segunda-feira, 19 de maio de 2008

Figuras bíblicas: Miguel (I)


Ao contrário do que é habitual nas sociedades do Ocidente, escolher um nome para uma criança na cultura e religião judaica não é uma tarefa fácil. O nome da pessoa não é uma mera etiqueta ou uma identificação apenas física, mas expressão da essência e da alma do seu portador, ou seja, o nome deve combinar com a alma da pessoa que o recebe. Existe mesmo como que um período de inspiração divina para os pais fazerem a escolha do nome que realmente pertence à criança e a marcará, enquanto pessoa, para toda a vida.
Após esta breve introdução, escolhi em falar do nome hebraico Miguel – cujo nome me diz muito – procurando que se compreenda o seu significado, a partir da Sagrada Escritura e da Tradição da Igreja.
Para todos quantos acreditam no Deus uno e trinitário, Senhor e Criador de todas as coisas que existem e vivem no Universo, terá que aceitar que os anjos – os chamados seres celestiais – também foram criados por Deus.
Tal como os homens crentes, também os anjos amavam e serviam o Senhor Deus, não como criados ou escravos, mas sim como seres perfeitos e livres.
Não é por acaso que a figura dos anjos aparece nos grandiosos anúncios da Boa Nova que Deus sempre quis comunicar ao Homem, em todos os tempos e lugares. Só um ser livre pode transmitir a alegria!
O anúncio da Encarnação do Verbo pelo anjo Gabriel a Maria (Lc 1, 26-35) é uma das graças e um dos muitos exemplos do papel destes seres espirituais na História da Salvação e, é bom não o esquecer, na história pessoal de cada um de nós. Quem não se lembra do seu Anjo da Guarda?
Tudo seria perfeito se, a dado momento, não tivesse surgido um anjo, de nome Lúcifer, que não aceitando a missão que lhe estava destinada, enquanto ser celestial criado por Deus, decidiu revoltar-se e desafiar o seu próprio Criador.
Porque o terá feito? Há quem diga que Lúcifer não compreendia que, por vezes, é necessário amar sem entender, ou seja, amar, acima de todas as coisas, o próprio Deus e reconhecer que o bem supremo deste amor visa a Sua glória, através da infinita e absoluta bondade eterna do Pai para com todos os homens, para que estes também sejam glorificados.
Estamos, pois, diante de um ser angélico – Lúcifer – que duvidou deste mistério, e não confiando no seu Criador o seu amor por Deus e pelos homens, deixou de ser submisso e incondicional.
O que Lúcifer questionava era como Deus podia ignorar a inferioridade do Homem face a Ele mesmo e aos próprios anjos, pelo que não entendia como Deus permitia que eles – os anjos – servissem o homem, um ser inferior a Deus e a eles próprios.
Amanhã, continuaremos o desenvolver este assunto.

Vítor Amorim

domingo, 18 de maio de 2008

SPORTING GANHA TAÇA DE PORTUGAL

Foto do jornal do Sporting
O Sporting ganhou a taça de Portugal, no Jamor, derrotando o Porto por 2 a 0. Houve festa entre os sportinguistas e tristeza entre os portistas, que estavam cientes da vitória. No futebol, como em qualquer jogo, a vitória às vezes pende para quem menos se espera. Mas o Sporting, pelo que vi, nos minutos finais, e pelo que me garantiram, mereceu esta taça. Foi um saboroso prémio para a juventude do seu plantel e para a academia de formação de jogadores, donde continuam a sair tantos craques.
Quando saí de casa para a missa, na hora de começar o jogo, alguém me recomendou que rezasse para que o Sporting ganhasse. A minha família é maioritariamente sportinguista. Dos quatro filhos, só um, o mais velho, é que virou portista, sem eu saber como nem porquê. Tenho cá um palpite que ali houve influência do meu pai, de saudosa memória, que era portista.
Claro que não rezei porque não acredito que Deus, lá no céu, se preocupe com o mundo do desporto. Muito menos com o futebol. Não perco muito tempo com futebóis, mas gosto que o Sporting ganhe. E também gostei de ver a alegria de tanta gente. Só tive pena que o meu portista, cá de casa, tenha ficado com um desgosto destes. Que tenha paciência… O Porto não pode ganhar tudo…
Um abraço para os sportinguistas e outro para os portistas. O desporto é isto mesmo.

FM

Na Linha Da Utopia


Deus é Família Solidária com a Ásia

1. Os séculos da aventura humana foram e são vividos como sentido de «procura». Uma procura que está revestida de desejo de aperfeiçoamento, aos mais variados níveis. Na fronteira de todas as concepções, tudo quanto é humano, a partir da riqueza de sensibilidade, se quer elevar acima da ordem física e tocável das coisas. Neste patamar mais elevado da experiência humana, toca-se o invisível e mesmo o indizível: Deus! Ou melhor, a justa compreensão possível de Deus… Os diferentes e variados livros sagrados, que o mundo não pode esquecer nem ocultar, pois são as grandes mensagens de que também somos fruto todos os dias, apresentam-nos essa diversidade de procuras e de encontros, em que a própria concepção de Ser Humano se vai aperfeiçoando na busca e no encontro do Ser Divino. Mesmo para os mais cépticos, a pergunta sobre «donde brota a esperança humana» faz-nos pensar sobre algo mais, acima de nós: não só um motor dinâmico do universo, é pouco! Mas sim uma concepção unitária e dignificante da vida humana.
2. No necessário e rico diálogo entre todas as concepções culturais e religiosas, mas no esforço de apuramento a partir da qualidade da Revelação, a visão cristã propõe um reparar na grandeza divina a partir da pequenez humana. O Cristianismo vem partilhar e dizer que Deus teve a coragem de assumir a Humanidade, que Ele não se satisfez ficando acima das nuvens, em silogismos filosóficos teóricos ou numa adoração dos astros celestiais, não! Ele, na Sua alteridade (como Outro que é) quis a totalidade e universalidade, vindo ao encontro (como) Humano, dizer-nos que cada pessoa humana tem uma dignidade única, irrepetível, divina. É esse encontro de Deus com o Ser Humano o Natal de todos os dias que quer gerar pontes de conforto, expectativa e esperança.
3. Este passado domingo, celebrou-se, após o culminar da Páscoa cristã, a verdadeira identidade de Deus: é Família! Deus não é solitário. Como Deus é Amor, o amor desdobrado na história constrói-se pelo diálogo, partilha, fraternidade, justiça, paz. Este encontro proporciona-nos o reconhecimento de que o ser humano só é feliz no amor, na beleza, na prática do bem, pois participa da beleza absoluta e infinita de Deus. Neste justo conhecimento de Deus como Família, a Humanidade recebe esse convite: Deus dá o exemplo, é Unidade na diversidade, é Tri-Unidade divina (Trindade). Na identidade própria de cada pessoa (os diversos três rostos da família divina), na unidade essencial que fortalece e multiplica o seu amor super-abundante. A pessoa do Filho (Jesus) veio dizer isto mesmo, corrigindo e aperfeiçoando muitas concepções mais justiceiras do temor dos tempos antigos.
4. Na pessoa do Filho, o Pai da família manifesta todo o seu amor, cada dia e em cada situação na justa medida. Os seres humanos, acolhendo a sua poesia e inspiração na consciência humana são convidados, na liberdade sagrada, à abertura da vivência do Seu Amor, que no hoje histórico se manifesta também para com os povos da Ásia. É bom sentirmos que os Monges tibetanos interromperam as manifestações de protesto contra a China e organizaram campanhas de oração e solidariedade para com as vítimas do terramoto. Que Deus-Família inspire esta bondade com alcance universal!

Alexandre Cruz

Dia Internacional dos Museus





Portugal no Mar: Homens que foram ao Bacalhau

Este livro grande da memória é dedicado a todos os homens que foram ao bacalhau. Trata de uma saga fascinante que, de certo modo, simboliza o crepúsculo do “Portugal marítimo” – real ou imaginário. Dando continuidade a um esforço de pluralização das memórias da “grande pesca” no sentido de as tornar menos reprodutoras no plano social e mais abertas do ponto de vista cultural, o Museu Marítimo de Ílhavo tem construído diversos projectos no propósito de inscrever na memória pública rostos e nomes desta extraordinária aventura humana. Este livro-álbum pretende dar uma expressão territorial e aberta, visível e esteticamente exaltante, às memórias da pesca do bacalhau. Como escreveu Santos Graça, a pesca do bacalhau era “áspera, dura, tremenda, quase heróica”, uma verdadeira “epopeia dos humildes”.
Quem eram estes homens?
Sobranceiros ao mito ou meros figurantes das narrativas oficiosas, entre 1935 e 1974, ao todo foram cerca de vinte mil os pescadores que se matricularam na pesca do bacalhau. Ano após ano, durante longos meses de trabalho e lonjura, ausentavam-se das suas terras e famílias para opor à contingência de rendimento das pescarias locais o salário mais certo da “pesca grande”. Muitos deles estão ainda entre nós, de norte a sul do país, em todas as comunidades do litoral e em algumas do interior, dando rosto à maritimidade que por vezes se invoca quando se discorre sobre o destino e o ethos português.

Álvaro Garrido
NOTA: O lançamento do livro será hoje, Dia Internacional dos Museus, no Museu de Ílhavo, pelas 21. 30 horas.

PORTO DE AVEIRO - 3




Porto acolhe zona industrial

Quem pensar que um porto moderno apenas serve para proceder a carga e descarga de mercadorias, pescado e pessoas está muito enganado. O Porto de Aveiro tem valências para tudo: Pesca Longínqua e Costeira, Zona de Granéis Sólidos e Líquidos, Terminais de Contentores e Multiusos, entre outros espaços.
Quem chega ao porto não pode deixar de reparar numa zona que acolhe uma montanha de areia, foco de incómodos para a população da Gafanha da Nazaré. Partículas finíssimas invadem, em dias de ventanias fortes (uma característica da região), tudo e todos. Os protestos fazem-se ouvir e tem havido um descontentamento, legítimo, muito grande. Sabe-se que as indústrias e actividades paralelas podem tornar-se focos de poluição. Aqui aconteceu o mesmo, embora a actual APA (Administração do Porto de Aveiro) tenha procurado soluções, no sentido de resolver o assunto. E se é certo que a questão ainda se mantém preocupante, também é verdade que a resolução do problema pode estar a chegar. Assim me garantiu o meu anfitrião nesta visita, Carlos Oliveira, quando me informou que as areias vão ser transportadas para a área entre a Costa Nova e a Vagueira, para impedir o avanço das águas.
Quando isso acontecer, no local do foco de poluição vai nascer uma zona de actividades logísticas, privilegiando a instalação de pequenas indústrias, as quais recebem no porto a matéria-prima, transformam-na, e, de mediato, dali mesmo exportam o que produzem.

FM

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 78


OS LIVROS

Caríssima/o:

Quando se falava de livros sem mais adjectivos ou acrescentos era do livro de leitura que se tratava; era único por cada classe: livro da 1.ª classe, livro da 2.ª classe, ...
Já se referiu a grande falta de dinheiro e de poder de compra o que originava que um livro servisse várias gerações de alunos e, por outro lado, fosse a referência das leituras disponíveis.
E o certo é que o conceito de livro era restritivo: os de aritmética, de redacção ... designavam-se “cadernos” - caderno de problemas, ...
Só quando se andava na 4.ª classe havia direito a uma enorme colecção: Gramática, História, Geografia e Ciências, uns livrinhos finos com uma caravela de linhas azuis ou vermelhas na capa; no interior, reinava o preto, quando muito lá surgiam duas cores... Mas quanto saber nas suas páginas!
O formato era uniforme nestes últimos: A5, ou seja o tamanho dos cadernos que se utilizavam. Os livros de leitura das três primeiras classes aproximavam-se do actual A4 o que era uma dificuldade acrescida para algumas das 'sacas' onde se transportavam os pertences escolares. Também estes tinham direito a uma capa de cartão, diziam-se encartonados; para os outros, mais pequenos, a capa era de papel, por vezes um pouco mais forte que o interior ou, quando muito e o que era raro, de cartolina.
Como os livros estavam sujeitos à lei da longa duração, saberão os mais novos qual era a primeira operação quando se recebia um livro pela primeira vez, novo ou emprestado? Algo que hoje já nem se imagina de tal forma caiu em desuso: pôr capas! E logo busca intensa se realizava à procura do papel apropriado e que defendesse o livro do uso a que ia ser submetido. De vez em quando havia acesso ao jornal e uma ou outra folha era guardada para essa finalidade!
E quando uma folha do livro se soltava?
Então iniciava-se o restauro... Mas como se os meios de que se dispunha eram tão escassos que punham à prova a habilidade e o poder de invenção dos artífices?... Colas não havia: recorria-se à farinha de trigo ou mesmo a batata cozida para proceder às indispensáveis colagens. O resultado nem sempre era famoso, mas o objectivo era conseguido: as folhas estavam todas e o livro apto para mais uma safra!... Afinal livro a que faltasse uma ou mais folhas era livro rejeitado... (Onde o mundo da fotocópia?!)
Admiram-se que soubéssemos muito do conteúdo e sejamos capazes de o repetir sem pestanejar? Uma comadre regala-se a declamar as poesias que aprendeu nos seus livros, e como ela o faz com arte e alma!
Para alguns será talvez novidade: assiste-se a uma grande procura desses livros e editoras dedicam-se à sua reprodução. Sinais dos tempos: coleccionismo... e saudade!



Manuel

PONTES DE ENCONTRO


Novas Oportunidades com receitas antigas!

O semanário "Expresso", deste fim-de-semana, revela que o programa do Governo, “Novas Oportunidades”, emprega trabalhadores precários, com "falsos recibos verdes", e denuncia que há formadores que não recebem o salário desde Dezembro de 2007.
Relativamente aos cerca de 1300 formadores a recibo verde, a própria Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, declarou que "só agora há condições para acabar com esta situação, que foi herdada do passado". Sempre o passado como desculpa!
Quanto aos salários em atraso, Maria de Lurdes Rodrigues revelou que os problemas verificados com o atraso no pagamento dos vencimentos de alguns formadores do programa “Novas Oportunidades” foram originados pela "transição" dos financiamentos para esta actividade governamental.
Nos últimos meses, tenho trabalhado com os ministros do Trabalho e das Finanças para encontrar um solução que permita transformar os recibos verdes em contratos individuais de trabalho", revelou a ministra, acrescentando que "está pronto o diploma".
Perante esta notícia, e outras, que vão dando conta da ineficácia do Estado perante os seus concidadãos, confesso que, por vezes, já não sei o que me espanta ou o que me encanta.
Arranjar desculpas ou justificações para tudo, mesmo para o que não é desculpável, está cada vez mais na moda e já não há pudor nenhum em fazê-lo, sempre que necessário, por parte de qualquer responsável ou dirigente político do país.
Brinca-se com a dignidade e o respeito das pessoas, e sabem que o podem fazer, pois a dificuldade em arranjar um emprego e as situações de precariedade fragiliza-as, obrigando-as, quantas vezes, a terem que calar a revolta que lhes vais na alma.
Por isso, podem-se dar ao luxo de andarem a negociar, durante meses, com um qualquer ministro ou ministério à espera que uma determinada verba ou diploma estejam prontos.
Mesmo que tudo isto possa ser verdade, há que ter responsabilidade e vergonha na cara, para, em situações de excepção, criar normas transitórias, também de excepção, na medida em que, nestes casos, não existem atrasos aceitáveis, muito menos por parte do Estado.
Já bastam os maus exemplos que vêm de algumas empresas privadas.
Contudo, são estes os exemplos que os governantes deste país vão dando aos seus concidadãos, de uma forma fria, insensível e prepotente e a quem, ao mesmo tempo, tudo exigem, a tempo e horas, possam ou não fazê-lo.
O Estado, melhor o Governo, seja ele qual for, deve ser uma pessoa de bem e o primeiro a cumprir as suas obrigações perante os seus concidadãos, para assim ter autoridade moral em exigir-lhes que estes cumpram os seus deveres.
Infelizmente, os anos vão passando e parece que, no essencial, nada muda e o que me preocupa é se alguém, a nível dos próprios órgãos do Estado, não terá já chegado à conclusão que, efectivamente, não vale a pena mudar nada, pois, em caso de dúvida, aplica-se a máxima “quem pode manda” ou, então, diz-se “se não estiver bem, mude-se.”

Vítor Amorim

BICENTENÁRIO DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO - 8

Na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra
A Barra e os Portos da Ria de Aveiro em exposição
Esta quarta-feira, pelas 18 horas, na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC), vai proceder-se à inauguração da exposição “A Barra e os Portos da Ria de Aveiro 1808 – 1932, no Arquivo Histórico da Administração do Porto de Aveiro”.
Patente na Sala de S. Pedro até 14 de Junho, a exposição, comissariada por João Carlos Garcia e Inês Amorim (ambos professores da Faculdade de Letras do Porto), cumpre em Coimbra a primeira etapa de um circuito de itinerância pela Península Ibérica. Etapa que resulta de parceria entre a BGUC, a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), a Administração do Porto de Aveiro e a Câmara Municipal de Aveiro.
Integrada no programa comemorativo do Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro (03.04.1808), é composta por documentos do Arquivo Histórico do Porto de Aveiro, empresa que, segundo José Luís Cacho, Presidente do Conselho de Administração, “decidiu libertar o seu património histórico-documental da clausura que o agrilhoava em inútil penumbra, fomentando-se, a partir de agora, o seu usufruto pela comunidade”.
Nota: Informação recebida do comissariado da exposição

sábado, 17 de maio de 2008

Dia Internacional dos Museus – 18 de Maio


Amanhã, 18 de Maio, celebra-se o Dia Internacional dos Museus. Será um dia especialmente preparado para receber muitos visitantes. Há dias abertos, que são sempre boas razões para acordarmos, alguns, da nossa indiferença, face às ofertas constantes dos Museus.
O Museu Marítimo de Ílhavo, um dos mais significativos espaços museológicos ligados ao mar, vai também ter o seu Dia Aberto, das 10 às 23.30 horas. E durante o dia haverá Ateliês e a inauguração de uma exposição, com o título, bem expressivo e desafiante, “Rostos da pesca”.
Aproveite, então, o Dia Internacional dos Museus, visitando o nosso museu.

Ministério da Saúde: o pior cego é aquele que não quer ver


As listas de espera nos hospitais para as intervenções cirúrgicas às cataratas estavam demasiado elevadas e o Ministério da Saúde não sabia. O caso deu nas vistas, porque as pessoas não gostam de ficar cegas. Vai daí, algumas autarquias, não vendo solução para os seus munícipes mais pobres, procuraram ajuda em Cuba. Claro que isto é um escândalo de bradar aos céus.
Agora, que a comunicação social deu os alertas, o Governo vai tentar resolver o assunto, disponibilizando milhões de euros para tratar os portugueses que não podem recorrer aos hospitais privados.
Estranha-se que o Ministério da Saúde não tenha alertado o Governo para esta situação. Lamenta-se que em Portugal os problemas só encontrem solução quando denunciados pela comunicação social. Também se lamenta que o Governo não tenha estruturas capazes de o alertar a tempo e horas. Em suma, no Ministério, o pior cego é aquele que não quer ver.

NOTÍCIAS DE DEUS


Jesus é o arauto e mensageiro. Traz-nos boas notícias. E as primeiras são a respeito de Deus. Estas notícias têm uma repercussão enorme em nós e em toda a realidade envolvente. Nicodemos, levado pelas exigências intelectuais da sua razão, quer saber mais e procura Jesus, dispõe-se a ouvir, a pôr questões a fim de ficar esclarecido.
Jesus afirma claramente que Deus é amor e ama a humanidade toda. É uma notícia enternecedora! Ficam assim, excluídos os “contos” funestos de um deus distante, vingativo, apático e fiscalizador. Ama tudo o que cria e deixa-o confiado à responsabilidade de cada pessoa e do conjunto universal.
Outra boa notícia é que Deus tem um Filho que envia ao mundo, se faz humano e assume tudo o que em nós há de bom, de justo e de belo. Deste modo, pode ajudar-nos a vencer as inclinações más e o próprio pecado que nos oprime e desumaniza. E numa atitude de inexcedível generosidade, dá-nos o exemplo máximo do que é ser humano, amando sem medida, lutando com todas as forças para mostrar a nossa verdadeira grandeza, aceitando livremente a cruz da incompreensão, da calúnia e da morte.
Deus em quem Jesus confia revela-se como Pai, ressuscitando-o, dando-lhe uma vida nova, definitivamente feliz, plenamente realizada. Esta é a notícia que enche de alegria o mundo inteiro: Em Jesus, Deus Pai vem ao nosso encontro, faz-se nosso companheiro, partilha connosco a sua solicitude pelo mundo, apontando-nos o caminho do futuro que nos aguarda em plenitude.
Esta presença amiga e solícita do Pai e do Filho manifesta a existência do Espírito Santo que por eles nos é enviado. Esta é a notícia mais entusiasmante. O Espírito fica em nós, age por meio da nossa consciência que quer bem formada, faz-nos apreciar quem nos rodeia e amar quem está longe, mas constitui o nosso próximo. É ele que nos recorda o que Jesus ensina e nos conduz para a Verdade.
As notícias de Deus surgem continuamente. Precisamos de estar atentos à sua voz que nos chega de muitos modos, especialmente no silêncio e no gemido de milhões de vítimas e na vozearia dos algozes. Está é a notícia mais surpreendente: o silêncio de Deus que se faz denúncia das atrocidades humanas e anúncio de que a justiça há-de triunfar.
Deus, trindade santa, é família original donde provém, ainda que de modo especial, a verdade da família humana, chamada a ser fonte de vida e esperança da humanidade.

Georgino Rocha

DEUS E A MORAL ALGURES NO CÉREBRO?


Em todas as culturas, na tentativa de compreender o Homem, predominou uma concepção dualista: o Homem é um composto de corpo e alma, matéria e espírito.
Mas, como escrevi aqui na semana passada, o dualismo parece cada vez mais insustentável. Pode, por exemplo, perguntar-se: nessa concepção, uma vez que a alma viria de fora, os pais ainda seriam verdadeiramente pais dos seus filhos? Depois, não se percebe muito bem como é que o espírito finito pode agir sobre a matéria e esta sobre aquele.
Mas, se o dualismo não responde à pergunta pela constituição do Homem, a solução também não pode ser o materialismo crasso. Hoje, já dificilmente alguém defende o materialismo mecanicista. Mas também o biologismo não é solução. Há, para isso, uma razão de fundo: o Homem é certamente um ser biológico, mas é igualmente um ser cultural. Enquanto o animal vem ao mundo já feito, o Homem chega ao mundo por fazer e tem de receber por cultura o que a natureza lhe não deu. É, pois, o resultado de uma herança genética e de uma história. Não tem propriamente natureza: a sua natureza é histórico-cultural. É um ser simbólico e simbolizante.
Aí está a razão por que a antropologia em toda a sua abrangência não pode reduzir-se a um mero capítulo da zoologia. E, no que se refere à moral, reconhece-se que ela tem uma base biológica, sendo até possível uma certa "anatomia da moral", mas não é redutível à biologia. Como escreveu o filósofo E. Cassirer, "a capacidade de responder a si mesmo e aos outros (é que) torna o Homem um ser responsável" e, portanto, moral.
É certo que, mediante a tomografia de emissão de positrões e a ressonância magnética nuclear funcional, se pode observar o que se passa no cérebro, concretamente as zonas activadas em presença das diferentes emoções e actividades, de tal modo que surge a tentação do reducionismo neuronal, não faltando quem defenda que os acontecimentos espirituais não passam de processos físicos.
Deste modo, porém, o cientista esqueceria que está perante uma realidade que envolve biologia e cultura e que os seus métodos só lhe dão o lado biológico. Para a compreensão e esclarecimento da dimensão cultural, precisa de interpretação, para a qual não há métodos físico-naturais. Como escreveu o filósofo K. Köchy, sem essa interpretação, "os resultados da investigação cerebral não expõem senão imagens coloridas".
É neste contexto que vários neurocientistas se propõem encontrar o que alguns chamam o "ponto de Deus" ou "módulo de Deus", que ficaria na junção temporo-parietal do cérebro.
Neste quadro, em teoria, deveria ser possível, mediante a estimulação desse "ponto de Deus", fazer uma experiência religiosa. O famoso biólogo R. Dawkins, um apóstolo exaltado do ateísmo e do materialismo, sujeitou-se a esse ensaio, sob controlo do canadiano M. Persinger. Sentiu-se, porém, frustrado, pois nada aconteceu, apesar de, como refere o número de Janeiro-Fevereiro de Le Monde des Religions, dedicado ao tema, o neurocientista garantir que ele permite a 80% das pessoas, crentes ou ateias, viver uma experiência espiritual.
Para M. Persinger, a religião é "um artefacto do cérebro" e a experiência espiritual não passa de uma "adaptação brilhante", que permite acalmar os nossos medos. Neste sentido, não tinha já o geneticista Dean Hamer defendido o "gene de Deus"?
Pergunta-se, porém: não estamos perante conclusões apressadas? Deus está no cérebro? A liberdade está no cérebro? O eu está no cérebro? É claro que há uma correlação entre as diferentes actividades espirituais e o cérebro, mas será legítimo partir daí para a tese da identidade? O americano A. Newberg, que popularizou a chamada neuroteologia, previne: "Se observo o cérebro de uma monja franciscana que vive a experiência da presença de Deus, vejo o que se passa no cérebro, mas não posso dizer se Deus está lá e se existe ou não." Na mesma linha se pronunciou outro neurocientista, Mario Beauregard: "Os correlatos da experiência mística não significam que exista uma relação causal. Este tipo de investigação não permite confirmar nem infirmar a realidade externa de Deus."

Anselmo Borges

In DN

PONTES DE ENCONTRO


As doenças do homem e os males do mundo!

Ontem, dia 16, tive que ir com uma pessoa de família, que sofre de diabetes tipo I, hereditário, a uma consulta de controle num médico endocrinologista (especialista em doenças de diabetes, obesidade, alterações hormonais…). Durante a consulta, tive a possibilidade de conversar com o clínico sobre uma notícia publicada, no jornal “Diário de Notícias”, no dia 15, com o título “Esperança média de vida vai baixar devido à diabetes”.
Durante o desenvolvimento desta notícia, podia-se ler que “A diabetes, actualmente a quarta principal causa de morte, na maioria dos países desenvolvidos, deverá conduzir, segundo previsões da Organização Mundial de Saúde (OMS), a uma redução da esperança média de vida, já na próxima década, fenómeno que ocorrerá, pela primeira vez, em 200 anos.”
Não conhecendo ainda a notícia, o médico acabou por me dizer que todos os estudos apontam, infelizmente, nesse sentido e que no seu consultório é cada vez mais frequente aparecerem crianças em situações pré-diabéticas ou mesmo já com diabetes tipo II (não insulino-dependentes), uma realidade impensável ainda não há muitos anos.
Acrescentou que é nos meios urbanos que a obesidade infantil é mais frequente. No entanto, as zonas rurais também começam a mostrar um cenário semelhante. As estatísticas dizem que, a nível nacional, 31,5% das crianças e adolescentes entre os 9 e os 16 anos são obesas ou sofrem de excesso de peso. E daqui sobressai uma conclusão: é preciso agir depressa e bem. Caso contrário, a já ameaçada esperança média de vida destes miúdos vai ser ainda mais curta, já que criança obesa representa um adolescente e um adulto doente.
A informação que foi disponibilizada, até agora, – continuou o doutor – talvez não tenha resultado numa sensibilização eficaz da população, em geral, para este problema, que parece passar despercebido aos pais e ao Estado, com consequências nefastas, a longo prazo. Ainda deu tempo para eu escutar que a alimentação incorrecta (muito calórica e com gorduras) e a escassa prática de actividade física estão na base desta situação, não só nos adultos, mas, particularmente, na população infantil e adolescente.
Saí do consultório a pensar em que raio de mundo vivemos, onde as contradições surgem de todo o lado, quase em avalanche diária, e ninguém parece ser capaz de as atenuar, pelo menos. De um lado, temos os países pobres, com as suas populações a morrerem, diariamente, aos milhares, por falta de alimentos básicos, como sejam, por exemplo, o arroz ou o milho. No lado oposto, temos os países desenvolvidos, onde, à custa da fartura alimentar existente, os seus habitantes, a começar pelas crianças, estão a ter hábitos alimentares que lhes podem trazer graves problemas de saúde, com a consequente morte precoce como muito possível.
Se é inquestionável que nada disto faz sentido, não deixa de ser ao mesmo tempo um reflexo cruel da sociedade e do mundo que estamos e insistimos em criar.
Vivemos num mundo em que se fazem demasiados relatórios, diagnósticos, estudos e previsões e muito poucas obras concretas e não me admiro nada que esta situação se vá alastrando, silenciosamente, se as famílias e o Estado não assumirem, por inteiro, as suas responsabilidades. Ainda por cima, e isto é que me custa ainda mais, muitas das correcções destas situações patológicas são simples de fazer e estão ao alcance dos hábitos de cada um, enquanto o evitar morrer por falta de comida não resulta da vontade de quem morre, mas da vontade daqueles que, vivendo nos reinos do consumo e da abundância, muito deixam a desejar no que fazem, para que uns não morram por não terem comida e outros não se tornem doentes por a terem em excesso.

Vítor Amorim

sexta-feira, 16 de maio de 2008

PARLAMENTO APROVA ACORDO ORTOGRÁFICO

Segundo a comunicação social desta tarde, a Assembleia da República aprovou hoje, com os votos favoráveis do PS, PSD, Bloco de Esquerda e sete deputados do CDS, o Segundo Protocolo do Acordo Ortográfico. Manuel Alegre (PS), dois deputados do PP e Luísa Mesquita votaram contra.
Isto significa que, a partir de agora, temos de nos habituar à nova ortografia, quando escrevemos em português. Não é situação inédita em Portugal. Antes da nossa geração, muitas vezes houve alterações à forma de escrever a Língua Portuguesa e, que eu saiba, não morreu ninguém por causa disso. E não é verdade que os computadores, quando actualizados, nos vão dar uma ajudazinha? Julgo que sim.
Quando foi do euro, muitos puseram as mãos à cabeça, como se fosse o fim do mundo. E também, que me lembre, não morreu ninguém. Em pouco tempo, adaptámo-nos à nova moeda. O único problema é que há poucos euros para gastar...

GOVERNO TEM DE RESPEITAR AS INTITUIÇÕES SOCIAIS


A CNIS, Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, convocou as IPSS de todo o país para um Plenário, esta Sexta-feira, às 15 horas, no Grande Auditório do Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima.
O encontro serve para aprovar formas de pressão ao governo para que respeite o ATL, Actividades de Tempos Livres, das mais de mil e duzentas instituições com essa valência.
Quem conhece o mundo da solidariedade social do nosso país sabe bem que as grandes e principais respostas aos problemas das famílias e pessoas foram dadas pela sociedade civil, concretamente, pelas Misericórdias e IPSS. O Estado, incapaz de fazer esse serviço, por ser uma entidade sem alma nem sentimentos, foi-se adaptando a essa realidade, passando a contribuir com comparticipações, mediante acordos, com as instituições. Estas, naturalmente, criaram espaços, contrataram pessoal e assim se tornaram agentes indispensáveis nas respostas sociais que ao longo dos tempos foram emergindo nas comunidades.
Quer agora o Governo, a todo o custo, assumir esse papel, quando se sabe que não é capaz de ser a entidade próxima das pessoas. Não tem espírito solidário nem caritativo, porque nunca o cultivou. Sempre foi pregando, politicamente falando, de justiça social, mas não passou daí. A justiça é, de facto, importantíssima, mas não é suficiente. De qualquer forma, será bom que passe a ter essas preocupações.
Porém, uma coisa é certa: o Estado não pode esquecer as instituições que nunca viraram a cara às dificuldades e necessidades das pessoas e famílias. As instituições investiram em edifícios e em pessoal, criaram escolas de bem-fazer, educaram as pessoas para a solidariedade. Agora o Governo não pode dar-lhes um pontapé, como quem pretende atirar para longe quem sempre serviu. Mas se teimar nessa bizarra atitude, então que assuma, em plenitude, todos os custos sociais, económicos e políticos. E depois o povo julgará, se não tiver memória curta.
Estou, obviamente, ao lado da CNIS, em luta pela justiça para com as instituições de solidariedade social.

FM

AVEIRO: Sensibilização ambiental nas escolas



O autocarro da Lexicoteca, do grupo SUMA, anda a visitar as escolas do ensino Básico do concelho de Aveiro, para que as crianças dos 3.º e 4.º anos façam uma “Misteriosa Viagem à Lixolândia”.A iniciativa do grupo responsável pela recolha e tratamento de resíduos e limpeza urbana pretende fazer “sensibilização e educação para a preservação do Meio Ambiente” e “incentivar as crianças para uma postura de participação cívica”, afirma Alexandra Pericão, coordenadora da Área de Sensibilização e Educação Ambiental do Grupo SUMA, noticia o Correio do Vouga. Aqui está uma iniciativa importante, dentro da máxima que garante que de pequenino se torce o pepino.
Frequentemente, caímos no exagero de falar, falar, atirando conversa para o ar que ninguém escuta. Nas escolas, junto dos mais novos, estas iniciativas têm mais impacto. A novidade sempre foi bem aceite nas escolas. Por isso, é certo e sabido que os alunos assimilarão muito melhor os ensinamentos práticos que lhes chegam. E pode ser que na vida nunca mais se esqueçam disso.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

EMERGÊNCIA EDUCATIVA OU BECO SEM SAÍDA


"Ninguém pode dispensar um governo, nem ele próprio se pode dispensar, de se orientar por princípios éticos e de ter, no seu horizonte diário, realismo, vontade e decisão de lutar pelo melhor bem do povo a que serve. A fidelidade é às pessoas e ao seu bem, presente e futuro, não é a projectos ou ideias meramente pessoais, ao seguidismo empobrecedor de estranhos, ainda que pintados da mesma cor e fazendo alarde e propaganda dos seus pretensos êxitos. E, sem menosprezar o orçamento, ele não é tudo.
Os problemas que implicam comportamentos pessoais e sociais com maior repercussão, exigem sempre um juízo objectivo e sereno sobre as suas causas, as capacidades dos atingidos, a envolvência pessoal e ambiental com as suas ajudas e desajudas, a preparação qualificada dos intervenientes activos para que sejam educadores e não meros funcionários e realizadores de tarefas, pouco preocupados com os resultados finais. E, se tais problemas são objecto de leis ou de normas, não dispensam uma visão acertada daqueles que as produzem, legisladores ou governantes, para que não caiam na ingenuidade de querer atingir aviões a jacto com fisgas de crianças, pensarem que, feita a lei ou a norma, tudo fica resolvido, ou fazerem do seu posto jeito a grupos e a amigos."

António Marcelino
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Na Linha Da Utopia


Dos interesses à via dos princípios


1. Ainda nestes dias, comentadores da viagem do executivo à Venezuela, vinha à ribalta a discussão sobre os procedimentos a ter na gestão das relações diplomáticas. Com frieza, alguém dizia que só há duas vias: ou seguir a óptica prática dos interesses e pactuar mesmo com as multiplicadas indignidades; ou assumir corajosamente o caminho dos princípios, tidos como valores inalienáveis no zelo do bem comum. Infelizmente as circunstâncias concretas muitas vezes colocam estes dilemas, diante dos quais a opção acaba por ditar a alma do verdadeiro líder. O lugar relativo dados aos princípios, ainda que estes não sejam lineares mas plurais, acaba por ser sinal da qualidade (ou não) das próprias lideranças.
2. Os efeitos multiplicadores da lógica dos interesses, mesmo quando se apresentam como impulsionadores despertadores necessários, terão sempre o seu reverso da medalha. É verdade que muitos projectos, mesmo continentais, partiram da conjugação de interesses comuns. Por exemplo o projecto da hoje considerada União Europeia começou na partilha de carvão e aço dos países fundadores. Mas, rapidamente uma consciência mais alargada obrigaria a ver acima dos interesses próprios ou comuns, para as visões se irem abrindo na estrada dos princípios de uma Europa social e mais capaz de conduzir um projecto humano, pois acima dos recursos materiais…
3. Quando os interesses são a única plataforma em que se norteiam as relações internacionais ou nacionais, locais ou regionais, institucionais ou pessoais, é porque está ainda por esboçar uma grandeza de humanidade que faça prevalecer a lógica existencial que supere o «venha a nós». O horizonte dos princípios e valores, e não há que ter medo deles pois na sua essência são ricos de sentido e abrangência plural, é a via da verdadeira convivência humana. Não se trata de utopia sequer, trata-se de autêntica realização humana: acreditamos que ninguém se realiza como pessoa unicamente pensando nos seus interesses próprios.
4. Pouco interessam e, no fundo, pouco valem as dicotomias (ou uma coisa, ou outra), somente para o apurar do sentido das coisas, e poderemos mesmo dizer que a conjugação de interesses comuns pode ser um valor a assumir como princípio. Mas quando claramente esse interesse implica a indignidade de outrem (como em ditaduras ou sistemas de exploração desumana) então trata-se de pactuar com a miséria humana. Muitas vezes, e não só nos discursos internacionais, o porreiro «relativismo» alastrante, longe de significar efectiva inclusão das diversidades, vai afastando a humanidade dos humanos. Seja dito: não há petróleo que compense a digna honradez! Ainda que de quando em quando «na mó de baixo», a via do futuro será sempre dos princípios e valores!

Os calções do Nené

Um dia destes falou-se, num concurso da RTP, do que caracterizou o Nené, um jogador do Benfica. Recordo-me dele. Era um jogador que fazia questão de se apresentar em jogo sempre com o equipamento limpo. E quando calhava de sujar os calções, em luta com os adversários, era certo e sabido que no intervalo, se fosse altura disso, se apresentava com outros. Mas ainda consigo recordar outra faceta do Nené. Gostava de jogar de calções limpos, mas também era limpo no jogo. Quando hoje assistimos a uma partida de futebol, nas bancadas onde há muito não vou ou pela televisão, não é verdade que há jogadores que agridem, propositadamente, os seus adversários? Não fazem esses, descaradamente, jogo sujo?

FÁTIMA


Fátima continua a dizer muito ao povo português. Também a muitíssimos crentes do mundo e até a curiosos. Nos dias 12 e 13, como de costume, muitos milhares de fiéis, sobretudo, ali se concentraram, a maioria, decerto, para rezar e para “dialogar” com Nossa Senhora. Para agradecer graças recebidas de Deus.
Quando há dias caminhava com o intuito de fortalecer o físico e o ânimo, que as caminhadas fazem bem a tudo, encontrei um amigo, com quem já não falava há muito. Conversa puxa conversa e às tantas ele, que já é um septuagenário, atira-me com uma notícia que me surpreendeu: Eu e os meus irmãos vamos um dia destes a Fátima de bicicleta.
- Como… de bicicleta? Tu e os teus irmãos?
- Claro… e já lá fomos várias vezes!
- Mas o teu irmão mais velho teve há tempos um AVC.
- Ele aguenta… Nós não vamos com pressa. Paramos para descansar, para comer e para o que for preciso… Mas vamos. Quando chegarmos a Fátima, cada um faz o que tem a fazer e depois do descanso, com calma, regressamos.
Fico espantado com esta coragem de três conterrâneos que já não são nenhuns jovens, fisicamente falando. Mas são-no espiritualmente! Corajosos, determinados, assumem as suas devoções com um sacrifício exemplar. Lição para mim e para muitos.”

FM