segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

O Sol brilha para nos animar

 Neve no Alentejo este ano

Apesar das temperaturas baixas próprias da época, o Sol brilha para nos animar. Toda a semana vai ser assim, nem outra coisa seria de esperar. O Inverno também tem a sua beleza como bem o provam as belíssimas imagens de neve em regiões não muito habituadas a isso. Na Gafanha também já a vi há muitos anos e até gostei. 
Com ou sem neve, a vida continua com o tempo que a época determina e o importante é sabermos viver com otimismo e gosto por aquilo que fazemos, por aquilo que sonhamos e projetamos, e também pela aceitação de alguns dissabores que nos obriguem a pensar e a agir em conformidade. Boa semana para todos.

Fernando Martins

domingo, 10 de janeiro de 2021

Já sei o destino do meu voto


No dia 24 de janeiro, vamos votar para escolher o Presidente da República de Portugal, que não é o mesmo que República das Bananas. República de Portugal que já tem mais de um século, com muitos anos, é certo, a dever muito à democracia. Aqui afirmo que vou votar, a não ser que a saúde não mo permita. É que nunca sabemos como estaremos amanhã, tão sorrateiramente costuma atacar o Covid-19 ou um dos seus parentes mais próximos,  que terá nascido não se sabe como nem porquê. 
Vou votar por dever de consciência e para tentar assumir o meu papel de cidadão responsável pelo futuro do nosso país que nasceu pela vontade indomável dos fundadores e de  quantos, ao longo de tantos séculos, souberam preservar com galhardia a nossa independência. É natural, pois, o que tenciono fazer. 
Ainda estamos no período da chamada campanha eleitoral, com os candidatos a correrem riscos de contágios, pela proximidade a que se veem obrigados. E como manda a lógica do bom senso tenho tentado ouvir o que dizem os diversos candidatos. A partir daí e daquilo que deles conheço e vou descobrindo, já sei o destino do meu voto. Jamais cairá no saco de vendedores de banha da cobra. 

Fernando Martins

Um mergulho no mar de Deus

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO

O Cristianismo está confrontado com imensos desafios. Onde encontrar inspiração e energia para lhes fazer face?

1. É um prazer ler um texto político com a qualidade da Carta aberta, editada com o título: Convite aos cidadãos e líderes para um novo poder democrático europeu [1]. Espero que suscite um movimento de experiências, estudos e debates fecundos “para enfrentar os imensos desafios ecológicos, económicos, sociais, de saúde e de segurança que incumbem às nossas sociedades”. Desejo que este convite encontre um grande eco entre os cristãos, para que a Europa não ceda à tentação de levantar muralhas, mas de tecer pontes entre continentes. Sem a lucidez da ética da compaixão, a Europa perder-se-á na vontade de dominar e de excluir, tanto no interior de cada país, como na relação entre os membros da União e no acolhimento aos que fogem de guerras, da miséria e dos que procuram um futuro melhor para as suas famílias.
O grande teólogo protestante, W. Pannenberg, tocou, em 1994, num ponto que conserva, ainda hoje, toda a sua pertinência: a Europa não pode, sem mais nem menos, desembaraçar-se das suas origens cristãs, se pretende conservar o que é especificamente europeu na sua tradição cultural. Mas isso pressupõe que o Cristianismo não se apresente sectário, embora também não se possa dissolver na acomodação ao secularismo. Deve, antes, prosseguir no caminho de preservar, em si próprio, o melhor da herança da Antiguidade clássica – e assim a abertura à Razão –, mas também as verdadeiras conquistas da cultura moderna e contemporânea [2].

Cortejo dos Reis - Evocação da minha meninice

Quando eu e o meu irmão participámos no Cortejo






No domingo, 11 de Janeiro [2009], vivi o Cortejo dos Reis experimentando a proximidade com as pessoas, muitas delas envolvidas na vivência desta antiga e sempre renovada tradição. Para quem gosta da sua terra, o encontro com alguns conterrâneos proporcionou-me a oportunidade de voltar aos tempos em que eu, menino, com meu irmão, mais novo três anos, participámos no Cortejo dos Reis, de uma ponta à outra, cada um com a sua cana às costas. Na ponta da cana lá ia a prenda para o Menino Jesus. Não consigo recordar toda a pequena carga, mas dela fazia parte um chouriço, um pequeno bacalhau e umas laranjas. Tudo o mais se varreu. Mas também é verdade que os nossos frágeis ombros não suportariam muito mais. 
O meu pai levou-nos até Remelha, de bicicleta, como era hábito na altura, entregando-nos ao cuidado de pessoa sua conhecida. Ainda me lembro de ouvir a minha mãe dizer que estaríamos assim a pagar uma sua promessa, coisa que na altura não compreendi. Mas se ela dizia que tínhamos de ir no Cortejo, não haveria razões para discordar.
Recordo-me, com que saudade, de que, mal o cortejo chegou à igreja, eu e o meu irmão corremos para casa com os presentes ao ombro. Estava terminada a promessa. Quando entrámos na cozinha, os meus pais ficaram admirados e logo nos questionaram:
- Então não deixaram os presentes para o Menino Jesus, como vos recomendei?
Respondemos com o silêncio.
A minha mãe, mulher prática, resolveu a situação.
- Vai lá, Armando, e paga os presentes.
E assim foi.
Afinal, as tradições são sempre excelentes motivos para reconstruirmos as nossas histórias de vida.

Fernando Martins

NOTA: Cortejo de 2009 

sábado, 9 de janeiro de 2021

Para preservar a memória - Salina



Marinha de Sal ou Salina para turista ver. Ainda bem. Numa visita, há sempre quem possa explicar as diferentes fases da produção do sal.
 

Receita de Ano Novo


RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

"Receita de Ano Novo". 
Editora Record. 2008.


O Papa Francisco e o desporto, 1

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

Não há dúvida de que o Papa Francisco é hoje uma das figuras mais destacadas e influentes no mundo, também das mais amadas, e em quem se deposita esperança para o futuro de um mundo melhor.

Penso que isso advém também do facto de ele não ser, na vida e na actuação, clerical ou eclesiástico. É um cristão que segue o Evangelho, notícia boa e felicitante, que está com todos, tanto nas suas tristezas e sofrimentos como nas suas alegrias e esperanças, dando cumprimento ao preceito do Concílio Vaticano II. A demonstrá-lo de modo concreto e inesperado está aí uma longa entrevista ao director, Stefano Barigelli, e ao vice-director, Pier Bergonzi, da Gazzeta dello Sport, que aparecerá também em livro, sobre o desporto. Uma espécie de "encíclica laica" sobre o universo desportivo enquanto metáfora da existência humana, individual e colectiva.
Logo de entrada, avança com os valores que ama no desporto, à volta de sete palavras-chave.

1. Lealdade. O desporto é lealdade e respeito pelas regras, mas também luta contra os atalhos, luta contra o doping. "Tomar atalhos é uma das tentações com que frequentemente temos de lidar: pensamos ser a solução imediata e conveniente, mas quase sempre leva a consequências negativas. Penso, por exemplo, em quem vai à montanha: a tentação de procurar atalhos para chegar primeiro, em vez de seguir os caminhos indicados, esconde muitas vezes e inevitavelmente um lado trágico. O jogo e o desporto em geral são belos, quando se respeita as regras: sem regras, seria a anarquia, a confusão total. Respeitar as regras é aceitar o desafio de bater-se contra o adversário de modo leal. Portanto, a prática do doping no desporto não é só um engano, é um atalho que anula a dignidade."

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Gafanha da Nazaré - Rua Viana da Mota

José Viana da Mota nasceu em São Tomé e Príncipe, a 22 de abril de 1868. Era filho de José António Viana da Mota, farmacêutico e músico amador, e de Inês de Almeida e Mota. Reconhecendo o grande talento que o filho demonstrava, em 1874, o seu pai levou-o a uma audição na Corte. Com apenas 6 anos impressionou de tal forma os monarcas portugueses que logo o colocaram sob a sua proteção. 
Concluído o curso no Conservatório de Lisboa em 1882, prosseguiu os estudos em Berlim, onde teve como professores Xaver Scharwenka e Carl Schaeffer. Em 1885 passou uma temporada em Weimar, tendo sido um dos últimos alunos de Frank Liszt. Em 1887 frequentou o curso de interpretação de Hans von Büllow. 
A partir de 1900 dedicou-se ao ensino, sobretudo em Berlim, onde fixou residência, porém, o eclodir da I Guerra Mundial levou-o a mudar-se para Genebra onde lecionou na Escola de Superior de Música. 
Em 1917 regressou definitivamente a Portugal, tendo assumido a direção do Conservatório de Música de Lisboa, cargo que ocupou até 1938. Nesta instituição foi um dos autores das reformas de 1919 e de 1930, sendo, em 1936, nomeado presidente da comissão encarregue das novas secções de música e de teatro. Entre 1918 e 1920 assumiu também a Direção Musical da Orquestra Sinfónica de Lisboa e fundou, em 1917, a Sociedade de Concertos de Lisboa. 

Frio com sol luminoso



Para começar o dia, permitam-me que vos ofereça uma imagem da praia em tempo de muito frio. Um sol luminoso dá um ar da sua graça, mas só aquece a alma. O corpo fica com o frio. Bom fim de  semana. 

Baptizados em Jesus para sermos como Ele

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Baptismo do Senhor



A festa do baptismo de Jesus que, hoje, celebramos, vem mostrar-nos Jesus como predileto Filho de Deus Pai sobre o qual desce o Espírito Santo. Narrada por São Marcos é colocada como “festa ponte” entre o Natal e a vida quotidiana de Nazaré, e pretende dar relevo à manifestação de Jesus no nosso dia-a-dia. Vamos contemplar alguns passos dessa narração e deixar-nos interpelar por interrogações que ela suscita. 
Sozinho, deixa Nazaré e dirige-se ao rio Jordão onde João está a baptizar. Encontra uma multidão vinda de várias partes por querer responder ao apelo de conversão e mudar o estilo de vida que a pregação de João suscitava. Também lá estavam fariseus  e saduceus,  mas por fingimento hipócrita, a ver o que acontecia. A estes, João lança invetivas tremendas: raça de víboras, sois como árvores a abater. Mc 1, 7-11. 
Chega também Jesus vindo de Nazaré da Galileia. O narrador não apresenta mais dados sobre a sua procedência. É ele e só ele. Interessa-lhe não tanto o passado, mas o presente que se abre ao futuro: mostrar que Jesus é o Filho de Deus que vem salvar-nos. E de facto, o seu evangelho vai dando sinais claros desta verdade e, quase a terminar, apresenta a profissão de fé explícita do oficial do exército romano: “Verdadeiramente, este homem era mesmo o Filho de Deus”. 
Mas de Nazaré, pode sair coisa boa? – pergunta de Natanael deixando perceber a baixa “cotação” social da terra de residência de Jesus ou o forte pendor político reivindicativo dos seus habitantes. Seja como for, Jesus traz consigo a experiência sofrida do povo “periférico” e as esperanças de transformação social e religiosa. Traz consigo algo muito superior que vai revelar-se após o batismo e culminar no Calvário e na Páscoa da ressurreição. É urgente mudar!