segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Filarmónica Gafanhense celebrou aniversário



A Filarmónica Gafanhense esteve em festa, ontem, domingo, com a celebração do 181.º aniversário, com três atos simbólicos: Romagem ao cemitério para evocar quantos serviram a Banda, participação na Eucaristia das 11h15, que solenizaram, em ação de graças e em sufrágio dos que já não estão entre nós, e concerto na Fábrica das Ideias, antigo Centro Cultural.
Embora não tenha participado nos festejos, para além da participação na missa, por razões familiares, a verdade que é não posso deixar passar a oportunidade de felicitar a Filarmónica, formulando votos dos maiores êxitos, tanto no domínio do ensino da música como nos concertos que executa. E tudo isso será mais possível, graças às novas instalações que ocupa na Casa da Música, em parceria com o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré.
Há uma outra faceta que me tem impressionado, pela positiva, que é a sua participação em muitos eventos levados a cabo no Município de Ílhavo, sinal da sua ampla envolvência na comunidade. 
Os meus parabéns.

1.º Prémio de "Boas Práticas" para a Biblioteca de Ílhavo





«A Biblioteca de Ílhavo recebeu o 1.º Prémio de 'Boas Práticas em Bibliotecas Públicas Municipais', pelo projeto 'Ao Som das Histórias'."Com o objetivo de cumprir uma das missões veiculadas no Manifesto da Unesco para as Bibliotecas Públicas, 'Criar e fortalecer os hábitos de leitura nas crianças', em 2011, a Biblioteca Municipal Ílhavo desafiou a Rádio Terranova a criar um programa semanal, que dinamizasse a leitura de uma história destinada a crianças e não só", pode ler-se num comunicado de imprensa."A primeira história foi para o ar no dia 5 de Outubro de 2011 e, desde então, todas as semanas crianças e adultos, autores, ilustradores, músico, pessoas mais ou menos conhecidas do panorama literário, musical e cultural português deram a sua voz às histórias: Afonso Cruz, André Letria, António Mota, António Zambujo, David Machado, João Pedro Mésseder, João Vaz de Carvalho, Luísa Sobral, Madalena Matoso, Maria João Abreu, Miguel Ângelo, bem como numerosos membros da sociedade civil ilhavense, e alguns professores e pais das crianças envolvidas, que deram voz a este projeto, contribuindo para o seu sucesso e para o cumprimento do objetivo: levar mais longe a Biblioteca Municipal de Ílhavo, as Histórias, o Livro e a Leitura".»

NOTA: 

1.Congratulo-me com a atribuição do 1.º Prémio à Biblioteca Municipal de Ílhavo, mas também ao contributo da Rádio Terra Nova. Este galardão mostra à evidência a importância da colaboração assumida pelas duas instituições do nosso município. Exemplo a seguir noutras áreas, obviamente;
2. Fotos da RTN e da BMI.
Ler mais aqui 

500 anos da Reforma Protestante – De inimigos a irmãos


Um texto de Luís Manuel Pereira da Silva

«Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero envia ao arcebispo de Mogúncia as 95 teses, proposições em que se distancia de práticas que ele considerava inaceitáveis na Igreja de Roma. Decorreram, precisamente, 500 anos. A este evento costuma atribuir-se o estatuto de evento fundador da Reforma Protestante. Plasticamente, é registada a força deste acontecimento através da imagem de Lutero afixando as teses na porta da Igreja de Vitemberga, uma prática, aliás, frequente entre os académicos que expunham, assim, as suas ideias, dispostos a discuti-las. No caso de Lutero, porém, o evento assume um carácter que ultrapassa a dimensão académica e configura-se como o princípio de um movimento que vem a assumir contornos de enorme relevância eclesial (conduz à rutura com Roma) e política, criando divisões no império dirigido por Carlos V a partir de 1519.

Não nos interessam aqui, porém, os dados de ordem histórica, mas reter que, felizmente, hoje, já não estamos nesse ponto. Costumo recordar aos meus alunos que, quando é estudada a Reforma e a Contrarreforma, na disciplina de História, só lhes é contado o primeiro capítulo dessa narrativa, pois, felizmente, hoje, já não estamos nessa fase do conflito que foi encontrando, em alguns eventos pacificadores, como com o édito de Nantes de 1598, alguns mais ou menos efémeros raios de conciliação. A história deste caminho fez-se, até finais do século XIX e inícios de XX, com grandes divergências e conflitos. Feridas que a história levou tempo a sarar. Católicos e protestantes olharam-se, durante tanto tempo (demasiado tempo!), como inimigos. Basta recordar que, na Irlanda do Norte, essa é uma dolorosa ferida ainda com escaras.»

Ler todo o texto aqui

domingo, 22 de outubro de 2017

MaDonA — Dia Internacional da Gaguez


A data, estabelecida em 1998, visa mostrar as dificuldades, traumas e receios que as pessoas com gaguez enfrentam, diariamente, no ato de comunicação. 
De um modo geral, a gaguez é uma perturbação da fluência do discurso em que se verificam bloqueios, repetições e prolongamentos de sons. Estas manifestações podem ser acompanhadas de movimentos faciais e ou corporais. 
 A pertinência da sua avaliação verifica-se porque a gaguez afeta a comunicação e provoca um profundo sentimento de desconforto ao seu portador, pois quer comunicar e acaba por ser discriminado pelos demais que dele fazem chacota. Em regra, o gago apresenta problemas de isolamento social, de angústia e de um aumento da ansiedade. 
É comum que, as pessoas que gaguejam não sejam capazes de assumir o seu problema, pelo que tendem a aparentar uma falsa tranquilidade. 
 Como estratégia para evitar serem vistos como gagos, costumam fugir às palavras e letras em que gaguejam mais o que compromete o sentido do discurso. 
 Nesta situação o gago fica com a frustração de não ter dito o que queria ou obriga-se a reformular a conversa passando novamente pelo suplício de falar.  
Neste contexto, a gaguez é tida como um problema vital e uma limitação na qualidade de vida do sujeito.  
Perante este cenário, estas pessoas precisam de ajuda técnica para aliviarem esse sofrimento. O apoio familiar é fundamental, bem como o do grupo de amigos, na escola e demais atividades em que participa.  
 Um exemplo clássico de autossuperação, relativamente ao problema, foi Demóstenes (384 a.C. a 322 a.C.) um proeminente orador e político ateniense. A sua oratória constitui uma importante expressão da capacidade intelectual de Atenas e um olhar sobre a política e a cultura da Grécia antiga, durante o século IV AC. Demóstenes aprendeu retórica estudando os discursos dos grandes oradores antigos. 
Garoto ainda, Demóstenes assistiu a um julgamento no qual um orador chamado Calístrato teve um desempenho brilhante e, com a sua verve, mudou um veredicto final. Demóstenes ficou impressionado com o poder da palavra, que parecia tudo vencer. Assim, alimentou a esperança de se tornar um grande orador - sonho que parecia impossível devido à sua gaguez. Conta-se que Demóstenes, à força da sua perseverança, ultrapassou o problema declamando poemas enquanto corria na praia contra o vento e forçando-se a falar com pedrinhas na boca. 
Do Latim balbutius (=pedra) derivou para português, por via erudita, o verbo balbuciar (gaguejar). Após treino intenso, Demóstenes venceu a gaguez e tornou-se o maior orador da Grécia. 
Desta lição de vida, se pode tirar a ilação: querer é poder. 

MaDonA 

11.10.2017

Bento Domingues — Deus, nosso rival?



1. As narrativas dos Evangelhos já têm mais de dois mil anos, mas foram escritas para desassossegar as Igrejas de todos os tempos. Contam que Jesus de Nazaré não conseguia passar ao lado das vítimas de doenças físicas ou psíquicas, fruto de muitas outras misérias. Convivia e comia com as pessoas que a hipocrisia religiosa e moral classificava como pecadoras, sabendo que se expunha a ser considerado como uma delas. Por causa da sua teimosia em trabalhar na libertação das pessoas, mesmo no dia mais sagrado da sua religião, o sábado, era tido como um agente clandestino de Satanás. Mas, para ele, esse dia só podia ser reservado para Deus se fosse a festa da vida liberta.
Os evangelistas puseram na boca deste Nazareno um apelo comovente: vinde a mim todos os que andais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Os Actos dos Apóstolos resumiram todo o seu itinerário numa frase: passou a vida fazendo o bem.
Não suportava, porém, os espiões da sua ortodoxia religiosa ou política. Não tinha paciência para as astúcias dos príncipes dos sacerdotes, dos escribas e fariseus. Àqueles que o interrogavam de má-fé — só para ver se o apanhavam em falta — mandava-os bugiar. Jesus, mesmo em pleno tribunal, não reagiu como um vencido ou um cobarde. Passou ao ataque. A imagem que melhor o pode sugerir é a de um profeta bíblico, figura da lucidez perante as contradições da actualidade. Profeta e mais do que profeta, irmão universal.
No texto do Evangelho da Missa de hoje, ao desmascarar os fariseus que o queriam meter num beco sem saída, cunhou um aforismo que tem percorrido os séculos e desautorizado os que não se cansam de manipular a religião para fins políticos e a política para fins religiosos.
A questão dos impostos é sempre muito sensível, sobretudo em situações de luta anticolonial. Naquele caso, era especialmente grave. Jesus tinha de tomar posição e mostrar se estava com ou contra a dominação romana, se era um verdadeiro israelita ou um traidor. Resposta de Jesus: fostes vós que criastes esta situação política estampada na moeda que usais. Portanto: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”
Os aforismos não são demonstrações, mas podem traduzir e suscitar atitudes exemplares. As actuais e violentas manifestações de fundamentalismo religioso e político já deviam estar ultrapassadas pela resposta de Jesus. Não estão. A chamada “morte de Deus e do homem” — nem deísmo nem humanismo — conduziu ao puro niilismo. Quando vale tudo, nada vale a pena. De facto, estamos, de novo, na pior forma da perversão religiosa: matar em nome de Deus!

2. Sem tentar refazer essa história de rivalidades loucas, não posso esquecer o conhecido mito grego de Prometeu ou o drama da relação entre religião e cultura. Os deuses escondem aos seres humanos o segredo da vida feliz. Aquilo de que os seres humanos precisam para fazer a sua vida, por sua conta e risco, o fogo (isto é, as ciências e as técnicas), tem de ser arrancado aos deuses contra a sua vontade, como o fez Prometeu. Deuses e homens são rivais. A felicidade dos deuses é a desgraça dos humanos e a felicidade dos seres humanos é uma usurpação aos deuses. São irremediáveis concorrentes.
Essa mentalidade penetrou em certas formas de pensamento e comportamento no mundo cristão de diversas épocas, embora de forma indevida, perversa. Desenvolveu-se no âmbito de uma pseudo-espiritualidade de “desprezo do mundo”. Esta é uma expressão carregada de ambiguidades. O dito popular “Tudo o que sabe bem é pecado ou faz mal” teve e tem um sucesso anticristão. Por detrás dessa atitude está uma concepção do chamado “pecado original”, deveras muito original: sem saber como, nascemos não apenas com uma herança genética, sã ou doente, mas também com uma história de pecado em que fomos concebidos. Temos contas a ajustar com Deus, reparar o mal que lhe fizemos, antes mesmo de ter feito ou pensado seja o que for!
Mesmo quando somos conscientes do mal que fazemos, S. Tomás de Aquino lembrou que Deus não é ofendido por nós, a não ser na medida em que agimos contra o nosso próprio bem ou o dos nossos irmãos, filhos de Deus [1]. Nem Deus procura a sua glória por causa dele, mas por nós e para nós. Não é um carente afectivo [2]. A glória de Deus é a alegria dos seres humanos. Deus não é, não pode nem quer ser tudo. O mundo não é divino. Deus afirma-se fazendo ser o que Ele não é. Gera a diferença radical. A transcendente acção divina não entra em concorrência com a evolução cósmica ou com a liberdade humana.
A teologia negativa de Tomás de Aquino é anti-idolátrica, mas não é niilista. O prazer de Deus criador, o Poeta, não é a negação dos prazeres humanos.
Dizia o teólogo evocado que o prazer é o resultado do agir perfeito. O prazer dos sentidos testemunha a sua boa saúde e a sua integração harmoniosa no bem total da pessoa, guiada pela razão e pelos afectos. A construção humana é um processo de conjugação de relações interiores, consigo mesmo, com os outros e com o mundo. O mal surge quando, de modo responsável, nos privamos dessa virtuosa conjugação de relações limpas. Os apetites desgarrados introduzem uma desordem que nos destrói.

3. Durante vários anos ensinei a cadeira de Teologia das Realidades Terrestres. A sua temática tinha-se afirmado nos anos 40-50 do século passado e marcou a constituição conciliar, “a Igreja no mundo contemporâneo” (Gaudium et Spes). A questão que a desafiava era existencial: qual é a significação das actividades nas quais os seres humanos passam a maior parte do seu tempo — na família, na escola, na profissão, nos lazeres — para o acolhimento e realização do Reino de Deus, alegria do mundo? É uma descoberta nunca acabada.
Era e continua a ser importante acabar com a ideia de que um católico praticante é, apenas, o das práticas religiosas, prescritas ou devocionais. Quando os inconformados com as situações degradantes da sociedade se decidem a trabalhar na construção de um mundo mais humano é que se tornam, como diz S. Paulo (Rm 12), verdadeiramente praticantes do culto que agrada a Deus. Mesmo sem assinatura religiosa.
Neste momento, o culto que Deus nos pede, em Portugal, é a mobilização da Igreja e da sociedade pela nossa casa comum ameaçada, ano após ano, pela incúria de todos.

Frei Bento Domingues no PÚBLICO

[1] Contra Gentiles, III, c. 122
[2] Summa Theologiae, II-II, q. 132, a

Ares de Outono -- Temperar a aridez da vida


Vezes sem conta passamos a correr pelos jardins. A pé ou de carro nem tempo temos para olhar a natureza com as vestes ofertadas pelas estações do ano, ao que julgo a sofrerem mutações provocadas pelas agressões humanas. Mas se tivermos um bocadinho de serenidade, talvez possamos descobrir imagens que nos ajudem a temperar a aridez de alguns momentos da vida.

sábado, 21 de outubro de 2017

EXPRESSO cativa leitores


Leio o semanário EXPRESSO desde o seu primeiro número. Como eu, muitíssimos outros. Daí o facto de ser considerado, desde o início, um jornal de referência, pela qualidade do seu estatuto, onde pontifica a sua independência face aos poderes constituídos, mas também o nível de muitos jornalistas e colaboradores. Porém, o tempo de vida deste semanário não pode evitar certos cansaços de alguns  leitores, estando eu convencido de que a conquista de  novos públicos se torna difícil, face aos projetos online que nos oferecem a notícia e a reportagem em cima do acontecimento. Aliás, o mesmo faz este semanário.
O EXPRESSO, todavia, tem procurado lutar contra a debandada natural de alguns leitores,  que permanecem fiéis ao peso do papel e aos textos jornalísticos que semana a semana o alimentam, tanto nos cadernos principal e da economia como na revista, com reportagens, curiosidades e entrevistas que marcam a atualidade. E para cativar os leitores usa  a oferta de coleções de obras que os aconselham a reler autores, muitos dos quais correm o risco de ficar injustamente nas gavetas do esquecimento. Diz-se, não sei com que fundamento, que esta oferta é isco para conquistar novos leitores e para manter os mais velhos como eu. Se é, então a oferta resulta. 
No passado fim de semana, o EXPRESSO iniciou a publicação de mais uma coleção — Clássicos de sempre — dedicada a escritores nacionais com lugar cativo nas bibliotecas portuguesas e de um sem-número de compatriotas. São livros que se leem ou relem em poucos dias. Admito que de outra forma eu talvez nem me desse ao trabalho de os procurar nas minhas estantes. E por isso,  de mão beijada, sou desafiado a ler o que vai chegando. Foi assim com “Alves & C.ª” de Eça, que li, pela primeira vez, há quase 60, na Biblioteca Municipal do Porto, nos meus tempos de estudante. Outros se seguirão. 

Fernando Martins

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Turismo Região Centro — Ria de Aveiro


Viaje por esta região e deixe-se encantar pela sua elegância e serenidade.

Viajar é importante? É. Então, podemos começar a descobrir o que, sem dúvida, nos encanta.

Vi aqui 

MaDonA — Dia Mundial de Combate ao Bullying


"Você tem inimigos? Que bom. 
Isso significa que você luta por algo 
em algum momento da sua vida." 

Winston Churchill 

O termo em inglês "bullying" é derivado da palavra "bully" (tirano, brutal).
Corresponde à prática de atos de violência física ou psicológica, intencionais e cometidos por um ou mais agressores, contra uma determinada pessoa.
Essas vítimas ficam marcadas e podem ter sequelas para toda a vida. Em alguns casos, a ajuda psicológica é fundamental para amenizar a difícil convivência com memórias tão dolorosas.
O agressor, em geral, tem uma mente perversa e às vezes doentia. É consciente dos seus atos, mas agride como forma de se afirmar no grupo.
Se “O melhor do mundo são as crianças” como diz Fernando Pessoa, e “Não há rapazes maus” como afirmou o Pe Américo, também é verdade, que por vezes são muito cruéis no relacionamento interpares.
Conflitos entre crianças e adolescentes são comuns, numa fase de insegurança e autoafirmação. Porém, quando os desentendimentos são frequentes e partem para humilhação, aí instala-se o bullying.
Em meio escolar, as agressões são praticadas fora do alcance dos adultos. Ocorrem normalmente, na entrada ou saída do edifício, ou ainda quando os professores não estão por perto. Podem também acontecer de forma camuflada, em sala de aula, na presença do professor, com gestos, bilhetes, etc
Os agressores procuram vítimas que se destacam da maioria por alguma peculiaridade. Os alvos preferenciais são: os caloiros; os tímidos; os que se distinguem por algum traço físico particular; os bons alunos, pois despertam inveja aos menos estudiosos ou cábulas. A frustação daqueles que não conseguem impor-se pela positiva, gera agressividade que descarregam nos mais vulneráveis.
As praxes académicas que ocorrem, anualmente no início do ano letivo, são uma forma mascarada e institucionalizada de bullying. Não está longe a memória das trágicas consequências, resultantes da sua aplicação a estudantes indefesos.
As agressões físicas levam, por vezes, a família a transferir o aluno para outra escola, desenraizando-a do seu ambiente.
Esta data é um alerta internacional para o problema que muitos jovens enfrentam.
Consciencializar a população mundial para esta forma de violência, apoiar e incentivar as vítimas a denunciarem estas situações e preveni-las, são os desafios que se colocam. A luta contra o bullying não é uma tarefa de um dia, nem de um grupo de pessoas, mas sim de todos os dias e de todas as pessoas.
Família e escola são estruturas importantes na prevenção e no combate à violência praticada contra crianças e jovens. Os pais devem dialogar, diariamente, com os filhos sobre o dia-a-dia na escola e despistar qualquer sinal indicativo de bullying. Encorajar os filhos a expressarem o que sentem sobre atos de violência dos colegas.
Felizmente que nos meus quarenta anos de prática letiva, metade passada na Escola Básica 2/3 da Gafanha da Encarnação, não me dei conta desta realidade. Se a houve, passou-me ao lado. Na metade anterior, que passei no distrito do Porto, o anglicismo bullying não tinha entrado na nossa sociedade.
A mansidão da nossa ria terá influenciado, certamente, a compostura, o respeito pelo outro, das nossas crianças e adolescentes. Graças a Deus e à ação dos seus professores!

MaDonA

20.10.2017

Anselmo Borges — Francisco sobre: 5. A Igreja e a política


Ainda com os diálogos do Papa Francisco e de Dominique Wolton: Politique et Société. Concluo.

1. Um tema que atravessa todo o livro é a política. Francisco pronuncia-se sob múltiplos ângulos. Trump "terá dito de mim que sou um homem político... Agradeci--lhe, porque Aristóteles define a pessoa humana como um animal político, e é uma honra para mim. Portanto, sou, pelo menos, uma pessoa! Quanto aos muros..." "A Igreja deve servir em política, lançando pontes: é esse o seu papel diplomático. "O trabalho dos núncios é lançar pontes"." Mas há "a grande política e a pequena política. A Igreja não deve meter-se na política partidária. A política, a grande política, é uma das formas mais elevadas de amor. Porquê? Porque está orientada para o bem comum de todos". "Há sempre uma relação com a política. Porque a pastoral não pode não ser política", para indicar caminhos e valores do Evangelho. Mas concorda com Wolton na denúncia do fundamentalismo e "do risco de fusão da religião e da política".

2. Sobre as desigualdades. Os números: "Hoje, no mundo, 62 ricos possuem a mesma riqueza que 3,5 mil milhões de pobres. Há hoje 871 milhões de pessoas com fome, 250 milhões de migrantes que não têm para onde ir, que não têm nada. Mas o tráfico de droga envolve mais ou menos 300 mil milhões de dólares e pensa-se que, nos paraísos fiscais, 2,4 milhões de milhões de dólares circulam de um lugar para outro."
Na base, está "o ídolo dinheiro". "Caímos na idolatria do dinheiro." Segundo o Evangelho, há incompatibilidade entre Deus e o dinheiro, quando este é divinizado. "Os dois pilares da fé cristã, das nossas riquezas, são: as Bem-aventuranças e o capítulo 25 de São Mateus, que estabelece o critério pelo qual seremos julgados": tive fome, tive sede, e destes-me de comer, de beber...; "é aqui que está a nossa riqueza. Mas irá dizer que sou um Papa demasiado simplista! [risos]. Graças a Deus..."
Wolton: "Diz que é necessário o Estado e que se comprometa..." Francisco: "A economia liberal de mercado é uma loucura. Temos necessidade de que o Estado regule um pouco. E é o que falta: o papel do Estado regulador. Por isso, peço que se abandone a "liquidez" da economia para voltar a qualquer coisa de concreto, isto é, à economia social de mercado: mantenho o mercado, mas "social" de mercado." O problema é "uma economia líquida. A finança". Wolton concorda: "A finança é um modelo de liberalismo demasiado desigual. A finança comeu a economia, que comeu a política..." E Francisco: "É o virtual contra o real." Para meditação, avisa: "Na morte, não levaremos dinheiro connosco. Nunca vi atrás de um carro funerário um camião com os haveres da residência anterior..."

3. Sobre as migrações e a Europa. Francisco é o primeiro Papa jesuíta da história e também o primeiro latino-americano. Argentino, filho de pais italianos, imigrados. "A identidade do povo argentino provém da mestiçagem, porque as vagas de imigrações misturaram-se, misturaram-se... E eu senti-me sempre um pouco assim. Para nós, era absolutamente normal ter na escola várias religiões em conjunto."
Esta sua experiência contribuirá para a sua sensibilidade para com os migrantes. Considera aliás que a teologia cristã é "uma teologia de migrantes", "o próprio Jesus foi um refugiado, um emigrante".
"O problema começa nos países donde vêm os emigrantes. Porque deixam a sua terra? Por falta de trabalho ou por causa da guerra. São as razões principais... Pode-se investir, as pessoas terão uma fonte de trabalho e não terão necessidade de partir. Mas, se há guerra, de qualquer modo, têm de fugir. Ora, quem faz a guerra? Quem dá as armas? Nós."
"A Europa é uma história de integração cultural, multicultural, muito forte. Neste momento, a Europa tem medo. Ela fecha, fecha, fecha..." A questão é que "creio que a Europa se tornou uma "avó". Ora, eu quereria ver uma Europa mãe. A Europa pode perder o sentido da sua cultura, da sua tradição. Pensemos que é o único continente a ter-nos dado uma tão grande riqueza cultural, quero sublinhá-lo. A Europa é o berço do humanismo. A Europa deve reencontrar as suas raízes, também cristãs. E não ter medo. Não ter medo de tornar-se a Europa mãe". E atira de modo mordaz: "Se os europeus querem ficar só com europeus, façam filhos!" Inquietação maior: "Já não vejo estadistas como Schuman, como Adenauer..."

4. Wolton lança desafios a Francisco.

4. 1. Seja como for, "a Europa representa o maior "estaleiro" pacífico democrático da história do mundo". Porque é que as Igrejas não convocam, com todas as religiões e famílias de pensamento, um "acontecimento solene, para dizer que é fundamental" que a união da Europa resulte? Trata-se da "maior utopia democrática da história da humanidade: nunca 27 a 30 países, isto é, 500 milhões de habitantes com 25 línguas, tentaram pacificamente coabitar". Francisco: "Desejo fazer um encontro sobre a Europa com os intelectuais europeus", do Atlântico aos Urais...

4. 2. Há tensão à volta da diversidade cultural. Francisco reafirma que a Igreja não pode ser "imperialista" e que a globalização "em forma de esfera é má" enquanto a Igreja fala da globalização em "poliedro".

4. 3. É urgente uma reflexão crítica sobre a comunicação: por todo lado há comunicação técnica e, no entanto, "nunca houve tanta incomunicação"; está-se perante o perigo de "uma forma de esquizofrenia da comunicação": uma mundialização das técnicas e cada vez menos comunicação humana; não há "o toque, falta o corpo". E pense-se no poder inaudito, quanto a dinheiro e controlo, dos GAFA (Google, Apple, Facebook, Amazon)...

5. Wolton confessa que foi um privilégio dialogar com "uma das personalidades intelectuais e religiosas mais excecionais do mundo". Duas frases o marcaram: "Não tenho medo de nada" e "Não é fácil, não é fácil..."

Anselmo Borges no Diário de Notícias

*padre e professor de filosofia