quarta-feira, 18 de abril de 2007

Um artigo de Alexandre Cruz

RIGOR E SENSIBILIDADE
1. A ordem do dia, em notícias vindas da capital do país, tem sido marcada pelas consequências de um mal que muito nos perturba e atinge a nossa própria essência de ser português. A ideia que por essa Europa (dos 15, 25 e 27) vai perpassando do nosso país é de uma sementeira de razões de laxismos, facilitismos, compadrios. O dizer-se na praça pública, com se tem dito nestes dias, que professores de algumas universidades privadas da capital eram simultaneamente deputados na Assembleia da República e exerciam a leccionação para a qual não estavam habilitados mas só porque eram “figuras” e “amigos”, dá-nos uma imagem do país que não queremos mas que infelizmente existe. 2. Mais, em debate televisivo aberto, confirmou-se o já sabido sentimento de que tantas vezes as comissões de estudo (com ou sem inquérito), as averiguações em dossier, os trabalhos de grupos convidados de especialistas…todo esse laborioso cuidado em ver, rever e propor, acaba tantas vezes por cair em saco roto não se sendo (politicamente) consequente com o estudo que se solicitou e em que todos investimos. Uma sensação de inconsequência (deixando andar) percorre muitas áreas gerando sentimentos do ir deixando para amanhã o que se pode (e deve) fazer hoje. 3. Bem se sabe que problema adiado é problema multiplicado. Sem primarismos, mas uma filosofia cultural do inadiável deveria “varrer” os maus hábitos purificando o “sistema” ideológico muitas vezes laxista. Cada instituição que implode na corrupção, cada ponte ou caminho-de-ferro que sem o rigoroso e periódico cuidado caem, cada obra pública que triplica o seu preço orçamentado, cada serviço que fecha desertificando irreversivelmente o nosso interior, fala-nos de um Portugal que se adia e perde no tempo, não agarrando cada dia uma alma e um sentido de construção social fundamentais que unam em convergência os esforços de todos. 4. Não se pense que o problema são os senhores do Estado; se esses renovam elegantemente a sua frota de automóveis ou colocam as secretárias que lhes aprouver, também o empresário português em inícios de sua visibilidade, tantas vezes, das primeiras coisas que faz é comprar o melhor carro e a melhor casa. Assim, não é a dicotomia público-privado que está no centro do problema, é a questão de uma mentalidade colectiva permissiva e que muitas vezes ainda vê com maus olhos o “rigor” e a disciplina. É também neste campo da exigência cuidadosa em que estamos depois de quase todos os países europeus. 5. “Rigor”, a partir carteira da escola, terá de ser a aprofundada palavra de ordem. Todavia, não o rigor seco, do mete-medo, do ter de fazer senão advirá punição. Este terá de ser o tempo do rigor gratificante porque explicado que é para o melhor de todos (como no bom exemplo da TAP com o Eng. Fernando Pinto). Só o rigor completo combate o laxismo e a corrupção; só a separação das águas entre a amizade e a competência fará de Portugal o país da liberdade na verdade e não, muitas vezes, um arrastar-se no vício do pensar só em si; quando vieram os primeiros fundos europeus (há 20 anos), quantos senhores, falseando as aplicações, pensaram só em si em vez de formarem e investirem de acordo com as metas a atingir (?). Foi aqui que a Irlanda e a Espanha deram o salto. 6. A cultura do rigor diário com sensibilidade terá de ser, afinal, a cultura na própria vida. Naturalmente que em Portugal fez-se muitíssimo em tão pouco tempo; mas necessariamente a pergunta se se fez bem e se se gerou uma mentalidade dinâmica e responsável em tudo obtém resposta em aberto… Será que Portugal só com a justiça é que vai lá? Será mesmo que não sabemos viver e SER a liberdade? Mal vai e pobre país é aquele em que o rigor tem de entrar à força! Se o rigor vem pela força não desce ao coração, não é acolhido na sensibilidade; desaparecendo a fiscalização tudo volta ao mesmo mal… Talvez no tesouro que é a educação, de forma transversal, seja de apostar mais e melhor na formação humana e cívica; esta será o “lugar” onde será possível gerar uma mentalidade de rigor que sabe bem, pois acolhido com sensibilidade constrói comunidade. No fundo é de (noção de) COMUNIDADE que precisamos! (Dizem os estudos sociais que apesar de solidários no SOS pensamos de forma muito individualista, ideia que se aproxima muito do “Chico esperto”…).

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Ares da Primavera

Figueira da Foz: Parque das Abadias


PRIMAVERA: ATÉ QUE ENFIM!
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A Primavera, a sério, aí está. Até que enfim! Está um sol radioso e já tirei o casaco. Tempo quente como no Verão. Ou quase, melhor dizendo. Passear pelo Parque das Abadias, de relva fresca e arvoredo a dar-nos a sombra precisa, é um prazer muito grande. Ao fundo, para onde volto com frequência, estão o Centro Cultural, a Biblioteca e o Museu. Tudo espaços que são outros tantos desafios, para quem gosta de fugir da rotina.

O exemplo de Bento XVI



O PAPA COMPLETA HOJE
80 ANOS DE VIDA
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Embora tenha celebrado ontem, com uma eucaristia, o seu aniversário, o Papa só hoje completa 80 anos de vida. Uma vida cheia de Deus, como é suposto admitir, sabendo, quanto se sabe, da sua entrega à Igreja de Cristo e, por inerência, a todos os homens e mulheres de boa vontade.
Teólogo de renome, cardeal com ampla intervenção no tempo de João Paulo II, agora Papa, Ratzinger não se cansa de mostrar toda uma vitalidade impressionante. Apesar dos seus 80 anos de idade e quando tantos mais novos se apresentam reformados e conformados com nada fazer, Bento XVI dá ao mundo um exemplo digno de ser louvado.
O Governo da Igreja não é, certamente, tarefa fácil, para manter a unidade numa universalidade de culturas, raças, costumes e diferenças sociais abissais. Mas nem por isso o Papa deixa de mostrar serenidade nas decisões e ousadia nas propostas. Ainda escreve, como o prova o livro que acaba de sair sobre Jesus Cristo, que há-de ser bastante procurado e lido, numa altura em que tanto se especula sobre a vida histórica do Senhor.
Bento XVI é, portanto, um bom exemplo para todos nós, sobretudo para os descontentes da vida, para os acomodados, para os que não conseguem descortinar razões elevadas para viver com dignidade, mas ainda com objectivos abertos ao projecto de um mundo melhor para todos.

Fernando Martins

Diplomas de José Sócrates




BOM CONSELHO
DE CAVACO SILVA
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Com a prudência a que já nos habituou, Cavaco Silva deu aos portugueses mais um bom conselho. Questionado sobre os diplomas do primeiro-ministro, respondeu que esse problema “não é com certeza o mais importante para o desenvolvimento do país”. Alguns jornalistas ainda voltaram à carga, mas o Presidente respondeu, com serenidade, que teria de repetir o que já havia dito. E mais não disse.
Penso que Portugal e os portugueses estão cheios de problemas, a merecerem, sem dúvida, uma atenção e um empenho muito grandes, da parte de todos. Mas há sempre alguns que teimam em desviar a atenção do povo das verdadeiras inquietações, lançando no ar questões fracturantes, mas que em nada contribuem para a procura das melhores soluções para as muitas dificuldades que nos afligem. Se repararmos bem, haveremos de chegar à conclusão de que estas atitudes são cíclicas, teimando em alimentar questiúnculas que, no fundo, não têm valor digno de grande registo. Há órgãos de comunicação social que se aproveitam disto para vender notícias, normalmente bombásticas, na ânsia de conquistar leitores, ouvintes e telespectadores. É que há muita gente que delira com boatos, insinuações maldosas, calúnias, crimes de faca e alguidar e... diplomas mal conseguidos. Já agora, não é verdade que meio mundo está na situação de José Sócrates?
Ora, o Presidente Cavaco Silva veio lembrar, numa sessão sobre a inclusão, num País como o nosso, em que há tantos excluídos e marginalizados, que o mais importante será, em dúvida, promover a solidariedade e o desenvolvimento de Portugal.

Fernando Martins

Citação - Frei Bento Domingues

“Todas as religiões nasceram para abrir o mundo ao reconhecimento da sua Fonte e do seu Sentido, para que os seres humanos possam tornar a fazer da Terra o jardim que, muitas vezes, estragam até o tornarem irreconhecível. Na Vigília [Pascal], as religiões do mundo foram brevemente evocadas antes da religião de Israel e do movimento cristão. Pensando no espírito do encontro de Assis, talvez valesse a pena não esquecer as tradições espirituais dos Povos Primeiros, da América pré-colombiana, da China, do Tibete, do Japão, da Índia, do Egipto, da Mesopotâmia, do Irão, etc. O diálogo inter-religioso a favor da reconciliação e da paz entre os povos continua a ser urgente.”
Frei Bento Domingues, in “PÚBLICO” de ontem

Pobreza



Menos pessoas
em pobreza extrema
no mundo


As estatísticas mostram que a pobreza extrema no mundo diminuiu 21%, entre 1990 e 2004, mas, ainda assim, existem 985 milhões de pessoas que sobrevivem com menos de um dólar diário.
O documento divulgado pelo Banco Mundial (BM) - edição de 2007 dos "Indicadores do Desenvolvimento Mundial" – destaca também a diminuição da percentagem dos que vivem com menos de dois dólares diários, estimando contudo, que em 2004 ainda havia 2.600 milhões de pessoas - quase metade da população do mundo em desenvolvimento - vivendo abaixo desse patamar.
O estudo atribui ao progresso a diminuição da pobreza, a que está associada a taxa do crescimento do Produto Interno Bruto per capita, que subiu à média de 3,9% desde o ano 2000.
Outra razão considerada "chave" para que, no ano de 2004, houvesse cerca de 260 milhões de pessoas a menos em situação de pobreza extrema face a 1990, foi a massiva redução da miséria na China no período mencionado.
Contudo, as estatísticas deixam claro que o momento não é de triunfalismo, revelando por exemplo, que mais de 10 milhões de crianças menores de cinco anos morrem todos os anos por doenças que se podem prevenir.
Quanto às diferentes regiões em desenvolvimento, o estudo destaca que a América Latina tem a maior esperança de vida, com 72 anos, e também a menor taxa de mortalidade entre as crianças menores de cinco anos.
Nesta região, 8,6% das pessoas vivem na pobreza extrema face aos 9% do Leste asiático ou 41,1% da África Subsaariana.
Já a região do leste asiático e Pacífico vem à cabeça do mundo em desenvolvimento graças às elevadas taxas de crescimento, que lhe permitiram reduzir a pobreza mais rapidamente do que noutros lugares.
A região revela também vantagem na educação, ao ter alcançado a escolarização universal primária.
As regiões do Médio Oriente e Norte de África avançaram muito em educação: quase 90% das crianças acabam a sua educação primária.
O sul da Ásia tem as menores taxas de alfabetização feminina do mundo em desenvolvimento, dependendo mais da agricultura que qualquer outra região.
Na África Subsaariana a esperança de vida caiu dos 49 para os 47 anos desde 1990, devido à alta taxa de mortalidade infantil e à incidência da SIDA.
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Fonte: Rádio Renascença

sexta-feira, 13 de abril de 2007

JESUS DE NAZARÉ

Primeira obra do Papa procura devolver valor histórico aos relatos evangélicos e critica teorias que destroem a figura de Jesus . Livro chega a Portugal em Maio


O ROSTO DO SENHOR


O teólogo Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, apresenta com "Jesus de Nazaré" a sua primeira obra escrita desde a sua eleição como Papa. O livro, hoje apresentado no Vaticano, chega às livrarias (em italiano, alemão, polaco e grego) no dia 16 de Abril, data de aniversário natalício do seu autor.
Em Portugal, a obra é editada pela Esfera dos Livros e chegará às bancas no próximo mês de Maio. As edições são, neste momento, já mais de 20.
O título simples não esconde décadas de trabalho, apresentando, numa linguagem teológica narrativa, uma busca pessoal do "rosto do Senhor" e procurando demonstrar a coincidência entre a dimensão religiosa e a dimensão história de Cristo.
Ao longo dos séculos, de forma mais ou menos espectacular, têm chegado teorias muito diversas sobre a vida de Jesus, muitas vezes com a pretensão de serem a "resposta definitiva" para as questões que se levantam. O Papa, neste livro, procura responder às tendências do actual contexto cultural, que procuram distanciar o Jesus da história do Cristo da fé, quase ignorando as respostas "institucionais" sobre a figura central do Cristianismo.
Os factos históricos, contudo, podem estar ao serviço da fé. Ao longo de 10 capítulos, Bento XVI mostra-se atento aos dados da pesquisa moderna sobre Jesus e apresenta o Jesus dos Evangelhos como o verdadeiro Jesus histórico, "uma figura sensata e convincente a que podemos e devemos fazer referência com confiança e sobre a qual temos motivos para apoiar a nossa fé e a nossa vida cristã".
O Jesus que encontramos nos Evangelhos é, para o Papa, "muito mais lógico do ponto de vista histórico e também mais compreensível do que as reconstruções com que nos tivemos de confrontar nos últimos anos".
"Eu tenho confiança nos Evangelhos", afirma, com convicção.
O Papa adverte que a obra não foi escrita contra a exegese moderna, mas alerta que "os piores livros, destruidores da figura de Jesus, desmanteladores da fé, estão cheios de supostos resultados da exegese".
Este livro, cuja redacção se iniciou em 2003, continuando em "todos os momentos livres" desde que foi eleito Papa. Uma segunda parte do livro, dedicada à infância de Jesus, será publicada mais tarde.
Bento XVI entra na discussão em volta de Jesus: questão, que desde logo, desperta a atenção: há uma verdadeira história de Jesus? A verdadeira história de Jesus não está na Bíblia? A figura dos Evangelhos é credível?
No livro há um alerta: "a interpretação da Bíblia pode tornar-se um instrumento do Anticristo", se seguir caminhos errados.
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Leia mais em Ecclesia

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 19

A HERANÇA DO TIO MARCOS
Caríssima/o: Não somos do tempo do Tio Marcos, mas os anos vão passando e, pessoalmente, considero-me um privilegiado por ter ido estudar para Aveiro. A vida encarregou-se de me dar uns bons pontapés para a frente. Recobrar as viagens que fazíamos de bicicleta, a caminho do Liceu ou da Escola Comercial, o contacto com os companheiros, contínuos e professores é testemunhar vivências inesquecíveis e enriquecedoras. Sentar junto de nós empregados como Estima ou João Maria Pereira Júnior, o Cochicho, professores como José Pereira Tavares, Francisco Ferreira Neves, Orlando de Oliveira (e tantos e tantos outros que continuam vivos no nosso coração!), é compendiar uma enciclopédia de Homens Bons que nos acompanharam, ampararam e marcaram rumos para o futuro. Esta lenda ajuda-nos a olhar para o nó que eles apertaram. «Esta lenda é dos antigos tempos aveirenses, em que a festa de S. Pedro marcava a vida das populações dali. E começa com o Tio Marcos, tombado no seu leito de morte, segurando as mãos dos seus filhos Albino e Jorge, se prepara para a longa jornada sem regresso. Tinha-os educado no caminho da rectidão e do trabalho e queria que assim se mantivessem. - Meu querido Albino, tu és o mais velho. Não deves esquecer-te de quanto te ensinei, ouviste? E o filho jurou ao pai que nem um só momento esqueceria as lições recebidas. - Respeita sempre o teu irmão, Jorge, ele é o mais velho. Gostaria que vocês fossem um nó tão apertado que ninguém o pudesse desatar! Comovidos , os filhos disseram ao velho que podia confiar neles. O Tio Marcos disse-lhes que assim podia morrer descansado mas, antes, queria entregar-lhes a herança. E de debaixo da sua almofada tirou um pequeno saco. - Está fechado e só o abram quando estiverem verdadeiramente aflitos. Não é muito, mas é o que vos posso deixar. Guarda-o tu, Albino, mas lembra-te que é de ambos! É leve ,mas vale uma fortuna. Mas primeiro contai com o vosso trabalho! E lá se foi o bom Tio Marcos. Os dois rapazes guardaram o saco e voltaram ao trabalho, que tinham bons braços para isso. E corria tudo muito bem para eles até que, um dia, chegou uma rapariga muito bonita à aldeia. Dizia-se que fugira de casa por não querer casar com o homem que o pai queria por força e ela odiava. E muitos rapazes da aldeia ficaram enamorados dela, incluindo o Albino e o Jorge. E ela a todos dava esperanças. Porém, aquela situação começou a criar problemas entre os dois irmãos, que chegaram a relaxar o próprio trabalho, além da amizade que os unia. Chegaram mesmo a discutir. Qualquer deles presumia ser o rapaz de quem ela gostava. Depois da discussão, cada um deles procurou a bela rapariga e combinou fugir com ela da aldeia logo depois das festas de S. Pedro. Um e outro se prontificou a deitar a mão ao saco, onde estava a herança do Tio Marcos. Porém, a rapariga conseguiu dar cabo da cabeça a um e a outro, sugerindo-lhes que matasse o irmão. E eles, na inconsciência da paixão, nem se lembravam das palavras amigas do pai. Ora na noite de S. Pedro, em pleno arraial, Albino e Jorge encontraram-se frente a frente. O primeiro tinha na mão o saco da herança do Tio Marcos. Ali mesmo os irmãos engalfinharam-se. Pareciam dispostos a matar. De repente, ouviu-se uma voz: “S. Pedro, valei-me!” E o próprio S. Pedro apanhou o saco e abriu-o. Dentro estava apenas um nó apertadíssimo. Os irmãos olharam-no e caíram em si. Houve um estrondo e a rapariga por quem lutavam desfez-se em fumo. Abraçaram-se e entenderam que estiveram a ponto de ceder ao demónio tudo de bom que neles havia!» Pisguemo-nos das aulas, fazendo um intervalo grande, e corramos aos matraquilhos à Feira de Março. Manuel
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NOTA: O texto do colaborador e amigo Manuel, publicado habitualmente ao domingo, sai hoje, simplesmente porque não sei se terei Net no fim-de-semana.

Um texto de Fernando Pessoa

A CORAGEM DE PESSOA Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo…
NOTA: Texto incluído por Laurinda Alves
no seu espaço de opinião – Coisas da Vida –,
no “PÚBLICO” de hoje.

GAFANHA DA NAZARÉ


GAFANHA DA NAZARÉ
COMEMORA
SEXTO ANIVERSÁRIO DE CIDADE



A Gafanha da Nazaré vai comemorar, no próximo dia 19 de Abril, o sexto aniversário da elevação a cidade, com um programa variado e que merece a participação de todos os gafanhões.
Criada freguesia em 31 de Agosto de 1910 e vila em 1969, foi elevada a cidade há seis anos, por mérito próprio. O seu desenvolvimento demográfico, económico, cultural e social bem justifica as promoções que recebeu do poder constituído no século XX, a seu tempo reclamadas pelo povo.
A Gafanha da Nazaré é obra assinalável de todos os gafanhões, sejam eles filhos da terra ou tenham sido adoptados. De todos os pontos do País, das grandes cidades e dos mais pequenos recantos, muitos aqui chegaram e aqui se fixaram, porque não lhes faltaram boas condições de vida.
A Gafanha da Nazaré é, hoje, uma mescla de muitas e variadas gentes, que, com os seus usos e costumes e muito trabalho enriqueceram, sobremaneira, este rincão que a ria e o mar abraçam e beijam com ternura.
Importa, agora, que todos sejamos capazes de dar as mãos para tornar a nossa terra ainda mais bela e mais próspera, para que, quantos nela vivem e trabalham, sejam muito mais felizes.

Escola de Música Gafanhense

Um quarto de século a ensinar música
A Escola de Música Gafanhense está a celebrar as suas Bodas de Prata. São 25 anos a ensinar música. Foi fundada em 30 de Abril de 1982 por um grupo de gafanhões, à frente dos quais, como dinamizador, estava Dionísio Marta. Ligada inicialmente à Filarmónica Gafanhense, tinha como prioridade formar músicos para aquela banda, herdeira dos pergaminhos da Filarmónica Ilhavense, também conhecida por Música Velha. Do programa agendado para o dia 28 de Abril, destacam-se alguns pontos, nomeadamente, a inauguração de uma Exposição Fotográfica (15.30 horas), Missa de Acção de Graças e pelos associados falecidos (18 horas), Concerto pela Filarmónica Gafanhense (21.30 horas), Homenagem e entrega de medalhas dos 25 anos a entidades benfeitoras e associados (22.15 horas), Concerto pela Orquestra Ligeira da Escola de Música Gafanhense (22.30 horas) e Convívio.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Um poema de Sophia

ÁRVORES
Árvores negras que falais ao meu ouvido, Folhas que não dormis, cheias de febre, Que adeus é este adeus que me despede E este pedido sem fim que o vento perde E esta voz que implora, implora sempre Sem que ninguém lhe tenha respondido?
Sophia de Mello Breyner Andresen
(1919 - 2004) "Coral", 1950 In “PÚBLICO” on-line

Ainda as habilitações do primeiro-ministro

COM ESTA HISTÓRIA,
A POLÍTICA PORTUGUESA
FICOU SEM PROBLEMAS RELEVANTES
A questão das habilitações académicas do primeiro-ministro, José Sócrates, veio mostrar a fragilidade da política portuguesa. Por causa dessa polémica, tudo o mais de importante na sociedade foi relegado para segundo plano, conforme tem retratado a comunicação social. Até parece que Portugal e os portugueses nada mais têm para discutir, para além dos diplomas conseguidos pelo primeiro-ministro. É claro como água que José Sócrates e o seu Governo ganharam legitimamente o direito de exercer o poder, pois a competência política nada tem a ver com as habilitações académicas dos governantes. Mas é evidente que os portugueses têm o direito de saber se os políticos e pessoas públicas ostentam, com legitimidade, os títulos académicos que apresentam, num País onde tantos querem ser Drs. Levantada a questão dos títulos de José Sócrates, o visado tinha a obrigação de esclarecer, de imediato, a situação, para depois governar bem como todos queremos. Porquê, então, tanto tempo para prestar esses esclarecimentos? Depois, numa entrevista em que devia fazer um balanço de dois anos de governação, foi triste ver quanto tempo se perdeu com o assunto dos diplomas, sabendo-se, como toda a gente sabe, que o PS vai continuar a governar o País, por ter ganho as eleições, com todo o direito que lhe advém dos votos conseguidos, à custa, decerto, da saída de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia e do mau trabalho de Santana Lopes no Governo de coligação entre o PSD e o CDS-PP. Marques Mendes, líder do PSD, pediu que uma comissão independente analisasse o problema criado à volta das habilitações do primeiro-ministro. A ideia não é má, mas parece-me que não adianta nada. José Sócrates continuará a governar, porque ninguém conseguirá provar se os seus diplomas foram alcançados com muito ou pouco esforço. Daqui a uns meses, já ninguém falará do assunto, porque alguém se encarregará de criar novos factos políticos para entreter a malta. Toda a gente sabe que neste País há muita gente com habilitações conseguidas a trouxe-mouxe, numa ânsia de ocupar as melhores posições profissionais. Vale tudo para subir na vida, com a complacência do Estado e a cooperação de Universidades, que, de rigor, nada têm. O importante, para algumas, é ter alunos que paguem as mensalidades. Os meus leitores sabem que uma professora confirmou, há dias, que não sabia quem era Luís de Camões? E que uma universitária de História não fazia ideia do que era o 5 de Outubro? E que alguns universitários não sabiam a tabuada? Este é, infelizmente, o Ensino que temos. Fernando Martins

Um artigo de António Rego


PROFECIA
NO NOSSO TEMPO?


Tudo tem o seu tempo e a sua hora. Tudo vai rodando. De forma que a história se vai repetindo e refrescando, sempre igual e sempre diferente.Com as culturas, civilizações, crenças, sucessão de impérios, descobertas, muitas delas ingenuamente tomadas como invenções. Tudo afinal está encontrado e o fascínio de tudo redescobrir torna o homem protagonista do seu tempo, na ilusão de ter reinventado tudo. É bonito este ciclo, esta infância redescoberta da criação, vista pelos crentes como continuidade do Génesis.
Também no nosso tempo. Plasmados pelo novo, nunca visto, nunca usado, nunca ultrapassado sentimos, na velocidade e na multiplicação até ao infinito das hipóteses lançadas pela ciência, tecnologia e comunicação, a ilusão do nunca acontecido e o orgulho da página nova de história que se escreve nas nossas vidas.
Mesmo com a certeza de que não inventámos a pólvora, somos convidados a celebrar o nosso tempo como um dom renovado de Deus ao homem. Não se trata duma cegueira ilusória que coloca o humano contra o divino, o tempo contra a eternidade. Se é bom relativizar muitas das nossas mecânicas certezas, é importante sentir que trouxemos à história o nosso contributo bem diferente de algumas maldições que pairam sobre a nossa forma de edificar o tempo. A modernidade tem o seu quê de novo, rico, humano, e solidário. É muito mais que um amontoado de lixos formados por música estridente, arquitectura quadrada, pintura de jacto, poesia depressiva e romances fatalistas. Somos muito mais que um grupo aniquilado de drogados, visionários esquizofrénicos ou sonhadores extasiados pelo vazio. A procura dos valores espirituais ou culturais do nosso tempo tem de situar-se nos módulos da contemporaneidade e não nas categorias dum passado que teve o seu olhar e o tempo de se dizer. Dizer o presente com o passado é distorcer toda a leitura e cercear os novos caminhos que o nosso tempo tem todo o direito de abrir e criar. Estará na moda definir esta geração como viciada de relativismo. Como se o seu contrário fosse apenas virtude. Como se os novos valores pousassem sobre o abismo. Isso seria a recusa do Espírito como estímulo dos novos passos da história. Digamos doutra forma: andam por aí os profetas. Não é justo aniquilá-los por simples arritmia. Cultural ou religiosa

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Túmulo de Jesus?

SIC vai exibir «O Túmulo perdido» A SIC adquiriu os direitos exclusivos para Portugal do documentário de James Cameron "O túmulo perdido de Jesus" e vai exibi-lo no próximo Domingo, dia 15, depois do Jornal da Noite. Realizado pelo judeu canadiano Simcha Jacobovici, "O Túmulo perdido de Jesus" parte da análises de dez ossários encontrados em 1980, no Bairro de Talpiot, em Jerusalém, e que presentemente estão entregues à Autoridade de Antiguidades de Israel e guardados num armazém em Bet Shemesh. Os arqueólogos que estudaram as peças chegaram à conclusão, em 2003, de que o sarcófago data do século I d.C. No entanto, conteúdo, caligrafia e revestimento da inscrição tornam a sua autenticidade duvidosa. Um dos especialistas entrevistados por James Cameron e Simcha Jacobovici, Stephen Pfann, veio já desmentir que uma das inscrições, "Mariamne e Mara", possa ser lida como "Maria, (conhecida como) a Mestre". Segundo este paleógrafo da Universidade da Terra Santa, os autores do documentário teriam identificado mal o ossário em que afirmam estar Madalena. Para Pfann, a inscrição deve ser traduzida como "Maria e Marta", contendo, por isso, restos mortais de duas mulheres. A primeira palavra, "Mariamne", terá sido escrita no Grego da altura (séc. I) e a segunda e terceira palavras num estilo cursivo, por isso, mais tarde e por outro indivíduo. Cameron e Jacobovici identificam a presença de Madalena ao traduzirem a palavra "Mara" como sendo o termo aramaico para mestre. Para justificarem o facto do nome "Mariame" estar escrito em grego, os realizadores transformam a pequena localidade de Magdala, no Mar da Galileia, num "importante centro de comércio" em que se falava grego. Várias outras inscrições da altura atestam que "Mara" aparece como uma abreviatura de Marta. Este não é, contudo, o único túmulo de "Jesus". Outro ossário, conservado nos armazéns da autoridade arqueológica israelita (n.º de catálogo 80503) tem a inscrição “Jesus, filho de José”. De facto, nos mais de mil ossários idênticos dessa época seis apresentam o nome “Jesus” e um outro (além deste primeiro) a frase “Jesus, filho de José”. Segundo o arqueólogo israelita Zvi Greenhut, 25% dos nomes femininos nestes ossários apresentam o nome “Maria” ou uma das suas variações e “José” é o segundo nome mais comum nesse período. Simcha Jacobovici já tinha provocado polémica em 2002, a partir de um ossário com a inscrição "Santiago, Filho de José, Irmão de Jesus". A 18 de Junho de 2003, os 15 membros da Autoridade de Antiguidades de Israel demonstraram que a "descoberta" de Jacobovici era uma falsificação moderna.
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Fonte: Ecclesia

Costa Nova Antiga





Mais fotos da Costa Nova
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Aqui ficam, para recordar, mais fotografias antigas da Costa Nova do Prado. Que elas sirvam para alguns matarem saudades, são os meus votos. Como já referi, trata-se de um trabalho de João Aníbal Ramalheira.
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Nota: Para ver melhor, clique em cada foto.

RR celebra aniversário


SETENTA ANOS DA RENASCENÇA
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A Renascença completou 70 anos. Ao longo de sete décadas, a Emissora Católica Portuguesa marcou o país com a sua companhia, informação e diversão.
O aniversário é celebrado “com a alegria do caminho percorrido e com o justo reconhecimento dos que o tornaram possível”, refere à RR o presidente o Conselho de Gerência do Grupo Renascença.
Com o passado no coração, mas olhando para o futuro, o Cón. João Aguiar Campos fala nos novos desafios a que é necessário estar-se atento e que “têm que ser encarados com meios e linguagem actuais”.
“Reafirmamos neste aniversário a aceitação da responsabilidade de sermos o principal órgão de comunicação social da Igreja Católica em Portugal, comprometendo-nos a ser ponte entre a mesma Igreja e o mundo e a ser uma ponte erguida sobre padrões de qualidade nos princípios, nos conteúdos e nas formas de comunicar”, sublinha.
Nelson Ribeiro, Director de Programas, e Francisco Sarsfield Cabral, Director de Informação da Renascença, olham para o futuro da Emissora com a segurança de um passado sólido.
"É com muito orgulho na nossa história de 70 anos que queremos olhar para o futuro", afirma Nelson Ribeiro, para quem o fundador da Renascença, Monsenhor Lopes da Cruz, serve "de inspiração, porque ele próprio era um homem que encarava os desafios sempre a pensar no futuro".
"Sempre deixou claro que a missão da Renascença era oferecer os melhores conteúdos aos seus ouvintes", sublinha, considerando ser esse "o nosso desafio de todos os dias", não esquecendo a "visão cristã do mundo".
As inovações próprias de um mundo sempre em evolução não escaparam à Rua Ivens, que se adaptou às novas tecnologias, apostando no seu site e em formatos inovadores de informação, como é o "Página 1".
Também "graças às novas tecnologias", é possível receber "feedback em tempo real" de muitos ouvintes, que são já "Consultores Renascença" – ou seja, têm um papel activo na definição da programação.
No campo da Informação, Francisco Sarsfield Cabral sublinha o "grau de credibilidade" ganho ao longo dos anos, o que "impõe responsabilidades acrescidas".
"A Renascença tem sido capaz de afirmar a sua matriz católica sem deixar de se abrir a todas as vozes da nossa sociedade pluralista. Mas não podemos descansar nos êxitos do passado. Daí, a nossa aposta forte na informação pela Internet, com notícias actualizadas em permanência e um jornal electrónico com duas edições diárias, o Página 1, que já se tornou uma referência. Assim, os 70 anos já passados são uma inspiração e um impulso para o futuro", afirma o Director de Informação.
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Fonte: Ecclesia

terça-feira, 10 de abril de 2007

Citação

"A política é a arte de impedir as pessoas de meterem o nariz em coisas que lhes dizem realmente respeito"
Paul Valéry, poeta
(1871 - 1945)
In "PÚBLICO"

Licenciaturas aos desbarato

UNIVERSIDADE INDEPENDENTE
MOSTRA UMA TRISTE REALIDADE ESCONDIDA
Há muitos anos, falar das Universidades era falar do supra-sumo do saber. Nas Escolas do Ensino Superior, havia professores que respiravam autoridade, competência e dignidade. Os alunos estudavam a valer e na vida prática mostravam que sabiam nas áreas em que se especializavam. Hoje ainda é assim em algumas Universidades. Noutras, nem pouco mais ou menos. O exemplo da Universidade Independente, à semelhança do que já aconteceu noutras Universidades privadas, veio mostrar que se tem andado a brincar no Ensino Superior. Professores que são cúmplices de alunos que tiram cursos a correr, com a complacência do Estado, que pouco inspecciona e até finge ignorar o que se passa em certas Universidades, que distribuem licenciaturas ao desbarato. Claro que esta triste situação não é comum na maioria das Universidades portuguesas, públicas e privadas. Mas que há por aí muito Dr. que ostenta o seu título académico à custa de pouco esforço, lá isso há. Fernando Martins

Ares da Primavera

PRIMAVERA
:
a face breve
enuncia o esplendor
José Tolentino Mendonça In "A noite abre os meus olhos"

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Costa Nova Antiga

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PARA OS MAIS VELHOS RECORDAREM
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Mais fotografias de João Aníbal Ramalheira, para os mais velhos recordarem. E não é verdade que, quem mais recorda, mais revive?
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Nota: Para ver melhor, clique em cada foto.




Dia do Município de Ílhavo


Exposição no Museu Marítimo de Ílhavo

Edifício da CMI

TRINTA ANOS DO PODER LOCAL


Hoje, dia do Município de Ílhavo, foi inaugurada, no Museu Marítimo da cidade maruja, uma exposição denominada “30 Anos do Poder Local Democrático – Portugal Presente”. A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que presidiu à cerimónia, enalteceu o valor do Poder Local, sublinhando que uma boa parte dos compromissos do Governo só puderam ser levados a cabo com a colaboração e o apoio das autarquias.
Penso que ninguém ignora a importância do Poder Local democrático, o Poder que está mais próximo das populações e com ela dialoga. Foi uma conquista enorme do 25 de Abril, que nem sempre sabemos reconhecer e aproveitar. Tem havido autarcas corruptos e incapazes, é certo, mas a grande maioria faz questão de viver os mandatos para que foram eleitos no sentido do serviço à grei. Em qualquer parte do País, é notória a criação de infra-estruturas de apoio às populações.
É verdade que há muito por fazer, mas também é correcto pensar que depois do 25 de Abril Portugal se desenvolveu bastante. Ainda não chegámos ao nível da maioria dos nossos parceiros da UE, mas estou em crer que lá chegaremos, se para tanto tivermos políticos à altura dos desafios que se nos põem nesta fase crucial da nossa história. Sem esquecer, no entanto, o nosso contributo, nas mais diversificadas áreas de actuação.

domingo, 8 de abril de 2007

Costa Nova Antiga

Costa Nova: Arranjo fotográfico de João Aníbal Ramalheira


Costa Nova: Para os mais velhos recordarem

Aqui fica uma antiga fotografia da Costa Nova do Prado para os mais velhos recordarem com saudade. Vendo-a, todos, os mais idosos, poderemos reviver tempos que nos deram momentos felizes. Outras se seguirão. O arranjo fotográfico é de João Aníbal Ramalheira.

Ares da Primavera

Praia da Barra: Dunas protegidas

Um artigo de D. António Marcelino



PÁSCOA É PASSAGEM,
MAS NÃO UMA FESTA
DE PASSAGEM


Vivemos na época do provisório em que tudo na vida aparece como descartável e transitório. Até o que é permanente, fundamental e indispensável para nós corre o risco de ser apanhado na enxurrada, se é que para muita gente não o foi já.
Não faltam propostas turísticas para passar a Páscoa longe de casa, agora com férias antecipadas e alargadas. Para estes dias, nos projectos feitos por alguns cristãos, o religioso já não tem lugar ou fica reduzido ao possível, que é normalmente muito pouco. Numa sociedade marcada pelo pluralismo laico a consonância alargada de sentimentos comuns deixou de existir, também no aspecto religioso. Tudo pode servir de ocasião para que cada cristão tome consciência do seu mundo de fé, se situe nele com uma deliberada decisão de o usufruir e possa, assim, testemunhar e propor aos que têm outros mundos, as riquezas que nele encontra e pessoalmente o enriquecem.
O mundo dos crentes tem a beleza que lhe é própria. Só o dom da fé sabe apreciá-lo, agradecê-lo em espírito de verdade e encontrar aí a luz para as suas opções e decisões.
Páscoa quer dizer “passagem”, mas passagem que perdura. A Páscoa de Cristo foi a sua passagem da morte à ressurreição. A ressurreição é, portanto, a vitória da vida sobre a morte, tornando-se, em Cristo, uma vitória definitiva. A Páscoa passou a constituir o ponto de apoio necessário e de referência indispensável à fé dos cristãos e da Igreja. Tudo para estes ganha luz e força vital com a Páscoa de Cristo e, na Igreja, só tem futuro e é gerador de graça o que parte da Páscoa e dela recebe permanente sentido.
Cada Domingo, ao longo do tempo, actualiza a Páscoa e torna-a próxima e fecunda para as comunidades cristãs e para os que a celebram a Eucaristia. A vida dos cristãos vai mostrando que quando se deixa de dar sentido ao Domingo e se abandona a celebração eucarística, se perde ou enfraquece também a fé em Jesus Cristo Salvador. Mais difícil se torna, então, resistir à influência de um ambiente de onde estão ausentes os valores evangélicos, os únicos que podem impedir uma vida rotineira e banal.
A Páscoa, na verdade, é, para todos os cristãos, a Festa, a verdadeira festa da fé e da vida, a festa que dá sentido a todas as outras festas da Igreja, mesmo aquelas que, na sua dimensão popular, celebram a fidelidade a tradições religiosas, legadas pelos que viveram antes a sua fé.
A Igreja enriquece a liturgia e a fé do povo cristão com a grande Vigília que encerra o Tríduo Pascal e a celebração festiva do Domingo, em muitas paróquias com a solene Procissão do Senhor ao cântico dos Aleluias e, onde a tradição se mantém, com a visita pascal às famílias, que recebem assim na sua própria casa o anúncio da Ressurreição, como convite a uma vida nova em Cristo. Em muitas zonas do país a festa pascal continua ainda no campo, na segunda-feira, com a celebração numa capela vizinha e uma refeição típica, alargada de familiares a amigos.
Viver a Páscoa ao longo do ano é fazer a experiência da passagem de todas as formas de morte que nos ocupam os dias que envelhecem e passam, à vida que não acaba mais.
Egoísmo, indiferença, mentira, vingança, injustiça, tudo isto é morte. A Vida que nos é dada, como dom gratuito, pela fé em Jesus Cristo ressuscitado, permite-nos transmitir aos outros, por força do mesmo amor, o testemunho de pessoa liberta, com os gestos habituais de amor e ajuda fraterna, que dão sentido ao viver do dia a dia.
As amêndoas da Páscoa são sinal de alegria pascal e apelo à partilha de dons e de paz. Também elas um sinal, chamado a tornar cada vez mais ricas e eficazes as relações mútuas, para que cheguem, em verdade, a ser relações verdadeiramente respeitosas e fraternas. Foi para esta reconciliação, com Deus e de uns para com os outros, que Jesus ressuscitou e está vivo no meio de nós. É esta a fé dos cristãos esclarecidos.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS-18

Capela de Nossa Senhora da Penha, Vista Alegre:
Túmulo de D. Manuel de Moura Manuel


A CAPELA DA VISTA ALEGRE
E O ESCULTOR

Caríssima/o:

Uma tradição e costume dos habitantes da nossa terra era ir à Feira da Vista Alegre. Esta feira, mais conhecida pela “Feira dos 13”, é realizada no espaço da «quinta», nos dias 13 de cada mês. Foi devida a influências de D. Manuel de Moura Manuel, pedida pelo juiz, vereadores e povo das «vilas» da Ermida e Ílhavo, e autorizada por alvará régio de 14 de Junho de 1663.
Também eu um dia lá fui na companhia de minha Mãe em busca de um agasalho: que sobretudo quentinho se comprou em segunda mão! E como me resguardou nos primeiros anos do liceu nas viagens invernosas de bicicleta para Aveiro!...
Ora, Viale Moutinho, em “Lendas de Portugal”, edição de Diário de Notícias, 2003, a páginas 117, fala-nos daquele bispo e da capela da Vista Alegre. Vamos ler:
«Na capela da Vista Alegre, da invocação de Nossa Senhora da Penha de França, há uma notável obra de arte tumular em mármore, em que a figura não se encontra exactamente jacente mas soerguida. Como se visse algo espantoso diante dela, a visão do outro mundo. E o que não poderia ver aquele que, para além de 16.º bispo de Miranda e reitor da Universidade de Coimbra, fora sobretudo pessoa graúda na cruel Inquisição? Trata-se de D. Manuel de Moura Manuel, protagonista de uma lenda, dono da vizinha Quinta do Paço da Ermida. Pois a lenda diz que esse túmulo foi feito pelo próprio Diabo, ainda em vida do prelado. Admiram-se? Já vão saber como.
O bispo de Miranda, quando as obras do templo iam adiantadas, lembrou-se de mandar ali fazer o túmulo em que seriam guardadas as suas cinzas. Concebera o projecto e precisava de um bom artista para o executar. Cismava nisso quando lhe apareceu um jovem desconhecido, que se ofereceu para dar corpo à sua ideia. Era todo um misterioso personagem que evitava falar de si e não trazia recomendações de ninguém.
- Quem lhe disse que eu não encontrava artistas para as obras que desejo fazer?
- Adivinhei-o.
- Então, estou a falar com um adivinho?
- Sim, senhor.
- Pois deixe-me em paz.
- Mas eu nem sei com quem trato...
- Ouça-me, olhe que quem eu sou pouco importa. Precisa ou não de um bom escultor?
- Preciso.
- Então, contrate-me. Eu sou escultor e não dos piores!
O prelado começou por rejeitá-lo, por falta de confiança. Em desespero de causa, o escultor disse que faria uma peça à experiência e lha traria de amostra. Relutante, o bispo aceitou, mas só para se ver livre dele.
Dias mais tarde, o desconhecido procurou D. Manuel e exibiu-lhe uma escultura. Trabalhara nela mesmo ali, ao pé da capela, encerrado numa cabana de palha. Finalmente, acabara a obra. Era um retrato do Diabo. D. Manuel de Moura Manuel ficou deslumbrado com a perfeição e o vigor da escultura. Logo ali entregou a capela e o seu túmulo àquele misterioso desconhecido, afastando todos quantos se lhe ofereceram e por quem tantos e tão altos se interessavam. E ele não só acabou as obras da igreja e o túmulo do bispo, como também de D. Teodora, a filha do prelado.
E o mais misterioso foi que, estando as obras apontadas pela mão do indivíduo misterioso, já não se tornando necessária qualquer sua ulterior intervenção, ele desapareceu. Não faltou quem dissesse que ele tinha pactos diabólicos. Nem sequer se apresentou para receber, e não era tão pouco como isso. Os que não acreditam em lendas, alvitram que o artista poderá ter sido assassinado por ladrões, que decerto lhe roubaram alguma coisa que o bispo lhe tivesse pago. Mas até isso já é ganga da lenda...»

Uma Santa Páscoa, com bons folares.

Manuel

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Santa Páscoa

Neste início do tríduo pascal, quero desejar a todos os meus leitores e amigos uma Santa Páscoa.
Aproveito para sublinhar que tenho estado um pouco ausente deste meu espaço por razões, muito simples, de algum cansaço.
Espero retomar, em breve, a dinâmica habitual, com mais atenção ao mundo que nos cerca e que temos o dever de o tornar mais fraterno.

Mensagem pascal do Bispo de Aveiro

TESTEMUNHO DE VIDA,
A GRANDE MENSAGEM PASCAL

Em Aveiro, cidade e diocese, fui descobrindo, nestes primeiros meses de vida e ministério, através de tantas pessoas que encontro, dos movimentos apostólicos e grupos cristãos com que reúno, das comunidades cristãs que visito e das iniciativas pastorais que acompanho e incentivo, um modo peculiar e belo de celebrar a fé com alegria, de viver a Quaresma com intensidade e de preparar a Páscoa com entusiasmo.
Cada paróquia teve os seus dias de confissões, oferecendo a cada crente momentos únicos de celebração sacramental da reconciliação. Cada paróquia fez a sua caminhada quaresmal e proporcionou oportunidades próprias ou de índole arciprestal de formação teológica, espiritual e pastoral.
O testemunho de vida e de fé dos sacerdotes, diáconos, religiosos e leigos de Aveiro e a proposta de iniciativas pastorais e de acções litúrgicas das comunidades cristãs e dos movimentos apostólicos da diocese são a grande mensagem pascal que, na comunhão da Igreja que somos, acolho, assumo e transmito a todos os Aveirenses.
Importa ter presente que a Páscoa não é apenas o Domingo da Ressurreição. A Quaresma termina na manhã de Quinta-feira Santa com a Missa Crismal. Com a Celebração do Senhor inicia-se o Tríduo Pascal; na Sexta-feira Santa celebra-se a Paixão e a Morte de Jesus; no Sábado Santo vive-se um longo dia de silêncio e de meditação na expectativa do Domingo e na esperança do anúncio solene da Ressurreição. Este Domingo começa com a maior de todas as vigílias: a Vigília Pascal.
Por seu lado o tempo pascal prolonga-se até ao Pentecostes e a celebração da Páscoa tem lugar em cada Domingo, que é o dia do Senhor Ressuscitado, e em cada Eucaristia em que anunciamos a morte de Jesus, proclamamos a sua ressurreição enquanto aguardamos a sua vinda.
Na Eucaristia, sacramento de amor compreendemos que Aquele que volta à vida é Aquele que dá a vida.
Se em alguma época ou circunstância a Igreja for tentada pelo desânimo, pelo medo, ou pelo pessimismo tudo isso se deve desvanecer à luz da Páscoa. Aqui renasce em cada ano e em cada tempo o dinamismo redentor da fé, a certeza inabalável da esperança cristã e a garantia serena de que toda a vida tem sentido indeclinável e valor eterno.
É dando a vida que Jesus vence a morte. É ressuscitando que Jesus nos reconduz à vida e à graça de sermos filhos de Deus, salvos do medo, do pecado e da morte.
Este é o mais denso e santo mistério que a Páscoa nos oferece e que nos chama a viver, a celebrar e a testemunhar.
São múltiplas as manifestações de alegria, de festa, de vida e de esperança que envolvem a celebração da Páscoa nas nossas terras cristãs.
Devemos saber cultivá-las e mantê-las na medida em que são expressão pública da fé no Ressuscitado, dão colorido à vida humana, familiar e social e emprestam interioridade espiritual e beleza aos nossos ambientes. Procuremos impregnar de forma criativa estas manifestações de conteúdo doutrinal e de aprofundamento formativo para que sejam gestos evangelizadores e instrumentos de diálogo com o mundo e pontes de sadia articulação entre a fé e a cultura.
Voltada para a família como prioridade pastoral, a Igreja de Aveiro conhece a urgência que as famílias sentem de descobrir na Páscoa a força da reconciliação, o segredo da harmonia e da fidelidade, a fonte do amor santo e feliz, a alegria do acolhimento da vida e da educação religiosa dos filhos, o encanto da oração em comum, o sentido da disponibilidade para o bem e para a missão apostólica e o sabor saudável da festa e da esperança cristãs.
Dirijo esta mensagem pascal, com particular afecto pastoral, a todas as famílias da diocese para que encontrem na Páscoa de Jesus Cristo, que a Igreja renova e celebra, a fortaleza do amor e a alegria da felicidade e ajudem os que vivem em provação a manterem vivas a fé, a esperança e a fidelidade.
Santa e Feliz Páscoa.

+ António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro

terça-feira, 3 de abril de 2007

Um poema de João de Deus


CRUCIFIXO


– Minha mãe, quem é aquele
Pregado naquela cruz?
– Aquele, filho, é Jesus...
E a santa imagem dele!

– E quem é Jesus? – É Deus!
– E quem é Deus? – Quem nos cria,
Quem nos manda a luz do dia
E fez a terra e os céus;

E veio ensinar à gente
Que todos somos irmãos
E devemos dar as mãos
Uns aos outros irmãmente:

Todo amor, todo bondade!
– E morreu? – Para mostrar
Que a gente pela verdade
Se deve deixar matar.

:

Foto: Crucifixo de Salvador Dalí

Um artigo de Alexandre Cruz


Será Páscoa,
será um tempo novo!


1. Não é um simples cumprir de calendário social, nem é meramente um tempo que marca alguns dias de férias na primavera que floresce, nem é somente o assinalar da transição para um novo período lectivo. Páscoa não rima com hábito repetitivo, Páscoa quererá ser “Passagem” sempre criativa a uma vida melhor! Todos os sinais, gestos e pausas escolares vêm, precisamente, deste festejar uma nova alegria que se foi construindo ao longo do tempo da sua preparação (sim os grandes acontecimentos preparam-se!). Só assim tudo fará sentido; vendo ao contrário, esquecendo a razão de ser da festa e do encontro, tudo correrá o perigo de se esvaziar. A Páscoa (tal como o Natal) quererá marcar na história da vida pessoal e social um tempo novo, onde a esperança que se renova será o lema de ordem permanente.
2. É admirável a pedagogia dos séculos que nos precederam e que fazem chegar até nós um significado englobante de toda a realidade que nos envolve. A “tradição” que chega até nós (e as boas tradições serão sempre de continuar) dando-lhe sempre mais sentido, mostra-nos que com a irrupção da natureza primaveril, com o progressivo surgir das primeiras colheitas, haverá que dar um sentido espiritual, virtuoso, de ideal absoluto, a tudo aquilo que está a acontecer. A Páscoa (judaica da antiguidade de Moisés) aperfeiçoada existencialmente na histórica Páscoa da entrega dedicada e decisiva de Jesus Cristo, transmitiram criativamente ao longo dos séculos um sinal esperançado de que A VIDA VENCE toda a morte e de que tudo quanto existe quererá participar desse luminoso projecto de vida.
3. A autenticidade do acontecimento pascal – na sua celebração de Semana Maior – coloca diante de nós tudo quanto nos acontece e faz parte da nossa própria humanidade pessoal e social. A Páscoa não esconde o (sofrimento) que tantas vezes a sociedade da “estética” oculta; o horizonte da beleza pascal, contrariando tantas misérias e menoridades egocêntricas, quererá oferecer um sinal universalista de “ética” como caminho de (re)conciliação entre os povos; o sentido festivo pascal propõe, desmontando caminhos de individualismo asfixiante, uma sincera abertura ao outro, ao grupo, à dimensão social de festa que seja um “sinal” plural de frescura do “novo encontro” de uns com os outros. Que seria de nós sem (o Natal e) a Páscoa?! Um repetitivo contínuo, fotocopiado sem novidade, sem um sentido novíssimo a dar ao tempo e à vida!
4. A Páscoa não vem por si mesma sem um “acolhimento”; a Páscoa não se compra nem se vende; a Páscoa, no seu verdadeiro sentido de “passagem” desejará fortalecer o encontro, gerar maior proximidade, na tomada de consciência que o “tempo histórico” é sempre provisório e que o essencial da vida será a nossa abertura de espírito ao outro e ao “tempo do absoluto” divino. A Páscoa quer-nos fazer parar e pensar mais um pouco, olhar para a vida, não nos deixarmos afogar nas preocupações que ela contém (e que estão sempre garantidas!); propõe-nos que “repousemos” um pouco no sentido de nos renovarmos na nossa própria identidade de “pessoas” que somos e aí abrirmo-nos à (re)criação humilde de todas as novas possibilidades e horizontes, desejando envolver um mundo de paz em tudo o que somos e sentimos. Só um “coração do tamanho do mundo” verá a verdadeira Páscoa! Mas esse não dependerá tanto do número de “horas de religião” mas sim bem mais da autenticidade de vida, sendo um “coração puro”...
5. Será Páscoa na medida em que a preparamos! Não só o cuidar da casa para receber a festa, mas o cuidar da “paz interior” para acolher de modo mais vivo um sentido de paz espiritual. Haverá tanto mais harmonia, sentido para a vida e equilíbrio na gestão diária quanto mais aquilo que não os ritmos do sentir humano (espelhados nestes tempos fortes) forem acolhidos de modo feliz e gratificante na liberdade pessoal. São muitos os caminhos, mas… se não se colocar ao caminho, se não se ligar ao que “acontece”, tudo não passa de um clonado ficar na mesma, perdendo-se a frescura e passando ao lado do maior acontecimento do tempo da história humana que, na Páscoa, se abre ao tempo novo absoluto. E tanto que o mundo precisa de vidas com sentido pascal que dêem paz e esperança a cada momento de vida!
6. Que em algum tempo de “pausa” destes dias seja dado ao “Senhor do Tempo” mais um pouco de espaço. Será mais Páscoa, nesta identificação pessoalíssima com o ideal maior da perfeição a atingir; na Páscoa que celebramos a breve condição humana recebe o tesouro de uma dignidade (humana) que é divina, acolhendo em Jesus Cristo essa ponte da “passagem” do “tempo” para a eternidade. Grandioso mistério, acima de toda a tecnologia…, que inscreve em cada pessoa humana um desígnio e uma vontade de paz, felicidade e amor intermináveis. Que toda a Páscoa traga toda a frescura (re)criadora e livre para este tempo novo que se abre! Precisamos da Páscoa, recriemos ponte (“link”) para aceder à grandeza de tamanha (mas tão simples) oferta. Seja bem-vindo, apreciado e vivido esse tempo novo!

Imagens de Aveiro


ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL REQUER
ENQUADRAMENTO MAIS ASSEADO
:
A ideia de preservar uma marca da nossa arqueologia industrial foi muitíssi-mo boa. Por isso, é de louvar que, da fábrica demolida, tenha ficado, ali a caminho do Centro de Congressos, para memória futura, a chaminé que foi familiar a tantos aveirenses. Penso, no entanto, que ela bem merecia um enquadramento mais arejado, mais bonito, mais limpo, mais adequado. Que os responsáveis pensem nisso, são os meus votos.

João Paulo II


A HUMANIDADE
JÁ O CANONIZOU HÁ MUITO

O Papa que porventura mais impressionou o mundo no século XX morreu fez ontem dois anos. Impressionou o mundo porque o seu entusiasmo apostólico chegou a toda a gente, numa ânsia de a todos levar a Boa Nova de Jesus Cristo, percorrendo os caminhos dos homens, crentes ou não crentes. Cristãos e de outras religiões. Mas o seu sorriso inefável e fraterno, esse foi mesmo, ainda, para os indiferentes à força do divino e sobretudo para os perseguidos, marginalizados e feridos da vida.
Bateu-se pelos valores da fé que o animava, mas também foi um incansável arauto dos valores da justiça, da verdade, da liberdade, da paz e do amor. Encantava jovens e menos jovens, indicava metas do bem e do belo, recebia gente dos mais diversos quadrantes políticos, patrocinava encontros ecuménicos e inter-religiosos, estava atenta à vida do mundo, rezava e ensinava a rezar, deixou-nos inúmeros documentos que continuam a ser um apelo à reflexão e ao diálogo entre todos, homens, mulheres, culturas e religiões. Está a caminho da beatificação, exigindo a Igreja um milagre para isso. Depois mais um milagre para a canonização.
Para mim, contudo, os seus milagres são bem conhecidos de todos nós, católicos, de outras confissões religiosas, ateus ou agnósticos. Os seus milagres estão no exemplo de vida, nos testemunhos e na acção apostólica que marcaram o seu extraordinário pontificado. Tudo o mais que buscarem para a sua beatificação e canonização será sempre secundário. A Humanidade já o canonizou há muito.

Fernando Martins

Um artigo de António Rego


O itinerário da paz

Foi salutar ouvir Jean-Yves Calvez falar sobre a "Populorum Progressio". Uma espécie de ressonância da esperança há quarenta anos enunciada por Paulo VI na senda das grandes encíclicas sociais que alimentaram a vida apostólica de muitos cristãos. Veio ao de cima o sentido da espiritualidade no plural, ligada ela própria à existência concreta dos povos de todo o mundo, no abraço que o Concílio Vaticano II já propusera, ao anunciar a presença do Espírito nos grandes pólos da Igreja e do mundo contemporâneo.
Daí para cá muitos novos sinais surgiram. Mas também alguns se perderam, diluídos em tantos movimentos estreitos, voltados apenas para a zona etérea do abstracto e do individual, com ligeiros tons em acções isoladas e sem perspectiva de mudança estrutural. Dizendo por outras palavras: consentindo que alguns se salvem, dentro do pecado organizado pela injustiça e desigualdade do próprio mundo.
Com a presença, na mesa, do Cardeal Patriarca de Lisboa e do Dr. José Carlos Sousa - um dos grandes peritos em Doutrina Social da Igreja - Calvez recapitulou o essencial do texto e contexto, o espírito que o Papa Montini tão bem expressou sobre a palavra chave do momento: o desenvolvimento, como desiderato de todos, possibilidade para todos, obrigação de todos. De tal forma, disse Paulo VI, que "o desenvolvimento é o novo nome da Paz... E um apelo ao progresso do homem todo e de todos os homens."
O Patriarca de Lisboa chamaria à encíclica "intuição profética" na abordagem das grandes questões que, quarenta anos, depois nos atingem. E concluiu: "aos cristãos compete mergulhar permanentemente nos sinais dos tempos e aí descobrir sinais de esperança".
Não foi um acontecimento revivalista mas de integração dum passado recente com um presente que lança à Igreja novas questões no seu compromisso social. E relembra algumas já esquecidas.

domingo, 1 de abril de 2007

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


O sacramento do amor


"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como o bronze que ressoa ou como o címbalo que tine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que possua a fé em plenitude, a ponto de mover montanhas, se não tiver amor, nada sou. O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, não procura o seu interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. O amor nunca acabará." Esta é uma breve citação do hino célebre ao amor, de São Paulo aos Coríntios.
Este amor corresponde à única tentativa de definir Deus no Novo Testamento: "Deus é amor", escreveu São João. Na companhia de Jesus, os discípulos perceberam que a essência de Deus é amar, e foi esse Evangelho que eles foram anunciar, dando dele testemunho até à morte. Foi essa notícia boa e inaudita que levou à conversão.
Um ano depois da publicação da sua primeira Encíclica Deus é amor, Bento XVI publicou, com a data de 22 de Fevereiro, uma Exortação Apostólica sobre a Eucaristia enquanto "sacramento do amor", que deveria ser eco da XI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que decorreu em Outubro de 2005 no Vaticano.
:
Leia mais em DN

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS-17


A LÂMPADA DE ÍLHAVO

Caríssima/o:

A primeira saída oficial da nossa terra era à sede do concelho, onde fomos pelo bilhete de identidade e, poucos dias depois, para o exame da 4.ª classe. É verdade, parece que ainda foi ontem! Como o tempo corre e quantas mudanças! Vejam só que para ir a tão importante acto, ou íamos a pé, ou apanhávamos boleia de bicicleta ou então táxi. Pela lógica, este era proibido e, no nosso caso, fomos algumas vezes no quadro da bicicleta puxada pelo Hortêncio e o Oliveiros no porta-bagagem! Mas isto era um luxo: o vulgar era calcorrear correndo pelos caminhos que atravessavam a floresta.
Diniz Gomes empresta-nos a sua escrita de «Costumes e Gentes de Ílhavo», p. 57 ss., de 1941, para nos elucidar sobre a tal estória da lâmpada:

“Poucas serão as terras do nosso país, de grande ou pequena categoria, a quem a lenda popular não tenha atribuído uma anedota ou história ridículas, de que muitos se servem, por graça, para arreliarem os naturais das localidades atingidas.
Ílhavo, está bem de ver, não podia deixar de ter, também, a sua historieta jocosa, direi mesmo, um pouco vexatória para os brios do seu povo, bastante cioso do seu bom nome e honrosas tradições.
O leitor, estou certo disso, conhece-a de sobra, tanto ela se popularizou e correu mundo.
Trata-se do pretenso roubo de uma lâmpada de prata que se diz ter existido na matriz da vila, e que, em certo dia, foi levada para limpar por um espertalhão de marca maior que por aqui abordou, e que teve artes de praticar a audaciosa façanha sem ser incomodado, e, precisamente na ocasião em que ali se rezava missa, estando o templo repleto de fiéis. [...]
Ora as coisas, segundo me contaram quando eu era menino e moço, passaram-se assim:
Era domingo de festa na terra. [...]
Iria a missa em meio quando, por uma das portas laterais da igreja, entrou um indivíduo de boa aparência mas desconhecido na terra, que se dirigiu vagarosamente para junto da Capela do Santíssimo, em cujo limiar se encontrava suspensa do tecto, uma aparatosa lâmpada de prata lavrada com o peso dalguns arráteis, que ao tempo ainda não havia gramas nem quilos.
O homem, depois de ajoelhar e de se benzer, levantou-se e foi poisar, sobre um dos degraus de pedra do púlpito, um grande saco de linhagem de que vinha munido. E, olhando, com certa curiosidade a soberba lâmpada, murmurou desalentado:
- Quem te há-de limpar por semelhante preço?! O negócio que eu fui fazer!...
Todos os que o rodeavam, e ouviam a missa, inquiriram, em voz baixa entre si, se era realmente verdade a lâmpada ir ser limpa desta vez, como há muito era mister, tão suja e azebrada ela se encontrava.
E a boa nova correu ligeira de boca em boca, procurando todos ver de perto o artista encarregado pela Senhora Junta da Paróquia de executar o trabalho.
Mas o homem é que não manifestava interesse algum por isso, visto permanecer ali parado e indeciso, sem querer tomar qualquer resolução, repetindo a miúdo:
- Mas quem te há-de limpar por semelhante preço?!...
E o melhor da passagem é que o seu aspecto triste e acabrunhado chegou a inspirar relativa compaixão entre os assistentes.
Mas, a certa altura, pareceu encher-se de coragem, dizendo resoluto:
- Pois se justei, está justo! Venha a lâmpada abaixo!
E logo a corda que a segurava correu na roldana, fazendo descer vagarosamente a lâmpada que o desconhecido guardou dentro do saco que trouxera. Em seguida, saiu lentamente da igreja pela mesma porta por onde tinha entrado.

Findara a missa. Pouco a pouco os fiéis vão abandonando a igreja[...].
Arrumados, à pressa, os paramentos nos pesados armários da sacristia, e apagada as discretamente as velas de cera dos altares, o solícito sacristão foi, pressuroso, à residência paroquial, saber do senhor prior porquanto fora justa a limpeza da lâmpada do Santíssimo, e quem era o artista encarregado desse serviço.
Esta curiosidade, que sempre foi atributo de todos os sacristães havidos e por haver, causou surpresa e alvoroço no bom do padre, que de nada sabia nem se apercebera enquanto rezava a sua missa. E logo previu que a igreja fora sacrilegamente roubada pelo que mandou, imediatamente, tocar os sinos a rebate, ordenando a saída de homens resolutos em perseguição do audacioso larápio. Infelizmente, este, já não foi possível ser apanhado. [...]
Este estranho e nunca visto acontecimento causou, está bem de ver, profunda consternação na nossa terra. Por esse motivo, os sinos da igreja dobraram em sinal de luto durante três dias e fizeram-se orações de resgate e desagravo. Realmente o caso não era para menos.
E aqui tem o leitor, contada como eu a sei, a história do roubo ardiloso da lâmpada da igreja de Ílhavo. O facto, pela sua originalidade, tornou-se notório, popularizando-se. A ponto tal que ainda hoje nos surge, às vezes, um gracioso que maliciosamente nos diz:
- Ah! Você é da terra da lâmpada?»

Afinal, esta brincadeira da lâmpada algumas vezes serviu quando a rapaziada de Ílhavo nos atacava:
- Vai cavar batatinhas para a Gafanha!
Ai, sim, diz então onde puseram a lâmpada?
E funcionava...

Manuel