sábado, 22 de março de 2008
GERAÇÃO RASCA?
PÁSCOA E VIDA ETERNA:
A esperança tem um duplo pólo: subjectivo e objectivo, devendo assim falar-se de esperança esperante e esperança esperada. Neste quadro, é fácil constatar no Homem a diferença constitutiva entre a primeira e a segunda: por mais que a esperança esperante se materialize nas suas realizações concretas, nunca se realiza adequadamente, continuando insuperável um abismo, de tal modo que se impõe um plus ultra, um para lá de todo alcançado. Aí está a razão por que todo o ser humano morre inacabado, insatisfeito, sempre por fazer adequada e plenamente.
Insere-se aqui a esperança pessoal para lá da morte, mas uma esperança tal que salve o ser humano real, de modo pessoal, e não numa "imortalidade" impessoal, apenas pela continuação na família, nas obras, na natureza, na sociedade...
A esperança não é certeza. Tem razões, mas não é demonstrável cientificamente. Não consiste em mero desejo, não pode ser wishful thinking. Tem de fundamentar-se no possível, em potencialidades reais. Assim, quando se pensa na vida eterna pessoal, entende-se que só Deus pode ser fundamento dessa esperança. Como viu São Paulo na Carta aos Romanos, "só o Deus que criou a partir do nada pode ressuscitar os mortos". Na sua continuação, Kant postulou a imortalidade, mas simultaneamente postulou o Deus criador como seu garante. Imortalidade pessoal e Deus pessoal criador implicam-se mutuamente.
Mas será que queremos a vida eterna?
Na sua segunda encíclica, sobre a esperança (Spe salvi), Bento XVI debate-se honestamente com esta pergunta. Reconhece que muitos hoje recusam a fé porque "a vida eterna lhes não parece algo desejável". Querem a vida presente, e a vida eterna é "um obstáculo". Continuar a viver para sempre, numa vida interminável, "mais parece uma condenação do que uma graça". Quereríamos adiar a morte, mas viver sempre, sem um final, tornar-se-ia, em última análise, "insuportável". A eliminação da morte - pense-se no romance de José Saramago: As Intermitências da Morte - faria da vida na Terra uma impossibilidade, e que benefícios poderia trazer para o indivíduo? Então, na nossa existência, há uma contradição: por um lado, "não queremos morrer", mas, por outro, "também não desejamos continuar a existir ilimitadamente nem a Terra foi criada com esta perspectiva." Que queremos então realmente?
Esta pergunta abre para outra: "que é realmente a 'vida' e que significa verdadeira-mente 'eternidade'?"
O Papa responde apelando para algumas das nossas experiências - a beleza, o amor, a criação -, em que nos aproximamos do que seria verdadeiramente viver, de tal modo que aí até dizemos: assim deveria ser sempre.
No fundo, queremos esta vida, que amamos, mas plena. Queremos a bem-aventurança, a felicidade. Não sabemos exactamente o que queremos, pois é o desconhecido - um "não sei quê -, mas neste não saber sabemos e experienciamos que essa realidade tem de existir: é ela que nos arrasta e é para ela que somos impelidos.
Não sabemos o que queremos dizer com "vida eterna". Apenas podemos pressentir que "a eternidade não é um contínuo suceder-se de dias no calendário, mas como o instante pleno de satisfação, no qual a totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade". Seria o instante da submersão na imensidade do ser, na vida plena, "no oceano do amor infinito, no qual o tempo já não existe."
Na Páscoa, o que se celebra são estes mistérios do cosmos, do Homem e da História, da vida, da morte e da vida eterna.
Anselmo Borges
sexta-feira, 21 de março de 2008
No CUFC: Jornada de Reflexão sobre a Prostituição
“Prioridades na abordagem à problemática da prostituição, hoje”, “Prostituição e globalização que intervenção?” e “Prostituição feminina em regiões de fronteira: o caso do Norte de Portugal” são os principais temas em debate.
Com esta acção, pretende-se fazer uma aproximação à realidade, conhecendo e desenvolvendo estratégias adequadas de intervenção nesta área.
A jornada é aberta a todos os interessados por estas questões. Contudo, por uma questão de organização, agradece-se contacto pelo telefone (234 377 260), fax (234 377 266) ou e.mail (caritasaveiro@dreamlab.pt)
Carlos Borrego fala ao Correio do Vouga
FEIRA DE MARÇO PARA ALEGRIA DO POVO
A Feira de Março, o multi-secular certame que renasce todos os anos, aí está para alegria do povo, de todas as condições sociais. No Parque de Exposições de Aveiro, as diversões para miúdos e graúdos, mais as bugigangas e o comércio a retalho, mais as exposições da indústria, mais as barracas de comes e bebes, mais o artesanato, de tudo um pouco haverá no amplo, arejado e funcional recinto.
Espera-se este ano que os visitantes ultrapassem o meio milhão. Se lá não se chegar, não haverá problemas. A Feira de Março continuará no próximo ano, para atingir, então, um número certo: 575.ª Feira de Março. Bonita idade!
Já me esquecia de dizer que passarei por lá. Nem que seja só para comer uma fartura quentinha.
DIA MUNDIAL DA POESIA
mais do que um fragmento trémulo sem ritmo
na esfera da vida.
Hoje sei que sou eu a esfera,
e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim.
Eles dizem-me no seu despertar:
"Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia
sobre a margem infinita
de um mar infinito."
E no meu sonho eu respondo-lhes:
"Eu sou o mar infinito,
e todos os mundos não passam de grãos de areia
sobre a minha margem."
Só uma vez fiquei mudo.
Foi quando um homem me perguntou:
"Quem és tu?"
Areia e Espuma
Coisas de Ler
VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS
quinta-feira, 20 de março de 2008
Boa pergunta!
E a boa pergunta?
Lembra a "Visão" que um estudante brasileiro interpelou o embaixador português, Francisco Seixas da Costa, para lhe dizer que o Brasil seria melhor se tivesse tido outros colonizadores, os holandeses, por exemplo.
O embaixador, depois de o aconselhar a debruçar-se sobre a história do seu país, disse-lhe com a desarmante naturalidade brasileira: “Queria ver você cantar "Garota do Ipanema" em holandês?!”
AVEIRO ATRAI TURISTAS ESPANHÓIS
Aveiro atrai turistas espanhóis e outros. Quem sai à rua nesta quadra pascal sente isso, tão explícitos são os linguajares que se cruzam connosco. É bom que isto aconteça, porque Aveiro e sua região bem o merecem. Há cartazes que justificam esta preferência. Tradições, cultura, monumentos, ambiente, natureza e a simpatia das gentes aveirenses.
Há muitos anos que a Rota da Luz tem investido na “venda” da nossa região turística, chamando a atenção para o muito que há para ver e admirar. E também para comer e saborear.
Sei que muitos desconhecem esta realidade e este esforço da Rota da Luz e das autarquias que lhe estão associadas. Mas é preciso que nos habituemos à ideia de que é importante corresponder aos desafios que daí advêm. Temos de cooperar com todas as entidades envolvidas pelo turismo, pela razão simples de que este sector, de importância económica, cultural e social, é fundamental para o nosso desenvolvimento.
Paisagens, património histórico, cultural e monumental, tradições, gastronomia, artesanato, artes e o espírito de partilha e de acolhimento, tudo precisa de ser divulgado e experimentado. E se isso fizermos, já será muito bom.
FM
DEPOIS DA TRISTEZA DA QUARESMA A ALEGRIA DA PÁSCOA
Publiquei neste meu espaço diversos temas ligados à Quaresma e à Páscoa. O meu blogue, não sendo um blogue católico, não deixa de ser um blogue feito por um católico. Aqui se procura reflectir e ler a vida com olhares marcados pelos ideais lançados há dois mil anos por Jesus Cristo. Sem sectarismos, mas com a coerência de quem acredita que a Boa Nova então anunciada se mantém actual e a necessitar de ser mais divulgada e vivida.
Sempre vi a Páscoa como sinal indelével de ressurreição e de vida nova. Por isso tantas vezes a ilustro com flores e árvores floridas, sinal de renascimento e de início de florescente caminhada, rumo à verdade por que todos ansiamos. Porque é a essência de um mundo muito melhor.
Aos meus amigos aqui deixo a promessa de que esse também será o meu caminho, de preferência de mãos dadas com toda a gente, crente ou não crente. Sem esse princípio, a vida, para mim, não terá sentido. E a todos convido a partilharmos, nesta quadra, um bom folar, com ovos a enfeitá-lo e a desafiar-nos.
Boa Páscoa para todos.
FM
Da comunicação faz-se Igreja
À medida que aquele canto ecoava por aquelas serranias, onde o vento já se fazia sentir com mais intensidade, dirigi-me, de imediato, para junto do tal grupo de jovens que tinha visto tempos antes, pois eram eles que entoavam este cântico de anúncio, de compromisso e de construção. Não servem as pedras para construir uma Igreja?
O estabelecimento da comunicação entre nós foi rápido, dando a impressão de que nos conhecíamos desde há muito tempo. E porque não? Não somos, todos, filhos do mesmo Pai? Não temos uma fé comum? Não estaríamos, todos, em “treino” espiritual?
Em brevíssimas palavras, direi que o Grupo era constituído por quatro raparigas e três rapazes, todos estudantes universitários. Eram de Vale de Cambra e estão inseridos em várias actividades eclesiais.
A dada altura da conversa, uma das jovens diz-me: “Vimos, para estas bandas da serra, para nos reencontrarmos com Jesus Cristo. E, depois de termos a certeza de que o reencontro foi feito, descemos a serra e Ele vem connosco.”
Por momentos, fiquei sem saber o que dizer, tal era a força da fé e a convicção que via na expressão daquele rosto. Recordei-me, mais uma vez, das palavras do Padre Tolentino Mendonça: ”Vamos ao deserto não para nos instalarmos nele, mas para fazermos dele um caminho para essa novidade pascal. Para grande alegria de Cristo, Homem novo.”
Eu que tinha ido até às bandas da Serra da Freita, para o meu “treino” espiritual, tinha acabado de experimentar que o silêncio pode ser aquilo que a gente quiser que ele seja, desde que tenhamos a possibilidade de o saborear no seu sentido autêntico da vida, através da nossa relação pessoal com Deus e com os homens.
Perante a fé firme daquela jovem, comparada ao granito que pisávamos, senti que “o silêncio não é uma ausência. É a presença plena, inteira e intacta do mundo.”
Muito ou pouco, nós éramos, ali e naquele momento, presença viva de Deus e do seu mundo.
O silêncio que procurávamos tinha dado o seu espaço a um “lugar de comunicação”. Comunicação essa que terá a sua plenitude quando anunciarmos e cantarmos, em alegria, que o Senhor Ressuscitou e está vivo!
Pouco depois, regressámos aos nossos lares, com algum frio e fome à mistura, mas com a certeza de que éramos, pelo menos, mais Igreja!
Vítor Amorim
quarta-feira, 19 de março de 2008
Da Páscoa à Profecia
Na longa viagem da vida, da cultura e da história deste povo, a presença e a intervenção de Deus são permanentemente lembradas através da voz dos profetas e dos acontecimentos da história.
Foi mais fácil para o povo de Israel abraçar a liberdade do que escolher a santidade e assumir a fidelidade.
Estava próxima a celebração desta festa da páscoa quando Jesus sentiu aproximar-se a Sua Hora. No horizonte ainda toldado pela iminência do sofrimento e pela certeza da morte desenhava-se já a profecia do tempo novo, da aliança eterna e da Páscoa definitiva.
É esta Páscoa que nos revisita e se revive agora.
Assim como os Israelitas liam a história do seu povo à luz da páscoa, da libertação e da aliança, igualmente os contemporâneos de Jesus só compreenderam o drama de uma condenação inocente e o valor profético das palavras do centurião romano iluminados pelo mistério e pelo milagre da ressurreição de Jesus: “ Na verdade este homem é o Filho de Deus”.
O povo de Israel parava para reunir a família à volta da mesa e da história; para evocar o que Deus fizera pelos seus antepassados; para fazer memória da liberdade e para saborear a passagem de um país de escravidão a uma terra de liberdade.
A pressa com que hoje se percorre a viagem humana, que é a vida de cada um de nós, das famílias, do trabalho e da convivência social, quase não nos deixa tempo para parar, para fazer evocação, para celebrar memória, para reviver, vivendo e contemplando.
É necessário parar demoradamente nesta Semana, maior do que o tempo todo; por isso a chamamos Maior. Aqui a pressa não tem lugar.
É imperioso parar: para acolhermos e agradecermos a vida; para nos colocarmos em atitude de presença e em gestos de veneração ao lado dos pobres, dos doentes e dos idosos; para experimentarmos o encanto do silêncio contemplativo diante do mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
No murmúrio dos silêncios calados e na atenção dada às palavras de Jesus no Calvário ouve-se a alma de todos os que vivem, sente-se o coração de todos os que sofrem e percebe-se que Deus está por perto de todos. Aí começa a Páscoa. A Páscoa da vida, da esperança e da ressurreição.
A Páscoa é a profecia dos tempos novos. Destes tempos em que a vida reencontra sentido e dignidade e recupera valor sagrado; em que o pecado humano é redimido; em que a humanidade é salva dos seus medos, inseguranças e atropelos da justiça, da verdade e da paz.
O mundo precisa desta Páscoa, que nos traz Deus, de novo, em Jesus Cristo, vivo e ressuscitado.
Uma das missões primeiras da Igreja é trazer a alegria e a certeza da Páscoa ao mundo, porque em Cristo ressuscitado encontramos a esperança que salva, a força que redime, a palavra que ilumina e o alimento espiritual que fortalece. Este é o memorial da Páscoa, sempre revivido e renovado em cada Eucaristia que celebramos.
Propusemo-nos como caminhada Quaresma-Páscoa, na Diocese de Aveiro, tudo fazer para que em Cristo ressuscitado haja vida nova para todos. Desejo esta vida nova, de alegria, de esperança e de fé, às pessoas e às famílias, aos movimentos apostólicos e às comunidades cristãs, em experiências criativas de fraternidade e de comunhão, e em serviço cuidado aos mais pobres para que a todos se revele a verdade da Páscoa que celebramos.
Que esta Páscoa seja uma contínua profecia de um admirável tempo novo, onde a audácia e a beleza do anúncio do Evangelho se unem à coerência e à coragem do testemunho cristão, para que mesmo aqueles que não se revêem na Igreja ou não acreditam em Deus se interpelem sobre as razões da nossa esperança e as certezas da nossa fé.
É no testemunho de alegria, de fé e de vida de toda a Igreja diocesana, bispo, sacerdotes, diáconos, consagrados e leigos de Aveiro, que esta mensagem assume o seu sentido mais belo e o seu autêntico valor pascal.
O anseio de um admirável mundo novo, que foi lema da Jornada Diocesana da Juventude de Aveiro, será sempre um dom nascido da Páscoa, que todos, na comunhão da Igreja que somos, incessantemente procuramos.
Santa e Feliz Páscoa.
CONSCIÊNCIA ESCLARECIDA, CAMINHO DE BEM-FAZER
Não faltou humor fácil à volta da notícia, considerada estranha e fora do tempo, uma vez que, no mundo de hoje, falar de pecado é remar contra a corrente e desconhecer os imperativos da modernidade. De facto, esta decretou que cada um pode fazer o que quiser, uma vez que é, sem apelo nem recriminação de outros, regra e norma subjectiva da moralidade dos próprios actos. Tudo o que desejar e lhe interessar é bom.
Alguns jornalistas, com propensão para catequistas e teólogos, misturaram logo novos pecados com condenação eterna, e não se furtaram a dar picadas no Papa, considerado, mais uma vez, como reaccionário e ultrapassado.
Já se disse que o maior pecado da humanidade é ter-se negado a realidade do pecado, tanto do pecado pessoal, como do social. Este alheamento de muita gente em relação ao desregramento moral reinante, ao agir sem ética e ao dispensar consciente de princípios e valores, está aí na praça pública com o estendal de consequências e desgraças de quem não se respeita a si próprio, nem aos outros com seus direitos, tornando cada dia mais difíceis as relações e a vida em sociedade.
Todos somos capazes de andar por caminhos desencontrados e ausentes de valores e princípios morais, empurrados, então, se for essa a opção, para becos sem saída e para um desgaste sem crescimento interior, nem protagonismo social. Porém, uns lutam para evitar esta tendência e este drama, outros ou andam alheados ou programam caminhos que alarguem espaços agradáveis, mas não inócuos, ao seu viver humano e social.
Muita gente beneficia e é solidária no bem que se faz. É também verdade que nenhum mal, praticado por nós ou por outros, nos fica alheio pelas consequências e pelo clima corrosivo que provoca e vai alastrando à nosso volta.
A Igreja, de facto, não pode desistir de tentar influenciar os comportamentos para que eles sejam expressão e prática diária de bem-fazer. Agora, com objectividade e louvável sensibilidade, chama a atenção e coloca no plano da consciência moral, sem receio de ser denegrida, gozada ou deturpada, realidades e comportamentos de inegáveis consequências, ligados à manipulação genética, à grave poluição do ambiente e depredação da natureza criada, à acumulação injusta de riquezas que provocam pobreza que se torna miséria, ao tráfego de drogas destruidoras, à violação dos direitos humanos fundamentais… Certamente que muitas outras realidades deste género se poderiam acrescentar à lista enunciada, na esperança de que haja sempre gente honesta que o queira continuar a ser.
Muitas destas coisas já estão sancionadas por leis nacionais e internacionais. Mas não falta quem ajude a fugir e a passar ao lado delas, não raro com o favor de quem tem no assunto interesses variados.
Trazemos inscrita em nós, pessoas humanas livres e responsáveis, a lei que é voz na consciência de cada um, a convidar ao bem e a evitar o mal. Porém, o barulho que nos envolve é tão ensurdecedor que todos precisamos de ser acordados e orientados.
Não se podem calar os profetas que clamam pela verdade objectiva e pela justiça social. O seu grito é sempre a favor das pessoas, da sociedade, da natureza criada. Se se calarem, o espaço ficará a descoberto e a favorecer o individualismo de quem só pensa em si e na promoção dos seus interesses.
CRUZ FLORIDA DE CRISTO
“Se as pessoas tivessem em conta a palavra de Cristo: amar os inimigos, não havia atitudes de rejeição nem de discriminação como estas de que falamos.”
Quem o afirma é um sexólogo psiquiatra com programa diário na rádio portuguesa. A conversa que mantinha com a sua interlocutora versava a situação de crianças infectadas pelo vírus que provoca o HIV e, na sua fase mais avançada, a SIDA.
Manter o silêncio a respeito de tais crianças para fazerem a sua vida normal, sobretudo na escola? Deixar correr o “presumido” perigo de contágio, colocando as outras crianças em risco? Dar a conhecer essa situação, ainda que discretamente, e aceitar o “alvoroço” dos pais temendo o pior para os seus filhos?
A conversa ia animada, matizando aqui, esclarecendo além, ilustrando umas vezes, denunciando outras. A conclusão, com sabor a sentença, chega quando são descritas as atitudes das pessoas face a quem é vítima daquela situação e de tantas outras que debilitam e arruínam a saúde, a honra, a honestidade, a posse e o uso de bens, a identidade cultural, as convicções e as práticas religiosas. A sentença veio clara e sonante – após uma série de advertências aos radiouvintes para que não achassem estranho o que ia ser dito: Amar como Jesus amou até os próprios inimigos.
Sinceramente fiquei perplexo. Não pelo acerto da afirmação, mas por vir de quem veio, conhecido que é pela sua “distância” em matéria religiosa e “alergia” a assuntos que dizem respeito à Igreja e à mensagem que anuncia. A minha perplexidade foi momentânea, vencida pela recordação de tantas frases bonitas e dignas do amor humano onde brilha uma centelha divina.
E ocorre-me Einstein na sua célebre afirmação: “ Vivemos no mundo quando amamos. Só uma vida vivida para os outros merece ser vivida”. E Saint Exupéry: “O amor é a única realidade que cresce quando se partilha”. E Papini: “O amor é como o fogo: se não se comunica, apaga”. E Unamuno: “O amor é compassivo; quem mais ama, mais se compadece”.
Estes e outros autores descobrem, saboreiam e apregoam o amor como radical modo de ser humano. O ódio é a expressão máxima de desumanidade e constitui o maior perigo para a vida em sociedade. O cortejo das suas vítimas, ainda que se observe apenas o início do novo Milénio, é incontável e a malvadez do seu requinte é indescritível.
O amor de Jesus dá sentido a tudo o que faz e diz, silencia e suporta. A sua paixão dura a vida inteira e tem um único propósito: Que todas as pessoas consintam em ser irmãs umas das outras porque filhas do mesmo Deus que é Pai e aceitem gerir os bens da terra de modo que não falte o necessário a cada uma nem se estrague coisa alguma na casa de outra. Que os seres humanos consintam na grandeza da sua vocação e realizem fielmente a sua missão para glória de Deus Pai é o que dá força e determinação a Jesus Cristo. Sempre, mas sobretudo no período final da sua vida terrena, aquele que a Igreja celebra na Semana Santa Pascal.
Na paixão de Jesus de Nazaré, brilha o contraste de opostos irreconciliáveis: amor e ódio, compaixão e injúria, presença e afastamento, poder e debilidade, ostentação e pobreza, desprezo infamante e proximidade radical.
Chegada a manhã da ressurreição, verifica-se que a razão está do lado de Jesus. A sua opção é confirmada para sempre por Deus Pai. O futuro – para além da morte física – está definitivamente aberto. À sua luz, tudo tem outro valor, aquele que Jesus foi desvendando nas suas atitudes terrenas.
O Deus que se manifesta em Jesus não está vinculado à força, ao poder, ao êxito. Mantém e renova a aliança com o seu povo. Assume a condição humana, as leis físicas e morais; é vítima de conspiração dos dirigentes e da traição de um amigo; sujeita-se a um processo de desacreditação da sua honra, morre no maior abandono e silêncio.
Por isso, os empobrecidos da terra e os espoliados da dignidade se revêem em Jesus e encontram na sua atitude corajosa a força indestrutível para o calvário da vida, para a agonia de todas as horas, para o peso de tantas cruzes.
Em Jesus, o amor sem medida faz-se respeito a todos: a Judas, a Pedro, aos discípulos ensonados, à trupe que o prende, ao sinédrio que o julga, a Pilatos que o condena, ao povo “volátil” que, ora o aclama festivamente, ora pede a sua crucifixão, aos soldados que o guardam e insultam, a Deus Pai que parece tardar em dar resposta aos seus pedidos.
A resposta chega em tempo oportuno. A cruz seca cede o lugar à cruz florida. É a ressurreição que culmina a Páscoa. Do mais profundo do opróbrio humano, Jesus é elevado à glorificação, abrindo um caminho de futuro a todos os que vivem a sua mensagem e se orientam pelos valores do seu Espírito.
Georgino Rocha
Na Linha Da Utopia
1. Chega-se à Páscoa mediante a realização do caminho vivido. A Páscoa não vem de fora, brota de dentro. Sendo em si um acontecimento de percepção definitiva e intemporal, a sua lembrança na história de cada ano vem recordar-nos que há VIDA para além da vida diária. As festividades pascais não chegam de forma instantânea, nem são umas tantas coisas que se saboreiam, comem, bebem ou cantam. O sentido autêntico da Páscoa quer corresponder ao dar largas à nossa própria interioridade, abrindo as janelas do coração à esperança que insiste sempre em triunfar sobre tudo aquilo que a retarda... Como há dias de forma muito interessante dizia Bento Domingues, «fora do amor não há salvação». A Páscoa quer ser a festa do amor que brota da fonte inapagável de Deus-Pessoa e que quer “jorrar” para uma vida (e)terna.
2. A Humanidade como a conhecemos está repleta de histórias, pensamentos, concepções, filosofias, políticas, visões de personalidades que foram alavancando o futuro. Muitas dessas formas de ler a vida e as sociedades, com os impulsos do progresso, foram passando à história, e muitas delas mesmo, levadas ao limite, originaram grandes guerras e divisões sociais. Que o diga o Séc. XX! Quanto mais as concepções foram ou vão absolutizando a história concreta das coisas mais a fronteira foi ou vai resvalando para o limitado, “cego” e mesmo absolutizador interesse particular. Essa foi sempre a matriz das ideologias totalitárias, que a partir da parte procuraram explicar “tudo”. Já em contrapartida, quanto mais ampla é a abrangência do coração humano mais essa “revelação” se abre de forma integrada à totalidade de todo e cada ser humano. Este é o “passo” definitivo que faz perdurar na história da humanidade as visões supra-históricas como o pensamento das grandes filosofias ou religiões.
3. Compreender o verdadeiro sentido da Páscoa (judeo-cristã) obriga a situarmo-nos acima das coisas diárias. Pelo recolhimento, na busca de elos de unidade entre o que somos, fazemos e desejamos de melhor. Na Páscoa Deus e o ser humano encontram-se, superam-se, transcendem-se, libertam-se na “liberdade” do Amor. Na Páscoa, a história que foi visitada (no Natal) não é fechada, não é “eterno retorno”, é abertura sem fronteiras, convite que inclui quem quer “tocar” o ilimitado, quem alia todas as “razões” e todo o “sentir” emocional; como na vida existencial, tudo se junta, tudo se liberta e tudo se transfigura. Tal como o grão de trigo... Mas para dar fruto é preciso plantar e cuidar. Sendo da “razão” que não se pode esperar fruto onde não se semeou, para o surpreendente Amor Absoluto de Deus…nunca é tarde. A Mesa está posta! Mesmo para “Quem” habita nas “encruzilhadas” dos caminhos. Basta “querer” (reviver) para ser Páscoa! Tão fácil, mas tão difícil. Que todos os “filhos” queiram a Mesa do Pai!
Alexandre Cruz
Viagem de finalistas diferente
O sonho foi surgindo na cabeça de Carla Santos, aluna do 12º ano da área de desporto, que o partilhava com um colega e com o professor de Educação Moral e Religiosa Católica.
“Eles achavam que a ideia de fazer voluntariado estava muito distante das suas possibilidades”, afirma à Agência ECCLESIA Jorge Carvalhais, professor de Português, Inglês e Educação Moral e Religiosa Católica no Colégio Nª Sº da Apresentação e também Director da turma que vai partir em voluntariado.
Talvez pela sua experiência de quatro anos de voluntariado no nordeste do Brasil com os missionários da Boa Nova, o docente acompanhou de perto este projecto que, recorda, “começou quando os alunos frequentavam o 9º ano”.
Dia 23, Domingo de Páscoa, 10 alunos acompanhados de sete professores rumam à Ilha de Santiago, em Cabo Verde, para uma semana de voluntariado.
AVEIRO NA REDE INTERNACIONAL DE CIDADES ARTE NOVA
As coisas que as pessoas sabem!
Alguém sabia que:
Do silêncio faz-se comunicação
Calcorreava, não há muito tempo, os trilhos da Serra da Freita, quando deparo, repentinamente, com um grupo de jovens, a pouca distância de mim. Estavam sentados e em silêncio. Ao princípio, fiquei um pouco preocupado, pois o “meu” silêncio exige muito, mas mesmo muito, de mim – ainda que estivesse sem cronómetro ou outro equipamento de medida, estava a iniciar um “treino” espiritual, onde não queria ser perturbado, a não ser pelo sentir, o mais possível, o pulsar do coração da vida, na relação de mim com Deus, com os outros e comigo próprio. Ainda por cima, sabemos, em regra, o que queremos, mas nem sempre sabemos como chegar lá. Assim, os “intrusos” não me eram desejáveis naquele momento.
Tinha, ainda, que contar com o factor surpresa, sempre presente nestas coisas, para além do medo de não ficar sedento para encontrar a fonte do silêncio que buscava. E se eu não tiver, afinal “sede”? Desisto e tento para a próxima?
Por paradoxal que pareçam estas e outras dúvidas, que muito inquietam, vão sendo acompanhadas por um estranho estado de paz e serenidade, que me invade, através de um silêncio que se ouve cada vez melhor e onde a palavra está cada vez mais presente. Não uma palavra qualquer, antes uma palavra de vida e de comunicação com o Criador.
Estava eu absorvido com esta catadupa de incertezas – quando começo a escutar um dos cânticos mais recitados nas celebrações litúrgicas: “Nós somos as pedras vivas da Igreja do Senhor/ Povo sacerdotal Igreja Santa de Deus/ Nós somos as pedras vivas do templo do Senhor.”
Afinal, o factor surpresa deste “treino” já estava ali, bem presente, mas da forma mais inesperada que eu podia imaginar. As palavras da Carta de São Paulo aos Romanos dizem-nos: “Que insondáveis são os Seus juízos e impenetráveis os Seus caminhos!” ( cf. Rm 11,33). Por momentos pareceu-me que havia alguém a dizer-mas aos meus ouvidos.
É desta graça de Deus que procurarei falar, amanhã.
terça-feira, 18 de março de 2008
Na Linha Da Utopia
As bolsas, o Tibete e os Jogos de Pequim
1. Dos últimos tempos aos últimos dias, o “efeito dominó” tem marcado o ritmo dos reajustamentos da economia mundial às novas configurações da globalização em curso. Neste cenário, “economia” vai sendo a palavra mais que repetida ganhando contornos, infelizmente (dizemos) de que “tudo” é economia; o que seria um “meio” cada vez mais vai sendo um “fim” em si mesmo, o que proporciona ambientes de estratégia e posicionamento em ordem mais ao progresso do “ter” desmesurado que no sentido de uma justa “justiça social” como referencial das chamadas sociedades desenvolvidas. Entre tantas e múltiplas causas da “crise” (ainda que se procure sempre fugir a esta palavra desmotivadora) do reajustamento é a própria especulação dos mercados americanos; especulação, um “sinal” que, de algum modo, se procura “ter mais olhos que barriga”.
2. Do outro lado do mundo, ou melhor, (hoje) ali ao lado, na China que se prepara para a “imagem” simpática e publicitária dos Jogos Olímpicos do próximo verão, vive-se o que já, felizmente, vai tendo repercussões: a histórica chacina da China sobre o Tibete vai ceifando vidas. Diversas instâncias dos Direitos Humanos e da ordem política vão lançando forte alerta sobre Pequim. Resta saber o que fará a capital do gigante acordado imperial chinês. Sabe-se de muita desumanidade daqueles lados e de que as próprias condições das áreas do “trabalho” continuam a anos-luz de uma dignidade condigna dos humanos. Mas tudo avança, tudo tem avançado, quase numa opção de “cegueira” dos poderes ocidentais, privilegiando-se as trocas comerciais aos pressupostos da dignidade humana. Claro que as realidades não são lineares; mas é certo que o novo paradigma (menor) chinês vai abrindo caminhos de retrocesso em termos de humanidade global.
3. Reparando na história do Tibete, podemos identificá-la com muitas das histórias de povos que, anexados à força, procuram a sua legítima autonomia. Assim aconteceu com o Tibete que, na sua história recente, em 1950 foi invadido pelo regime comunista sendo “província” anexada e nos inícios de 1999 foi vítima de forte campanha ateísta pelo regime de Pequim. Os factos que nestes dias temos observado são a continuação desta ofensiva e da busca de autonomia. Pelo mundo fora aqueles que, efectivamente se identificam com a liberdade “livre” não podem pactuar com a actuação do regime comunista “híbrido”. Que sentido terá, neste quadro, a realização dos Jogos Olímpicos de Pequim na China, quando lá se tem procurado iludir a realidade que agora se testemunha no Tibete? Para os atletas os jogos são importantes. Para as instâncias sócio-políticas só nas condições de humanidade e paz os jogos fazem sentido.
4. Também sabemos que os efeitos da pressão internacional, mesmo desta forma, podem ajudar à prevalência dos Direitos Humanos e da consequente autonomia dos povos e da liberdade religiosa. Quem dera que, no mundo global, todas as apostas fossem projectadas na humanidade dos humanos! Também o Tibete continua como símbolo dessa árdua luta da liberdade no Séc. XXI.
Alexandre Cruz
Prós e Contras com optimismo
No Prós e Contras de ontem e hoje reinou o optimismo. Ainda bem que se bate nessa tecla, porque de derrotistas está Portugal cheio. O tema até veio a propósito com a crise financeira que está a alastrar pelas principais Bolsas mundiais. A Economia em Portugal ali esteve representada por umas tantas das principais empresas nacionais e algumas estrangeiras em laboração ou em perspectiva de laboração no nosso País. E, claro, foi muito bom ouvir gente optimista, embora aceitando e denunciando algum realismo.
Ouvi acentuar a importância da formação contínua e da educação, da exigência e da necessidade de acreditarmos em nós próprios. Ouvi falar do turismo de qualidade e de nele envolvermos o nosso património histórico. Ouvi dizer que urge aceitar a avaliação, num mundo em mudança, onde a competição é lema de todos os agentes económicos. Ouvi que é necessário apostar na qualidade e no rigor, mas também na ousadia e na determinação, aceitando os desafios e a autodisciplina. E mais um pormenor: alguém lembrou que o Estado e as pessoas devem pagar o que adquirem em tempo normal, porque assim todos ganharemos.
Numa sociedade de lamentações e de pessimismos, foi salutar sentir que o nosso ego precisa de estímulos e que há quem assuma essa vertente como fundamental ao progresso, em todas as frentes. Ainda bem.
FM
FIGUEIRA DA FOZ: Pintura no CAE
Mar de Solidão
Recado de Saudade
Óleos de Antero Anastácio
No CAE (Centro de Artes e Espectáculos) da Figueira da Foz está patente ao púbico uma exposição de Antero Anastácio, natural de Peniche. São óleos marcados pelo figurativo, onde se denunciam as vivências do autor.
Identificado com o mar e as dunas da sua terra natal, espaço que assume como sua sala de estudo, o artista considera-se um autodidacta. Na sua pintura está bem patente a expressividade das suas matrizes.
FM.
CUBA: Abertura já começou
Li no PÚBLICO que o jornal do PC cubano passou a autorizar a crítica à actividade governativa. Até aqui, os principais jornais concentravam os seus artigos no inimigo ideológico do regime de Fidel, os Estados Unidos. A partir de agora, poderão escrever sobre a ineficácia da administração, o roubo ou a corrupção na economia estatal. Não sei se poderão avançar com sugestões, mas penso que sim.
Também uma notícia recente, da passada semana, dizia que os cubanos poderiam adquirir torradeiras e outros artigos eléctricos, porque a energia já suportava a sobrecarga produzida por esses utensílios domésticos. Isto tudo ao fim de 50 anos de regime e depois de Fidel ter deixado o poder estatal.
Dá para pensar…
FM
PORTUGALIDADE NO MUNDO
“Em 2002 fiz uma volta ao mundo e passei quase um mês no Havai.
Visitei duas ilhas, a Ilha do Grande Havai e a Ilha do Oahu. A primeira coisa interessante foi descobrir a influência portuguesa. Eu não fazia a mais pequena ideia e penso que poucos portugueses sabem disso.
Quando eu pensava que estava num lugar muito longe, Portugal aparecia nas horas mais impróprias e das maneiras mais estranhas: em quase todos os restaurantes havia uma “sopa de feijao” e muitas padarias tinham neons e dizer “pao doce”. O principal cómico local, que era uma espécie de Herman José de lá, tinha um nome português, era Ferreira ou Pereira ou algo assim.
Há também uma base religiosa católica no Havai que foi levada pelos portugueses. Passei o tempo a tropeçar em portugalidades… até o ukelele tinha lá qualquer coisa da nossa guitarra portuguesa.”
Edson Athayde, conhecido publicitário de sucesso, que vive em Portugal.
In Fugas, suplemento de Viagens, Prazeres e Lazer do PÚBLICO
Ao encontro do silêncio de Deus
“…a Quaresma convida-nos a “treinarmo-nos espiritualmente”, para que, neste “processo de renovação interior estejam presentes a oração, o jejum e a esmola.” -, diz-nos o Papa Bento XVI na sua Mensagem para a Quaresma de 2008.
Nestas breves palavras, como se diz na gíria popular, “os dados estão lançados” e o desafio está feito a cada um para (re)descobrir e (re)criar o caminho que o há-de preparar e transportar à Páscoa do Senhor.
No sábado passado, ainda que o tempo não estivesse muito convidativo, decidi pôr-me a caminho da Serra da Freita, com o sentido de me “treinar” espiritualmente.
Desde há muito, que gosto deste passeio, que me leva pela Serra do Arestal até à Serra da Freita.
Não são as belas paisagens ou as novas perspectivas da beleza que vou encontrando que são o motivo deste apelo espiritual. Sinto, isso sim, que este (re)encontro com a natureza oferece-me um outro gosto, decantado por toda a beleza que a envolve, pela originalidade da busca e pela surpresa que, na montanha, se torna mais imprevista, ou seja, mais original e autêntica.
Como dizia o Padre José Tolentino Mendonça, na entrevista que concedeu à Agência Ecclesia, no passado mês de Fevereiro: “Cada um de nós tem a sua serra, onde encontrará o silêncio matricial.”
Na mesma entrevista, o Padre Tolentino Mendonça, acrescenta: “ele [o silêncio] é necessário para fugirmos ao nosso próprio ruído. O grande ruído não está na cidade, mas aquele que nós transportamos . É ressonância confusa que as coisas deixam dentro de nós. A Páscoa é um tempo de discernimento. É um tempo para treinar os sentidos.”
Chegado perto da zona da Albergaria da Serra (outrora Albergaria das Cabras), eis que estava pronto a iniciar o meu “treino”. Não tinha, nem podia ter, um plano estabelecido e muito menos a mais pequena perspectiva do que podia sentir, ver, ouvir ou encontrar. Só sabia que ía dar o melhor de mim, porque o “treino”, por experiência própria, tem que ser muito exigente para dar bons resultados.
É deste “treino” que irei falar amanhã.
Vítor Amorim
segunda-feira, 17 de março de 2008
Aveirenses Ilustres
Na Linha Da Utopia
1. Era o tempo da II Guerra Mundial. A jovem Chiara Lubich, natural de Trento (Itália), vendo a dramática situação da Europa na decadência dos ideais humanos, vem propor uma mensagem de esperança e de diálogo, assente na condição de abertura do ser humano ao ser dos outros e ao ser de Deus. Chiara recebe agora, na hora da partida (14 de Março 2008), os frutos da sua sementeira plantada ao longo da intensa vida (de 88 anos) dedicada a anunciar caminhos de UNIDADE. Não é só o mundo ecuménico das igrejas que está reconhecido e vive a sentida hora da despedida quando (terça, às 15h) em Roma o mundo celebra o dom de sua vida. João Paulo II acolheu e apreciou a sua obra, dizendo que ela corresponde na essência ao espírito renovador do Vaticano II.
2. Chiara Lubich (1920-2008), fundadora do Movimento Ecuménico dos Focolares (http://www.focolares.com/), do seu coração universal transborda um testemunho de vida que interessa a todos. Não foi por acaso que a sua raiz fraterna da mensagem «que todos sejam um» espelha pelo mundo fora frutos de unidade nas múltiplas vertentes do diálogo (quatro): entre católicos, entre cristãos das várias confissões, com membros de outras religiões e com pessoas de visões não religiosas. Uma verdadeira catolicidade (universalidade) que hoje torna presente a sua obra em 182 nações (também em Portugal), num universo de pertença de cerca de 140 mil focolarinos activos e na ordem de dois milhões de aderentes.
3. Enraizada na essência da mensagem cristã, como visão aperfeiçoada da “fraternidade” (emblema ideológico que a Revolução Francesa de 1789 havia desvirtuado cabalmente quando se observam os factos sucedâneos da exclusão de género e de raça), o mundo não esquecerá que ela foi a primeira mulher a partilhar a sua experiência de vida e de fé em auditórios de diferentes religiões como entre muçulmanos, hindus e budistas. A sua mensagem, como afinal as grandes mensagens, não se esgota no campo da religião mas abre-se a uma totalidade de experiência humana fraterna. Neste contexto de uma vida vivida ao serviço dedicado do bem comum estão concepções que iluminam as sociologias e as economias, propondo mesmo conceitos como a «economia de comunhão».
4. Factos muito relativos e mesmo secundários para ela como para as pessoas grandes porque simples, mas elementos identificadores do reconhecimento dos alcances da vida e obra de Chiara Lubic na sociedade civil, estará o facto dela ter sido aclamada por variadas universidades de todo o mundo com o título de honoris causa. Em áreas tão díspares como a teologia, psicologia, filosofia, economia, sociologia, política. Parte da história humana para uma história sem tempo e espaço mais um símbolo das lutas e das esperanças do passado Séc. XX. A semente caiu na boa terra e deu largos frutos! Acreditamos eles vão permanecer porque anteciparam futuros de unidade humana nas diversidades do tempo global. Mas, que não se percam esses ideais abertos, temos de compreender e sensibilizar mais para a raiz profunda que moveu a vida de gente tão generosa como Chiara Lubich. O mundo está reconhecido e quer continuar a aprender da dádiva que a inspirou em tempos conturbados como os seus.
Alexandre Cruz
ÍLHAVO: Dia Mundial da Poesia
Fado português
O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
Ai, que lindeza tamanha,
meu chão, meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.
Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.
Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.
Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro veleiro
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
José Régio
AVEIRO: Jornada Diocesana da Juventude
"Ir ao encontro de Deus, viver de Cristo, deixar-se guiar pelo Espírito e anunciar o Evangelho não é para vós jovens uma opção facultativa. É uma decisão assumida; é uma decisão consciente; é um caminho que urge percorrer e uma missão hoje 'mais necessária do que nunca'”.
CHINA: Ofensas à liberdade continuam
AVEIRO: Zona histórica sem carros
domingo, 16 de março de 2008
Laudate Dominum, de Mozart
Laudate Dominum, de Mozart, pode ser um momento lindíssimo para este fim-de-semana. A sugestão veio-me do blogue Mar Sem Sal, de uma minha conterrânea, especialista de música e da arte de bem cantar. Com os meus agradecimentos aqui partilho este Laudate Dominum, de Mozart.
Na Linha Da Utopia
Uma canção para “Ser Tempo”
1. Vivemos esta semana um tempo especial. Desde a antiguidade cristã que, na aproximação à Páscoa, na semana antecedente, se procura interiorizar de forma mais plena o centro da mensagem da revelação do Absoluto de Deus na forma personalizada, numa Pessoa chamada “Jesus Cristo”. Todas as comunidades que cultivam valores com raiz de esperança alicerçada no divino têm os seus “tempos fortes”. Para a comunidade cristã vive-se a designada “Semana Santa”; uma semana que começa com a celebração festiva do Dia Mundial da Juventude (DMJ), uma iniciativa de João Paulo II comemorada no domingo de Ramos anterior à Páscoa. Na diocese de Aveiro este ano foi escolhido o (arciprestado) Concelho de Anadia para acolher a multidão de jovens da área diocesana. Mil, dois mil jovens… o importante é sempre a vivência de cada um no sentido dos valores comunitários de uma esperança que se quer fortalecer em ambiente pré-pascal. E ficam sementes de paz para a vida!
2. Também, periodicamente, vão surgindo propostas e iniciativas de partilha através da música, esta uma arte de apurada sensibilização para a juventude. Da organização do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil, como todos os anos e no quadro da proposta diocesana para a juventude, este ano na véspera do DMJ realizou-se o Festival da Canção. Em noite de tantas e ricas mensagens, coube à Paróquia de Aradas, pelo seu grupo de Jovens e numa caminhada permanente de juventude como em todas as paróquias da diocese, a construção da mensagem mais reconhecida pelo júri do festival (melhor letra e canção vencedora). Abaixo partilhamos esta mensagem que vai abrindo a ponte pascal: SER TEMPO!
Fui procurar…onde se esconde o tempo
Saber como faz p’ra não parar
É que saber uns truques dava jeito
Para poder levar-te e ensinar-te…
Mesmo a dormir!
Não o encontrei e o tempo não parou
Não sei onde falhei, o que me escapou
Eu só queria aprender a ser mais eu
E a toda a hora e a todo o momento
Saber estar em ti…
Também eu quero ser tempo
P’ra nunca parar
Ser a tua voz no vento
E poder renascer em ti
Ser o que queres anunciar
O tempo é da gente, o tempo somos nós
O tempo é a correr e a vida é uma só
Porque me falas a mim isso eu não sei
Só sei que quero ser…sei que quero viver
P’ra ser a tua voz!
O que seria de nós, sem o espírito divino?
E o que seria do mundo sem um olhar de Paz!
[ARADAS:
Letra e música: Daniel Lopes.
Interpretação: Daniel Lopes, Liliana Monteiro, Paulo Gravato, Tiago Marinho.]
Alexandre Cruz
TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 69
Caríssima/o:
A Regente Escolar não é necessariamente uma figura comum na minha paisagem escolar. Consultando a rede escolar da nossa região apenas encontramos postos escolares na Boa Hora e na Costa Nova – e, creio que, já muito por meados do século XX, na Barra.
De facto, saíra eu há anos da nossa Escola, encontrei um dia, uma Regente na Escola da Ti Zefa - creio que estaria a substituir o titular do lugar. Com espírito de grande abertura e afabilidade, bom trato e humildade, fiquei com a convicção de que, à semelhança dos nossos artífices, superava a falta de preparação científica com boa dose de senso e o saber de experiência feito.
Aqui, pois, a minha palavra de muito apreço e a minha homenagem a essas Mulheres simples mas decididas na pessoa da Elvira!
E, por fim, os “Patronos”...(Quem diria que se tornaria matéria quente da actualidade o nome a atribuir às escolas?!...) E refiro-me apenas e só aos patronos das escolas que “frequentei”, pois as da Chave e da Cale da Vila assim eram designadas por nós. Fá-lo-ei muito levemente... (Área aberta a investigação: a biografia das “figuras públicas” da nossa Terra; ao Professor Fernando um puxão amigo para que invista... ou alguém avance...)
Dito isto, acrescentarei:
Zefa – diminutivo de Josefa – lavradeira nossa contemporânea que se dedicou à venda de leite na praia da Barra;
Bola, comerciante e industrial;
Lopes, emigrante.
Sei que é pouco mas poderá actuar como ponto motivador.
Manuel
sábado, 15 de março de 2008
AS VÍTIMAS INOCENTES: TRISTEZA METAFÍSICA
No mundo moderno, conduzido em grande parte pela ideia de progresso, ergueu-se, nos séculos XIX e XX, um ateísmo moral por causa das injustiças do mundo e da História. "Um mundo no qual há tanta injustiça, tanto sofrimento dos inocentes e tanto cinismo do poder, não pode ser obra de um Deus bom."
Quase se poderia dizer que se é ateu ad majorem Dei gloriam, para a maior glória de Deus, como se, perante o horror do mundo, a justificação de Deus fosse não existir. É-se ateu por causa de Deus, que é preciso recusar por causa da moral.
Afastado Deus, deve ser o Homem a estabelecer a justiça no mundo. Mas não será esta uma pretensão arrogante e intrinsecamente falsa? "Um mundo que tem de criar a sua justiça por si mesmo é um mundo sem esperança. Ninguém nem nada responde pelo sofrimento dos séculos", escreve o Papa.
Aqui, Bento XVI apela para a Escola de Frankfurt, nomeadamente para Max Horkheimer e Theodor Adorno, que viveram filosoficamente a inconsolável "tristeza metafísica" da impossibilidade de fazer justiça às vítimas da História. De facto, mesmo supondo, no quadro do marxismo e da ideia do progresso moderno, que algum dia fosse possível a edificação de uma sociedade finalmente justa, transparente e reconciliada, ela não poderia ser feliz. A razão é simples: ou essa sociedade se lembrava de todas as vítimas do passado, que não participam dela, e então seria atravessada pela infelicidade, ou não se interessava por essas vítimas, mas então não era humana, porque insolidária.
Horkheimer e Adorno exprimiram uma filosofia em tenaz: por um lado, não podiam acreditar num Deus justo e bom; por outro, há uma verdade da religião, apesar de todas as suas traições no conluio com o poder e os vencedores: a religião "no bom sentido" é, segundo Horkeimer, "o anelo inesgotável, sustentado contra a realidade fáctica, de que esta mude, que acabe o desterro e chegue a justiça". Não se trata de um desejo egoísta, mas da esperança contrafáctica de que a realidade dominante da injustiça não tenha a última palavra. Daí, o "anelo do totalmente Outro", o "anelo da justiça universal cumprida", "a esperança de que a injustiça que atravessa a História não permaneça, não tenha a última palavra".
Esta esperança tem de traduzir-se numa praxis solidária tal que "não se possa pensar que não existe um Além". Nesta praxis, está implicado o pensamento do Absoluto, não para afirmá-lo, mas como anelo de que o finito e o mundo da injustiça não sejam a ultimidade e o definitivo.
Também neste sentido, Adorno escreveu que "o pensamento que se não decapita desemboca na transcendência". Frente às aporias da razão, neste domínio, a única filosofia legítima seria "o intento de contemplar todas as coisas como aparecem à luz da redenção". Embora se não possa afirmar nada para lá da imanência, a pergunta pela esperança truncada das vítimas, que acusam o mundo da história dos vencedores, obriga a pensar para lá dos limites da imanência, colocando a pergunta pelo Absoluto enquanto pergunta pela justiça universal.
Em diálogo com a Escola Crítica de Frankfurt, Bento XVI reconhece que a necessidade individual da realização plena e da imortalidade do amor já é "um motivo importante para crer que o Homem está feito para a eternidade", "mas só o reconhecimento de que a injustiça da História não pode de modo nenhum ter a última palavra" convence da necessidade da ressurreição dos mortos e da vida eterna.
Na Sexta-Feira Santa, lembra-se Cristo na cruz, que morre, inocente, e gritando uma oração em pergunta, que atravessa os séculos: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?" Os cristãos acreditam que o Deus do amor, seu Pai, respondeu, ressuscitando-o dos mortos, dando esperança ao clamor das vítimas da História.
sexta-feira, 14 de março de 2008
Pacheco Pereira conta uma história interessante ou sem graça nenhuma
Barbosa de Melo no CUFC
Sporting salva a noite
Prenúncio de Primavera
Ainda a marcha da indignação
A conhecida socióloga, escritora, investigadora e professora universitária Maria Filomena Mónica participou, a convite da revista SÁBADO, na marcha da indignação. Foi para observar, para depois comentar. O que fez, para a SÁBADO desta semana.
A dado passo das suas considerações, muitas delas pertinentes e justas, disse que “a Educação é o maior falhanço do actual regime”, e que, a seu ver, “as reformas educativas deveriam começar pelo topo, introduzindo-se o numerus clausus nas univeridades”. A seguir referiu que, “diante da pressão das classes médias, o Estado corria o risco de abrir demasiado as portas ao ensino superior”. E acrescentou: “Foi o que aconteceu. As faculdades passaram a receber mais alunos do que os professores doutorados (os únicos competentes para ensinar) tinham capacidade para leccionar. Os resultados viram-se: todos os anos foram lançados no mercado licenciados analfabetos. Entre a multidão reunida no Terreiro do Paço havia provavelmente quem (como a ministra) tivesse sido meu aluno. Apesar do meu esforço em preparar bem as aulas, tenho consciência de que muitos acabaram as suas licenciaturas sem competência para ensinar.”
Tenho dificuldade em aceitar esta generalização. Há muito este hábito entre nós. Por um lado, nada nos garante que só os doutorados é que têm competência para ensinar. Alguns até - admito - podem saber muito e não ter capacidade para transmitir o muito que sabem. Ensinar, se é uma ciência, também é uma arte, a meu ver.
Por outro lado, custa-me aceitar que o nosso mercado de trabalho tenha assim tantos licenciados analfabetos. Acredito, e conheço, licenciados que pouco ou nada lêem, para além do específico da sua profissão, que não vão ao cinema nem a exposições, que não frequentam concertos nem livrarias, que nada sabem, em resumo, do mundo em que se inserem. Mas há outros, com certeza, que se valorizam no dia-a-dia, que lêem e vêem o que possa contribuir para a sua formação integral. Como há licenciados trabalhadores, competentes e esforçados a par de outros que se baldam. Há de tudo, afinal, como em qualquer profissão. Por exemplo, também conheço doutorados que, para além da sua especialidade, não passam de uns ignorantes, direi mesmo analfabetos, sobre muitas expressões culturais, sociais, artísticas e religiosas que existem à sua volta.
FM
quinta-feira, 13 de março de 2008
Na Linha Da Utopia
1. A Comissão de Solidariedade Social da Associação Académica da Universidade de Aveiro (ORIGAMI), na sua organização do Ciclo de Tertúlias para a Tolerância, levou nestes dias a efeito importante iniciativa sobre «Educação para os Direitos Humanos». Um apelo e um convite fundamental aos estudantes na reflexão continuada sobre as preocupações do mundo em geral (em que continuam a ser tantas as violações dos direitos humanos); mas numa dinâmica da “transferência” dessas preocupações globais para as visões do compromisso diário no âmbito do estudo, investigação e trabalho. A dinamização esteve a cargo da Amnistia Internacional, instância de referência no zelo e promoção dos direitos humanos e na denúncia de situações de seu desumano incumprimento. Conhecer “o que falta” é sempre o primeiro passo para que não falte; a este nível a Amnistia Internacional transfere o “grito” de situações silenciadas para a visibilidade global. Um impulso decisivo em ordem à dignificação da pessoa humana no mundo actual.
2. Felizmente que hoje são muitas as sensibilidades nesta área, no esforço de proporcionar o encontro do «ideal comum a atingir por todos os povos» com às práticas concretas, em todo o tempo e lugar. São também muitas e diversificadas as instâncias e organizações que vivem e promovem esta causa de todos. Também se sublinhe que, hoje, falarmos correntemente de «educação para os direitos humanos» já é por si um sinal de conseguida e múltipla abertura; tanto da educação como tarefa abrangente e por isso que estabelece ponte com as realidades a transformar, como do referencial da Declaração Universal dos Direitos Humanos que quer chegar a todas as áreas do conhecimento (mesmo técnico-científico) para que ele seja e esteja, sempre mais, ao serviço da Humanidade. Este horizonte de diálogo transdisciplinar é, afinal, o caminho que corresponde a concepção plural e inclusiva da dignidade da pessoa humana.
3. Pese, embora, os caminhos já percorridos como eco histórico do dia «10 de Dezembro de 1948» (em que simbolicamente estamos), uma consciência mais efectiva e participada, motivada e sensibilizada está sempre em reconstrução. Enquanto o desejado desenvolvimento humano dos povos continuar a escrever páginas de sangue e indignidade este quadro de referência sócio-educativo não pode esperar. Talvez, nos tempos em que estamos, onde convivemos todos os dias as notícias da miserabilidade correndo o perigo de nos habituarmos, nestes contextos, a aposta decisiva será mesmo na qualidade da proposta como educação «em» direitos humanos, onde estamos totalmente envolvidos naquilo que comunicamos. Felizmente que hoje uma multidão vive este caminho e dá por ele a vida, o tempo, a esperança. Mas ainda falta sempre tanto para este ideal descer ao coração de cada um, e, talvez até mesmo na educação, a começar pelo filme dos brinquedos para crianças (muitos carregados de “guerra”)! O “refrão” dos “direitos humanos”, por si, tem vida curta; para ir mais longe precisa de incluir a “dignidade humana” na sua raiz aberta à Totalidade que cultive e aprecie o que é SER e existir no mundo com os outros. O caminho longo da dignidade!
Alexandre Cruz
Batalha em campo aberto, sem vencedores à vista
Se há acção em que toda a gente se deve entender para colaborar sem preconceitos, sendo pressuposto, como é normal e legítimo, o diálogo em que se discutam abertamente os problemas em campo, bem como o modo possível de os ir resolvendo, com mérito e civilidade, é a acção educativa, que se espera da escola e de todos os seus mais directos intervenientes. Neste mundo concreto, o mais importante são os alunos, que querem e têm direito a aprender, com pais, professores, governantes e cidadãos em geral, a preparar-se para a vida e a capacitar-se para serem cidadãos responsáveis, conscientes e participativos. O livro que lhe abrem com toda esta batalha, que podia ser dispensável, não traz lição apetecível que se possa aprender.
Os professores de há muito se vêm desmotivando, por razão das contínuas medidas do Ministério, unilaterais e não admitindo réplica, dando a impressão de que quem governa lá de longe tudo resolve com ordens e papeis, parecendo não ter em conta, nem a natureza do trabalho de quem ensina, nem a realidade de muitas escolas que hoje, em muitos casos, são campo difícil, que só o conhece bem quem vive e actua lá dentro.
Os educadores escolares são agentes necessários na escola e na missão que a esta compete. Há que contar sempre com eles e não entrar em conflitos evitáveis, que deixam muitas vezes marcas difíceis de apagar.
Há, em ligação à escola, problemas urgentes a resolver. Todos o sabemos. Não são sempre boas as condições de trabalho. O ambiente, dentro e fora da escola, deteriorou-se. Em muitos casos, deparamos com gente que está no ensino porque não teve outra saída e se mostra incapaz de criar relações propícias para comunicar vida e saber aos seus alunos e proporcionar boa colaboração aos seus colegas.
Gente que parece ter feito da escola um apêndice do seu dia a dia. Mas, se são estes agentes que o Ministério quer atingir, deve saber que se trata de uma minoria, que não pode constituir motivo ou ocasião para se esquecer a grande maioria dos professores das escolas do Estado, que fazem esforços heróicos para serem fieis à sua missão, gente com direitos adquiridos e vidas organizadas, gente séria, competente e sabedora, que vai marcando vidas e gerações, colegas amigos e fiéis aos outros colegas, profissionais que se gastam, diariamente, numa tarefa que constitui para si uma autêntica paixão. Não o reconhecer, se for o caso, é ser injusto, exacerbar e irritar, por menosprezo, um mundo de gente de que o país precisa. Está na rua e em luta o que nunca deveria ser preciso levar à rua.
O governo assume-se como reformador e, quando há que reformar, está no seu direito e cumpre o seu dever. Nunca, porém, a ditar sozinho do palanque alto e distante do poder. Diz a técnica jurídica que, para que as leis sejam aceites e eficazes, se deve procurar, antes da sua promulgação, que sejam desejadas e esperadas. Isto não se faz sem auscultação aberta e pedagogia adequada. O poder emanado do povo nunca pode dispensar o povo e os que o servem nas bases. A fidelidade de quem faz do governar um serviço, não é simplesmente fidelidade a um programa eleitoral, mas ao serviço a prestar, em cada momento e circunstância, ao conjunto nacional.
Parece urgente acabar-se com esta batalha em campo aberto, entre o Ministério e os professores, com manifestações e contra manifestações. Há batalhas muito graves e urgentes na vida e no agir da escola e no campo da educação. Elas não se podem adiar e aí todos fazem falta. O importante não pode apagar o essencial. Na escola está o futuro.
quarta-feira, 12 de março de 2008
Professores e educadores decisivos para o futuro
Na Linha Da Utopia
1. Muitas vezes ouvimos gente adulta e influente nas sociedades a recordar com nostalgia os tempos idos em que as festividades mobilizavam os lugares, as ruas e as famílias em torno de valores esperançosos e em ordem à renovação de ideais e princípios estimulantes ao bem comum. Naturalmente os tempos são outros, e importará nem ter uma saudade como se antigamente fosse tudo bom, nem simplesmente esquecer o passado como se esse nas suas tradições não tivesse razão de ser. Talvez este seja um dos eixos da encruzilhada da civilização actual, onde se procura dar um “salto em frente” de tal maneira amplo que acabamos por não saber em que se alicerça a própria vida; em contrapartida, verifica-se essa memória gratificante (hoje) das memórias do passado, considerando-se o quanto elas nos constroem na nossa própria identidade. Mas neste contexto a maior interpelação é sentir a completa indiferença de quem tem essas memórias e não vive qualquer preocupação em “passar” um certo testemunho aos seus vindouros, até na preocupação cultural de que vão apreendendo “sentido”em todo o património (e muito dele é religioso) que os rodeia.
2. Não admira, por isso, a dificuldade em fazer passar a mensagem da cultura, da vida e da espiritualidade. Até da própria dimensão pessoal mais básica (diríamos) aconfessional, humana, sem ligação a qualquer igreja ou religião, pois a “menoridade cultural” ou o preconceito ideológico ou, ainda, muito do peso institucional das religiões e igrejas, afastam o ser humano contemporâneo da sua caminhada existencial mais profunda. Ninguém dá o que não tem. E é certo que para ler e partilhar toda a panóplia de significados que as festividades e celebrações comportam como “história viva” e actual é preciso um grande caminho de busca de sentido. A Páscoa (passagem) de há cerca de três milénios para cá, e numa dinâmica aperfeiçoada pessoalmente há 2000 anos, inscreve-se nesta mesma fronteira. Quem a conhece “por dentro” vê nela o centro de referência no qual alicerçar um sentido a dar à vida; quem a lê no imaginário público sente um resto interessante de tradição curiosa com sentido sociabilizante; quem não a conhece, não quer conhecer e não quer que ela se partilhe (esquecendo que dela derivam mesmo os valores sócio-democráticos da tradição judeo-cristã) então vai mesmo procurando apagar da memória colectiva as centelhas da sementeira de significado e sentido…
3. É o tempo das opções, entre um “Algo/Alguém” que nos estimule positivamente ou um “quase-nada” de ausência de fundamentação do sentido da vida. Neste erguer-se-á o “ter”. Até como significado cultural (se já não na essencialidade altíssima do que a Páscoa é enquanto fonte de “vida nova”) torna-se essencial o compreender a memória histórica (e seus valores) que nos precedeu. Será isto importante? Que memória queremos que perdure no coração nos nossos filhos? Serão só as coisas da Páscoa?
Alexandre Cruz
Clube Stella Maris vai celebrar jubileu
O porto de Pesca Costeira está instalado no canal de Mira, na zona da Marinha Velha, o porto Comercial está no Forte da Barra, o porto Industrial na Chave e o porto de Pesca Longínqua na Chave e Cale da Vila. Todos, afinal, na Gafanha da Nazaré. Há 25 anos quase tudo se concentrava na zona do porto de Pesca Longínqua. Nessa altura foi lançada a primeira pedra do edifício que ainda se mantém aberto aos homens do mar e suas famílias, bem como a toda a gente, directa ou indirectamente identificada com a ria e com o mar.
D. António Francisco, Bispo de Aveiro, na conversa informal que manteve com a direcção do Stella Maris, sublinhou que durante 2008 importa celebrar este jubileu, em espírito bíblico. Mas logo recordou que 25 anos de trabalho “obrigam-nos a pensar numa celebração que recorde quantos se deram à Obra do Apostolado do Mar”.
Defendeu a implementação de projectos que se estendam “a todas as paróquias ligadas ao mar e à ria”, desenvolvendo uma “pastoral específica”, sem esquecer o “entrosamento com as outras dioceses marítimas do nosso País”.
O Bispo de Aveiro frisou a dedicação, a generosidade e o espírito de comunhão vivenciados pelos dirigentes e seus familiares no Stella Maris, durante os dois anos decorridos, razões principais do equilíbrio financeiro conseguido e das esperanças num futuro melhor.
O encontro serviu ainda para se falar sobre acções a desenvolver nos próximos tempos, em especial sobre uma participação significativa do Stella Maris de Aveiro no Encontro das Praias, a ter lugar em Sines, em 25 de Maio próximo.
FM