivem em português. Destacamos o discurso de João Bénard da Costa, aprofundando a raiz profunda do universalismo característico dos portugueses. De uma noção de língua, que em Heidegger (1889-1976) é a «casa do ser», os portugueses, efectivamente, assumiram e assumem, na generalidade, uma capacidade de relacionamento e interlocução que continua a registar páginas de história viva com os outros.
2. Nos tempos que vivemos, como foi sublinhado nos diversos discursos, as relações entre os povos não podem ser um factor lateral mas essencial. A história dos cinco milhões de emigrantes portugueses espalhados pelo mundo, mesmo que contenha grandes lutas e sofrimentos, também espelha esse facilitador do relacionamento humano. Vivemos já o tempo em que, pese embora tantas condicionantes de vária ordem, o sentido de universalismo é um dos eixos que faz a diferença. Daqui em diante, em tempos de globalização e mega-aceleração da vida diária, os factores de diferenciação talvez se venham a transferir das potencialidades técnicas para as capacidades de relação humana.
3. Se o presidente da República «desafia os portugueses a serem “exigentes e rigorosos” consigo próprios», estímulos positivos que ninguém de bom senso colocará de parte, todavia, esta mesma correspondência terá de ser assumida de modo total. Os portugueses habitam em famílias, instituições, escolas, mundo do trabalho. Esta procura do rigor «cá dentro» não é incompatível com um universalismo de rasgados horizontes. Casa mais arrumada é projecto que, não perdendo todo o potencial criativo, vai mais longe. O ser da cultura portuguesa, mesmo a partir da matriz da língua, em português, contém em si o gérmen da totalidade. Mesmo acima do mitológico exaltado por escritores e poetas, e ainda que racionalmente não se queira assumir o desígnio da portugalidade (até para não deixar que as emoções comandem as razões), o certo e o facto é que o universalismo está no bilhete de identidade dos portugueses.
4. É verdade que de todos os povos, pois que todos somos cidadãos de um mesmo mundo em relação. Mas se formos ao código genético cultural, este que não depende da riqueza mas está assente em valores, há povos que se relacionam melhor uns que outros e entre estes estão os portugueses. É um facto que também quer derivar em responsabilidade e, actualmente, em valores e oportunidades, até como nova relação que seja impulso de ligação das nossas comunidades emigrantes às suas terras de origem…Será possível?

A Igreja precisa de um plano nacional de leitura?


Os dados trazidos agora a lume pelo Patriarcado de Lisboa, sobre os hábitos de leitura bíblica dos católicos, não são uma tragédia, mas desassossegam bastante. A grande falta parece não ser de material, pois a maioria até possui um exemplar da Bíblia e/ou acede comunitariamente a ela. O problema é mesmo ler a Bíblia, esse «livro complicado» - como justamente o refere o Cardeal-Patriarca (Ecclesia 05/06/2008), mas ao mesmo tempo fundamental para a construção da existência eclesial e cristã. É precisamente por ser um «livro complicado» que a Igreja tem a responsabilidade de promover uma apaixonada iniciação à leitura, entregando a cada crente o gosto e as chaves para a sua interpretação, cuidando que o encontro com o Texto Sagrado aconteça. Encontrar a Palavra de Deus é encontrar a Cristo, dizia São Jerónimo. Sem ela, o cristianismo torna-se vago, insustentável, insuficiente.
Há um grande desafio que se coloca, portanto, às comunidades cristãs: estas são chamadas a assumir-se, talvez de modo mais consciente e certamente mais activo, como comunidades de leitura. Quando D.José Policarpo lembra que, por vezes, nas próprias celebrações «a palavra é mal lida» e «a homilia nem sempre ajuda» está a colocar o dedo numa das feridas: a necessidade de formação, e de uma formação com qualidade. Não basta reproduzir um certo automatismo de modelos. De forma humilde, persistente e criativa importa fomentar uma iniciação ao conhecimento religioso. É verdade que muito já se faz, mas as estatísticas recentes mostram bem como esta é uma meta longe de estar ganha. E enquanto ela não for inscrita no centro das preocupações…!
Recentemente, o Ministério da Educação lançou o «Plano nacional de leitura», com o objectivo de «elevar os níveis de literacia dos portugueses e colocar o país a par dos nossos parceiros europeus». No específico da sua realidade, não é caso para perguntar se a Igreja portuguesa não carecerá de uma mobilização nacional para a leitura da Bíblia? Em que medida o Sínodo dos Bispos do próximo Outono e o Ano Paulino que este Verão começa podem constituir a Primavera de que precisamos?

José Tolentino Mendonça

Serra da Boa Viagem




(Clicar nas fotos para ampliar)

Ontem andei a desfrutar os ares puros e o silêncio da Serra da Boa Viagem, na Figueira da Foz, com mar à visto. Que tarde maravilhosa, de tempo ameno, sobretudo no vale por onde me quedei, por entre árvores e ervas. E no meio delas brotavam flores silvestres de cheiros que me envolviam e me transportavam aos tempos em que, menino, era capaz de dormir uma soneca no meio da seara, com vento a passar-me por cima.
Ali, olhando os pinheiros, uns altos e velhos, e outros mais rasteiros e ramosos, com arbustos à mistura e aves que passam e repassam, dei comigo a olhar a paisagem virgem, por onde correm carros cheios de gente de olhos fechados ou indiferentes.
A Serra da Boa Viagem, um ex-libris da Figueira da Foz, de tantas e tão grandes tradições de um cosmopolitismo que já faz parte da história, ou não se tivesse, há muito, democratizado a sua praia, de areais amplos e finos, continua a ser uma extensa área a necessitar de mais divulgação, para um maior usufruto.
Pois ontem andei por lá. E de lá voltei com vontade de ficar na paz que ali senti. Até breve, Serra da Boa Viagem.

Papa destaca papel da Igreja na construção da Europa


Bento XVI dedica audiência geral à figura de São Columbano, e lembra mosteiros medievais como centros «de irradiação de cultura»

Bento XVI destacou esta Quarta-feira a importância do Cristianismo na construção da identidade europeia, ao falar da figura de São Columbano, monge irlandês do século VI. "Com a sua energia espiritual, com a sua fé, com o seu amor a Deus e ao próximo, tornou-se realmente um dos Pais da Europa: ele mostra-nos também hoje onde estão as raízes das quais pode renascer esta nossa Europa", assinalou.
Na audiência geral desta semana, o Papa lembrou este abade da Irlanda, nascido por volta do ano 543, frisando que “juntamente com os irlandeses do seu tempo, tinha consciência da unidade cultural da Europa nascente”.
“Homem de grande cultura e rico de dons da graça, seja como incansável construtor de mosteiros seja como intransigente pregador penitencial, gastou todas as suas energias para alimentar as raízes cristãs da Europa que estava a nascer”, afirmou.
São Columbano foi o “irlandês mais conhecido” da Baixa Idade Média e os mosteiros por ele fundados, explicou o Papa, eram verdadeiros centros de irradiação de cultura e evangelização, bem como lugares que atraíam muitas pessoas pela sua vida de trabalho, austeridade, penitência e oração.
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"PORÃO" vence concurso gastronómico

III Concurso Gastronómico de Ílhavo
Juntou 13 restaurantes do Concelho
e o "Porão" da Gafanha da Nazaré foi o vencedor

Pelo terceiro ano consecutivo, a Câmara de Ílhavo organizou o III Concurso de Sabores a Maresia, juntando 13 restaurantes que apresentaram pratos de peixe, com especial incidência na ementa de bacalhau, que estava a concurso.
O júri foi composto pelo Presidenta da Câmara, Ribau Esteves, e por três Confrades das Confrarias Gastronómicas do Bacalhau, da Carne Barrosã, da Chanfana de Poiares e das Papas de S. Miguel.
Tarefa árdua, mas decerto gostosa, para o júri, que teve de provar os pratos a concurso dos 13 restaurantes concorrentes. Os quatro primeiros prémios ficaram assim distribuídos: "Porão", Gafanha da Nazaré; "Marisqueira", Costa Nova; "Casa Velha" (Hotel de Ilhavo); e "Mestre Palão", Gafanha da Nazaré.

PONTES DE ENCONTRO




A “liberdade dos sistemas” e a liberdade do Homem

No passado dia 6 de Julho, o ex-comissário europeu António Vitorino escreveu no “Diário de Notícias”, um artigo sobre “a tripla crise” que afecta as várias regiões do globo. Focando-me, apenas, na crise financeira, o Dr. Vitorino escreve que “o sistema capitalista tem a inegável vantagem comparativa de ser o único até hoje que passou a prova dos factos, contemplando ao mesmo tempo liberdade e desenvolvimento económico…”, ao mesmo tempo que está “crente” que tudo isto se voltará a reequilibrar, através da “reconfiguração de variáveis essenciais do próprio sistema” capitalista, que, segundo ele, não está “isento de perversões e excessos.” Também no dia 2, do mesmo mês, o “Diário Económico”, publica uma entrevista com o Presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, na qual este diz que a crise actual é “um fenómeno global: o assunto é global, o desafio é global e precisamos de uma resposta global.” Mais adiante, reconhece que “Há códigos de boas práticas, de conduta que poderão ser voluntariamente discutidos e adoptados e se “tais códigos voluntários são insuficientes (…) ou se o sector privado for incapaz de concordar com as regras necessárias para promover e garantir estabilidade, estaremos claramente perante um caso de regulação pública.”
Estas declarações, nos tempos que correm, não deixam, se é que as havia, margens para dúvidas: a subida do preço do petróleo e dos alimentos e toda a desregulação financeira que anda por aí a afectar, gravemente, a vida de milhões e milhões de pessoas por todo o mundo, que leva a que outras tantas não tenham acesso aos alimentos básicos para a sua sobrevivência tem uma fonte: o sistema capitalista ou, se alguns quiserem, as suas “perversões e excessos”, como diz António Vitorino, ou, como diz o Senhor Trichet, estes são os riscos inerentes em vivermos numa economia de mercado.
Como em tudo na vida, nestas coisas de teorias económicas, “cada cabeça cada sentença”, pelo que uns dirão que é necessário, ainda, uma maior liberalização dos mercados; outros já estão a ver em tudo isto o fim, inevitável, do sistema capitalista; para outros tantos, estas crises são fenómenos cíclicos e naturais, pelo que o tempo se encarregará de recolocar tudo outra vez no lugar, enquanto outros já pensam que há que encontrar sistemas económicos e políticos alternativos, aos seguidos até aqui.
Como cidadão e cristão, não deixo de me interrogar e de me preocupar, seriamente, com o caminho que o mundo está a levar. O Presidente Trichet, reconhecendo que as coisas não estão bem (ele não especifica para quem) transmite a ideia de que há que evitar, tanto quanto possível, qualquer atitude de regulação dos mercados, por via dos Estados, dando a primazia que esta seja feita pelos próprios mercados e que paciência é coisa que não lhe falta para ficar à espera que tal aconteça. Mesmo assim, a fazer-se tal regulação, os seus resultados e alcance serão sempre discutíveis. O mundo está assim tão refém destes conceitos tão pouco transparentes, complexos e injustos?
Ou será, então, este o preço apagar pela anunciada “liberdade”, de que fala António Vitorino? Mas que liberdade? Uma pessoa que morre de fome é livre? Uma família que não tem dinheiro suficiente para as suas despesas é livre? Uma pessoa que perdeu o seu emprego é livre? Em resumo: onde está, a liberdade de quem não tem possibilidade de escolha ou de decisão, mesmo que um certo sistema económico diga que a respeita? E a liberdade intrínseca à essência do ser humano, onde fica no meio de tudo isto? Só por si esta também não basta, se não estiver acima da “liberdade do(s) sistema(s)”, nem se deixar condicionar por esta “oferta”. A liberdade não se oferece! Ou se tem ou não se tem! Confundir pobreza ou riqueza com a liberdade pessoal é uma falácia. Quem assim o fizer, já transformou a liberdade numa mercadoria e a riqueza num meio para a comprar, como se tal, aliás, fosse possível. Este é um dos pecados do capitalismo, seja sobre que forma se apresente, procurando confundir, quanto muito, liberdade com sonho, supostamente ao alcance de ser concretizado por todos, com a promessa de uma vida cheia de êxitos e fortuna. Fora disto, só existem os fracassados ou os vencidos da vida, que nem direito têm ao reconhecimento da sua própria liberdade, baseada, sempre, na dignidade pessoal e no reconhecimento que é devido a cada ser humano.
Vítor Amorim

terça-feira, 10 de junho de 2008

NA LINHA DA UTOPIA


Escravos da Economia?


1. Os noticiários das últimas semanas, de sobremaneira, procuram ser autênticas aulas de economia. Especialistas das diversas áreas económicas convergentes procuram explicar, até ao limite, todos os pormenores do que está a acontecer na economia mundial. As múltiplas greves confirmam na rua o mal-estar consequente às loucuras petrolíferas e financeiras. Da Europa a notícia do alargamento das horas de trabalho semanal. Os próprios governos de chancela tipicamente social estão vergados de tal forma que a primeira palavra de todos os discursos é sempre «economia» e só depois, lá para o final, então vem a palavra «social». A competitividade, sem olhar a grandes meios para atingir todos os fins vitoriosos, é palavra-chave já desde criança, para quem até a “lavagem” noticiosa dos juros e dos combustíveis vem dizer que parece não haver mundo para além da economia.
2. Juntando a toda esta feira económica, estamos em pleno campeonato europeu de futebol, Euro 2008, onde, a par das festas colectivas, são exorbitantes os números económicos das transmissões televisivas, para já não falar das loucuras clubísticas que conseguem sempre uns largos milhões para “comprar” novos deuses, os jogadores de futebol. Talvez tudo pareça surreal demais para ser a verdade da nossa actualidade. Apelidamo-nos de mundo desenvolvido, e muitas vezes como contraposição ao mundo subdesenvolvido de que temos também grande quota de responsabilidade histórica (pois que os países europeus assim proporcionaram). A Europa e o mundo estão em plena transformação, numa corrida atroz para ver quem chega primeiro a tudo; nesta corrida (que demonstra tão pouco desenvolvimento humano), regressa o triunfo da lei do mais forte.
3. Das realidades mais importantes dos dias de hoje, e com a aprendizagem da história (económica), talvez seja o tornar bem patente dos mecanismos de interacção económica. Não ver só o agora, mas perscrutar o depois. O endeusamento económico será a fatalidade de uma selva mortífera para os mais frágeis; o regressado deus-economia agrava as fracturas e desigualdades já existentes mas, simultaneamente, fará crescer sempre essa revolução da multidão “contra” a meia dúzia de senhores do mundo. É um erro dizer sempre a palavra economia em primeiro lugar, pois esta opção demonstra a menor visão das funções humanas da própria economia. Sendo verdade que o realismo obriga a enfrentar com inovação e esperança as complexas questões económicas, todavia estas não são um fim em si mesmo, mas sim um serviço com sentido de humanidade. A ética do trabalho (para todos) e a dignidade humana, nunca perdem a validade; antes são factor primordial de desenvolvimento. Este não se esgota, está muitíssimo acima dos factos da economia.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Um poema de Armindo Rodrigues


LIBERDADE

Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.

Armindo Rodrigues
(1904-1993)

A frescura do verde

(Clicar na foto para ampliar)
Finalmente chegou o calor que aquece o corpo e a alma. Tardou mas já deu para perceber que mais dia menos dia virá de vez. Para um Verão quente e acolhedor que todos esperamos. E quando isso acontecer, a sério, o verde será sempre reconfortante.

A arte de ser português


Guilherme d'Oliveira Martins, Presidente do Centro Nacional de Cultura, apresenta o livro PORTUGAL E OS PORTUGUESES de D. Manuel Clemente, Bispo do Porto

As interrogações têm pelo menos mil anos. Quem somos, como povo e como pessoas? Que relação temos com Portugal? E se essa relação é normalmente difícil, a verdade é que nos deparamos a cada passo com a comparação histórica, com distância geográfica dos centros, com o confronto entre as ilusões e as desilusões, com a ironia e o remorso.
Afinal, a questão que temos connosco próprios, de que falava o poeta, começou por ser garantia e definição e prosseguiu entre restaurações e perdas, em ciclos de euforia e de depressão, de sucesso e de decaimento. E no entanto a nossa matéria-prima continua a ser a mesma. E “olhamos Portugal como uma personalidade colectiva portadora de uma alma, no sentido romântico do termo, ainda que referido a algo muito anterior ao Romantismo”. E que é o Romantismo senão o tentar reviver tempos imemoriais? Povo eleito? Povo enjeitado? O Padre Vieira compreendeu bem esse conflito íntimo. E, como diz o nosso autor(*), a “relação que mantemos com esse gostoso e custoso colectivo vem na esteira de um outro povo, que se descobriu eleito e portador de uma missão universal”. Ourique e o seu milagre (1139) têm como berço teórico Santa Cruz de Coimbra – “A partir da profecia de que se fundaria um reino tão imortal como a sua origem e com idêntica projecção religiosa”. E ainda há a sucessão de acontecimentos que passa pela promessa dionisíaca, pela afirmação joanina, pela ambição dos Altos Infantes, pela visão do Príncipe Perfeito, pelo maravilhoso cristão de Camões, pela ilusão sebástica, pela Restauração profética do Padre António Vieira e, por fim, pelo ouro e pela dissolução da nação antiga. E passámos a viver (se não vivíamos já, como mostraram Gil Vicente e Sá de Miranda) “geralmente mal connosco próprios, por nos acharmos sempre aquém do que teríamos sido ou do que poderíamos ser…”. E há nisto (prossegue Manuel Clemente) “algum auto-ressentimento independentemente da nossa extracção religiosa ou não-religiosa. Todos nos embebemos de um Portugal que não achamos”.
Ler todo o texto em Ecclesia

A nossa gente: Mestre Rocha

Quando procurava um livro de interesse imediato, veio-me à mão um outro do meu amigo de saudosa memória, Joaquim Duarte, “Hidro-Aviões nos céus de Aveiro”. Foi uma boa ocasião para reler uma ou outra passagem e para ver fotos que fazem parte da Escola da Aviação Naval de S. Jacinto.
De página em página, cheguei a uma que recorda um gafanhão que deixou a sua marca na Gafanha da Nazaré, pela maneira como lutou pelos seus interesses, enquanto presidente da Junta de Freguesia e para além dela. Trata-se do Mestre Rocha, com quem conversei inúmeras vezes sobre o que seria melhor para a nossa terra. Recordo, bem, o que ele me dizia, quando vinha em defesa das suas ideias: “Eu fui testemunha ocular e auricular!” Perante isto, eu tinha mesmo de acreditar nas suas convicções.
Contudo, hoje não quero falar das conversas que tive com Mestre Rocha, mas, sim, do que dele disse Joaquim Duarte, no seu livro “Hidro-Aviões nos céus de Aveiro”.
Leia mais em GALAFANHA

Homenagens aos nossos maiores

Amanhã, 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o Presidente da República, Cavaco Silva, vai homenagear os nossos maiores. Sobretudo aqueles que, de forma significativa, se distinguiram nas suas actividades profissionais, sociais, culturais, artísticas ou científicas. Normalmente todos estamos de acordo com as escolhas feitas. Contudo, temos de convir que há muitos outros portugueses, gente menos conhecida pela maneira humilde como vive e age em prol dos que mais sofrem, que ficam de fora. Há, por isso, sempre injustiças. Mas, no fundo, esses que se dão aos outros, desinteressadamente, no silêncio das suas comunidades e longe dos holofotes dos grandes media, também nem reparam nas honrarias que atribuem a outros e nem precisam que os tirem dos seus cantos para pisar as passadeiras vermelhas que conduzem à mesa da presidência. Que ao menos as suas comunidades se lembrem desses servidores que, no dia-a-dia, espalham o bem e a alegria.

PONTES DE ENCONTRO


A crise da família na Europa

A FIDES, órgão da Congregação Para a Evangelização dos Povos, publicou, com data de 29 de Março de 2008, um dossier intitulado «A crise da família na Europa», no qual se reúnem dados sobre a diminuição da população no continente europeu e os graves problemas que ameaçam a instituição familiar, a começar pelo aborto, em referência à Rede Europeia do Instituto de Política Familiar, que, por sua vez, apresentou, no passado dia 7 de Maio de 2008, no Parlamento Europeu, um Relatório sobre a “Evolução da Família na Europa – 2008”.
De acordo com o dossier da FIDES, entre 1994 e 2006 a população europeia cresceu 19 milhões de pessoas, sendo 80% deste crescimento devido à entrada de quinze milhões de imigrantes, pelo que, não resultou de um aumento da taxa de natalidade, que permaneceu estável, ou seja à volta de 310.000 crianças por ano.
Segundo os cálculos apontados pela Agência FIDES, crê-se que, a partir de 2025, a Europa começará, lentamente, a despovoar-se, ainda que a mobilidade migratória possa alterar estes dados, não se conhecendo, contudo, os seus resultados, se tal suceder.
Em relação ao envelhecimento, o dossier da Agência FIDES afirma que, a Europa, tem mais pessoas idosas do que crianças. A população com menos de 14 anos representa apenas 16,2% do total da sua população, o que corresponde a 80 milhões de crianças, nos 27 países da União Europeia.
Sobre a taxa de natalidade, o dossier adverte que, na Europa, nascem cada vez menos crianças. Em 2006, apenas se registaram 5,1 milhões de nascimentos. A situação foi estável de 1995 a 2006, com um aumento entre 2005 e 2006 de apenas de 1,1%, o que está longe dos valores necessários para a renovação de gerações.
Quanto ao aborto, o mesmo dossier afirma que, a cada 25 segundos, se realiza um aborto na União Europeia, a 27 países, e onde, em cada dia, se fecham três escolas, por falta de crianças.
A Espanha é o país onde mais aumentou o número de abortos, nos últimos dez anos, com um aumento de 75%, seguida pela Bélgica, com 50% e da Holanda, com 45%.
Deste modo, o aborto é a primeira causa de mortalidade na União Europeia, a 27 países, onde fez mais vítimas que as enfermidades cardiovasculares, os acidentes de trânsito, a droga, o álcool e os suicídios.
Em relação aos gastos destinados às políticas sociais, o dossier refere que 27% do PIB da UE é destinado a esta rubrica, enquanto que só 2,1% deste orçamento global é destinado a políticas de apoio familiar, o que é um sinal claro da falta de prioridade que as políticas de apoio à família têm perante as autoridades comunitárias. Isto significa que a UE destina menos de um euro a cada família, em relação aos treze euros destinados aos restantes gastos sociais, o que até pode ser insuficiente para estes.
Sobre a pobreza infantil e da adolescência, há 97,5 milhões de pessoas na União Europeia entre 0 e 17 anos, e, destes, 19 milhões estão em risco de pobreza. Mesmo assim, já, hoje, a média de pobreza europeia está na casa dos 19%.
Sobre os matrimónios na UE, o dossier refere que, em 25 anos (1980-2005), o número de matrimónios diminuiu 692.000, o que corresponde a uma queda de 22,3%.
Por cada dois matrimónios que se celebram na Europa, um acaba em separação, lê-se no dossier.
Pena é que estas questões não sejam mais divulgadas e debatidas, mesmo no seio das Comunidades cristãs. Ao menos, sempre poderíamos ficar a saber se anda por aí alguém com vontade de despovoar a terra e repovoá-la com seres de outras galáxias ou, então, se andamos, todos, a ser enganados por aqueles responsáveis políticos que se dizem a favor de uma renovação de gerações.

Vítor Amorim

domingo, 8 de junho de 2008

NA LINHA DA UTOPIA

Ateísmo, Fé e Liberdade

1. Esta é uma das fundamentais fronteiras do entendimento humano e da tolerância. Toca uma respeitabilidade que quererá ser iluminada pela ordem da racionalidade. Por sua vez, a noção de liberdade (da pessoal à social) assume-se como o terreno garantido pelos estados para a ocorrência partilhada da diversidade de propostas; mas estas também não poderão ser estanques, haverão de procurar, de forma ascendente e dinâmica, responder ao sentido de vida do ser humano e à saudável convivência da humanidade.
2. Vem esta reflexão a propósito da recentemente criada Associação Ateísta Portuguesa (AAP). A liberdade dos estados, chamados de modernos, nem pode fermentar a sua criação nem impedir a sua realização. O mesmo sucede aos terrenos da religião, como expressão da fé: o estado, nem pode orientar nem impedir. Mas o que não significa que os estados devam ser indiferentes; muito diferentemente disso, os estados deverão estar vigilantes… Esta vigilância só pode estar em conformidade com a matriz da convivência democrática que assenta na dignidade da pessoa humana que brota da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assim, a bitola de referência transversal terão de ser «as acções que», no sábio dizer de Vieira, «dão o ser».
3. Há dias, sobre esta criação da AAP, D. José Policarpo foi interpelado. A resposta, única certeira, foi o claro princípio da comum respeitabilidade. Afirmou D, José que «cá estaremos para respeitar e dialogar, esperando também ser respeitados». É bom acolhermos este horizonte, também porque ele coloca as pessoas como o verdadeiro centro das opções de consciência, facto que não significa o absoluto privatismo das convicções, mas sim o assumir da relacionalidade (racionalidade tolerante) como princípio fundamental de uma sociedade adulta.
4. Não é pela negativa que se deve ver esta problemática de fundo que toca o sentido da vida, da história e da misteriosa esperança que bota da dignidade única da pessoa humana. No princípio da autêntica liberdade religiosa dos estados – o que é diferente de serem confessionais (felizmente que esses tempos já passaram) ou de serem laicistas (como que querendo apagar com os sentidos profundos da vida das pessoas) –, neste patamar da liberdade e da cooperação em ordem ao bem comum, brota como desafio decisivo a formação: dos que são ateus, a atitude filosófica e existencial da procura incansável de algo mais; dos que professam alguma fé confessional, a premência de uma formação contínua (que supere os vazios pragmáticos e) que dê o sentido da beleza fascinante que é a VIDA… esta que, da profundidade do ser, faz brotar a poesia, a esperança, o sentido inapagável do absoluto de Deus.
5. O enquadramento autêntico da liberdade proporcionará não o silêncio que fecha, mas a abertura dos melhores diálogos sobre a vida, sobre o que somos e a que esperança nos sentimos chamados. É mais esta grandeza, como possibilidade crescente, que brota deste facto; terá de ser a racionalidade razoável a presidir às opções conscientes de cada pessoa no referente às suas âncoras mais profundas. Seja esta frescura dialogal o terreno futuro! Há sempre tanto a aprender uns com os outros!

MANIFESTO DE CAFARNAÚM


A todos quantos este Manifesto virem, saúde e paz!
Eu, Mateus, e meus companheiros cobradores de impostos na região de Cafarnaúm no tempo de Herodes Antipas, estivemos sentados à mesa com Jesus de Nazaré numa refeição de amigos, após ele me ter chamado para seu discípulo.
O meu chamamento aconteceu de forma simples: vi um homem decidido a avançar para mim e aproximar-se do meu posto de cobrança. Senti a profundidade e sedução do seu olhar. Escutei o convite/apelo que me dirigiu: “Segue-me”.
Imediatamente, me levantei e deixei o trabalho. Uma força interior se apoderou de mim, me atraiu e encantou. Fiquei de tal modo “apanhado” que nem sequer fiz perguntas. Nada me preocupava: nem família, nem profissão, nem obediência ao meu chefe nem ao delegado do Imperador. Confiei simplesmente e aventurei-me sem calculismos. A inteligência não entendia, mas o coração dizia-me que aquele convite era uma “caixa” de surpresas para mim. E foi! Posso comprová-lo com abundantes provas que vivi mais tarde.
Atesto, por minha honra, que à mesa todos eram tratados por igual. Na conversa não se perguntava o que fazia cada um nem donde procedia, embora todos soubéssemos que partilhávamos a mesma condição. Constava que este era o modo de proceder de Jesus de Nazaré: mais do que as profissões e as condições de vida, interessava-lhe a pessoa e a sua dignidade, por vezes esquecida e espezinhada. Do seu olhar surgia uma serenidade e compreensão que nos dava alegria e paz. No seu convívio todos nos sentíamos bem, sem medos nem discriminações. Éramos verdadeiramente uma família!
Estar à mesa com Ele foi para nós uma maravilha surpreendente. Pelo que sentimos, pois nunca ninguém nos tinha tratado de modo semelhante: ser considerado digno de ouvir os segredos mais íntimos, alimentar as mesmas aspirações em relação ao futuro, reforçar os laços de união no presente. Pelo que augurava aquele gesto. De facto, era o núcleo mais expressivo do sonho de Deus: sentar todos os humanos à mesa da fraternidade em que Ele possa mostrar o seu amor de Pai na dignidade de cada um. Era o princípio da sociedade nova em que as pessoas têm prioridade absoluta sobre as tradições e as coisas, em que os bens pertencem a todos, antes de serem de cada um, e o bem comum constitui o dinamismo e a meta que dão sentido a tudo quanto se faz e se pretende.
Eu e os meus companheiros ouvimos críticas que nos parecem completamente injustas ou, então, temos de negar a nossa comum humanidade e de considerar ridícula a mensagem que Jesus de Nazaré – o Filho Deus – nos transmitiu como Palavra de Salvação para todos os tempos.
Negar a mensagem, é para nós de todo impossível. Estamos absolutamente convencidos do seu valor a ponto de, sendo preciso, dar a vida em sua defesa. Aceitamos com humildade a crítica que nos é feita e que nos ajuda a viver de modo mais pleno o exemplo de Jesus, o Mestre que nos abre horizontes mais plenos da fraternidade de todos os humanos chamados a reconhecer a sua filiação divina. Protestamos contra os que falseiam os nossos ideais, desvirtuam e ridicularizam as nossas razões e, presos ao passado, não mostram capacidade de entender as “coisas novas” que vão surgindo em relação a Jesus Cristo e à sua mensagem. Anunciamos com alegria criativa e esforço confiante que um dia virá em que a mesa posta para todos não será recusada por ninguém.
Em Cafarnaúm, com Mateus

Georgino Rocha

SCHOENSTATT







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Um jardim de silêncio, de paz e de encontro...
Passei por Schoentatt, na Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré, esta semana. Conheço, há muitos anos, este Movimento Apostólico, fundado em 1914 pelo padre alemão José Kentenich, com o objectivo de criar um homem novo para uma sociedade nova. Confirmei, in loco, mais uma vez, que este recanto, em boa hora vindo para a Diocese de Aveiro, é mesmo um jardim de silêncio, de paz e de encontro. Ali, junto ou dentro do Santuário, onde é bom estar, como desde a primeira hora sonhou o fundador, sentimo-nos libertos das inquietações do dia-a-dia, do que nos bloqueia interiormente, do que nos perturba nas caminhadas da vida.
Olhei o Santuário. À sua volta, como que a abraçá-lo com ternura, há flores e cheiros, objectos e geometrias, símbolos e caminhos que convergem para um altar onde está e espera, por quem chega, o bom Deus. Quem entra, fica, e reza, e conversa sem perturbar quem está, e escuta, e ouve a paz, e aceita a harmonia que tudo invade, e recebe a força que almeja. Cá fora, à saída, os nossos olhos sentem-se atraídos pelo amor e pela sensibilidade dos que cuidam de tudo para que todos se sintam bem, consigo próprios, com Deus e com o mundo.
Um dia destes, se puder, passe por lá. Verá que vale a pena.
FM

Lusodescendentes

"Hoje 12 portugueses ou lusodescendentes vão ser homenageados por Portugal numa cerimónia em Lisboa, transmitida pela televisão. É uma excepção, num país que se esquece vezes demais da enorme comunidade portuguesa que está espalhada pelo mundo. E não devia.
Só uma sociedade que vive de costas para a sua comunidade emigrante pode desconhecer o facto de termos uma portuguesa à frente da Orquestra Sinfónica de Toronto, como é contado na página 18 deste jornal. Mesmo os jornais e restantes órgãos de comunicação social esquecem muitas vezes esta realidade.
Segundo os dados estatísticos, haverá 5,5 milhões de emigrantes portugueses. Isto sem contar com os lusodescendentes. Mesmo sem contar com sentimentalismos, estes são números impressionantes. Já é bom ouvir falar a nossa língua em todo o lado, ou contar com os estratégicos apoios que, por exemplo, os 180 mil portugueses na Suíça dão à selecção nacional, fazendo-a sentir em casa. Mas é mais importante pensar que estes portugueses e lusodescendentes estão em áreas e lugares-chave.
Os portugueses devem começar a pensar na comunidade emigrante como uma grande rede onde se podem agarrar. E isto funciona, por exemplo, no meio universitário e científico, mas também, e sobretudo, nos negócios. Os chineses sabem isso há muito e é assim que se espalham pelo mundo. Já tarda a hora de Portugal o compreender e pôr em prática."
In Editorial do DN

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 81


OS ALUNOS

Caríssima/o:

Com toda a razão alguns perguntarão quando chegam os alunos à sala de aula. Creio ser a hora de os sentarmos, tudo está preparado para os receber.
Aliás, lá para trás ficou um ligeiro apontamento sobre as matrículas; vimos também que o número de escolas foi aumentando, sinal de que o número de alunos subia constantemente. Mais uma vez recorremos à Monografia do Padre Resende que nos apresenta valores supostamente de toda a Gafanha; contudo, lemos que na Nazaré, em 1936, há 411 crianças recenseadas; em 1941, 509, sendo 261 do sexo masculino e 248 do feminino; e em 1942, 515, sendo que a diferença é de mais 9 crianças do sexo masculino.
Aproveitando ainda os números fornecidos pelo Padre Resende, em 1942, os lugares dão-nos o seguinte : Cale da Vila=> 83 M, 80 F, total 163; Cambeia=> 68 M, 69 F, total 137; Chave=> 75 M, 65 F, total 140; Marinha Velha=>41 M, 34 F, total 75.
Podemos agora imaginar a «ginástica» de pais e professores para «arrumar» estes alunos se pensarmos na exiguidade dos espaços postos à sua disposição. Assim, cada um/uma frequentava a escola da sua área, conforme o «canto» onde morasse. Claro que isto, por vezes, não era linear. Os professores conheciam muito bem a população e todas as suas características prevendo, dentro da normalidade, o aproveitamento de determinados alunos. Por outro lado, também os pais e as crianças sabiam com o que contar se lhes calhasse tal ou tal professor/a. No início do ano escolar, desenrolavam-se conversações mais complicadas do que nos actuais hemiciclos ... Envolviam-se mães e professores, e as concessões só eram recebidas com trocas de alunos que compensassem as perdas ou os ganhos. Caso vivi, que me revelou a fibra de uma Mãe: fez várias viagens (claro, todas a pé!...) entre as escolas da Cambeia e da Marinha Velha, falando, argumentando até convencer ambos os professores ...
Os alunos podiam ser divididos em dois grandes grupos: os de pés calçados e os descalços. Do primeiro saíam os que receberiam as distinções e que prosseguiriam os estudos, fazendo exame de admissão. Nem sempre era assim: algumas vezes, as cabeças pregavam partidas à norma; e quando tal se verificava, estava instalado o “estado de sítio” e o professor confrontava-se com um sério quebra-cabeças...

Manuel

sábado, 7 de junho de 2008

Portugal no topo; Portugal em crise



Faz hoje anos que Portugal e Castela assinaram o Tratado de Tordesilhas. Para os que não sabem o que isso foi, eu adianto que, em 1494, precisamente no dia 7 de Junho, o mundo descoberto ou por descobrir foi entregue a duas potências da época. O apoio para esse acordo veio da Santa Sé, que era, na altura, quem aprovava estas decisões políticas.
O Tratado de Tordesilhas dizia que uma linha traçada, de pólo a pólo, 370 léguas a poente das ilhas de Cabo Verde, definia que, tudo o que ficasse a nascente dessa mesma linha, seria do rei de Portugal e de todos os seus sucessores, para todo o sempre. A outra parte do mundo ficaria para Castela.
Este tratado diz bem da grandeza e do prestígio das duas potências. Portugal deixou há muito o topo do mundo e caiu numa crise que os portugueses saberão ultrapassar. Sem nunca mais, no entanto, poderem aspirar à posição hegemónica que há mais de meio milénio protagonizaram no mundo conhecido ou por conhecer. Pese, embora, muitos ainda sonharem com o 5.º Império.

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré


"Porque um projecto destes não pode apoiar-se no improviso, quantas vezes deturpador da realidade, alguém propôs que se contactassem pessoas mais velhas, sempre fundamentais a qualquer trabalho do género. Manuel Retinto Ribau (o tio Retinto), Maria do Carmo Ferreira (tia Maria Ruça) e Maria dos Anjos Sarabando (a tia Sarabanda), entre outros, que antes haviam participado num rancho sem grandes preocupações de rigor, foram os primeiros a ensinar o que se cantava e dançava no seu tempo de jovens.No salão paroquial, os encarregados de pôr de pé e no palco as danças dos nossos avós, aqueles convidados foram ouvidos, tendo mesmo exemplificado como se cantava e dançava a “Farrapeira”. Depois avançaram com o “Vira de quatro” e foram essas as duas primeiras peças que hoje, e desde então, começaram a fazer parte do repertório do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, como ex-libris da nossa terra, sobretudo a primeira."
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APONTAMENTOS SOBRE RELAÇÕES IGREJA(S)-ESTADO (3)


Uma loja maçónica promoveu, em Lisboa, num "jantar branco", portanto, também com a presença de "profanos", um debate sobre "O futuro da laicidade". Convidados: o grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, António Reis, e eu próprio.
Procurei, antes de mais, esclarecer conceitos: secularização, secularismo, laicidade e laicismo. Neste sentido, permita-se-me chamar a atenção para a melhor obra escrita em língua portuguesa sobre o tema: Entre Deuses e Césares, de Fernando Catroga.
1.Secularização tem múltiplos sentidos. No domínio das ciências sociais, é possível apresentar, pelo menos, cinco significados fundamentais: eclipse do sagrado, autonomia do profano, privatização da religião, retrocesso das crenças e práticas religiosas, mundanização das próprias Igrejas.
Mas é essencial o sentido de autonomia das realidades terrestres, mundanas ou temporais, como reconheceu o Concílio Vaticano II. Como é sublinhado hoje pelos estudiosos, é inegável que a Bíblia e o cristianismo foram determinantes na problemática da secularização e, portanto, no reconhecimento desta autonomia. A Bíblia é essencialmente desdivinizadora da natureza, da história e da política. A ciência, a política, a economia, a própria moral têm uma racionalidade própria e não vão buscar a suas leis e legitimação à religião.
2. Mas é preciso distinguir secularização de secularismo, termo criado pela Londoner Secular Society, fundada por G. J. Holyoake, em Londres, em 1846, cujo programa resumido nesse termo consistia em "interpretar e regular a vida prescindindo tanto de Deus como da religião". De facto, a secularização não elimina o Mistério, pois a finitude não é secularizável, e o crente maior de idade pressupõe e quer uma razão e um mundo adultos.
3. Apesar da constantinização e suas consequências -- sobretudo o reconhecimento do cristianismo como religião oficial do Império e o regime de Cristandade - a fé cristã requer a separação da religião e da política, da Igreja e do Estado. O Estado deve ser laico, portanto, não religioso, neutro confessionalmente, e isso é exigido não apenas para que haja paz civil e se impeça a menoridade em cidadania daqueles que não seguissem a religião oficial do Estado, mas também porque a religião entendida na sua verdade não pode aceitar que se confunda Deus com a política. Um Estado confessional seria idólatra, pois poria em causa a transcendência divina.
4. A laicidade não deve confundir-se com laicismo. Este não se contenta com um Estado neutro do ponto de vista confessional e garantindo a liberdade religiosa de todos. Vai mais longe, exigindo um programa positivo, de tal modo que o Estado reivindica para si uma vocação de transmissão de uma mundividência total do mundo, da vida e da própria morte. O combate pela imposição deste programa a executar pelo Estado-pedagogo foi travado sobretudo em países católicos por causa de um catolicismo intransigente e, por vezes, em lutas duras, ao clericalismo contrapôs-se o anticlericalismo e a laicidade desembocou em laicismo.
5. A exigência de laicidade não significa que as religiões devam ser remetidas exclusivamente para o foro íntimo. Deve ser-lhes garantido o direito de expressão no espaço público e entre o Estado e as Igrejas deveria estabelecer-se um clima de respeito e mesmo de colaboração.
Aliás, há múltiplas possibilidades no arranjo jurídico das relações entre a(s) Igreja(s) e o Estado, como disse, em 2004, o antigo Presidente da República Federal da Alemanha Johannes Rau, referindo-se à união Europeia: "As relações Igreja-Estado são reguladas de modo muito diverso na Europa, indo das Igrejas de Estado na Escandinávia ao laicismo francês. Nós, na Alemanha, escolhemos um outro caminho impregnado pelo conceito de 'secularidade esclarecida' do bispo Wolfgang Huber. Se o Estado e as Igrejas estão claramente separadas na Alemanha, trabalham, no entanto, em conjunto em muitos domínios e no interesse de toda a sociedade. Feitas bem as contas, considero esta a via justa e não vejo qualquer razão para nos associarmos ao laicismo dos nossos vizinhos e amigos franceses."

Anselmo Borges